Atos contra o presidente são
registrados em todos os estados brasileiros e no exterior em meio a desgaste do
governo após denúncias de corrupção e propina em negociações por vacinas
Camila Zarur, Rodrigo Castro, Guilherme Caetano,
Ivan Martínez-Vargas e Mariana Muniz e Alfredo Mergulhão* / O Globo
RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA — Milhares de
manifestantes voltaram às ruas neste sábado em todos os estados do país e no
Distrito Federal para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) e cobrar celeridade na vacinação contra a Covid-19. Os atos
transcorreram em meio a um desgaste sofrido pelo governo diante de denúncias de
corrupção e propina em negociações para compra de vacinas. No Rio, o protesto
ganhou novas cores com a presença de bandeiras do Brasil e da comunidade
LGBTQIAP+. Em São Paulo, a novidade foi a adesão de grupos de centro e direita,
com representantes do PSDB, PSL e do movimento liberal Livres.
Os protestos, convocados por entidades e movimentos
sociais, contam com o respaldo de partidos políticos e centrais sindicais. Além
da oposição, alas do centro e da direita que hesitavam em aderir aos atos
também endossam as manifestações. Siglas como PSDB e PSL planejam a
participação mas sem fortalecer uma eventual candidatura de Lula nas próximas
eleições.
Além de todas as capitais do país, também houve
protestos em países como Alemanha, Áustria, Irlanda, Portugal, Canadá e Suíça.
A manifestação em São Paulo começou pouco depois
das 15h. A concentração aconteceu na Avenida Paulista, em frente ao Museu de
Arte de São Paulo (Masp), tradicional palco de protestos da capital paulista.
Inicialmente previstas apenas para o próximo dia
24, as manifestações foram antecipadas após crise desencadeada no governo
frente às suspeitas sobre a compra da vacina indiana Covaxin e a
acusação de pedido de propina para aquisição de doses da AstraZeneca. Os
protestos foram organizados às pressas e ocorrem exatas duas semanas depois dos
últimos atos contra Bolsonaro, em 19 de junho.
Dezenas de representantes de movimentos e partidos políticos apresentaram na
última quarta-feira um 'superpedido' de impeachment contra Bolsonaro.
O documento que contou com 45 signatários unificou os argumentos expostos em
outros 123 pedidos já submetidos à Câmara. Um dos apontamentos mais recentes é
o de que o presidente teria cometido prevaricação nas suspeitas de
corrupção no contrato de compra da Covaxin.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o ato aconteceu na Avenida
Presidente Vargas, no Centro da cidade. Entre cartazes contra o presidente,
destacaram-se também bandeiras do Brasil e do movimento LGBTQIAP+. O deputado
federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), líder da minoria na Câmara, foi à manifestação
vestindo uma camisa com as cores do Brasil. É o primeiro protesto do qual o
parlamentar participa.
— As cores do Brasil não pertencem a nenhum ditador. Pertencem ao povo
brasileiro. Bolsonaro fez as cores da bandeira serem a da divisão e do ódio.
Qualquer um que defenda a democracia tem o direito de usar a bandeira — afirmou
Freixo.
A bandeira brasileira e as cores verde e amarelo eram marcas das manifestações
a favor de Bolsonaro mesmo antes de sua eleição, em 2018. Agora, nos protestos
contrários ao presidente, o uso dos símbolos seria uma forma de fazer acenos a
movimentos do centro e da direita.
Representantes de partidos como Psol, PT, PSB, PV,
PDT, PCdoB, PCB e Cidadania marcaram presença no protesto. Ainda que algumas
alas do PSDB tenham defendido os protestos na rua contra o presidente, o
partido não participou do ato no Rio. Segundo o presidente estadual da legenda,
o deputado federal Otávio Leite, o momento é de evitar aglomerações.
"Nesse momento entendemos que a 'não a
aglomeração' é um imperativo! Quanto ao futuro, o partido vive um fértil
momento de debates internos em busca de uma alternativa de Centro para o
país", disse o deputado em nota.
Para a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), a manifestação é uma forma
de pressionar o presidente da Câmara, Arthur Lira, a dar prosseguimento a
abertura do processo de impeachment, além de respaldar as investigações da CPI.
— A manifestação vai respaldar o pedido de impeachment. É evidente que existe
um vontade de uma maioria pela saída de Bolsonaro. Porém, há uma dureza por
parte da presidência da Casa. Sem esse povo na rua, é impossível ajudar a CPI a
investigar o governo e ajudar que o Parlamento a abrir o processo de
impeachment — disse a parlamentar, que também participa do ato.