quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Luiz Werneck Vianna* - Rumo a um bom entendimento da democracia

Mais quatro ligeiros dias e deixamos para trás um governo que conspirou sem quartel contra o nosso país, contra o que havia de melhor em suas instituições e tradições, investindo com fúria na destruição da obra civilizatória que estávamos empenhados a construir, aplicando-se com método na sua erradicação. Salvo uma intervenção do sobrenatural de Almeida do Nelson Rodrigues, o curso natural dos acontecimentos aponta a vitória eleitoral da candidatura Lula-Alkmin, provavelmente em primeiro turno, com o que retomaremos, depois de um doloroso hiato, o controle das rédeas do nosso destino.

Chegamos a esse auspicioso resultado sem termos recorrido a formas exasperadas de luta, sequer, como nos anos 1980 a manifestações  massivas de protestos, mas por meio de um movimento da opinião pública que foi tomando forma na medida em que encontrava respaldo na ação dos nossos mais altos tribunais, especialmente no STF e em setores da imprensa, que asseguraram a vigência da Constituição, e, fundamentalmente, a defesa do calendário eleitoral, terreno propício à manifestações da vontade democrática.

Aberta a competição eleitoral, logo se estampou o tamanho do dissídio entre o governo e a população aferido pelos institutos especializados nas disputas eleitorais, quando se teve notícia do caráter singular desse pleito ao revelar que o voto denunciava ser determinado por duas questões fundamentais, a da perversa distribuição de renda no país e a das mulheres, objeto do secular patriarcalismo que as mantém em submissão. As desigualdades regionais também afloraram com força, indicações eloquentes de que nessas eleições bem mais do que uma simples mudança de governo, estão vindo à luz os temas pertinentes ao aprofundamento da democracia brasileira.

Vera Magalhães - Todos a bordo, mas para onde?

O Globo

Não é sensato imaginar que, com tantas declarações de apoio, venha um cheque em branco para Lula gastar como quiser

Impressionam a diversidade e o calibre dos apoios angariados por Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias. Artistas, esportistas, economistas, educadores, políticos de diferentes vieses fizeram um movimento, inédito desde as Diretas Já, de endosso a um candidato ainda no primeiro turno, sem exigir contrapartida alguma em termos de participação no governo ou sequer de compromisso programático.

Se o movimento resultará em vitória de Lula no primeiro turno, é difícil dizer. Primeiro porque a dinâmica pela qual se forma a opinião no Brasil foi revolucionada pelas redes sociais. Depois porque a divisão do país é tal que o caráter plural do palanque pode até aprofundar o discurso de ressentimento antiestablishment fundador do bolsonarismo — uma espécie de seita impermeável aos valores antes consensuais da vida em sociedade.

Mas não se pode negar o sentido de urgência que emerge de discursos convergentes de pessoas que, até 2018, estavam em lugares muito diferentes, disputando a agenda e o projeto para o Brasil. Bolsonaro virou um denominador comum capaz de aplacar as diferenças, ao menos no momento.

Como se sabe que, em política, não se consegue suprimir as divergências por muito tempo, menos ainda em questões fulcrais de matéria econômica e definição de prioridades de governo (portanto orçamentárias), esse barco que tem praticamente todos a bordo precisará definir a rota em algum momento. Desviar do iceberg representado pelo bolsonarismo é o que dita a condução agora, em meio à tempestade, mas e depois, aonde se quer chegar?

Elio Gaspari - Lula pode fechar a conta

O Globo

O dia de amanhã trará fortes emoções

A pesquisa do Ipec mostrou uma leve oscilação dos entrevistados a favor da possibilidade de Lula liquidar a eleição no domingo. Coisa leve, mas esparramada: o petista subiu um ponto, dentro da margem de erro, e a rejeição a Bolsonaro também cresceu um ponto, para 51%. Sempre dentro da margem de erro.

Pelo andar da carruagem, o debate de amanhã na TV Globo, bem como a divulgação dos números do Datafolha, trará fortes emoções. Enquanto os candidatos pouco podem fazer para mudar os números de uma pesquisa, um debate é coisa que depende deles.

Lula teve um desempenho bisonho no debate da TV Bandeirantes e decidiu não ir ao do SBT. Em nenhum dos dois Jair Bolsonaro teve bom desempenho, e é sempre bom lembrar que ele se elegeu em 2018 faltando a todos os debates.

Amanhã, o debate da Globo terá a mesma característica dos demais: os candidatos são dois (Lula e Bolsonaro), e os demais poderão se julgar vencedores se conseguirem jogar a decisão para o segundo turno. Ciro Gomes e Simone Tebet estarão lá por direito de conquista. Já o pitoresco Padre Kelmon irá ao ar levado por uma excentricidade da legislação. Formalmente, ele é sacerdote da Igreja Ortodoxa do Peru. Na vida real, substitui o deputado Roberto Jefferson, considerado inelegível pela Justiça.

Se fosse possível filtrar o debate, fixando-se no desempenho de Bolsonaro e Lula, as coisas ficariam melhores, mas só até certo ponto. Isso porque Bolsonaro já mostrou que é ruim de debate, e Lula, bom de palanque, é imprevisível nesse tipo de confronto. Falta a ambos, nos debates como na vida real, a serenidade de Fernando Henrique Cardoso.

Bernardo Mello Franco - O inimigo de Jair

O Globo

Capitão vai às urnas rejeitado por 51%, índice proibitivo para qualquer candidato à reeleição

A proximidade das urnas está mexendo com os nervos do capitão. A cinco dias do primeiro turno, Jair Bolsonaro elevou o tom contra inimigos reais e imaginários. Xingou o ex-presidente Lula, atacou prefeitos e governadores, voltou a afrontar o ministro Alexandre de Moraes.

O presidente começou a terça-feira com um bate-volta no Nordeste. Participou de motociata, visitou um “bodódromo” e montou no lombo de um touro. Um adesivo com seu número foi colado nos chifres do pobre animal.

De manhã, o capitão se disse “mais nordestino que os nordestinos”. Faltou combinar com os eleitores. De acordo com o Ipec, o pernambucano Lula lidera a disputa na região com 39 pontos de vantagem.

À noite, Bolsonaro foi às redes para atacar Moraes. Reclamou da quebra do sigilo do assessor que paga despesas da primeira-dama e fez um desafio público ao ministro: “Você um dia vai dar uma canetada e me prender?”.

Míriam Leitao - Lula defende o teto de responsabilidade e autonomia do BC

O Globo

O ex-presidente Lula defendeu ontem, em jantar com os empresários e representantes do mercado financeiro o que chamou de teto de responsabilidade. Ao explicar o que era este instrumento que substituiria o teto de gastos, ele, na verdade, descreveu a regra de ouro: não quer que o governo se endivide para gastos de custeio, mas apenas para investimentos. Disse isso ao falar de educação, que não abre mão em investir no setor. Várias vezes ele repetiu a mesma ideia.

– É preciso que vocês saibam que eu sou contra o teto de gastos, mas sou a favor do teto de responsabilidade - disse.

Em outro momento lembrou.

– Eu fui o único presidente que teve superávit primário todos os anos - disse Lula.

Ele também deu um sinal claro de que, se eleito, vai respeitar a independência do Banco Central, quando disse a seguinte frase: “ quando daqui a dois anos eu puder indicar o presidente do Banco Central…'. Ou seja, implicitamente, prometeu respeitar o mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto, que vai até 2024.

Falou também que não vê diferença entre a independência total que deu a Henrique Meirelles e a atual autonomia. Claro que há diferença porque é autonomia na lei. Mas o que ele diria para um presidente do BC que indicasse? Ele disse que discorda da política de combater a inflação apenas com alta de juros.

Alvaro Gribel - O único pedido de Lula a Meirelles

O Globo

Até agora, o ex-presidente Lula fez um único pedido a Henrique Meirelles: o número do seu telefone pessoal, para que possa chamá-lo quando quiser, sem a intermediação de assessores. Se a ligação será feita em caso de vitória, só o tempo dirá, mas o fato é que Meirelles pode entregar a Lula o que ele deseja na economia, que é a conciliação do combate à pobreza com a credibilidade na área fiscal. Meirelles admite que é impossível colocar as despesas previstas para 2023 dentro do teto de gastos e por isso diz que será inevitável uma “licença” para gastar. O ponto-chave para que isso dê certo, diz, é que seja provisório, por um único ano, e venha com um plano que leve à queda da dívida pública.

Meirelles é um economista com experiência única no país. Além de ter sido executivo com carreira sólida no exterior, foi presidente do Banco Central, ministro da Fazenda e secretário de Fazenda de São Paulo. Comandou as políticas monetária e fiscal e por isso tem um olhar amplo. Eu o entrevistei da bancada do Roda Viva, da TV Cultura, com apresentação de Vera Magalhães, colunista deste jornal. Ele enxerga três cenários-base para o Brasil. Em caso de reeleição de Bolsonaro, prevê crescimento baixo do PIB no ano que vem, de 0,5%, como também estima o Boletim Focus. Em caso de vitória de Lula, no entanto, o quadro se torna binário e ainda não está “precificado” pelo mercado. Pode surpreender para o bem ou para o mal.

Luiz Carlos Azedo - Soraya e D’Ávila, dois pontinhos que podem fazer falta na eleição

Correio Braziliense

Guedes esvaziou a possibilidade de uma alternativa neoliberal à margem do governo Bolsonaro, até que veio a pandemia de covid-19 e o “Posto Ipiranga” fez tudo ao contrario do que prometera

A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) e o candidato do Novo, Felipe D’Ávila, ficaram com 1% na pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira; um percentual de votos que mais ou menos se repete em todos os levantamentos. A pesquisa mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem chances reais de vencer no primeiro turno, com 48% das intenções de voto. O presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece com 31%. A diferença entre os dois é de 17 pontos percentuais. Ciro Gomes (PDT) tem 6% e Simone Tebet (MDB), 5%. Os demais candidatos foram citados, mas não alcançam 1% das intenções de voto.

A existência ou não de segundo turno depende da eficácia da campanha do voto útil a favor de Lula e do desempenho de Bolsonaro nestes últimos dias de campanha, na qual o clímax será o embate entre os dois no debate de presidenciáveis na TV Globo. A candidata da União Brasil, porém, vem roubando a cena nos debates, principalmente em razão da “viralização”, nas redes sociais, de seus enfrentamentos com Bolsonaro. Felipe D’Ávila faz uma campanha mais formal e menos agressiva, focada num posicionamento claramente ideológico: a defesa programática do liberalismo. Sua tendência é confrontar as posições do governo Lula do ponto de vista da economia.

Vinicius Torres Freire - Adesão a Lula e a ‘carta branca’

Folha de S. Paulo

Conversa menos mole vai começar com composição do Congresso, que não deve ser lá muito diferente do que saiu da eleição municipal de 2020

Nos últimos dias, tem causado algum zunzum a adesão de "personalidades", quadros da elite, "famosos" ou "influencers" à candidatura de Lula da Silva, em especial de muita gente que jamais foi simpática ao PT ou que sempre demonstrou aversão ao partido e a seu líder máximo, em palavras e atos.

É meio previsível, ainda mais em fim de campanha destes tempos de redes sociais e em uma eleição de caráter plebiscitário figadal. Se esses "influenciadores" vão influenciar algum voto é menos provável. Talvez possam ser sintoma de um movimento eleitoral mais amplo, do que apenas vamos saber no sábado, com pesquisas de véspera de votação —e olhe lá.

Por ora, é possível que cerca de 22 milhões ainda possam mudar o voto, estimativa precária baseada no percentual de eleitores "voláteis", segundo o Datafolha, no eleitorado potencial e no comparecimento às urnas de 2018. Milhões desses eleitores não prestam atenção ao noticiário ou a tretas e conversas políticas de redes sociais. Talvez se decidam em trocas de mensagens de última hora pelo celular.

Deirdre Nansen McCloskey* - O fascismo italiano

Folha de S. Paulo

Não há dúvida de que o fascismo/populismo depende do pecado do ódio

O fascismo é uma condição humana; logo, não chega a surpreender que a Itália tenha votado a favor dele. É mais surpreendente que a Suécia o tenha feito, com 20% dos votos em seu pleito mais recente.

Mas vosso país e o meu têm aproximadamente a mesma porcentagem de fascistas naturais. Nos EUA, temos assistido a ondas repetidas de ódio contra pretos, imigrantes, comunistas, gays. O vento que agita as ondas vem de políticos que estão apavorando os 20%. Giorgia Meloni diz, como dizem os racistas americanos, que os italianos natos estão sendo "substituídos" por africanos, sírios e ciganos. Querendo provocar terror.

As pessoas têm receio de chamar alguém de "fascista". Em vez disso, chamamos a pessoa de "populista". As pessoas aparentemente pensam que só é justo utilizar o termo "fascista" se políticas fascistas chegam a ser implementadas de fato. Os generais no Brasil. O lema de Mussolini aplicado: "Tudo dentro do Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado". Hitler fez isso nos meses seguintes aos conservadores terem-no elevado insensatamente ao cargo de chanceler da Alemanha.

Mariliz Pereira Jorge - A revolta das fraquejadas

Folha de S. Paulo

Bolsonaro tem um motivo concreto para odiar as mulheres

Jair Bolsonaro tem um motivo concreto para odiar as mulheres: parte da sua provável derrota vem da rejeição que ele cultivou nos últimos anos entre o eleitorado feminino.

O mesmo Bolsonaro que fez chacota do movimento #elenão na última eleição até que tentou, mas, se depender de nós, será atropelado. Não foi por falta de aviso. Somos a maioria e nossa participação guiará a agenda política e terá impacto profundo nos processos eleitorais.

Em 2018, o bolsonarismo ridicularizou a campanha feita nas redes que teve adesão até de Madonna e de Cher. De fato, hashtag não ganha eleição, mas levou milhares de mulheres às ruas e foi a semente do repúdio irrestrito ao candidato que virou presidente. Nenhum marqueteiro atinou para o fenômeno político, orgânico e suprapartidário que vem se consolidando e que encurralou Bolsonaro.

Bruno Boghossian - O apelo final aos evangélicos

Folha de S. Paulo

Variação de 4% dos votos nesse segmento pode fazer diferença nas contas do próximo domingo

Se Lula só precisa de um punhado de votos para garantir uma vitória no próximo domingo, Jair Bolsonaro sabe que também não depende de um grande número para forçar a realização do segundo turno. Os esforços mais pragmáticos da campanha à reeleição se concentram em duas direções: travar o fluxo de novas adesões ao ex-presidente e tirar do petista ao menos alguns eleitores.

Roubar votos a esta altura de uma disputa tão consolidada é tarefa difícil, mas os bolsonaristas voltaram suas baterias para um segmento que seria mais permeável ao discurso do presidente: os evangélicos.

Hélio Schwartsman - Cognitivamente impossível

Folha de S. Paulo

Já fui bem mais simpático às listas abertas do que sou hoje

Quanto mais opções, melhores nossas chances de fazer a escolha certa, não é mesmo? Não. O psicólogo Barry Schwartz, em "O Paradoxo da Escolha", mostra que nós temos um problema quando o supermercado da esquina oferece 285 variedades de biscoitos, 85 qualidades de suco, 95 opções de salgadinhos e 61 tipos de filtro solar. Não há a menor chance de estudarmos detalhadamente cada produto para descobrir de modo racional qual melhor supre nossas necessidades. Quanto tempo um consumidor pode dedicar à seção de bolachas?

Nossos cérebros "resolvem" o problema da multiplicação das opções simplesmente se agarrando ao viés cognitivo, isto é, ao atalho mental que estiver mais à mão. É mais provável que tomemos a decisão de compra baseados em coisas como reminiscências de infância, embalagem chamativa, marketing agressivo ou hábito do que nas qualidades intrínsecas do produto.

Marcelo Godoy - O HC de Lula

O Estado de S. Paulo

Após quatro anos, sabe-se muito sobre o governo Bolsonaro, mas pouco sobre os planos do petista

O tenente-coronel Mauro Cesar Cid Barbosa se levantou da cadeira na plateia do estúdio e se dirigiu em passo acelerado até o presidente Jair Bolsonaro. Queria levar uma última instrução para o chefe, pouco antes do início do debate promovido pelo Estadão e pelo SBT – entre outros. O militar fardado, homem da Ajudância de Ordens do Planalto, uniu-se ao ministro das Comunicações, Fábio Faria, e a outro assessor do candidato à reeleição.

Cid é pessoa conhecida em Brasília. Oficial da Artilharia como o presidente, sempre está ao lado deste. Laços de amizade unem sua família à do chefe – seu pai, o general Mauro Cesar Lorena Cid, é colega de academia de Bolsonaro. Desde os primeiros dias do governo, o coronel acompanha as lives presidenciais. Chegou mesmo a se ver envolvido no inquérito policial a respeito de atos antidemocráticos. Fazia – ele admitiu – o papel de leva e traz de informações de blogueiros para o presidente.

Nicolau da Rocha Cavalcanti* - Quando a voz do povo nos contraria

O Estado de S. Paulo

É fácil desqualificar a coletividade quando as nossas escolhas saem derrotadas. Mas será isso democracia?

No próximo domingo, haverá eleições para os cargos de presidente da República, senador, deputado federal, governador e deputado estadual. É muito provável que nem todos os resultados saiam como desejaríamos. Como lidar com a derrota política? Qual é a melhor resposta perante uma frustração nas urnas?

No início do mês, impressionou-me a reação do presidente do Chile, Gabriel Boric, após a votação que rejeitou, por 61,8% dos votos, a proposta de nova Constituição chilena. Foi uma derrota política duríssima, mas Gabriel Boric não a atenuou, não culpou a desinformação das redes sociais, não desqualificou quem pensa de forma diferente, não pôs em dúvida a lisura das urnas. “Hoje, falou o povo do Chile e o fez de maneira forte e contundente”, disse. Ainda que o plebiscito sobre uma nova Carta constitucional seja muito diferente de eleições regulares, as considerações de Gabriel Boric podem ser muito oportunas para o Brasil de hoje.

Depois de destacar a confiança dos chilenos no processo democrático, Gabriel Boric reconheceu que o povo do Chile “não ficou satisfeito com a proposta de Constituição apresentada pela convenção e, portanto, decidiu rejeitá-la de forma clara nas urnas”. Como é importante admitir a voz das urnas, por mais que ela nos possa parecer, em determinado momento, um grande equívoco, um grande passo atrás, um grande absurdo.

Fernando Exman = O desafio de Guedes na reta final da campanha

Valor Econômico

Ministro equilibra-se entre embate político e pressão de aliados

Intensifica-se, à medida em que o primeiro turno se aproxima, o envolvimento do ministro da Economia na campanha à reeleição do chefe. Paulo Guedes tem sido acionado com mais frequência pelo comitê bolsonarista e, entre uma fala a empresários e participações em eventos direcionados a uma audiência que ultrapassa as fronteiras do mercado financeiro, assumiu a missão de ajudar o presidente Jair Bolsonaro a “furar a bolha”.

O ministro tem um papel fundamental na estratégia de tentar recuperar os votos daqueles que apoiaram Bolsonaro em 2018 e, depois, arrependeram-se em meio à frustração com um governo ultraliberal que não se confirmou. Guedes passou a dirigir-se, também, aos jovens - um exemplo é uma entrevista a um popular “podcast”.

Ele enfrenta, contudo, um outro tipo de desafio. O chefe da equipe econômica, proprietário da chave dos cofres públicos, precisa equilibrar-se entre o papel de cabo eleitoral e a demanda de aliados do presidente pela adoção de medidas populistas. E a pressão tem sido grande.

Comparecimento maior de mulheres pode beneficiar Lula

Para Jairo Nicolau, abstenção dos menos escolarizados, porém, tende a prejudicar petista

Por Andrea Jubé / Valor Econômico

BRASÍLIA - O cientista político Jairo Nicolau, uma das principais autoridades em eleições e sistema partidário no país, afirmou ao Valor que a perspectiva de uma taxa maior de comparecimento das mulheres no pleito deste domingo tende a beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem a preferência da maioria desse segmento. Em contrapartida, o petista pode ser prejudicado com a ausência de eleitores menos escolarizados, geralmente, aqueles que mais contribuem para os altos índices de abstenção.

Nessa reta final da campanha, a possibilidade de que milhões de eleitores dos segmentos mais inclinados a votar em Lula se ausentem no dia 2 de outubro é uma das principais preocupações da coordenação da campanha lulista. O candidato tem expressado essa inquietação nos discursos mais recentes. “Qual o problema de a gente não votar? Se a gente não votar, perde autoridade moral de cobrar”, disse Lula em um comício em São Paulo no sábado. “A gente não pode ter 20% de abstenção, 10% de voto nulo”, alertou.

Lula se reúne com elite do empresariado

Em encontro com empresários e banqueiros, Lula reúne até apoiadores de Bolsonaro

Por Mônica Scaramuzzo / Valor Econômico

SÃO PAULO - Fontes próximas a Lula afirmaram que ele busca reforçar que empresários e investidores precisam de segurança jurídica e previsibilidade Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo

Na reta final da campanha presidencial, o candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontrou na noite desta terça-feira, dia 27, com pesos-pesados da indústria e da Faria Lima. O encontro foi organizado pela Esfera Brasil, na casa de João Camargo, no bairro do Morumbi (zona oeste de São Paulo), e reuniu até empresários apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Cerca de 100 pessoas participaram do coquetel — originalmente a lista contava com 40 convidados. Lula chegou muito atrasado — o evento estava marcado para as 18h, mas o ex-presidente chegou muito depois das 19h e muitos empresários já esperavam pelo candidato petista.

Quando chegou, Lula fez questão de tirar foto com os funcionários da casa de João Camargo na cozinha. Depois, o petista se reuniu reservadamente em uma sala com Abilio Diniz (Península e Carrefour), André Esteves (BTG Pactual), Benjamin Steinbruch (CSN), Josué Gomes (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Luiz Carlos Trabuco Cappi (Bradesco) e Rubens Ometto Silveira Mello (Cosan), apurou o Valor com fontes a par do assunto.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Bolsonaro comete abusos ao decretar sigilo de cem anos

O Globo

Executivo impôs segredo máximo a 65 casos, boa parte ligada a aliados do presidente ou a sua família

Duas características do presidente Jair Bolsonaro se retroalimentam: seu caráter paranoico e sua natureza opaca. Entre 2019 e 2022, o Executivo impôs sigilo de cem anos a 65 casos que deveriam ser públicos. Esse é o número de pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) negados pelo governo federal, segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo. A análise dos casos deixa claro o abuso, o cerceamento indevido ao direito de todo cidadão à informação.

É óbvio que todo país precisa de proteção jurídica para guardar segredos de Estado, necessários à sua segurança e à da sociedade. A primeira legislação sobre o tema foi criada no Reino Unido no final do século XIX e inspirou regras semelhantes no mundo todo. Um século depois, leis passaram a ser desenhadas para tentar coibir o zelo excessivo de governos com seus segredos em detrimento dos cidadãos. O acesso a informações passou a ser encarado como componente essencial da liberdade de expressão e dos direitos humanos. Foi nesse contexto que, em 2012, a LAI entrou em vigor no Brasil.

Poesia | Machado de Assis - Horas vivas

 

Música | Chico Buarque / MPB4 / Quarteto em Cy - Apesar de você