segunda-feira, 28 de maio de 2018

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna*

O tempo é curto para que essa iniciativa possa encontrar seu ponto de maturação. É preciso invocar a sabedoria dos nossos maiores, que no passado, do Império à República, como no caso recente da transição do regime militar para o democrático, sempre pela via da negociação souberam encontrar soluções para os nossos impasses políticos e institucionais. Seus adversários são conhecidos e ambos desejam vias de ruptura: à direita, os que desejam uma saída neoliberal clássica – desejo mal escondido de poderosa rede de comunicação; à esquerda, os que visam a uma retomada das vias bolivarianas.

O papel do centro político como estratégico na nossa formação não pode ser ignorado, e para só falar do período republicano, a exemplo de Vargas, que em 1945 fundou o PSD com lideranças tradicionais a fim de respaldar sua obra social reformadora, reeditado em grande estilo por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves para abrir caminho à democratização. O manifesto, que ora circula em busca de adesões, segue as pegadas de momentos criativos e fecundos da política brasileira, que nos seus estonteantes ziguezagues nunca perdeu de vista seus compromissos com a obra da civilização singular que fazemos aqui.

Como palavras finais, deve-se mencionar que tal movimento, ao menos in pectore, admita que sua vitória trará consigo um momento de concórdia, reeditando a época do movimento da anistia, que envolva a sociedade, o Congresso e, principalmente, o sistema de Justiça, que pacifique de verdade esta praça de guerra que desgraçadamente nos tornamos.
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* Sociólogo, PUC-Rio. “O Centro político, a democracia e as reformas”, O Estado de S. Paulo, 27/5/2018.

Marcus André Melo: Há risco de populismo, mas não de venezuelização

- Folha de S. Paulo

Enquanto aqui tínhamos Epitácio Pessoa, um juiz do STF na Presidência, lá reinava El Bagre

O colapso da democracia na Venezuela, que ostentava a mais elevada renda per capita da América Latina, é anômalo. Não há golpes ou grande retrocesso democrático em países ricos. Embora a renda alta não engendre democracia, aumenta sua resiliência onde ela já se instalou, como Przeworski e Limongi demonstraram.

Por outro lado, Robert Dahl nos ensina que os países que transitaram para a democracia via regimes oligárquicos competitivos (ex. Inglaterra no século 19) são menos propensos a sofrer reversões: as elites políticas são socializadas em regras institucionais antes da extensão da participação política, via sufrágio universal. Quando a participação se estende a toda a população, as instituições já estão enraizadas. Não é o caso da Venezuela.

Entre 1908 e 1935, o país foi controlado pelo caudilho Juan Gómez. Desde então, autoritarismo e nacionalismo se mesclaram de forma tóxica.

O nacionalismo foi alimentado pelo conflito com a Inglaterra —que chegou a bombardear Caracas—, devido ao não pagamento da dívida externa, e exacerbou-se após a descoberta do petróleo no país, em 1918, com as transações feitas por Gómez com a Standard Oil que o converteram no “homem mais rico da América Latina”.

“El Bagre” deixou 84 filhos e encarnou, como poucos na região, a “maldição dos recursos naturais”, inaugurando um ciclo de governos autoritários que durou até o pacto de Punto Fijo, em 1958. O país “pulou etapas”: não teve nem governos oligárquicos semicompetitivos (ex. República Velha) nem regimes populistas nacionalistas (Varguismo).

O Pacto funcionou bem durante três décadas. Os dois partidos principais concordaram em alternar-se no poder e estabelecer cotas partidárias na máquina pública.

O colapso das rendas petrolíferas, ao final dos anos 1980, e a insatisfação social com o que parecia ser um conluio oligárquico —em que pese o país ter o Gini mais baixo da região —minaram as bases do pacto. O boom de commodities reviveu o autoritarismo militarista com o coronel Chávez. Regressão à média?

Se Dahl estiver certo, as chances de venezuelização por aqui são mínimas devido ao nosso legado de pesos e contrapesos. Além do fato de que “é a tradição parlamentar, transmitida de geração a geração, desde 1823, e sempre subsistente apesar das poucas interrupções que faz o Brasil tão diferente dos vizinhos da América Latina” (Afonso Arinos).

Esse legado, é certo, não impediu o regime militar (mas explica o fato de que aqui o Congresso permaneceu ativo). Mas essa visão otimista perde força à luz da maré populista no mundo. Mesmo sem autoritarismo aberto, populistas podem fazer grandes estragos.

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Marcus André Melo é professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco e doutor pela Sussex University.

Celso Rocha de Barros Bolsonaro te acha otário

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro apoia a greve para produzir desordem agora e vender ordem em outubro

É preciso ter muita cautela ao interpretar o apoio à greve dos caminhoneiros nas redes sociais. A turma de Bolsonaro está bastante engajada para aumentar a visibilidade do movimento grevista e reforçar a impressão de que ele é popular. Não sabemos se esse entusiasmo nas redes sociais reflete bem a opinião da turma na fila dos supermercados.

Mas é possível mesmo que haja algum nível de simpatia pela greve. Há gente com esperança de que a greve reduza o preço da gasolina. O governo Temer é o mais impopular da história. E, ainda assim, mesmo com tudo isso, é surpreendente que um movimento que leva pessoas em pânico a estocar alimentos desperte qualquer entusiasmo no público.

A primeira suspeita é que a simpatia pela greve seja uma reação ao sucesso do sistema político em seu esforço de evitar surpresas na eleição de 2018. Os outsiders não conseguiram os apoios partidários com que contavam. As regras de financiamento eleitoral favorecem fortemente a manutenção do status quo.

O público pode não conhecer os detalhes desses mecanismos, mas já notou, pela lista de candidatos disponíveis, que a eleição deve ser bem mais parecida com as anteriores do que esperavam que a Lava Jato dizimasse o sistema. Diante disso, a ideia de uma grande mobilização que pare o país e "mande um recado para o poder" pode parecer sedutora.

Ricardo Rangel: Nocaute

- O Globo

Somos reféns de caminhoneiros e transportadores, e, cada vez que os interesses deles convergem, eles se unem para nos chantagear

‘Foi mal”, desculpou-se Rodrigo Maia ao se dar conta de que seu “erro de cálculo” causaria um prejuízo de R$ 9 bilhões além do esperado.

A comédia de erros que nos trouxe à greve, ao locaute e ao nocaute começou há 60 anos, quando Juscelino Kubitschek fez a opção preferencial pelo transporte rodoviário. Um país grande deve ter ferrovias; um país com muitos rios e litoral extenso deve ter hidrovias, mas nossa matriz de transporte conta com 64% de rodovias.

De JK para cá, ninguém fez nem faz nada para mudar isso. Somos reféns de caminhoneiros e transportadores, e, cada vez que os interesses dessas categorias convergem, elas se unem para nos chantagear.

Manifestantes (e até consumidores) pedem controle do preço do combustível. “Todo problema complexo tem uma solução simples — e errada”, disse H. L. Mencken. Hoje, o petróleo sobe no mundo, o combustível sobe na bomba, e a Petrobras prospera; antes, com o PT, o preço era controlado, e a Petrobras teve R$ 55 bilhões de prejuízo.

A intervenção estatal está na raiz do problema, por sinal. Dilma subsidiou caminhões, expandiu enormemente a frota, e derrubou o preço do frete. Interveio em outras áreas, provocou recessão, e o preço do frete caiu mais. Quando o petróleo subiu, o setor ficou com margens ínfimas e uma dívida impagável.

Denis Lerrer Rosenfield *: O fator conservador

- O Estado de S.Paulo

Partidários da liberdade de escolha, do trabalho e do mérito pessoal podem decidir eleições

O Brasil entrou definitivamente na discussão eleitoral, que se apresenta sob a forma de uma pré-campanha que não deixa de ser uma campanha propriamente dita. Os candidatos tomam posição no tabuleiro ao sabor das conveniências, destacando-se questões de valores e de costumes, fundamentando até a luta contra a corrupção. Os partidos tradicionais procuram, porém, evadir-se dessas questões, engolfados que foram no redemoinho de prisões e condenações decorrentes de práticas criminosas.

Apesar da urgência da pauta de reformas econômicas, a sociedade veio a perceber a questão da moralidade pública e dos valores como prioritária. Se muitas vezes falta a amplos setores da população clareza sobre assuntos econômicos, sobram-lhes certezas sobre temas de valores e costumes. Mais concretamente, o eleitorado brasileiro é composto por uma parcela com opiniões consideradas conservadoras que, por ser significativa do ponto de vista numérico, pode muito bem decidir a eleição ou, num primeiro turno competitivo, ser decisiva para levar determinado candidato ao segundo.

Conforme pesquisas, posições conservadoras aparecem como majoritárias entre a população brasileira. Algumas estimam que 85% dos brasileiros se mostram favoráveis à redução da maioridade penal, 79% são contrários à legalização do aborto no País, 56% são contra o ensino de questões de gênero nas escolas e 51% rejeitam o Estatuto do Desarmamento. Outras constatam que 66% dos brasileiros são contrários à liberação do uso da maconha, droga atualmente ilícita. Quando recortamos as respostas segundo um critério confessional, eleitores religiosos, especialmente evangélicos, expressam índices ainda maiores de respostas em relação às questões mensuradas.

Fernando Limongi: Encontro com o futuro

- Valor Econômico

Sem votos, Temer foi realista e abandonou corrida presidencial

No início da semana, Michel Temer comunicou que não tentará a reeleição. Ninguém se surpreendeu. O presidente se rendeu aos fatos: não teria votos. De sua parte, o ex-presidente Lula resiste e sequer cogita discutir o destino dos votos que teria, se pudesse concorrer, adiando assim a discussão inevitável, que mantém em suspenso o quadro sucessório.

Sempre atinado com as necessidades do marketing político, o MDB marcou a troca de Michel Temer por Henrique Meirelles com uma cerimônia com direito a nome e documento: "Um Encontro com o Futuro".

Em entrevistas, o ex-ministro colocou-se como o candidato da continuidade: "É o momento de tomar medidas para evitar que o Brasil entre em crise a cada dez anos. Precisamos apenas de mais quatro anos para construir um novo Brasil". Afirmou ainda que o presidente seria um 'cabo eleitoral positivo', mas deixou escapar a ressalva: "É importante dizer também que o meu histórico é um histórico de uma reputação inquestionável".

Isso foi na terça. Nos dias seguintes, os eventos trataram de desmentir a pompa com que o governo festejou os efeitos das reformas que justificariam o slogan escolhido a dedo pelo candidato: "Quando o Brasil tem uma crise, chama o Meirelles".

Diante da paralisia provocada pela greve dos caminhoneiros, não ocorreu a ninguém chamá-lo. O próprio Meirelles saiu pela tangente quando perguntado sobre a política de preços da Petrobras.

Uma coisa é certa, Henrique Meirelles não é o candidato do MDB e, nem mesmo, do governo. É antes de tudo um candidato de si mesmo. Realiza um sonho obstinadamente buscado desde que se aposentou e retornou ao Brasil. Bajulou Lula e esperou ser ungido para sucedê-lo. Preterido, não se abateu e agarrou a nova oportunidade.

Vinicius Mota: Crise dos caminhoneiros evidencia uma nação imatura

- Folha de S. Paulo

Costume de não assumir responsabilidade sobre os problemas cobra seu preço em violência e cinismo

Há vasta controvérsia sobre os fatores que levam um povo a prosperar, enquanto a maioria das nações atola na estagnação. Como o papel aceita tudo, arrisco um palpite: atingir a maturidade nas relações humanas é para poucos.

A crise dos caminhões é caso exemplar de como a responsabilidade, a arte de encarar a dureza do mundo como missão individual incontornável, escasseia por estas terras.

Caminhoneiros e empresários do transporte, às voltas com o encarecimento de seus custos, asfixiam as cidades e cobram do governo um resgate para liberá-las. A culpa não é nossa, proclamam os bucaneiros.

O governo, que apenas intermedeia a relação entre pagadores de impostos e usuários de serviços públicos, aceita de cara a chantagem. Transfere a fatura para a ponta mais fraca e mal representada da população.

Não se preocupa nem mesmo com garantir a volta à normalidade antes de fazer concessões. A culpa não é nossa, é da Petrobras, afirmam poderosos irresponsáveis em Brasília.

Ricardo Noblat: Temer chama o Pires, mas não havia Pires

- Blog do Noblat

Quem pariu Mateus que o embale

Sempre que se via contrariado, João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar de 64, ameaçava chamar o Pires.

O Pires de Figueiredo era o general Walter Pires, ministro do Exército, sempre disposto a botar para quebrar.

O presidente José Sarney, empossado pela junta médica que cuidou do presidente enfermo Tancredo Neves, tinha seu Pires.

Era o general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército, um Pires menos brucutu, mas assim mesmo um Pires.

Foi Leônidas, com um exemplar da Constituição nas mãos, quem disse primeiro que Sarney sucederia a Tancredo.

Ele foi decisivo para que Sarney arrancasse da Constituinte de 1988 o mandato de cinco anos como queria, e não de quatro.

O presidente Michel Temer imaginou que o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, poderia ser o seu Pires.

Não se sabe o que os dois conversaram recentemente sob rigoroso sigilo e por iniciativa de Temer.

Mas se para enfrentar a greve dos caminhoneiros Temer precisava de um Pires como Walter ou Leônidas, faltou-lhe um.

Roberto Freire: Em defesa da ordem democrática

- Diário do Poder

O governo negociou e atendeu às reivindicações dos grevistas dos transportes.

Não houve a contrapartida necessária, por parte dos manifestantes, com a volta dos caminhões às rodovias e estradas e a retomada do abastecimento.

Desnudou-se o caráter do movimento grevista.

Na primeira nota do movimento, reivindicava-se, como primeiro item, o voto impresso nas eleições de 2018.

Tal reivindicação nada tem a ver com a natureza das questões envolvidas nos transportes, mas sim, com a plataforma de determinado candidato de ultradireita, em nada interessado nas reivindicações específicas dos caminhoneiros e mesmo de empresas do setor.

Ontem, governo e grevistas chegaram a um acordo, cujo mérito não é escopo deste artigo discutir agora.

Já durante a negociação, determinada liderança ausentou-se, alegando desconfiança no governo.

Exigia garantias de que o Congresso aprovaria a eliminação de determinado imposto. Ou seja, queria o Congresso, Senado e Câmara ajoelhados diante do que se proclamou representar.

Restou demonstrado que há interesses turvos, que não querem negociar, apenas almejam desestabilizar a democracia.

Cida Damasco: Petrobrás no palanque

- O Estado de S.Paulo

Candidatos atacam governo, mas não mostram planos para o futuro da empresa

Quase uma semana de bloqueios nas estradas de todo o País, tropas nas ruas, colapso no abastecimento de combustíveis, corrida aos supermercados, ameaça de adesão dos petroleiros e um tombo de RS 50 bilhões no valor de mercado da Petrobrás. Se é chocante a demora do governo Temer para enfrentar a anunciada crise dos combustíveis, pode-se dizer que são decepcionantes as primeiras manifestações dos candidatos à sua sucessão na Presidência. Na grande maioria são genéricas, mais para palavras de ordem dirigidas a seu público interno, ou obviedades, dando a impressão de que seus autores ainda procuram saber de que lado sopra o vento para só depois tomar posição. Preferem bater forte no governo, recordista em impopularidade, do que nos caminhoneiros.

Na verdade, não é nada fácil identificar a direção do vento. A polarização que vem marcando as diferenças de pensamento da sociedade brasileira nos últimos tempos desta vez não é tão clara. Esquerda e direita embaralham suas posições sobre a justiça ou não das reivindicações dos caminhoneiros e sobre o real significado dos protestos. Uns comemoram os resultados da mobilização porque os caminhoneiros conseguiram parar o País, o que “MST e CUT não conseguiram”, outros crucificam a administração da Petrobrás, recorrem ao argumento de que a situação se agravou depois de Dilma e repetem o mote “onde foram parar os batedores de panelas?”.

Angela Bittencourt: Brasil vive hoje em "estado de exceção"

- Valor Econômico

Marsh alerta para pressão do risco político em 2018

O Brasil vive hoje em "estado de exceção". Não se trata do Estado de Exceção classificado pelo Direito Constitucional, em que os cidadãos não podem contar com a legislação para se defender ou têm seus direitos cassados em nome do estabelecimento da ordem e paz social. É fato que o governo Temer lançou na sexta-feira, pela segunda vez em três meses, o decreto que prevê Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que autorizou o uso das Forças Armadas em todo o território nacional para desobstrução de vias públicas federais tomadas por caminhoneiros em protesto contra o preço do óleo diesel. Em fevereiro foi adotado decreto semelhante quando definida a intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. No sábado, o presidente Michel Temer assinou mais um ato que permite ao governo assumir o controle de caminhões para desobstruir as rodovias.

A demora do governo em negociar com os caminhoneiros condições que poderiam evitar a expansão de bloqueios precipitou um acordo que não foi aceito por toda a categoria. Resultado: o governo federal e os governos estaduais e municipais (não necessariamente juntos) atravessaram o fim de semana em busca de decisões alternativas para tirar os caminhões das estradas, evitando assim a paralisação do país nesta segunda-feira.

E aqui entra o "estado de exceção" a que a coluna se refere: a adoção de medidas extraordinárias pelas autoridades monetárias para que o mercado financeiro mantenha sua funcionalidade neste momento em que eventos também extraordinários tiram o país dos eixos.

Em favor da democracia: Editorial | O Globo

Documentos reativam desejo de revisão de uma anistia legítima e de ampla base legal

Não há qualquer dúvida sobre a repulsa ao crime de tortura e a assassinatos cometidos pelo Estado ou por grupos políticos, como os revelados por documentos liberados pela agência americana CIA. A defesa de ideologias não dá licença para criminosos infratores de direitos humanos. Entendem-se as críticas à anistia proposta pelo último governo da ditadura militar, de João Baptista Figueiredo, citado em um desses documentos, e aprovada pelo Congresso, em 1979. Foram tempos duros que geraram dramas pessoais, de lado a lado, impossíveis de serem apagados.

São tragédias que ocorrem em regimes de exceção, que, a depender de seu desfecho, terminam em anistias, geralmente recíprocas. É sempre o recomendável para o apaziguamento da sociedade. Mais ainda quando as transições para a democracia são negociadas, sem violência, atendendo-se a condições de ambos os lados.

Aconteceu no Brasil, no esgotamento da ditadura militar, no último dos governos dos generais, de João Baptista Figueiredo, com o aval do Congresso e participação da oposição nas negociações. Não seria uma unanimidade a anistia, porque havia o lado radical de combate à ditadura dos militares, inspirado no castrismo e outras correntes da esquerda e que, na verdade, queriam substituir uma ditadura por outra. Estas frações fizeram parte da ampla aliança de resistência ao regime, lado a lado com democratas. Divergências posteriores seriam incontornáveis, e isso ficou evidente no estilhaçamento do velho MDB em várias legendas, à esquerda e à direita.

A velhíssima política: Editorial | O Estado de S. Paulo

É certo que o “novo” não é, necessariamente, sinônimo de “bom” na política. Pode ser, ao contrário, um retrocesso - um flerte com soluções autoritárias, que prescindem do Congresso por considerar a atividade política insalubre por princípio. O País deve, portanto, resistir ao discurso segundo o qual basta expulsar do poder todos os que se identificam com a “velha” política para que os problemas se resolvam. Contudo, há uma velhíssima política que, esta sim, precisa ser eliminada urgentemente do cenário nacional. Trata-se de parlamentares que exploram a política como instrumento para a satisfação de seus interesses privados e, assim, não se importam em promover o atraso no País se isso facilitar a manutenção de seus currais eleitorais.

É o caso, por exemplo, do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Embora seja do mesmo partido do presidente da República, Michel Temer, o senador Eunício tem sido um opositor de fazer inveja a muitos petistas. Agora mesmo, no auge da complexa crise que resultou na alta dos combustíveis e, por conseguinte, no protesto de caminhoneiros que paralisou parte do País, o presidente do Senado partiu para a simplificação rasteira, típica dos palanques. Em entrevista ao Estado, referindo-se à política de preços da Petrobrás sob a gestão de Pedro Parente - que respeita a oscilação dos preços internacionais do petróleo e, portanto, dispensa os subsídios que tanto prejuízo deram à estatal durante o governo petista -, o senador Eunício saiu-se com esta: “Entre os ‘Parentes’ e os consumidores, eu fico com os consumidores”.

Saídas racionais: Editorial | Folha de S. Paulo

Distorções nos preços de combustíveis no Brasil estão ligadas à tributação elevada, que demanda reforma; mercado internacional dá sinais de alívio

A paralisação dos caminhoneiros chamou a atenção para o preço dos combustíveis no Brasil. É importante, contudo, não perder de vista a razão real do problema.

Decerto que a prática atual da Petrobras de repassar automaticamente as cotações globais do petróleo para o mercado interno pode ser aperfeiçoada. Seria erro gravíssimo, contudo, retornar ao populismo tarifário que tantos prejuízos legou às estatais e ao país.

Como está amplamente demonstrado, a elevada carga tributária no Brasil responde pela maior parte da diferença em relação ao que se cobra pelos combustíveis, por exemplo, nos Estados Unidos.

Impostos e contribuições federais e estaduais chegam a representar 44% e 28% do preço da gasolina e do diesel, respectivamente.

No caso do ICMS estadual, cobra-se um percentual do preço, não um valor fixo por litro, o que amplifica os movimentos de alta ou baixa do insumo básico, o petróleo.

Não será simples lidar com o peso dos tributos, no Brasil excessivo para a grande maioria dos produtos e serviços. Discute-se a adoção de paliativos para os derivados agora, mas a resolução definitiva dependerá de uma ampla reforma.

Nó do setor portuário está bem longe de ser desatado: Editorial | Valor Econômico

No intervalo de apenas uma semana, o Tribunal de Contas da União determinou o despejo de duas importantes empresas que operam terminais no porto de Santos, o mais importante da América Latina. Se a medida do TCU foi vista como truculenta por alguns e saneadora por outros, o único consenso possível é o de que o setor portuário parece incapaz de se desvencilhar do nó em que está metido há décadas.

Com o alegado objetivo de modernizar a legislação portuária, de corrigir distorções e de promover investimentos de bilhões de reais, o governo aprovou em maio do ano passado o Decreto 9.048/17. Exatamente uma semana depois da assinatura veio a público o acordo de delação premiada do empresário Joesley Batista, que fez o decreto trocar as páginas de economia pelas policiais.

Diante da grande repercussão do caso, que envolve o presidente da República, o governo percebeu que o decreto não vai prosperar e ensaia jogar a toalha. Reportagem do Valor mostrou que os aliados de Michel Temer já admitem abrir mão dos principais benefícios do decreto para impedir que um carimbo de "ilegal" complique ainda mais a situação do presidente no inquérito do qual é alvo.

Infelizmente, a contaminação política impediu que as medidas propostas fossem debatidas em bases puramente técnicas. O alto escalão do TCU não quer se vincular à eventual aprovação de um decreto envolto em tantas suspeitas de corrupção. A cautela é até compreensível, já que um dos principais personagens da delação de Joesley, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures - o "homem da mala" - participou ativamente das discussões para a elaboração do decreto.

Ainda não há provas, entretanto, de que o texto beneficiou A ou B mediante propina. Vários técnicos que participaram da construção do decreto garantem que os benefícios valem para todo o setor. Quase 100 empresas pediram para se adequar ao decreto e prometeram colocar R$ 14 bilhões em melhorias nos terminais portuários.

A prisão da cúpula petista: Editorial | O Estado de S. Paulo

Com a volta do deputado cassado José Dirceu à prisão, agora toda a cúpula do primeiro governo de Lula da Silva, exercido de 2003 a 2006, encontra-se na cadeia. Dirceu, Lula e o ex-ministro Antonio Palocci estão condenados por corrupção. Nada há a celebrar nesse desfecho, a não ser o auspicioso fato de que a Justiça, no Brasil, finalmente alcançou gente tão poderosa e com tanta influência política. No mais, é triste que a República tenha sido entregue, por meio de eleições livres, a indivíduos tão acintosamente despreparados para o exercício minimamente ético do poder, gente que agiu à margem da lei de forma sistêmica e profissional, usando como desculpa a fajuta promessa de “justiça social”.

A coincidência - chamemos assim - da prisão dos três homens mais importantes do primeiro mandato petista na Presidência dá àquela gestão ares de organização criminosa - coisa que, aliás, já havia ficado razoavelmente clara, até para o mais inocente observador, desde que estourou o escândalo do mensalão, em 2005.

Recorde-se que a campanha eleitoral que levou esse pessoal ao poder incluiu ferozes ataques aos políticos governistas de então, comparados, em uma peça publicitária, a ratos que estavam a roer a bandeira do Brasil. A peça, concebida pelo marqueteiro Duda Mendonça, veio acompanhada de um chamamento dramático aos eleitores: “Ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil. Xô, corrupção. Uma campanha do PT e do povo brasileiro”. Como se sabe, Duda Mendonça confessou mais tarde que o PT pagou por esse e outros serviços com transferências milionárias para contas secretas em paraísos fiscais, coisa típica de quem tem muito a esconder. Era apenas um fiapo do mensalão, que se revelaria um dos maiores escândalos de corrupção da história - só não foi o maior porque, em seguida, viria o petrolão, que dificilmente será destronado.

O PT nunca admitiu a corrupção de seus próceres. Ao contrário, tratou-os como “guerreiros do povo brasileiro”, como se tudo o que se comprovou a respeito dos crimes por eles cometidos fosse mentira. Segundo os petistas, as evidências colhidas contra Lula, Dirceu, Palocci e tantos outros - nada menos que três ex-tesoureiros do partido foram encarcerados - integram uma imensa conspiração das elites para impedir que os pobres tenham uma vida decente - algo que, conforme o evangelho petista, só é possível com a turma de Lula da Silva no poder.

Greve continua e desorganiza as cidades

- Valor Econômico

BRASÍLIA, SÃO PAULO, BELO HORIZONTE E RIO - A greve dos caminhoneiros não havia se encerrado até o fim da noite, aprofundando a desorganização da economia, embora vários trechos de rodovias tenham sido desbloqueados. Há desabastecimento generalizado de combustíveis nos postos de todo o país, aeroportos parados, funcionamento precário de alguns hospitais por falta de insumos e, em várias cidades, cancelamento de aulas nas escolas públicas hoje. Em grupos de WhatsApp, motoristas planejam manter a paralisação até amanhã. Para complicar a situação, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) convocou greve por 72 horas a partir da quarta-feira, reivindicando a redução dos preços dos combustíveis e a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente

Adesão diminui, mas problemas de abastecimento continuam
O fim dos problemas de abastecimento causados pela greve dos caminhoneiros ainda parece distante, embora o governo federal tenha cedido a várias exigências dos líderes do movimento e diversos trechos de rodovias tenham sido desbloqueados nos últimos dias. Em grupos de Whatsapp, os motoristas planejavam continuar com a paralisação até amanhã, pelo menos. Além disso, a normalização da entrega de combustíveis e outros produtos a postos de gasolina e aos varejistas deverá levar dias, semanas ou meses, dependendo do caso mesmo se as entregas começarem a ser regularizadas.

Para complicar um pouco mais a situação, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) convocou uma greve por 72 horas a partir da quarta-feira para reivindicar a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha e a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente.

De acordo com o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), o Estado já teve 13 mil caminhoneiros protestando, número que teria caído para 1,3 mil. Ele ressaltou várias vezes a queda de 90% na mobilização. Informou que havia ontem 46 "interrupções ativas" de vias em São Paulo e 210 operações de escoltas para garantir abastecimento em setores críticos, como medicamentos para hospitais e alimentação para presídios.

Segundo Márcio França, as reivindicações dos caminhoneiros são justas, pois, na ponta do lápis, os custos com combustível, pedágio e manutenção acabam sendo maiores que a remuneração oferecida. "Não há manifestação que dure tanto tempo se não houver justeza", afirmou.

Caminhoneiros seguem com protestos apesar de governo fazer concessões

- Valor Econômico

SÃO PAULO - As manifestações dos caminhoneiros entram no oitavo dia, embora o governo tenha feito novas concessões. Além de São Paulo, há protestos em Alagoas, na Bahia, no Ceará, no Distrito Federal, no Espírito Santo, em Goiás, no Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.

Representantes da categoria tinham dito que os as estradas estariam liberadas com a publicação das medidas no Diário Oficial da União.

Dentre as novas medidas anunciadas, o presidente Michel Temer acertou a redução de R$ 0,46 por litro de óleo diesel, que valerá por 60 dias. Depois desse período de dois meses, os preços serão reajustados a cada 30 dias, informou.

O governo federal concordou ainda em eliminar a cobrança do pedágio dos eixos suspensos dos caminhões e estipular um valor mínimo para o frete rodoviário.

Segundo o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), as reivindicações dos caminhoneiros são justas, pois, na ponta do lápis, os custos com combustível, pedágio e manutenção acabam sendo maiores que a remuneração oferecida. "Não há manifestação que dure tanto tempo se não houver justeza", afirmou.

Efeitos dos protestos
Em razão da falta de combustíveis, continuam os transtornos no transporte público. No Rio de Janeiro, por exemplo, o consórcio Rio Ônibus, sindicato que representa todas as 41 empresas de ônibus que operam no município, informou que deve funcionar com 40% da frota hoje. O BRT Rio, que administra sistema de transporte público por meio de corredores de via rápida, anunciou que, a partir das 4h da segunda-feira, o sistema vai operar com 125 articulados. Esse número corresponde a apenas cerca de 35% da frota total.

Diante da restrição no transporte público, várias universidades cancelaram as aulas nesta segunda-feira. Entre elas, estão a Universidade de São Paulo (USP) e as cinco maiores universidades públicas no Rio — Uerj, UFRJ, UFF, UniRio e UFRRJ.

Também não haverá aula na rede municipal de educação no Rio Na cidade, são 1,537 mil unidades de ensino, com uma rede de 654.949 alunos, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação (SME).

A Infraero apontou ainda que hoje a falta querosene de aviação atinge oito dos 54 aeroportos sob sua administração, mas que, apesar disso, os terminais estão abertos e com condições de receber pousos e decolagens.

Em edição extra do DO, governo publica medidas para cumprir acordo com caminhoneiros

Talita Fernandes , Daniel Carvalho e Mariana Carneiro | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo publicou em edição extra do Diário Oficial da União as três medidas provisórias prometidas pelo presidente Michel Temerem pronunciamento feito mais cedo. Logo após o anúncio do Palácio do Planalto, representantes dos caminhoneiros condicionaram a volta às atividades à publicação das medidas.

A primeira delas reserva 30% do frente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para cooperativas de transportes autônomos, sindicatos e associações de autônomos.

Em outra MP, o governo estende para as estradas estaduais a dispensa de pagamento de pedágio do eixo suspenso de caminhões, uma das principais reivindicações da categoria. Atualmente, o benefício já é válido para as rodovias federais desde 2015.

Por último, foi editado um texto que cria a política de preços mínimos para o transporte de cargas. O tema vinha sendo discutido em projeto do Senado, mas o governo decidiu converter seu conteúdo em MP para dar mais celeridade. As medidas têm validade imediata, mas precisam passar por aprovação da Câmara e do Senado em até 120 dias.

Temer anuncia redução no diesel e preço mínimo de frete

Após dia de reuniões, governo cedeu em negociações com caminhoneiros

Talita Fernandes , Daniel Carvalho e Mariana Carneiro | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após sete dias de protesto em rodovias, cidades desabastecidas e filas quilométricas diante de postos de combustível, o presidente Michel Temer cedeu pela terceira vez aos apelos dos caminhoneiros.

Em pronunciamento no fim da noite de domingo (27), Temer anunciou uma série de concessões que, para serem cumpridas, custarão R$ 10 bilhões aos contribuintes, segundo cálculos do governo.

Após quase 12 horas de reuniões no Planalto, incluindo com representantes da categoria, ficou decidido que o preço do óleo diesel ficará congelado não mais por 15 ou 30 dias, como anunciado na semana passada. Agora, serão 60 dias, prazo menor que os 90 dias que os caminhoneiros exigiam.

Terminados os dois meses, o diesel só será reajustado a cada 30 dias.

O governo vai reduzir o preço em R$ 0,46 por litro nas refinarias e se comprometeu a fazer que este valor chegue às bombas.

Ao todo, foram divulgadas cinco medidas para atender às demandas. O Tesouro terá de ressarcir a Petrobras pelos descontos que serão concedidos e pelo congelamento do preço.

Não foi apontada a origem dos recursos, o que deve ocorrer nesta segunda-feira (28).

"Para chegar a esses R$ 0,46, o governo está assumindo sacrifícios no orçamento e honrará essa diferença de custo sem nenhum prejuízo para a Petrobras", disse Temer em um pronunciamento breve, lido e fechado a perguntas dos jornalistas.

Ao contrário do tom de sexta (25), quando endureceu o discursocontra os grevistas, desta vez o presidente buscou pacificação.

A palavra "sacrifício", por exemplo, não foi usada à toa. Ainda mais acuado, Temer procurou sensibilizar os caminhoneiros a colocarem fim à paralisação, evitando uma nova frustração e demonstrando o impacto orçamentário que as medidas terão.

Durante o domingo, houve novas rodadas de negociações com representantes da categoria —alguns deles presentes também ao acordo anunciado na quinta-feira (24).

Em seu pronunciamento, Temer disse ter assinado três medidas provisórias. A primeira delas isenta a cobrança de pedágio pelo eixo suspenso de caminhões em rodovias municipais, estaduais e federais.

Leia a íntegra do pronunciamento do presidente.

Quero me dirigir a todos os brasileiros, especialmente aos caminhoneiros que há uma semana paralisaram suas atividades. Os efeitos dessa paralisação na vida de cada cidadão me dispensam de citar a importância da missão de cada trabalhador do setor de cargas.

Durante toda essa semana, meu governo sempre esteve aberto ao diálogo e chegamos mesmo a assinar um acordo com lideranças do movimento. Quero aqui confirmar a validade de tudo o que já foi ajustado pelas lideranças com os meus ministros.

Nas últimas 48 horas, ao mesmo tempo em que nos dedicamos a garantir abastecimentos essenciais, seguimos em conversas com líderes do movimento. Avançamos na implantação de muitas medidas, diante da necessidade do movimento de encerrar a paralisação.

Quero me dirigir agora aos caminhoneiros de todo o país para anunciar as principais medidas que adotei:

Primeira medida: o preço do óleo diesel terá uma redução de 46 centavos. E garantiremos que cada caminhoneiro tenha esse resultado na hora de encher o tanque. Essa redução corresponde aos valores do PIS/Cofins e da Cide somados. Para chegar a esses 46 centavos, o governo está assumindo sacrifícios no orçamento e honrará essa diferença de custo, sem nenhum prejuízo para a Petrobras.

Segunda medida: o preço do óleo diesel, já barateado pela redução de 46 centavos, será válido pelos próximos 60 dias. A partir daí, ou seja, daqui a dois meses, só haverá reajustes mensais. Assim, cada caminhoneiro poderá planejar melhor seus custos e o valor do frete.

Terceiro ponto: estou editando uma medida provisória para que seja cumprida em todo o território nacional a isenção da cobrança do eixo suspenso nos pedágios de rodovias federais, estaduais e municipais.

Quarta decisão: assinei uma segunda medida provisória para garantir aos caminhoneiros autônomos 30%, pelo menos, dos fretes da Conab, a Companhia Nacional de Abastecimento.

Quinto ponto: assinei também uma terceira medida provisória estabelecendo a tabela mínima de frete, conforme prevista no projeto de lei 121. Essa decisão foi tomada após diálogo que mantive com o presidente do Senado Federal, senador Eunício Oliveira.

Gostaria de reforçar que as medidas negociadas anteriormente e assinadas pelos ministros e pelas lideranças seguem valendo. Entre elas, apenas para citar uma, está o acordo de que não haverá reoneração da folha de pagamento do setor de transporte rodoviário de carga.

Passei essa semana voltado para atender as reivindicações dos caminhoneiros e preocupado com cada brasileiro e brasileira que enfrentou dificuldades nesses dias. Fizemos nossa parte para atenuar problemas e sofrimentos.

As medidas que acabo de anunciar atendem às reivindicações que nos foram apresentadas. Por isso, quero manifestar a plena confiança no espírito de responsabilidade, de solidariedade e de patriotismo de cada um.

Muito obrigado, boa noite a todos.

Desabastecimento se agrava e Temer cede a novas exigências

• Governo reduz preço do diesel em R$ 0,46 por 60 dias • Eixo suspenso fica isento de cobrança em pedágio Greve fecha fábricas e afeta supermercados •

- O Estado de S. Paulo.

Fizemos nossa parte para atenuar os problemas. As medidas atendem, praticamente, a todas as reivindicações” MICHEL TEMER

Diante do agravamento da paralisação dos caminhoneiros, o presidente Michel Temer fez ontem novas concessões ao movimento grevista. Em pronunciamento, o presidente anunciou a redução do preço do litro do diesel em R$ 0,46 por 60 dias – o novo subsídio custará R$ 13,5 bilhões aos cofres públicos, segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Depois disso, só haverá reajustes mensais. Temer também editou três medidas provisórias. Uma isenta caminhões da cobrança do eixo suspenso nos pedágios de todo o País, outra determina o tabelamento do frete e a terceira garante aos caminhoneiros autônomos 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento. A greve entra hoje na segunda semana sem perspectiva de quando será definitivamente encerrada. Sem lideranças claras, os motoristas seguiam ontem parados nas estradas, levando o País a um quadro de grave desabastecimento. Sem insumos para continuarem funcionando, fábricas fecham as portas e até dão férias coletivas aos funcionários. Alimentos somem das feiras e das prateleiras dos supermercados. Sem ração, milhões de frangos morrem nas granjas. Termoelétricas deixam de funcionar por falta de combustível. Hospitais suspendem cirurgias. Ônibus e táxis deixam de circular. Nos aeroportos, voos seguem sendo cancelados. Para piorar, cresce a preocupação com a ameaça de greve de outras categorias, como os petroleiros, que anunciaram paralisação na quarta.

Com a greve dos caminhoneiros entrando em sua segunda semana, o governo cedeu ainda mais nas exigências. Em pronunciamento feito ontem à noite, o presidente Michel Temer anunciou que o preço do óleo diesel terá uma redução de R$ 0,46 por um período de 60 dias. A partir daí, passará a ter reajustes mensais, elevando a previsibilidade, como pediam os motoristas. Além disso, os fretes passarão a ter um preço mínimo, dependendo da carga transportada.

As medidas são uma tentativa de pôr fim a uma paralisação que vem trazendo o caos para as cidades brasileiras. Mas as negociações têm se mostrado muito difíceis. Sem lideranças claras, os acordos, pelo menos até esse domingo, vinham sendo simplesmente ignorados pelos motoristas parados nas estradas. E, além disso, a cada concessão feita, novas exigências eram apresentadas.

Dessa forma, o que se vê em todo o País é um quadro de grave desabastecimento, que só vai piorar se a greve continuar. Sem receber insumos suficientes para continuarem funcionando, fábricas estão fechando as portas e dando até férias coletivas. Alimentos somem das feiras e das prateleiras dos supermercados. Sem ração, milhões de frangos têm morrido nas granjas. Termoelétricas deixam de funcionar por falta de combustível. Hospitais suspendem cirurgias. Ônibus e táxis deixam de circular.

Além dos caminhoneiros, o governo também se preocupa com outras ameaças: os petroleiros convocaram uma greve para a quarta-feira, e já pretendiam fazer hoje pela manhã uma “mobilização” em todas as unidades da Petrobrás. O Planalto estuda entrar na Justiça com alguma ação para tentar barrar essa paralisação.

Greve fecha 167 fábricas de alimentos no País

Associação de indústrias de carne afirma que perdas com exportações já somam R$ 1,2 bilhão; supermercados estimam prejuízo de R$ 1,3 bilhão

Márcia De Chiara e Fernando Scheller | O Estado de S.Paulo

A greve dos caminhoneiros está causando prejuízos tanto para a indústria quanto para o varejo de alimentos. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), 167 fábricas do segmento em todo o País estão sem funcionar. O problema afeta gigantes como a JBS e a BRF. As exportações que deixaram de ser realizadas durante os sete dias do movimento somam US$ 350 milhões (R$ 1,25 bilhão), aponta a associação. Sem produtos perecíveis para vender, o setor de supermercados estima que o prejuízo dos varejistas no Brasil já supere a marca de R$ 1,3 bilhão, sendo cerca de R$ 400 milhões somente em São Paulo.

A associação das indústrias afirma que, a partir da normalização do transporte no País, serão necessários dois meses para que a distribuição dos produtos seja normalizada. Segundo o superintendente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Carlos Corrêa, cerca de 80% dos varejistas tiveram o abastecimento de itens perecíveis afetado. Hoje, os perecíveis respondem por 36% das vendas dos supermercados. Na conta entram frutas, verduras, legumes, laticínios e carnes in natura.

Além dos prejuízos e das fábricas paradas, as fabricantes de alimentos – que processam bovinos, suínos e aves – também estão sofrendo com a dificuldade para alimentar os animais, uma vez que a paralisação do transporte afeta o acesso a insumos. Por isso, a associação que reúne fabricantes disse que cerca de 1 milhão de aves correm risco de morte. Cerca de 20 milhões de suínos também estariam recebendo alimentação insuficiente.

A entidade disse que 64 milhões de pintinhos e frangos já morreram no País – e a conta só deve aumentar. A ABPA diz que falta espaço nas granjas. “Todos os dias nascem 21 milhões de pintinhos no Brasil – se as unidades não são esvaziadas, não há como criá-los”, diz Ricardo Santin, diretor executivo da ABPA. O executivo diz que a questão é mais grave na Região Sul, líder na produção de aves.

Governo cede a grevistas, mas não evita colapso nos serviços

Temer anuncia pacote que atende a caminhoneiros, incluindo redução do preço do diesel

Houve onda de vaias e panelaços enquanto o presidente Michel Temer falava em rede nacional

Após uma semana de fracassos na crise com os caminhoneiros, que provocou desabastecimento em todo o país, o governo federal voltou a ceder nas negociações. Entre as medidas, estão a redução de R$ 0,46 por litro de diesel, o congelamento do preço por 60 dias e, ao fim do período, estabelecimento de reajustes mensais. Também haverá, por medida provisória, isenção de pagamento de pedágio para eixos suspensos de caminhões vazios. O pacote, que deverá ter um impacto estimado em R$ 10 bilhões, não chegou a tempo de evitar mais transtornos: só na rede municipal do Rio 655 mil alunos ficarão sem aulas hoje.

Meio feriado forçado

Empresas estimam que só 40% dos ônibus vão circular hoje; muitos serviços não funcionarão

Ligia Dias Andrade, Leonardo Sodré e Luiz Ernesto Magalhães | O Globo

A greve dos caminhoneiros, que chega hoje ao oitavo dia, forçará o Rio a viver uma segunda-feira em clima de meio feriado. Após um fim de semana com falta de ônibus nas ruas, os consórcios conseguiram o apoio das forças de segurança para abastecer parte da frota com óleo diesel. Mesmo assim, o dia não será normal. Em princípio, apenas 40% dos ônibus comuns estarão em circulação para atender a quatro milhões de passageiros. O sistema BRT informou que vai operar com 125 coletivos (35% da frota).

O número de ônibus será inferior ao da última sexta-feira, quando 46% dos coletivos rodaram e os moradores da cidade tiveram muita dificuldade para chegar ao trabalho. Mesmo para assegurar esses 40%, ontem à noite ainda havia problemas de logística: nenhuma carreta carregada de combustível tinha chegado às empresas. Só para o consórcio BRT eram aguardados seis caminhões-tanque. No início da noite, os empresários ainda discutiam com autoridades da Segurança Pública como seria a logística de distribuição ao longo da madrugada de hoje.

Com isso, muitos serviços não vão funcionar: as escolas municipais estarão fechadas, assim como boa parte dos colégios particulares e das universidades públicas e privadas. Na Saúde, hospitais da rede pública e particular suspenderam cirurgias que não são de emergência para economizar insumos e dar prioridade aos pacientes internados. A Justiça também anunciou que não haverá expediente. 

POUCOS COLETIVOS, TODOS VAZIOS 
Ontem, apenas 13% dos ônibus circularam durante o dia e 12% à noite, mesmo assim quase sempre vazios. O sistema BRT pôs apenas 56 coletivos em operação, menos de 20% de sua frota. Mas não houve grandes problemas, porque só saiu de casa quem tinha muita necessidade. As estações do BRT ficaram desertas, assim como as praias e outros pontos mais importantes da cidade.

A fiscal de caixa Ana Lúcia Rodrigues do Nascimento saiu mais cedo de casa, em Guaratiba, para trabalhar na Barra. Ao chegar à estação Mato Alto do BRT Transoeste, não precisou esperar muito tempo:

— A dificuldade foi maior para chegar aqui na estação, porque vim de van. Hoje tem menos vans rodando, e, por isso, tive que esperar mais um pouco. O BRT veio até antes do que eu esperava. Vou chegar cedo no trabalho, mas é melhor do que me atrasar. Não sabia como estava a situação e preferir saí cedo para me precaver.

Protestos continuam em 24 estados e no DF mesmo após sindicatos de caminhoneiros recomendarem fim da greve

Rodovia Raposo Tavares é interditada por bloqueio com fogo no sentido São Paulo

- O Globo

SÃO PAULO — No oitavo dia da greve dos caminhoneiros, protestos continuam nas estradas, restringindo a passagem de veículos mesmo após o governo anunciar novas medidas e sindicatos de caminhoneiros recomendarem o fim do movimento. De acordo com o "G1", manifestantes continuavam a mobilização nesta manhã em 24 estados — Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins — e no Distrito Federal.

O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse que desde a madrugada está fazendo apelos, por WhatsApp, à categoria para retomar suas atividades. Ele afirmou que muitos caminhoneiros ainda não estão informados sobre o novo acordo fechado na noite de domingo entre os líderes do movimento e o governo para acabar com a greve.

Em São Paulo, motociclistas bloqueiam o trecho da Rodovia Presidente Dutra que dá acesso à cidade de Caieiras, na Região Metropolitana de São Paulo, informou a "TV Globo". A população do município é de cem mil pessoas. Muitos relatam, em redes sociais, que não conseguem deixar o local.

Um bloqueio feito com fogo interditou completamente o trânsito da Rodovia Raposo Tavares, no sentido São Paulo, no início da manhã desta segunda-feira . A informação é da "TV Globo". O protesto aconteceu na altura do Km 29, na altura de Cotia, na Grande São Paulo, no trecho um pouco antes do Rodoanel. No sentido oposto, o trânsito seguiu sem qualquer impedimento.

Ainda em São Paulo, agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) liberaram dois trechos da Rodovia Presidente Dutra que onde havia bloqueios, informou a "TV Globo". Um deles era na altura de Bonsucesso, em Guarulhos, na Região Metropolitana. Ou outro ficava perto da Rodovia Fernão Dias.

Na segunda semana dos protestos, os impactos nos serviços para a população se ampliaram. Universidades públicas e privadas suspenderam aulas, a Prefeitura do Rio.

Alceu Valença, Geraldo Azevedo: Moça Bonita

Manoel de Barros: O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.