domingo, 24 de julho de 2016

Opinião do dia – Ulysses Guimarães

"Em política, estar com a rua não é o mesmo que estar na rua."


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Ulysses Guimarães (1916-1992)

Volume de ações dificulta meta de Moro na Lava Jato

• Juiz já disse que espera concluir operação até dezembro, mas há 16 processos na fila e Ministério Público Federal deverá oferecer novas denúncias

Valmar Hupsel Filho Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

Se quiser cumprir a meta de encerrar ainda este ano os trabalhos da Operação Lava Jato que estão sob sua responsabilidade, como afirmou recentemente, o juiz titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, terá de triplicar o ritmo de trabalho que imprimiu até agora – que já é considerado célere no meio jurídico. Para isso, Moro teria de decidir sobre 16 ações penais que estão atualmente em curso num prazo de aproximadamente cinco meses, uma vez que o ano do Judiciário se encerra em 19 de dezembro.

Em dois anos e quatro meses de operação – a Lava Jato foi deflagrada em 17 de março de 2014 – o magistrado federal proferiu 20 sentenças; outros sete processos estão suspensos e 12 foram desmembrados. Se mantiver a média de sentenças tomadas até agora, Moro poderá declarar o encerramento de sua participação na Lava Jato somente em 2018.

PT teme delações em série de seus membros

- Coluna do Estadão

A cúpula do PT está preocupada com a possibilidade de as delações premiadas do marqueteiro João Santana e sua mulher Mônica Moura incentivem outros nomes ligados ao partido a romperem o silêncio. O maior temor é que o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto seja o próximo da fila. Preso há um ano e três meses, já disse que se sente abandonado. A lista inclui Paulo Ferreira, outro ex-tesoureiro preso, e Renato Duque, que entregava propina ao partido e iniciou as conversas para delatar. Só José Dirceu não preocupa. É considerado fiel.

Interlocutores do PT dizem que o partido não tem como ajudar seus ex-dirigentes. Está sem dinheiro e acuado. A saída foi abandoná-los à própria sorte.

Com retorno difícil, Dilma quer 'defender biografia' no Senado

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A rotina de trabalho ainda ocupa pelo menos 12 horas do dia de Dilma Rousseff, mas os terninhos e casaquetos presidenciais foram substituídos por roupas de ginástica e vestidos longos, daqueles mais leves e confortáveis.

Desde que foi afastada do cargo de presidente da República, há 73 dias, Dilma foi obrigada a se despir das formalidades de seu antigo gabinete, no terceiro andar do Palácio do Planalto, e transferir seu escritório para a biblioteca do Alvorada, onde recebe diariamente ex-ministros e assessores, como Giles de Azevedo e Jorge Messias, o "Bessias".

Aliados dizem que Dilma continua obcecada pelos detalhes. As broncas e dúvidas minuciosas a cada debate são recorrentes, mas os despachos, garantem, ficaram mais bem humorados e informais.

Quem esteve com a petista recentemente relata que seu objetivo hoje é "apenas defender sua biografia". Ela sabe que sua imagem está desgastada e tem feito contas pessimistas sobre quantos senadores podem rever posição e salvá-la do impeachment.

Parlamentares a visitam semanalmente, mas a micropolítica nunca a interessou.

Desilusão não freia filiações

Desde as últimas eleições municipais, número de filiados cresceu 9% no Brasil

Tâmara Teixeira – O Tempo (MG)

A crise de representatividade que vive o país nos últimos anos não afastou o brasileiro dos partidos, ao contrário do que a princípio poderia se imaginar. Desde junho de 2012, ano da última eleição municipal, o número de filiados no país cresceu 9%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enquanto a evolução do eleitorado no período foi de 4%. Em Belo Horizonte, foi de 4,3% o aumento no número de filiados, e de 3,6% o avanço do eleitorado.

Essa evolução é vista com expectativa pelas legendas. É com esse plantel, que nas últimas eleições tiveram uma participação discreta, que os dirigentes contam para colocar a mão na massa, ou melhor, em bandeiras e santinhos para viabilizar as campanhas.

Os caciques acreditam, ou ao menos esperam, que a militância terá papel fundamental. Este será o primeiro ano em que as doações de empresas estão proibidas, o que, automaticamente, força o barateamento das disputas, eliminando, por exemplo, a contratação de cabos eleitorais, que nos últimos pleitos se tornou uma realidade indiscriminada, como admitem os políticos. O ano de 2016 é visto como o de resgate do trabalho voluntário.

Agora candidato, Osorio critica gestão Paes, da qual participou

• Deputado diz que prefeitura focou apenas em grandes obras

Fernanda Krakovics - O Globo

Depois de fazer parte da atual administração municipal por quatro anos, como secretário de Conservação e de Transportes, o deputado estadual Osorio (PSDB), oficializado ontem candidato à prefeitura do Rio, criticou a gestão Eduardo Paes (PMDB) por supostamente focar em grandes obras e deixar o atendimento à população em segundo plano.

— Em vez de focar apenas em obras gigantescas, vamos voltar a cuidar dos bairros, das comunidades e das pessoas — disse ele.

Perguntado sobre sua participação na gestão de Paes, Osorio elogiou os primeiros quatro anos da administração, período do qual participou:

— Temos que fazer uma distinção entre a primeira administração do prefeito Eduardo Paes, que trouxe muitos avanços, foi bem avaliada pelos cariocas, e a segunda administração, que focou única e exclusivamente no projeto pessoal do prefeito, de querer ser o único dono dos Jogos Olímpicos para projetar o futuro da sua carreira política.

Sem espaço no PMDB para disputar a prefeitura, Osorio migrou para o PSDB em fevereiro. O PMDB lançou o deputado federal Pedro Paulo como candidato a prefeito.

No ano passado, Osorio ocupou a Secretaria estadual de Transportes no governo Luiz Fernando Pezão (PMDB), do mesmo grupo político de Paes.

— O Rio tem que ter menos cimento e mais sentimento — disse ele, ontem. Convenção. Osorio disputará prefeitura do Rio

Flávio Bolsonaro disputará prefeitura

• Ele disse que o pai, Jair Bolsonaro, réu por incitar estupro, é ‘norte na política’

- O Globo

O PSC aprovou, em convenção ontem, o nome do deputado estadual Flávio Bolsonaro para disputar o cargo de prefeito do Rio nas eleições de outubro. Em seu discurso, ele disse que seu pai, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que estava presente, é seu “norte na política”.

Jair Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal por incitação ao crime de estupro. Ele disse que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merecia". Ele também é alvo de processo por quebra de decoro, no Conselho de Ética da Câmara, por ter enaltecido o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel chefe do DOI-CODI de São Paulo durante a ditadura militar, ao votar a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

— Se vocês acreditam em mim, podem acreditar no meu filho, porque ele é muito melhor do que eu — disse Jair Bolsonaro para a militância.

Flávio Bolsonaro defendeu mais investimentos em saúde e educação, combate à corrupção e utilização da guarda municipal como prevenção na segurança pública.

— Estou no quarto mandato de deputado estadual; sou advogado, empresário. Tenho experiência administrativa e política para saber onde os poucos recursos do município têm que ser investidos — disse ele.

Uma cidade à mercê da crise do aço

• Em Volta Redonda, foram cortados 3,9 mil postos de trabalho até maio

Vinicius Neder Enviado Especial a Volta Redonda – O Estado de S. Paulo

Em meio à recessão, a crise da indústria do aço atingiu em cheio a economia da região onde ela nasceu, no Médio Paraíba, sul do Estado do Rio. Um retrato disso pode ser visto no Cine 9 de Abril, em Volta Redonda, maior cidade da região, com 263 mil habitantes. As escadas que dão acesso à sala ficam sob um vão sustentado por pilotis, numa clássica construção da década de 50, auge dos cinemas de rua. Na quinta-feira, o abrigo da chuva e do sol atraía um grupo de trabalhadores em busca de emprego. O número de desempregados por ali pode chegar a dezenas em alguns dias, segundo Eli de Souza Fernandes, aposentado cuja esposa dirige o restaurante no mezanino do cinema.

Desempregados não faltam. De janeiro a maio, foram fechadas 7 mil vagas de emprego formal nas cidades da região, segundo dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Setenta anos após a inauguração da Usina Presidente Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a dependência da indústria do aço segue relevante na região. Em Volta Redonda foram cortados 3,9 mil postos de trabalho até maio, 41% deles nas atividades de siderurgia e metalurgia, segundo dados levantados pelo Observatório de Estudos do Rio de Janeiro da UFRJ.

De janeiro a junho, a CSN cortou 757 postos na usina de Volta Redonda – reflexo da situação financeira da companhia, que saiu de um lucro de R$ 1,6 bilhão no ano passado para um prejuízo de R$ 831 milhões no primeiro trimestre deste ano.

Depois de sete anos na CSN, o técnico em eletroeletrônica Evanyr Rodrigues Ferreira, de 26 anos, pediu para ser incluído no corte mais recente. Já estava sem motivação. “E se a gente trabalha desmotivado, o risco de acidente é maior.”

O peso dessa indústria na economia local amplia o efeito cascata. Sozinha, a usina da CSN emprega cerca de 10 mil funcionários diretos e outros 7 mil em terceirizadas. O economista Mauro Osório, do Observatório de Estudos do Rio de Janeiro da UFRJ, destaca que um dos problemas da economia fluminense é a pouca densidade das cadeias. “A estrutura produtiva do Rio é oca”, diz Osório.

O Médio Paraíba ilustra isso. A região sedia usinas siderúrgicas, que produzem aço bruto, e, mais recentemente, um polo automotivo, que usa o aço acabado para produzir caminhões e carros, mas tem poucas fábricas de produtos como latas e tampas, produtos de aço de maior valor agregado, em geral produzidos em São Paulo.

A Prefeitura de Volta Redonda tem um projeto de construir um condomínio industrial dedicado à cadeia do aço num terreno que pertence à CSN. A ideia é a empresa alugar ou vender as áreas, a Prefeitura construir a infraestrutura e o governo estadual dar incentivos tributários, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Jessé de Hollanda Cordeiro Jr.

O efeito cascata se mostra tanto na queda da demanda da indústria por serviços e obras quanto no tombo do consumo das famílias no comércio. A CSN informa que investiu cerca de R$ 900 milhões em modernização nos últimos cinco anos. No momento, está apenas reformando a área de coqueria e, na quinta-feira, iniciou a reforma do alto-forno parado, que custará R$ 80 milhões e gerará 800 empregos.

O número parece insuficiente para os trabalhadores que se encontram no Cine 9 de Abril. No Médio Paraíba, foram fechadas 579 vagas na instalação de máquinas e equipamentos industriais, 525 em Volta Redonda.

PT e PSDB lutam para obter recursos em SP

• Doações a Haddad são só R$ 60 mil; Doria foi forçado a desfazer estrutura

Sérgio Roxo e Silvia Amorim - O Globo

Mesmo com o maior teto de gastos para a campanha eleitoral deste ano, PT e PSDB vêm enfrentando dificuldade de arrecadação para as campanhas em São Paulo. Os partidos estimam que conseguirão apenas R$ 20 milhões cada um, menos da metade dos R$ 45 milhões fixados como limite pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O PT só conseguiu R$ 60 mil até agora para a campanha à reeleição do prefeito Fernando Haddad. O empresário João Doria (PSDB), por sua vez, está apostando na rede de amigos na iniciativa privada para angariar fundos. A falta de dinheiro obrigou as duas candidaturas a mudarem o responsável pelo marketing às vésperas do início da campanha.

Os petistas davam como certa a contratação de Chico Mendez para coordenar a comunicação, mas não houve acordo. O partido, então, acertou, semana passada, com Angela Chaves, ex-secretária de Publicidade do governo do ex-presidente Lula.

Sem poder recorrer a doações de empresas, o PT quer buscar contribuições pela internet, inspirado na “vaquinha” promovida pela presidente afastada, Dilma Rousseff, que lhe permitiu arrecadar R$ 773 mil para pagar suas viagens pelo país. Haddad e seus aliados também têm feito pequenas reuniões com grupos de simpatizantes e, ao final desses encontros, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), tesoureiro da campanha, pede doações.

Uma outra preocupação dos petistas é evitar escândalos relacionados aos gastos da campanha. O partido é acusado na Lava-Jato de ter se beneficiado de dinheiro de propina para financiar as suas campanhas.

— Vai ser uma eleição muito mais barata e feita em moldes diametralmente opostos aos anteriores. Vai haver um comitê de ética e estrutura de auditoria interna — afirmou Teixeira.

A campanha de Haddad também espera contar com recursos do Diretório Nacional do PT para fechar as contas.

Já o PSDB detectou, após sondagem prévia a potenciais doadores nas últimas semanas, que os orçamentos estavam acima da expectativa de arrecadação e desfez toda a estrutura de campanha que estava acertada (marqueteiro, produtora de vídeo e gráfica).

O PSDB estava, inicialmente, trabalhando com um orçamento um pouco maior, mas a dificuldade de arrecadar recursos obrigou a troca por uma estrutura mais enxuta. A busca de recursos se dará em duas frentes. Uma será conduzida pelo partido junto a empresários simpatizantes de longa data da legenda. Está proibida a doação por empresas, mas pessoas físicas podem contribuir. A outra frente será tocada por Doria junto a amigos e conhecidos, a maioria empresários.

Doria tem usado o orçamento minguado como discurso de campanha:

— Será uma eleição com poucos recursos e muita economia, como se faz no setor privado. O tempo de marqueteiros e fornecedores que ficavam milionários com campanhas acabou. A farra acabou — afirmou.

Construindo a nossa paz - Michel Temer

- Folha de S. Paulo

"Se o desenvolvimento é o novo nome da paz, quem não deseja trabalhar para ele com todas as forças?"

O notável papa Paulo 6º encerrou assim a histórica carta encíclica "Populorum Progressio", em 1967, que tratou do desenvolvimento dos povos. Essa é a inspiração para as ações do governo neste momento de grandes dificuldades pelas quais passa o país.

Resgatar o crescimento e libertar da miséria milhões de brasileiros é a alternativa mais viável para cumprirmos o preceito estabelecido no artigo primeiro de nossa Carta Magna, que elege como fundamentos do Estado democrático de Direito, entre outros, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

Questões não respondidas ofuscam o futuro - Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

Não foi somente a vitória de Rodrigo Maia na Câmara ou as pesquisas que, na última semana, mostraram que mais da metade dos brasileiros mostram-se favoráveis à finalização do impedimento de Dilma Rousseff. Foi isso, e mais um pouco.

O governo interino de Michel Temer começou a soldar suas partes e já não é tão combatido como antes. A eleição do novo presidente da Câmara – nascida de uma articulação política não fisiológica – deu ao governo uma oportunidade para se mexer com maior desenvoltura no Congresso. A frente contra o “golpe” continua ativa, mas já não exibe a mesma força de antes. Buscou-se reforçá-lo com os slogans “Fora, Temer” e “não reconheço governo golpista”, que não animaram a vida política. Sem ter a seu favor análises realistas que dessem consistência e credibilidade à ideia mesma de “golpe”, o movimento foi-se curvando aos dados duros da política, à vida cotidiana e aos novos problemas da agenda nacional, que magnetizam as lideranças. Hoje, salvo melhor juízo, os slogans “antigolpe” servem mais como música de fundo para atos localizados de protesto e reivindicação.

O próprio PT já não se empenha tanto. Continua a denunciar o “golpe” mais por dever de ofício que por convicção. Chegou mesmo a apoiar a eleição de Rodrigo Maia, que até ontem seria um dos líderes da “conspiração golpista”.

O jogo de aprender - Fernando Gabeira

- O Globo

Esporte amador seguirá à míngua no país. Nesta semana, li um artigo da colunista Sally Jenkins, do “Washington Post”, afirmando que o Rio não está pronto para os Jogos Olímpicos e a culpa é do Comitê Olímpico Internacional, o COI. Ela cita os mesmos problemas de violência, poluição, crise econômica e acrescenta um que não estava tanto no meu radar: a superbactéria encontrada nas praias de Copacabana. Conhecida na intimidade científica como KPC, a superbactéria foi encontrada em cinco praias da Zona Sul. Os pesquisadores da UFRJ, no entanto, após a descoberta, afirmaram que não havia razões para alarme.

Todos os problemas apontados por ela me levaram a uma conclusão diferente: a culpa é dos líderes brasileiros que optaram pela Olimpíada no Rio. Mas a colunista do “Washington Post” tem razão ao afirmar que o COI vacilou e é responsável pela aventura de milhares de turistas que virão ao Rio ver os Jogos. Por baixo de tudo, afirma ela, estão milhões de dólares que o negócio produz. Como um simples atleta amador, os Jogos já estão mudando minha vida cotidiana. O trânsito está bastante lento. Na Lagoa Rodrigo de Freitas um longo trecho foi interditado aos ciclistas e corredores.

Com atentados, EI tenta ocultar fracasso em criar estado hegemônico – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Vivemos um momento particularmente violento e que, ao mesmo tempo, parece indicar o fim de uma época de relativa estabilidade e o começo de outra simplesmente imprevisível.

Isso se deve, entre outros fatores, creio eu, à globalização da informação, em função da qual todos nós vivemos tudo ao mesmo tempo.

Se esse conhecimento instantâneo de tudo que ocorre em todos os pontos do planeta nos aproxima a todos, por outro lado, certas manifestações de revolta, que desbordam para a violência, passam a ser imitadas e, assim, se alastram, sem controle por todos os continentes e países.

Esse é um exemplo das consequências provocadas por essa possibilidade de comunicação planetária. Mas há outros, e um deles é a cooptação de jovens por grupos terroristas que os induzem à prática de atentados dos quais resultam a morte, muitas vezes, de dezenas e até centenas de pessoas.

Reta final - Merval Pereira

- O Globo

Os procuradores de Curitiba estão analisando, há 15 dias, os depoimentos por escrito de 35 executivos da empreiteira Odebrecht, inclusive o do presidente Marcelo Odebrecht, e os liberarão para homologação parceladamente. Eles estão analisando cerca de mil páginas datilografadas, e toda sexta-feira chamam alguns dos delatores para confirmar informações e tirar dúvidas.

Na sexta passada, o juiz Sérgio Moro homologou os acordos de delação premiada dos empresários Vinícius Veiga Borin, Luiz Augusto França e Marco Pereira de Sousa Bilinski, sócios em uma empresa de consultoria que, segundo as investigações da Operação Lava-Jato, era usada para movimentar contas de offshores da Odebrecht no exterior.

Eles calculam que até o final do mês todas as delações estarão checadas e aprovadas. O conjunto das delações implicará tanto o ex-presidente Lula quanto a presidente afastada, Dilma Rousseff, mas pegará também líderes da oposição como o senador Aécio Neves e dezenas de deputados e senadores.

Quando setembro vier - Dora Kramer

• Se efetivado, Temer falará ao País sobre passado recente, o presente e futuro do governo

- O Estado de S. Paulo

No dia seguinte à aprovação do impeachment de Dilma Rousseff - com 60 votos dos 81 senadores nas contas do governo - Michel Temer fará um pronunciamento à nação cujo esboço já se desenha em três temas: balanço sobre a situação que encontrou, o apanhado das ações executadas na interinidade e um conjunto de diretrizes para os próximos dois anos e meio.

“Não vou falar em herança maldita ou coisa parecida, como fizeram”, diz Temer, acentuando propositadamente a ocultação dos sujeitos na frase, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, a fim de destacar o caráter institucional da declaração.

Atento às formalidades, Temer não senta, não despacha nem recebe pessoas na mesa presidencial, localizada a cinco passos de distância. Um móvel redondo de 12 lugares para reuniões. Só vai trocá-lo pelo assento presidencial quando, e se, o Senado confirmá-lo no cargo.

Por que democracias fracassam - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

"Democracy for Realists", de Christopher Achen (Princeton) e Larry Bartels (Vanderbilt), é um livro importante. Os autores basicamente destroem nossas mais caras ideias sobre a democracia. E o fazem com a força de evidências.

O livro começa detonando o que os autores chamam de teoria popular da democracia. É a noção de que o indivíduo, na hora de votar, faz escolhas conscientes entre as várias propostas apresentadas pelos candidatos. Para Achen e Bartels, isso é muito mais religião do que ciência.

Uma luta que não é deles: Os estudantes e a greve na USP - José de Souza Martins

- O Estado de S. Paulo

A notícia do fim da greve dos funcionários da USP veio com uma ressalva. A de que poderá ser retomada após o término das férias do calendário escolar. Para quem, como eu, cresceu dentro de uma fábrica e presenciou a greve dos 300 mil, em 1957, soa estranho que alguém pare para descansar da paralisação e a ela retornar após o merecido descanso.

As greves universitárias do período pós-ditatorial fluem no cenário adverso da peculiar impotência do paredismo de classe média. Não incidem sobre atividades produtivas. Nenhuma riqueza deixa de ser criada, ninguém lamentará que alunos deixem de estudar, funcionários deixem de funcionar, professores deixem de ensinar. As perdas são invisíveis. Quem se importará com os enormes danos que bibliotecas fechadas durante meses causam a estudantes de pós-graduação que tem teses para concluir e prazos rígidos para cumprir na Universidade e nas agências de fomento que lhes concedem bolsas de estudo? Prazos que a greve não modificará. Em nossa cultura alienada, que de vários modos valoriza a ignorância, estudar não é necessariamente um bem. Para muitos é um castigo. Concretamente, ninguém perde com paralisações em setores que não produzem diretamente mais-valia, para irmos ao vocabulário que dá sentido às verdadeiras greves, as fabris. Ao contrário, são setores que vivem à custa de uma parcela da distribuição da mais-valia extorquida dos trabalhadores do setor produtivo.

Governo ambíguo - Míriam Leitão

- O Globo

Governo Temer tem reformas a prazo e aumento de gastos à vista A marca do governo Temer é a ambiguidade. Ele fala em ajuste e amplia gastos. Acusa o governo Dilma de ter sido gastador e provocado o rombo e solta uma nota dizendo que na administração da presidente afastada houve queda das despesas com salários de funcionários em proporção ao PIB. Anuncia como meta fiscal uma cifra astronômica e mesmo assim precisa recorrer à reserva de emergência.

O pouco crédito que começa a ser dado ao governo pode se estiolar em breve. Basta que alguém grite que o rei está nu. O frágil aumento da confiança se deve menos ao presidente interino e mais ao afastamento de Dilma. É fruto do alívio de um bode sair de uma sala cheia. Como a presidente afastada cometeu uma série de absurdos econômicos e fiscais e levou o país à pior recessão da sua história, qualquer sucedâneo parecia melhor. No segundo momento, é inevitável constatar que o governo Temer não tem compromisso com a estabilidade fiscal, mesmo tendo em sua equipe pessoas cuja marca é a responsabilidade com as contas públicas.

Copom sugere que formação de expectativas voltou a ter papel central – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Na semana passada, houve a primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central após a troca de guarda na presidência da instituição, de Alexandre Tombini por Ilan Goldfajn.

Depois da reunião, na quarta-feira (20) às 18h, a assessoria de imprensa do BC divulgou o comunicado com a decisão.

O comunicado, bem mais longo do que normalmente, estabeleceu os parâmetros que pautarão a política monetária do BC liderado por Goldfajn.

Reconhece que há sinais de estabilização da atividade com elevado nível de ociosidade e nota a enorme incerteza em relação ao cenário de recuperação da economia internacional.

Em seguida, em dois parágrafos, trata dos elementos-chave para a tomada de decisão de política monetária. Primeiro, lembra que as expectativas inflacionárias dadas pela pesquisa Focus, conduzida pelo BC com agentes do mercado financeiro, indicam que a inflação esperada para 2017 encontra-se acima da meta.

Da UTI à competição, um roteiro longo e difícil - Rolf Kuntz

• Depois de ajeitar as contas públicas, faltará reconstruir o governo e a economia devastada

- O Estado de S. Paulo

O primeiro e mais urgente desafio para o governo é tirar o País da UTI, mandá-lo para a recuperação e divulgar boletins animadores e críveis sobre a melhora de suas condições fiscais. Se tudo andar bem, lá por 2019 ou 2020 haverá sinais de controle da dívida pública. Será um trabalho politicamente complicado, mas o roteiro é mais ou menos conhecido. Será preciso, contudo, ir muito além do tratamento intensivo e da reabilitação inicial. Governo e setor privado terão de repor o Brasil em condições de competir no mercado internacional e de crescer em ritmo parecido com os de outros emergentes – na faixa de 4% a 6% ao ano, somente para reconquistar algumas posições. Falta saber como cuidar dessa parte: essa é, neste momento, a área mais obscura da política econômica. Será como reinventar o País, depois de muitos anos de equívocos e de ampla deterioração da capacidade de crescimento.

A máquina das mentiras da Sete Brasil - Elio Gaspari

- O Globo

Desde o final de 2014 sabe-se que a Sete Brasil, empresa que forneceria 29 sondas à Petrobras, era uma fabricação duvidosa na origem, anacrônica nos meios e perdulária nos fins. Ideia do petrogatuno Pedro Barusco, produziria equipamentos caros, porém nacionais.

Lula meteu no negócio de R$ 28 bilhões os fundos estatais (Previ, Petros e Funcef, mais as arcas do FGTS) e atraiu os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander. As coisas só iriam bem se o BNDES financiasse R$ 8,8 bilhões, mas o banco sentiu o cheiro de queimado e retraiu-se. Micou a Caixa Econômica, com R$ 700 milhões.

Até aí há apenas mais uma petrorroubalheira. No caso da Sete houve mais. Construiu-se uma catedral de patranhas indicativa de que, apesar da Lava-Jato, ainda há gente jogando com a boa-fé do público e as ilusões do mercado. Ao longo de dois anos, repetiu-se que o problema seria resolvido pelo BNDES. Fechada essa porta, tudo seria acertado com um redimensionamento do contrato pela Petrobras. Era tudo fantasia, e a empresa marchava para a recuperação judicial.

Antes tarde do que nunca – Editorial / O Estado de S. Paulo

A imagem pública dos parlamentares brasileiros e dos políticos em geral nunca foi exatamente positiva e piorou muito a partir dos escândalos revelados pela Operação Lava Jato e congêneres. Deputados e senadores consideram-se perseguidos e injustiçados pelo estigma da corrupção e não se conformam, muitos com razão, com a generalização dessas acusações. Esse sentimento majoritário de repulsa dos brasileiros aos desvios de conduta de seus representantes no Congresso Nacional está hoje tão enraizado que certamente levará um bom tempo para mudar a partir do instante em que houver razões para tanto.

Mas aos deputados, em particular, está sendo oferecida uma excelente oportunidade de acelerar o processo de reconquista do apoio e respeito populares: a discussão do pacote de medidas contra a corrupção. Ele está travado há mais de um ano na Câmara e agora o novo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anuncia que quer vê-lo aprovado até 9 de dezembro, Dia do Combate à Corrupção.

Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito – Editorial / O Globo

• Os alunos de renda mais alta conseguem ocupar a maior parte das vagas nos estabelecimentos públicos, enquanto aos pobres restam as faculdades pagas

Numa abordagem mais ampla dos efeitos da maior crise fiscal de que se tem notícia na história republicana do país, em qualquer discussão sobre alternativas a lógica aconselha a que se busquem opções para financiar serviços prestados pelo Estado. Considerando-se que a principal fórmula usada desde o início da redemocratização, em 1985, para irrigar o Tesouro — a criação e aumento de impostos — é uma via esgotada.

Mesmo quando a economia vier a se recuperar, será necessário reformar o próprio Estado, diante da impossibilidade de se manter uma carga tributária nos píncaros de mais de 35% do PIB, o índice mais elevado entre economias emergentes, comparável ao de países desenvolvidos, em que os serviços públicos são de boa qualidade. Ao contrário dos do Brasil.

Laboratório eleitoral – Editorial / Folha de S. Paulo

Com início legal marcado somente para o dia 16 de agosto, a disputa eleitoral pelas prefeituras já começa a ganhar corpo à medida que os principais candidatos têm confirmadas suas postulações.

Em São Paulo, por exemplo, PRB, PSOL, PT e PSDB lançam os nomes que pretendem levar ao comando da maior cidade brasileira: Celso Russomanno, Luiza Erundina, Fernando Haddad e João Doria, respectivamente. No próximo sábado (30), será a vez do PMDB, com Marta Suplicy.

Além disso, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou na última quarta-feira (20) os valores máximos que poderão ser gastos pelas campanhas. Os tetos variam de R$ 45,4 milhões, no caso da capital paulista, a R$ 108 mil, para os quase 4.000 municípios com menos de 10 mil eleitores.

A esses limites, uma novidade desta eleição, se acrescentam outras regras aprovadas em 2015: o veto a doações de empresas privadas (restrição imposta antes pelo Supremo Tribunal Federal), a diminuição do período de campanha (de 90 dias para 45) e a redução do horário eleitoral na TV (de 45 dias para 35), entre outras medidas.

Sentimento do tempo – Paulo Mendes Campos

Os sapatos envelheceram depois de usados
Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados
E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.
As coisas estavam mortas, muito mortas,
Mas a vida tem outras portas, muitas portas.
Na terra, três ossos repousavam
Mas há imagens que não podia explicar: me ultrapassavam.
As lágrimas correndo podiam incomodar
Mas ninguém sabe dizer por que deve passar
Como um afogado entre as correntes do mar.
Ninguém sabe dizer por que o eco embrulha a voz
Quando somos crianças e ele corre atrás de nós.
Fizeram muitas vezes minha fotografia
Mas meus pais não souberam impedir
Que o sorriso se mudasse em zombaria
Sempre foi assim: vejo um quarto escuro
Onde só existe a cal de um muro.
Costumo ver nos guindastes do porto
O esqueleto funesto de outro mundo morto
Mas não sei ver coisas mais simples como a água.
Fugi e encontrei a cruz do assassinado
Mas quando voltei, como se não houvesse voltado,
Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.
Meus pássaros caíam sem sentidos.
No olhar do gato passavam muitas horas
Mas não entendia o tempo àquele tempo como agora.
Não sabia que o tempo cava na face
Um caminho escuro, onde a formiga passe
Lutando com a folha.
O tempo é meu disfarce.

Domingo azul no mar - Oscar Castro Neves e Leila Pinheiro