Com esses resultados, o movimento das coisas no mundo dá um cavalo de pau, passando a girar em órbitas mais afetas ao fortalecimento da democracia, afirmando-se protagonismo às instituições internacionais, sobretudo da ONU. De outra parte, no Oriente, o movimento das mulheres em favor da aquisição de direitos em sociedades dominadas por secular patrimonialismo aponta para a mesma direção, contrariada, sem dúvida, pela guerra da Ucrânia, para a qual já se procura uma via de negociações apta a interromper a continuidade desse conflito.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2022
Luiz Werneck Vianna* - Bons remédios não se esquecem
Vera Magalhães - Acomodação para fechar a conta
O Globo
Variável imprevisível na tentativa de
compor aprovação da PEC e 'saneamento' do Orçamento secreto é Rosa Weber
O acordo para a aprovação de uma versão
intermediária, em prazo e valores, da PEC da Transição e as tentativas de
última hora para costurar um acordo para tornar o orçamento secreto mais
limpinho e palatável são movimentos que vão na mesma direção: fazer uma
acomodação entre os Poderes para fechar a conta dos gastos e das emendas e
garantir alguma dose de tranquilidade ao futuro governo na largada.
A equipe de Lula e o Congresso vão dando ao
Supremo Tribunal Federal (STF) o recado de que não querem mais atrito, mais
tanta confusão como foi a tônica dos quatro anos de Jair Bolsonaro. O subtexto,
que vale para o STF e também para o futuro chefe do Executivo, vem da Câmara e
do Senado: não nos tirem todo o oxigênio das emendas do relator, senão vai ter
briga.
Lula já deu várias demonstrações de que entende e está disposto a jogar conforme essas regras não escritas. Ele já foi presidente por dois mandatos, e uma das grandes crises que enfrentou, a do mensalão, foi um escândalo originado na tentativa de estabelecer um mecanismo tosco de cooptação de maioria parlamentar.
Por um novo regime fiscal no Brasil - Vários autores (nomes ao final do texto)*
Folha de S. Paulo
Objetivo deve ser colocar o pobre no
Orçamento e o rico no Imposto de Renda
A equipe
de transição discute uma emenda
constitucional que retira algumas despesas do teto
de gastos. A emenda é necessária, pois viabiliza gastos com o Bolsa Família,
o adicional do benefício por criança e investimentos. Tão importante quanto
essa emenda que autoriza gastos públicos essenciais é estabelecer um novo
regime fiscal no país. O teto de gastos vigente é uma obra de ficção. Ele se
mostrou inviável por sua rigidez operacional e negligência com a desigualdade
brasileira.
Não por menos houve uso indevido das emendas
de relator para se fazer o orçamento
secreto, que feriu vários artigos da Constituição, conforme relatório
recente do Tribunal de Contas da União. O Executivo precisa retomar para si a
responsabilidade de definir o Orçamento no âmbito desse novo
regramento fiscal.
Discutiremos aqui princípios que entendemos fundamentais para o desenho de um bom regime fiscal.
Vinicius Torres Freire - Lula vence jogo da PEC
Folha de S. Paulo
Congresso aceita o grosso do que o PT
queria, leva o seu e ignora problema
De início, o governo eleito queria que
a "PEC
da Transição" autorizasse gastos adicionais de R$ 175 bilhões em
relação ao projeto de Orçamento de 2023. Em dado momento, apareceu a ideia de
permitir ainda despesas extras de R$ 23 bilhões, para investimentos, a depender
do desempenho da arrecadação. O pacote seria então de R$ 198 bilhões; Luiz Inácio Lula da
Silva chegou a dizer que seus valores não eram finais, mas não
começaria uma negociação chutando baixo.
Por ora, juntando as tais possíveis
despesas em investimento, deve-se
aprovar um pacote de R$ 169 bilhões. É quase o valor inicial proposto pelo
governo de transição. É o dobro do valor máximo estimado para que se evite um
crescimento preocupante da dívida pública. Afora milagres.
Lula ganhou o jogo ou, digamos, nestes dias de Copa, que conseguiu a classificação com folga, mesmo cedendo um empate para o centrão, que também vai para a próxima fase. Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) estão eleitos para comandar Câmara e Senado nos próximos dois anos.
Bruno Boghossian - O tamanho do poder de Lula
Folha de S. Paulo
Espaço no Orçamento e decisão sobre emendas
definirão ações de governo e relações políticas do futuro presidente
O tamanho do poder que Lula terá
a partir de 2023 começou a ser definido nesta semana. A votação da proposta que
libera bilhões em despesas no Orçamento e o julgamento das emendas de
relator no STF devem determinar o espaço disponível para as
ações do governo e as bases em que se darão as relações políticas do futuro
presidente.
A margem de R$ 168 bilhões em gastos fora do teto, que avança no Senado, pode se tornar um torpedo nas mãos do presidente eleito pelos próximos dois anos. Essa quantia permite que Lula turbine o Bolsa Família e evite a armadilha de descumprir uma promessa de campanha já no primeiro dia de mandato.
Luiz Carlos Azedo - Corrida para pagar o Bolsa Família de R$ 600
Correio Braziliense
A PEC precisa de pelo menos 49 votos
favoráveis, em dois turnos, para ser aprovada no Senado
O Senado deve apreciar, hoje, a chamada PEC
da Transição, aprovada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com
três mudanças que deverão ser consolidadas em Plenário: o espaço adicional
(extrateto) de gastos caiu dos R$ 175 bilhões iniciais para R$ 145 bilhões,
para acomodar o Bolsa Família (atual Auxílio Brasil); o prazo de vigência
dessas regras foi reduzido de quatro para dois anos; e o tempo para o governo
Lula encaminhar ao Congresso uma proposta de nova âncora fiscal passou de um
ano para oito meses.
Tudo está dentro do script das negociações no Congresso. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), está empenhado na aprovação da proposta e lidera pessoalmente as negociações de bastidor. O relator da matéria, senador Alexandre Silveira (PSD-MG), propôs também mais R$ 23 bilhões para investimentos fora do teto em caso de arrecadação de receitas extraordinárias. Na prática, o gasto extra será de R$ 168 bilhões com o aumento de arrecadação, fenômeno previsível por causa da inflação.
Alvaro Gribel - PT pode perder a oportunidade
O Globo
Lula tem a chance de combater a miséria ao
mesmo tempo em que reorganiza as contas públicas. Por ora, prefere brigar com
os números e o mercado
Que Lula está certo em ampliar os gastos
sociais e iniciar a reconstrução do Estado após o desmonte promovido por
Bolsonaro, disso não há dúvidas. Mas ele perde uma enorme oportunidade de começar
bem o governo ao adiar o anúncio do seu regime fiscal. Não existe combate
sustentável à pobreza com déficits primários seguidos e aumento da dívida
pública. E por um motivo simples: o endividamento irá encarecer o dólar,
pressionar a inflação e elevar os juros. A economia crescerá menos, e os pobres
serão os mais afetados, justamente os que precisam ser protegidos.
A tese defendida ontem pelo senador Alexandre Silveira (PSD-MG) no seu relatório à CCJ do Senado é a fórmula para o caos econômico. Se é verdade que o governo pode imprimir moeda para rolar a própria dívida, também é verdade que isso trará uma inflação exorbitante, como a que o país viveu nos anos 80 e início dos anos 90. A ideia de que a ampliação de despesas pelo governo gera um “círculo virtuoso” já deu errado tantas vezes que causou perplexidade que tenha sido evocada novamente.
Lu Aiko Otta - Modo crise diante de contas que não fecham
Valor Econômico
O Brasil está perdendo atratividade para
países de perfil semelhante, como mostra o relatório da dívida pública de
outubro
O modo crise segue acionado no Tesouro
Nacional. Diante de um mercado financeiro instável, a ordem é vender o menos
possível de títulos, para não comprar crédito caro. Há reservas de liquidez
suficientes para continuar assim por nove meses. Espera-se que antes disso haja
clareza sobre os rumos das contas públicas nos próximos quatro anos. E que a
engenharia a ser montada aponte de forma crível para o controle do
endividamento.
No entanto, o relatório do senador Alexandre Silveira (PSD-MG) para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/2022, a “PEC da Transição”, apresentado ontem, foi motivo de desânimo e olhos marejados na turma que opera a dívida pública do lado governamental do balcão. A menção à Teoria Monetária Moderna (MMT) provocou pedidos de socorro.
Carlos Pereira* - O estelionato secreto de Lula
O Estado de S. Paulo
Orçamento secreto é substituto disfuncional
das moedas de troca entre Executivo e Legislativo
O presidencialismo multipartidário
necessita dotar o presidente de “moedas de troca” para que tenha condições de
montar maiorias legislativas.
Essas trocas podem acontecer sob limites
éticos, por meio de moedas legais, ou podem descambar para práticas corruptas a
partir de moedas ilegais ou pouco transparentes.
É um equívoco defender que os parlamentares
devam receber de forma igualitária recursos orçamentários. Os mais fiéis ao
presidente precisam ser sobre recompensados em relação aos de oposição. É esse
“bônus” que gera incentivos para que participem da coalizão do presidente.
No julgamento que hoje se inicia no Supremo Tribunal Federal (STF), os ministros teriam vários motivos para considerar o orçamento secreto inconstitucional.
Nicolau da Rocha Cavalcanti - Aos que se irritam com os jornais
O Estado de S. Paulo
Se alguém deseja estar num genuíno estado de exasperação com a vida, pare de ler jornal e dedique-se às redes sociais e ao Whatsapp
Com alguma frequência, ouve-se que já não
seria necessário ler um jornal todos os dias porque a informação chega agora
“por outros meios”. Também se escuta a seguinte reclamação: estou pensando em
parar de ler os jornais porque, com suas críticas excessivas e outras tantas
tolerâncias, perderam o equilíbrio. Chegam a irritar. Qual é o sentido de ler algo
se depois fico irritado?
Sim, ler um bom jornal sempre envolve algum
incômodo. Entra-se em contato com gente que pensa diferente, que nos contraria,
que diz, de forma muito convicta, algo que nos parece uma insensatez. O jornal
é uma forma de contato habitual, diário, com a pluralidade da sociedade.
(Desconfie de jornais com os quais se concorda do início ao fim. Eles não
retratam o mundo em sua complexidade. Abdicaram do jornalismo para se tornarem
pirulitos agradáveis ao paladar do leitor.)
No entanto, eis a ironia da vida, todas as pessoas que conheço que pararam de ler jornais para não ficarem irritadas, depois que abandonaram a leitura diária da imprensa, ficaram ainda mais irritadas com o mundo, com os outros e com os próprios jornais. Se alguém deseja estar num genuíno estado de exasperação com a vida e com o que acontece ao seu redor no âmbito político, social e cultural, pare de ler jornal – e dedique-se ao Whatsapp e às redes sociais.
Tiago Cavalcanti* - Quanto valem os serviços religiosos?
Valor Econômico
Serviços prestados equivalem a cerca de 10%
do consumo das famílias, ou cerca de R$ 600 bilhões por ano
Será que as atividades religiosas são
impulsionadas somente por crenças a respeito de estados espirituais, da vida
após a morte ou medo da punição de Deus? Ou será que a religiosidade é motivada
também por retornos em vida?
Alguns economistas racionalizam a devoção
religiosa como um investimento em redes de apoio social ou uma sinalização que
caracteriza atributos de uma pessoa, como benignidade e altruísmo, que a
sociedade valoriza. Entende-se que as religiões não sejam necessariamente
crenças sobre estados pós vida ou buscas por elevações espirituais.
Em países com Estado de bem-estar social limitado, as comunidades religiosas são importantes fontes de seguro contra diversos riscos que as pessoas se defrontam. Tais comunidades podem ajudar os fiéis em busca por postos de trabalho, auxiliar na procura de cuidados médicos, oferecer serviços de amparo a dependentes químicos e apoio emocional em períodos de dificuldades.
Fernando Exman - O carro zero quilômetro de José Múcio Monteiro
Valor Econômico
Ministro da Defesa vai precisar
equilibrar-se entre grupos radicais
Como dizem nas rodas de conversa de
integrantes da equipe de transição, José Múcio Monteiro ganhou um carro novo,
mas ainda está esperando chegar a carteira de motorista para tirá-lo da
garagem. O automóvel está ligado, parado em ponto neutro. E o GPS em processo
de configuração com o rumo que será adotado a partir de janeiro.
É considerada questão de tempo a sua
nomeação para o cargo de ministro da Defesa. Enquanto ela não se efetiva, o
ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ex-ministro da articulação
política de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-deputado federal vai se acostumando
com o novo volante que terá em mãos.
Na segunda-feira, por exemplo, ele foi apresentado ao conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, no hotel em que o presidente eleito está hospedado. O encontro, mesmo que seja descrito por algumas fontes como “uma coincidência”, não deixa de ser simbólico. Entre questões globais, desafios regionais e potenciais parcerias, os dois terão muito a conversar durante os próximos anos.
Elio Gaspari - O desembargador e os blindados
O Globo
Japona não é toga, e toga não é japona
O desembargador Wilson Alves de Souza, do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, concedeu uma liminar suspendendo a
compra de 98 blindados do consórcio italiano para o Exército a um custo que
pode chegar a R$ 5 bilhões. Liminar é apenas liminar, mas a argumentação do
magistrado foi ao mesmo tempo ingênua e onipotente. Ele escreveu:
— Vê-se claramente que o ato atacado não
atende aos pressupostos de conveniência e oportunidade, pois é evidente a falta
de razoabilidade, desvio de finalidade, ilegalidade e até mesmo de elementar
bom senso, pois outra classificação não há quando, ao mesmo tempo em que se
fazem cortes de verbas da educação e da saúde por falta de dinheiro, se
pretende comprar armas em tempos de paz.
O Exército precisa de equipamento. O desfile de blindados queimando óleo na Praça dos Três Poderes no ano passado pode ter dado satisfação àqueles que viam na exibição um ato de arrogância, mas um país não melhora com militares desequipados. A despesa pode parecer excessiva. A assinatura do contrato a poucas semanas da posse de um novo presidente é, sem dúvida, uma iniciativa meio girafa, até porque o edital de consulta pública da compra saiu há mais de um ano. Se há argumentos para suspender a assinatura do contrato, alguns dos que o desembargador usou não ficam de pé.
Bernardo Mello Franco - As lágrimas do capitão
O Globo
Presidente que se dizia
"imbrochável" chora em público às vésperas de perder o cargo e o foro
privilegiado
Para quem gostava de se dizer
“imbrochável”, a cena não deixou de surpreender. Às vésperas do fim do mandato,
Jair Bolsonaro perdeu a pose e chorou. O capitão estava no Clube Naval de
Brasília, onde participou da confraternização anual das Forças Armadas.
A solenidade não tem mistérios. Acontece
sempre em dezembro, o mês das inevitáveis reuniões natalinas. Pelo protocolo, o
presidente é recebido pelos comandantes militares, faz um discurso e
cumprimenta os oficiais-generais recém-promovidos. Depois todos se juntam para
um almoço festivo.
O beija-mão de 2022 teve início pela Marinha. Ao lado da primeira-dama, Bolsonaro foi saudado por novos almirantes de esquadra, vice-almirantes e contra-almirantes. Quando o 13º se aproximou com sua mulher, o capitão começou a fraquejar. Na vez do 14º, debulhou-se em lágrimas diante das câmeras e da plateia fardada.
Roberto DaMatta - Que o gênio da lâmpada esteja do nosso lado na Copa
O Globo
O esporte consegue reunir objetividade,
desejo e vontade, numa combinação cujo ponto culminante é o inesperado
Como anotei aqui, a Copa do Mundo de
futebol ocorre nas Arábias — a terra das Mil e Uma Noites, de camelos e
desertos, burcas, califas, tapetes voadores e haréns idealizados nos filmes em
tecnicolor de Hollywood...
Tudo isso que, num mundo globalizado e
transparente, tem subsistido pelo puritanismo islâmico, pela opressão de gênero
e por uma riqueza estonteante custeada pelo petróleo, hoje posto na lista que
tem seu negrume.
Mas, diante dos inesperados desta Copa das Arábias, é impossível não invocar o gênio da lâmpada de Aladim, porque o futebol é o gênio do encantamento que nos confronta com os impensados e as deliciosas surpresas quando um país negro e pobre vence ou empata com as potências do planeta, revelando — como garante a fábula do gênio da lâmpada maravilhosa — que ninguém tem tudo todo o tempo nas mesmas proporções. E que a riqueza mágica dessa arte penosamente esculpida pelos pés que nos amarram ao chão liberta quando a lâmpada mágica é devidamente esfregada por algum Aladim. O gênio que glorifica o amor pela camisa e a tenacidade tornada arte, negando aos donos do mercado e do mundo uma eventual vitória.
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Dá pra chutar o pau da barraca ?!...
Contudo, para quem pensa em reforma agraria
expropriatória, a mesma Constituição protege a propriedade produtiva, e proíbe
qualquer intenção desapropriá-las. Como se não bastasse, os produtores rurais
não tem também muita paciência com a invasão de terras.
Não sei se dentro do Grupo da Transição de Governo o assunto vai sendo digerido sem problemas. Aqui fora, a discussão entre o sistema agrícola produtivo e o MST, uma extensão ativa dos trabalhadores rurais sem terra no Brasil, tende a desenrolar-se num diálogo difícil, com muita gente dando palpite, e poucos se entendendo.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
STF precisa por um fim ao orçamento secreto
Valor Econômico
O governo eleito colocou-se a reboque de
Lira e parte do PT teme que a sentença do STF possa atrapalhar a relação
Dinheiro é poder e o orçamento da República
é um poder maior, político, econômico e social. O orçamento secreto é
subterfúgio que captura esta prerrogativa como poder paralelo, escondido do
olhar do público. O Supremo Tribunal Federal inicia hoje julgamento da
legalidade do instrumento criado pelo Congresso para que um grupo de
parlamentares, em acordo com o governo de Jair Bolsonaro, dominasse um bom
pedaço dos recursos dos contribuintes e o distribuísse segundo interesses
partidários e privados. O STF deveria sepultá-lo.
As emendas do relator, nome fantasia do
orçamento secreto, refletem o oportunismo de lideranças do Centrão e de Bolsonaro,
e são parte importante do caos orçamentário desenhado por ambos. Tornou-se
coadjuvante da penúria de dinheiro para o funcionamento da máquina pública, e
meio de barganha com o governo eleito. Lula chamou-o na campanha eleitoral de
“podridão”, de a “maior excrescência orçamentária política do país”, e algo
pior que o mensalão, que abateu próceres de seu governo. Eleito, negocia como
mantê-lo.
As emendas do relator ampliam o controle do orçamento pelo Congresso, depois que, em 2015, as emendas parlamentares tornaram-se obrigatórias. O ponto em comum das iniciativas foi a existência de Executivos fracos ou acuados - como o de Dilma Rousseff, antes do impeachment, e de Jair Bolsonaro, para evitar um impeachment.