segunda-feira, 20 de junho de 2011

Opinião – Fernando Henrique Cardoso

"O pressuposto de que, por definição, os mais pobres são os mais progressistas não é marxista. Marx dizia que eram os trabalhadores e os intelectuais que fariam a revolução, não os miseráveis. Ninguém está mais pensando em revolução hoje.

O pressuposto de que olhar para as classes emergentes te empurra para a direita não tem sustentação. A direita pode estar em outro lugar. Inclusive entre os mais pobres. Eu não escrevi aquele texto pensando em ideologia. Escrevi pensando na desconexão atual entre a sociedade e as instituições políticas. Como essa é uma sociedade com muita mobilidade, tem gente, ou muita gente, sem conexão.

O Estado pode prender os mais pobres, pelo clientelismo.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente. O provocador cordial. Ilustríssima/Folha de S. Paulo, 19/6/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

A 18ª UPP - Com Mangueira ocupada, só falta Maré para a Copa
Oposição quer reabrir caso dos aloprados
Em 30 anos, processos no Supremo sobem 647%

FOLHA DE S. PAULO

Benefício fiscal não é controlado, aponta TCU
Planos de saúde terão prazo para atender os pacientes
'Só Jesus Cristo salva a Copa do Mundo no Brasil'

O ESTADO DE S. PAULO

PT se aproxima de Kassab e abre possibilidade de aliança
A vez do Morro da Mangueira
Sistema ficará vulnerável com novas hidrelétricas
Juiz anula união gay em Goiás e caso volta ao STF

VALOR ECONÔMICO

Acordos salariais já refletem inflação e desaquecimento
Volume de importações cresce menos
Instabilidade não pode partir do PT, alerta Déda
Estabilizar a economia sem comprometer o crescimento

ESTADO DE MINAS

Projeto beneficia políticos acusados de improbidade

CORREIO BRAZILIENSE

Dilma não quer são-joão na Granja
Juiz anula primeiro casamento gay. Reação é imediata

ZERO HORA (RS)

Trânsito de fim de semana tira a vida de oito jovens no RS

JORNAL DO COMMERCIO (PE

Juiz de Goiânia decide anular casamento gay

Oposição quer reabrir caso dos aloprados

Oposicionistas querem convocar o ministro Aloizio Mercadante a esclarecer seu suposto envolvimento com os aloprados de 2006. Um ex-diretor do BB teria afirmado que Mercadante foi o mentor do falso dossiê contra José Serra

Aloprados: oposição quer reabrir investigação

Ex-diretor do BB diz que Mercadante teria sido mentor de dossiê contra Serra; ministro afirma que denúncia é requentada

Regina Alvarez

Líderes da oposição defenderam ontem a reabertura das investigações pela Polícia Federal e pelo Ministério Público para apurar o envolvimento de petistas na compra de um dossiê para tentar incriminar, em 2006, o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. Reportagem da revista "Veja" desta semana apontou o ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que concorria com Serra ao governo paulista, como um dos mentores da operação. Em estratégia conjunta, o PSDB e o DEM tentarão aprovar a convocação de Mercadante na Câmara para prestar esclarecimentos sobre sua participação no que ficou conhecido como "escândalo dos aloprados".

- As investigações sobre os aloprados acabaram sendo arquivadas por falta de provas. As informações trazidas agora são suficientes para que a apuração prossiga. Se havia falta de provas, agora não há mais - disse o deputado Duarte Nogueira (SP), líder do PSDB na Câmara.

Nogueira informou que o partido ingressará com representação no Ministério Público e encaminhará ofício a PF solicitando a reabertura do caso. Hoje serão apresentados requerimentos de convocação de Mercadante nas comissões técnicas da Câmara, com convite ao atual secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, Expedito Veloso, uma das testemunhas-chave da fraude, que seria a fonte da reportagem de "Veja".

Segundo a "Veja", Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil, teria revelado em conversa com petistas que Mercadante não só sabia, como participou do esquema para comprar um falso dossiê vinculando Serra ao empresário Luiz Antônio Vedoin, denunciado no escândalo da máfia das ambulâncias.

- É preciso reabrir investigações. (A reportagem) Comprova o que sabíamos, a participação do PT sob comando do Mercadante - disse o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA). Já o PT diz que as denúncias são requentadas. Para o líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (SP), não há fato que justifique a abertura das investigações:

- Essa agenda é do passado. O Ministério Público e a PF arquivaram os processos.

Mercada nte abandonou o silêncio e ontem divulgou nota contestando a "Veja”. Diz que foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal e que é alvo de "falsas insinuações". "Ao tentar envolver meu nome em uma suposta trama que teria ocorrido há cinco anos, quando fui candidato ao governo de São Paulo, a matéria agride valores essenciais ao Estado democrático de Direito", diz a nota. E segue: "O ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza isentou-me de qualquer envolvimento na suposta operação".

FONTE: O GLOBO

Blocos comandam protesto contra Código Florestal

Em ritmo de folia, ato critica a anistia para desmatadores

Mariana Filgueiras

Em clima de carnaval fora de época, mais de 30 blocos reuniram suas baterias ontem pela manhã na orla de Copacabana em uma manifestação contra o projeto do Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados na última semana de maio. O ato foi acompanhado por cerca de 2.500 pessoas, entre integrantes das agremiações, representantes de ONGs, sindicatos, políticos, estudantes, moradores e turistas - que não resistiram ao apelo da música e acabaram seguindo o animado (e autointitulado) “Bloco da Cidadania”.

- O debate dos grandes temas avançam quando ligados à cultura - comentou o secretario estadual do Ambiente, Carlos Minc (PV-RJ), sobre o encontro de protesto e folia. - É uma discussão importante, que sai dos ambientes acadêmico e político, por muitas vezes estéreis, e incorpora a alegria. A concentração foi na altura do Posto 6, às 10h. Quase todos os manifestantes usavam roupas verdes ou fantasias de árvores, empunhando cartazes em defesa das florestas. Por volta das 11h, o organizador do movimento e integrante do bloco Simpatia É Quase Amor,Tomaz Miranda, 23 anos, leu, do alto de um carro de som, a carta-manifesto, que também se posiciona contra a Usina de Belo Monte. Em seguida, as baterias tocaram o Hino Nacional e os manifestantes seguiram até o Posto 3, encerrando o ato às 13h.

- Assim que o código foi votado na Câmara, com um resultado desastroso para as florestas, tivemos a ideia de fazer esta manifestação - disse Tomaz. - Somos contra diversos pontos criminosos deste texto, como a anistia e a ocupação de áreas de proteção permanente. Vamos nos mobilizar . Acompanhada por policiais militares, guardas municipais e representantes da Secretaria Municipal da Ordem Pública, a manifestação transcorreu em paz. Os organizadores recolheram cerca de 600 assinaturas para uma carta que será entregue à presidente da República, Dilma Rousseff, e aos presidentes do Senado e da Câmara, José Sarney e Marco Maia. No fim do ato, uma salva de palmas homenageou os ambientalistas mortos no Pará.

FONTE: O GLOBO

PT se aproxima de Kassab e abre possibilidade de aliança

Com o aval do comando nacional, o PT paulista decidiu no fim de semana manter abertas as portas para que o Partido Social Democrático (PSD), a ser criado pelo prefeito Gilberto Kassab, integre a base de apoio da presidente Dilma Rousseff no Congresso. Também ficam liberadas as coligações com candidatos petistas nas eleições municipais do ano que vem, informa Alberto Bombig. Durante o Encontro das Macrorregiões do PT-SP, a direção paulista conseguiu vetar uma resolução que proibiria as alianças eleitorais com o partido de Kassab. A proposta de coibir coligações com o PSD partiu de um grupo de petistas da capital, contrário ao prefeito. Mas a direção estadual atuou fortemente e conseguiu rachar o partido. O resultado da consulta foi de 236 votos favoráveis a proibição e 236 contrários. Na prática, isso significa que não existe hoje um veto formal ao PSD. No encontro realizado em Sumaré, os petistas aprovaram, no entanto, o veto formal às coligações com o PSDB, o DEM e o PPS em todo o Estado

PT se aproxima de Kassab e decide manter possibilidade de aliança em SP

Direção paulista do partido barra resolução que proibiria coligações entre petistas e candidatos do PSD no Estado; gesto ocorre no momento em que o prefeito está sob ataque da oposição a Dilma e negocia integrar a base governista no Congresso

Alberto Bombig

Sob ataque do DEM em todo o País, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ganhou no fim de semana um forte aliado em sua intenção de criar seu novo partido, o PSD. Reunido em Sumaré (SP), o PT paulista decidiu manter abertas as portas para que a nova sigla integre a base de apoio da presidente Dilma Rousseff no Congresso e, pelo menos por enquanto, possa até fazer coligações com candidatos petistas nas eleições do ano que vem.

A decisão foi interpretada como um sinal para os demais diretórios do País de que o partido de Kassab não deverá ser tratado como um adversário natural do PT, mas sim como uma sigla a ser usada na sustentação do governo e na luta contra a oposição, especialmente em São Paulo, Estado governado pelo PSDB desde 1995 e hoje a principal obsessão do Planalto e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante o Encontro das Macrorregiões do PT-SP, a direção paulista conseguiu vetar uma resolução que proibiria alianças eleitorais com o partido de Kassab, caso a sigla seja viabilizada.

Seria mais uma medida para asfixiar o PSD no seu nascedouro (São Paulo), pois a nova sigla já é alvo de ações na Justiça capitaneadas pelo DEM, o antigo partido do prefeito.

A proposta de proibir coligações do PT com o PSD partiu de um grupo de petistas da capital do Estado, oposição ao prefeito Kassab. Mas a direção estadual atuou fortemente para evitar que ela fosse aprovada e conseguiu ao menos rachar o partido. O resultado da consulta foi de 236 votos favoráveis à proibição e 236 contrários. Na prática, isso significa que não existe hoje um veto formal ao PSD dentro do comando petista.

A decisão agora deverá ser tomada em um seminário a ser organizado pelo PT somente para analisar a questão. No encontro, que contou com a participação de Lula, os petistas aprovaram o veto formal às coligações com o PSDB, o DEM e o PPS em todo o Estado. Por sugestão de vereadores de São Paulo, o PSD foi incluído na consulta, mas a direção conseguiu barrar a restrição formal ao partido que ainda está na fase de coletas de assinaturas para ser viabilizado a tempo de concorrer nas eleições de 2012.

"Em termos de cenário nacional, seria ruim para o PT paulista mandar um recado negativo ao novo partido do prefeito Kassab. Todos os sinais hoje são para que ele integre a base de apoio ao governo federal no Congresso. Seria, antes de mais nada, prematuro um veto ao PSD neste momento", disse o deputado estadual Edinho Silva, presidente do PT do Estado de São Paulo.

Edinho defendeu pessoalmente a proibição ao veto e colocou todo o peso da direção estadual para evitar que os paulistanos obtivessem êxito. O diretório da capital já declarou ser contra a aproximação com Kassab. "O PT da capital não aceita qualquer possibilidade de união com o prefeito. Discordamos das políticas públicas implementadas pela gestão dele e vamos permanecer na oposição", diz o vereador Antônio Donato, presidente dos petistas paulistanos.

"A questão da capital não pode balizar o PT em todo o Estado , diz Edinho. Em Ribeirão Preto, importante cidade do interior, por exemplo, a prefeita Dárcy Vera tem a intenção de concorrer à reeleição pelo PSD com o apoio decisivo dos petistas.

Na capital do Estado, o sonho de parte dos petistas seria ter o apoio de Kassab no caso de um eventual segundo turno entre um candidato do PT e um do PSDB. Em conversas reservadas, o prefeito acena com essa hipótese para seduzir os petistas da direção estadual.

CPI do PSD. Donato também é autor de um requerimento que propõe a criação de uma CPI na Câmara Municipal para investigar o suposto uso da máquina pública da gestão Kassab na coleta de assinaturas para a criação do partido. Para isso, são necessárias 28 adesões de parlamentares.

No fim de semana, porém, o governador Geraldo Alckmin declarou não ser favorável à instalação da CPI, o que deve inviabilizar o apoio dos sete vereadores do PSDB à proposta de Donato. Além disso, dentro da própria bancada do PT, Kassab possui a simpatia dos grupos ligados ao vereador Arselino Tatto e ao deputado estadual João Antônio.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Benefício fiscal não é controlado, aponta TCU

Auditorias do Tribunal de Contas da União apontam que os benefícios fiscais oferecidos pelo governo cresceram sem controle adequado da execução dos projetos e da avaliação dos resultados. No ano passado, o Tesouro deixou de receber R$ 144 bilhões em receitas - o suficiente para bancar, em valores de 2010, quase todas as despesas com educação, saúde e assistência social

TCU aponta descontrole em benefícios fiscais do governo

União abre mão de receita, mas fiscalização de projetos é frágil, diz tribunal

Renúncia em 2010 foi de R$ 144 bi, valor que supera as despesas com saúde e educação; Fazenda não comenta

Dimmi Amora e Gustavo Patu

BRASÍLIA - Impulsionados pelo intervencionismo econômico da administração petista, os benefícios fiscais oferecidos pelo governo cresceram sem controle adequado da execução dos projetos e avaliação dos resultados, segundo auditorias do TCU (Tribunal de Contas da União).

Ao todo, os cofres do Tesouro Nacional deixaram de receber R$ 144 bilhões no ano passado em receitas tributárias, previdenciárias e financeiras, segundo dados do Poder Executivo analisados pelo tribunal.

Trata-se de dinheiro suficiente para financiar praticamente todas as despesas do governo com saúde, educação e assistência social.

Relatório sobre programas incentivados aponta, entre outras fragilidades, "ausência de indicadores, metas e avaliação de resultados" e "deficiências nos procedimentos de controle da execução dos projetos".

Procurado, o Ministério da Fazenda não quis comentar.

ESTÍMULO

As renúncias fiscais são oficialmente explicadas pela necessidade de estimular setores da produção nacional, reduzir desigualdades regionais ou favorecer segmentos sociais mais vulneráveis.

Já pela argumentação dos críticos, tais justificativas podem servir de pretexto para a ação de lobbies influentes que obtêm vantagens mesmo à custa de provocar distorções no sistema produtivo.

A tradição brasileira de incentivos é ampla a ponto de incluir objetivos tão diferentes quanto a Zona Franca de Manaus, o horário eleitoral gratuito, a política industrial e a Lei Rouanet.

Embora não haja informações completas, os dados tributários e previdenciários mostram alta -acima da taxa de crescimento da economia- dos incentivos nos últimos quatro anos.

Enquanto o governo Lula estabelecia como prioridade a aceleração do crescimento da economia, a renúncia de receitas do Tesouro e da Previdência aumentou 32% acima da inflação entre 2006 e 2010 e passou de 3,3% para 3,4% do PIB.

Um dos incentivos criados no período foi o Reidi (Regime Especial para o Desenvolvimento da Infraestrutura), no qual uma auditoria do TCU detectou, além do controle precário da execução, uma concentração de benefícios para os setores de energia e transportes.

Os programas nos quais o tribunal encontrou mais problemas foram os ligados à Política Nacional de Desenvolvimento Regional, definida por decreto em 2007.

Após seis auditorias, o TCU concluiu que "está configurada uma situação de alto risco. Segundo o órgão, não há um modelo para avaliar o impacto da aplicação dos recursos e projetos são aprovados sem análise de viabilidade técnica.

Para o ministro do TCU Aroldo Cedraz, os incentivos contrariam a redução das desigualdades regionais. "Dos valores renunciados, 68% ficaram no Sudeste e 32% nas outras regiões."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Charge: A transparência

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Sigilo, segredo, censura:: Alberto Dines

Terra das contradições, incoerências e paradoxos, o Brasil não poderia ter uma imprensa preocupada com este tipo de desarranjo. Razão por que nenhuma das grandes vozes da nossa mídia prestou atenção à tremenda confusão conceitual provocada por três decisões recentes.

Enquanto nossa suprema corte aprovou por unanimidade a realização de manifestações em favor da liberação da maconha, o governo e o Congresso vão na direção contrária favorecendo o sigilo, o segredo e, em última análise, a censura.

Nosso Judiciário acredita na intangibilidade da liberdade de expressão, o Executivo e o Legislativo favorecem o silêncio e a mordaça. A Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira uma Medida Provisória que permitirá ao governo manter secretos os orçamentos das obras para a Copa e as Olimpíadas. A ocultação tornará impossível o controle dos gastos e favorecerá a FIFA, a CBF, as fraudes, superfaturamentos e corrupção. Até mesmo o procurador-geral da República repudiou a trapaça, mas o governo alega que sem este sigilo as obras fatalmente atrasarão.

O caso da Lei de Acesso às Informações contém discrepâncias mais graves. O projeto foi apresentado com pompa e circunstância no fim do governo Lula, a sucessora recomendou a tramitação em regime de urgência, mas não contava com o ataque de dois caciques da base aliada, os ex-presidentes Sarney e Collor de Melo, que obviamente defenderam o sigilo eterno dos documentos na esfera da Defesa e Relações Exteriores.

A presidente então mandou retirar o chancela de urgência, o PT estrilou e em seguida Dilma Rousseff foi obrigada a ouvir o ex-presidente Lula pronunciar-se abertamente pelo fim do sigilo dos arquivos. “O povo tem mais é que saber”, afirmou Lula. Se Lula tem razão, Sarney e Collor não têm razão. Mas se a presidente Dilma está com Lula, está desautorando seu vice, Michel Temer, que ontem se declarou favorável à manutenção dos segredos do passado. Com tantos sinais conflitantes, a sociedade perde o rumo e a noção do que é certo ou errado.

A imprensa, através da ANJ, soube optar pelo fim dos segredos. Mas não está sabendo apontar os perigos de viver sem nexo, na beira de rupturas.

FONTE: OBSERVATÓRIA DA IMPRENSA

Dilma e seu paradoxo :: Fernando de Barros e Silva

"Estou de saco cheio de ver companheiro acusado, humilhado, e depois não se provar nada." Era Lula, anteontem, num encontro do PT paulista. No contexto da frase, defendia Antonio Palocci, o maior consultor do Brasil. Mas poderia estar falando dos mensaleiros, dos aloprados, do caso Santo André, da família Erenice ou do próprio Palocci, aquele envolvido na violação do sigilo do caseiro -para lembrar só os "greatest hits" do petismo na vida como ela é. Humilhação? De quem contra quem?

Lula, no entanto, não estava preocupado com Palocci, e sim com as brigas internas na bancada do PT na Câmara. Lembrou que o mensalão só veio à tona porque o partido "estava desunido" -como se se tratasse de um problema de falta de coesão, e não de princípios -e passou a seguir um pito coletivo:

"Tem deputado me ligando, querendo conversar. Vocês têm que resolver entre vocês. Todo mundo aqui é maduro, é cientista político. Temos que dar tranquilidade à companheira Dilma".

Ao se colocar como mediador e fingir não fazê-lo, Lula, na prática, cuida da articulação política entre Dilma e seu partido. Como já havia feito entre o PMDB e a presidente.

Sua atuação não traz de volta apenas o estilo palanqueiro, de inflamação retórica e ameaças, que Dilma estava decidida a aposentar. Traz de volta, além disso, a percepção de quem sem ele, Lula, a base aliada será incapaz de conter sua tendência à autofagia. Mais do que interlocutor, Lula age (e também vem sendo solicitado) como o grande fiador da governabilidade -seja porque os aliados não reconhecem a autoridade política da presidente, seja porque os apetites do consórcio no poder são maiores que o prato que o governo pode entregar.

A presença de Lula enfraquece Dilma; sua ausência a desestabiliza. Passada a lua de mel (e a quarentena), o governo parece pendular entre uma coisa e outra, refém de um paradoxo que é péssimo para Dilma e ótimo para seu padrinho.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Quem te viu:: Melchiades Filho

Dilma Rousseff não faz jus à fama de firme e doutrinária nem confirma a expectativa de que realizaria um governo inflexível. Aos poucos, ela vai se dobrando à realpolitik. Resistiu por um tempo à fisiologia pura, mas não tardou a abandonar antigas convicções.

Os recuos mais gritantes dizem respeito a um tema caro à presidente "enquanto pessoa física": a radiografia do passado, sobretudo do período de repressão militar.

Como ministra da Casa Civil, a ex-presa política Dilma reclamou a abertura total dos arquivos oficiais e a revisão da Lei da Anistia, para levar à Justiça os crimes comuns (sequestros, estupros) cometidos em nome do Estado na ditadura.

Agora, defende o sigilo dos documentos que o governo considerar sensíveis e joga fora a chance de ajustar a Lei da Anistia -o advogado-geral da União usou argumentação frontalmente contrária à que Dilma esgrimiu, três anos atrás, para pedir a correção histórica.

Erra quem sustenta que são concessões isoladas para reforçar os alicerces do governo, abalados pela inesperada demissão de Antonio Palocci. Outros recuos precederam a queda do "primeiro-ministro".

Enquanto braço-direito de Lula, Dilma atuou para esvaziar a pauta ambientalista, fritar a colega Marina Silva e explorar o potencial agrícola e energético da Amazônia. Hoje, preocupada com a imagem no exterior, manifesta contrariedade com o Código Florestal em análise no Congresso -cujos artigos, um a um, retratam o que ela sempre defendeu. Mais: Marina é convidada ao Planalto como aliada.

O chamego com FHC, atacado impiedosamente na eleição. A decisão de privatizar os aeroportos, em vez de cumprir os planos de fortalecer a estatal Infraero. A manobra para ocultar os orçamentos da Copa, meses após ter prometido que toda planilha seria divulgada.

Para os dilmistas, há um só alento. Quem muda tanto de princípios um dia pode retomar os originais.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

FH em oito retratos :: Ricardo Noblat

"Ele deve ter algum problema psicológico, tem dificuldade em fazer gestos comigo". (FH sobre Lula)

1.Sozinho em uma estação de trem da Europa, tendo deixado a Presidência da República há poucos meses, Fernando Henrique Cardoso notou que uma mulher, a alguns metros de distância, não tirava os olhos dele. Retribuiu o interesse. A mulher, uma brasileira, finalmente se aproximou e disse: "Sei quem é você. Sei, sim. Você é um artista da Globo".

2. FH era o líder do PMDB no Senado. E a “Veja” tinha um acordo com ele: às quintas-feiras, despachava um repórter para ouvi-lo em "off" sobre os temas mais candentes da semana. A jornalista Cecília Pires cumpriu esse papel em 1985. Mas quando voltou a procurá-lo em fevereiro do ano seguinte trocara a "Veja" pelo "Jornal do Brasil." O que disse FH foi manchete de capa do jornal. Chamou Sarney de fraco e de incompetente. E conclamou o povo a exigir a redução do mandato de Sarney. Uma semana depois, o governo lançou o Plano Cruzado, que congelou preços e salários. Sarney virou um semideus. E pôs FH na geladeira.  O cruzado não durou um ano. E logo FH voltou a espicaçar Sarney. A um repórter que o perguntou como via a crise, respondeu: "Viajou". Sarney estava viajando.

3. Convidado em 1992 pelo presidente Itamar Franco para ministro das Relações Exteriores, FH deslumbrou-se com o cargo. Amava viajar e ser paparicado. "Um dia, sua assessora de imprensa, a devotada Ana Tavares, advertiu-o: “Você tem que cuidar de São Paulo, receber vereadores, desse jeito não se elegerá sequer deputado". Dois anos depois, FH se elegeu presidente graças à força da nova moeda - o real. "Presidência da República não é meta, é destino", lembrou-lhe mais de uma vez o senador Antônio Carlos Magalhães (BA).

4. Um dos primeiros compromissos da campanha presidencial de 1994 obrigou FH a falar para uma plateia de agricultores e políticos do PSDB de Juazeiro do Norte, Ceará. Contou que se opusera à ditadura militar de 64, fora preso, e que, por isso, perdera a cátedra. Na hora dos cumprimentos, ouviu de um homem de voz grave, dono de um forte aperto de mão: "Esse negócio de cátedra... Não se preocupe. Você é homem! É macho! Todo mundo sabe. E foi por uma boa causa."

5. No fim do seu primeiro mandato como presidente, FH não aguentava mais ouvir José Serra criticar Gustavo Franco, diretor do Banco Central, do qual divergia por causa da política de câmbio. Um dia deu a entender a Serra que demitiria Franco. Demitiu o outro Gustavo, Loyola, presidente do banco. E nomeou Franco para o lugar dele. "Eu era refém de Gustavo Franco. Se o tirasse de lá, precipitaria a desvalorização do real", justificou-se FH. Alfinetou Serra: "Se eu fosse mulher e Serra me cantasse, eu daria logo para ele. Do contrário, minha vida viraria um inferno."

6. Na noite em que se elegeu presidente pela segunda vez, FH jantou no Palácio da Alvorada na companhia de amigos. E vaticinou à sobremesa: "Meu sucessor vai sair da esquerda. Será Covas ou Lula. Covas está doente. Em breve, chamarei Lula para uma conversa." Mário Covas (PSDB) era governador de São Paulo. Sofria de câncer. Morreu em 2001.

7. A campanha presidencial de 2002 estava pelo meio quando FH convidou Lula para uma conversa reservada. "O que você acha?", perguntou Lula. "Acho que você vai ganhar. Mas precisa fazer um gesto para acalmar o mercado financeiro e o capital internacional", respondeu FH. Pouco tempo depois, Lula divulgou a Carta aos Brasileiros onde prometia manter a política econômica de FH. Em telefonemas para os presidentes dos Estados Unidos, Bill Clinton, do FMI e do Banco Mundial, FH avalizou a promessa de Lula.

8. Antes de passar a faixa presidencial para Lula, FH admitiu que só haveria uma hipótese de, no futuro, ser candidato a um terceiro mandato: se o país fosse atingido por uma grande crise. Disputaria a Presidência para implantar o regime parlamentarista de governo. Não queria ser primeiro-ministro, mas Chefe de Estado.

FONTE: O GLOBO

O quarteto e a fortuna:: Renato Janine Ribeiro

Em breve completará quinhentos anos o livro mais famoso do florentino Nicolau Maquiavel, "O Príncipe". De toda a história da filosofia política, é um dos livros mais fáceis de ler. Qualquer um entende tudo o que ele diz. Mas a discussão é áspera sobre o que ele quis dizer, tanto que ainda hoje muitos lhe atribuem uma frase que não é sua, a famosa "os fins justificam os meios". Mas, para nos aproximarmos de seu pensamento, lembremos: Maquiavel diz que vai tratar no Príncipe dos governos novos (não dos já existentes), conquistados com o apoio de "armas alheias". Em suma, trata de governantes que acabam de chegar ao poder, não pela força própria, mas graças a armas de outros. Tiveram sorte, foram bafejados pela fortuna - mas, se quiserem consolidar o poder, terão de se mostrar capazes de mandar eles mesmos. Essa capacidade Maquiavel chama de "virtude", a palavra que vem do latim "vir", varão. Não é uma virtude moral ou religiosa, mas a capacidade de governar a vida política.

Atualizando, podemos dizer que numa época democrática, em que todos os políticos são novos porque o poder não é mais herdado, a distinção de Maquiavel é útil de uma forma nova. Eles batalharam pelo poder? Virtùù. Receberam o cargo da vontade alheia? Fortuna. Essa diferença não se confunde com a questão de serem eleitos ou nomeados. Há eleitos graças ao apoio alheio. Há nomeados que lutaram pelo cargo. Mas a diferença ajuda a ver quem tem força própria para continuar o voo sem padrinho, mesmo tendo decolado graças a ele.

Dá para dividir o quarteto de políticos mais importantes de nosso país, nos últimos anos, segundo as categorias de Maquiavel? É instrutivo. Dois presidentes chegaram ao cargo por armas alheias. É o caso de Fernando Henrique, "accidental president of Brazil", como ele mesmo se diz. Em condições normais, seria difícil um intelectual de seu porte, nosso chefe de governo mais estudado desde José Bonifácio, vencer no voto popular. Sustento que foi eleito num estado de exceção econômica, quando a inflação - e o plano que lhe pôs fim - neutralizavam tudo o mais. Mas ele, de quem Conceição Tavares dizia que seria tutelado por Antonio Carlos Magalhães, firmou-se como um presidente divisor de águas, ademais o primeiro a ser reeleito em nossa história. Mostrou virtude, no sentido de Maquiavel. Com o segundo mandato, que criou um abismo entre ele e os demais líderes de seu partido (um dos quais teria sido seu sucessor em 1998, não fosse a reeleição), terminou de superar a dependência das armas alheias.

Também Dilma Rousseff chegou ao poder, não por virtù própria, mas pelo apoio que recebeu, no caso, de Lula. Daí que se coloque, para ela, a mesma questão de FHC. Este é talvez o momento decisivo de seu governo, em que provavelmente se definirão os próximos anos e seu papel na Presidência e mesmo na história. Voltaremos a ela.

Em compensação, dificilmente teríamos exemplos melhores de virtù que Lula - e Serra. O líder petista também era um presidente improvável - que, na frase de Delfim Neto, perderia no voto para qualquer poste. Mas o que fez entre 2000 e 2002 é digno dos melhores políticos: Lula aliou-se a um grande empresário, exigiu de seu partido que não o atrapalhasse, prometeu respeitar os contratos e recorreu a um habilíssimo marqueteiro. Daí, seu êxito. No governo, soube usar a maestria forjada nas derrotas para continuar vencendo. José Serra é outro líder de grande virtù, que se prepara há muito para os mais altos cargos. Sua trajetória é diferente dos outros três, que tiveram parca experiência de gestão (só FHC e Dilma, ministros) ou eleição (apenas FHC e Lula, para poucos cargos) antes da Presidência. Serra percorreu todas as etapas e se destacou em quase todas, de militante a ministro e governador. Preparou-se técnica e politicamente. O fato de não ter sido eleito presidente não depõe contra sua virtù. Nem sempre ela é premiada com o sucesso. Serra deu talvez o máximo de si, e seu jogo ainda não terminou.

Mas a questão agora é: será Dilma capaz, como FHC, que chegou ao poder levado pelos outros, de mostrar que sabe mandar e liderar? Não é fácil dar esse salto. Não sei se ajudou FHC o fato, como cientista político, de conhecer bem o autor que citei, Maquiavel. A prática política é mais arte que ciência - e a própria raridade de cientistas da política na chefia de governos (quem, além do próprio FHC?) mostra como a prática requer arte, enquanto a ciência serve para explicar depois, não para planejar ou prever. Terá Dilma voo pessoal? Mostrará virtù? A questão se torna curiosa porque para Maquiavel a virtù era viril, enquanto "a fortuna é mulher", acrescentava ele, e por isso "gosta dos que a espancam" (sic). O que é então uma presidente mulher, ou presidenta, como ela prefere, ter virtù? Muito já se falou da dureza de Dilma, que estaria dividida entre sua natureza feminina e uma cultura, um desempenho que seriam mais impositivos, "masculinos". Mas esse pode ser um problema mais nosso do que dela, porque o mesmo já se falou de Thatcher e Hillary Clinton, assim como se fala das ministras Ideli e Gleisi: ainda não nos acostumamos com o que é uma mulher no poder. Queremos que demonstrem rigor másculo e sensibilidade femininas - e nos queixamos quando são demasiado viris, como Thatcher, ou apelam demais ao feminino. É interessante, no debate que ora trata da presidenta e suas ministras, ver como a referência a seu sexo vem junto com a pergunta sobre o poder que têm e a truculência, ou não, delas - questões que não receberiam a mesma ênfase, tratasse-se de homens. Acompanhemos os próximos capítulos.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O Partido Democrático como partido novo:: Alfredo Reichlin

Sobre o significado desta avalanche de votos nos referendos já se disseram muitas coisas. Convém refletir bem a respeito, porque as novidades são grandes: afinal, é uma nova geração que está tomando a palavra. Não é pouco. Não creio que se trate só de uma condenação política de Berlusconi. Certamente, é isso também, e é fundamental. Mas no voto daqueles 25 milhões de italianos (muito além dos limites da esquerda) existe, acredito, um fenômeno mais profundo: a exigência das pessoas de se reapropriarem da suas vidas.

Pierluigi Bersani fala de uma desforra cívica. É verdade, mas em relação a quê? Não só à vergonha do “bunga bunga”, mas também (não o ocultemos) à degradação da política: a política sem finalidade, sem análise nem programa, em busca de um consenso imediato, subalterna ao poder econômico. Fiquei surpreso com a indignação de alguns sobre o “simplismo” do quesito sobre a água e a energia nuclear. Sim, era simplista, mas o que não se compreendeu é o sentimento que finalmente se revela com tanta força, depois de anos e anos em que só se fez a exaltação do indivíduo negado como pessoa, porque “a sociedade não existe”.

O que se revelou foi a demanda de “bens comuns” e de qualidade de vida. Emergiu, finalmente, uma enorme exigência de justiça que ouvi no brado de uma mulher simples: vocês nos tiraram o trabalho, tornaram-nos trabalhadores precários, enriqueceram-se escandalosamente, quero pelo menos impedi-los de tomar o mais simples dos bens comuns, que é a água. Uma ingenuidade, certamente, mas a esquerda, se for inteligente, deve compreender que existe uma enorme demanda de relações sociais, de sentido das coisas, de significados da vida, de regras. Eu parto disso. E é por essa razão (está mudando algo na relação entre política, economia e sociedade) que percebo a necessidade de um partido novo. Não mais a soma de velhas histórias. O Partido Democrático. Um sujeito político que pretende pôr em campo um movimento reformador amplo, o qual seja sustentado por uma cultura capaz de reler os problemas italianos à luz da relação cada vez mais intrínseca entre a Itália e o mundo.

Mas que análise vocês fazem — me perguntou um velho amigo —, se não levam em consideração o modo como o superpoder financeiro está mudando por toda parte os mapas sociais e a relação entre o dinheiro e a riqueza real? Percebem o que implica este tipo de austeridade imposto pela direita europeia? Vocês não terão nunca o desenvolvimento e terminarão como a Grécia.

Com efeito, esta é a grande tragédia que nos assedia, e para enfrentá-la é vital tirar do caminho este governo que não governa. Diante deste risco mortal, o dever do Partido Democrático é pôr em campo um novo projeto para a Itália.

Mas não bastará agir “de cima”: será preciso despertar os recursos mais profundos e vitais do País. Eis a grande tarefa que o PD se propõe. É a de restituir à democracia o poder de decidir, o que, no fundo, consiste em inverter a relação de subalternidade da política em relação à economia. A democracia não só como procedimento, mas como liberdade das pessoas, as quais, através de um novo poder político, sejam postas em condições de decidir o próprio destino. É aqui que se fundamenta a razão da reunificação das forças reformistas e a novidade do perfil de uma força que assume a missão de restituir ao “príncipe” (isto é, às pessoas) o enorme potencial criativo dos italianos, sua liberdade de escolher, de empreender, de se realizarem.

É neste horizonte que vejo a necessidade de reerguer a bandeira do trabalho. Um trabalho que não é só o trabalho operário, mas também, certamente, do empreendedor, do produtor, do intelectual, do artesão. Uma coisa diferente em relação ao trabalho dos tempos de Giuseppe Di Vittorio [1892-1957, dirigente histórico do sindicalismo da CGIL]. Mas uma coisa igualmente forte. Trata-se de uma ideia de justiça e solidariedade, capaz de envolver as camadas mais modernas e criativas, reconhecendo, além das necessidades, os méritos, e dando a palavra a uma nova geração que se impacienta com as velhas tramas.

Sempre tive a convicção de que não se pode formar um grande partido sem uma visão de longo período. Mas em que consiste hoje esta visão, senão em pensar o processo de emancipação social como um fenômeno que não cancela os contrastes de classe, mas não se reduz a eles? Toda a história humana foi adiante graças à progressiva libertação do indivíduo das velhas barreiras nas quais se organizara pouco a pouco a sociedade: dos vínculos feudais ao papel dos sexos e às contraposições sociais com bases ideológicas. E é por isso que não são aceitáveis as lógicas de uma oligarquia financeira que tende a invadir — inclusive através do controle da informação e dos instrumentos que produzem o “senso comum” — todos os âmbitos da vida. A sociedade não pode ser reduzida a sociedade de mercado, sem se desagregar. O indivíduo largado a si mesmo não pode apelar àquelas suas extraordinárias capacidades criativas que não vêm do simples intercâmbio econômico, mas da memória, da inteligência acumulada, da esperança e da solidariedade humana.

O desenvolvimento humano. Afinal, não seria este o objetivo e a marca identitária do Partido Democrático, a sua missão original?

Alfredo Reichlin foi membro da secretaria, da direção e do comitê central do PCI, além de responsável pelo Departamento Econômico e ministro do “governo sombra” daquele partido. Foi também presidente da Direção Nacional dos DS (Democratas de Esquerda). Recentemente, esteve à frente da comissão responsável pela redação da “Carta de valores” do PD (Partido Democrático). Dirige a Fondazione Cespe — Centro Studi di Politica Economica, em Roma.

Tradução: A. Veiga Fialho

FONTE: GRAMSCI E O BRASIL

O que pensa a mídia

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A questão da desindustrialização:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

Um dos itens mais importantes na agenda dos debates sobre a economia tem sido a questão da chamada desindustrialização. Termo cunhado para caracterizar uma redução importante na participação da indústria no PIB, ela tem sido apresentada como um dos mais graves problemas a serem enfrentados nos próximos anos.

Na minha leitura existe uma série de erros de diagnóstico - principalmente em relação à China - que estão sendo cometidos pelos que defendem medidas radicais para reduzir a competição das importações de produtos industriais. Pretendo a seguir fazer algumas reflexões que possam ajudar nesse debate.

Eu dividiria as causas que estão por trás da perda de valor agregado na indústria brasileira em dois grupos principais. O primeiro compreende algumas mudanças por que passa uma economia de mercado como a brasileira quando ela amadurece. São forças que não devem ser combatidas, pois os benefícios que trazem para a sociedade são direitos dos cidadãos. É o caso da perda de parte da produção industrial local pelo aumento das importações por conta de um processo natural da abertura comercial de um país.

Mas quais os benefícios que um aumento das importações pode trazer a uma sociedade como a brasileira, se ele reduz o número de empregos na indústria, questionam muitos? O maior deles é que as importações, ao aumentarem a oferta de determinados bens nos mercados internos, reforçam a competição e permitem que os consumidores tenham acesso a produtos com os mesmos preços e qualidade dos existentes em outros países.

Temos um exemplo recente e emblemático dos benefícios da abertura das importações. Ele aconteceu com os preços do aço no mercado interno. Nossas siderúrgicas sempre trabalharam com um ágio de cerca de 30% em relação aos preços internacionais. Isso apesar de sermos um produtor importante de minério de ferro e que tem, nos custos de transporte marítimo, um item expressivo na formação de seus custos. Pois nos últimos anos, com as importações representando finalmente uma parte relevante da oferta de aço no mercado interno, esse ágio praticamente desapareceu. Os reflexos dessa convergência de preços internos e internacionais já podem ser identificados, por exemplo, na formação dos preços dos automóveis produzidos no Brasil.

Outra força positiva na economia criada por importações maiores é a utilização de componentes produzidos de maneira mais eficiente e barata em outros países. Ao se fazer essa integração, estamos aumentando o poder competitivo dos produtos finais - de maior valor agregado - que saem das linhas de produção de nossas indústrias. Esse é mais um exemplo de como a redução da produção em algumas áreas permite que se aumente em outras com valor agregado maior, principalmente no setor de bens de capital. Ou, dito em outras palavras, um exemplo em que a perda de emprego em algumas empresas seja compensada pelo aumento em outras, sem que o consumidor seja prejudicado.

Outra força natural que está por trás da perda da participação da indústria no PIB brasileiro está associada ao aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos. Esse é um fenômeno que ocorre também em outras sociedades em que a economia de mercado prevalece. A participação da indústria em economias como a chinesa - que tem uma renda média igual a um terço da brasileira - é uma, em sociedades como a americana - com renda três vezes maior do que a nossa - é outra, bem menor. Na próxima década, quando se espera que a renda média do brasileiro dobre em termos reais, é natural que a indústria continue a perder importância relativa para o setor de serviços. Tentar evitar isso, com medidas coercitivas definidas pelo governo, seria agredir o metabolismo de uma economia de mercado em trajetória de expansão e criar desequilíbrios importantes no futuro.

Finalmente, nesse grupo de forças que nascem de uma dinâmica natural de uma economia de mercado, temos a que está associada à importância dos produtos primários na matriz de produção do Brasil de hoje. Vivemos em um mundo em que as matérias primas e alimentos passaram a valer mais do que um grande número de produtos industriais. Essa nova realidade reflete-se nos chamados termos de troca, ou seja, a relação entre os preços daquilo que exportamos e os de nossas importações. Há alguns anos essa relação era próxima de 0,9, ou seja, para cada US$ 100 que exportávamos podíamos importar o equivalente a US$ 90. Hoje essa mesma relação é 1,35.

A posição do Brasil hoje é muito parecida com a dos grandes exportadores de petróleo, com a diferença que a força de nossas exportações vem de um número grande de produtos primários. Mas o efeito macro econômico é o mesmo - uma moeda forte e valorizada - que prejudica nossa indústria. Nesse sentido vamos sofrer as mesmas dificuldades das encontradas pela Noruega, Rússia e países exportadores de petróleo do Oriente Médio.

No segundo grupo de forças que reforçam a tendência de perda de produção industrial estão fatores que podem ser reduzidos ou mesmo eliminados por ações do governo. Voltarei a eles em nosso próximo encontro.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

FH se emociona ao receber homenagens

Ao completar 80 anos, ex-presidente diz que ainda não é hora de uma autobiografia

Wagner Gomes

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi novamente homenageado ontem pelos seus 80 anos, completados sábado. Em um evento com quase 1.500 pessoas na Sala São Paulo, Fernando Henrique foi aplaudido de pé pelo público após um concerto da Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp), que tocou o “Parabéns a você” ao encerrar as peças de Alberto Nepomuceno e Felix Mendelssohn-Bartholdy. Emocionado, o ex-presidente desceu do camarote e fez um discurso de agradecimento ao público, ao lado dos músicos da Osesp. Acompanhado dos filhos e de alguns políticos do PSDB, como o secretário de Cultura do estado, Andrea Matarazzo, o ex-presidente agradeceu:

— A gente sempre espera alguma, mas foi demais. Com sinceridade, eu não esperava. Eu só tenho que agradecer por chegar aos 80 anos e ser tão festejado—disse ele, aos jornalistas, ao final do concerto. As comemorações dos 80 anos começaram semana passada com um jantar para 500 convidados. A Executiva do PSDB prepara outra homenagem para o dia 30, no Senado.

Após o concerto, o ex-presidente voltou a dizer que não teminimigos e que se considera uma pessoa afetiva - “com vontade de ajudar , nunca atrapalhar”. Afirmou que evita ressentimentos enão guarda “mágoa na geladeira”.

— Não é o meu estilo. Prefiro sempre olhar as pessoas no ângulo positivo. Não tenho ressentimento. Mas aprendi a separar o que dizem de mim como personagem e o que eu sou. Nem sempre as pessoas estão se referindo a mim como pessoa, mas como personagem. E tem que brigar um personagem com o outro, eu e o Lula, por exemplo. Eu gosto do Lula.

Espero que ele ainda goste de mim. Perguntado se pretende escrever uma autobiografia, FH afirmou que não é hora para fazer um balanço de sua vida. Voltou a dizer que ficou contente com acarta que a presidente Dilma Rousseff enviou para cumprimentá-lo pelo aniversário. Se tivesse que mandar um recado aDilma, diria para ela não fraquejar e ter coragem.

— Pode ser que eu não esteja de acordo, mas ela acreditando será bom para o Brasil. Ela não tinha obrigação (de enviar a carta). Foi afetiva e eu fiquei tocado, gostei. Acho que é bom para o Brasil que um presidente e os ex-presidente tenham uma relação normal, civilizada, principalmente para pessoas que não são do mesmo partido. Isso é um símbolo, é importante.

FONTE: O GLOBO

Bronca de Lula em petistas foi combinada com Dilma

O gesto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de enquadrar publicamente a bancada do PT da Câmara anteontem foi acertado na sexta-feira com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada. Segundo relatos, Lula e Dilma chegaram a conclusão de que, se a bancada petista continuasse com as ameaças, a governabilidade estaria ameaçada.

No dia seguinte, em Sumaré (SP), Lula foi enfático e cobrou maior unidade em defesa de Dilma. Para interlocutores, Lula demonstrou preocupação com o comportamento da bancada petista de desafiar permanentemente Dilma, desde que estourou a crise que derrubou Antonio Palocci da Casa Civil.

Segundo um dirigente petista, a preocupação foi externada por Lula a Dilma na sexta. O ex-presidente teria assumido o compromisso de dar "um puxão de orelhas" nos líderes da bancada do PT. Mas aconselhou Dilma a intensificar contatos políticos não só com os aliados, mas principalmente com o PT. E advertiu que era preciso reverter a insatisfação no partido.

Na sexta-feira, O GLOBO antecipou que Lula seria chamado por Dilma para pacificar a bancada da Câmara. Os deputados não escondem a insatisfação por terem sido preteridos por Dilma na coordenação política. A presidente optou pela ex-senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para as Relações Institucionais.

A decisão contrariou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), que pressionava pela indicação do líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PTSP). O reflexo mais evidente da rebelião é a disposição de Maia de votar matérias que desagradam ao Executivo, como a PEC 300, que estabelece o piso de policiais militares e bombeiros, e a regulamentação da Emenda 29, que estabelece gasto mínimo com a Saúde.

FONTE: O GLOBO

Dilma teme por governabilidade e mira petistas

Mais firme na política, Planalto decide enquadrar presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia

João Domingos

Sob intensa pressão do PT paulista e do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), logo após demissão de Antonio Palocci da Casa Civil, a ponto de temer pela governabilidade, a presidente Dilma Rousseff surpreendeu e passou a trabalhar intensamente nos bastidores da política para debelar crises.

Nos últimos dez dias Dilma fez mais política do que nos cinco primeiros meses de governo, conta um auxiliar. Primeiro, escolheu a senadora Gleisi Hoffmann para substituir Palocci de forma solitária, sem nem consultar seu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva. Depois, ignorou articulação feita pelo presidente da Câmara com petistas de São Paulo para levar o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), para a coordenação política. Optou pela ex-senadora Ideli Salvatti.

Em seguida, exigiu de Vaccarezza, do líder do PT, Paulo Teixeira (SP), do ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do ex-presidente nacional do partido Ricardo Berzoini (SP) que assinassem uma trégua. Afirmou que a crise alimentada pela briga deles desde a eleição de Marco Maia, em fevereiro, ameaçava contaminar o governo, a base aliada e o próprio partido.

Por fim, Dilma resolveu acertar as contas com Marco Maia, que ameaçava votar dois projetos - a regulamentação da Emenda Constitucional 29 e a Proposta de Emenda Constitucional 300 - que podem causar um rombo de R$ 40 bilhões no Tesouro. De acordo com funcionários do Planalto, foram quatro conversas, as três primeiras muito tensas, ríspidas, chamando o presidente da Câmara à responsabilidade. A última conversa, na quinta-feira, já foi mais tranquila.

O lado de Marco Maia confirma os quatro contatos. A diferença, na versão do presidente da Câmara, é quanto à forma. Segundo seus assessores, todas as conversas foram tranquilas. O certo é que, aos gritos ou não, Dilma não se deixou emparedar pelo presidente da Câmara. E arrancou dele o compromisso de que não facilitará a votação das propostas.

A regulamentação da Emenda 29 pode causar um rombo de R$ 8 bilhões no Tesouro. Ela vai definir os gastos mínimos da União para a área da saúde e o que é esse conceito. O rombo da PEC 300 é calculado em R$ 32 bilhões. Essa emenda constitucional unifica o piso salarial das polícias e faz com que a União compense os gastos dos Estados. Na opinião de Dilma Rousseff a aprovação das duas propostas inviabilizaria seu governo.

O senador Jorge Viana (PT-AC) atribui à cobiça eleitoral de seu partido e às desavenças internas a causa da maior crise do governo de Dilma Rousseff, que começou com o escândalo envolvendo Palocci em suspeita de enriquecimento ilícito e continuou com a briga dos petistas de São Paulo. Ele quer que o PT pare de brigar com o PMDB. "Temos de ter a consciência de que casamos com o PMDB. Eles têm os mesmos direitos. Não podemos ficar querendo tudo para nós."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Falta de dados impossibilita cálculo sobre o BNDES

BRASÍLIA - Nem o TCU conseguiu, em quase quatro meses, saber o gasto efetivo do governo nas bilionárias capitalizações do BNDES desde a crise de 2008.

Nessas operações, o governo capta recursos no mercado financeiro e os repassa ao banco para serem emprestados. A estatal faz os empréstimos a juros mais baixos e a diferença é subsidiada pelo Tesouro Nacional.

Para o relatório, o TCU pediu os dados ao banco e ao Ministério da Fazenda, mas não os recebeu. "É necessário mais transparência desses dados", disse Aroldo Cedraz, relator das contas.

Os técnicos ainda tentam saber o custo efetivo de empréstimos autorizados por duas leis em 2009. Foi concedido ao BNDES subvenção para créditos de até R$ 124 bilhões. O banco recebeu aportes de R$ 200 bilhões.

Em 2011, o governo autorizou o BNDES a utilizar recursos que deveriam ser pagos ao Tesouro. Nesta semana, foram liberados mais R$ 30 bilhões para o banco.

O BNDES disse que tem controle rigoroso sobre os recursos e que passará a divulgar relatórios trimestrais.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Mônica Salmaso - Valsinha - Chico Buarque - Vinícius de Morais

Meu coração imperfeito::Graziela Melo

Meu coração
imperfeito,


cheio
de dores
e mágoas,


bate
triste,


indiferente
ao mundo
torpe,


navegando
noutras
águas!!!


Procura,
á luz
das estrelas,


o afeto,
os sentimentos!


Arquiva,


no fundo
da alma,


da vida,


os melhores
momentos!!!