domingo, 12 de outubro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

"O compromisso com valores democráticos, cuja efetivação depende de mantermos instituições virtuosas e de sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da utilização das redes sociais, dos conselhos, das audiências públicas sobre temas importantes não se choca com os compromissos da democracia representativa, que têm que ser preservados. Ao contrário, dá-lhes maior legitimidade."

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidência da República Carta em Recife:"Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável", 11 de outubro de 2014.

Em carta, Aécio promete buscar ‘economia de baixo carbono’, mas não recua sobre maioridade penal

• Tucano fez acenos à ex-candidata Marina Silva (PSB) em questões referentes ao meio ambiente e à demarcação de terras indígenas

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - O candidato à presidência Aécio Neves (PSDB) divulgou neste sábado, em Pernambuco, uma carta com acenos à ex-candidata Marina Silva (PSB) em questões referentes ao meio ambiente e à demarcação de terras indígenas, mas teve o cuidado de evitar conflitos com antigos aliados, principalmente ligados ao agronegócio. Buscando se equilibrar entre posições contraditórias, Aécio ainda se comprometeu com o fim da reeleição, sem fixar data para que isso ocorra, mas não recuou na proposta de reduzir à maioridade penal. Disse ser necessário encontrar soluções para “evitar que o tema dos jovens seja encarado apenas sob a ética da punição”.

A manifestação do tucano é uma resposta aos pontos que o grupo de Marina, a Rede Sustentabilidade, tinha levado para serem debatidos com o candidato no segundo turno. A aceitação deles poderia levar a ex-presidenciável do PSB, que teve 22 milhões de votos, a apoiar Aécio. Na questão indígena, o tucano referendou a posição dos marineiros de que as demarcações cabem ao Executivo, mas sinalizou ao setor rural dizendo que serão ouvidos estados e órgãos federais. Atualmente, apenas a Fundação Nacional do Índio (Funai) participa do processo decisório. A ideia é que a Embrapa também seja ouvida. Aécio ainda propôs a criação de um Fundo de Regularização Fundiária para indenizar produtores que tenham títulos de propriedade em áreas demarcadas.

“No nosso governo, vamos nos posicionar pela manutenção da prerrogativa constitucional do Poder Executivo de demarcar terras indígenas, ouvindo os Estados e os órgãos federais cuja ação tenham conexão com o tema”, afirmou.

Ao falar da proposta de acabar com o desmatamento, o tucano disse que o “moderno agronegócio brasileiro” defende um programa efetivo de preservação da riqueza florestal, visando ao “desmatamento zero”. Com isso, ele se aproximou dos ideias de Marina, mas deu a iniciativa da preservação ao setor do agronegócio.

Aécio buscou também conciliar posições aparentemente antagônicas no debate sobre a redução da maioridade penal. Em seu programa de governo, ele concorda com a redução de 18 para 16 anos, em casos de reincidência e em crimes hediondos. O grupo de Marina diz “não haver espaço” para essa proposta. Na carta, Aécio fala em “evitar que os problemas relacionados aos jovens sejam encarados apenas sob a ética da punição” e prega a busca por “soluções generosas” para a juventude.

Outro ponto de conflito, o fim da reeleição foi mencionado sem a fixação de uma data, como cobravam os apoiadores de Marina. Aécio propõe a aprovação do tema dentro de uma reforma política.“Reconhecemos a necessidade de uma reforma política que não pode mais ser adiada e, com ela, nos comprometemos, a começar pelo fim da reeleição para os cargos executivos”.

10% da receita para a saúde
O tucano mencionou, ao longo das duas páginas do documento, pontos de convergência com Marina como a defesa da ampliação dos investimentos para a saúde para 10% da receita bruta, a adoção de educação em tempo integral para o ensino fundamental e a retomada da reforma agrária. Diz ter a determinação de levar adiante o resgate da dívida social brasileira com a ampliação e aprimoramento das políticas existentes na área. Fez críticas ao “centralismo excessivo na esfera federal” e prometeu um debate sobre pacto federativo articulado com a temática do desenvolvimento regional. Ainda defendeu a ampliação da participação popular com a utilização das redes sociais, conselhos e audiências públicas sobre temas importantes, mas sem chocar com os princípios da democracia representativa. Reforçou também compromisso com o sistema de metas de inflação e a autonomia operacional do Banco Central.

O tucano ainda deu atenção a bandeiras de Marina na área ambiental, firmando compromisso de levar o Brasil a uma transição para economia de baixo carbono. Diz que a exploração do petróleo “é imperativo do desenvolvimento”, mas não pode deixar à margem a diversificação de fontes energéticas menos poluidoras. Prometeu também retomar o processo de ampliação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Ele conclui a carta fazendo um “apelo” aos eleitores que votaram contra a continuidade da presidente Dilma Rousseff (PT) e aos partidos e lideranças que apresentaram propostas de mudança para que se unam no segundo turno. Aécio destacou o legado de Eduardo Campos e o papel de Marina na “renovação qualitativa da política brasileira e na afirmação do desenvolvimento sustentável”.

Como roubaram a Petrobrás: O Estado de S. Paulo - Editorial

Começam a brotar os detalhes daquele que se afigura como um dos maiores escândalos de corrupção da história brasileira - o assalto à Petrobrás, que teria movimentado ao menos R$ 10 bilhões. Os mais recentes depoimentos dos principais personagens desse escabroso esquema, montado para drenar os recursos da maior empresa estatal do País, revelam a quem foi repassado o produto do roubo - e, mais uma vez, como tem sido habitual ao longo dos governos lulopetistas, aparecem fartas digitais do PT.

Fica cada vez mais claro que figuras de proa desse partido - muitas das quais já foram presas por corrupção - permitiram na última década o arrombamento dos cofres do Estado por parte de delinquentes, servindo-se desse dinheiro para financiar seu projeto de poder.

À Justiça Federal no Paraná, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobrás e um dos pivôs do escândalo, confirmou que uma parte do dinheiro desviado financiou as campanhas do PT, do PMDB e do PP em 2010.

Contando detalhes que só quem participou da operação poderia conhecer, Costa revelou que de 2% a 3% dos contratos superfaturados eram desviados para atender os petistas. Segundo ele, várias diretorias da estatal eram do PT. "Então, tinha PT na Diretoria de Produção, Gás e Energia e na área de Serviços. O comentário que pautava a companhia nesses casos era que 3% iam diretamente para o PT", relatou o ex-diretor, em depoimento gravado.

No caso de sua diretoria, Costa afirmou que os 3% eram repartidos entre o PP, ele e o doleiro Alberto Youssef, o outro operador do esquema. Já a Diretoria Internacional repassava os recursos desviados para o PMDB, segundo disseram Costa e Youssef.

Costa afirmou que o contato dos diretores envolvidos nos desvios era feito "diretamente" com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. O nome de Vaccari Neto foi confirmado por Youssef, que também prestou depoimento à Justiça Federal.

Os tentáculos do esquema não se limitavam às diretorias da Petrobrás. Em 2004, segundo declarou Youssef, os "agentes políticos" envolvidos no escândalo pressionaram o então presidente Lula a nomear Costa para a Diretoria de Refino e Abastecimento, ameaçando trancar a pauta do Congresso.

"Na época, o presidente ficou louco e teve de ceder", disse o doleiro. Esse relato, se confirmado, revela como a máfia instalada na Petrobrás se sentia à vontade para manipular até mesmo o presidente da República e o Congresso em favor de seus interesses criminosos. E essa sem-cerimônia talvez se explique pelo fato de que membros proeminentes do próprio partido de Lula, a julgar pelos depoimentos, estavam cobrando pedágio e se beneficiando da roubalheira na estatal.

Os depoimentos de Costa e de Youssef foram os primeiros dados à Justiça depois do acordo em que decidiram contar tudo o que sabem em troca de redução de pena. Se oferecerem informações falsas, perderão imediatamente o benefício - logo, os dois têm total interesse que sua delação seja levada a sério.

Além disso, ambos ofereceram atas e documentos que, segundo eles, comprovariam as reuniões da quadrilha, os esquemas de pagamento e as transações para lavagem de dinheiro em empresas offshore. As autoridades sabem que estão lidando com material explosivo. Segundo a defesa de Youssef, ele e Costa foram apenas operadores do esquema - os verdadeiros líderes "estão fora desse processo, são agentes políticos".

Diante da enorme gravidade dos fatos até aqui relatados, e ante a certeza de que se trata apenas de uma fração de um escândalo muito maior, seria legítimo esperar que Lula e a presidente Dilma Rousseff viessem a público para dar explicações convincentes sobre o envolvimento de seus correligionários nos crimes relatados. No entanto, Dilma preferiu queixar-se do vazamento dos depoimentos de Costa e de Youssef - como se o mais importante não fosse o vazamento, pelo ladrão, de dinheiro da Petrobrás. Já a reação de Lula foi típica daqueles que se consideram moralmente superiores: ele se disse "de saco cheio" das denúncias de corrupção contra o PT. Pois os brasileiros podem dizer o mesmo.

Dilma afirma que divulgação de escândalo na Petrobras é 'eleitoreira'

• Sem citar nome de Aécio, Dilma faz ataques pessoais ao candidato tucano

Fernanda Krakovics – O Globo

CONTAGEM (Minas Gerais) - Sem esconder a irritação, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, afirmou neste sábado que a divulgação de trechos dos depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff tem objetivo “eleitoreiro” e que há “manipulação”. Dilma, que já teve negado o acesso aos autos, pediu divulgação “ampla, geral e irrestrita”.

- Quero saber de todos os envolvidos, não quero vazamento seletivo. Vazamento seletivo durante campanha eleitoral tem uma característica eleitoreira - afirmou Dilma, em entrevista coletiva, entre uma caminhada e um ato político em Contagem, Minas Gerais.

Dilma disse ainda que não vai demitir ninguém sem provas “por medida demagógica pré-eleitoral”. Um dos citados nos depoimentos é o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Machado nega as acusações.

- Não posso condenar ninguém sem prova. Não tomo esse tipo de medida demagógica pré-eleitoral. Não tem prova, tem que ter prova - apontou Dilma.

A presidente disse que se as acusações forem comprovadas, as pessoas serão punidas, “doa a quem doer”.

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi citado como parte do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras para partidos políticos. Ele divulgou nota negando as acusações.

- Eu sou a favor de, doa a quem doer, as pessoas têm que responder pelo que fazem, seja de que partido seja, seja ligado a quem, têm que explicar as coisas. Agora que se faça divulgação ampla, geral e irrestrita - afirmo a candidata à reeleição.

A presidente reclamou do vazamento de informações fornecidas por Costa e Youssef em delação premiada e agora da divulgação dos depoimentos dados à Justiça Federal do Paraná:

- O que considero incorreto é que as provas e as denúncias não estão sendo encaminhadas direito nessa fase. Para se divulgar, divulgue-se tudo, para vermos todos os envolvidos. Para depois da eleição a gente não ter a surpresa de ver que denunciantes da véspera eleitoral são parte da denúncia. Ou não se manipula esse processo e abre todas as informações, ou se usa com grande prejuízo da democracia brasileira.

Dilma acusou tucano de aparelhamento
Depois da comparação dos governos do PT com o do presidente Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma mudou de foco neste sábado e partiu para ataques pessoais contra Aécio Neves. Sem citar seu nome, Dilma acusou o tucano de aparelhamento por ter sido vice-presidente da Caixa Econômica Federal aos 25 anos. Em contraposição, a presidente afirmou que todos os cargos ocupados por ela ao longo da vida foram por seus méritos.

- Eu nunca virei vice-presidente da Caixa Econômica aos 25 anos. Todos os cargos que tive foram por meus méritos. Se tem aparelhamento, esse é um - afirmou Dilma, primeiro em entrevista coletiva, depois em ato com lideranças políticas, ambos em Contagem.

Esse não foi o único ataque feito a Aécio no estado onde ele foi governador duas vezes. Ao dizer que não teme ser atacada pelo tucano no debate da TV Bandeirantes, na próxima terça-feira, por causa do escândalo da Petrobras, a presidente classificou como “amoral” a construção de um aeroporto por Aécio em terras de sua família, no município de Cláudio, também em Minas.

- Eu não faço mau uso do dinheiro público. Jamais desapropriei fazenda de parente meu. Jamais construí aeroporto nessa fazenda e entreguei a chave para ser gerido por um tio meu. Não tem essa história de tentar explicar o inexplicável. Não é questão de ser legal ou ilegal. É amoral.

Ao lado do governador eleito Fernando Pimentel (PT), Dilma questionou as promessas do tucano de fazer investimentos em saúde, se for eleito presidente, dizendo que isso não foi feito quando Aécio administrou Minas. Dilma citou um termo de ajustamento de conduta assinado pelo governo do PSDB em Minas com o Tribunal de Contas do Estado por não cumprimento do mínimo exigido pela Constituição para investimento na área. A presidente citou ainda a “baixíssima cobertura” do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) no estado.

- Qual a credibilidade do meu adversário para dizer que vai investir em saúde se quando pôde não o fez?

Coligação de Aécio diz que Dilma deve manter o nível da campanha

• A candidata petista ao Planalto criticou a nomeação do adversário tucano para vice-presidência da Caixa Econômica Federal em 1985

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A coligação do candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, divulgou nota rebatendo as críticas feitas em Minas Gerais pela presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, sobre o presidenciável tucano ter assumido uma vice-presidência da Caixa aos 25 anos.

"A candidata Dilma Rousseff deveria respeitar mais a inteligência dos brasileiros e o nível da campanha eleitoral", diz a nota dos tucanos, destacando que a petista "tenta atacar os adversários com denúncias infundadas, de 30 anos atrás", porque não consegue explicar a nomeação do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.

"O senador Aécio Neves foi nomeado para a diretoria da Caixa Econômica em 1985, de maneira transparente para todo o País. Desempenhou o cargo por cerca de um ano com a mesma competência e integridade que marcaram sua passagem por outros cargos públicos. Ao contrário dos indicados no governo Dilma. E, ao contrário da candidata, que fez toda a sua vida através da ocupação de cargos por indicação política, o senador possui 30 anos de atividades exercidas sempre por delegação do povo", complementa a nota do PSDB.

Na tarde deste sábado, 11, em agenda em Contagem, Minas Gerais, Dilma disse: "Eu nunca virei vice-presidente da Caixa Econômica Federal aos 25 anos. Todos os cargos que ocupei foram pelos meus méritos e não por indicação", ao acusar o PSDB de fazer aparelhamento da máquina pública.

Marina deve anunciar neste domingo apoio à candidatura de tucano

• Documento lançado por Aécio foi considerado 'um avanço' pela Rede

Tiago Dantas, Tatiana Farah e Simone Iglesias – O Globo

SÃO PAULO - Embora cercado de suspense, o apoio da candidata derrotada Marina Silva (PSB) a Aécio Neves (PSDB) deve ser anunciado neste domingo em um pronunciamento da ex-ministra em São Paulo. Fontes próximas a Marina, que esteve reunida com seu grupo político, a Rede Sustentabilidade, afirmaram que a ex-ministra considerou "satisfatório" o gesto de Aécio de divulgar um documento no qual assume compromissos da plataforma da Rede, condição imposta por Marina para apoiá-lo no segundo turno.

O coordenador-geral da campanha de Marina, Walter Feldman, considerou o documento de Aécio um "avanço".

Um dos pontos mais importantes, segundo o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), é o que trata da demarcação de terras indígenas. No texto divulgado hoje, Aécio diz que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) "tem sido negligente" e afirma que vai se posicionar pela manutenção da prerrogativa do Poder Executivo de demarcar as terras indígenas, o que já é assegurado pela Constituição Federal.

Outros pontos considerados essenciais para Marina foram a manutenção da política social e o avanço na política de sustentabilidade.

Embora Marina tenha se posicionado firmemente contra a redução da maioridade penal, hoje seus aliados afirmavam que esse ponto não era inegociável.

- Não vejo divergências reais em torno dessa questão - disse Sirkis.

No texto, Aécio não diz se, em um eventual governo, vai reduzir ou garantir a maioridade a partir dos 18 anos, mas fala que vai "convocar a sociedade brasileira a debater soluções generosas" para a juventude e "evitar que os problemas sejam encarados apenas sob a ótica da punição".

Adesão a Aécio divide políticos da Rede
Políticos ligados à Rede passaram a última semana debatendo se oferecer apoio a um candidato à Presidência no segundo turno está dentro do programa do grupo, que tenta combater a polarização entre PT e PSDB. Algumas pessoas dentro do partido acham que seria melhor manter a neutralidade, segundo interlocutores.

-A Rede é uma proposta de nova política, mas o segundo turno leva necessariamente a uma polarização. Tentamos ser uma terceira via a essa polarização; não deu certo. E como o partido fica neste segundo turno? — disse Feldman, após reunião no apartamento de Marina em São Paulo.

Segundo Feldman, apesar das opiniões divergentes, a possibilidade de apoiar Aécio não provocou crise dentro do partido:

- Não há crise. Alguns acham que deve continuar batalhando a despolarização e não participar (do segundo turno). Outros acham que, dada a dramaticidade da desconstrução democrática e do retrocesso ambiental, social e econômico do governo Dilma, você não tem muita escolha a não ser tomar uma opção.

Em 2010, quando disputou a eleição presidencial pelo PV, Marina não anunciou apoio a nenhum dos dois candidatos que disputavam o segundo turno: Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

Ao lado de outros políticos próximos a Marina, Feldman passou a tarde discutindo com a ex-ministra como seria o pronunciamento programado para a manhã de hoje. Dizendo que não poderia falar em nome de todos, o ex-deputado afirmou que os compromissos assumidos pelo tucano são “substanciais”:

- Não dá para se imaginar que o programa do Aécio seja o mesmo que o da Marina ou da Rede, mas, na minha avaliação, é uma carta-compromisso de forte cunho social. Foram garantidas questões da democracia, da sustentabilidade e dos programas sociais. Me parece bastante relevante.

Ao lado de filhos de Campos, Aécio se compromete com bandeiras de Marina

• Tucano liberou documento para buscar convergência com ex-ministra, mas manteve a proposta de redução da maioridade penal para crimes hediondos

Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

RECIFE - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, participou de um ato político nesta manhã em Recife, ao lado dos filhos de Eduardo Campos, João, Pedro e Maria Eduarda. O tucano reuniu lideranças dos movimentos sociais pernambucanos e dirigentes do PSB para anunciar trechos de seus compromisso para o segundo turno que contemplam as exigências feitas por Marina Silva para apoiá-lo.

Uma das principais divergências entre Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), a proposta tucana em reduzir a maioridade penal em caso de crimes hediondos, não foi contemplada no documento divulgado neste sábado por Aécio no Recife, para se aproximar da presidenciável derrotada do PSB neste primeiro turno. Questionado sobre o assunto, o candidato tucano afirmou aos jornalistas que "a convergência (com o programa da ex-senadora) se deu nas questões macro". Entre participantes do evento com Aécio no Recife, estava também Madalena Arraes, avó de Eduardo Campos, além dos três filhos do ex-governador.

"O governo Dilma tem sido negligente na questão da demarcação das terras indígenas", disse o candidato do PSDB. Este foi um dos temas colocados na mesa de negociação pela presidenciável do PSB. Aécio também prometeu dar "a devida importância" à questão das mudanças climáticas, defendeu a economia de baixo carbono e reiterou seu compromisso com os programas de transferência de renda. "Vamos transformar o Bolsa Família em política de Estado e não de governo", disse Aécio.

Em seu discurso, o tucano exaltou Marina Silva diversas vezes e prometeu dar continuidade ao legado do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no dia 13 de agosto, no primeiro turno desta corrida presidencial. "Me sinto responsável para levar para cada canto do País o legado e o sonho de Eduardo Campos", disse o tucano. Marina foi chamada de "honrada e digna brasileira".

O presidenciável disse que o encontro da manhã deste sábado foi "o mais importante desta campanha" até aqui.

Em todas as atividades deste sábado, o tucano participou ao lado do governador eleito Paulo Câmara (PSB), do prefeito de Recife, Geraldo Júnior (PSB), do senador eleito pelo PSB Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro da Integração Nacional de Dilma, e do vice-governador Raul Henry (PMDB), partido que está na coligação de Dilma. Também participaram das atividades, o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos e filha mais velha de Aécio, Gabriela.

A tarde, Aécio encontrou a viúva de Eduardo Campos, Renata, que anunciou neste sábado o seu apoio oficial ao candidato tucano à Presidência. O anúncio foi feito por meio de carta, lida pelo seu filho João, durante ato político com lideranças do PSB.

Aécio dispara e abre 17 pontos de vantagem sobre Dilma, mostra pesquisa Istoé/Sensus

• Primeiro levantamento após divulgação de áudios da Petrobrás mostra que escândalo atingiu em cheio campanha da petista

Mário Simas Filho – IstoÉ

Primeira pesquisa ISTOÉ\Sensus realizada depois do primeiro turno da sucessão presidencial mostra o candidato Aécio Neves (PSDB) com 58,8% dos votos válidos e a petista Dilma Rousseff com 41,2%. Uma diferença de 17,6 pontos percentuais. O levantamento feito entre a quarta-feira 7 e o sábado 10 é o primeiro a captar parte dos efeitos provocados pelas revelações feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa sobre o detalhamento do esquema de corrupção na estatal. “Além do crescimento da candidatura de Aécio Neves, observa-se um forte aumento na rejeição da presidenta Dilma Rousseff”, afirma Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus. Segundo a pesquisa, o índice de eleitores que afirmam não votar em Dilma de forma alguma é de 46,3%. A rejeição de Aécio Neves é de 29,2%. “O tamanho da rejeição à candidatura de Dilma, torna praticamente impossível a reeleição da presidenta”, diz Guedes. A pesquisa também capta, segundo o diretor do Sensus, os apoios políticos que Aécio recebeu durante a semana, entre eles o do PSB, PV e PPS.

As 2000 entrevistas feitas em 24 Estados e 136 municípios mostra que houve uma migração do eleitorado à candidatura tucana mais rápida do que as manifestações oficiais dos líderes políticos. No levantamento sobre o total dos votos, Aécio soma 52,4%, Dilma 36,7% e os indecisos, brancos e nulos são 11%, tudo com margem de erro de 2,2% e índice de confiança de 95%. Nos votos espontâneos, quando nenhum nome é apresentado ao eleitor, Aécio soma 52,1%, Dilma fica 35,4% e os indecisos são 12,6%. “A analise de todos esses dados permite afirmar que onda a favor de Aécio detectada nas duas semanas que antecederam o primeiro turno continua muito forte”, diz Guedes. O tucano, segundo a pesquisa ISTOÉ\Sensus, vence em todas as regiões do País, menos no Nordeste. No PSDB, a espectativa é a de que a diferença a favor de Dilma no Nordeste caia nas próximas pesquisas, principalmente em Pernambuco, na Bahia e no Ceará. Em Pernambuco devido o engajamento da família de Eduardo Campos na campanha, oficializado na manhã do sábado 10. Na Bahia em função da presença mais forte do prefeito de Salvador, ACM Neto, no palanque tucano. E, no Ceará, com a participação do senador eleito Tasso Jereissati.

Além da vantagem regional, Aécio, de acordo com o levantamento, supera Dilma em todas as categorias socioeconômicas, o que, segudo a análise de Guedes, indica que a estratégia petista de apostar na divisão do País entre pobres e ricos não tem dado resultado.

PESQUISA ISTOÉ|Sensus
Realização – Sensus
Registro na Justiça Eleitoral – BR-01076/2014
Entrevistas – 2.000, em cinco regiões, 24 Estados e 136 municípios do País
Metodologia – Cotas para sexo, idade, escolaridade, renda e urbano e rural
Campo – de 07 a 10 de Outubro de 2014
Margem de erro - +/- 2,2%
Confiança – 95%

Merval Pereira: Caminho aberto

 - O Globo

O documento lido pelo candidato do PSDB Aécio Neves em Pernambuco, onde recebeu o apoio da família Campos e do PSB regional, é um roteiro combinado com o grupo da ex-candidata Marina Silva para abrir caminho para sua adesão à candidatura do tucano. No texto, foi ressaltado todo um conjunto de ações sociais desencadeadas pelo PSDB quando esteve no governo, desde a universalização do acesso ao ensino fundamental e a criação do Fundef, que financia o ensino, até a adoção da educação em tempo integral para os alunos do fundamental.

O PSDB decidiu responder aos ataques do PT de que é um partido elitista enumerando diversos pontos de sua agenda social, o que facilita a ênfase no espírito da social democracia pedida por Marina. Um programa eleitoral com essa ação histórica do PSDB está sendo preparado para rebater as críticas dos petistas. Aécio ressaltou que foi no governo tucano que na prática se instalou o SUS, surgiram os genéricos e a entrega gratuita de medicamentos aos mais pobres para a construção de um Estado de bem estar social.

O candidato tucano lembrou que foi a partir de 1994 que se inaugurou uma política de aumento real dos salários mínimos, transformada em lei mais tarde, aumentando os benefícios da Previdência. também foram aumentados. A certa altura Aécio ressaltou que foi com os governos tucanos que se generalizaram as políticas de transferência direta de renda, as bolsas, assim como o Benefício de Prestação Continuada, que garante renda mínima de um salário mínimo para idosos e pessoas com deficiência.

E reforçou que foram os tucanos que criaram o Ministério da Reforma Agrária, o Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) e assentaram cerca de 500 mil famílias, afirmando que a reforma agrária precisa ser retomada com seriedade e prioridade. De todos os pontos destacados pelo grupo de Marina Silva, o fim da maioridade penal foi apenas tangenciado, e mesmo assim com sinalizações de que a política de um futuro governo do PSDB levará em conta que os jovens não devem ser tratados apenas com punições.

Está aberto o caminho para a chegada de Marina Silva.

O desafio dos candidatos.
O professor Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, especialista em análises eleitorais a partir da divisão geográfica dos votos, destaca que a cada década tivemos um desafio, e hoje nenhum dos candidatos está conseguindo decifrar qual o desafio desta década. Quem interpretou corretamente esse desafio levou a eleição nas vezes anteriores, comenta Romero Jacob.

Na década de 1980, o desafio era o político, transitar da ditadura para a democracia. Ali havia uma palavra de ordem fácil de entender: diretas-já. Nos anos 90 o desafio era outro, acabar com a inflação. Sobretudo depois que o Plano Real consegue acabar com a inflação, ficou fácil compreender o desafio. “Esses são temas que permeiam todos os grupos sociais, e é o elemento de unificação dos diversos segmentos”, destaca o professor da PUC.

No ano 2000, tivemos a questão da inclusão social, que se materializou no Bolsa Família. Em todos esses anos tivemos intérpretes desses momentos que acabaram catalizando os anseios da sociedade, fossem Fernando Henrique Cardoso pelo PSDB e Lula pelo PT. Hoje, diz Romero Jacob, a divisão é socioeconômica e não geográfica. A divisão de votos por classes mostra Aécio muito bem nas classes A e B, a Dilma muito bem nas classes D e E, e a classe C é a que reproduz essa divisão nacional e pode, segundo ele, decidir a eleição para um lado ou para o outro.

Hoje ainda não há uma palavra de ordem que congregue todos os setores da sociedade, o que há são demandas segmentadas, constata Romero Jacob. As classes A e B estão preocupadas com a ética na política, uma agenda moral e mais o tema do crescimento da economia. As classes D e E não têm uma agenda moral, a preocupação delas é a preservação do Bolsa Família. E a classe C “de certo modo será a chave para que o candidato leve uma palavra de ordem comum”.

Das manifestações públicas do ano passado até hoje, a diferença entre o padrão Fifa e o que existe no Brasil nos serviços públicos é o que unifica as classes, diz ele. As classes A e B já desistiram de uma educação pública de qualidade, vão para as escolas privadas, ou uma saúde de qualidade, vão para os planos de saúde, ou um transporte público de qualidade, andam de carro.

Já a classe C precisa dos serviços públicos de qualidade para poder manter seu padrão de vida, e as classes D e E dependem deles para trabalhar e sobreviver.

Dora Kramer: Civilizar é preciso

- O Estado de S. Paulo

Não é bem verdade que o eleitor goste de debates programáticos. Depende dos debates e dos programas. Se for aquela coisa repetitiva sobre números que ninguém confere e questões fora do alcance dos comuns, realmente a coisa fica maçante. Despertam mais atenção desempenhos de nanicos histriônicos ou de candidatos que, livres das armaduras dos marqueteiros, falam a linguagem normal das pessoas.

Mas se for um bom embate conduzido por quem entende do riscado e não se deixa levar por truques nem se satisfaz com perguntas sem respostas, aí há uma chance de se substituir comparações estéreis entre governos passados, bate-bocas grosseiros e manipulações toscas por um confronto produtivo capaz de levar o eleitor a se decidir pelo melhor. Isso inclui não apenas os candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves, mas também seus apoiadores de maior visibilidade e experiência de governo comprovada. No caso presente há dois ex-presidentes da República no jogo.

Seria de todo útil, por exemplo, se Luiz Inácio da Silva e Fernando Henrique Cardoso aceitassem trocar algo mais que ironias por intermédio da imprensa. Poderiam se sentar frente a frente e abordar todos os temas pertinentes ao interesse nacional. Uma discussão mais elevada e politizada que essa posta a partir da distorção que Lula fez de uma fala de FH.

O tucano externou uma constatação sobre o mapa do resultado do primeiro turno dizendo que o PT cresceu nos grotões onde se concentra o eleitorado com menos escolaridade e menor renda. O petista reagiu dizendo que o adversário havia qualificado os nordestinos como ignorantes e desinformados.

Na tréplica, Fernando Henrique apontou que Lula estava querendo transformar uma categoria do IBGE em insulto e que "daqui a pouco só será ouvido em programas humorísticos". FH fez sociologia onde caberia um pouco mais de prudência política e Lula exercitou sua arte de se apropriar da palavra do outro para criar antagonismos ao seu gosto.

Agora são os pobres e os nordestinos. Como se não houvesse pobres e nordestinos em São Paulo, onde o PT colheu seu mais retumbante fracasso. O partido pôs o mote do preconceito na mesa e saiu acusando o oponente de ser preconceituoso. Estabelece a divisão para em seguida dizer que o adversário quer dividir o País.

O truque é tão ultrapassado e deletério quanto as carcomidas práticas da "velha política" da qual faz parte a manipulação marqueteira que explora dicotomias como essas de pobres contra ricos, sudeste contra nordeste, escolarizados contra iletrados e por aí afora.

Nessa eleição, o que o PT não quer discutir é o fato notório de que a maior parte de seu eleitorado é de dependentes de programas assistenciais. Isso leva o partido a ter clientela e, portanto, à necessidade de mantê-la fiel, necessitada e agradecida.

Na reforma da política caberia um item indispensável: o início do processo civilizatório das campanhas eleitorais. Não precisam ser maçantes, exclusivamente programáticas. Elas podem ser emocionantes, incluir ataques e atacantes. Não necessariamente primitivos e trapaceiros.

Valor do passe. Marina saiu da eleição, mas a eleição não saiu de Marina, como se vê pelas exigências a conta-gotas para apoiar o tucano Aécio Neves. Dá a impressão de querer prolongar os momentos de protagonista vividos no primeiro turno.

Quanto mais o tempo passa, menos valorizado fica o apoio de Marina, uma vez que o eleitorado, conforme demonstram as primeiras pesquisas, já vai se definindo independentemente da posição dos partidos e dos políticos. De ávido por uma palavra da ex-senadora no início da semana passada, o tucano chegou à sexta-feira dizendo que ela ficasse à vontade quanto ao momento e a conveniência de se definir.

Eliane Cantanhêde: Corações e mentes

- Folha de S. Paulo

Dividido meio a meio, o Brasil mergulha num curioso embate entre PSDB e PT. Aécio (51%) esbarra nos mais pobres e menos escolarizados e trabalha emoção. Dilma (49%) bate numa muralha entre os mais ricos e escolarizados e parte para ataque e defesa.

Em ônibus e metrôs, alardeia-se que Aécio não só vai acabar com o Bolsa Família dos miseráveis como fará pior: congelar os salários dos pobres e trabalhadores. Um "exterminador do futuro", tal como Marina Silva se sentia no primeiro turno.

Em restaurantes e botecos chiques, só se fala na Petrobras, na voracidade e na desenvoltura do PT diante do governo, das estatais, das empresas legais ou nem tanto. E recita-se a fila: Valdomiro, Erenice, Rose, André Vargas, o vereador de São Paulo metido com o PCC. Sem falar de mensaleiros e aloprados.

Modulando o embate, a economia é um fator pouco palpável, mas corrosivo. Dilma venceu em 2010 com o Brasil crescendo a 7,5%. Enfrenta 2014 com escândalos petistas e previsão de PIB inferior a 1%. A questão nem é congelar salários, é ter salários. As notícias sobre emprego virão ruins nesta semana.

Cristalizado o confronto nesse ambiente, tem-se a campanha de Dilma envolvida numa dupla batalha: num flanco, ataca o governo FHC, que acabou há 12 longos anos; no outro, defende-se da sanha petista nas estatais, que é bem atual.

Que discurso é mais eficiente diante das revelações da Justiça sobre a roubalheira na Petrobras? Dilma chamando a divulgação de "golpe", ou Aécio acusando um "assalto" na principal empresa brasileira?

Aécio, porém, tira o tom de batalha e tenta encarnar JK, o desenvolvimentista camarada que atraiu a simpatia do mundo político e mexeu com a emoção do eleitorado.

Ninguém melhor do que Renata Campos, aliás, para simbolizar apoio político e emoção. Além de arrancar votos em Pernambuco, reforça a onda da mudança. E Marina vem aí...

João Bosco Rabello: Bem mais que insinuações

- O Estado de S. Paulo

A tensão instalada em Brasília, no retorno dos parlamentares da campanha, após conhecidas as primeiras informações sobre a delação premiada de Paulo Roberto Costa, desmente a naturalidade com que o ex-presidente Lula tenta administrar os danos políticos das denúncias.

Lula classificou as denúncias do ex-diretor da Petrobrás na categoria das insinuações que não se comprovam depois, o que não guarda qualquer relação com a realidade.

A consistência do depoimento de Costa pode ser medida pelo despacho em que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, o homologa. Nele o ministro considera, de forma explícita, que se confirmam os elementos de participação de autoridades com direito ao foro especial, inclusive parlamentares federais.

O conteúdo do depoimento de Costa ao juiz Sérgio Moro, do Paraná, que não está sob segredo de justiça, é apenas a ponta do iceberg do escândalo que deverá se consolidar, mais à frente, como um dos maiores da história política nacional.

O conteúdo que o STF homologou tem informações que o ex-diretor da Petrobrás mantinha criptografadas e que detalha o esquema implantado na empresa. Sua entrega ao Ministério Público explica a velocidade do cumprimento do acordo judicial que resultou na liberdade de Paulo Roberto Costa, já em casa.

Para a presidente Dilma Rousseff, o que se tornou conhecido é devastador, porque vem a público no momento em que sua campanha tenta mostrá-la intolerante com a corrupção. Tendo abastecido campanhas do PT, PMDB e PP, não será surpresa se o esquema tiver incluído a própria campanha presidencial de 2010, mesmo à revelia da presidente.

A dimensão do episódio, e o desdobramento que prenuncia, talvez expliquem a reação imprópria de Dilma, cuja indignação foi quanto à publicidade do depoimento de Costa e não ao seu conteúdo.

Uma breve volta ao ano de 2005 encontrará a então ministra das Minas e Energia envolvida nas negociações políticas em torno dos cargos de diretoria da Petrobrás, quando o então deputado Severino Cavalcanti cobrou para seu partido, o PP, citado por Costa como um dos beneficiários do esquema, a "diretoria que fura poço", que lhe havia sido prometida pelo então presidente Lula no avião que o levou a Roma, com Severino a bordo.

Severino não levou o que queria, por oposição da própria Dilma, mas o PP ficou na Petrobrás loteada ainda entre PT e PMDB. O depoimento de Paulo Roberto Costa, até aqui, está em perfeita sintonia com a cronologia dos fatos.

Luiz Carlos Azedo: O dilema de Dilma

• A candidata petista tenta ganhar tempo ao falar em “tentativa de golpe” e “vazamento de informações” em vez de agir “doa a quem doer” e passar a limpo os malfeitos da Petrobras

Correio Braziliense

Os depoimentos do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef à Justiça, ambos em regime de delação premiada, assombram o Palácio do Planalto e põem na berlinda a cúpula do PT, em plena campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Por causa do suposto envolvimento do atual tesoureiro da legenda, João Vacari Neto, no esquema de desvio de recursos da Petrobras para a base aliada, que envolveria também o PP e o PMDB. Também foram citados no depoimento o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Renato Duque.

Enquanto o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, cobra explicações da presidente Dilma Rousseff sobre os escândalos envolvendo a Petrobras, a candidata petista reforça o discurso de que as denúncias estão sendo apuradas por seu governo, “doa a quem doer”. Na verdade, bateu um desespero no estado-maior petista, que se fechou em copas. O presidente do PT, Rui Falcão, defende o tesoureiro da legenda, que corre o risco de virar um novo Delúbio Soares, o ex-tesoureiro petista condenado no mensalão.

O comportamento dos acusados na Operação Lava-Jato, porém, foge à lógica de atuação de envolvidos em escândalos como esse, por causa da chamada “delação premiada”, na qual os réus colaboram com a Justiça para receber penas mais leves. Desprezaram o esquema clássico de defesa adotado pelos advogados criminalistas, que se baseia no chamado “Dilema do Prisioneiro”, um problema clássico da Teoria dos Jogos.

O que fazer?
Originalmente formulado por Merrill Flood e Melvin Dresher em 1950, o problema foi aperfeiçoado por Albert W. Tucker, que adicionou o tempo da sentença de prisão ao problema original e deu-lhe o nome pelo qual ficou famoso. Há várias versões, mas o esquema clássico funciona assim: dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia, que não tem provas suficientes para os condenar. Então, separa-os em salas diferentes e oferece a ambos o mesmo acordo:

1- Se um dos prisioneiros confessar (trair o outro) e o outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos.

2- Se ambos ficarem em silêncio (protegerem um ao outro), a polícia só pode condená-los a 1 ano cada um.

3- Se ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva 5 anos de cadeia.

Cada prisioneiro faz a decisão sem saber a escolha do outro — eles não podem conversar. Como o prisioneiro vai reagir? Os prisioneiros não podem combinar a decisão (estão em salas isoladas e sem comunicação) e devem escolher simultaneamente. Cada jogador quer ficar preso o menor tempo possível, ou seja, maximizar seu resultado individual. Qual a melhor decisão? Considerando os incentivos oferecidos, a mais racional é trair.

Trair é uma solução de equilíbrio, já que cada um pegará 5 anos de pena. Se o prisioneiro A mudar unilateralmente para colaborar, sai perdendo (15 anos); o mesmo ocorrendo com o prisioneiro B. A melhor solução no “Dilema dos Prisioneiros”, porém, é ficar em silêncio: cada um cumpriria apenas um ano de prisão. Ou seja, a escolha da melhor solução individual conduz à traição mútua, enquanto que o silêncio, isto é, a solução coletiva, proporcionaria melhores resultados. Foi a estratégia adotada pelos réus do “mensalão”.

No “Dilema dos Prisioneiros”, os incentivos e a racionalidade induzem a um resultado pior porque as pessoas não podem conversar e combinar as ações. Se fizessem acordo prévio, tudo se resolveria, certo? Errado. Isso não é necessariamente verdade. Se um suspeito quer ficar em silêncio, ninguém garante que o seu parceiro fará o mesmo? É o que está acontecendo na Operação Lava-Jato. Daí o dilema posto para a presidente Dilma Rousseff em plena campanha eleitoral.

Qual será a reação dos aliados do PT, do PP e do PMDB que forem jogados ao mar por causa das denúncias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef? Vão seguir a estratégia do “Dilema do Prisioneiro” ou aderir à “delação premiada”? Aparentemente, a candidata petista tenta ganhar tempo ao falar em “tentativa de golpe” e “vazamento de informações” em vez de agir “doa a quem doer” e passar a limpo os malfeitos da Petrobras.

Aécio Neves - Carta de Recife: Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável

Terminado o primeiro turno das eleições as urnas foram claras: a maioria do eleitorado, 60% dele, mostrou o desejo de mudança. Mudar significa tirar do poder os que o estão exercendo, mas significa também mudar para melhor, em primeiro e principal lugar visando a aprimorar as práticas partidárias e eleitorais. Significa também ampliar os canais pelos quais cada cidadão poderá expressar seus pontos de vista e cooperar na deliberação dos grandes temas nacionais ou de interesse local. É minha intenção, neste segundo turno, ser consequente com os desejos da maioria dos brasileiros: vamos continuar propondo mais mudanças para melhor. Para isso, é natural que contemos, nesta etapa, com as sugestões dos que, comprometidos com a mudança, se lançaram à campanha e, mesmo não obtendo votos suficientes para chegar ao segundo turno, contribuíram com suas idéias, propostas e debates para melhorar a qualidade de nossa democracia.

De minha parte reitero o compromisso com os valores democráticos, cuja efetivação depende de mantermos as instituições virtuosas e de sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da utilização das redes sociais, de conselhos e das audiências públicas sobre temas importantes, não se choca com os princípios da
democracia representativa, que têm que ser preservados. Ao contrário, dá-lhes maior legitimidade.

O PSDB se orgulha de ter ajudado o Brasil a reencontrar o equilíbrio econômico. Não só fizemos a estabilização da moeda com o Plano Real, mas criamos instituições fundamentais para sua continuidade, sustentadas por políticas de transparência que infelizmente não vêm sendo seguidas pelo atual governo. O sistema de metas de inflação e a autonomia operacional do Banco Central para fixar a taxa de juros e observar as livres oscilações do câmbio provaram ser eficientes. Graças a esta base, inauguramos nova etapa de investimentos, tanto externos quanto internos, que permitiram gerar empregos e assegurar mais tarde grande mobilidade social. Mudamos de patamar no contexto das nações, sendo que em 2000 já éramos proclamados como fazendo parte dos BRIC’s, países populosos que sobressaiam pelo vigor econômico.

Este trabalho foi feito simultaneamente com o reforço das políticas sociais. Foi nos governos do PSDB que alcançamos a universalização do acesso ao ensino fundamental e criamos o Fundef. 

Propomos agora ampliar a cobertura das creches, universalizar o acesso à pré-escola e a adoção da educação em tempo integral para os alunos no ensino fundamental. O futuro do Brasil será decidido nas salas de aula.

Foi também durante o governo do PSDB, que, na prática, se instalou o SUS, que com os genéricos e a entrega gratuita de medicamentos aos mais pobres começou a construir um Estado de bem estar social. Falta muito ainda, e o governo do PT maltratou a saúde pública, mas continuaremos na caminhada positiva com a ampliação da participação da União no financiamento do sistema através do programa Saúde +10, que viabilizará o reajuste da tabela SUS e a recuperação das instituições filantrópicas, em particular das Santas Casas. Foi a partir de 1994 que se inaugurou uma política de aumento real dos salários mínimos, transformada em lei mais tarde pelos governos que sucederam ao PSDB. Com isso os benefícios da Previdência também foram aumentados. 

Foi nos governos do PSDB que se generalizaram as políticas de transferência direta de renda, as bolsas, assim como o Benefício de Prestação Continuada, que garante renda mínima de um salário mínimo para idosos e pessoas com deficiência. Os governos posteriores ampliaram estes avanços. E também fomos nós que criamos o Ministério da Reforma Agrária, criamos o PRONAF e assentamos cerca de 500 mil famílias, processo tão descuidado pelo governo atual. A reforma agrária precisa ser retomada com seriedade e prioridade.

As políticas sociais sempre fizeram parte de nossos governos, mesmo quando enfrentamos conjunturas econômicas adversas, e nos orgulhamos de ter entregue o país em condições de estabilidade que foram essenciais para que nossos sucessores pudessem ampliar e aprofundar essas políticas. Nossa determinação, e com isso pessoalmente me comprometo, é levar adiante o resgate da dívida social brasileira, que é tarefa inarredável de qualquer governante. Vamos ampliar e aprimorar as políticas existentes, inclusive transformando o Bolsa Família em política de Estado e não de governo, justamente para que não sofra descontinuidade ou interrupção.

Vamos convocar a sociedade brasileira a debater e encontrar soluções generosas para nossa juventude, para lhe dar horizontes que a afastem da violência e outros descaminhos. Entendo que podemos, juntos, evitar que os problemas relacionados aos jovens sejam encarados apenas sob a ótica da punição . Essa seria uma forma injusta de penalizá-los, na ponta do processo, por erros e omissões que são de todos nós.

Temos muitas ferramentas para lidar com nossas desigualdades. A mais importante delas é a riqueza da diversidade sociocultural brasileira que deve estar expressa no combate a toda discriminação, seja étnica, de gênero, de orientação sexual, religiosa, ou qualquer outra que fira os direitos humanos e a liberdade de escolha de cada cidadão.

Mais ainda, entendemos que o governo Dilma Roussef tem sido negligente na questão da demarcação das terras indígenas. Tanto produtores rurais, quando indígenas têm sido vítimas dessa negligência, que contribui para acirrar conflitos e tensões. No nosso governo vamos nos posicionar pela manutenção da prerrogativa constitucional do Poder Executivo de demarcar terras indígenas, ouvindo
os Estados e os órgãos federais cuja ação tenham conexão com o tema.

Criaremos também o Fundo de Regularização Fundiária que permitirá resolver as pendências em áreas indígenas nas quais proprietários rurais possuem títulos legítimos de posse da terra, reconhecidos pelo poder público. Da mesma forma, daremos a merecida atenção, não dada pelo atual governo, às reivindicações dos quilombolas e outras populações tradicionais.

É triste constatar que a Federação está doente, enfraquecida e debilitada .Padece de centralismo excessivo na esfera federal, ficando os poderes locais à mingua dos recursos e desprovidos de competências para enfrentarem os problemas e melhorar a qualidade de vida de suas comunidades.É nosso propósito promover a revisão desse estado de coisas ,devolvendo a estados e municípios os meios de exercerem sua autonomia constitucional,habilitando-os a levar a solução do problema para perto de onde ele ocorre.É urgente revigorar nossa Federação, fortalecendo suas bases.

O debate sobre o Pacto Federativo será articulado com a temática do desenvolvimento regional.
Não há como pensar em novo ciclo de desenvolvimento nacional sem considerar como base fundamental o desenvolvimento regional.

Nunca teremos pleno desenvolvimento com o país cada vez mais concentrado em ilhas de propsperidade e extensos vazios de produção e riquezas.

O estabelecimento de políticas públicas regionais é um componente fundamental para articulação do Pacto Federativo.

Quero reiterar nossos compromissos programáticos com a questão ambiental, vista do ângulo de seu tripé: o cuidado com a natureza, com as pessoas, visando mais bem estar e igualdade, e a adoção de corretas políticas macroeconômicas, notadamente das que afetam nossa matriz energética. O moderno agronegócio brasileiro defende um programa efetivo de preservação da riqueza florestal visando ao objetivo maior de alcançarmos o desmatamento zero. A exploração do petróleo, inclusive do pré-sal é imperativo do desenvolvimento e não põe à margem a diversificação de fontes energéticas menos poluidoras, como as eólicas, solar, a bioenergia, o gás e, sobretudo, o uso racional da energia para poupá-la. Além disso, estabeleceremos uma política efetiva de Unidades de Conservação, não
apenas para garantir a implantação e o correto uso das já existentes, como para retomar o processo de ampliação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, paralisado no atual governo.

Enfatizo que darei a devida e urgente importância ao trato da questão das Mudanças Climáticas, iniciando um decisivo preparo do país para enfrentar e minimizar suas consequências. Assumo o compromisso de levar o Brasil à transição para uma economia de baixo carbono, magna tarefa a que já se dedicam as nações mais desenvolvidas do planeta, retomando uma postura proativa de liderança
global nesta área, perdida no atual governo.

Espero, enfim, que o PSDB e seus aliados sejamos vitoriosos neste segundo turno pelo que trazemos de positivo em nossas propostas e não apenas pelos malfeitos, abusos e desmandos do atual governo, que são enormes. A democracia, tal como a concebemos, não se faz destruindo-se os órgãos de estado ao sabor de interesses partidários e privados, como foi feito com as agências reguladoras, as empresas estatais, os fundos de pensão e a própria administração federal.

Nem pela estigmatização infamante dos setores políticos minoritários. É preciso devolver o Estado à sociedade brasileira.

Reconhecemos a necessidade de uma reforma política que não pode mais ser adiada e com ela nos comprometemos, a começar pelo fim da reeleição para os cargos executivos. Quero que meu governo seja aquele no qual os brasileiros vão recuperar a confiança na política como caminho para o exercício pleno de sua cidadania.

É com esta visão de brasileiro, mais do que de representante de um partido, que espero unir o Brasil. Apelo aos eleitores que já votaram contra a continuidade da situação política atual, e a todos os partidos e lideranças que propuseram melhorias em nossa política que se unam a nós para levar adiante os compromissos que ora assumo, na segunda fase desta caminhada. Não para abdicarem do
que creem, mas para ajudarem a ampliar nossa visão e para podermos, juntos, construir um Brasil melhor. Destaco, especialmente, o legado de Eduardo Campos e o papel que Marina Silva tem exercido na renovação qualitativa da política brasileira e na afirmação do desenvolvimento sustentável. 

Peço a todos os que amam o país: juntem-se a nós! Só na união, no consenso, os brasileiros e as brasileiras poderão construir o que queremos: uma sociedade mais justa, democrática, decente e sustentável.

Aécio Neves

Aécio recebe o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos em Pernambuco

• Tucano divulgou documento para garantir apoio de Marina Silva

Letícia Lins – O Globo

RECIFE - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, recebeu neste sábado o apoio da família do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto num acidente aéreo em 13 de agosto. Os filhos do ex-governador participaram de dois eventos ao lado do tucano, em Recife. No primeiro, compareceram para dar um abraço no presidenciável e, no segundo, João Campos leu uma carta da viúva de Campos, Renata, com quem Aécio se encontrou à tarde.

"Hoje temos duas possibilidades: continuarmos como estamos ou tentar o caminho das mudanças. O Brasil pede mudanças. O governo que está aí tornou-se incapaz de realizá-las", escreveu a viúva na carta.

O texto foi lido por João Campos durante encontro da Frente Popular no Clube Internacional do Recife. Foi ele quem marcou maior presença na campanha majoritária do PSB em Pernambuco: João participou de caminhadas e comícios em 41 municípios para reforçar a campanha do hoje governador eleito Paulo Câmara (PSB).

Na carta, a família reconhece "avanços", mas diz ser fundamental "arejar a casa". E envia um recado para o tucano: "Aécio, acredito na sua capacidade de diálogo, de gestão. Sei que não é a primeira vez que seu caminho se cruza com o de Eduardo".

Renata diz ter certeza que o tucano empunhará as mesmas bandeiras defendidas pelo seu marido:

"Penso, Aécio, que hoje é um dia muito importante na sua caminhada. Você vai levar a garra e a energia do nosso povo, que são fundamentais e essenciais para a construção do novo Brasil. Somos nordestinos e pernambucanos e queremos juntos um novo construir Brasil. Siga em frente, Aécio, e que Deus nos proteja".

Ao sair da casa da família Campos – onde almoçou com cerca de 40 lideranças políticas do estado – o candidato do PSDB afirmou que fechou em Pernambuco "não apenas um pacto eleitoral, mas um pacto de uma vida toda pela decência na vida pública brasileira". Renata acompanhou o tucano até o portão da residência ao lado dos filhos, mas não gravou entrevista. Aécio reagiu com um sorriso e silêncio, quando lhe indagaram se havia recebido algum telefonema de apoio da ex-candidata Marina da Silva (PSB).

- Hoje estou muito feliz. E vou começar de trás para a frente. Acabei mais uma vez de comer o almoço da Dona Renata, um peixe maravilhoso, uma carne de sol saborosa. Eu vim buscar energia. Energia na alma, para continuar essa travessia. Eu me emociono ao voltar aqui à casa de Eduardo, porque aqui conversamos muito sobre o Brasil, tendo a Renata e os filhos como testemunhas - afirmou. E acrescentou:

- Saio daqui com uma responsabilidade que, se já era grande, ainda é maior. Para mim, hoje não foi nenhuma visita política. Hoje foi uma visita pessoal do coração. Fiz questão de trazer a Gabriela, minha filha, para conhecer os filhos de Eduardo. O que estamos fazendo aqui não é uma aliança eleitoral. É um pacto por toda uma vida. Pela decência na vida pública brasileira - ressaltou ele, antes de partir para um comício na cidade de Sirinhaém, na Zona da Mata, onde Marina teve o seu maior percentual de votação do país (74,19%).

Aécio divulga documento para garantir apoio de Marina
Em sua passagem pela capital pernambucana, Aécio divulgou documento afirmando que "a Federação está doente, enfraquecida e debilitada" por padecer do "centralismo excessivo na esfera federal" e prometeu promover "a revisão desse Estado de coisas", devolvendo a estados e municípios "meios de exercerem sua autonomia constitucional, habilitado-os a levar a solução do problema para perto de onde ele ocorre". O manifesto consolida pontos em comum entre os programas de Marina Silva (PSB) e de Aécio e é uma condição para que o tucano receba o apoio da ex-presidenciável.

Aécio disse ainda ser preciso "devolver o Estado à sociedade brasileira". E fez um apelo: "É urgente revirogar nossa federação, fortalecendo suas bases". Ele prometeu promover o debate sobre o pacto federativo, articulado com a temática do desenvolvimento regional. Aécio comparou-se ao ex-presidente Juscelino Kubistchek.

O texto do documento divulgado por Aécio faz parte de uma carta divulgada pelo tucano, durante encontro com lideranças de movimentos sociais e a carta dos 21 partidos que integram a Frente Popular de Pernambuco, que é liderada pelo PSB. Aécio foi recebido em clima de festa, saudado com gritos de "Brasil pra frente, Aécio Presidente" e "País rico é país sem PT".

Aécio lembra de Campos
O documento foi lançado no sábado no Recife, com pouco mais de 80 linhas. Ele assegurou que vai preservar "o legado e os sonhos" de Eduardo campos, mostrando que o documento é uma síntese do que querem as forças que agora o apóiam. Ele ressaltou que as urnas acusaram o desejo de mudança:

- A maioria do eleitorado, 60%, mostrou o desejo de mudança. Mudar significa tirar do poder os que o estão exercendo, mas significa, também, mudar para melhor, em primeiro e principal lugar visando a aprimorar práticas partidárias e eleitorais - afirmou.

Na carta, ele reiterou "o compromisso com valores democráticos, cuja efetivação depende de mantermos instituições virtuosas e de sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da utilização das redes sociais, dos conselhos, das audiências públicas sobre temas importantes não se choca com os compromissos da democracia representativa, que têm que ser preservados. Ao contrário, dá-lhes maior legitimidade". Aécio leu a carta no encontro com lideranças de movimentos sociais - negros, mulheres, pessoas com necessidades especiais e sindicalistas, - que ocorreu em um hotel, no bairro do Pina, na Zona Sul da capital.

Ele fez uma lista das conquistas do país durante as duas gestões presidenciais do PSDB. Segundo Aécio, o documento divulgado no Recife se baseia no tripé "juntos pela democracia, juntos pela inclusão social e juntos pelo desenvolvimento sustentável".

- O PSDB se orgulha de ter ajudado o Brasil a reencontrar o equilíbrio econômico. Não só fizemos a estabilização da moeda com o Plano Real, mas criamos instituições fundamentais para sua continuidade, sustentadas por políticas de transparência que infelizmente não vêm sendo seguidas pelo atual governo. O sistema de metas da inflação e autonomia operacional do Banco Central para fixar a taxa de juros e observar as livres oscilações de câmbio provaram ser ineficientes. Graças a essa base, inauguramos nova etapa de investimentos tanto internos quanto externos - disse Aécio.

Aécio Neves ao lado da filha, Gabriela (de vestido), e dos filhos de Eduardo Campos 

Aécio: tucanos iniciaram entrega gratuita de medicamentos
Ele ressaltou ainda políticas sociais criadas nas gestões tucana, a implantação do Sistema Único de Saúde e atribuiu aos tucanos o início da entrega gratuita de medicamentos aos mais pobres:

- Falta muito ainda, mas o governo do PT maltratou a saúde pública.

Aécio prometeu reajuste da tabela dos serviços do SUS e recuperação de instituições filantrópicas que prestam serviços de saúde. Ele falou também em retomar a reforma agrária "com seriedade e prioridade" e prometeu levar adiante "o resgate da dívida social brasileira".

- Vamos ampliar e aprimorar as políticas existentes, inclusive transformando o Bolsa Família em política de Estado e não de governo, justamente para que não sofra descontinuidade ou interrupção.

O tucano disse esperar a vitória no segundo turno:

- A democracia, tal como a concebemos, não se faz destruindo os órgãos do Estado ao sabor de interesses partidários e privados, como foi feito com as agências reguladoras, as empresas estatais, os fundos de pensão, e a própria administração federal.

Para Aécio, é preciso "devolver o Estado à sociedade brasileira".

'Não vou aceitar o que eles estão fazendo'
Depois de ler a carta, Aécio foi para o Clube Internacional, ao lado do governador eleito Paulo Câmara (PSB), do senador eleito Fernando Bezerra Coelho (PSB), e do prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB). O governador do Espírito Santo (PSB), Renato Casagrande, também compareceu ao encontro.

- Em solo sagrado de Pernambuco, digo que não sou mais candidato a presidente só do PSDB e dos partidos aliados. Sou o candidato que vai trazer as mudanças, reduzir as disparidades regionais, o que vai permitir que as populações mais desfavorecidas sejam aquelas mais atendidas pelo Estado. Não vou aceitar o que eles estão fazendo, dividindo o Brasil em dois, entre nós e eles, norte e sul. Quero ser o presidente da integração de todos os brasileiros. Essa integração se fará construindo pontes, construindo alianças - disse.

O presidenciável tucano lembrou Campos:

- Nós tínhamos certeza de que um dia estaríamos juntos, construindo um Brasil melhor, mais honrado, mais generoso - afirmou, dizendo que fez questão de trazer sua filha Gabriela a Pernambuco, para ela "conhecer a boa política que ainda se pratica no Brasil".

Página Virada

• Com uma democracia que não tem mais nada de "imatura", o Brasil não comprou as teses sonháticas nas urnas e, agora, volta a prestigiar o que há de mais funcional num regime consolidado — a política

André Petry – Revista Veja

O leitor já deve ter ouvido alguém dizer que a democracia brasileira é "imatura" ou está em "processo de amadurecimento". Dificilmente, porém, ouviu alguém enumerar as razões de nossa democracia ser "imatura" ou "incipiente" — talvez porque não seja nem uma coisa nem outra. Comparado aos mais de dois séculos da democracia dos Estados Unidos, o regime democrático brasileiro, em vigor desde 1985, é um bebê recém-nascido de tão jovem, mas não existe especialista ou estudioso que defina a solidez de uma democracia com base na sua idade.

O cientista político austríaco Andreas Schedler, que atualmente dá aulas no México, diz que há inúmeros critérios para avaliar a consolidação democrática, mas três são fundamentais. Não será democrático o país em que as forças políticas fazem uso da violência para atingir seus objetivos. Ou desprezam o processo eleitoral: não participam de eleições, impedem que outros o façam, rejeitam o resultado das urnas ou fraudam o voto. O terceiro critério é a repetitiva violação de leis pela autoridade central. Por exemplo: um presidente que não cumpre lei aprovada no Congresso ou não respeita uma sentença judicial do Supremo Tribunal.

Como se sabe, o Brasil é aprovado nos três critérios — com honra. O americano Samuel Huntington, especialista em estudos internacionais falecido em 2008, aos 81 anos, dizia que o melhor teste de uma democracia era a dupla alternância, ou seja, duas mudanças do partido no poder sem rupturas. O Brasil passou nesse teste em 2003, quando o PSDB de Fernando Henrique entregou o poder ao PT de Lula, a terceira força política a chegar lá desde a eleição de Fernando Collor, em 1989. O critério é especialmente relevante em países com o instituto da reeleição. A dupla alternância de Huntington mostra se os partidos aprenderam que a democracia é caminho para ganhar — e também para perder — o poder.

Desde que Clístenes. cinco séculos antes da era cristã, aproveitou uma crise para ampliar o poder da assembleia de Atenas, conquistando a posição de pai da democracia ateniense, discute-se o que é, de fato, uma democracia. De lá para cá, o conceito evoluiu tanto que seria irreconhecível para um grego clássico. Tal como a concebemos hoje, a democracia só começou a germinar na guerra civil da Inglaterra (1642-1651), mas se materializou mesmo com a independência dos Estados Unidos, mais de um século depois. Ali, em terras americanas, nasceu o regime em que representantes eleitos pelo povo em seu nome exercem o poder — sistema que ganharia mais tarde o título de "democracia representativa".

O Brasil chegou tarde à festa democrática (1946), saiu cedo (1964) e demorou a voltar (1985). mas a evolução que experimentou desde a redemocratização é extraordinária. Nesta eleição, há vários indicadores de solidez. Um deles é a ausência de denúncias de fraude. Outro é a civilidade com que se comportou Marina Silva, do PSB, telefonando a Dilma Rousseff e Aécio Neves para cumprimentá-los pela vitória. O próprio esforço de Dilma para chegar ao segundo turno é sinal de vigor democrático. Ao contrário de regimes em que o incumbente concorre apenas para cumprir um ritual protocolar, a presidente precisou remar para chegar lá — e ainda arrisca perder. Mesmo a nova composição da Câmara dos Deputados, tão criticada pela presença de 28 partidos, informa que a diversidade brasileira não carece de representação. No carrossel partidário, há bancada de sem-terra, ruralistas, gays, agricultores, policiais, evangélicos, banqueiros...

A própria disputa entre PT e PSDB, em vez de ser um desconsolo bipartidário que se repete pela sexta rodada consecutiva, revela a maturidade democrática. São dois partidos de verdade, com presença nacional e identidade clara. Os candidatos, Dilma e Aécio, não são agentes políticos enigmáticos e representam visões de mundo bem definidas, concorde-se com elas ou não. Seja qual for o resultado do segundo turno, o país não vai cair em experimentalismos novidadeiros ou aventuras sonháticas. É segundo turno de país sério, entre o partido do governo e a principal legenda de oposição. No pano de fundo, é a volta da política.

Eleitores apaixonados talvez vejam diferenças abissais entre PT e PSDB, mas, com distanciamento, constata-se que parte das divergências decorre mais de intensidade do que de natureza. De boa-fé, não se dirá que o PSDB é o pelotão avançado dos ideais de direita ou que o PT é a culminância partidária do ideário de esquerda. Basta ver que fizeram governos sem radicalismos. Será tão injusto dizer que o PT não liga para a estabilidade macroeconômica quanto afirmar que o PSDB não está nem aí para os avanços sociais. O espectro ideológico em que os dois partidos se situam, ainda que com convicções distintas, é garantia de estabilidade democrática — a menos que se acredite em caracterizações histéricas e eleitoreiras, nas quais o PSDB é apresentado como a gazua do barbarismo capitalista e o PT é acusado de querer implantar a ditadura comunista no país.

A democracia brasileira patrocina alianças malucas? Paulo Maluf passeia de mãos dadas com o PCdoB. Temos políticos caricatos? Tiririca foi eleito com mais de 1 milhão de votos. Temos dinastias quadrilheiras? Examine-se a bancada de parentes na Câmara. Partidos quadrilheiros? Dos 32 existentes, quase metade vive atrás de favores do governo, do fundo partidário e da venda de espaço. Corrupção? Pode parecer inacreditável, mas é numa democracia como a nossa, e não na sua ausência, que se desossam os corruptos. Apesar desses defeitos, a consolidação democrática é uma página virada. De todos os critérios usados para avaliar uma democracia — institucionais, constitucionais, civis, políticos, jurídicos, culturais, econômicos, sociais, partidários, eleitorais, territoriais ou de representatividade —, o Brasil não tropeça em nenhum. Uma democracia assim atingiu a maioridade há tempos.

O Nordeste não é do PT

Entrevista com Marcus André Melo

• O cientista político diz que o eleitor mais desfavorecido sempre tende a votar a favor do governo e que a educação é fator essencial para aumentar a qualidade da política

Revista Veja

No primeiro turno das eleições, a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff se manteve na liderança em todos os estados nordestinos, à exceção de Pernambuco. No Piauí, Dilma levou 70% dos votos, o seu melhor desempenho estadual. Segundo o cientista político pernambucano Marcus André Melo, contudo, não se pode definir a região como petista. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com Ph.D. na Universidade de Sussex, na Inglaterra, e pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Melo observa que, nas áreas economicamente desfavorecidas, não há uma fidelidade mecânica ao partido. O que existe é um comportamento de adesão a qualquer governo vigente, justamente devido à dependência que a população dos grotões do Brasil guarda em relação às políticas públicas. Qualunquismo é a expressão usada por Melo para descrever esse fenômeno. Isso significa que o eleitor não está fechado a novas propostas que, nas palavras do acadêmico, "maximizem o seu bem-estar".

Como explicar o comportamento do eleitor que, neste primeiro turno, levou Marina Silva a liderar as intenções de voto, e depois se voltou para Aécio Neves, permitindo que ele arrancasse e chegasse ao segundo turno? 
O que marcou esta eleição foi mesmo a desconstrução da imagem de Marina Silva pelo marketing agressivo do PT. Esse marketing atingiu em cheio a parcela volúvel do eleitorado. São os indecisos ou neutros, sujeitos a mudar de voto. Depois da morte de Eduardo Campos, esse eleitorado se voltou para Marina. Quando os ataques petistas, que miravam sobretudo a credibilidade da ex-senadora, se avolumaram, o grupo se dividiu e migrou para Aécio e para a própria Dilma. Mas este é o fato curioso: o marketing do PT beneficiou sobretudo o candidato tucano, pois devolveu-lhe os eleitores que haviam aderido momentaneamente a Marina, por achar que estavam com ela as chances de vencer o PT. Observemos que, descontados os volúveis, o eleitorado de Marina se manteve basicamente o mesmo de 2010. Esse eleitorado esposa uma combinação de valores que os cientistas políticos têm chamado de "pós-materialistas". São jovens preocupados com o meio ambiente, com novos padrões de consumo e que estão em crise com a representação política. Causa perplexidade ao eleitor de Marina, por exemplo, o modelo de coalizão no Brasil, que permite que partidos de extrema direita e de extrema esquerda se aliem sem nenhum receio. É um eleitor que não vota olhando o próprio bolso. Ele está insatisfeito com os serviços públicos, o modelo político e sua representação. Ele personifica um mal-estar institucional muito evidente nos protestos do ano passado.

Que outros grupos se destacam no eleitorado brasileiro? 
O grupo mais numeroso, não só no Brasil, é sempre o do "ignorante racional". O termo foi criado pelo economista americano Anthony Downs, no clássico Uma Teoria Econômica da Democracia. Ele descreve o eleitor médio que. por meio do voto, tenta antes de mais nada maximizar seu bem-estar. Seu voto é coerente e racional. Mas ele não entende os indicadores econômicos, não sabe como as políticas se relacionam umas com as outras e se desdobram a médio e longo prazos. Só sente que as coisas vão mal quando a crise atinge o emprego ou a renda. Esse eleitor olha ao seu redor e decide se quer ou não mudança de status quo. Não tem nada de ideologia. Ora, apesar de o mercado de trabalho não ser o mesmo de dois ou três anos atrás no Brasil, o desemprego ainda não aumentou. E, mesmo que a inflação esteja no teto da meta, não se pode dizer que ela tenha afetado de maneira contundente a renda. Isso explica, em parte, a expressiva votação de Dilma.

Qual é o horizonte de tempo no raciocínio político desse eleitor? 
A educação, é muito mais que a informação, é fundamental para torná-lo mais consciente e ampliar o horizonte temporal de seu cálculo político. Sem educação, ele não consegue entender a sustentabilidade das políticas públicas e dispõe de menos subsídios para avaliar um governo. A educação melhora o debate público, que tem se mostrado tão deficiente no Brasil.

Existe um momento específico em que o eleitor que o senhor descreveu como "ignorante racional" começa a pensar a longo prazo?
Há estudos que fazem essa análise, mas nenhum consegue definir um padrão específico. O que acontece é um movimento contínuo de busca por melhoria de vida e bem-estar. Quando se está inserido em um processo de mobilidade social, é esperado que as pessoas queiram sempre mais. As expectativas aumentam. Quando determinado estrato da sociedade percebe que a capacidade de avançar estancou, ou não é suficiente para suprir suas ambições, há um movimento de insatisfação muito grande, como o que foi visto, de certa forma, nos protestos do ano passado. Isso ocorre quando um indivíduo se dá conta de que suas demandas vão além do que a velocidade da transformação da sociedade pode lhe proporcionar. Essa é a origem das grandes frustrações que, se não racionalizadas, explodem nas ruas, como aconteceu no ano passado nas maiores cidades brasileiras.

O voto do brasileiro é fundamentalmente pautado pela economia, então?
Em boa parte, sim. Em última instância, o eleitor sempre opta pela mudança ou manutenção de um governo olhando para a sua realidade e satisfação como cidadão. É uma percepção bem individualista tanto para o pobre quanto para o rico. Quando um eleitor se decide pela mudança, a credibilidade do novo candidato escolhido é o aspecto mais relevante. Isso explica por que a estratégia do PT foi desconstruir a credibilidade de Marina Silva, usando informações completamente irrelevantes para associá-la à imagem de mentirosa. Isso prejudicou a confiança na candidata e fez com que os eleitores neutros ou indecisos desistissem de votar nela.

Tanto Marina Silva quanto Aécio Neves usaram os episódios de corrupção na Petrobras para atacar Dilma. Até que ponto isso funcionou?
As denúncias afetaram mais o rótulo partidário, o PT. do que a própria Dilma Rousseff. Além disso, é preciso lembrar que nem Aécio nem Marina foram assim tão incisivos nos questionamentos a Dilma sobre a corrupção em seu governo. De forma alguma eles chegaram perto em intensidade e frequência dos ataques do PT no processo de desconstrução de Marina.

Por que razão, na opinião do senhor, Aécio e Marina falharam em jogar a corrupção do PT no colo de Dilma?
Primeiro, porque os candidatos de oposição tiveram muito pouco tempo de TV em comparação com o tempo dado à candidatura oficial. A informação que ficou gravada é que o PT está associado à corrupção, mas não Dilma. A redução das bancadas petistas no Senado e na Câmara pode ter sido resultado dessa associação do partido com a corrupção. Com tantos escândalos tendo o PT como centro, algo estaria muito errado com a nossa democracia se não tivesse havido uma repercussão disso nas urnas. Mas houve.

O bolso pesa mais na hora do voto do que a corrupção em que circunstâncias?
As pesquisas sobre corrupção mostram um cenário clássico de dependência do ambiente econômico. Um escândalo tem maior potencial de afetar o voto quando a situação econômica de um país não está boa. Se tudo estiver relativamente bem, a população estará menos propensa a se indignar e exigir a punição dos corruptos.

O mapa eleitoral brasileiro sugere um país dividido em regiões tucanas e regiões petistas. Os partidos são donos de certas áreas do país?
Quando se opõe o voto concentrado do PT no Nordeste e no Norte ao voto do PSDB no Sudeste, muitos analistas políticos se esquecem de algo fundamental, que eu chamo de qualunquismo. Essa expressão vem da palavra italiana qualunque, que significa "qualquer um", e está associada a certo cinismo muito comum no sul da Itália no século passado, que consiste no voto ao governante que está no poder, seja ele quem for. Não se pode dizer que há um fenômeno de adesão ao petismo nos grotões do Brasil. Não houve uma "marcha ao Nordeste" que fez com que, de repente, essas pessoas tivessem adquirido consciência de classe. O que se observa é que, nas áreas desfavorecidas e mais dependentes de políticas de inclusão, se vota em quem está no governo.

Qualquer governo?
Desde que o PT chegou ao poder, essas áreas dependem muito de transferência de renda. Por isso, seus prefeitos e deputados têm muitos incentivos para apoiar o mandatário da vez. E é isso que o eleitor vê. Sua fidelidade não é com o partido. Não à toa, esse mesmo eleitor elegeu Fernando Henrique Cardoso em 1994 e o reelegeu em 1998. Na reeleição, o único estado do Norte e Nordeste em que FHC perdeu foi o Ceará, que votou em Ciro Gomes. FHC ganhou porque estabilizou a economia e eliminou a inflação, o que tornou a vida do pobre muito melhor. Por isso, ele foi premiado nas urnas. É preciso entender melhor esse eleitor desfavorecido: eleitor opta pela mudança, a credibilidade do novo candidato é o ponto mais relevante. Isso explica por que a estratégia do PT foi dizer que Marina era mentirosa ele vai se aliar a quem o beneficiar. Isso acontece no interior do Piauí ou na periferia de São Paulo.

O que explica a clara preferência da maioria dos eleitores de São Paulo ao PSDB?
Meu próximo livro, que deve ser lançado no ano que vem pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, analisa justamente os dois valores primordiais na política atual: a inclusão e a estabilidade econômica. No Piauí, a preocupação é a inclusão. No Sudeste, há mais empresas, o setor privado é mais forte. É um cenário em que as questões macroeconômicas ganham mais peso, e o PSDB tem reputação mais sólida nesse aspecto. Não estou dizendo que todo eleitor do PSDB seja um exímio conhecedor de contas públicas. Mas a agenda de preocupações já é outra. Tenho muitas ressalvas ao pensamento que associa comportamento eleitoral a classe socioeconômica de forma mecânica. Isso simplifica o debate. Mas aqui é útil pensar na classe C, não só paulista, mas como um todo. Essa classe se beneficiou da expansão do crédito e do crescimento econômico de 2002 a 2009. Para ela, a questão fundamental são os serviços.

A classe C está satisfeita, então?
A classe C saiu do SUS e teve acesso a planos de saúde privados, mas, como a regulação desses planos é deficiente, está muito insatisfeita. Com a educação, acontece o mesmo. A classe C comprou carro, mas agora fica parada no trânsito. Agora, ela começa a captar os indícios de que a economia vai mal. Não é preciso saber o que é superávit primário para sentir os sinais de enfraquecimento da economia. Quem trabalha em construtoras, por exemplo, percebe que a quantidade de empreendimentos entregues em 2014 é menor que em outros anos. Em todas as empresas, os funcionários estão vendo que projetos são abortados ou adiados.

Como os eleitores que vivem agora um embate entre o cansaço com a atual gestão e o medo de perder suas conquistas podem resolver essa contradição?
A classe C não é o alvo primordial das políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, mas se beneficiou de cotas na universidade, crédito e outras políticas de inclusão. Ela tem mais informação que aquele eleitor dos grotões do Brasil e sabe que a inflação está alta e que as coisas não estão bem. Isso a faz oscilar entre o governo e a oposição. O PSDB lucra com isso, porque tem credibilidade quando se trata de estabilidade econômica.

Existe uma escolha certa para esse eleitor?
É complicado. Mas poderia ser mais simples se os partidos tivessem um papel diferente na sociedade. Em muitos países europeus, os partidos políticos fazem a intermediação entre os formadores de opinião e a população. Há uma identificação partidária forte na Inglaterra, na França e na Alemanha. Os partidos funcionam como atalhos cognitivos para o "ignorante racional". Eles ajudam a educar. No Brasil, essa identificação é mínima. Há, inclusive, cada vez mais aversão a partidos. Não há debate de políticas, mas acusações e uso deslavado de mentiras, como as usadas pelo PT nos ataques a Marina.