Certa feita, e já na velhice, o filósofo Georg Lukács se empenhou pessoalmente pela libertação de um ativista maoísta, indevidamente preso na Hungria (relativamente “liberal”) de János Kádár.
Ao filósofo, mesmo tão distante do maoísmo, não importou nenhuma consideração geopolítica que pudesse afetar o bloco do então chamado socialismo real e, com isso, servir de desculpa para o silêncio cúmplice: homens e mulheres livres protestam contra qualquer violação dos direitos humanos, em qualquer tempo e lugar. Marxistas capazes de pensar com a própria cabeça se incomodam profundamente quando o marxismo é transformado em ideologia de estado, que encobre e justifica crimes: porque assim ele, marxismo, torna-se um conceito desonrado e arrasta consigo para a infâmia a própria ideia de socialismo.
Pelas mesmas razões de Lukács, ao tomar conhecimento da morte de Orlando Zapata, prisioneiro de consciência pertencente à infeliz “primavera negra” de 2003, em Cuba, a nossa voz só pode ser a de protesto comovido em nome da universalidade dos direitos.
Os dirigentes cubanos mencionam, em sua defesa, a persistência do bloqueio americano e as torturas em Guantânamo. E estão certos nisso: o bloqueio é um anacronismo delirante, os presos no limbo de Guantânamo são uma herança maldita dos tempos de Bush, que cabe liquidar o quanto antes, com as devidas reparações. E relíquias da guerra fria devem ser tratadas como tal: fonte de esquizofrenia política, de um lado e de outro.
Quanto à morte por inanição de Zapata, só nos resta apelar retrospectivamente a Pietro Ingrao, reapresentando, intacto, o texto abaixo, escrito em abril de 2003, e subscrevendo inteiramente suas razões. Ingrao representa, tal como o velho Lukács no episódio que lembramos, as melhores tradições do comunismo histórico: uma das tradições a que não queremos renunciar
Luiz Sergio Henriques, editor do site Gramsci e o Brasil, na apresentação do artigo de Pietro Ingrao – ver mais abaixo)
Pelas mesmas razões de Lukács, ao tomar conhecimento da morte de Orlando Zapata, prisioneiro de consciência pertencente à infeliz “primavera negra” de 2003, em Cuba, a nossa voz só pode ser a de protesto comovido em nome da universalidade dos direitos.
Os dirigentes cubanos mencionam, em sua defesa, a persistência do bloqueio americano e as torturas em Guantânamo. E estão certos nisso: o bloqueio é um anacronismo delirante, os presos no limbo de Guantânamo são uma herança maldita dos tempos de Bush, que cabe liquidar o quanto antes, com as devidas reparações. E relíquias da guerra fria devem ser tratadas como tal: fonte de esquizofrenia política, de um lado e de outro.
Quanto à morte por inanição de Zapata, só nos resta apelar retrospectivamente a Pietro Ingrao, reapresentando, intacto, o texto abaixo, escrito em abril de 2003, e subscrevendo inteiramente suas razões. Ingrao representa, tal como o velho Lukács no episódio que lembramos, as melhores tradições do comunismo histórico: uma das tradições a que não queremos renunciar
Luiz Sergio Henriques, editor do site Gramsci e o Brasil, na apresentação do artigo de Pietro Ingrao – ver mais abaixo)