terça-feira, 31 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

O impacto da fala desastrada de Lula nos juros

O Globo

Descompromisso com as metas fiscais revelado pelo presidente dificulta a missão do Banco Central

A penúltima reunião de 2023 do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) começa amanhã com o mercado num clima de dúvida. O encontro acontece quatro dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter declarado que a meta fiscal de 2024 dificilmente será zero. Ao ser questionado hoje sobre o tema, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou seu compromisso com a meta assumida pelo governo: “Minha meta está estabelecida: vou buscar o equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias para que tenhamos um país melhor”.

A declaração desastrada de Lula vai além de desautorizar publicamente quem ele próprio escolheu para cuidar da economia. Lula volta a agir como se fosse um comentarista econômico, não um ator com poder de influenciar expectativas do mercado. Com isso, só contribui para dificultar o desafio do BC. Haddad tentou aliviar o clima, e a maioria dos analistas acredita que o BC cortará os juros em meio ponto percentual (para 12,25%). Mas cresceu a dúvida sobre quando terminará o ciclo de queda iniciado em agosto.

Defender a democracia, combater desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável

Cidadania - Resolução política:

O governo eleito em outubro passado, pelo esforço e cooperação de uma ampla frente política e partidária, está perto de completar um ano de exercício. É tempo de proceder a um balanço de suas ações, para identificar os ganhos obtidos, as dificuldades encontradas e as tarefas necessárias para a realização plena da agenda programática que unifica as forças democráticas no país.

A questão política central, que ainda domina a conjuntura, no Brasil e no mundo, é o embate entre as forças políticas democráticas e o autoritarismo, que aqui foram derrotadas na eleição de 2022 e na tentativa de golpe de 8 de janeiro, cujo fracasso teve como consequência o desbaratamento do grupo golpista, além do alinhamento dos Poderes da República em torno da defesa do Estado de direito democrático.

Está em curso o julgamento dos envolvidos diretamente nesse episódio, condenando-os a severas penas; a Comissão parlamentar Mista de Inquérito que investigou aqueles acontecimentos concluiu seu trabalho e indiciou 61 pessoas, entre as quais o ex-presidente Jair Bolsonaro, oito generais e um almirante, por participação, conivência ou omissão diante dos fatos. Seu relatório já foi incluindo no inquérito que investiga a tentativa de golpe.

No entanto, as forças políticas autoritárias mantêm sua força na opinião pública nacional, com suas lideranças à frente de governos estaduais e nas duas Casas do Congresso Nacional. A presença da extrema-direita na vida política nacional é resiliente e uma variável perene do processo político, com a qual teremos que lidar.

Merval Pereira – Desentrosado

O Globo

Quem acredita que a opinião de Haddad tem importância, quando Lula diz que deficit zero não é necessário?

A tentativa de aparentar entrosamento entre o que disse o presidente Lula sobre a desnecessidade de zerar o déficit fiscal e a meta que persegue o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, só piorou a situação, com consequências óbvias no mercado financeiro. Muita ingenuidade do ministro ao tentar desviar do assunto na apresentação de novos diretores do Banco Central. Era evidente que o interesse geral seria saber como andava a relação dele com o presidente.

O máximo que Haddad conseguiu dizer é que sua meta estava mantida: déficit zero. Mas, se Lula acha desnecessário, quem acredita que a opinião de Haddad tem importância? Lula diz que é a “ganância do mercado” que fixa a necessidade de zerar o déficit, mas demonstra ignorância ao dizer isso. O mercado financeiro é essencialmente, acreditam os economistas liberais, um instrumento democrático como transmissor das expectativas da opinião pública. Nem mesmo o capitalismo de Estado da China, que não se pode classificar de país democrático como entendemos aqui no Ocidente, prescinde do mercado financeiro. Por pragmatismo.

Míriam Leitão - O déficit zero e os tropeços

O Globo

Haddad tentou justificar a fala de Lula, mas, sobre economia, presidentes não improvisam e não deixam dúvidas no ar

Um Fernando Haddad irreconhecível chegou na entrevista coletiva de ontem. “Querida, faça o seu trabalho”, disse a uma jornalista que estava fazendo o seu trabalho. O ministro passaria os 30 minutos da entrevista tentando fugir da pergunta sobre a fala do presidente Lula de que a meta fiscal não será zero. Ele se referiu a vários problemas existentes, a um que tem solução já encaminhada, e os transformou nos motivos pelos quais Lula disse o que disse. Na verdade, Lula criou um problema ao declarar que a meta não seria zero. Eles podem ter superado esse mal-estar, mas a explicação de Haddad não convenceu.

Haddad escolheu um caminho árduo e tem travado um combate duro para corrigir distorções tributárias, fechar brechas pelas quais as empresas deixam de pagar impostos, propor suspensão de benefícios fiscais inaceitáveis. E desta forma ir aumentando a arrecadação, sem ter que simplesmente elevar a alíquota dos impostos.

Luiz Carlos Azedo - Um tiro abaixo da linha d’água no deficit zero

Correio Braziliense

A ambiguidade criada por Lula não contribui para o sucesso da política econômica. O pior dos mundos será uma coalizão do Centrão com o PT para anabolizar as emendas parlamentares

Se a vida do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já era dura com a meta de deficit zero, ficou mais difícil depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu mão desse objetivo, jogando a toalha antes mesmo de começar o segundo tempo, porque essa meta era para 2024. Foi um tiro abaixo da linha d’água na blindagem da política econômica, cujo rombo Haddad tentou tapar, ontem, em entrevista coletiva, sem sucesso, porque não pode desdizer o presidente da República nem prometer o que ainda depende de o Congresso aprovar.

Haddad evitou responder sobre uma nova projeção da meta fiscal para 2024. Nos bastidores, a equipe econômica agora trabalha para conter o deficit entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Haddad minimizou o desgaste da equipe econômica, tentou responder, mas o maior problema são as interrogações que continuam abertas ao mercado. “A minha meta está mantida”, disse Haddad. Esqueceu ou não quis falar sobre deficit zero, disse apenas que pretende antecipar medidas previstas para 2024 para buscar o equilíbrio fiscal.

Carlos Andreazza – Fazuele

O Globo

Lula decretou a inviabilidade da meta fiscal. Decretada também a inviabilidade do arcabouço fiscal. Sem surpresas.

O presidente foi até comedido ao decretar a inviabilidade da meta fiscal:

— O que eu quero dizer é que nós dificilmente chegaremos à meta zero.

Dificilmente não será robusto o rombo. Decretada também a inviabilidade do arcabouço fiscal. Nenhuma novidade. Formulação para voo curto; como próprio a uma conta que não fecha. Nunca fecharia, se impossível a materialização da sanha arrecadatória. Incompreensível a surpresa. Boa parte da perplexidade com a franqueza de Lula derivada de desinformação sobre o projeto político eleito em 2022.

A democracia venceu e não é barata, conforme explicita o ritmo do Lirão-Express no Parlamento. Pagou, levou. Entregou, votou. Base em construção permanente. Base que, por movediça, estabilidade não oferece. Base que base não é. Que ganhou a Caixa e seu alcance. Em troca de votar medidas arrecadatórias. E que quer o banco — o Planalto prometeu — com porteira fechada; com a vice-presidência que cuida do Minha Casa, Minha Vida. Minha Caixa, Minha Lira, segundo o urbanista Washington Fajardo.

Eliane Cantanhêde = A culpa é sempre dos outros

O Estado de S. Paulo

Haddad sentiu o golpe, mas não deu o braço a torcer e culpou STF e Congresso

Nem parecia o mesmo Fernando Haddad. Ar cansado, contrariado, impaciente e, enfim, mal-humorado, o ministro da Fazenda disse a jornalistas que prometeu déficit zero em 2024, mas sabe-se lá se vai cumprir. E não concordou nem discordou do chefe Lula, que lhe passou uma rasteira e anunciou o fracasso da promessa antes de discutir com ele os vários ângulos de uma questão tão sensível. Pior: no fim do ano, com Haddad correndo contra o tempo para aprovar suas pautas no Congresso.

Sem ter como atacar o presidente, contar a verdade e apontar o dedo para o chefe da Casa Civil, Rui Costa, Haddad descarregou a culpa – ou a raiva? – no Congresso e no Supremo. Segundo ele, não foi Lula quem sabotou o País, foram os dois outros Poderes, que, desde 2017, vêm insuflando privilégios para empresas e secando a arrecadação federal.

Marli Olmos - Nem tudo vai mal na Argentina

Valor Econômico

Multinacionais planejaram fazer de Brasil e Argentina uma estrutura única de manufatura, mas a lógica industrial foi muitas vezes atropelada por crises e caprichos políticos

Há poucos dias, o presidente da Renault do Brasil, Ricardo Gondo, mostrou estar ansioso pelo início das vendas no Brasil de um veículo produzido na Argentina. O Kangoo, um modelo multiuso fabricado em Córdoba, será vendido no mercado brasileiro a partir do próximo ano. Essa importação facilitará o movimento no sentido contrário: o envio, para o mercado argentino, de carros produzidos pela Renault na fábrica do Paraná. A exportação a partir do Brasil ficou prejudicada nos últimos dias, segundo Gondo, pela escassez de divisas no país vizinho.

Há quatro meses começou, também em Córdoba, a produção experimental da Volkswagen Caminhões e Ônibus. A montadora alemã vende veículos comerciais na Argentina há 25 anos. Mas até aqui eram importados da fábrica de Resende (RJ). Anunciado no fim de 2022, o novo plano, que vai absorver investimento de US$ 50 milhões, prevê produzir, em Córdoba, a partir do início de 2024, cinco modelos para atender o mercado interno. Dessa forma, a empresa deixará de depender da disponibilidade de dólares no país vizinho para vender seus produtos e ainda o ajudará a reduzir o déficit comercial.

Andrea Jubé - A solidão de Lula para escolher nomes para o STF e PGR

Valor Econômico

Indicação para o Supremo pode ser feita em novembro, mas para a Procuradoria-Geral tem data incerta

Depois de afirmar a poucos interlocutores que adiaria a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem ponderado que deve anunciar o nome do futuro magistrado ainda neste mês.

Interlocutores que conhecem a fundo a trajetória de Lula atribuem a hesitação do mandatário à famigerada solidão do poder. Neste caso, seria uma solidão segmentada, tocante ao Judiciário.

É um território onde ele perdeu conselheiros do quilate do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, morto em 2014, ou com quem manteve uma relação fraterna, como Sigmaringa Seixas, que faleceu em 2018. A morte de Sigmaringa foi um baque estrondoso porque na ocasião, Lula amargava o confinamento em Curitiba.

Lu Aiko Otta - Haddad apresentará “cenários” a Lula e líderes para tentar salvar meta de déficit zero em 2024

Valor Econômico

Ministro foi pressionado por jornalistas após declaração de Lula de que a meta não precisa ser zero

Normalmente paciente em seus contatos com a imprensa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, interrompeu de forma repentina uma entrevista que concedia, depois de ser questionado diversas vezes sobre o compromisso do governo com o déficit zero no ano que vem.

No máximo, o que o ministro conseguiu afirmar é que ele, sim, seguirá perseguindo o equilíbrio fiscal, por ser algo em que acredita, e não por pressão do mercado. “A minha meta está estabelecida”, afirmou.

Não respondeu, porém, o que lhe teria dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do déficit zero na reunião que tiveram na manhã desta segunda-feira (30).

Maria Cristina Fernandes - Debate fiscal pode ser engolido pela sucessão das mesas do Congresso

Valor Econômico

Lula não deve ter facilidade em impor seu jogo orçamentário no Congresso

Ao cerrar fileiras ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no debate sobre a meta fiscal, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sugere que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá facilidade em impor seu jogo orçamentário no Congresso sem antes se comprometer com a sucessão das mesas das Casas.

Como presidente do Congresso, é Pacheco quem comanda a votação do Orçamento. Lula tem muitas opções para mudar a meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que ainda não foi aprovada. Pode fazê-lo por mensagem presidencial, emenda do Congresso e até uma conversa com o relator do Orçamento para que ele assuma a mudança como iniciativa sua. Tem até 22 de dezembro para isso. Com LDO e Orçamento aprovados, no passado, já foi possível mudar a meta no ano em curso de sua aplicação. Com o arcabouço fiscal, como o crescimento da despesa está subordinado ao cumprimento da meta fixada no ano anterior, ficou mais difícil.

Joel Pinheiro da Fonseca - Não deixe a Reforma Tributária te fazer de otário

Folha de S. Paulo

Toda isenção ou desconto estendido a um grupo é pago pelos que ficaram de fora

Eu era um membro conformado do grupo dos otários que pagam inteira no cinema. Sim, otário: graças ao desconto concedido a estudantes, idosos e outros, gente como eu pagava mais caro. Mas eis que, neste fim de semana, vim para o lado vantajoso da força: minha operadora de celular tem um convênio com uma rede de salas, o que me valeu o direito à meia. Muito em breve, absolutamente todo frequentador de cinema terá sua meia entrada.

O resultado disso, é claro, não será uma economia para todos, e sim uma entrada que simplesmente custará o dobro. Toda isenção ou desconto estendido a um grupo é pago por aqueles que ficaram de fora. Se ninguém ficar de fora, o benefício se extingue.

Dora Kramer - O inimigo mora em casa

Folha de S. Paulo

Lula faz com Haddad o oposto do que Itamar fez com FHC há 29 anos

Não se espantem, mas é provável que Luiz Inácio da Silva não busque a reeleição em 2026. Ele não pode acenar com essa hipótese agora, sob pena de entregar o governo antes do tempo. É o tal do lugar-comum da expectativa de poder que se retroalimenta e permite governar.

Havendo sentido na probabilidade de Lula não ir a um quarto mandato aos 81 anos de idade e tendo quase perdido o terceiro para uma figura de péssimas credenciais, o primeiro da fila para disputar seria Fernando Haddad.

Alvaro Costa e Silva - Eleições são presente de Natal para políticos

Folha de S. Paulo

Até Arthur Lira sonha em se candidatar a presidente

Numa crônica antiga, Carlos Drummond de Andrade notou que cada vez mais o ano se compõe de dez meses; os dois restantes são dedicados ao Natal. "É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: dez meses de Natal e dois meses de ano vulgarmente dito", previu o poeta. Sem descrédito para a presença entre nós do Papai Noel (que, aliás, já anda de trenó por aí, morrendo de calor dentro da roupa vermelha), quem domina o calendário, hoje, são as eleições.

Os partidos articulam no Congresso um aumento inédito no fundo que bancará a campanha municipal do ano que vem. É um embrulhão, com papel colorido e fita crepom: o valor fica entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões. Os recursos seriam retirados da Justiça Eleitoral (que não consegue coibir irregularidades nos pleitos) ou das emendas de bancada no Orçamento.

Hélio Schwartsman - A vida fácil dos arapongas

Folha de S. Paulo

Programas de espionagem só deveriam operar sob supervisão de órgãos de controle

Se há um trabalho que a tecnologia facilitou, é o de araponga. Vivemos numa era em que a privacidade, se não morreu, anda mal das pernas. E não dá para culpar só a multiplicação das câmeras de vigilância e a compulsiva coleta de dados pelas big techs. Grande parte das informações pessoais disponíveis "in silica" são postadas voluntariamente por seus próprios titulares em redes sociais.

Bisbilhotar a vida dos outros se tornou uma atividade tão trivial que a maior parte das informações que serviços de inteligência costumam reunir já aparece em fontes abertas ou semiabertas. Num exemplo concreto, não era necessário quebrar sigilos nem tomar outras medidas invasivas para saber o que os vândalos/golpistas de 8 de janeiro tramavam. Eles próprios escancararam seus planos nas redes sociais —e vários serviços de inteligência captaram a encrenca. Um pouco por sabotagem dos militares, um pouco por falhas na interpretação das informações, as autoridades não se preparam adequadamente.

Poesia | José Saramago - Não me peçam razões

 

Música | Alvará - Ivan Lins (Sambabook Jorge Aragão)