-
O Estado de S. Paulo
Se
há uma saída luminosa mais à frente, precisa ser apontada por democratas
sinceros
Não
é só pelos fatos que, dia sim, outro também, causam asco e indignação, como o
brutal assassinato do negro João Alberto em Porto Alegre, em 19/11. Há também
as grosserias e asneiras dos principais mandatários do País, que insuflam o
ódio, o racismo e a bestialidade entre os brasileiros. As mortes da pandemia
doem, assustam e devoram parte das esperanças, que já não são muitas.
Incluam-se, ainda, as polarizações artificiais, as ofensas e o clima inflamado
das disputas eleitorais que se encerram amanhã.
Isso
precisa ser conectado ao estado de desgoverno, que prolonga os estragos da
pandemia e da crise econômica, misturando-os com apagões irresponsáveis,
queimadas, isolamento internacional, declarações impatrióticas, alucinadas, do
presidente da República, de seus filhos, ministros e assessores.
Tudo
somado, o conjunto é deprimente.
Não
se está conseguindo nem sequer assimilar o repúdio popular aos candidatos
apoiados por Bolsonaro no primeiro turno. Assimilar, aqui, significa criar
condições para que se avance um pouco mais. Porque houve só uma batalha, a
guerra ainda será travada, as forças autoritárias estão vivas, não se saíram
mal nas eleições. Os partidos do Centrão, por exemplo, mostraram capilaridade.
Foram os que mais avançaram, entre tantos fracassos. Eles formam um compósito
heterogêneo, sibilino, em que cabe muita coisa e que deveria ser tratado com
cuidado, separado em partes, sob pena de não ser compreendido e terminar
empurrado apressadamente para o outro lado.
As
eleições municipais revelaram dinâmicas e rostos novos, forças com vontade de
mudar ou de impedir que as coisas piorem. Isso precisa ser articulado, para que
amanhã não se assista a formas renovadas de fragmentação, excitadas pela
dualidade esquerda versus direita, pelo protagonismo, hostis ao
centro-esquerda, ao centro-direita, à ideia de tornar viável uma composição que
dê um “basta!” aos horrores que se reproduzem dia após dia. Se o campo
democrático não se integrar e não melhorar seu desempenho, o autoritarismo
continuará a nos infernizar. Porque o autoritarismo não é sinônimo de
Bolsonaro, vai além dele, nasce das condições concretas em que vivemos.