- O Globo
O presidente Bolsonaro, cujos atos
estrambóticos levaram o país à desmoralização internacional, é o tipo político
que chega ao governo central do país como consequência de uma disfunção
eventual da democracia. Como tal, não tem a compreensão do que seja o
presidencialismo de coalizão, que reduz a uma troca de favores entre quem manda
e quem obedece.
Não lhe passa na cabeça que é possível montar uma base parlamentar sobre
interesses republicanos, sem repetir expedientes como o mensalão, o petrolão e
que tais. Mas também não sabia que, sozinho, não teria como governar.
Do radicalismo inicial, em que montou um governo com pessoas da sua linha de
pensamento, que, como ele, sabiam o que queriam destruir, mas não o que colocar
no lugar, teve que se aproximar do Centrão e aprovar um “orçamento secreto”
para tentar garantir que não será votado o impeachment. O único que sabia o que
queria, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não sabia que precisaria do apoio
do Congresso para aprovar as reformas e queria mais do que Bolsonaro aceitava,
como ficou demonstrado.
Porque tem uma visão política de baixa extração, de onde montou sua estrutura
eleitoral que se limitava a um nicho suficiente para elegê-los todos e, como
consequência, formar a fortuna da família à base de “rachadinhas” e ligações
com interesses de forças militares oficiais e paralelas, Bolsonaro achou que
podia tudo e descobriu que pode muito, mas não tudo. Não tem moderação nem
discernimento para usufruir o poder que tem, por isso não conseguiu ficar na
legenda que o elegeu, o PSL, nem montar uma própria, muito menos encontra outra
para abrigar seus sonhos megalomaníacos.