terça-feira, 16 de agosto de 2022

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*

“Agora, com a sucessão presidencial de 2022, chegou o momento do ajuste de contas da sociedade com os malfeitos que lhes foram infringidos, repondo-a nos seus trilhos naturais de busca de ideais civilizatórios. Não será tarefa fácil, seus adversários pretendem se opor com todos os recursos de que puderem dispor. Os feitos do último 11de agosto devem servir de régua e compasso em seus próximos passos. Eles nos fornecem a senha – avançar unidos em amplas alianças – para que voltemos ao leito das nossas melhores tradições, democracia sempre como eles bradaram em alto e bom som.”

*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio. “A senha do 11 de agosto”, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 14/8/22.

Merval Pereira - O direito de escolha

O Globo

Segundo turno permite que o presidente da República seja eleito por maioria absoluta

A campanha eleitoral que começa oficialmente hoje já revela o retrocesso político a que estamos submetidos e a ameaça de não termos futuro promissor à frente. A começar pela defesa do voto útil no primeiro turno das eleições a favor do PT, uma contradição em termos. Os dois turnos existem justamente para permitir que as forças políticas se reagrupem no final, cada qual demonstrando sua capacidade de mobilização cívica no primeiro.

Vencer no primeiro turno não deve ser uma ação política, mas um movimento que revele a posição majoritária do eleitorado. Enquanto houver uma múltipla escolha entre candidatos de posições distintas, haverá a necessidade de um segundo turno para filtrar essas tendências e permitir que o presidente da República seja eleito com maioria absoluta.

Essa maioria, no entanto, não deveria ser alcançada por sentimentos como medo ou abdicação da escolha do candidato que mais se aproxima do ponto de vista de cada eleitor. Escolher o menos ruim, como vem acontecendo reiteradamente nos últimos anos, deveria ficar para o segundo turno, assim como o voto nulo e outros tipos de protesto do eleitor insatisfeito com as escolhas que sobraram.

Míriam Leitão - No balanço dos números

O Globo

A corrida presidencial começa com o favoritismo de Lula, e um ambiente econômico benéfico a Bolsonaro

A diferença a favor de Lula em São Paulo e em Minas, de 10% e de 13%, reforça a posição do petista no Sudeste e confirma o favoritismo de Lula nessa entrada oficial da campanha eleitoral, faltando apenas 47 dias para a eleição no primeiro turno. O resultado de 44% para Lula e 32% para Bolsonaro, pelo Ipec, marca um ineditismo. Nunca um presidente disputou a reeleição numa situação tão desfavorável. Há outros dados contra o presidente. No cenário do segundo turno, ele tem 35%, ou seja, ganha apenas três pontos mostrando que tem mais teto que Lula. O ex-presidente agrega sete pontos entre o primeiro e o segundo turnos.

Serão dias intensos. Todos os dias. Hoje, no Tribunal Superior Eleitoral, podem se encontrar Lula e Bolsonaro. Podem se ver também Dilma e Temer. O roteirista do Brasil capricha nas cenas emblemáticas. E eles estarão juntos na posse do ministro Alexandre de Moraes, que tem sido o mais duro com os bolsonaristas e foi indicado pelo ex-presidente Temer, que Dilma, ainda hoje, define como “o traidor”.

Carlos Andreazza - Bolsonaro contra a República

O Globo

Há graus de democracia. Algo de democracia — geralmente a existência de calendário eleitoral — não raro legitimando a atividade autoritária que mina os múltiplos mecanismos controladores do exercício do poder.

A democracia que se pendura na realização de eleições periódicas é frágil. A democracia brasileira está frágil. Mas ainda uma democracia. É conversa de fácil convencimento. O senso comum associa democracia à realização de eleições. Como pode ser golpista aquele que peleja no voto?

Daí por que prefira falar em ataques à República.

Bolsonaro foi eleito. Tentará a reeleição. Tentará vencer a eleição cujo sistema desacredita. Não há incoerência nisso. Trata-se de um populista autocrático. Depende da chancela do voto para legitimar a posição que define o mito. Mesmo sob fraude, eleito por 58 milhões de votos. Não é isso? Eleito com 58 milhões de votos; no entanto lutando contra o establishment que não o deixa governar.

O voto é potência — fortaleza personalista — para o populista autocrático, que instrumentaliza a democracia e manipula o fetiche de que o eleito poderia tudo. Como pode um tribunal de togados sem votos limitar a vontade daquele que exprime o desejo soberano do povo? O voto é também disfarce — ou não será democrata o que disputa eleição?

Luiz Carlos Azedo - Campanha começa hoje com foco no Sudeste

Correio Braziliense

O confronto de Bolsonaro com o ministro Alexandre de Moraes parece ter desanuviado, após o novo presidente do TSE tê-lo convidado pessoalmente para a sua posse

A campanha eleitoral começa hoje com o foco voltado para as pesquisas de intenções de voto realizadas pelo Ipec (sucessor de Ibope) nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Brasília, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Nos três estados do Sudeste, a disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro começa mais nervosa, porque são os três maiores colégios eleitorais do país. Os dois deverão comparecer à posse do ministro Alexandre de Moraes na Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para a qual foram convidados todos os ex-presidentes. José Sarney, Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff confirmaram presença; Fernando Henrique Cardoso, não, devido a problemas de saúde. A posse será um termômetro do clima da campanha eleitoral no plano institucional.

O nervosismo que antecede os programas eleitorais de rádio e tevê, que somente começarão no dia 26 de agosto, já tomou conta das equipes de marketing dos candidatos. Por hora, está radicalizado nas redes sociais, principalmente entre petistas e bolsonaristas. O jogo bruto nas redes sociais tende a esquentar o clima político, mas essa pode não ser uma boa receita para os programas eleitorais de rádio e teve, a partir do próximo dia 26, que têm audiência difusa e não segmentada em bolhas de apoiadores como as redes sociais.

Alvaro Costa e Silva - Campanha de Bolsonaro vai além das fake news

Folha de S. Paulo

Na prática, explora o preconceito religioso, ao lado de um caminhão de dinheiro

Rainha da ribalta na eleição de 2018, a mamadeira de piroca é hoje uma vedete envelhecida que foi morar no Irajá. Ainda resiste em programas de humor e marchinhas de Carnaval e se prepara para uma tentativa de volta aos palcos na campanha ao Senado da ex-ministra da Mulher Damares Alves. Acontece que ela perdeu o viço nas pernas longas e mentirosas. Ao lado do kit gay e da Ursal, não consegue esconder a flacidez e as varizes.

Tanto que Damares foi chutada para escanteio por Bolsonaro, que preferiu apoiar a candidatura de Flávia Arruda, em mais um conluio com o centrão. Damares só voltou à disputa por artes de Michelle Bolsonaro, sincronizada com a ex-ministra no fanatismo religioso e, como a aliada, também useira e vezeira no artifício das fake news.

Hélio Schwartsman - Festival de fake news

Folha de S. Paulo

Embora deploráveis, só em raras ocasiões elas mudam o resultado de uma eleição

Começa oficialmente nesta terça (16/8) a campanha eleitoral. A expectativa é que ela seja marcada por um festival de fake news. Embora a humanidade conviva com mentiras ao menos desde o advento da linguagem, não devemos desprezar seu potencial destrutivo. Elas não apenas confundem como dificultam a manutenção e a formação de consensos sociais que são importantes para a democracia.

Em algumas circunstâncias, podem revelar-se fatais. Não é pequeno o número de pessoas, em geral simpáticas a Jair Bolsonaro, que se deixou convencer pela pregação antivacinal do presidente e, por isso, não se imunizou. Paradoxalmente, os efeitos eleitorais das fake news tendem a ser mais restritos. É que a mesma arquitetura cerebral que faz de nós seres teimosos e interesseiros, pouco sensíveis às lições da ciência, nos protege parcialmente das fraudes de campanhas eleitorais.

Joel Pinheiro da Fonseca - Bolsonaro guarda um trunfo nas redes?

Folha de S. Paulo

Apesar da pesquisa Ipec desta segunda-feira (15), tudo indica que a corrida deve se acirrar nas próximas semanas. A economia trabalha a favor de Bolsonaro, mas não é só isso. Com o início da campanha, a comunicação ganha ainda mais peso. E a fluência bolsonarista na linguagem das redes sociais não foi igualada por ninguém, nem mesmo pelo Lula, que construiu seu vínculo com o eleitorado numa outra era. Esse capital pode ser o bastante para elegê-lo. Mas quando vai para as redes, fica claro que está defasado.

Essa defasagem é recente. Dez anos atrás, nos tempos daquele artefato pré-histórico chamado blog, o petismo reinava na internet. Blogs a serviço do partido, que se faziam de sites de notícias, veiculavam narrativas favoráveis ao mesmo tempo em que demonizavam a imprensa séria, apelidada de PIG (Partido da Imprensa Golpista). O que mudou nesse meio tempo foram as redes sociais e aplicativos de mensagem, que engatinhavam na época e hoje dominam o espaço.

Há atores políticos que aprenderam a navegar essas novas águas: André Janones, que agora está com Lula, é um deles. O MBL é outro. Mas ainda são poucos. Cabe elencar alguns pontos dessa nova comunicação.

Primeiro: para chegar a muita gente, precisa fazer barulho. Precisa chocar. Uma fala justa e ponderada terá dificuldade para ir longe. Uma afirmação taxativa e exagerada tem muito mais chance de viralizar. Atacar e ridicularizar o inimigo conta mais, infelizmente, do que um argumento sensato. Bom gosto, elegância; esses estão fora.

Adriana Fernandes - Bateria de bondades ainda não surte efeito nas pesquisas

O Estado de S. Paulo

Pesquisa Ipec em que Lula lidera com 12 pontos de vantagem é banho de água fria para a campanha do presidente

O início do Auxílio Brasil turbinado de R$ 600, a redução dos preços dos combustíveis e o anúncio da injeção de bilhões com “bondades” eleitorais até o final do ano não foram até agora suficientes para alavancar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A primeira pesquisa eleitoral do Ipec feita neste ano, contratada pela TV Globo e divulgada nesta segunda-feira, 15, pelo Jornal Nacional, mostrou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança da disputa para o Palácio do Planalto 12 pontos na frente de Bolsonaro. Lula com 44% e Bolsonaro atrás com 32% das intenções de votos

Foi um banho de água fria para a campanha do presidente na véspera do início oficial da campanha eleitoral, que começa esta semana. O time de Bolsonaro contava que a queda dos preços dos combustíveis, tema tão sensível para a população, já ajudaria a melhorar o apoio ao presidente com reflexo nas pesquisas.

Eliane Cantanhêde - Triângulo das Bermudas

O Estado de S. Paulo

Sudeste é decisivo e Lula tem vantagem em São Paulo e em Minas e empata com Bolsonaro no Rio

A pesquisa Ipec confirma a vantagem do ex-presidente Lula, do PT, no Sudeste, região em que tanto ele quanto seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro, jogam todas as suas energias, esperanças e fake news. Lula, para tentar uma improvável vitória em 1.º turno e Bolsonaro, para conquistar condições de vencer.

No Rio, reduto eleitoral desde sempre de Bolsonaro e onde o PT vem penando constante esvaziamento, a situação é imprevisível, com empate técnico e leve vantagem para Lula, de 35% a 33%. Mas a campanha petista pode comemorar os resultados em São Paulo e Minas Gerais.

A diferença de dez pontos em São Paulo, maior economia, maior população e maior eleitorado do País, tem peso e significado: 38% para Lula e 28% para Bolsonaro. Isso se reflete na disputa estadual, com Fernando Haddad, do PT, mantendo a liderança com folga (29%), e seus principais adversários disputando ponto a ponto.

Almir Pazzianotto Pinto* - O momento passou

O Estado de S. Paulo

Apesar do cheiro de golpe no ar, a sociedade civil brasileira permanece em alerta. Sua arma é a Constituição

A ruptura violenta da ordem institucional é algo que exige a conjunção de diversos fatores, para alcançar sucesso. Os precedentes revelam ser indispensável cuidadosa preparação; que os agentes sejam ousados, dispostos a morrer ou matar; que a opinião pública se deixe apanhar de surpresa; e que o líder tenha inteligência, coragem e conte com as Forças Armadas.

Em Técnica do Golpe de Estado, Curzio Malaparte escreveu como Trotski, o teórico da revolução permanente, cujo nome real era Lev Davidovitch Bronstein (1879-1940), dizia ser possível derrubar qualquer governo quando a sociedade estivesse apática e desorganizada, se os conspiradores dispusessem de pequeno grupo de homens bem armados, dotados de coragem para ocupar, em poucas horas, posições estratégicas na capital do país.

O Brasil conhece algumas experiências de tentativas de golpes improvisadas, mal comandadas e fracassadas. A mais notória é a Intentona Comunista de 1935, liderada por Luís Carlos Prestes. Esmagada sem clemência pelo Exército, deixou como legado a implantação da ditadura de Getúlio Vargas em 10/11/1937, com a edição da Carta Constitucional de 10/11/1937. O preâmbulo, escrito por Francisco Campos, justificava o golpe, deflagrado para atender “ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios de caráter radical e permanente”.

Andrea Jubé - Três décadas de embates com a democracia

Valor Econômico

Passou da hora de Jair Bolsonaro rever sua relação com a democracia, sistema aclamado pela maioria expressiva dos brasileiro

Faz 35 anos que o então capitão do Exército Jair Bolsonaro respondeu pela primeira vez pelo envolvimento em atos de natureza antidemocrática. “Não há dúvida de que toda essa movimentação tem ramificações, está articulada com a extrema direita militar e civil e tem o objetivo real de desestabilizar o processo de transição democrática”, afirmou o professor e coronel da reserva Geraldo Cavagnari Filho, um dos principais estudiosos da questão militar no Brasil, em entrevista ao Jornal do Brasil, em 27 de outubro de 1987.

O Brasil não havia completado a passagem para a democracia, iniciada com a eleição indireta de Tancredo Neves em 1985 (e subsequente posse de José Sarney) e que teria o seu apogeu com as eleições diretas para presidente em 1989, após um hiato de 29 anos.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Democracia representativa está sendo "comida pelas beiradas"

"Nosso caminho não será soviético, nem japonês, nem o canadense. Ninguém revive a história alheia", preconizou Darcy Ribeiro, quando vivo, em discurso no Senado, observando que os oportunistas, os carreiristas, os oligarcas, os corruptos da Política serão "comidos pelas beiradas “.  A história daria essa resposta.

Ora, as eleições de outubro próximo devem tornar mais visível o chamado "mandado coletivo”, o novo modelo de representação popular, introduzido no Brasil, exercido, em conjunto, por co-parlamentares. Até segunda-feira (15) já haviam 217 candidatos inscritos no Tribunal Superior Eleitoral para mandatos compartilhados para vereador, deputado, senador. E se Darcy estivesse por aqui ele, certamente, estaria defendendo candidaturas para prefeito, governador e - quem sabe -até para presidente da República. Em vários estados o modelo está sendo adotado, especialmente em São Paulo - Seria o caso de Lula e Alkmin?!- e Pernambuco. Mas, os candidatos coletivos pernambucanos já estão recebendo votos até de Fernando de Noronha.

Pelo visto, está entrando em crise, no Brasil, a democracia representativa, em que o parlamentar é eleito por milhares de pessoas prometendo "mundos e fundos" à população, sem precisar cumprir, nem prestar contas: deputados, só fazem isso de quatro em quatro anos, em campanhas para a reeleição; e senadores, de oito em oito. Esse modelo tende a implodir ao longo dos próximos pleitos. O eleitorado vai, aos poucos, desiludindo-se do sistema representativo que alimenta interesses particulares e um populismo fantasioso. 

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Risco paternalista

Folha de S. Paulo

Na campanha, poder de censura de juízes eleitorais deve ser usado com parcimônia

Ante a agenda autoritária do presidente da República, ressalta-se no pleito deste ano a principal virtude do sistema de votação brasileiro, a de ser conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral —um árbitro nacional, constitutivamente neutro e distanciado das tarefas de governar e aprovar as leis.

Já entre os aspectos desafiadores desse modelo está o padrão excessivo das intervenções da Justiça nas liberdades de partidos e eleitores.

O labirinto de restrições e minudências parte da própria legislação e se acentua pela atuação dos juízes, dentro da prática pouco moderna de considerar o eleitor alguém hipossuficiente, a ser protegido das artimanhas dos candidatos.

A campanha começa oficialmente apenas nesta terça-feira (16), mas o TSE já proibiu a veiculação de vídeos porque considerou que continham pedidos de votos antes do período permitido, utilizavam termos ofensivos, faziam conexões indevidas ou valiam-se de canais oficiais para elogiar o combate federal à Covid-19.

Se depender da Procuradoria que atua na corte, vai para o índex dos vídeos proibidos a investida infame do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o sistema eleitoral brasileiro diante de embaixadores estrangeiros. Essa documentação histórica de um dos pontos mais baixos já atingidos pela diplomacia nacional jamais deveria ser apagada.

Poesia | Fernando Pessoa - Há metafísica bastante em não pensar em nada

 

Música | Milton Nascimento - Certas Canções

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