sábado, 6 de agosto de 2022

Miguel Reale Júnior* - Razões para o 11 de agosto

O Estado de S. Paulo

Brasil da diversidade democrática irá à Escola do Largo de São Francisco dizer não aos ataques às instituições e afiançar que não se admitem retrocessos.

Desde 26 de maio de 2019 o País veio sendo sobressaltado por ameaças ao regime democrático em atos em favor do presidente da República, dando início à campanha contra os demais Poderes.

Depois, em 15 de março de 2020, o presidente desceu a rampa do Palácio do Planalto para se congraçar com manifestantes que gritavam frases contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Um mês depois, em 20 de abril, o presidente compareceu a ato em frente ao Quartel-General do Exército no qual despontavam faixas em favor da intervenção militar e de nova edição do Ato Institucional n.º 5.

Em meados de 2020, acusou mentirosamente o STF de coartar sua ação em face da covid-19, quando a Suprema Corte apenas decidira ser o enfrentamento do vírus tarefa comum das três instâncias de poder, a agirem em colaboração.

Carlos Alberto Sardenberg - Pela democracia, de novo

O Globo

O grande capital industrial, comercial e financeiro se posiciona abertamente pela democracia, contra ameaças de golpe

Para Jô Soares

Os grandes bancos privados são extremamente cautelosos em suas relações com o governo, Legislativo e Judiciário. Têm seus motivos: o sistema financeiro é muito regulado, o que significa funcionar sob um emaranhado de leis e normas. É custoso, algo que precisa ser negociado o tempo todo. Um artigo numa lei qualquer pode significar prejuízo direto. Ou lucro, claro.

Além disso, banco é objeto do ódio universal. Uma instituição que paga 10 quando você aplica e cobra 30 quando você toma emprestado não pode pretender ser amada pelo público.

São infinitas as frases que exprimem esse sentimento. “O que é pior, roubar um banco ou fundar um?” — que aparece em diversas versões. O celebrado economista John Kenneth Galbraith também entrou no assunto: “A maneira como os bancos ganham dinheiro é tão simples que é repugnante”.

Politicamente, é um escândalo. De um lado, o pobre devedor, de outro, o banqueirão. Resultado: leis que dificultam a cobrança de dívidas e aumento sistemático de impostos sobre o pecaminoso lucro financeiro.

Populismo, claro. Quanto mais complexa a concessão do crédito, quanto mais difícil a cobrança e quanto maior o imposto, maior a taxa de juro. Lógico: a taxa de juro é a medida do risco de não receber.

Algum político topa isso? Não.

Fernando Schüler* - A banalização da democracia

Revista Veja

É preciso saber criticar o gesto autoritário, venha ele de onde vier

Viramos o País dos manifestos. De um lado, a “carta pela democracia”; de outro, o “manifesto pelas liberdades”. De um lado, desconfia-se de que qualquer crítica às urnas eletrônicas seja, na prática, um ataque à democracia; de outro, que a “defesa da democracia” não vá muito além de uma jogada eleitoral. Um colega sarcástico resumiu tudo de um jeito simples: “Quem não gosta do Bolsonaro assina uma, quem gosta assina outra”. E completou: “Leva o troféu da democracia quem fizer mais barulho na internet”. Talvez ele tenha razão, mas prefiro ver nisso tudo um sintoma. A democracia entrou no debate eleitoral. Deveríamos estar discutindo sobre como fazer o país crescer e erradicar a pobreza, mas parece que voltamos à adolescência dos anos 80, 34 anos depois da Constituição.

Ascânio Seleme - Não tem nada ganho

O Globo

O principal objetivo da campanha de reeleição será aumentar a rejeição do PT e do petismo e, com isso, desestabilizar os números de Lula

O manjado discurso de jogador de futebol depois de boa vitória no primeiro jogo de um mata-mata serve muito bem para a eleição presidencial deste ano. Não tem nada ganho, ainda tem a volta, disse Arrascaeta depois da partida em que o Flamengo bateu o Corinthians por 2 x 0 pela Libertadores. Esse deveria ser também o discurso do PT e de Lula nessa fase da campanha. O que se ouve de petistas, porém, é outra coisa. Repetem que o objetivo é sacramentar a vitória logo no primeiro turno. Não que discurso de vitória seja inapropriado, mas dá a impressão que o PT não trabalha com pesquisas, não enxerga como os eleitores têm se mexido nestes últimos dias.

Lula tem tudo para ganhar no segundo turno e deve ganhar, mas não será fácil esta campanha, que nem começou. Vitória no primeiro turno é apenas um sonho. Pesquisas ainda apontam essa possibilidade, mas o avanço de Bolsonaro deveria desassossegar o PT. Já dá para perceber que ocorre um crescimento do presidente. Como se viu na última pesquisa Genial/Quaest, a distância de Lula a Bolsonaro caiu de 14% para 12%. Entre os evangélicos, Bolsonaro cresceu 14 pontos de março a agosto, tendo hoje 48% deste eleitorado. Uma enormidade que ainda pode aumentar com a entrada na campanha de Michelle Bolsonaro, que fala o idioma da mulher evangélica.

José Casado - Riscos no campo

Revista Veja

O agronegócio vai precisar lutar para se manter na liderança

Hastes de arroz, sorgo, milho e soja emolduram uma cabeça de boi, um trator e as linhas azuis que representam abundância de água naquele pedaço do interior de Mato Grosso. Abaixo do desenho, a logomarca do município avisa: “Capital do Agronegócio”.

Sorriso não exagera. É um dos maiores produtores nacionais de soja, milho e peixes. Abriga pouco mais de 90000 moradores ao redor de dezenas de bancos e escritórios das maiores empresas globais — Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco, Glencore e Monsanto, entre outras. Retrata quatro décadas de êxito na modernização tecnológica do campo, na expansão da fronteira agrícola para o Centro-Oeste e, agora, para a Amazônia.

Marco Antonio Villa - É preciso politizar a eleição

Revista IstoÉ

A instabilidade é parte da política do caos, típica de dirigentes como Bolsonaro

Jair Bolsonaro aponta para um Sete de Setembro com a possibilidade de confrontos de rua. Isso justamente no Bicentenário da Independência do Brasil. Seria algo impensado a um lustro atrás, porém, o País foi entrando em um ritmo de tal distopia, que as barbáries acabaram sendo paulatinamente absorvidas pelo modus vivendi da política brasileira. O volume de ataques sistemáticos às instituições, ao Estado democrático de Direito e à Constituição foram se incorporado ao parco vocabulário de Jair Bolsonaro e externados à miúde, em mais de três anos de “governo.”

Pablo Ortellado - Simone Tebet

O Globo

Seu programa social, porém, embora bem elaborado, não tem destaque, nem grande dimensão

A coluna de hoje faz parte de uma série que analisa os principais candidatos a presidente.

Simone Tebet é a única mulher entre esses candidatos. Ela é senadora pelo MDB e começou sua carreira em Mato Grosso do Sul, tendo sido vice-governadora do estado e duas vezes prefeita de Três Lagoas. Ganhou destaque no Senado produzindo pareceres e relatorias de grande qualidade técnica e, mais recentemente, se projetou como figura nacional com uma participação de relevo na CPI da Covid.

Lançada por uma coalizão entre MDB, PSDB, Cidadania e Podemos, ela é herdeira do programa Ponte para o Futuro, que fundamentou as políticas do governo Michel Temer e, de maneira indireta, é também herdeira das políticas do governo Fernando Henrique Cardoso. Não é à toa que trabalham em seu programa de governo quadros altamente qualificados desses dois governos, como Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros e Elena Landau.

Tebet tem dito que pretende fazer uma reforma tributária rápida, em seis meses, apoiada na proposta que existe no Congresso sobre a criação de um imposto sobre o valor agregado, unificando e simplificando tributos sobre o consumo. A medida é necessária e praticamente consensual. Só não foi implementada ainda pela inabilidade e falta de empenho do governo Bolsonaro. Tebet também propõe taxar lucros e dividendos, outra medida praticamente consensual para introduzir um pouco de justiça tributária cobrando impostos sobre a remuneração do capital.

João Gabriel de Lima – Do país do futuro ao país sem futuro

O Estado de S. Paulo

Somos vistos hoje como párias ambientais. Está em nossas mãos reverter a má imagem

A União Europeia irá votar uma legislação que, se aprovada, poderá afetar significativamente as exportações brasileiras. Trata-se da Lei Antidesmatamento, que prevê punições às empresas compradoras de produtos que provoquem devastação florestal. Segundo previsão de diplomatas brasileiros, o projeto deve entrar na pauta do Parlamento Europeu a partir do mês que vem.

As punições atingirão empresas que comprarem café, carne, soja, madeira, óleo de palma ou cacau cultivados em regiões de desmatamento. Os três primeiros produtos, entre os seis incluídos na primeira versão da lei, estão no topo da lista de exportações brasileiras para a Europa. Será igualmente punido quem negociar com regiões ou países que desrespeitam os direitos de populações tradicionais.

Para Giovanna Kuele e Andreia Bonzo, do Instituto Igarapé, o propósito da União Europeia é impedir que empresas do continente colaborem com a destruição das florestas – mas outros ecossistemas, como o Cerrado, poderão entrar na nova lei. Elas discorrem sobre o assunto no minipodcast da semana.

O Brasil tem duas atitudes possíveis diante da iniciativa europeia. A primeira é o esperneio.

Adriana Fernandes - Licença para gastar em 2023

O Estado de S. Paulo.

Programa especial daria tempo para o próximo governo administrar gastos já contratados

A criação de um programa especial para um gasto temporário fora do teto, até a entrada em vigor de um novo arcabouço fiscal para o Brasil, está se consolidando como uma das alternativas mais viáveis para as contas públicas em 2023.

A proposta dá tempo ao próximo governo para administrar o aumento de gastos já contratado com a elevação de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil e espaço para fazer alguns investimentos prioritários, sem estrangular o custeio da máquina administrativa dos ministérios.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) prometeram manter esse valor no ano que vem, caso eleitos. Por enquanto, o adicional de R$ 200 só vale até 31 de dezembro.

Demétrio Magnoli - O sul da política externa lulista

Folha de S. Paulo

'Sul global' é fantasia acadêmica, tardia flor ideológica do terceiro-mundismo

Putin Zelenski são igualmente responsáveis pela invasão russa da Ucrânia. O diagnóstico neutralista de Lula encontra sua teorização na réplica à minha última coluna, assinada por um grupo de professores universitários (Folha, 2/8).

O "conflito é multicausal", explicam, atribuindo-o em partes iguais ao "expansionismo da Otan" e à "deriva nacionalista do regime de Vladimir Putin". A ordem dos fatores não é casual: fazendo eco a Lula, e ignorando as evidências factuais, o primeiro surge como raiz da tragédia e, implicitamente, como fonte do segundo. O conjunto do texto desdobra o argumento inicial e, nesse passo, descortina os fundamentos da política externa do provável futuro governo. Por isso, merece exame.

Hélio Schwartsman - Acordo difícil para Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Evitar cadeia após mandato é problema para o presidente

Jair Bolsonaro tem um problema, que é evitar a cadeia depois que perder o cargo de presidente. Estamos no Brasil. Tenho, portanto, dificuldade em vislumbrar um processo penal contra ele chegando ao trânsito em julgado. Sempre há uma corte acima que pode anular tudo. Mas dá para imaginar uma prisão preventiva no meio do caminho.

Pizzas à parte, a questão é que, mesmo que houvesse disposição de luminares da República de trocar uma blindagem jurídica pela garantia de não radicalização por parte de Bolsonaro, esse seria um acordo difícil de promover. O primeiro obstáculo é que ele seria ilegal. Nenhum procurador nem juiz pode prometer que vai aliviar num caso que possa cair em suas mãos. Bolsonaro já deu mostras de suas limitações cognitivas, mas acho que nem ele acreditaria que um acordo que não pode nem ser confessado seria honrado.

Alvaro Costa e Silva - O rachadão de Cláudio Castro

Folha de S. Paulo

Ambos fazem de tudo para conseguir a reeleição, usando de expedientes secretos

Eleitos na onda falsamente apolítica e terrivelmente evangélica de 2018, Bolsonaro e Cláudio Castro são farinha do mesmo saco roto. Hoje desmascarados em suas intenções golpistas e corruptas, o medo de um é o medo do outro: a cadeia.

A exemplo do presidente, o governador —que assumiu após o impeachment relâmpago de Wilson Witzel— aposta tudo e usa todos os meios para conseguir a reeleição. Ainda não falou em fugir do país em caso de derrota ou responder a bala para evitar a prisão, mesmo sendo a PM do Rio a mais letal do país. Mas tem em mente o destino atrás das grades de seus antecessores —Moreira Franco, Rosinha Garotinho, Anthony Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão. A lista de chamada na penitenciária se completa com Eduardo Cunha, cacique fluminense atualmente em fuga para São Paulo.

Cristina Serra - Jô, ao mestre, com carinho

Folha de S. Paulo

Ele exerceu seu ofício com coragem e compromisso com o Brasil

Vou falar do Jô Soares com quem convivi e trabalhei e que tanto me ensinou, com sua generosidade transbordante. Conheci o Jô comunicador depois de ter passado a infância assistindo a seus personagens humorísticos na TV. Em 2012, com o coração aos pulos, sentei-me ao lado dele pela primeira vez, na famosa bancada do seu programa da madrugada. "Programa do Jô. Não vá pra cama sem ele", dizia o divertido bordão.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Cartas reafirmam compromisso com Brasil democrático

O Globo

Texto com adesão do setor produtivo e sociedade civil mostra que o país não tolerará arroubo golpista de Bolsonaro

É histórica a carta em defesa da democracia e da Justiça publicada ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com a adesão de dezenas de entidades representativas do setor produtivo, centrais sindicais e organizações da sociedade civil. Ela se soma à manifestação dos mais de 750 mil signatários da “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, lançada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo com base na Carta aos Brasileiros lida pelo jurista Goffredo da Silva Telles nas arcadas do Largo São Francisco em 1977, marco do início da derrocada da ditadura militar.

Os textos são praticamente idênticos na essência: reafirmam o apoio veemente à democracia e ao sistema eleitorial e repudiam os ataques sem fundamento às urnas eletrônicas promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro e por seus partidários. Revelam que a sociedade brasileira não aceitará qualquer tentativa de desrespeito ao resultado proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na eleição de outubro. São parte de uma reação bem-vinda e necessária da sociedade para deter os arroubos golpistas de Bolsonaro.

Poesia | Charles Baudelaire - Uma carniça

 

Música | Joyce Moreno - Brasileiras canções