terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mudança polêmica

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Um debate ontem na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostrou que a mudança do marco regulatório para a exploração do petróleo na camada do pré-sal vai ser mais difícil de ser aprovada do que imagina o governo. A questão técnica está sendo substituída pela disputa ideológica, e nesse campo o governo corre o risco de ver sua base partidária heterogênea se dividir. Os partidos de esquerda que formam o chamado “bloquinho” — PDT, PCdoB, PSB — certamente formarão ao lado do governo, na tentativa de aprovar a mudança de modelo, reforçando o aspecto estatizante da proposta.

Mas a oposição, à frente PSDB e DEM, quase certamente terá o apoio de partidos de centro-direita, como PP, PTB, PR e parte do PMDB, para a manutenção do sistema de concessão. Ou então obrigarão o governo a “negociar” muito essa mudança.

O senador Francisco Dornelles, que faz parte da base política do governo, definiu a situação com objetividade: se colocou contra a mudança do sistema de concessão para o de partilha, como quer o governo, mas garantiu que, se qualquer dos objetivos buscados pelo governo não puder ser alcançado com a legislação atual, ele mudaria seu voto.

E quais são esses objetivos explícitos? Garantir uma “reserva estratégica”, a necessidade de evitar que o Brasil seja um mero exportador de Petróleo; a garantia de que toda a sociedade seja por ele beneficiado e a criação de um fundo de natureza social.

Para Dornelles, o Estado pode, por meio do contrato de concessão, “ter o controle absoluto sobre a exportação do pré-sal, estabelecendo regras referentes a essa exportação”, o que afasta o perigo de o país se tornar apenas exportador de petróleo bruto, sem beneficiá-lo.

O modelo atual também permite o controle estratégico da produção de petróleo.

“O Conselho Nacional de Petróleo (CNPE) é responsável pela velocidade das licitações, e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) aprova os planos de produção dos campos a serem explorados”, ressaltou Dornelles.

Já a destinação do petróleo, caso haja situação de emergência, também é estabelecida pelo CNPE e pela ANP. O senador Dornelles, ao defender o modelo atual de concessões, lembrou que a produção de petróleo dobrou na vigência do modelo, passando de cerca de 900 mil barris por dia, em 1997, para mais de 1,8 milhão de barris, em 2007.

E que o montante do bônus de assinatura — que não existe no modelo de partilha, que atingiu quase R$ 2 bilhões em 2008 —, cuja receita está sendo totalmente destinada à União, “seria enormemente ampliado em decorrência da diminuição de risco”.

Uma parcela dos recursos dos bônus de assinatura e das participações especiais pode ser destinada ao Fundo Social, sugeriu Dornelles.

A definição de que a disputa se dará no aspecto ideológico e não técnico foi feita pelo presidente da comissão especial que vai analisar a mudança no marco regulatório, o deputado petista Arlindo Chinaglia, que disse com todas as letras que o objetivo das mudanças, “pelo que está exposto” nas propostas do governo, é aumentar a presença do estado.

Dornelles havia definido sua posição anteriormente, afirmando: “As modificações no marco regulador do petróleo têm sentido contrário à minha visão de organização de Estado. Na realidade, elas se apoiam na concentração de poder nas mãos da União em detrimento de estados e municípios e na ampliação da participação do poder público nas atividades empresariais, com a conseqüente redução da participação do setor privado”.

Essa presença maior do Estado na exploração do petróleo do pré-sal foi um dos temas mais discutidos no painel. O deputado tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas chegou a cunhar uma frase — “O governo está estatizando o risco” — ao concordar com o depoimento de alguns técnicos que avaliavam que, no modelo de partilha, o governo tem que assumir integralmente os custos da exploração, ressarcindo-os antes de dividir o resultado.

O fato de o risco de não encontrar petróleo ser bastante reduzido no pré-sal não significa que os custos de exploração sejam pequenos, pois as dificuldades técnicas são grandes.

Pelos cálculos do mercado petrolífero, será necessário um investimento da ordem de US$ 600 bilhões para a exploração do pré-sal, e desse montante nada menos que 30% terão que ser investidos pela Petrobras, se permanecer a determinação do governo de que a petrolífera brasileira tenha uma participação obrigatória de pelo menos 30% de cada campo explorado.

Além da questão constitucional — já que, segundo alguns especialistas, o governo não poderia dar uma concessão à Petrobras ou a qualquer outra empresa sem licitação —, existe o perigo de que a necessidade de garantir os investimentos novos no présal, além dos já existentes, faça a Petrobras ter problemas financeiros no futuro.

Houve um consenso entre os debatedores de que também o fato de a Petrobras vir a ser a única operadora do pré-sal pode prejudicar o desenvolvimento tecnológico. A falta de competividade foi ressaltada pelo deputado Vellozo Lucas como um fator negativo dessa exclusividade para a Petrobras, que, no sistema de concessão, convive com o mercado petrolífero globalizado, trocando informações com outras companhias, absorvendo conhecimento e ampliando suas capacitações técnicas, hoje reconhecidas no mundo inteiro.

Para Dornelles, a discussão do pré-sal começou pelo fim, “muito focada na destinação e repartição de uma receita virtual advinda da complexa exploração do pré-sal”.

Para o senador, a preocupação central deveria estar voltada para os investimentos necessários para à exploração do pré-sal.

O deputado Arlindo Chinaglia acolheu uma sugestão de Vellozo Lucas de que se façam contas e projeções para definir qual dos sistemas é mais eficiente para o país.

Os perigos de Marina

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Pergunte-se a um integrante do comando do PSDB ou a dirigente nacional do PT qual dos dois partidos se sente mais prejudicado com a entrada de Marina Silva na disputa presidencial, a resposta será a mesma.

"Acho que ela tira mais votos de nós", concluem ambos, que só não falam em coro porque a análise é feita em dia e local diferentes. O tucano diz a frase numa terça-feira no bairro Morumbi e o petista a repete na noite de sábado em Higienópolis, em São Paulo.

A coincidência de opiniões não representa uma certeza absoluta. Até que as próximas pesquisas desenhem melhor o comportamento do eleitorado, tanto o PT quanto o PSDB vivem na dúvida a respeito de quem sofre mais perdas com a candidatura "verde".

Que Marina leva desvantagem para um dos lados, todos concordam, já que sua entrada em cena acabou com o plano do presidente de fazer da eleição um plebiscito. Mas ninguém sabe ao certo quem perde mais.

Em princípio, cada um dos lados se sente a maior vítima.

A primeira impressão do PSDB é a de que Marina Silva conquista aquele eleitor decepcionado com o PT e que ficaria com os tucanos só por falta de opção, um contingente nada desprezível com o qual estava contando a oposição.

Já o PT acha que esse mesmo eleitorado poderia hesitar, mas não estava perdido. Antes de Marina aparecer como alternativa, os petistas mantinham a esperança de que, na hora da polarização entre PT e PSDB, prevalecesse a rejeição aos tucanos em geral e ao governo de Fernando Henrique Cardoso em particular.

Com a ex-ministra do Meio Ambiente na disputa, os petistas desiludidos teriam onde desembarcar.

Mas, o fato de reconhecerem de maneira igualitária os danos provocados por uma candidatura do PV não quer dizer que PT e PSDB tenham a mesma visão a respeito de como lidar com a questão durante a campanha.

Os tucanos parecem enxergá-la como uma possível aliada. Já os petistas - os engajados no projeto de Lula para Dilma Rousseff , bem entendido - a veem como uma bomba a ser desarmada, caso suas intenções de voto venham a crescer de maneira preocupante.

Como não é possível cooptá-la - para o posto de vice, por exemplo -, a única opção seria explorar seus pontos fracos. Do ponto de vista do PT, os seguintes: radicalismo na questão ambientalista, defesa inflexível dos movimentos sociais, MST incluído, questionamentos sobre a conduta de dirigentes do PV, identificação religiosa com teses repudiadas pelos "modernos", como a posição dela contra o aborto.

Se Marina crescer muito, há no PT o sentimento de que o PSDB se aliaria ao bombardeio.

Uma das armas tidas como poderosas é a filiação (e militância) do deputado Sarney Filho no Partido Verde. Pensa-se em apresentar a candidata como "companheira" do "filho de Sarney".

Um ato ousado para o partido que salvou o pai de ser processado pelo Senado por quebra de decoro parlamentar.

Além de uma ação de execução complicada essa de "desconstrução" de imagens, pois há sempre o risco - como se viu na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2008 - de o feitiço fazer picadinho do feiticeiro.

Bossa-nova

A nova cruzada de Fernando Henrique Cardoso em defesa da descriminalização da maconha não é vista com tranquilidade no PSDB. A preocupação é que a "causa" possa render prejuízos para a candidatura presidencial do partido.

O governador José Serra preferiria que o ex-presidente não tivesse dado à revista Veja a entrevista da semana, falando sobre o tema. Não falou com ele a respeito, mas pediu que um amigo comum tentasse, com habilidade, demovê-lo.

Soube do fracasso da missão três dias antes da publicação e entregou o caso nas mãos de Deus.

Depende

A escolha do candidato do PT ao governo paulista é uma obra em aberto. Se Lula deixar correr solto, a máquina do partido emplaca o prefeito de Osasco, Emídio de Souza.

Se o presidente impuser sua vontade, ganha a legenda o ministro da Educação, Fernando Haddad. Isso, evidentemente, se Ciro Gomes mantiver sua candidatura a presidente e se as pesquisas qualitativas continuarem a apontar uma alta rejeição ao nome do deputado Antonio Palocci.

Um complicador: o grupo da ex-prefeita Marta Suplicy, que domina a seção paulista do PT, rejeita o nome do ministro da Educação. Avalia que seria arriscado Marta tentar o governo, mas prefere o risco à opção Haddad.

Meirelles na cabeça

A ala do PMDB que vai de PSDB em 2010 torce para ver o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, candidato ao governo de Goiás.

Isso obrigaria o presidente Lula a apoiá-lo e liberaria o palanque de Iris Rezende, até então apalavrado com o PT, para composição com os tucanos.

Reflexões do PT sobre a sucessão

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Considerada "muito boa" pelos participantes, a última reunião do Diretório Nacional do PT tratou praticamente de todas as dificuldades diante da candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente. Nem por isso deixou de ser uma reunião de cobranças e advertências.

O partido quer que a ministra retome o planejamento inicial feito para a campanha, ou seja, ir atrás do PT e ser a candidata dos petistas e da militância petista. A candidata do Partido dos Trabalhadores e não somente a candidata de Lula.

Dilma vinha de uma agenda acelerada, segundo as reflexões petistas. Então sobreveio o diagnóstico do câncer e, depois do câncer, a ex-secretaria da Receita Lina Maria Vieira, que a colocou sob a suspeita de interferir num processo tributário de interesse da família Sarney. A ministra se retraiu, quando a posição do Diretório Nacional é na direção contrária.

Não se trata propriamente de Dilma fazer campanha e correr o risco de ser impugnada na Justiça Eleitoral. Mas de se aproximar dos movimentos sindicais e dos movimentos sociais e populares. Na sequência, se aproximar dos partidos que compõem a base de sustentação do governo no Congresso.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, o PT quer que Dilma ponha o pé na estrada, pois avalia que não basta, para elegê-la, só o prestígio do presidente Lula, as realizações do governo e o cenário cor-de-rosa com que o Palácio do Planalto sinaliza o futuro - até fevereiro, pelo menos, só haveria notícias boas, como queda do desemprego e poços de petróleo.

Em outras palavras, o PT reconhece a avaliação da maioria dos partidos, segundo a qual, para se eleger, Dilma não deve contar apenas com os votos que Lula pode lhe transferir. Ela também tem que entrar com sua cota pessoal. E para que isso aconteça tem que ser a candidata do PT, da base aliada, do movimento sindical e dos movimentos populares.

Foi decidida a criação de duas comissões partidárias. Uma vai traçar as linhas do programa de um novo governo do PT sob o comando de Dilma Rousseff. O argumento é que também não basta dizer que a ministra da Casa Civil vai dar continuidade ao governo do presidente Lula. É necessário dizer o que será essa continuidade e quais são os próximos passos.

A outra será uma comissão eleitoral para discutir os palanques e problemas regionais. E são muitas as dificuldades nos Estados. "Impressionante", no termo usado por um integrante do Diretório Nacional. Em especial no chamado Triângulo das Bermudas (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais), que concentra 40% do eleitorado.

São Paulo, berço do petismo, não tem um candidato indiscutível. Tem alguns pré-candidatos e uma situação nova, que é a liberação, pela Justiça, do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (o STF julgou que não havia provas para que ele fosse processado pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, como queria o ministério público).

Há sempre o recurso à ex-prefeita Marta Suplicy. E a possibilidade de apoio a Ciro Gomes. O PT trabalha com a informação segundo a qual Ciro disse ao presidente do partido, Ricardo Berzoini, que está à disposição do PT. Mas registra que as articulações do deputado do PSB do Ceará são todas voltadas na direção da Presidência da República.

Com relação a Ciro Gomes, a propósito, o denominador comum no PT é que a vice na chapa de Dilma é tudo o que o deputado quer e tudo o que não pode acontecer, porque isso significaria o fim da aliança com o PMDB.

No Rio de Janeiro a disputa é entre o prefeito de Nova Iguaçu, Lindenberg Farias, e o governador Sérgio Cabral. Conta-se com a intervenção de Lula para a retirada de Lindenberg do páreo. Mas contava-se também, em 2005, que ele retiraria a candidatura do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) em favor da candidatura única petista a presidente da Câmara do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh - deu Severino Cavalcanti.

O mesmo raciocínio se aplica a Minas Gerais, onde a sucessão estadual está embolada: Hélio Costa (PMDB) quer, Aécio Neves (PSDB) diz que apoia, enquanto os petistas Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, e Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social, se engalfinham pela vaga.

O PMDB quer que a aliança nacional com o PT seja anunciada até outubro. O PT avalia que isso é bom e ruim, ao mesmo tempo. É bom porque dá uma linha para a sociedade: PMDB e PT estarão juntos em 2010. É ruim porque definir a coligação antes de acertar os palanques estaduais, implodem a base de sustentação ao governo e a aliança nacional, se amanhã ou depois ocorrer um grave problema regional.

É melhor, portanto, esperar um pouco, resolver as demandas estaduais possíveis e só depois anunciar o acordo nacional.

Na primeira reunião do Diretório Nacional depois do desligamento do partido da senadora Marina Silva (PV-AC), alas mais à esquerda propuseram que o PT recorresse à Justiça para retomar o mandato da ex-ministra do Meio Ambiente.

Aliás, tanto o de Marina como o de Flávio Arns (PT-PR), embora o desligamento do senador tenha ocorrido num cenário diferente: Arns saiu atirando; Marina , "com compostura".

A proposta foi rechaçada. O PT quer ir com calma no que se refere a Marina Silva. Se puder, nem toca no assunto. Se for inevitável, pretende desejar a ela que faça uma boa campanha e que procure colocar no centro do debate a questão do meio ambiente. Isso forçaria o PT a fazer um programa ambiental mais avançado.

No fundo, o PT teme que Marina possa ser vice numa chapa com José Serra. A opinião majoritária, no momento, é que trata-se de uma hipótese improvável. Mas também antes considerava-se pouco provável que ela saísse do PT.

Parece não haver dúvidas, entre os integrantes do Diretório Nacional, que Marina não será uma nova Heloisa Helena (PSOL). Na avaliação dos petistas, quem diria, HH perdeu muito, na eleição presidencial de 2006, por seu radicalismo e por sua agressividade. Marina, ao contrário, seria uma pessoa calma que não afugenta o eleitorado.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Não precisa exagerar

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Tudo bem que o advogado José Antônio Dias Toffoli tenha só 41 anos (faz 42 em novembro), pois a idade mínima para ministros do Supremo é 35. Mas, cá para nós, é um ponto a menos, já que ele pode ficar uns 30 anos no mesmo cargo, governo atrás de governo, como ocorre com Marco Aurélio Mello, indicado por Collor.

Tudo bem que Toffoli não tenha currículo brilhante, já que há bons profissionais com pouca densidade acadêmica em várias áreas. Mas, cá para nós, é um ponto a menos ele não ter mestrado nem doutorado, já que foi indicado não para um cargo qualquer, mas para o Supremo, cérebro e alma da defesa da Constituição brasileira.

Tudo bem que Toffoli levou pau para juiz já faz muito tempo, na década de 1990. Mas, cá para nós, é um ponto a menos ele virar ministro da mais alta Corte tendo sido incapaz de ser juiz estadual -não em um, mas em dois concursos.

Tudo bem que Toffoli seja camarada do Lula e do Zé Dirceu, advogado do PT em eleições e advogado-geral da União do governo amigo.

Mas, cá para nós, é um ponto a menos que sua ligação com o partido seja seu grande talento e maior trunfo. Ainda mais porque o mais eletrizante processo tramitando no Supremo é o do "mensalão", que pega petistas de jeito.

E tudo bem que Toffoli tenha duas condenações em primeira instância no Amapá, aparentemente por receber do Estado para defender a pessoa física do então governador.

Afinal, condenações assim sempre podem ser, e estão sendo, revistas. Mas, cá para nós, é um ponto a menos, além de a questão poder parar no STF. Toffoli julgando Toffoli.

Diminuindo daqui e dali, o que justifica Toffoli ser nomeado para a oitava vaga (do total de 11) do STF na era Lula? Será que o Brasil não tem ninguém mais maduro, com sólido currículo, que não tenha tomado bomba para juiz, que seja mais do que só ligado ao PT e que não tenha condenação nenhuma?

Reflexões em voz baixa

Wilson Figueiredo
DEU NO JORNAL DO BRASIL


O presidente Lula não é de pisar fundo no freio, quando entra de mau jeito numa curva fechada, mas de enfiar o pé no acelerador. Dirige perigosamente. Os outros que se cuidem. À maneira de Ademar de Barros, a quem, aliás, superou no número de tentativas de chegar à Presidência da República. “Desta vez vamos”, bradava em vão Ademar. Lula chegou lá na quarta tentativa. O governador paulista ficou pelo caminho, o presidente não disfarça o desagrado de largar o osso.

Por parte de Lula, o ato inaugural da próxima sucessão foi assumir a preferência pessoal pela ministra Dilma Rousseff e soltar as rédeas da candidatura, quando, numa das muitas viagens ao exterior, de passagem pela Itália, confessou ao jornal La Republica que gostaria de ser sucedido, e bem sucedido, por mulher. Para evitar chiliques por perto, o presidente se valeu diplomaticamente de verbos no condicional.

Na Itália, chão da história, Lula – sem ligar o nome ao fenômeno – pressentiu a dificuldade que sobrecarregou a candidatura do general Lott em 1960. O andor ficou pesado. “Vencer não será fácil”, disse Lula com inflexão de falsa modéstia. Se àquela altura já era difícil, mais ainda agora. Ficou mais difícil depois da proliferação de candidaturas que, sem o gene das vitórias inesperadas, têm peso diferenciador no balanço das pesquisas preliminares.

Em política não se luta apenas pela vitória. Derrotas também contam quando se terceiriza a vitória. É do jogo. Lula sabia que o PT acusaria o golpe baixo. As consequências já estão por aí. Para ganhar tempo, adiou mais do que podia o encaminhamento do candidato a vice, à espera da hora favorável para dar caráter plebiscitário à sucessão presidencial. O fato é que, dois mandatos depois, o confronto com os dois mandatos anteriores prometia a Lula garantir o triunfo, mas a expectativa não se materializou. Ninguém se interessa pelas diferenças entre dois presidentes que ficaram devendo ao futuro as reformas negligenciadas, principalmente a reforma política.

Nas últimas semanas, o presidente se deu mal, até nas pesquisas, por não agir no tempo certo. A candidata apareceu antes da hora, a escolha do vice atrasou. Um hiato perigoso. A indicação do companheiro de Dilma não pode deixar de considerar a hipótese médica a que está sujeita a candidatura oficial. A decisão se complicou, e não adianta apenas correr contra o tempo. O PT admite fazer dieta e alimentar-se de rãs, mas engolir sapos ao vivo já excedeu os limites. Está com o PMDB atravessado na garganta. O PT não pesou na escolha de Dilma, mas não abrirá mão do vice. Se ficar à margem, vai precisar de um muro descomunal para os petistas chorarem até o fim dos séculos. Quanto ao PMDB, nem é bom pensar. Já deve estar sentindo a tentação da candidatura própria e com a vaga do vice para terceirizar. Um rebuliço está se armando ao menos como hipótese.

Quando a sucessão começou, pelo efeito das pesquisas na excitação presidencial, Lula fez uma reflexão em voz alta (estava na Itália) e disse que “em política os cenários mudam muito rapidamente, e faltam ainda dois anos”. De fato. Faltavam ainda dois anos, mas agora resta apenas um, insuficiente para acomodar, sem resolver, as dificuldades em torno de Dilma Rousseff. Houve uma aceleração de partículas, que são as outras candidaturas nascidas de desajustes ao longo do caminho e a viabilidade espremida entre opções apertadas.

Faltavam então dois anos, agora ficou apenas um. O prazo encurtou para resolver dificuldades e acomodar interesses multiplicados. O vice vai ser escolhido à luz de hipóteses (médicas e políticas) que, em condições normais, não seriam consideradas. Vices não passam de avalistas fictícios aos quais se recomenda discrição. Repetiu-se com Dilma o caso Lott. Com antecedentes políticos de índole revolucionária, mas de baixa valia num cenário de classe média ascendente. O tom vigoroso do general Lott foi eleitoralmente ineficaz: devolveu o Brasil aos quadros constitucionais vigentes, mas ele ficou para trás e não lhe facilitou a vida com os políticos. Dona Dilma não é de oferecer garantia a feirantes eleitorais.

Ninguém ainda se deu conta do que está embutido na escolha do companheiro de chapa para a candidata. O PMDB mantém dupla personalidade, nenhuma considerada melhor que a outra. O currículo revolucionário de Dilma Rousseff poderia estar politicamente valorizado se os dois mandatos de Lula tivessem transcorrido à esquerda, ainda que para inglês ver, mas à direita, com lantejoulas neoliberais, deixará mal o próprio presidente, assim que se dissipar o efeito mágico. Uma variante apenas próxima da social-democracia não enche os olhos dos cidadãos nem gera mandatos. Veremos.

* Wilson Figueiredo é jornalista.

Ciro no mercado persa

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Ressurreição da candidatura Ciro altera alianças regionais e também o debate político e econômico da eleição de 2010

BASTOU o desempenho eleitoral de Dilma Rousseff deixar de ser excelente para que alguns preços do feirão do PMDB subissem, entre outros desarranjos da feira partidária. Desde sexta-feira passada, Michel Temer, presidente do condomínio ou do camelódromo político peemedebista, voltou a apregoar sua candidatura a vice de Dilma, ameaçada pelo tumulto nas alianças regionais entre seu partido e o lulismo-petismo. Há mais desordem e mais incerteza nas coalizões estaduais não apenas porque Dilma tremelicou nas pesquisas, mas porque desde meados do ano o PSDB (José Serra) resolveu trabalhar sua candidatura no interior do país.

Mais importante, a incerteza sobre Dilma aumentou devido a fatores permanentes: o lulismo-petismo expeliu Marina Silva, o que vitaminou Ciro Gomes.

Ciro é mais do que ele e sua circunstância de "plano B" de Lula. Sua presença na disputa vai desordenar muito mais que o páreo das pesquisas. José Serra e Dilma, apesar de não serem as candidaturas do sonho da grande banca e do empresariado, eram palatáveis e não causam inquietude maior. Ciro é outra história, pois também muito opinionado mas mais imprevisível e ainda desenquadrado nos grandes esquemas da política nacional. De resto, o deputado tem contas antigas a acertar com o PSDB, pode desarranjar rapidamente os acertos do PMDB com Dilma (e outros) e, como "novidade", ainda é uma candidatura que pode tomar vários formatos até o final da campanha, daqui a um ano.

A votação de Dilma nas pesquisas era de fato excelente para uma até ontem desconhecida sem experiência de urna e da demagogia de palco & palanque. Seu desempenho ainda é ótimo. Mas os preços no mercado eleitoral parecem muito elásticos, muito sensíveis, à variação de intenções de voto. Além disso, algumas variações se tornaram mais ou menos permanentes. Dilma perdeu pontos com o "noticiário negativo": currículo falso (317 votos a menos), ausência dos palanques lulianos devido ao tratamento de saúde, o caso Lina Vieira e os efeitos marginais da crise econômica, que morderam a popularidade de Lula (apenas um tico, mas morderam). Dilma deixou de ganhar votos e deve ter perdido alguns com a pré-temporada eleitoral da senadora Marina Silva (PV).

Ficou sem outros tantos devido à ressurreição do deputado federal Ciro Gomes (PSB).Note-se que, ainda em junho, a candidatura cirista ao governo de São Paulo era levada a sério pelo próprio deputado, o PSB encomendava pesquisa, o PT "cogitava" abrir mão de candidatura própria e o domicílio eleitoral de Ciro era assunto.

Foi também entre maio e junho que o PSDB procurou o PMDB para conversas, e que Serra passou a visitar o Nordeste -em junho, fechou acordo com o DEM da Bahia.

Dilma avariada, Marina, Ciro e um PSDB menos letárgico transtornaram de vez alianças regionais, ainda muito abertas e confusas, como o demonstrou Cátia Seabra, ontem na Folha. O fato de o PT ter perdido sua mania exclusivista, a mando de Lula, tornou a situação ainda mais instável, como na Bahia, em Minas, no Paraná, no Rio e em Goiás. Mas a ressurreição de Ciro vai bagunçar mais do que coalizões.

Os riscos dos desdobramentos da crise

Yoshiaki Nakano
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Do pico de nível de atividade econômica, no período pré-crise, atingido em abril de 2008, até o segundo trimestre de 2009, a atual crise provocou uma contração maior no PIB, no comércio mundial e nas bolsas de valores do que a grande depressão dos anos 30. Entretanto, as respostas das políticas monetária e fiscal foram muito mais rápidas e intensas do que nos anos 30. Com isso, tivemos uma rápida e sensível melhora nas expectativas e surpreendente início de recuperação da atividade econômica desde o segundo trimestre na Alemanha, França e no Japão, estabilização nos Estados Unidos e recuperação do crescimento na Ásia.

A rigor a crise financeira iniciou-se nos Estados Unidos e contaminou diretamente os bancos dos principais países desenvolvidos. Nos países emergentes ela foi importada pelo pânico psicológico, revelou-se sem maiores consequências e a desaceleração do crescimento veio da queda nas exportações. A sustentação do crescimento e o seu ritmo dependerão do dinamismo de seu mercado doméstico. Tudo indica que os emergentes estão retomando o crescimento ainda que em ritmo menor.

Algumas grandes questões colocam em risco a recuperação recém-ensaiada nos países desenvolvidos. Ela se sustentará no momento em que os estímulos fiscais forem retirados? O que acontecerá com o seu sistema financeiro enquanto a nova regulação não vem, com uma política monetária fortemente expansionista, que inundou o sistema com abundante liquidez, uma taxa de juros próxima a zero e o retorno das práticas e da especulação financeira?

Com o socorro monumental dado pelo Federal Reserve (Fed, banco central) e pelo Tesouro, o mercado financeiro norte-americano já voltou a operar com as mesmas práticas que desencadearam a crise, as operações de trading no mercado de capitais, gerando grandes lucros e, com isso, os bônus bilionários e a sensação de que a crise financeira já acabou.

No entanto, não é a percepção dos analistas econômicos que sabem que as fragilidades do sistema financeiro não foram removidas e ninguém está prevendo a recuperação da economia em forma de V. Ao contrário, os analistas mais sérios agrupam-se em dois grupos. De um lado, aqueles que acham que a recuperação terá a forma U, mas com base achatada e longa e, de outro, aqueles que acreditam que a recuperação terá a forma de um W. Há fortes argumentos para ambos os grupos.

Aqueles que veem a recuperação em forma de U, com base achatada e longa, apontam que dois choques negativos e persistentes nos países desenvolvidos: choque de queda no consumo, em função da enorme destruição de riqueza financeira e necessária elevação da taxa de poupança das famílias americanas que estavam super-endividadas. O mesmo ocorre na Europa em menor grau; assim, a hipótese de recuperação via exportações está afastada.

Com forte e persistente queda no consumo e nas exportações, a recuperação dos investimentos também é remota. Mais do que isto alguns analistas como Paul Krugman apontam riscos dos Estados Unidos entrarem numa espiral deflacionária, pois as respostas de política econômica tomadas até agora nos Estados Unidos e os desdobramentos da crise estão distantes daquelas tomadas pela Suécia e outros países nórdicos no início da década de 90, que permitiram rápida recuperação econômica. O desenrolar da crise mais se assemelha com o caso japonês em que o socorro do banco central e do tesouro se deu sem simultânea reestruturação do sistema financeiro, como no caso sueco, e com isso a recuperação foi lenta e prolongada e agravada pela temível espiral deflacionária.

Aqueles que acreditam que a recuperação será longa e em forma de W ou www, apontam duas ordens de riscos. Primeiro os riscos oriundos da estratégia de saída das expansionistas políticas monetária e fiscal e da retirada das garantias e da liquidez extraordinária injetada no sistema. Os desafios são gigantescos: em que momento reverter as políticas, lembrando que os estímulos fiscais têm data marcada para serem retirados e que a sua permanência requer aprovação do Congresso provavelmente resistente; como sequenciar ao longo do tempo as saídas; como coordenar e sincronizar globalmente as saídas.

Em segundo lugar temos os riscos oriundos da injeção extraordinária de liquidez e socorro aos bancos sem a simultânea reestruturação. Com recursos sem limite, as taxas de juros próximas a zero garantidas pelo Fed e na crença de que o governo não permitirá novas quebras os bancos, as mesmas práticas especulativas que geraram as bolhas e seu colapso retornaram. Pois é assim que geram enormes lucros recordes agora captando recursos custo praticamente zero e especulando com ativos com preços deprimidos.

Não são as operações tradicionais de empréstimos bancários ao setor real da economia que estão de volta. Basta verificar que as reservas bancárias ociosas passam de mais de US$ 1,3 trilhão. São as operações alavancadas de trading no mercado de capitais que voltaram e que, ao canalizarem recursos da liquidez extraordinária injetada pelos bancos centrais para as bolsas de valores, principalmente dos emergentes, petróleo, as commodities e para moedas-commodities, como o real, estão provocando a elevação de seus preços que já atingiram níveis em plena recessão global que não se justificam. Assim já podemos falar de mini-bolhas. De fato, nestas instituições quando o preço de seus ativos aumentam no seu balanço recompõe-se o seu patrimônio líquido e a alavancagem se reduz com isto são estimulados pela expectativa de polpudos lucros e bônus milionários abrem o apetite ao risco alavancando-se com novas operações e assim sucessivamente até que geram bolhas que podem eventualmente estourar.

Assim, aqueles que acreditam que a recuperação se dará sob a forma de W apontam para as grandes dificuldades de implementar uma saída das políticas e da retirada da liquidez extraordinária sem turbulências num quadro no qual a própria ação de socorro dos bancos centrais está gerando mini-bolhas. Certamente haverá sustos já que o socorro do governo aos bancos foi feito sem a sua reestruturação que deverá demorar e quem sabe será implementado só em 2011.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras

Governo antecipa campanha e ministros somem de Brasília

Cristiane Jungblut
Brasília
DEU EM O GLOBO

Em campanha eleitoral antecipada, é cada vez maior a lista de ministros do governo Lula que aproveitam as viagens a seus estados de origem e esticam o fim de semana com eventos às sextas ou segundas-feiras. O ministro da Justiça, Tarso Genro, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT, passou, de abril a agosto deste ano, 38 dias fora de Brasília - 60% deles em solo gaúcho. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT), aproveita as sextas e segundas-feiras para agendas no Paraná, onde sua mulher quer disputar o Senado. Em Minas, dois ministros pré-candidatos estão em campanha: Hélio Costa (Comunicações), do PMDB, e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), do PT. Na última sexta-feira, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que disputará pelo PMDB o Senado ou o governo da Bahia, vistoriou obras e recebeu homenagens no interior. No Amazonas, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), tem feito o mesmo.

Palanque antecipado para ministros

Pré-candidatos esticam o fim de semana em seus estados com agendas políticas

Em campanha permanente, ministros políticos do governo Lula adotaram uma prática criticada pelos petistas no passado: a de “produzir” agendas oficiais em seus estados de origem, esticando o fim de semana. A prática, utilizada ao longo do mandato, ganha força em ano pré-eleitoral, com os ministros presentes em eventos marcados por anúncios de obras, ações ou programas do governo e relativos à sua área.

Os petistas Tarso Genro (Justiça) e Paulo Bernardo (Planejamento) são mais sistemáticos em reservar as sextas ou as segundas — ou os dois dias — para eventos em seus estados.

Só em setembro, Tarso, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT, esteve todas as sextas-feiras no estado. O ministro, que já anunciou que deve deixar o governo em dezembro para se dedicar às atividades no estado, esteve em Porto Alegre, na sexta-feira, na comitiva do presidente Lula, num evento que se transformou em campanha para as candidaturas do próprio Tarso e da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Em agosto, foram seis agendas dele no Rio Grande do Sul, sempre às sextas ou às segundas. No dia 24 de julho, Tarso esteve em Goiânia e depois viajou para o Rio Grande do Sul. De abril a agosto, foram 38 dias fora de Brasília — 60% do tempo em solo gaúcho.

A assessoria de Tarso justifica as agendas próximas do fim de semana, argumentando que, por lei (aprovada em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso), o ministro tem direito a voltar ao estado de origem no descanso semanal, com deslocamento custeado pelo governo ou em aviões da FAB. Segundo a assessoria, Tarso prefere marcar agendas para aproveitar melhor o deslocamento.

Paulo Bernardo não decidiu ainda se será candidato, mas sua mulher, Gleisi Hoffmann, disputará o Senado pelo Paraná. Ontem, ele ficou em Curitiba, num debate sobre o pré-sal. E nas duas primeiras sextas-feiras do mês, também teve agenda no estado.

Desde julho, a agenda de Bernardo registra vários compromissos no estado.

Em agosto foram pelo menos quatro dias no Paraná, sendo sempre antes ou depois do fim de semana.

“O ministério é muito presente”

Praticamente todos os ministros políticos têm a mesma rotina. Hélio Costa, das Comunicações, pré-candidato ao governo de Minas pelo PMDB, tem a agenda recheada de compromissos em Belo Horizonte e em outras cidades mineiras. Ontem, ele viajou para o Peru em compromisso oficial, mas, em setembro, esteve cinco vezes em Minas. No último dia 18, sexta-feira, foi a Diamantina (MG) e no dia 11, também uma sexta, a Passos e Capitólio.

O site do ministério mostra ainda um encontro no dia 17, uma quinta-feira, com o governador Aécio Neves.

Há vezes em que dois ministros estão no mesmo estado em atividades políticas. No mesmo dia 11 de setembro, o também pré-candidato ao governo de Minas Patrus Ananias (PT), ministro do Desenvolvimento Social, esteve em Juiz de Fora para palestra na universidade federal e depois participou de encontro com o diretório municipal do PT. Ontem, participou da abertura do 8° Festival Lixo e Cidadania, em Belo Horizonte. Questionado, Patrus disse ontem que suas sucessivas viagens a Minas se devem a atribuições no governo. Mas negou que tenha intensificado as visitas.

— Rigorosamente, (a agenda continua) a mesma coisa. O ministério é muito presente, temos muitas obras, um conjunto de ações enorme — afirmou, atribuindo as perguntas a um excesso de interesse da imprensa em ano pré-eleitoral: — De uns tempos para cá, vocês (jornalistas) estão mais atentos.

Ele admitiu que, paralelamente às ações da pasta, tem se ocupado de compromissos do PT em Minas, mas fora do horário de trabalho: — À noite, depois de cumpridas as atividades, eu posso eventualmente me reunir com pessoas para atividades mais partidárias. Isso é uma coisa absolutamente ética e legal.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é outro que sempre procura esticar o fim de semana. Segundo o site do ministério, Minc teve atividades no Rio da última sexta-feira ao domingo, com visita à Baixada Fluminense na sexta e encerrando com um passeio ciclístico no domingo.

Outro que está há tempos em plena campanha, seja para o governo da Bahia ou para o Senado, é o da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB). Só na sexta-feira, dia 18, almoçou com jornalistas, vistoriou obras e recebeu homenagem em Feira de Santana (BA). No sábado foi a Guanambi, e ontem teve agenda em Salvador.

Candidato ao governo do Amazonas, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do PR, tem sua agenda no estado durante a semana prejudicada, em parte, pela agenda do presidente Lula, que inaugura e visita muitas obras de sua área. Mas sempre que está livre vai para o interior do Amazonas, como fez no dia 4, uma sexta-feira, quando visitou obras com recursos do PAC em três cidades: Manacapuru, Novo Airão e Iranduba.

Inserções do PPS / Eleições 2010: todos pelo social

Panorama Político :: Ilimar Franco
DEU EM O GLOBO

INSERÇÕES do PPS
na TV, nesta semana, atacam a criação de um novo imposto, a Contribuição Social da Saúde (CSS), e a taxação da poupança.

Eleições 2010: todos pelo social

O presidenciável José Serra aproveitou sua ida à Bahia, na última sexta-feira, para ter uma conversa com o arcebispo de Salvador, dom Geraldo Magela. Com o ex-presidente da CNBB, debateu ideias para o programa de governo do PSDB, como o aperfeiçoamento do Bolsa Família e do Saúde da Família. Ontem, em Belo Horizonte, seu adversário no PSDB, o governador Aécio Neves, comentando a proposta do presidente Lula de propor uma Consolid ação das Leis Sociais (CLS), disse: “A manutenção e aprofundamento dos programas sociais é uma necessidade que ultrapassa partidos, qualquer governo vai ter que mantê-los”.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Zito (PSDB) se lança candidato ao governo do Rio

Cássio Bruno
DEU EM O GLOBO

PSDB, rachado, adia decisão sobre candidato ao governo do Rio em 2010

Depois de o comando nacional do PSDB admitir a pré-candidatura do prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, ao governo do Rio nas eleições de 2010, o diretório estadual do partido, agora, vive um dilema: abraçar Zito em uma possível campanha com perfil mais populista, diferentemente do que prega a legenda, ou apoiar a aliança com o deputado Fernando Gabeira (PV), que caminhará com a companheira verde Marina Silva na disputa presidencial. Enquanto o páreo não é decidido, Zito abre fogo contra Gabeira.

— Ou nós temos um político para vencer as eleições e, realmente, resolver os problemas do nosso estado, ou então vamos ficar fazendo campanha para eleger presidente da República.

Gabeira é um grande legislador, mas não é um grande governante. Não é a praia dele, suas ideias são outras, como defender a lei da maconha.

Enfim, essas coisas que, para mim, são improdutivas para o estado — disparou.

Gabeira preferiu não entrar na polêmica, mas reconheceu que será praticamente impossível dividir o palanque presidencial do PSDB no Rio entre a senadora Marina Silva e o governador de São Paulo, José Serra, ou o colega de Minas Gerais, Aécio Neves: — Essa questão do Zito não tem a menor importância. O que cada um pensa sobre o outro é secundário. Não há razão para discutir publicamente qualquer assunto com ele. A questão fundamental é a do palanque duplo e até que ponto seria confortável para todos e entendido pelos eleitores.

De qualquer maneira, essa situação é de muito difícil solução e me preocupa.

O ex-deputado Márcio Fortes, primeiro vice-presidente do diretório estadual do PSDB no Rio, prefere Gabeira para o governo: — Nosso melhor candidato é o Gabeira. Ele concilia todos os partidos, já foi testado na última eleição (em 2008, para prefeitura do Rio). É um político único. Tem uma boa empatia conosco e vai ser muito bom para o nosso projeto.

Fortes, no entanto, lembrou que o partido ainda tem tempo para tomar uma decisão até as eleições: — Essas especulações são muito antecipadas. Nada disso é para ontem ou para amanhã.

Temos muito tempo. Mas estamos juntos com Gabeira, pronto, acabou.

Como Gabeira está cada vez mais distante de se lançar candidato ao governo do Rio numa coligação entre PV, PSDB, DEM e PPS, Zito tentará uma aproximação com José Serra.

O prefeito de Caxias estará amanhã em São Paulo.

“Estão fazendo um romance imenso”, diz Luiz Paulo Por outro lado, o presidente do diretório municipal, Luiz Paulo Correa da Rocha, tentou minimizar as divergências dentro do PSDB fluminense: — Não existe briga. Estão fazendo um romance imenso. Na última reunião, não decidimos nada. Preferimos aguardar outro momento. Abrimos conversas que estão longe de ser encerradas. A coligação tem quatro partidos. Temos um problema difícil, que é a história dos dois palanques.

Na reunião tucana de sextafeira, Luiz Paulo teria defendido a candidatura própria do PSDB por causa do alinhamento de Gabeira com Marina. O discurso oficial, porém, é outro: — Não tem nada já definido.

Trabalhamos as hipóteses. Temos que ter paciência.

Brasil abre embaixada para Zelaya tentar retomar poder em Honduras

Marília Martins e Gilberto Scofield Jr.
Correspondentes • Tegucigalpa E Washington
DEU EM O GLOBO


Num caso sem precedente na história recente da diplomacia brasileira, o Itamaraty abrigou ontem o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada em Tegucigalpa. O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, decretou toque de recolher e pediu ao Brasil que entregue Zelaya. Autoridades hondurenhas tacharam o gesto brasileiro de "ingerência em assuntos internos".O Brasil nega ter participado da entrada de Zelaya, que diz pretender retomar o poder, e pediu garantias da integridade física dele. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, deve chegar hoje a Honduras para liderar negociação.

Brasil abre as portas a Zelaya

Presidente deposto volta a Honduras, recebe abrigo na embaixada brasileira e quer reassumir

Depois de quase três meses no exílio, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, voltou ontem inesperadamente para seu país e, ameaçado de prisão pelo governo golpista, buscou abrigo na embaixada brasileira em Tegucigalpa. O retorno pegou de surpresa o presidente interino, Roberto Micheletti, que chegou a negar a presença de Zelaya no país e afirmar que tudo não passava de “terrorismo midiático”. Depois de uma série de boatos sobre o seu paradeiro, Zelaya apareceu de tarde na Embaixada do Brasil e, agradecendo o apoio do governo Lula, anunciou que usaria a representação brasileira como base para negociar sua volta ao poder. Micheletti imediatamente decretou toque de recolher no país, fechou todos os aeroportos e pediu que o Brasil entregasse Zelaya às autoridades locais.

— Minha presença aqui é para desempenhar o mandato que o povo me deu nas urnas eleitorais, para reconstruir a democracia — afirmou Zelaya, dizendo estar disposto a dialogar com o governo interino, enquanto milhares de simpatizantes se aglomeravam em frente à embaixada brasileira e helicópteros do governo sobrevoavam o local.

Obrigado por militares a deixar o país em 28 de junho, de pijamas, com uma arma na cabeça, Zelaya, com seu tradicional chapéu de vaqueiro, convocou a população a viajar à capital para o “proteger e dar cobertura”. A Chancelaria do governo golpista protestou contra ingerência, considerando “inaceitável a conduta de tolerância do Brasil” por permitir a convocação de dentro da embaixada, e responsabilizou Brasília por possíveis desdobramentos violentos.

“Tal ingerência em assuntos internos é condenável”, disse a chancelaria hondurenha em nota.

Viagem de Zelaya durou 15 horas

Parte da população ignorou o toque de recolher — marcado para começar às 16h de ontem e terminar às 18h de hoje — e permaneceu em frente à embaixada em apoio a ao presidente deposto. O sindicato de professores, também a favor de Zelaya, anunciou que os 60 mil docentes do país entrariam em greve hoje por tempo indeterminado.

A misteriosa viagem de Zelaya durou 15 horas e, segundo ele, contou com vários meios de transporte numa travessia por montanhas. Mas ele evitou detalhes, alegando que poderia comprometer os que o ajudaram.

De Nova York, onde participa da Assembleia Geral da ONU, o chanceler Celso Amorim negou qualquer envolvimento do Brasil com a entrada de Zelaya em Honduras e afirmou que ele chegou à embaixada desarmado, junto com a mulher, Xiomara Castro, e uma comitiva de cerca de dez pessoas. O Brasil está temporariamente sem embaixador em Honduras, e Amorim assumiu pessoalmente as negociações pelo lado brasileiro.

Ele esclareceu que Zelaya não tem status de refugiado na embaixada, já que Brasília o reconhece como presidente: — O Brasil não teve dúvidas em conceder abrigo. Esperamos que isso abra uma nova etapa nas negociações, e que uma nova solução baseada na Constituição possa ser alcançada. Nossa posição sempre foi muito clara em repudiar o golpe e em apoiar o retorno do presidente.

Também em Nova York, presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o golpe militar em Honduras e destacou o apoio a Zelaya como um ponto em comum entre EUA e Brasil, mas evitou comentários sobre o acolhimento ao presidente deposto pela embaixada brasileira.

— Ninguém pode suportar que ainda exista alguém que acredite que um golpe de estado seja vitorioso. E é uma vitória que EUA e Brasil tenham a mesma posição de apoio à democracia na América Latina — disse Lula.

Celso Amorim contou que, uma hora antes da chegada de Zelaya à sede da diplomacia brasileira, uma deputada telefonou à embaixada. O representante comercial Francisco Catunda, responsável pela representação, entrou em contato com Amorim e com o Itamaraty, que permitiram o acolhimento do grupo.

Amorim telefonou ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e também ao próprio Micheletti para pedir segurança à embaixada brasileira e a Zelaya.

Em entrevista pela TV, o presidente interino pediu a Brasília que entregasse Zelaya: — Faço um apelo ao governo do Brasil para que respeite a ordem judicial ditada contra o senhor Zelaya, entregando-o para as autoridades competentes de Honduras — disse Micheletti.

O chanceler brasileiro alertara que qualquer ameaça à integridade da embaixada brasileira em Tegucigalpa significaria um precedente “gravíssimo” com relação às leis internacionais. Mas Amorim delegou as negociações à OEA e ao presidente da Costa Rica e Nobel da Paz, Óscar Arias, mediador oficial do conflito.

— Nós não sabemos quanto tempo Zelaya vai ficar na embaixada, mas esperamos que este tempo seja curto e que termine com a volta de Zelaya ao poder. O presidente Óscar Arias estava mediando as negociações e nós apoiamos a continuidade delas — afirmou.

Diplomatas reunidos ontem em Washington numa reunião da OEA acreditam que Zelaya escolheu a embaixada do Brasil de forma calculada, já que poderia encontrar resistência e ser associado a radicalismos se pedisse ajuda à Venezuela ou a outro país da Alba. No entanto, Zelaya não estaria de acordo com o pacto de San José, elaborado por Óscar Arias como proposta de solução para a crise política, segundo a “TeleSur”.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, fez um apelo por uma solução pacífica para o conflito. Numa reunião extraordinária, a OEA pediu garantias à integridade de Zelaya e defendeu o retorno dele à Presidência. Também em Nova York para a reunião da ONU, Óscar Arias se dispôs a viajar a Honduras. Insulza afirmou ontem que está negociando com o governo golpista uma visita a Honduras, provavelmente hoje: — A volta de Manuel Zelaya muda totalmente o cenário e exige prudência, calma e diálogo para que não se aumente a tensão no país.

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