• Vice na chapa do candidato à Presidência Aécio Neves, o líder do PSDB no Senado disse que será um assessor de Aécio
Maria Lima, Paulo Celso Pereira e Sergio Fadul – O Globo
BRASÍLIA — Com fama de mal humorado, o candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes, encerrou a entrevista ao GLOBO, nesta terça-feira, cantarolando um samba eternizado na voz de Moreira da Silva para criticar a obsessão do ex-presidente Lula em eleger “postes” e manter o PT no poder. “O Lula é o Piston de gafieira”, brincou o tucano, cantando a música que diz: “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”.
Apesar de reconhecer que Lula esgotou a capacidade de tirar da cartola mágica um candidato ungido como sendo portador da felicidade do povo, como a presidente Dilma Rousseff e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Aloysio diz que ele é um grande líder e um adversário a ser temido. E que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não transfere votos, mas é um selo de qualidade na campanha tucana.
Em outro momento, ao afirmar que o trio Geraldo Alckmim, José Serra e Aécio Neves está afinado e feliz, cada um tocando sua campanha de vento em popa, citou uma expressão francesa: tout bien dans votre peau (todos bem em sua pele). Aloysio tem diferenças de perfil com Aécio — não tem problema em assumir posições polêmicas na contramão da opinião pública —, mas disse que não será eleito sub-presidente, e sim vice. Não pretende ocupar um cargo executivo, como José Alencar no Ministério da Defesa.
O tucano diz que será um assessor de Aécio, com quem se dá muito bem e por quem tem laços profundos de afeto. Os dois primeiros dois anos de governo , diz, serão muito difíceis, mas só a eleição de Aécio já criará um clima de retomada de confiança. “O problema é se a presidente Dilma for sucedida por ela mesma”.
Como equilibrar o discurso das "medidas duras" e não assustar servidores e beneficiados de programas sociais?
A simples vitória da Oposição já vai dar um novo clima de confiança no País. Hoje não só os analistas do Santander, mas a dona de casa que vai no supermercado, tem horror a permanência da Dilma no Planalto. Aécio vai tomar as medidas corretas. Ninguém toma medidas duras porque gosta. Vai ter que equilibrar as contas públicas porque simplesmente não dá mais para continuar como está.
Ele vai ter coragem de dizer que os dois primeiros anos vão ser muito duros e que só no terceiro será possível respirar?
Quem assumir o governo depois de Dilma vai encontrar dificuldades imensas: inflação alta, contas públicas desarrumadas, a indústria no buraco, balança comercial deficitária. O problema é se a presidente Dilma for sucedida por ela mesma, porque já mostrou incapacidade de fazer um diagnóstico da situação e atribui sempre a causas externas os maus resultados do seu governo. Quem não tem um diagnóstico correto da situação não tem condições de remediar os males. Ela não tem agenda, não tem medidas de longo prazo. É um governo que vive as apalpadelas.
É um risco qualquer candidato que a suceda seja visto como salvador da pátria e não consiga atender as expectativas?
Felizmente chegamos a um nível de amadurecimento, ou talvez de descrença na classe política, que ninguém mais acredita em salvador da pátria. O que queremos é um bom governo. Não seria pedir demais um bom governo.
Esse novo escândalo da CPI da Petrobras, ele encobre ou neutraliza o efeito negativo do problema do aeroporto de Cláudio para Aécio?
O problema de Aécio com o aeroporto de Cláudio foi ter feito um voo com o aeroporto ainda não homologado.
Dilma foi trazida novamente para o olho do furacão com essa confusão da CPI denunciada pela revista Veja?
Eles são uns trapalhões, essa é a verdade. E cada trapalhada, o tiro sai pela culatra. É um ultraje à instituição (do Senado). Um ultraje a um dos poderes mais importantes do Senado, que é o poder de investigação . Fico imaginando se uma farsa grosseira como essa acontece numa comissão de inquérito do Senado americano, qual seria a reação do presidente do Congresso? Hoje tivemos senadores do Governo dizendo aqui que isso é normal, que é assim que se faz. Eu acho isso uma indecência!
Qual vai ser a presença desses elementos na Campanha? Quanto o PSDB vai abordar as falhas do governo e o quanto tem que projetar para o futuro?
A tônica da nossa campanha será sempre projetar para o futuro. Mas para projetar o futuro tem que corrigir o que está errado e dizer sua opinião sobre as causas que levaram ao estado de degradação política e econômica que estamos vivendo. As duas coisas são indissociáveis. O caso da Petrobras mostra bem isso: o loteamento dos cargos para pessoas incompetentes e os maus resultados da empresa.
Mas a presidente Dilma adotou o slogan: a verdade vai vencer o pessimismo.
Dilma não entregou o que prometeu, não foi a grande gestora que foi apresentada na campanha, os resultados do governo dela em todas as áreas são muito ruins ou insuficientes. A frustração e a sucessão de escândalos pode levar ao voto da oposição, mas também pode levar ao desencanto, a apatia e ao abandono da cena política. Podem dizer: isso aqui é uma farsa! Uma CPI que se esperou tanto terminar nessa pizza miserável, estragada, podre? Isso alimenta o desalento.
Houve o episódio do blogueiro que veio interpelá-lo e o senhor acabou perdendo as estribeiras. O senhor teme uma degradação ainda maior do nível da campanha?
Pra baixo da cintura não fomos nós que levamos. Agora, eu temo por baixarias homéricas do outro lado. Já começou na internet, um exército de robôs replicando mentiras e notícias falsas para destruir a reputação dos adversários. Publicaram ao meu respeito coisas diametralmente opostas do que eu fiz na realidade: "Aloysio votou contra a PEC do trabalho escravo", mas eu fui relator da PEC do trabalho escravo; "Aloysio votou contra a comissão da verdade", e eu fui o relator da comissão no Senado; "Aloysio é homofóbico", eu sou o sujeito mais avesso a qualquer tipo de preconceito que existe no mundo! Disseram que votamos contra o Mais Médicos e é mentira. Votamos a favor e apresentamos uma emenda obrigando os cubanos a fazerem o Revalida.
Falta proposta?
Sim! O discurso se esgotou , o que ela tem a propor para o futuro? A reeleição tem essa função: não deu certo, troca. Não tem segunda época, não tem recuperação como se tem na escola onde é proibido colar.
Eles usaram a tática do medo. Acha que isso pode ter bom resultado?
Ah! Isso não cola mais . Essa não é a realidade do País. As pessoas sentem que as coisas melhoraram e vem melhorando ao longo dos anos. Só que não é mais suficiente. Começa a patinar.
O senhor é a favor da manutenção da reeleição?
Sou a favor.
O senhor evita adotar posições apenas por serem populares, já Aécio tem um jeito mineiro, de diálogo com todas as forças. Essa diferença de perfil, num eventual governo, pode dar problema?
Entre o Aécio e mim? Sou candidato a vice-presidente, não a sub-presidente. Minha função é colaborar e eu tenho com ele a mais absoluta identidade nas questões fundamentais.
O vice José Alencar chegou a ocupar outros cargos, foi ministro da Defesa...
Eu já fui secretário quando fui vice-governador . No governo Fernando Henrique o Marco Maciel não foi ministro, mas colaborou muito com o presidente. Eu não tenho nenhuma pretensão de ocupar cargo executivo.
As pesquisas mostram que Dilma está em dificuldades até no ABC, reduto do petismo. O ex-presidente Lula está perdendo força?
Lula garganteou sua capacidade de eleger um poste. Só que os postes que ele elegeu não aprenderam a governar: Haddad, e na minha opinião, Dilma Rousseff. Essa capacidade do Lula demiúrgica de tirar da cartola mágica um candidato ungido como sendo portador da felicidade do povo, essa capacidade se esgotou. Padilha seguramente é mais um poste que não vai se acender. Agora, o Lula é uma pessoa importante, um líder político com enorme capacidade, é um adversário temido.
O senhor acha que as pessoas perderam o encantamento que tinham em relação a ele?
Acho que sim. Aqueles que estudam e se informam com mais cuidado sabem que o desastre da Dilma teve precedentes, ela não improvisou . O Lula que armou todo o cenário e a bomba acabou estourando nas mãos dela. Mas ele continua sendo uma pessoa de carisma inegável.
O senhor foi o primeiro majoritário a se eleger colocando o Fernando Henrique como figura central da campanha. O que de fato ele agrega a uma campanha eleitoral?
Eu era desconhecido e precisava mostrar qual era a minha família política, qual era minha turma, em que corrente da política eleitoral paulista se inseria minha candidatura. E o Fernando Henrique era a grande diferença. Ele está para o PSDB como o Lula está para o PT. São duas figuras que exercem uma identificação política nessas duas correntes. O Lula está justamente entronizado no panteão dos petistas, e nós temos muito orgulho de ter o Fernando Henrique como uma referência para nós em termos de valores políticos, de compreensão de Brasil. Agora, eles não são candidatos, nem Lula nem Fernando Henrique. Nosso candidato é o Aécio Neves, e o candidato do PT é a Dilma Rousseff. Fernando Henrique não transfere votos porque não é candidato, mas ele é um selo de qualidade.
O PT tem tentado cunhar que o PSDB é o partido da elite. O senhor concorda?
A Dilma é da elite, o Lula é da elite. Lula não trabalha na fábrica há mais de 40 anos , é da elite sindical e econômica. Nós ganhamos do PT em várias paradas duras. Nas eleições municipais ganhamos em Manaus, em Belém, Teresina, Maceió, em Salvador com um aliado nosso, em Aracaju. Em 2010 o Serra teve mais de 40 milhões de votos. Em duas eleições levamos para o segundo turno e Fernando Henrique ganhou no primeiro. Eles não tem o monopólio do acesso ao povo. Isso é conversa do Lula, demagogia! Ele é da elite, foi entronizado, é o queridinho do mercado financeiro, tem um banqueiro para chamar de seu, manda no Santander, mandou demitir funcionário, o que é pior. O seu grande amigo, o Botin, sabujamente se ajoelhou e mandou embora a moça. Imagina essa condução do governo! Eu tenho mil críticas a condução da economia, a mediocridade na educação, ao desastre na saúde, a omissão na segurança pública. Mas pior que a incompetência é essa cultura política que leva a presidente da República a apontar o dedo para um presidente de banco e dizer: preciso ter uma conversa com o senhor porque teve uma análise que apontou aquilo que todos sabiam! È como você quebrar o termômetro que apontou a febre ! Isso para mim é terrível! Se os boletins fossem favoráveis? Então é assim: dá dinheiro para nossa campanha , mas fica de bico calado! Esse é o tipo de cultura política antidemocrática.
O senhor foi escolhido vice para evitar que Aécio fosse cristianizado. O quanto isso tem de verdade? E acredita que paulista vai votar em mineiro?
Olha, eu fui escolhido candidato porque tenho uma ou outra qualidade. Entre essas qualidades não está o fato de eu ser avalista da lealdade de Geraldo Alckmin ou José Serra, porque ele não precisa disso. O fato é que o Aécio, antes de ser escolhido candidato, ele ganhou o PSDB . Realizou 18 reuniões regionais , com uma disciplina beneditina, onde transmitiu a confiança de que ele era um bom candidato a presidente. Ele trabalhou! Nunca houve por parte do Serra ou Geraldo uma tentativa de retaliar por causa do resultado eleitoral de Minas, que se deveu a uma série de circunstâncias que não necessariamente devidas ao empenho do governador na época . O que queremos é ganhar as eleições.
Hoje Aécio é quase um paulista... Ele sai vitorioso de São Paulo?
Eu não tenho dúvida nenhuma! Nós vamos votar nele sim. Os paulistas vão votar no Aécio . O Serra teve em São Paulo 1.8 milhão de votos a mais. Foi uma candidatura contra a corrente. Lula no auge da popularidade, economia crescendo a 7% , o desejo de continuidade e o governo nas mãos de alguém apresentada como uma grande gestora. Hoje as condições são inteiramente contrárias e o partido está unido. O Alckmin está muito bem, o Serra empenhadíssimo na campanha , há a volta do orgulho de ter um senador do porte do Serra, e o Aécio é um excelente candidato , é um sujeito que chega e encanta! Tem bom discurso, toca nos pontos certos, carismático.
Estão todos bem na sua própria campanha, não é?
Todos muito bem, cada um como dizia o francês , tout bien dans votre peau ( todos bem em sua pele)
Como o senhor explica o tamanho da rejeição da presidente no estado de São Paulo e a popularidade de Alckmin um ano depois das manifestações de junho , depois de 20 anos do PSDB no governo, da fadiga de material , crise hídrica e denúncias no metrô?
Hoje a política, em grande parte , se desdramatizou. Todas as grandes correntes políticas já tiveram experiências de governo. Não existem mais grandes ideologias como motor de movimentos de eleitorados. O PT desmoralizou a própria ideia da utopia , ainda bem. Então o que o povo quer hoje é um bom governo, que administre bem, que seja honesto, que escolha um boa equipe, que planeje, que cobre resultados, que dialogue, que ouça a sociedade , que agregue. É isso que o povo quer! Qualidade de vida, serviços decentes. O Alckmin é a encarnação disso.
O grande desejo do Lula de ganhar em São Paulo vai ter que esperar...
A obsessão do Lula de ganhar a eleição estadual? Ah! Essa? Esquece!
O senhor acha que o caminho natural de Eduardo Campos é que ele se aproxime de Aécio num segundo turno?
As pesquisas mostram hoje que no segundo turno há uma grande convergência do eleitorado que não quer Dilma e deseja uma mudança, seja para um lado ou outro. Ninguém comanda voto de ninguém no segundo turno. Você evita quem você rejeita.
Mas até por uma questão de convergência política, porque depois o País precisa ser governado...
Claro! Aí a disposição do Aécio é somar, e ele tem temperamento e tradição política para isso .
O vice José Alencar era polêmico, com posições as vezes contrárias ao governo. Michel Temer é mais introvertido. Qual será seu estilo como vice -presidente?
O vice -presidente Michel Temer é o chefe de um partido político, uma compensação que simbólica que o PT tem, em relação ao fato de que o PMDB, sendo um gigante no Congresso, é um anão no governo. Ele exerce um papel grande na agregação do partido, embora com dificuldades crescentes como se viu agora na convenção. Marina Silva, eleita vice-presidente, será ao mesmo tempo a vice e uma rival, porque o sonho dela é ser presidente da República desde que tenha um partido para chamar de seu, está hoje hospedada no PSB. Eu não. Não tenho ambição política de ser presidente da República, sou alguém que adquiriu uma experiência considerável na minha vida pública, intelectual , na trajetória da minha existência. E tenho com o Aécio não só uma afinidade política, mas uma sintonia afetiva muito grande. Eu não quero cargo. Quero fazer o que for mais útil , ser um colaborador, o que não impede que possa dar um palpite errado ( risos). Zé de Alencar foi um símbolo que o Lula deu ao empresariado para dizer: toda aquela estória que eu pregava antes era besteira e agora sou um homem bem comportado, agora sou da elite, está aqui meu empresário. Foi o símbolo de uma aliança social.
Como será, na formação do governo, tirar hábitos tão arraigados de receber ministério de porta fechada, de emparedar o presidente, governar sem essa troca permanente?
Sou a favor do voto distrital na reforma política. Há um sentimento de que esse tipo de eleição proporcional já não dá mais , que o que se gasta hoje ninguém mais está disposto a pagar. Em São Paulo se fala numa campanha de deputado estadual de R$5 milhões, federal, R$8 milhões. Isso é impossível, completamente fora de propósito. A ânsia de nomeações pode ser combatida também com a redução dos cargos a nomear. Você mata dois coelhos numa só cajadada. Faz economia e restringe o mercado político. O que importa mais na relação com o Congresso é a atitude do presidente. Tem que ter uma agenda clara para melhorar o País, propor ao Congresso essa agenda com clareza, como fez o Fernando Henrique quando assumiu , o Lula no seu primeiro mandato. Mobilizar apoios políticos em função desta proposta, recorrendo inclusive a opinião pública. O presidente tem um poder enorme de se comunicar com o povo, tem um papel pedagógico que não pode ser subestimado, tem que ser bem utilizado. Fernando Henrique reuniu os partidos para discutir as propostas de emendas constitucionais e reformas e pediu apoio a elas. Agora , a participação dos partidos no governo é algo necessário e desejável , mas dentro de determinados limites. Você não pode nomear qualquer um, tirar um ministro bem avaliado para, sabe-se lá o que significa atender um partido, como é o caso do ministro César Borges, que ia bem , honrado e bom ministro. O presidente é quem tem que dar o tom.