Correio Braziliense
Bolsonaro é um surfista da onda
conservadora liderada pela extrema direita, que se formou no mundo a partir das
frustrações sociais engendradas pela globalização
Na avaliação dos 100 dias do governo Lula
3, uma simples pergunta justifica a afirmação que intitula esta coluna: como
seriam esses 100 dias se o ex-presidente Jair Bolsonaro tivesse sido reeleito?
Não é preciso muita imaginação para responder: teria sido a consolidação do seu
projeto de governo “iliberal”, cuja principal tarefa seria subjugar o Supremo
Tribunal Federal (STF). É o que está acontecendo em Israel, que vive uma crise
política sem precedentes.
Aliado de primeira hora de Bolsonaro, o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, voltou ao poder e pretende
fazer uma polêmica reforma judicial, que dará mais poder ao Executivo em detrimento
do Judiciário. Além da oposição de grandes manifestações populares em defesa da
democracia, o premier não tem o apoio dos militares ao golpe iliberal que
pretende realizar. Ontem, Netanyahu anunciou que o ministro da Defesa, Yoav
Gallant, que havia demitido, permanecerá no cargo. No mês passado, o militar
havia afirmado que a reforma do Judiciário estava colocando em risco a
segurança de Israel.
Bolsonaro é um surfista da onda conservadora liderada pela extrema direita, que se formou no mundo a partir das frustrações sociais engendradas pela globalização. Em alguns lugares, o “iliberalismo” se apresentou como política de governo, como nos Estados Unidos, com Donald Trump, e na Itália, pelo vice-primeiro-ministro Matteo Salvini. Em outros, se institucionalizou como regime político, como na Rússia, de Vladimir Putin; na Turquia, de Tayyip Erdogan; e na Hungria, de Viktor Urban, que cunhou a expressão “democracia iliberal”, como se as duas coisas fossem compatíveis.