O Globo
O PSDB não é apenas um partido em busca de
um candidato a presidente. Também é uma sigla à procura de um projeto de país.
E parece mais distante de encontrar o discurso que de escolher um dos
postulantes à sucessão de Jair Bolsonaro.
Nas pouco mais de duas horas de debate
promovido pelo Globo e pelo Valor entre os três pré-candidatos sobraram
justificativas para o apoio pretérito a Bolsonaro, críticas entre tímidas (no
caso de Eduardo Leite) e mais enfáticas ao presidente, propaganda das próprias
gestões feitas pelos dois governadores tucanos e alguma nostalgia do passado
glorioso do partido.
Mas e para o futuro? O que propugna a sigla
que por duas décadas se revezou com o PT no comando do Brasil, ajudou a
formular e a implementar o Plano Real, quebrou os monopólios das
telecomunicações e do petróleo, formulou a Lei de Responsabilidade Fiscal,
implementou o Bolsa Escola no plano federal, promoveu a universalização do
ensino fundamental, vendeu a Vale e criou os genéricos, só para ficar em alguns
grandes projetos estruturantes?
Nem Doria nem Leite conseguiram apresentar,
até aqui, a espinha dorsal de qual seu programa para o pós-bolsonarismo.
Se em 1995 Fernando Henrique Cardoso assumiu
tendo o Real como força eleitoral e aproveitando a lua de mel com o eleitorado
para fazer, logo de cara, as reformas econômicas mais difíceis e modelar as
privatizações, agora os postulantes do partido saem de um patamar em que o PSDB
não é sequer uma das principais vozes de oposição.
O partido não consegue nem ao menos se contrapor de forma inequívoca ao bolsonarismo, tanto que, no debate, os pré-candidatos tiveram de enfrentar o constrangimento de admitir que há setores das bancadas que flertam com o apoio ao presidente.