- O Globo
Período que vem por aí é muito difícil. Você não inveja os vencedores, a economia patina, o Congresso não se renova
Outro dia, uma simpática leitora me escreveu, dizendo que eu estava em cima do muro. Não é exatamente isso o que acontece. Estou na mesma posição que estarei depois das eleições: independência crítica.
Não gosto de muros, tanto que, quando caiu o de Berlim, mudei-me para lá com a família, para acompanhar as consequências. Nem todo muro dá para aceitar. Nas eleições municipais do Rio, recusei a alternativa que a maioria dos eleitores me apresentou.
Recusá-la agora não significa desrespeito às grandes multidões que escolhem Lula ou Bolsonaro. Pelo contrário, uma oposição consciente pode ser uma forma de valorizar essa escolha.
A amiga pede que eu rejeite apenas Bolsonaro. É ameaçador para a democracia. Ela leu nos jornais que o PT, ao contrario, tem um forte compromisso com a democracia.
Respeito sua posição e a dos jornalistas. No entanto, era deputado federal no período do mensalão. Discutir com fantoches comprados pelo governo era para mim um arremedo de democracia.
Creio que passa por aí nossa divergência. No meu entender, a ameaça à democracia não se resume hoje ao clássico golpe militar, com tanques na rua. Ela pode ser subvertida por dentro, envenenada aos poucos.