O Globo
O óbvio ululante é procurar vê-lo como um
dos fios com os quais construímos o lado mais denso da nossa identidade
Falamos infindavelmente de “política”,
deixando de lado a festa maior que chega neste fim de semana e continua sendo
assunto de difícil entendimento. Sobretudo para nós, brasileiros, para quem a
festa de Momo tem uma presença sistemática (lida como positiva ou alienada) nas
nossas vidas.
Falar do carnaval é ser obrigado a
discorrer sobre uma realidade ainda mais complicada: nosso sempre fugaz e
indomesticável Brasil.
O elo entre o carnaval e o Brasil tem muitas máscaras. Tanto o carnaval pertence ao Brasil — não há como negar um “carnaval brasileiro” com história, gestos, música e outros tantos elementos particulares — quanto o Brasil pertence ao carnaval!
Esse carnaval que — com seu maravilhoso espírito antiburguês, com sua atitude contrária à razão utilitária e com seu afeto pelas ambiguidades, pelas transformações míticas e, sobretudo, pela possibilidade de trocar radical e democraticamente de lugar — não tem rival como modelo de um “contrato social” brasileiro.