• Mobilização da sociedade é vista como crucial por participantes do encontro
- O Globo
Participantes do encontro “E agora, Brasil?”, promovido pelo GLOBO com apoio da Confederação Nacional do Comércio (CNC), concordaram com os argumentos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em favor da reforma política. Embora o tema suscite diferentes pontos de vista, houve consenso entre os convidados sobre a importância da reforma para o futuro do país. Todos acham que a sociedade deve participar ativamente deste debate.
— O Congresso, movido pela sociedade, certamente haverá de fazer esta reforma. Independentemente de querer ou não. O país, nas condições em que está, é ingovernável. É preciso buscar uma solução. Alguns vão perder, não há dúvida, mas é preciso que todos nós tenhamos consciência da importância desta reforma — avaliou Adelmir Santana, vice-presidente da CNC.
O diretor de Redação do GLOBO, Ascânio Seleme, destacou que o encontro tinha como propósito justamente trazer à tona a importância da reforma:
— Nós, jornalistas, temos que ajudar a iluminar os caminhos para que as pessoas tomem decisões importantes. O papel da imprensa é abrir esse debate em todos os segmentos da sociedade.
O encontro, realizado na última sextafeira, teve a presença de lideranças empresariais e de personagens com bagagem no mundo político. Albano Franco, ex-governador de Sergipe e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria, ressaltou a importância desta união:
—É o que forma o consenso necessário para o Brasil sair da crise — avaliou.
Entre os pontos da reforma política defendidos por FH, a cláusula de barreira encontra maior possibilidade de aceitação no Congresso atualmente, na avaliação do colunista do GLOBO Merval Pereira. Isso porque o grande número de legendas representadas no Congresso produz uma disputa ferrenha por recursos do Fundo Partidário, situação que não agrada às maiores siglas.
Para o colunista, uma alternativa para garantir mudanças em regras que elegeram muitos dos atuais parlamentares, como as coligações partidárias, as doações de empresas e o próprio sistema de votação, seria criar uma Constituinte exclusiva da reforma política.
— É interessante porque você tira essa decisão do Congresso, que tende a não mudar as regras pelas quais foi eleito, e passa para um grupo temporário. Fazer uma reforma para melhorar a representação política é um bom apelo para a sociedade. Os resultados nas urnas acrescentam urgência, porque demonstram que o eleitorado não se sente representado — avaliou Merval.
Bernardo Cabral, ex-ministro da Justiça e consultor da presidência da Confederação Nacional do Comércio, argumentou que é preciso difundir na sociedade as alternativas no âmbito da reforma política para que ganhem força em Brasília.
— Sem uma massificação da compreensão de que as reformas são necessárias, não iremos a lugar algum.
O ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, consultor econômico da CNC, destacou a importância de todos os atores políticos e sociais no processo:
— Fernando Henrique trouxe uma experiência muito construtiva. Com apoio do Congresso e da sociedade, é possível tomar medidas importantes, duras.
Para o editor de Opinião do GLOBO, Aluizio Maranhão, o alto número de votos nulos, em branco e abstenções nas eleições municipais indica uma crise de representação que pode ser resolvida, entre outras medidas, com cláusula de barreira:
— É um debate travado desde sempre, e o grande número de não votos nas eleições municipais significa que chegou a hora de levá-lo à frente.