quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Gabeira reinventa campanha eleitoral na TV e na Internet


DEU NO PORTAL COMUNIQUE-SE


E não foi só a campanha na TV. O candidato do Partido Verde à Prefeitura do Rio de Janeiro, deputado federal Fernando Gabeira, considerado por muitos, um candidato naninco, conseguiu a proeza de ir para o segundo turno contra o candidato apoiado pelo governador Sergio Cabral e pelo presidente Lula. Gabeira conseguiu o que para muitos parecia impossível. Derrotou candidatos poderosos, demonstrou que marqueteiro de sucesso e presidente popular não elegem até mesmo “poste”, foi para o segundo turno e reinventou a campanha eleitoral.

Aqui no Rio, evitou as armadilhas do tradicional “hilário eleitoral” na TV e fez toda uma campanha eleitoral inovadora: mais simples, honesta, jovem e principalmente, mais limpa. Mais limpa em todos os sentidos. Não sujou a cidade e não sujou sua própria imagem com promessas e alianças perigosas.

Gabeira, pela primeira vez, teve a coragem de reinventar a forma de lidar com o público pela TV. Seu programa é um festival de novidades em um oceano de mesmices caras e desgastadas. Ele não apareceu na telinha como mais um produto para consumo dos eleitores. Gabeira parecia gente como a gente. Não é a toa que foi provavelmente uma das maiores “surpresas” dessas eleições. E talvez, a era das grandes e caríssimas campanhas eleitorais pela TV produzidas pelos marqueteiros da moda estejam com os seus dias contados.

O candidato a prefeito do PV explorou bem todas as novas possibilidades de comunicação pela TV e pela rede. Além da página de campanha, manteve uma página pessoal com blog, notícias, fotos e vídeos atualizados. Deu um show de inovação na TV e ousadia na Internet.

Política e patinete

O velho “marketeiro” da campanha do Gabeira, o publicitário Lula Vieira parece ter aprendido com o passado. Ele procurou inovar ao mostrar ao público um candidato como ele é e não como a TV gostaria que ele fosse.

Acertou em cheio. A campanha do Gabeira pela TV pode ser um divisor de águas nas futuras campanhas eleitorais no Brasil. Principalmente, na TV.

Lula Vieira também preferiu investir na biografia do cliente e em uma imagem jovial.

Em entrevista para o UOL (ver aqui), ele disse que “A propaganda eleitoral é como uma luta de boxe, todos se apresentam e vêem como cada um vai lutar. Nós vamos mostrar imagens de quando o Gabeira saiu para a ‘porrada’ na política discutindo com o Severino Cavalcanti (ex-presidente da Câmara dos Deputados) e brigando com seguranças antes da cassação de Renan Calheiros (ex-presidente do Senado). Quero explorar o seu lado contemporâneo. Fiz uma ‘vinhetinha’ com ele andando de patinete na orla da zona sul da cidade para dar um ar jovial. Ele é muito ligado ao jovem e pouco tradicional”, afirmou o publicitário do candidato do PV.

Segundo o noticiário, “uma das novidades da campanha do Gabeira foi a utilização do serviço Google Maps - um detalhado mapa com base em imagens de satélites, que chega a ruas e quarteirões. O candidato a prefeito Fernando Gabeira (PV) usou para mostrar aos internautas as comunidades do Rio dominadas por traficantes ou milícias e mapear os bairros onde estão eleitores e simpatizantes. É um recurso semelhante ao da campanha de Obama, que estimula os eleitores a fazerem campanha na vizinhança e usa um mapa dos Estados Unidos para facilitar o contato dos simpatizantes com os vizinhos”.

Ainda segundo o noticiário recente, “O número crescente de internautas é o grande estímulo para a profusão de novos sites de candidatos, que não se resumem a informativos sobre a campanha, mas procuram oferecer novos atrativos… Uma das diferenças da campanha na internet do Rio para a maior parte das capitais é que o TRE fluminense autorizou o uso do próprio orkut e de outros sites de relacionamento para campanhas. Os candidatos criaram comunidades oficiais de suas campanhas, com acesso direto para os sites e os blogs políticos. A idéia é que usuários do orkut, enquanto navegam no site de relacionamento, acabem chegando às comunidades dos candidatos, mesmo que não tenham interesse especial pela política. Nas outras cidades, as comunidades oficiais no orkut são vetadas pela Justiça”. Tudo a ver.

Em tempos de descrédito da população nos políticos, nos mensalões e nas alianças de última hora, Gabeira soube convencer o público que uma política mais sincera e uma TV mais verde são possíveis.

Soube aproveitar bem os novos recursos comunicacionais da Internet como poucos. E assim como o candidato democrata Barack Obama nos EUA, criou aqui no Rio uma nova imagem para si e para a política local.

A partir de agora, as campanhas eleitorais, a TV e quem sabe, a política brasileira jamais serão as mesmas. Não custa sonhar!

Contenção de Lula enfraquece projeto de onda vermelha no 2º turno

Jarbas de Holanda

A disputa final para a eleição do prefeito de São Paulo entre Gilberto Kassab e Marta Suplicy deverá envolver um empenho pessoal menor – ao invés de mais intenso, como se programava e previa antes – do presidente Lula em favor da candidata do PT. O favoritismo ganho por Kassab na fase final do 1º turno e com os apoios partidários (PSDB, PPS e provavelmente PTB) que está recebendo, aumentou significativamente o risco de que uma derrota de Marta, no contexto de acirrado confronto dele com o governador José Serra, constitua fator de sério desgaste de sua imagem política e eleitoral. Desgaste que ele poderá atenuar com menor envolvimento nesta campanha, de par com a concentração de esforços, na Grande São Paulo, na de Luís Marinho, em São Bernardo do Campo, e nas de seus candidatos em Santo André e Guarulhos, cujas vitórias compensariam ao menos parte do insucesso petista na capital.

A esse tipo de risco se somam duas outras variáveis como principais condicionantes para um papel mais cuidadoso e contido de Lula no 2º turno: a contraposição entre finalistas de partidos da base governista, especialmente PT e PMDB, como em Salvador e Porto Alegre (mesmo que os peemedebistas gaúchos tenham postura de oposição ao governo federal), e os reflexos, crescentes, da crise financeira internacional, pelo que passam a representar de ameaça para a economia em 2009 e para o projeto sucessório de Lula em 2010, riscos que serão usados para proteger o presidente das pressões eleitorais de aliados, sobretudo de petistas.

E a tais variáveis se agregam embaraços que mantêm ou forçam o distanciamento de Lula dos dois outros embates, ao lado do de São Paulo, mais importantes do 2º turno: em Belo Horizonte, porque ele não quer reiterar nem pode mudar o apoio que deu no 1º turno ao candidato da aliança PSB-PT-PSDB, Márcio Lacerda; e no Rio, porque resiste a rever a forte antipatia que sente por Eduardo Paes, do PMDB de Sérgio Cabral , em face da agressiva atuação oposicionista que, como deputado, ele teve no processo do mensalão.

A contenção do presidente agora – por esses motivos, e também por avaliação que deve ter feito (com base nos resultados gerais do 1º turno) das limitações de seu poder de transferência de prestígio ou votos – esvazia em boa parte ou amortece o preparo de uma onda ou maré vermelha lulista para ser deflagrada entre os dois turnos do pleito municipal. Na perspectiva de vitórias emblemáticas na capital paulista e em Porto Alegre e da influência delas em todo o Centro-Sul, bem como com o objetivo de turbinar a força do lulismo nas demais regiões.

A respeito da crise, enquanto de um lado o presidente Lula mistura algumas manifestações de preocupação séria com o problema à insistente retórica de palanque contra “pacotes dos governos anteriores” e o FMI e para desqualificá-la como “marolinhas”, de outro lado, o Banco Central adota várias ações para reduzir o estrangulamento do crédito externo e tentar conter a disparada do dólar. Mas medidas de maior abrangência destinadas à preservação em 2009 do equilíbrio fiscal (impostas por um contexto em que a receita de crescimento bem menor será insuficiente para atender à expansão dos gastos com a máquina federal e com programas assistencialistas, exacerbada sobretudo neste ano eleitoral), tais medidas – do próprio Executivo e dependentes do Congresso – só serão tornadas públicas e desencadeadas após o 2º turno, a partir de novembro. Como antecipação de sacrifícios econômicos e sociais que Lula procurará limitar no máximo a 12 meses, a fim de poder voltar ao “nunca antes neste país tivemos tanto crescimento e tantos benefícios sociais”, ao longo do 2010 decisivo para sua sucessão.

Saindo de uma fria


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A mudança de tom foi nítida. Duas semanas antes do primeiro turno, o presidente Luiz Inácio da Silva e o governador José Serra anunciaram convictos e entusiasmados que, na etapa final, mergulhariam “de cabeça” nas campanhas de seus candidatos em São Paulo.

Contados os votos, consolidada a falácia da transferência automática de prestígio como valor absoluto na expressão eleitoral, Lula anuncia presença “na medida do necessário” e Serra avisa que comparecerá “se for chamado”.

Noves fora, o presumido embate entre o presidente da República e o candidato mais cotado à sua sucessão pelo jeito queda-se devidamente adiado. Se houver, será só depois das eleições municipais.

Nada indica - muito menos aconselha - que o presidente Lula vá se jogar de peito aberto na campanha de Marta Suplicy ou em qualquer outra. Como o governador de São Paulo pretende se balizar pela intensidade da atuação do presidente, se Lula for mais devagar, Serra seguirá o ritmo.

Um confronto direto agora valeria o tira-teima sobre o peso de cada um em São Paulo para 2010.

Se tiver bom senso, Lula pisará com mais cuidado. Se, numa hipótese improvável, resolver dobrar o investimento, multiplica também o risco. Com a desvantagem de não aumentar na mesma proporção a chance de vitória.

O presidente pessoalmente só tem a perder. Como no primeiro turno a presença dele não influiu nem contribuiu objetivamente para o resultado, mas serviu para integrá-lo ao rol dos tidos como derrotados, se Marta ganhar, a glória será dela. Se perder, Lula abre de novo o debate sobre sua incapacidade de transferir votos.

Descredencia a si como cabo eleitoral privilegiado, e desidrata as expectativas a respeito das possibilidades de Dilma Rousseff em 2010. Ainda que a transferência na eleição presidencial ainda careça de comprovação, a pré-candidatura da ministra hoje sobrevive dessa “promessa”.

Quanto mais derrotas o presidente colecionar agora, menos promissora parecerá sua força para tirar uma presidente da República da própria costela. Isso vale para fora e para dentro do PT. Se porventura Dilma começar a ser vista como mera miragem, a perspectiva de poder muda de direção e, com ela, muda junto a correlação de forças hoje favorável ao governo.

Não há, portanto, nenhum motivo racional para o presidente imprimir a crueza da realidade a um quadro ainda ilusório, mas confortável.

O comedimento é bom para Lula e para todos os padrinhos cujas famas de maiorais saíram abaladas pela insuficiência de desempenho de seus candidatos. Se puderem escolher, antes deixar os afilhados morrerem pagãos que desembolsar capital político para pagar as contas dos enterros.

Não quer dizer que haverá abandono em massa. Há casos de patronos bem-sucedidos - Geddel Vieira Lima, que reergueu a massa falida do prefeito João Henrique em Salvador - e casos de recuo impossível.

Em Belo Horizonte, o governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel não têm saída: ou carregam Márcio Lacerda até o fim para tentar uma vitória apertada ou amargam uma derrota acachapante.

Minas, porém, é exceção. Ali houve erro de pessoa na escolha, colaborou a inesperada competência do adversário (visto em retrospectiva, bem mais adequado para formar uma trindade com Aécio e Pimentel) e o pupilo não consegue dar dois passos sem o amparo dos patronos.

A aposta era alta, tinha tudo para dar certo - inclusive o apoio da população à aliança do governador e do prefeito - e agora é trabalhar para reduzir os danos.

Neste aspecto, Aécio continua dono da faca, porque conseguiu dizimar o PT na capital. Mas teve um substancial pedaço do queijo subtraído pelo eleitorado que o impediu de registrar, para efeito da disputa pela legenda do PSDB à Presidência, a condição de senhor absoluto dos votos na capital de Minas Gerais.

Bolsa-Rio

Enquanto o eleitor dá uma demonstração de independência na escolha de seus representados, os representantes do Rio de Janeiro dão sucessivas mostras de subserviência ao governo federal. Sinal inequívoco da decadência de um Estado forjado na prática da autonomia, quando não da rebeldia, eleitoral.

Todos - do governador ao espectro completo de candidatos - manifestam temor reverencial ao poder de manipulação do Orçamento federal. É generalizado o discurso de que o Rio precisa ser “amigo” de Brasília, a fim de ter garantidos os repasses de verbas da União.

Em algum ponto do caminho o princípio da impessoalidade que rege a administração pública foi substituído pelo critério da esmola mediante uma política de boa vizinhança.

A relação isenta entre os entes federativos é mais que uma obrigação, é uma imposição legal.

No lugar de mostrar isso ao cidadão carioca, os representantes do Rio alimentam a mentalidade cortesã imaginando recuperar importância no cenário político nacional na base da esmola.

Votação Prefeitos - Partidos


Votação Vereadores - Partidos


À distância regulamentar


Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


A eleição de São Paulo é a única onde o presidente Lula é obrigado a subir no palanque. Mas é uma casa de caboclo em termos políticos

A grande diferença entre o primeiro e o segundo turno das eleições é a natureza da contradição eleitoral. Em tese, no primeiro turno, nada impede que dois adversários mantenham um pacto de boa convivência, de olho na aproximação futura. No segundo turno, há um combate frontal, mesmo quando estão no mesmo campo político, que inviabiliza a recomposição das forças locais. Por essa razão, o presidente Lula ficará longe da maioria dos palanques.

São Paulo —A eleição de São Paulo é a única onde o presidente Lula é obrigado a subir no palanque. Mas é uma casa de caboclo em termos políticos, uma vez que Gilberto Kassab (DEM) virou o primeiro turno à frente de Marta Suplicy (PT). O governador paulista, José Serra (PSDB), fará campanha para Kassab com gosto. Se conseguir a reeleição do prefeito paulistano, será uma vitória estratégica: a derrota de Lula. Com isso, o tucano aumentaria a expectativa de poder criada por sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2010. Agora é tarde para Lula evitar o confronto. Seria fugir à luta.

Rio de Janeiro — Lula não cruza com os dois candidatos, para usar uma expressão bem carioca. O candidato do PV, Fernando Gabeira, que galvanizou o voto da esquerda, sempre fez oposição. Eduardo Paes (PMDB), apadrinhado pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), luta pelo apoio do presidente da República, mas é um aliado de última hora. Lula não esqueceu os ataques que sofreu de Paes na CPI do Mensalão. Caso típico de idiossincrasia.

Belo Horizonte — Para o presidente da República, o melhor é passar ao largo da disputa de Belo Horizonte. A cozinha do Palácio do Planalto pensa diferente e torce contra o candidato do PSB, Márcio Lacerda, apoiado pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) e pelo governador Aécio Neves (PSDB), embrião de uma aliança “pós-Lula”. O vice-presidente José de Alencar, os ministros petistas Luís Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) querem que o vitorioso seja o azarão Leonardo Quintão (PMDB). Quem lucra é o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB).

Salvador — O governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, entraram em rota de colisão. Estão em lados opostos na disputa de Salvador, onde o prefeito João Henrique (PMDB) foi para o segundo turno contra o petista Walter Pinheiro. Para Lula, será mais fácil juntar os cacos se o prefeito de Salvador for reeleito.

Porto Alegre — O prefeito José Fogaça (PMDB) faz parte da lista de peemedebistas indesejáveis do presidente da República. Não está descartada a possibilidade de Lula subir no palanque da candidata do PT, Maria do Rosário. Seria uma exceção no critério de não se envolver nas disputas dentro da base.

Manaus — Ficou mais distante de Brasília nesse segundo turno. O prefeito Serafim Correia (PSB) foi atropelado pelo ex-governador Amazonino Mendes (PMDB). Como ambos são aliados do governo, Lula vai assistir ao embate de camarote.

Belém — A mesma situação se repete no confronto entre Duciomar Costa (PTB) e José Priante (PMDB). O Palácio torce pela reeleição do prefeito, para limitar a influência do deputado Jader Barbalho (PMDB), eminência parda do PMDB, no governo do Pará.

Cuiabá — Em tese, a eleição em Cuiabá não cria problemas na base. Mas o tucano Wilson Santos (PSDB) quase levou no primeiro turno. O risco de subir no palanque de Mauro Mendes (PR) é perder.

São Luís — A mesma situação se repete no Maranhão, onde José Castelo (PSDB) enfrenta Flávio Dino (PCdoB) e virou o primeiro turno com muita vantagem.

Macapá — A eleição na capital do Amapá não faz a menor diferença. Clodomir Paz (PDT) e Camilo Capiberibe (PSB) são da base governista. A briga entre os dois é um problema do ex-presidente José Sarney (PMDB).

Florianópolis — Dos dois “manezinhos”, o preferido de Lula é o ex-governador Espiridião Amin (PP). Dario Berger (PMDB), que lidera a disputa, é da ala do PMDB na qual Lula não confia.

O PT, as estrelas e uma outra leitura


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

É natural e ordinário: o governo, de posse dos cargos, das verbas e da inédita popularidade, cresce nas eleições municipais, amplia seus tentáculos e conquista capitais e grotões. A oposição, ao contrário, se reduz. O PT, o PSB, o PCdoB, partidos de maior nitidez entre os integrantes da aliança em torno do presidente da República e do governo federal, cresceram significativamente. O PMDB, também integrante deste governo, é um caso à parte, o que também não surpreende: continua com o maior número de prefeituras, 1.194, no primeiro turno, conquistou novos espaços importantes e está na disputa do segundo turno, inclusive contra aliados, sem perder a pose e a pseudo coerência. O PSDB, o DEM e o PPS minguaram nas eleições municipais de 2008, como esperado.

Era previsível que os partidos de oposição perdessem posições importantes no Brasil inteiro. Em especial, os dois principais. O DEM perdeu até agora 298 prefeituras com relação às que conquistou em 2004 (já tinham ficado dezenas pelo caminho entre uma eleição e outra), era esperado seu rebaixamento para a segunda divisão partidária, mas ainda manteve uma boa rede de prefeituras no interior da Bahia, de onde se esperava que fosse varrido, e até em cidades importantes do interior de São Paulo. E se vencer na capital, São Paulo, no segundo turno entre Gilberto Kassab e Marta Suplicy, volta ao patamar dos grandes. O PSDB perdeu 91 prefeituras até agora. Mas continua sendo o segundo maior partido do país em governos municipais. Derrotas, portanto, amenizadas pela força das conquistas.

Não surpreende o crescimento dos dois partidos que, historicamente, se coligam ao PT, como o PSB e o PCdoB. O PSB, sobretudo em Pernambuco, onde a liderança do governador Eduardo Campos fez a diferença, passou de 177 para 309 municípios. O PSB ganhou 132 novas prefeituras agora, consolidando-se como um partido médio com postos importantes em capitais e grandes cidades. O PCdoB saltou de 10 para 40, e foi protagonista nestas eleições municipais de 2008, venceu no primeiro turno em Aracaju, disputa o segundo em São Luis, venceu em Olinda pela terceira eleição consecutiva, chegou em terceiro - ameaçando os fortes PT e PMDB - em Porto Alegre, desequilibrou a disputa em Belo Horizonte.

Estes cenários partidários estavam, bem ou mal, previstos. Não há como compartilhar, porém, de duas análises que têm sido feitas desde a totalização dos votos, no domingo eleitoral: as de que Luiz Inácio Lula da Silva não transferiu votos aos seus candidatos preferidos, e a de que o PT não ampliou seus horizontes. Se Lula não conta, por que seus opositores evitam brigar e buscam alguma identificação com ele? Porque, claro, fazem campanha com base em pesquisas. Candidatos da oposição enalteceram o carro-chefe eleitoral de Lula, o Bolsa Família, falaram em PAC para os municípios, e se desculparam por críticas ao presidente. Qual a razão para renegar o passado?

Deixemos de lado a transferência indireta, traduzida, por exemplo, em confiança no candidato por ele apontado ou na redução da rejeição. As análises mostram que Lula acrescentou de 3% a 4% de prestígio e votos aos candidatos que apoiou. Ele não elegeu Luiz Marinho (São Bernardo do Campo) e Marta Suplicy (São Paulo) no primeiro turno, como não conseguiu levar a candidata do PT em Natal, Fátima Bezerra, ao segundo turno, para falar de três de seus mais ardentes desejos manifestados na campanha. Mas os próprios candidatos reconhecem que tiveram a votação que tiveram graças a Lula. Dilma Rousseff, realmente, não influiu e não transferiu, mas ela não foi à rua para isto. Fez campanha municipal para se mostrar, ser apoiada a pretexto de apoiar, e não se pode dizer que tenha sido inadequada.

É preciso redimensionar também a crítica ao desempenho do PT, até aqui. O partido evitou fixar metas para não se frustrar, como ocorreu em 2004, mas preparou meticulosamente sua estratégia, a começar da escolha de candidatos competitivos para as cidades mais importantes até a concessão da liderança na chapa a partido coligado que estivesse em melhor situação. Pode não ter obtido o número de prefeituras que esperava, mas passou das 413 obtidas em 2004 para 548 no primeiro turno de 2008. São 135 prefeitos a mais.

O partido vai se empenhar, com a ajuda de Lula, no segundo turno do chamado "cinturão vermelho", onde ainda estão em disputa as prefeituras de Mauá, São Bernardo, Santo André, Guarulhos, além da cidade de São Paulo. Pode até ser criada uma coordenação de campanha centralizada. Foi o melhor desempenho do PT em eleições municipais. Antes restrito a prefeituras "poucas e boas", como define um de seus analistas, de que são exemplos São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza, agora conseguiu vitória em prefeituras "boas, médias e pequenas". O PT se espalhou, entrou pelo Brasil. E se vencer em São Paulo - entre todas, a empreitada de segundo turno mais difícil, tendo em vista a onda ascendente que leva Gilberto Kassab, do DEM, à liderança - será como um arremate importante deste desempenho.

O partido venceu em seis capitais no primeiro turno e consolidou algumas lideranças, novas estrelas que vêm se firmando na política por méritos próprios. Luizianne Lins, que foi eleita em 2004 prefeita de Fortaleza, contra a vontade de Lula, e reeleita agora sem Lula, desponta como um nome nacional do PT. Também demonstrou força Walter Pinheiro, o candidato do PT em Salvador, que insistiu na candidatura própria contra a aliança com o PMDB que tinha sido vitoriosa para derrotar o carlismo na disputa do governo do Estado. Chegou ao segundo turno derrotando o que restou do carlismo e contrariando o novo "painho" da Bahia, Geddel Vieira Lima, que substituiu um coronelato por outro, espalhando o seu PMDB pelo interior. O prefeito de Recife, João Paulo, é outra liderança consolidada que passa a ter projeção nacional ao eleger, em primeiro turno, um candidato em que só ele apostava. Está sub judice, é verdade, mas esta, no Brasil, é sempre outra história.

Há que se destacar, nesta releitura de resultados, o muito do desempenho do partido que foi produzido na raça da militância. A melhor máquina partidária de que se tem notícia, e assim continua sendo.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Chega de onda

Marcos Coimbra
DEU NO ESTADO DE MINAS
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

A eleição de 2008 está sendo rigorosamente igual à de 2004, quando Lula não estava nem perto de ser a quase unanimidade nacional que as pesquisas atuais revelam

Abertas as urnas (expressão antiga, que não quer dizer mais nada hoje em dia), saímos das especulações e chegamos à realidade. Muita coisa some nessa hora, inclusive algumas que pareciam grandes verdades.

Uma das que não se fala mais é a tal “onda vermelha”, que muitos analistas afirmavam que teríamos nas eleições municipais deste ano. Se ainda lembrarmos do que se lia na imprensa há algumas semanas, era a hipótese de que Lula seria capaz de içar quem quer que fosse à vitória. Impulsionados por seus índices de popularidade, imaginavam, seus indicados, país afora, surfariam na preferência dos eleitores.

Muita gente acreditou nessa conversa, dentre os quais inúmeros candidatos, que chegaram a se estapear na disputa pela imagem do Presidente em suas campanhas. Não só eles, porém, pois políticos e comentaristas comungavam da mesma convicção.

Apurados os votos, se há uma coisa que os resultados não comprovam é que houve uma onda desse tipo. Ela nem chegou a ser uma marola.

Isso não quer dizer que muitos candidatos do PT não venceram, pois vimos que o partido cresceu no número de prefeituras conquistadas, dentre as quais as de muitas capitais e cidades médias. Desempenho que pode ficar maior agora no segundo turno, pois o PT tem condições de vencer em diversas capitais importantes.

A pergunta é em quais das ganhas e das por ganhar houve influência apreciável da popularidade de Lula. Foi uma hipotética “onda vermelha” que levou o PT a obter os resultados que alcançou?

Pensando nas capitais, a partir das quais se costuma fazer a contabilidade dos partidos vitoriosos e derrotados, a eleição de 2008 está sendo rigorosamente igual à de 2004, quando Lula não estava nem perto de ser a quase unanimidade nacional que as pesquisas atuais revelam.

Nas capitais, o PT só ganhou onde já estava no poder, o que sugere que foram as administrações dos prefeitos que os levaram à reeleição ou, como no caso do Recife, à continuidade. Isso independeu da maior ou menor presença de Lula.

Em Fortaleza, por exemplo, Lula sequer foi para prestigiar a campanha vitoriosa de sua companheira de partido. Indo ou não a Rio Branco, Porto Velho, Palmas ou Vitória, faria pouquíssima diferença. Desde o ano passado, eram prefeitos cuja reeleição era considerada favas contadas.

O mesmo vale para maioria das cidades médias onde houve vitória de candidatos do PT no primeiro turno. Nelas, os novos prefeitos petistas, ou vieram de reeleições ou tiveram que se virar sozinhos, pois poucos deles contaram com Lula em seus palanques.

E onde Lula se empenhou, às vezes até demais? O que aconteceu em Natal e Curitiba, por exemplo, em cujas campanhas Lula fez de tudo, desde comícios a gravações para a propaganda eleitoral das candidatas de seu partido?

E o que aconteceu em São Paulo? Não era lá que Lula mais se comprometera com uma candidatura? Ou foi em São Bernardo, onde escalou um ministro para disputar a prefeitura e se envolveu até onde era possível? Em nenhuma das duas a eleição se resolveu domingo, sendo que Marta chegou atrás de Kassab.

Em si, a tese da “onda vermelha” foi apenas um desses factóides jornalísticos com os quais nos divertimos antes das eleições. Fala-se muito deles, mas não querem dizer nada.

Mas há nisso um aspecto a considerar. Se a “onda vermelha (ou lulista)” em 2010 for do tamanho que foi em 2008, é bom que Lula e o PT ponham suas barbas de molho na sucessão presidencial.


O cenário fosco do segundo turno


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Com a natural empolgação dos vitoriosos no primeiro turno e o contraste com o abatimento dos derrotados, não sobrou um palmo de serenidade na inundação de entrevistas, palpites e previsões da cobertura maciça das redes de televisão para o encaixe de uma análise, ainda que superficial, sobre o cenário fosco do segundo turno, espremido entre três semanas de articulação de alianças e de debates já anunciados por jornais, revistas e TVs.

Há muitas novidades a examinar na mudança da água para o champanhe do desmoralizante desperdício de tempo e dinheiro dos ridículos e milionários programas gratuitos de propaganda eleitoral no primeiro turno, especialmente de candidatos ao maná de uma vereança e o mano a mano entre os finalistas a prefeito em 29 cidades, para a decisão pelo voto de mais de 26 milhões de eleitores.

Com menos e mais qualificados candidatos, a propaganda na TV e no rádio será intensa e comprimida, com cada concorrente dispondo de dez minutos, em cada um dos dois programas diários. E cada candidato ganhará o mimo de mais 15 minutos diários para inserções de até um minuto na programação das emissoras.

Não é apenas no enxugamento de candidatos e o melhor nível dos que passaram pela peneira do voto que deve ser analisado o contraste que já se vislumbra na agitada corrida pelo voto.
Para o governo, do presidente Lula ao seu candidato ao mais desfavorecido dos municípios, a visão que se vai desenhando é turva, com manchas dos respingos da crise que esmurra a porta e pede passagem.

E o desempenho escapista e sinuoso do presidente abre furos no seu escudo de proteção e expõe o risco dos seus equívocos. Lula tentou afugentar a crise com a arrogância das suas afirmações categóricas. E que, com a cambalhota do mundo, rolam pelo tapete do ridículo. Ditas e repetidas à exaustão; com a impostação da soberba de que a crise dos Estados Unidos, que se espalhava pelos mercados mundiais, se chegasse ao Brasil seria quase imperceptível. Quando a imperceptível inchou, Lula subiu meio-tom na imodéstia, para admitir que se o tsunami "chegar aqui, vai ser uma marolinha".

Três semanas de campanha é um prazo curto para inverter a tendência de voto do eleitorado que fez a sua cabeça nos meses de envolvimento pela eleição que passa pela sua porta e mexe com a sua vida.

O segundo turno pega o carro em disparada de ladeira a baixo. Já há espaço para especular sobre as vantagens e desvantagens da presença do maior presidente, etc. e tal, com o fantasma da crise derrubando o preço nas feiras e mercados e reabrindo a discussão sobre o delírio de gastança do governo deslumbrado com os índices recordistas de popularidade, o perdulário do inchaço da burocracia com o maior ministério de todos os tempos, com pastas e secretarias que não resistem à cobrança sobre a sua eficiência.

A pavimentação da passarela para o desfile da eleição da ministra-candidata Dilma Rousseff para guardar a cadeira presidencial para a volta de Lula em 2014 ou 2018 terá que passar pelo enxugamento do PAC, para os ajustes impostos por uma crise que apenas começa com o pé no acelerador.

E se Lula baixar à Terra para um segundo de reflexão não necessita de melhor conselho do que a do eleitorado do Rio Grande do Norte, na dose dupla dos resultados de Natal e de Mossoró. Indignado com a atuação parlamentar do senador José Agripino Maia, líder da bancada do DEM, Lula ameaçou participar da campanha em Natal para derrotar o adversário, apoiando a candidatura de Fátima Bezerra, do PT. E cumpriu o prometido para cair da montaria. A prefeita eleita no primeiro turno, jornalista Micária de Sousa, do PV, legenda até aqui sem maior expressão no Estado, foi apoiada pelo senador José Agripino Maia.

Lições da vida que poucos aprendem.

Um país de todos


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Em número total de prefeitos, o PMDB é o campeão eleitoral. Dados preliminares indicam 1.194 municípios sob o comando de peemedebistas em 2009. Conhecido mundialmente pela total falta de identidade e por ser um livro (ou ônibus) aberto a qualquer um, o PMDB conquistou 18,4 milhões de votos para prefeito. É o equivalente a 18,6% do total do país.Um recorde.

PT e PSDB se revezaram nas últimas três eleições (96, 00 e 04) como os campeões de voto. Nunca atingiram o percentual obtido pelos candidatos do PMDB.Parte do combustível para o crescimento do PMDB foi a infidelidade partidária em cidades pequenas.

Em 2004, a sigla elegeu 1.057 prefeitos. Depois de aderir por inteiro ao governo Lula, pulou para 1.212 cidades. Ou seja, o recorde da eleição de domingo já existia antes, sem um voto sequer.

A Bahia é emblemática acerca de como o PMDB faz política. É de lá o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima -peemedebista histórico, ex-quase cassado pela CPI dos Anões do Orçamento, ex-adorador de FHC e hoje pró-Lula desde criancinha. Em 2004, o PMDB era raquítico em solo baiano. Elegeu só 20 prefeitos. Geddel então converteu-se ao lulismo. A legenda inchou para 57 municípios governados na Boa Terra. Apurados os votos, saltou para 113.

Não há notícia de uma única nova proposta administrativa revolucionária vinda dos intelectuais do PMDB para conquistar tantos novos adeptos e votos. Como a sigla passou a exercer grande atração sobre prefeitos, o fato deve ser atribuído à extrema capacidade gerencial (sic) de peemedebistas como Geddel Vieira Lima. Seu talento teve espaço menos vistoso nos anos FHC. Lula percebeu. Deu a Geddel a liberdade merecida por um político assim num governo cujo slogan é "Brasil, um país de todos".

Começa a era da incerteza


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

MADRI - As falhas grosseiras que o mercado apresentou e as sucessivas intervenções dos governos levaram à suposição de que o liberalismo morreu ou está em coma e que o intervencionismo estatal está de volta com toda a força, certo?

Errado, escreve Daniel Innerarity, professor de filosofia da Universidade de Zaragoza, em artigo para o jornal "El País".

"Se estivéssemos ante o final do neoliberalismo e o retorno das certezas social-democratas, talvez nos sentíssemos mais aliviados, mas não teríamos entendido que o que se acaba é outra coisa: uma determinada concepção de nosso saber acerca da realidade social e de nossa capacidade de decidir sobre ela", escreve.

Conseqüência: "Agora, nos toca acostumarmo-nos à instabilidade e à incerteza, tanto no que diz respeito às predições dos economistas, ao comportamento do mercado ou ao exercício das lideranças políticas", acrescenta o filósofo.

Fecha com: "Nosso principal desafio é a governança do risco, que não é a renúncia a regulá-lo nem a ilusão de que poderíamos eliminá-lo completamente".

Desagradável, não é? Os seres humanos, com poucas exceções, preferimos as certezas, mesmo que sejam ilusórias. Os mercados ofereceram certezas absolutas, acompanhados pelo coro que lhes conferia características de semideuses ou de "Mestres do Universo", para remeter a Tom Wolfe e a sua "Fogueira das Vaidades".

Agora vem o papa Bento 16 e constata: "Vemos que, na queda dos grandes bancos, o dinheiro se desfaz e que todas essas coisas que parecem a única verdade são na realidade de segunda ordem". Sorte do papa (e dos crentes), para quem "só a palavra de Deus é uma realidade sólida".

Para todos os demais (e mesmo para os crentes que têm dinheiro nas Bolsas), resta administrar a instabilidade e a incerteza.

O bicho-papão


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. Está em cartaz num pequeno cinema de Greenwich Village um documentário que tem tudo a ver com a onda de propaganda negativa que está dominando a campanha presidencial americana, faltando 28 dias para a eleição. O filme está sendo exibido em poucos cinemas pelos Estados Unidos, e em apenas uma sala em Nova York. A sessão a que assisti tinha apenas outros quatro pagantes. Trata-se de "O Bicho-papão, a história de Lee Atwater", um marqueteiro político ligado aos republicanos, a tal ponto que foi nomeado pelo então presidente George Bush pai, em agradecimento pelos serviços prestados, para presidir o Partido Republicano, a primeira vez que um não-parlamentar ocupou o cargo.

Nasceu com ele um estilo de fazer campanha política que continua marcando o Partido Republicano e que tem sido mais freqüente desde o último fim de semana. Atwater é o iniciador do uso permanente da propaganda negativa nas campanhas políticas e chamou a atenção pela primeira vez em termos nacionais quando, aos 29 anos, teve papel importante na indicação de Ronald Reagan como candidato oficial do Partido Republicano em 1980 e depois na concepção de sua campanha, que teve início propositalmente na Filadélfia, lugar onde em 1963 foram assassinados três militantes dos direitos civis.

Durante o governo Reagan, Atwater trabalhou na Casa Branca e teve papel importante durante o escândalo Irã-Contras, organizando as manobras de marketing para livrar o presidente das acusações. Foi nesse período que se aproximou do então vice-presidente George Bush pai, de quem depois seria o principal assessor.

O marqueteiro de Ronald Reagan, Ed Rollins, que o levara para trabalhar com ele, dá um longo depoimento no documentário, revelando as traições políticas de que foi vítima por parte de Lee Atwater.

Atwater foi o primeiro assessor político a fazer pesquisas induzidas, e instintivamente entendeu que poderia incutir medo nos eleitores, explorando seus sentimentos patrióticos e religiosos.

Na sua primeira campanha, em 1978, curiosamente no partido democrata na Carolina do Sul, ele ajudou a derrotar Max Heller, um popular prefeito de Greenville, dando a vitória a Don Sprouse - que fez uma campanha orientada por Atwater na qual acusava Heller de, por ser judeu, não acreditar "no nosso senhor Jesus Cristo".

Foi a campanha de George Bush pai em 1988 que trouxe de vez a fama para Lee Atwater, e o documentário mostra bem os caminhos da campanha, começando pelas primárias, onde o primeiro a ser atacado foi o senador Bob Dole, acusado em propagandas de ser "O Senador Indefinido", mostrando-o como um político inconsistente, que mudava de opinião a toda hora.

A tal ponto que, em um debate, perguntado pelo moderador Tom Brokaw se tinha algo a dizer a seu adversário, respondeu rispidamente: "Pare de mentir a respeito de minha história".

A campanha negativa marcou a marcha de George Bush para a Casa Branca, e a propaganda até hoje lembrada como uma das mais sujas da história política americana foi a sobre o prisioneiro Willie Horton, que saiu da cadeia dentro de um programa social implantado no estado pelo governador Michael Dukakis, estuprou e matou novamente.

O candidato democrata, que tinha uma ampla vantagem, acabou sendo batido por Bush. O programa social tão criticado por Bush havia sido implantado pela primeira vez na Califórnia pelo então governador Ronald Reagan, mas os democratas não souberam responder ao ataque.

Durante essa campanha, Atwater ficou amigo da família Bush, especialmente do filho George W. Bush, e foi dele a idéia de fazê-lo candidato ao governo da Flórida. Lee Atwater foi apanhado no auge de sua carreira de glórias e poder por um câncer no cérebro, e morreu aos 40 anos, em 1991, ainda no cargo de presidente nacional dos republicanos.

Poucos meses antes de morrer, Atwater enviou cartas, escreveu artigos e deu depoimentos de arrependimento pelo que fizera durante sua atividade política. "Só agora aprendi mais, com minha doença, sobre a natureza humana, o amor, a fraternidade e coisas que não entendia e provavelmente nunca iria entender. Desse ponto de vista, há um pouco de verdade e coisas boas em tudo", escreveu ao senador Turnipseed, a quem ajudara a derrotar espalhando a história de que, na juventude, passara por tratamento psiquiátrico à base de eletrochoques.

Pediu desculpas também a Mike Dukakis pela "crueldade" de algumas declarações, como a de que "arrancaria a carcaça" do "bastardo".

No documentário, há um depoimento de um amigo pessoal de Atwater que tem uma visão dele completamente idealizada. Ele garante que se Lee Atwater estivesse vivo, Bill Clinton não teria vencido a eleição contra George Bush. De fato, segundo o documentário, Atwater foi o primeiro a identificar em Clinton um rival na sucessão, e defendia que era preciso fazer tudo para impedi-lo de concorrer.

Conhecido como "o Dart Wader" da política, Lee Atwater marcou para sempre as campanhas políticas americanas, especialmente do Partido Republicano. Deixou um discípulo até hoje poderoso dentro do partido, o marqueteiro Karl Rove, que atuou nas campanhas de George W. Bush em 2000 e 2004 e até hoje é muito ouvido pela campanha de McCain.

O que pensa a mídia

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