O Globo
Percepção independe da aprovação da reforma
tributária, e decorre da ocupação de espaços desde 8 de janeiro
Ao que tudo indica, o semestre útil em
Brasília termina hoje. É de extrema relevância e muito simbólica a discussão da
reforma tributária, que estava em debate na Câmara no fechamento desta coluna,
mas a análise de que o espaço ao centro se alargou desde o fatídico 8 de
janeiro independe dela. Trata-se de ótima notícia para a democracia e para o
debate público.
A própria negociação dos últimos dias foi
emblemática. A semana que começou como um levante dos governadores contra a
reforma tributária — em que a direita vislumbrou mais uma oportunidade de
polarizar com o governo — terminou mais próxima do consenso num tema-chave para
o desenvolvimento do país que o visto nas últimas três décadas.
Confirmada a aprovação da reforma na Câmara e, depois, no Senado, o governo Lula sairá como vitorioso, inegavelmente, mas não só ele ou Arthur Lira. A possibilidade de diálogo amplo, plural e com forças muitas vezes rivais em torno da agenda econômica é algo que não se via ao menos desde a reforma da Previdência e que foi completamente inviabilizado pela radicalização promovida por Bolsonaro em quatro anos.