sexta-feira, 22 de março de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Lula precisa de feitos, não de comunicação

Folha de S. Paulo

Datafolha mostra que se esvaiu saldo entre aprovação e reprovação ao petista; governo deveria cuidar do Orçamento

Pesquisa realizada pelo Datafolha detectou alguma piora da avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A queda do prestígio do presidente é mais notável no saldo entre avaliações positivas e negativas.

Em dezembro, a parcela do eleitorado que considerava o governo Lula ótimo ou bom atingia 38%; no levantamento deste março, são 35%. Já aqueles que avaliam a gestão como ruim ou péssima passaram de 30% para 33%.

Trata-se, a rigor, de variações no limite da margem de erro da pesquisa. A diferença entre aprovação e reprovação, entretanto, caiu de 8 pontos para meros 2 pontos percentuais —no melhor momento de Lula 3, em junho de 2023, o saldo chegava a 10 pontos.

Fernando Abrucio* - Bolsonaro é o Brasil autoritário

Valor Econômico

O ‘mau soldado’ que começou a vida pública planejando um atentado nunca deixou de elogiar a ditadura e torturadores, e as elites políticas nunca deram um basta nesse comportamento

Todo mês de março vem a lembrança do golpe de 1964. Desta vez, sua fatídica realização completa 60 anos. Pensar sobre esse ato é recordar de um regime que por duas décadas sufocou a liberdade, torturou e matou inimigos políticos. O Brasil tem, hoje, o maior período democrático de toda sua história, mas o autoritarismo ainda não foi banido de vez de nossas práticas políticas e sociais. A trajetória política de Bolsonaro, especialmente nos últimos anos, é a melhor síntese dessa batalha inconclusa, certamente com avanços, mas enfrentando ainda grandes desafios na tentativa de banir a lógica autoritária.

Falar de autoritarismo significa lidar com três formas de manifestação desse fenômeno. A primeira é a mais evidente e diz respeito ao funcionamento das instituições. Eleições livres e competitivas, separação e controle mútuo dos Poderes, salvaguardas federativas dos estados e municípios, bem como a garantia institucional dos direitos dos cidadãos, inclusive os que representam minorias políticas ou sociais, são os principais elementos de uma democracia. Foi aqui que o Brasil avançou mais, com um sistema político que pode estar longe de ser perfeito, mas que foi fundamental para evitar um novo golpe de Estado em 2022. Mas será que nossa institucionalidade preservaria o regime democrático com um novo Bolsonaro ou a volta dele ao poder?

Se houve a possibilidade da quebra democrática com Bolsonaro, é porque algumas lideranças políticas e sociais supõem que se possa rasgar a Constituição e organizar a tomada ilegal do poder. Essa é uma segunda camada do autoritarismo, que envolve as crenças e práticas de atores e instituições estratégicas, como as Forças Armadas, a classe política, juízes, empresariado e líderes sociais de cunho secular ou religioso, para ficar nos principais grupos. Instituições não se movem sozinhas e como as elites e políticos atuam sobre elas é um aspecto-chave para a consolidação democrática.

José de Souza Martins*- O fim de ciclo político?

Valor Econômico

A coragem dos processos, dos inquéritos e das comissões parlamentares de inquérito podem restituir ao Brasil a soberania que o autoritarismo usurpador substituiu pela técnica antidemocrática das “fake news” e da boçalidade

O levantamento do sigilo de numerosos depoimentos de civis e militares ouvidos no processo da tentativa de golpe de Estado de Jair Bolsonaro e seus ajudantes aparentemente fecha um ciclo de tensões e impasses políticos que teve início na circunstância da renúncia do presidente Jânio da Silva Quadros, em 1961.

Aquele foi um período agudo da Guerra Fria e da hegemonia americana na América Latina, sobretudo como consequência da Revolução Cubana. Uma revolução que não era comunista, mas movida pelo afã moral e político de completar a independência do país e libertá-lo da condição de cassino e prostíbulo de Miami.

Os americanos cometeram o grave engano político de irritarem-se com o atrevimento dos cubanos liderados por Fidel de se libertarem da dominação do que havia de pior no capitalismo de periferia. Decretaram o boicote aos produtos da ilha e negando-lhes até mesmo fornecimento de remédios. Aos revoltosos não restou alternativa senão a de aliarem-se aos russos e ao risco da guerra nuclear.

Os países latino-americanos tiveram seu destino alterado pela polarização entre EUA e URSS. Situação descabidamente persistente na melancólica ascensão do bolsonarismo. E no mais melancólico governo que resultou de técnicas antipolíticas de criação de fantasias que convencessem a grande massa da população brasileira partidarizável, mas não politizada, de que o país estava à beira do abismo vermelho.

César Felício - PSDB e PDT, sozinhos, rumam para o abismo

Valor Econômico

Encolhem a tal ponto, que a sobrevivência de ambos à cláusula de barreira em 2026 já é posta em dúvida

Dois partidos que costumam ter o que dizer nos processos eleitorais brasileiros parecem estar rumo ao abismo, na janela das filiações partidárias para participar da disputar da eleição municipal, que se encerra em outubro. Encolhem em praça pública o PSDB e o PDT, especialmente o primeiro, a tal ponto que a sobrevivência de ambos à cláusula de barreira em 2026 já é posta em dúvida por outros caciques partidários, que pressentem o cheiro de sangue. Não por outro motivo os dois partidos começaram as negociações para uma federação a curto prazo.

Maria Cristina Fernandes - Falso sumiço de móveis desafia presidente a se fiar no real sentido da polarização

Valor Econômico

Desgaste, que já seria inevitável, é potencializado pelas pretensões eleitorais de Michelle Bolsonaro

“Descobrimos que o crucifixo é dele mesmo. Recebeu de presente. Pqp. Matérias furadas na internet”. Esta mensagem saiu às 17h44min do dia 9 de março de 2016 do celular do ex-procurador federal Deltan Dallagnol para seu colega Orlando Martello.

Chegava ao fim, dessa maneira, uma das histórias mais dramáticas da Lava-Jato, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi acusado de furtar um crucifixo, supostamente de Aleijadinho, do gabinete da Presidência no Palácio do Planalto.

Se a Lava-Jato foi atrás de uma “fake news”, o presidente Lula a produziu, na precipitação de relacionar o casal Bolsonaro ao sumiço de móveis do Palácio do Alvorada. O bolsonarismo sapateia em cima do caso. O ex-presidente diz que seu sucessor fez uma falsa comunicação de furto e a ex-primeira dama diz que a acusação foi uma cortina de fumaça para a compra de móveis sem licitação. A Presidência gastou R$ 200 mil para repor os móveis que só agora foram encontrados.

Luiz Carlos Azedo - Política externa virou eixo de disputa com oposição

Correio Braziliense

Os ventos também mudaram em Washington, porque a inação de Biden em relação a Israel começa a ter repercussão eleitoral e dividir as opiniões dos democratas

Por força de diversas contingências, que ainda estão em movimento, e da diplomacia pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que parece enrijecida, a política externa brasileira perdeu consenso nacional e se tornou um dos eixos de disputa da oposição com o novo governo, ao lado de outros temas como segurança pública, educação, saúde e costumes, para citar os mais em evidência.

No caso da política externa, o fato novo é a ida dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR), e de Goiás, Ronaldo Caiado, a Israel para hipotecar solidariedade ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, com o qual posaram sorrindo, na terça-feira, num contraponto aberto à política externa brasileira. Nesta quinta-feira, ao lado dos governadores brasileiros, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, aproveitou a presença de ambos para novamente classificar como “antissemita” a fala do presidente Lula comparando a morte de civis em Gaza ao Holocausto. Os dois gestores visitaram Israel a convite de uma ONG e de empresários brasileiros.

Eliane Cantanhêde - É pra rir ou pra chorar?

O Estado de S. Paulo

A economia e o governo até vão bem, o que vai mal é o presidente, que fala muito e mal

É bem possível que os ministros não entendam nada de comunicação, mas o grande problema do governo não é esse, mas, sim, que o presidente Lula se comunica excessivamente e mal, dando uma bola fora atrás da outra. As duas últimas vindo a público são a história do sumiço de 261 móveis, obras e objetos do Alvorada e a notícia de que, ora, ora, o governo Lula decreta cem anos de sigilo para 1.339 pedidos de informação, como Bolsonaro fazia, sob chuvas de protestos.

Vera Magalhães - Governo derrapa em decifrar eleitor-esfinge

O Globo

A percepção a respeito do governo parece sofrer com uma desconfiança geral a respeito de qual o projeto de Lula para o país

Lula começou a semana cobrando que seus ministros entreguem e falem mais, admitindo que o governo está perdendo a batalha da comunicação, sobretudo no ambiente digital, mas ontem resolveu se lembrar de um antigo culpado de sempre quando qualquer governante enfrenta problemas de popularidade: a imprensa.

Se alguma crítica pode ser feita ao jornalismo na gestão Lula 3 é a oposta: os arroubos golpistas de Jair Bolsonaro, os ataques sistemáticos do ex-presidente e de seus apoiadores à imprensa, à ciência, à cultura, ao meio ambiente e aos direitos humanos, entre outros, talvez tenham feito a cobrança aos novos ocupantes do poder demorar mais e adotar um tom bem mais ameno que em governos anteriores, de diversos partidos, inclusive do próprio PT.

Para além de ironizar a “gloriosa imprensa democrática”, portanto, caberia ao presidente entender o que os números das pesquisas mostram. Só a comunicação ineficaz não parece dar conta de explicar por que aqueles que aprovam e os que repelem o governo Lula são em praticamente igual número, uma vez que a economia —que costuma ser o principal vetor de humor da população — vai bem como há anos não ia.

Bernardo Mello Franco - O ministro e a sobrevivente

O Globo

Um dia depois de anunciar que a delação de Ronnie Lessa foi homologada, o ministro Ricardo Lewandowski recebeu a única sobrevivente do atentado que matou a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

Assessora do PSOL, Fernanda Chaves acompanhou deputados do partido em audiência com o ministro. “Ele não me conhecia. Ficou claramente impactado quando me apresentaram”, conta.

“Comecei dizendo que a homologação foi a notícia mais importante desde a prisão dos dois executores. Sobretudo para quem acompanha este processo como vítima de tentativa de homicídio e sobrevivente”, afirma.

Fernanda relatou a Lewandowski que o atentado de 2018 mudou sua vida para sempre. “Quando você não sabe de onde veio, não sabe do que se proteger”, explica. “Saber que um dos investigados tem foro no STF me causa ainda mais ansiedade, já que trabalho há anos no meio político. Isso significa que circulo entre figuras que podem estar comprometidas no crime.”

Flávia Oliveira - Salve o almirante negro

O Globo

Não é inédito no Brasil que a cultura faça por grandes figuras o que a História, a Justiça, o Estado não fizeram

Coube à escola de samba carioca Paraíso do Tuiuti no carnaval 2024 a mais recente homenagem a João Cândido Felisberto. Num ato adicional de reparação, o carnavalesco Jack Vasconcelos escalou o entregador Max Angelo dos Santos para encarnar o líder da Revolta da Chibata (1910) no segundo dia de desfiles do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí. Mais de um século depois do motim de marinheiros contra castigos físicos aplicados pela Marinha em plena República, o morador da Rocinha foi chicoteado com uma coleira de cachorro por uma madame de São Conrado, bairro limítrofe à comunidade. Resquícios de um país forjado na escravidão.

A ex-jogadora de vôlei Sandra Mathias Correia de Sá foi indiciada pela Polícia Civil por lesão corporal, injúria e perseguição em junho de 2023, dois meses depois da agressão. A justiça que falhou a Max nos tribunais brotou na folia. No desfile do Tuiuti, o entregador veio ao leme da alegoria Dragão do Mar, um navio estilizado que, ao mesmo tempo, relembrava a revolta na Baía de Guanabara e homenageava Chico da Matilde, líder jangadeiro e ícone do movimento abolicionista do Ceará, primeira província brasileira a pôr fim à escravidão, em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea.

Fabio Giambiagi - Um sistema disfuncional

O Globo

Sem isso, será difícil escapar da trajetória de mediocridade que tem sido nossa sina há vários anos. No longo prazo, é uma tragédia

Um dos temas sobre os quais os aspirantes a economistas se debruçam na faculdade é a análise do papel dos incentivos. Observe-se algo que funciona mal na economia e, muito provavelmente, haverá um erro de concepção no que os economistas chamamos de “desenho de incentivos”.

Isto não é algo difícil de entender para o leigo. Pensemos na educação de um filho. Se uma criança mal comportada não tiver limites claramente colocados pelos seus pais e, na juventude, continuar fazendo estripulias cada vez piores, vendo sempre como seus pais “passam o pano” diante do seu comportamento inaceitável, esse futuro adulto será provavelmente um péssimo cidadão, mal-educado e, eventualmente, violento.

André Roncaglia* - Voracidade

Folha de S. Paulo

Mercado usa 'racionalidade técnica' superada para disfarçar compulsão extrativista

No artigo da semana passada, mostrei como a lógica de mercado disfarça suas compulsões extrativistas com uma "racionalidade técnica" já superada.

Ao igualar qualidade institucional à autonomia em relação ao governo, a cartilha financista ignora os efeitos duradouros e profundos de o mercado distorcer os objetivos das empresas.

A financeirização das três principais gestoras de recursos naturais do país (Petrobras, Eletrobras e Vale) restringe sua utilidade social à capacidade de distribuir lucros aos acionistas, ao sabor dos ciclos globais de commodities. A Petrobras (2022) e a Vale (2021) estavam entre as maiores pagadoras de dividendos do planeta.

Entre 2019 e 2022, a gestão "técnica" da Petrobras alterou a fórmula de remuneração dos acionistas e despejou mais de R$ 330 bilhões na forma de dividendos, com vultosa venda de ativos, como refinarias, fábricas de fertilizantes e sua rede de distribuição.

Vinicius Torres Freire - Pesquisa nova, ideias velhas

Folha de S. Paulo

Avaliação reduzida de Lula sugere que prática política vive em país e cultura do passado

O eleitorado continua grosso modo dividido em terços quanto à nota que dá a Luiz Inácio Lula da Silva. A parcela daqueles que avaliam Lula 3 como "ótimo/bom" é praticamente a mesma daqueles para quem o governo é "ruim/péssimo". É o que diz o Datafolha.

O empate aparece também em outras pesquisas realizadas desde fins de fevereiro. A baixa do prestígio começou depois da metade do ano passado. Mas é muito mais pronunciada e ocorreu na maior parte em 2023 nas pesquisas Quaest e Ipec do que no Datafolha e na Atlas. E daí? Tem-se dado importância excessiva ao assunto?

Não, parece razoável dizer. Baixas de avaliação costumam diminuir a margem de manobra política do governo. A situação fica um tanto mais difícil em um tempo de contraposição extremada das preferências de voto para o Executivo ("polarização"), de volatilidade da opinião pública (também por causa de redes sociais e de guerras culturais e de propaganda), de revolta "contra o sistema" e por causa do fato óbvio de que o governo Lula é muito minoritário no Congresso, tanto em termos de número de parlamentares quanto de preferências ideológicas —as forças sociopolíticas do país mudaram muito.

Bruno Boghossian - Soluços de popularidade

Folha de S. Paulo

Pesquisa do Datafolha mostra presidente longe de momento crítico, mas variações de humor merecem atenção do governo

Lula anda impaciente com sua popularidade. Cobrou mudanças na comunicação do governo e mandou ministros divulgarem suas ações em viagens pelo país. É um remédio contra soluços. Pode funcionar, mas novos espasmos tendem a aparecer.

A mais recente pesquisa do Datafolha mostra que o presidente está longe de um momento crítico. O país continua dividido em três terços, e o quadro de polarização permite poucas mudanças drásticas. Alguns detalhes, no entanto, apontam para uma variação de humores que exige atenção do governo.

Hélio Schwartsman - Putin quântico

Folha de S. Paulo

Autocrata russo tem admiradores tanto na esquerda como na direita, incluindo Lula e Bolsonaro

Demorou um pouco, mas Lula cumprimentou Vladimir Putin por sua vitória no pleito presidencial do último domingo (17), no qual obteve mais de 87% dos votos. O PT foi além e classificou a eleição como "feito histórico". Outros países que parabenizaram o autocrata russo são Irã, Venezuela e Coreia do Norte. EUA, Reino Unido e Alemanha preferiram questionar a lisura do processo eleitoral, que não foi nem livre nem justo.

Não acho que o Brasil deva se comportar como um vingador justiceiro nas relações internacionais. Esse é um campo em que os interesses do país devem dar a tônica. O Brasil não precisa romper com todas as ditaduras do planeta porque são ditaduras, mas tampouco precisa bajular líderes com amplo histórico de violações de direitos humanos. O pleito russo teria sido uma ótima ocasião para o Brasil permanecer calado.

Thomas L. Friedman* - Netanyahu tornou Israel radioativo pelo modo como conduz guerra em Gaza

Folha de S. Paulo

Israelenses e palestinos precisam de líderes motivado pela consciência de sua interpendência, mas ambos não os têm

Atualmente, Israel está correndo um grande perigo. Com inimigos como o Hamas, o Hezbollah, os houthis e o Irã, Israel deveria contar com a simpatia de grande parte do mundo. Mas não conta.

Devido à maneira como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e sua coalizão extremista têm conduzido a guerra na Faixa de Gaza e a ocupação da Cisjordânia, o país está se tornando radioativo, e as comunidades judaicas da diáspora em todos os lugares estão cada vez mais inseguras. Temo que a situação esteja prestes a piorar.

Nenhuma pessoa justa poderia negar a Israel o direito de autodefesa depois que o ataque do Hamas em 7 de outubro matou cerca de 1.200 israelenses em um dia.

Mulheres foram abusadas sexualmente; crianças foram mortas na frente de seus pais, e pais, na frente de seus filhos. Dezenas de homens, mulheres, crianças e idosos israelenses sequestrados ainda são mantidos como reféns em condições terríveis.

Mas nenhuma pessoa justa pode olhar para a campanha israelense para destruir o Hamas, que já matou mais de 31 mil palestinos em Gaza, cerca de um terço deles combatentes, e não concluir que algo deu terrivelmente errado lá.

Cláudio Carraly* - A Bela Arte do Procrastinar

A procrastinação, essa dança intrincada entre a intenção e a inação, é uma habilidade refinada pelos seres humanos ao longo das eras, muitas eras, logico, porém, que se não tivessem procrastinado tanto com certeza teriam realizado bem antes, mas vamos ao tema. Essa proeza que desafia a lógica e testa os limites do bom senso, imagine um mundo onde as grandes obras-primas foram procrastinadas até a irrelevância, onde os planos grandiosos foram adiados até se perderem na obscuridade, em meio a um mar de boas intenções, os procrastinadores habilidosos dançam com a arte de procrastinar com uma graça digna de uma coreografia elaborada, são mestres em adiar o inevitável, transformando prazos iminentes em meras sugestões, a procrastinação não é apenas um comportamento, é uma forma de expressão, uma verdadeira expressão artística, uma declaração audaciosa contra a tirania dos cronogramas e a ditadura dos prazos.

Poesia | Soneto do Desmantelo Azul, de Carlos Pena Filho

 

Música | Dorina e Luiz Carlos da Vila - O Sonho não se Acabou (Luiz Carlos da Vila e Adilson Victor)