O Globo
É de extrema gravidade que o partido do
presidente tente melar as eleições em que obteve seu melhor desempenho
A cada nova casa avançada pelos que
intentam questionar o resultado das eleições, o lugar-comum ouvido entre
políticos, juízes, advogados e analistas políticos é:
— Esquece, isso não vai dar em nada.
Mas já deu em muita coisa, e parece haver
pouca consciência por parte de todos esses segmentos do grau de radicalização
operado pelo bolsonarismo não mais nas franjas da extrema direita, mas em
amplos espectros da sociedade.
Há quase um mês, centenas de pessoas estão
nas ruas desempenhando um ritual entre bizarro e francamente criminoso, que vai
de apelos pueris a extra-terrestres a atentados terroristas contra
concessionárias de rodovias.
Com exceção do Judiciário, todos os demais responsáveis por preservar o Estado Democrático de Direito de acordo com a Constituição tocam a bola de lado, ora se omitindo, ora fingindo trabalhar. É o caso da Procuradoria-Geral da República, da aparelhada Polícia Rodoviária Federal e do Congresso, cujos líderes até aqui não deram uma única palavra sobre a escalada golpista em curso.