As armadilhas da nova política industrial
O Globo
Plano do governo foi apresentado de modo
vago, custa caro e não evita os riscos apontados pelos economistas
O programa Nova Indústria Brasil, lançado
pelo governo federal em janeiro, foi apresentado em termos vagos, mas com um
dado concreto: investimentos de R$ 300 bilhões até 2026, a maior parte do BNDES,
para promover o que seus defensores têm chamado de “neoindustrialização”. Tal
montante, equivalente a algo como 1% do PIB brasileiro no período, exige pausa
para reflexão. Vale a pena? Ou será apenas dinheiro desperdiçado em projetos
fadados ao fracasso, como tantas vezes no passado? Ainda não dá para avaliar a
destinação dos recursos, mas é possível desde já expor os principais riscos e
as principais armadilhas.
É preciso reconhecer que políticas industriais têm reflorescido no mundo. Nos Estados Unidos, o governo Joe Biden destinou US$ 465 bilhões a fábricas de semicondutores e à transição energética. A China é conhecida pelo dirigismo em setores considerados “estratégicos”. Depois do choque da pandemia nas cadeias globais de suprimento, países europeus e asiáticos têm adotado medidas para favorecer a produção local de medicamentos, chips ou outros produtos. O plano brasileiro foi apresentado como mais um no contexto global e segue uma década de reavaliação das políticas industriais no meio acadêmico, com visão mais favorável que no passado. “O novo não está tanto nos argumentos em prol da política industrial, mas sim na melhor mensuração desse tipo de política pública”, escreveu o economista Luiz Guilherme Schymura, diretor do Ibre/FGV, numa síntese da discussão que o instituto realizou sobre o tema.