sábado, 3 de dezembro de 2016

Opinião do dia - Força Chape

Delações da Odebrecht vão começar na próxima semana

Delações sem demora

• Executivos da Odebrecht já depõem na próxima semana; Emílio comandará reestruturação da empresa

Carolina Brígido, Jailton de Carvalho e Chico Otavio - O Globo

BRASÍLIA E RIO - Os primeiros depoimentos dos executivos da Odebrecht que assinaram os acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal devem ocorrer na próxima semana. Eles deverão ser interrogados em Brasília, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e outras cidades onde residem. Pelos acordos com a Procuradoria-Geral da República, todos deverão relatar detalhes das denúncias que se comprometeram a fazer na etapa de negociação das delações. Em muitos casos, terão que apresentar cópias de extratos bancários, e-mails, mensagens, entre outros documentos, que comprovem os crimes delatados.

Segundo uma fonte com acesso às negociações, as provas apresentadas pelos executivos são robustas. Eles registraram boa parte da movimentação que faziam para obter contratos na Petrobras e em outras áreas da administração. O banco de dados do setor de operações estruturadas, área criada pela empreiteira para facilitar o pagamento de propina, segundo a fonte, contém provas cabais de transações ilegais entre a Odebrecht e grande número de políticos. Depois de certa resistência no início, executivos concordaram em abrir parte dos sistemas à Lava-Jato.

Odebrecht conclui fase de assinatura de delação premiada

• Acordo foi formalizado por 77 executivos e ex-executivos, incluindo o patriarca Emílio e o ex-presidente Marcelo

Beatriz Bulla Fábio Serapião – O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Após mais de nove meses de negociações, a empreiteira Odebrecht concluiu na tarde de ontem a fase de assinatura dos acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal, que contou com a colaboração do patriarca e presidente do Conselho de Administração do grupo, Emílio Odebrecht, e de seu filho, o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht.

Entre anteontem e ontem, 77 executivos e ex-executivos da empresa formalizaram o acordo de colaboração com a Operação Lava Jato. A partir da próxima semana, eles começarão a prestar depoimentos para confirmar o que prometeram contar sobre o esquema de corrupção e propina no qual se envolveram.

Odebrecht afirma ter enviado propina do PT a El Salvador

Bela Megale, Letícia Casado – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Ex-primeira dama de El Salvador e militante do PT desde os anos 80, Vanda Pignato intermediou, segundo a Odebrecht, o pagamento de R$ 5,3 milhões de caixa dois feito pela empreiteira à campanha de Mauricio Funes, na época seu marido e candidato à Presidência da República do país centro-americano.

O relato faz parte do acordo de delação premiada de executivos da empresa assinado nesta semana por 77 executivos do grupo empresarial baiano.

O dinheiro, segundo delatores, foi pago em 2008 pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana, que comandou a comunicação da campanha que elegeu Funes em março do ano seguinte.

O montante foi descontado do caixa do PT junto à empreiteira no qual eram feitos pagamentos de valores ilícitos, segundo disseram os delatores às autoridades.

De acordo com eles, o abatimento teve a autorização do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ligado a Funes e Vanda Pignato.

Um ex-sócio do marqueteiro afirmou à Folha que Santana confidenciou que fez o trabalho a pedido do PT.

Odebrecht finaliza assinaturas e prevê depoimentos para próxima semana

Camila Mattoso, Bela Megale – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Odebrecht terminou no meio da tarde desta sexta-feira (2) o processo de assinatura de acordos de delação premiada dos 77 executivos do grupo que firmaram acordos de delação premiada com os procuradores da Lava Jato.

As assinaturas das pessoas físicas foram realizadas na sede da PGR (Procuradoria-Geral da República), em Brasília, desde a tarde de quinta-feira (1º), após advogados da empresa firmarem o acordo de leniência com os investigadores em Curitiba.

Na leniência, a empresa se comprometeu a pagar uma multa de cerca de R$ 6,7 bilhões.

No primeiro dia, 55 empresários foram à cobertura do bloco A da procuradoria fazer as assinaturas, que se estenderam das 15h às 22h.

Segundo os presentes, apesar do processo ser rápido, formou-se uma grande fila. No local estavam apenas dois procuradores que foram os responsáveis pelos trâmites.

Entre eles estava o presidente do Conselho Administrativo e dono da empreiteira Emílio Odebrecht. Já o filho dele, Marcelo, ex-presidente e herdeiro do grupo, preso desde junho de 2015, realizou a assinatura nesta sexta na carceragem da PF, na capital paranaense.

Além dele, 21 executivos firmaram seus termos também na sexta. Como estão soltos, eles foram até Brasília para isso.

O próximo passo será o depoimento dos executivos. Eles estão previstos para começar na próxima semana. Ainda não há definição se eles acontecerão em Brasília, Curitiba ou em ambas cidades.

Segundo envolvidos nas negociações, a ideia é que todos os delatores sejam ouvidos em uma semana para dar celeridade ao processo de homologação, responsabilidade do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavaski. É só após a homologação que o acordo será validado.

A probabilidade de que a homologação aconteça ainda neste ano é pequena, mas serão feitos esforços nesse sentido.

PSDB recusa Secretaria de Governo e quer economia

PSDB recusa Secretaria de Governo e quer protagonismo na economia

• Legenda tucana rejeita ministério da Secretaria de Governo, mas quer ter protagonismo na formulação da política econômica; Planalto receia 'jogo duplo' da sigla

Pedro Venceslau, Erich Decat, Sonia Racy - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o governo acuado por uma sucessão de crises políticas e pressionado pelo cenário de retração na economia, o presidente Michel Temer tenta repactuar sua gestão dando mais espaço para o PSDB. Temer ofereceu à legenda tucana a articulação política, mas a pasta da Secretaria de Governo – vaga desde a saída de Geddel Vieira Lima – foi recusada. A intenção do PSDB é ter influência na área econômica, considerada determinante para o sucesso da gestão.

O posto que era ocupado por Geddel é considerado pelo PSDB como uma fonte de desgaste, que não atende a expectativa do partido, principal aliado do governo do peemedebista no Congresso. A demanda dos tucanos é ter protagonismo na formulação da política econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Líderes do PSDB garantem que a sigla não age para desestabilizar o titular da Fazenda.

'O PSDB deve ter um protagonismo maior no governo Temer'

• Conselheiro de Temer, o consultor político Gaudêncio Torquato ressalta a lealdade dos tucanos e o estreitamento de laços entre os dois partidos

Redação - O Estado de S. Paulo

Gaudêncio Torquato, conselheiro do presidente Michel Temer e consultor político, falou ao Estado sobre o peso da participação do PSDB no governo.

1.Neste momento de crise política e econômica, o PSDB ganha mais relevância como aliado do governo?
Vejo que o PSDB deve ter um protagonismo maior no governo, assumindo pastas importantes em uma reforma mais adiante. Eventual ajuste, o PSDB poderia ocupar algumas colunas de poder mais emblemáticas. Na operação política, ou em ministérios de maior porte.

2.Até onde vai a lealdade dos tucanos?
O PSDB deu uma demonstração de pioneirismo ao se posicionar na defesa do presidente Michel Temer. O senador Aécio Neves deu aquela declaração bombástica criticando a gravação feita pelo (ex-ministro da Cultura) Marcelo Calero (que gravou conversas com Temer). O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), é muito contundente na defesa do governo.

3. Essa aliança sobrevive até 2018?
O grande vitorioso na eleição deste ano foi o PSDB. O partido saiu como o mais bem posicionado para 2018 e é o protagonista na parceria com o PMDB. O terremoto político que estamos vivendo abre muito espaço para outsiders. A sociedade está cada vez mais expressando sua indignação. Pode aparecer alguém com perfil diferente do figurino da política. Pode surgir um (Donald) Trump brasileiro. Por isso, o mundo político está se reunindo para achar um nome do centro e da direita para evitar isso. PSDB e PMDB estão abraçados na derrota e na vitória.

FHC sugere eleição direta em caso de queda de governo Michel Temer

Se governo se inviabilizar, FHC sugere emenda para 'eleição direta'

• Questionado em entrevista ao programa 'Diálogos com Mario Sérgio Conti', da GloboNews, se, na hipótese de Temer renunciar, ele disputaria uma eleição de forma direta ou indireta, ex-presidente diz não esperar que "isso aconteça"

- O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu que, na hipótese de que haja um agravamento da crise política no País, o Congresso deve aprovar uma emenda para a convocação de eleições presidenciais diretas. “É preciso logo fazer uma emenda no Congresso para a eleição direta”, afirmou o ex-presidente na noite desta quinta-feira, 1º, durante entrevista para o programa Diálogos com Mario Sérgio Conti, da GloboNews.

Questionado pelo apresentador qual seria sua posição se, numa situação hipotética, o presidente Michel Temer renunciasse ao cargo, e FHC fosse chamado para ser eleito via eleição direta ou indireta, o tucano respondeu não esperar que isso aconteça. “Eu espero que isso não aconteça.

Planalto: protestos devem adiar votação

• Temer defende que pacote anticorrupção volte à pauta do Senado apenas no ano que vem

Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - Com protestos contra a corrupção marcados para acontecer amanhã em todo o país, o governo Temer espera que o movimento das ruas leve o Congresso a paralisar votações de matérias que têm sido vistas como retaliação de deputados e senadores às investigações em curso. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou para a próxima terça-feira a apreciação do projeto que criminaliza o abuso de autoridade. Um interlocutor palaciano acredita que os ânimos demonstrados pelos manifestantes amanhã servirão de norte para Renan reposicionar sua pauta de votações.

Temer prefere que o tema seja deixado de lado neste momento e diz a interlocutores que o Congresso está jogando a crise no colo do governo. Para o presidente, o ideal seria que a proposta só voltasse à pauta no ano que vem e que não deixasse a impressão de que serve para tentar dificultar o avanço das investigações.

No governo, cresce pressão por medidas para a retomada da economia

• Senadores tucanos levarão a Temer propostas de empresários

Júnia Gama, Martha Beck - O Globo

BRASÍLIA - Preocupado com o fraco desempenho da economia, reforçado pela queda de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, o presidente Michel Temer iniciou esta semana a primeira rodada de reuniões com integrantes de PSDB e outros partidos da base para discutir saídas para a retomada do crescimento. Conselheiros de Temer têm defendido que o governo tome logo medidas de estímulo à economia. Como há poucas cartas na manga, a ala política no PMDB insiste no uso dos compulsórios (depósitos que os bancos são obrigados a fazer no Banco Central), algo que não tem o respaldo do PSDB.

Para os tucanos, é hora de ações específicas e direcionadas. Eles têm se reunido com setores do empresariado, especialmente de construção civil, imobiliário e infraestrutura, para ouvir propostas que pretendem levar a Temer e à sua equipe econômica.

Na última quinta-feira, estiveram com Temer os senadores tucanos José Aníbal (SP), Tasso Jereissati (CE) e Ricardo Ferraço (ES), além de Cristovam Buarque (PPS-DF) e Armando Monteiro (PTB-PE), que foi ministro de Dilma Rousseff. A eles, Temer disse acreditar que é preciso “mais ação”, além das medidas do ajuste, para a economia reagir.

Senadores do PSDB discutem reação 'escassa' da economia com Temer

• Grupo conversa com presidente sobre retomada do crescimento em contexto de críticas ao titular da Fazenda

Adriana Fernandes e Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um grupo de senadores vai levar na próxima semana ao presidente Michel Temer propostas para a retomada do crescimento econômico, segundo antecipou ao Broadcast, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, o senador José Aníbal (PSDB-SP). Uma primeira conversa com o presidente ocorreu na quinta-feira, 1, quando os senadores manifestaram preocupação com a reação "escassa" da economia. Segundo Aníbal, a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está fazendo um trabalho muito eficiente em relação ao ajuste fiscal , mas é preciso adotar medidas adicionais.

A nova força política - Miguel Reale Júnior

- O Estado de S. Paulo

• O povo encontrou como vocalizar, como se expressar e mostrar seu inconformismo

Na quinta-feira 17 de novembro, em preocupante conversa com o presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), José Horácio Ribeiro, após revermos as informações que nos chegavam, concluímos ser necessário reagir com presteza ao plano que se gestava na Câmara dos Deputados para aprovar uma anistia não só do crime de caixa 2, mas também, e especialmente, de lavagem de dinheiro e corrupção relacionadas a campanhas políticas.

Tive a tarefa de redigir um manifesto. Com uma minuta ainda a ser corrigida, o presidente do Iasp conseguiu a adesão de inúmeras entidades. Era necessário agir com urgência e combinar o institucional, o antigo, com o novo, o movimento social que arregimenta não uma classe, mas número indeterminado de pessoas identificadas por valores éticos, comunicando-se pelas redes sociais. Era preciso ter a concordância do Movimento Vem Pra Rua, do qual um dos líderes é Rogério Chequer.

Toffoli ‘analógico’ - Merval Pereira

- O Globo

A nota do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defendendo a imediata saída do senador Renan Calheiros da presidência do Senado, depois que ele foi considerado réu por acusação de peculato no Supremo Tribunal Federal (STF), nada mais representa do que colocar o bom senso, a moral e os bons costumes a serviço da democracia.

Já tendo o plenário do Supremo, pela maioria de seis ministros, se pronunciado a favor do impedimento de assumir a presidência da República integrante da linha de substituição que seja considerado réu, o ministro Dias Toffoli pediu vista do processo, o que impede a execução da decisão já tomada.

Renan, um réu destemido - Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

É remota a possibilidade de Renan Calheiros (PMDB-AL) ser julgado no curto prazo na ação penal que o STF (Supremo Tribunal Federal) acaba de abrir contra ele.

A lentidão dos trabalhos da suprema corte, que acatou só na quinta (1º) a denúncia feita em janeiro de 2013, joga a favor do presidente do Senado.

Dentro do tribunal, ministros avaliam ser bem provável que o crime de peculato, pelo qual Renan responde, esteja prescrito até a conclusão do processo, o que impediria a aplicação de uma punição ao senador.

Desconfiança e queda - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

A possibilidade de sucesso de qualquer produto que se ponha à venda está no grau de credibilidade que ele consegue conquistar de cada consumidor. Sucessos de confiança levaram marcas a se transformar em sinônimo do próprio produto. Já a falta de confiança registra fracassos tão retumbantes que determinadas mercadorias tiveram de ser retiradas de circulação logo depois de lançadas no mercado.

A Operação Lava Jato tem o apoio da quase totalidade da população, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Ipsos. Para 96% dos brasileiros, as investigações devem continuar, custe o que custar. Rapidamente, a Lava Jato está se tornando sinônimo de combate à corrupção.

Já o Executivo e o Legislativo passam por uma crise de confiança. Isso é muito ruim para as instituições, porque elas não são produtos, embora sejam tratadas como tais por alguns políticos. Mas, ao contrário dos produtos, as instituições não podem simplesmente ser descartadas. São necessárias para o equilíbrio democrático e para a sobrevivência do País.

Carta a De Mais - Míriam Leitão

- O Globo

Caro Domenico De Masi. Escrevo-lhe carta aberta com a esperança de que ela siga o mesmo caminho de crítica que fiz aqui e chegou até você. Desta vez, o que tenho a dizer é que seu comentário sobre o livro “História do futuro” me encheu de alegria. Como fez também uma queixa, preciso me explicar. Antes, um registro: admiro sua capacidade de nos fazer pensar sobre o tempo atual, mesmo quando discordo.

Na verdade, não critiquei seu livro “O futuro chegou”, mas certas observações de uma entrevista sobre o fato de o brasileiro estar mais preparado para o ócio. Hoje, entendo melhor o conceito que quis usar. Na sua entrevista ao jornal O GLOBO, sua explicação foi esclarecedora. “Eu entendo ócio criativo pela possibilidade de que todos que fazem trabalho criativo unam trabalho, estudo e lazer.”

O choque de poderes - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• A elite política do país está com a sobrevivência eleitoral ameaçada, independentemente de vir a ser condenada ou não

O choque entre o Congresso e o Judiciário teve mais um capítulo ontem. Depois de submeter o juiz federal Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, a um verdadeiro pelourinho numa sessão do Senado para debater a nova lei do abuso de autoridade, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), virou réu por peculato, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Votaram a favor do acolhimento dessa denúncia os ministros Edson Fachin, Teori Zawascki, Luís Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Marco Aurélio e Celso de Mello. Os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes votaram contra. Cármem Lúcia, presidente do STF, que pautou a matéria, não precisou exercer o voto de Minerva.

Déja vu - Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

• A pressão que ganhará força será sobre o BC, para uma queda mais rápida dos juros

Michel Temer fracassou na promessa feita assim que assumiu o comando do País, depois do traumático afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, de garantir o início da retomada do crescimento econômico ainda este ano. Não há surpresa nenhuma no fato de que a economia não pode viver apenas de expectativas de que o cenário vai melhorar. Se elas não se concretizam, a economia real não se move. É o que está acontecendo agora com o Brasil.

A permanência do clima de ebulição política e do embate entre os Poderes tem sido crucial para impedir que a confiança adquirida no início do governo Temer se transforme em fatos concretos capazes de estimular de verdade os investimentos.

O Brasil de amanhã - Rosiska Darcy de Oliveira

- O Globo

• Nunca o Judiciário abordara de maneira tão límpida e justa a questão da interrupção voluntária da gravidez

Na madrugada de quarta-feira passada — os crimes acontecem preferencialmente enquanto todos dormem — a Câmara dos Deputados votou uma lei que, no dizer da presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, pode contrariar a independência do Poder Judiciário. A ministra definiu à perfeição o sentido da lei contra o abuso de autoridade de iniciativa do deputado Weverton Rocha, investigado por crimes contra a administração pública.

Esse jabuti colocado no pacote anticorrupção, desfigurando um projeto apoiado por mais de dois milhões de assinaturas, visa diretamente o juiz Moro e os procuradores da Lava-Jato. O episódio serviu para deixar claro que o principais inimigos da operação são os parlamentares sob suspeição de crimes. A Lava-Jato é o melhor instrumento de que dispomos para regenerar o Congresso. Eles sabem disso.

A Europa vive de susto em susto – Clóvis Rossi

- Folha de S. Paulo

Primeiro, veio o "brexit", o voto para que o Reino Unido abandonasse a União Europeia. Logo depois, o triunfo de Donald Trump, nacionalista xenófobo e isolacionista (ao menos na retórica; na prática, só se verá mesmo em janeiro).

Se já não fossem esses dois tremendos sustos, eis que a Europa se prepara para mais um ou dois neste domingo, 4, na forma de um novo plebiscito (na Itália) e de outra eleição presidencial (na Áustria, tema que deixo para outro dia).

A teoria abraçada pela maioria da mídia tradicional é a de que as duas votações medirão a força do populismo e/ou do nacionalismo depois da vitória de Trump, com efeitos supostamente devastadores sobre a unidade europeia e sobre a sobrevivência do euro.

Nove anos depois – Editorial/O Estado de S. Paulo

Renan Calheiros virou réu, acusado do crime de peculato no Supremo Tribunal Federal (STF). É notícia que não surpreende ninguém, considerando tanto o rico histórico do soba alagoano em investigações policiais como o fato de que o processo em questão tramita na Suprema Corte há inacreditáveis nove anos. Esta circunstância insólita, por sua vez, chama a atenção para outra aberração incrível que é a espantosa morosidade da Justiça brasileira, problema que, aliás, foi tratado, à margem do julgamento de quinta-feira passada, com zeloso espírito de corpo, por três ministros, entre eles a presidente da Corte, Cármen Lúcia.

Acordos com Odebrecht respaldam a Lava-Jato – Editorial/O Globo

• O entendimento entre MP, empresa e executivos acelera o ciclo de fortalecimento das instituições republicanas, enquanto dá apoio à força-tarefa de Curitiba

As expectativas que surgiram logo que a Lava-Jato alcançou a Norberto Odebrecht se confirmaram. Os acordos de delação premiada assinados pelo Ministério Público com as pessoas físicas dos executivos, e de leniência, com a empresa, são dos maiores já feitos no mundo. Dos signatários fazem parte Emílio Odebrecht, já sucedido pelo filho Marcelo, e mais de 75 executivos. Por ser uma empresa global, parte da avantajada indenização a ser paga pela companhia, de R$ 6,8 bilhões, irá para Estados Unidos e Suíça.

Impostos? – Editorial/Folha de S. Paulo

O péssimo desempenho da economia no terceiro trimestre não surpreendeu quem acompanha as desventuras do emprego e das empresas. Ainda assim, a divulgação de mais este decréscimo do PIB contribuiu para disseminar um clima mais alarmista no país.

A tal ponto que uma expressão esquecida no debate —aumento de impostos— ressurgiu em conversas mesmo de círculos mais liberais, avessos a essa alternativa. Anátema há menos de seis meses, tributos voltam a ser cogitados para recalibrar a política econômica.

Aumentar a receita do governo, segundo tal argumento, contribuiria para reduzir o deficit fiscal, criando condições para a queda mais intensa das taxas de juros. No momento, o relaxamento do aperto monetário e de crédito é a opção restante de estímulo à economia.

Aumenta a ameaça do populismo na Itália – Editorial/O Globo

Quando os eleitores italianos votarem, amanhã, o referendo que propõe importante reforma do sistema político, estará em jogo não apenas o futuro do primeiro-ministro Matteo Renzi e da Itália, mas igualmente da Europa como bloco. Desde que assumiu há quase três anos, o jovem premier se viu às voltas com graves problemas econômicos, especialmente no setor bancário, cuja crise tem caráter sistêmico, afugentando investidores, com efeitos colaterais em toda a União Europeia.

Renzi tem tido dificuldades para implementar medidas importantes, ao esbarrar em limites impostos pelo Senado. O referendo pretende reforçar sua autoridade ante o Congresso, por meio de uma reforma constitucional. Mas trata-se de uma aposta de risco, uma vez que Renzi adiantou que, se a reforma não passar, deixará o cargo.

Pátria minha – Vinicius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."

Villa Lobos - Bachiana nº 5 - Amel Brahim