O Globo
Um dos livros que mais me impactaram nos
últimos tempos, pela forma cirúrgica com que aponta como o contrato social
firmado pelo mundo democrático depois das duas guerras mundiais não é mais
válido para os desafios do presente e de um futuro que chega a galope todos os
dias, foi escrito pela economista Minouche Shafik, diretora da London School of
Economics. No Brasil, ganhou o título “Cuidar uns dos outros —Um novo contrato
social”.
Tive a oportunidade de entrevistar a autora
a respeito dos temas que ela reuniu para demonstrar como os arranjos
institucionais, econômicos, educacionais, de proteção social e ambientais,
entre outros, ficaram rapidamente obsoletos diante de uma realidade que já
vinha em rápida mudança graças a fatores como tecnologia, avanço da emergência
climática e novo perfil demográfico dos países, e como isso foi potencializado
de forma dramática pela pandemia de Covid-19.
Ela mostra com dados por que é inadiável
que o mundo democrático rediscuta o atual contrato social, sob pena de, muito
rapidamente, mais nações se verem diante do apelo sedutor de líderes com discurso
de radicalização populista e tendência autocrática, que seduzem crescentes
contingentes de eleitores ao propor soluções falsamente simples para problemas
complexos.
O que fez com que o livro continuasse martelando na minha cabeça, meses depois da leitura e da entrevista, é a inquietante constatação de que nem um único dos temas que Shafik aborda está sequer sendo esboçado na campanha presidencial brasileira.