quinta-feira, 13 de setembro de 2018

*José Serra: Um sistema eleitoral corrosivo

- O Estado de S.Paulo

Substituí-lo é condição essencial para assegurar a estabilidade da nossa democracia

A praticamente três semanas do primeiro turno das eleições, convivemos com episódios que desbordam as fronteiras admitidas na disputa política civilizada. É necessário identificar as causas estruturais dessa radicalização das forças que têm uma visão puramente instrumental – e, por isso, distorcida – da democracia.

Uma das causas – para mim, a principal – é a óbvia inadequação do nosso sistema eleitoral. Por muito tempo o debate sobre a inconveniência (ou não) do voto proporcional tal como o praticamos foi relegado à condição de devaneio intelectual ante os desafios, sempre urgentes, das nossas tumultuadas conjunturas. Acontece que o enfraquecimento da democracia – decorrente daquele sistema – começa a cobrar alto preço, empurrando-nos cada vez mais rumo ao imponderável.

A justificada impaciência dos eleitores com a política deve-se à dificuldade de se formarem maiorias aptas a levar à frente um programa verdadeiramente popular, que conduza ao crescimento sustentável, com emprego e distribuição de renda, e refreie os apetites setoriais e corporativistas que colonizaram o Estado brasileiro. Mais ainda, nos últimos anos tivemos o recrudescimento da violência – que se alastra sob um Estado mastodôntico e inerte. Esse componente, em especial, favorece a guinada de parte do eleitorado para o salvacionismo.

As recentes mudanças feitas na legislação eleitoral – encurtamento das campanhas, fim das doações empresariais e vedação (a partir de 2020) de coligações partidárias – podem ser consideradas positivas, mas de forma alguma serão suficientes. O decisivo é mudarmos a essência do atual sistema eleitoral, baseado no voto proporcional, na direção do voto distrital.

Merval Pereira: O voto de qualidade

- O Globo

Disputa pela segunda vaga está mais acirrada. Quatro candidatos têm condições de chegar ao segundo turno

Com a tendência de Bolsonaro garantir um lugar no segundo turno, e possivelmente em primeiro lugar, a campanha eleitoral em seus derradeiros vinte e poucos dias vai tomar um caminho semelhante à de 2014, quando o voto útil levou o candidato tucano Aécio Neves ao segundo turno quando perdia para Marina até dois dias antes.

Desta vez, a disputa pela segunda vaga está mais acirrada. Até agora, quatro candidatos têm condições de chegar ao segundo turno, mas um deles, Geraldo Alckmin, apresenta dificuldades para avançar. Ele, que em 2014 deu ao mineiro Aécio sete milhões de votos na frente em São Paulo, não consegue superar Bolsonaro em seu próprio território político.

Não à toa os dois candidatos que aparentemente disputarão a vaga com Fernando Haddad, do PT, são Ciro Gomes, do PDT, e Marina Silva, da Rede. São os únicos que não têm envolvimento com denúncias de corrupção, especialmente Marina, pois, se Ciro não tem denúncia pessoal contra ele, o trabalhismo a que está filiado é envolto em denúncias de corrupção nos ministérios por que passou.

Eles disputarão os votos de Alckmin e Haddad. Ciro, que se diz mais amplo politicamente que Haddad, e abre sua candidatura à centro direita. E Marina, que já vem refazendo seu caminho desde que saiu do PT, e conseguiu livrar-se da tutela, até psicológica, de Lula.

Os dois são figuras políticas distintas, mas têm pontos em comum. Marina, que foi analfabeta até os 16 anos, é historiadora com especialização em psicopedagogia.

Na atual campanha, Marina “matou o pai” no sentido freudiano, isto é, libertou-se da submissão a Lula, da sua autoridade, e principalmente da dependência que tinha dele. Já havia começado esse processo desde que saiu do governo depois de sete anos como ministra do Meio Ambiente, mas só agora se libertou de seu mentor político, a ponto de poder afirmar com convicção que considera Lula um corrupto, que está preso com justiça.

Ascânio Seleme: Quem baterá Bolsonaro?

- O Globo

O quadro atual indica que Ciro, Alckmin e Haddad são os candidatos a derrotar o capitão do PSL. 

Um desses três homens deverá ser eleito presidente do Brasil. A última pesquisa do Datafolha, confirmada em parte pelo Ibope, parece estar apontando para uma tendência. Marina muito provavelmente estará fora do segundo turno, e Bolsonaro deverá chegar lá, mas apenas para perder no dia 28 de outubro. Apesar de ser líder em todas as pesquisas de intenção de votos, ele não é o favorito desta eleição.

Na pesquisa mais atual, a do Datafolha de segunda-feira, Ciro, Alckmin e Haddad cresceram, assim como Bolsonaro. É interessante analisar as chances de cada um deles diante da situação atual e apostando em algumas movimentações que deverão ser feitas por suas campanhas nesta reta final. Mas antes, é preciso entender por que será difícil para Marina se recuperar da queda que teve nas duas pesquisas.

Pelo Datafolha, a candidata perdeu quase 30% do seu eleitorado em dez dias. No Ibope, perdeu 20% em uma semana. Os números são eloquentes. As razões de tamanha perda são diversas, a principal talvez seja a incapacidade dela de se posicionar claramente sobre questões mais polêmicas.

A candidata terá dificuldade em retomar o protagonismo na campanha porque sua aliança com o PV é desidratada. Marina tem apenas 21 segundos no horário eleitoral, e se não criar um fato político relevante, vai passar os últimos dias da campanha fazendo apenas figuração. E Marina não gosta de criar fatos. Grave ainda é o seu índice de rejeição recolhido pelo Datafolha, crescendo para 29% e só sendo superado pelo de Bolsonaro.

Ciro cresceu nas duas pesquisas, e no Datafolha chegou a se isolar no segundo lugar. Os adversários Alckmin e Haddad só o alcançam no limite da margem de erro. Mas este fato não significa que ele está garantido no segundo turno. A campanha terá ainda 25 dias de emoção em que as posições dos três pode muito bem mudar. Ciro, contudo, tem uma carta na manga, a mais baixa rejeição dentre os candidatos competitivos.

Bernardo Mello Franco: Ciro, Marina e os órfãos do lulismo

- O Globo

Em sabatina no GLOBO, Ciro criticou Haddad e poupou Lula. Marina preferiu atacar o ex-presidente, a quem chamou de corrupto

O impedimento de Lula vai obrigar quatro em cada dez eleitores a escolher outro candidato. Ciro Gomes sabe disso, e precisa evitar que Fernando Haddad leve todos os votos que ficaram sem dono. É uma missão complicada, porque o ex-presidente deixou cartas e vídeos para turbinar o herdeiro.

Ciro quer desgastar Haddad sem melindrar os órfãos do lulismo. Foi o que ele tentou fazer ontem em sabatina no GLOBO. O pedetista bateu no candidato do PT, mas poupou quem o escolheu. Ele adotou a tática de comparar o rival a Dilma Rousseff, a quem acusou de ter feito um “governo desastrado”. “O Brasil não precisa de um presidente por procuração. O Brasil não aguenta uma outra Dilma”, disse. “O Haddad não conhece o Brasil. Não tem experiência”, prosseguiu.

Na mesma entrevista, Ciro estendeu a bandeira branca a Lula, a quem definiu como amigo de longa data. “Eu o apoiei em todos os momentos desses últimos 16 anos”, afirmou. O pedetista disse que é preciso “relativizar” os erros do ex-presidente, que estaria isolado na cadeia e “cercado de puxa-sacos”. “Se ele estivesse solto, não teria permitido uma série de desatinos que estão sendo promovidos”, argumentou.

William Waack: A ‘voz rouca’ das ruas

- O Estado de S.Paulo

Candidaturas se articulam por ‘onda’ de voto útil bem antes das famosas 36 horas finais

A consagrada expressão “voz rouca” das ruas deve vir do fato de que uma voz rouca mal se distingue, às vezes nem se entende, sugere algum problema afetando as cordas vocais e o som se parece a alguma coisa gutural, vinda de um fundo indefinido.

Pois mesmo assim a rouca voz das ruas no Brasil está dando um recado inconfundível na reta final para o primeiro turno das eleições. Ela já diminuiu pela metade o tamanho do grande ponto de interrogação que perdurava até poucos dias atrás, e parece ter colocado Jair Bolsonaro confortavelmente no segundo turno.

Bolsonaro atende exatamente a essa “demanda” rouca das ruas e espalhada (a julgar pelo mais recente Ibope) por segmentos dos mais diversos em termos de idade, condição socioeconômica, gênero, raça e escolaridade – ao mesmo tempo em que esse candidato enfrenta renhida rejeição nos mesmos segmentos mencionados. Haja rouquidão!

Na metade que sobrou do grande ponto de interrogação – quem vai para o segundo turno contra Bolsonaro – desponta como um candidato bastante competitivo no empate quádruplo o nome de Ciro Gomes. Não importa o que Bolsonaro ou Ciro tentem transmitir sobre qualquer assunto, ambos se destacam fortemente pela contundência.

Daniela Lima: A parábola da ovelha perdida

- Folha de S. Paulo

Indicado por Lula, Haddad prega o resgate do sistema que outrora havia descartado

Tal é a confusão na eleição que, neste momento, não há exagero em dizer que o PSDB de Geraldo Alckmin torce por uma rápida ascensão de Fernando Haddad (PT), o herdeiro de Lula, nas pesquisas sobre a disputa presidencial. Só esse movimento, avalia a cúpula da campanha tucana, abrirá caminho para que se possa iniciar a pregação pelo voto útil contra Jair Bolsonaro (PSL), o líder das pesquisas.

O entrave para o cenário dos sonhos de tucanos e petistas —que, por óbvio, também torcem pelo crescimento de seu —neocandidato tem nome e sobrenome: Ciro Gomes (PDT). Enquanto o PT encenava uma batalha que sabia perdida nos tribunais pela candidatura de Lula, o pedetista se apresentou ao eleitor e ganhou musculatura em ala da esquerda que desconfiava da estratégia kamikaze arquitetada pelo ex-presidente.

Ciro sabe que, agora, é ele a bola da vez, mas tentará conter a ofensiva que se avizinha nos campos onde conseguiu fincar estacas. Vai exibir o Nordeste em sua propaganda eleitoral, apresentar-se como o filho legítimo da região, tratar Haddad como uma Dilma Rousseff (PT) de calças. Vai semear a desconfiança para segurar o eleitor que, neste momento, não vê viabilidade no projeto de Lula e aderiu ao do PDT.

Não será tarefa fácil. Haddad ainda não despontou nas pesquisas, mas mesmo sendo apresentado de maneira mambembe no horário eleitoral, avançou de 4% para 9%, segundo o último Datafolha. E é só agora, com a pista liberada pelo ex-presidente, que a máquina petista vai entrar em cena.

Roberto Dias: Pega-pega com esconde-esconde

- Folha de S. Paulo

Existem dezenas de ações mais antigas e avançadas que as pessoas desconhecem

A prisão de Beto Richa presta-se a duas leituras opostas.

Uma é ruim para o PSDB: com dois ex-governadores importantes na cadeia, o partido não tem como passar a campanha apontando o dedo para o PT no tocante à corrupção.

Outra é ruim para o PT: fica difícil sustentar o discurso de que a Lava Jato quer só tirar Lula do páreo, pois na mesma Curitiba em que ele está preso foi detido um cacique tucano.

Acontece que os vetores contrários não contam toda a história.

Chama a atenção o fato de as duas ações contra Richa terem sido executadas no mesmo dia, a menos de um mês da votação, sendo relativas a algo que ocorreu de 2012 a 2014, contra alguém que perdeu o foro especial em abril. Ainda assim, fosse esse um caso isolado, vá lá, já que cada processo jurídico tem seu curso.

Mas são dias de saraivada do Ministério Público, que mirou dois candidatos a presidente (o tucano Geraldo Alckmin e o petista Fernando Haddad) e um governador-candidato (o tucano Reinaldo Azambuja, de MS).

O estranhamento levou o Conselho Nacional do Ministério Público a investigar os promotores envolvidos —decisão que a força-tarefa da Lava Jato considera intimidatória.

Ainda que as apurações contra os políticos estejam em estágio inicial, o impacto eleitoral é evidente. Só que existem dezenas de ações mais antigas e avançadas, sobre gente que faz sorridente campanha por aí sem que o eleitor saiba se deveria estar na urna ou na cadeia. Ou pior, o cidadão desconhece a acusação, “escondida” que está no Judiciário.

Maria Cristina Fernandes: Um general no gabinete da conciliação

- Valor Econômico

Na interlocução militar, a busca da moderação perdida

Ao título de mais jovem presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli, a ser empossado hoje no cargo, acrescentará outro, mais relevante. Terá sido o primeiro a nomear, como assessor especial, um general da reserva. Fernando de Azevedo e Silva não é um quatro estrelas qualquer. Construiu uma carreira próxima aos poderes civis. É ele quem aparece na foto por trás do ex-presidente Fernando Collor de Mello, de quem foi ajudante de ordens, no dia da renúncia. Nos anos 1990, ganhou intimidade com o Congresso ao atuar como assessor parlamentar do Exército.

Foi indicado por Aldo Rebelo e nomeado por Dilma Rousseff presidente da Autoridade Pública Olímpica. Antes de passar à reserva, tornou-se chefe do Estado Maior do Exército, o braço executivo do comandante Eduardo Villas Bôas, a quem sempre foi cotado para substituto.

Foi a Villas Bôas que Toffoli recorreu quando decidiu convidar um general para integrar seu gabinete. O ministro compareceu à cerimônia em que o general transmitiu seu cargo e convenceu-o com o discurso de que o presidente do Supremo precisaria de um assessor com formação sólida e conhecimento do país.

O general Azevedo e Silva vai para o gabinete do presidente da Corte suprema no clímax do alvoroço em torno da ingerência das Forças Armadas na vida civil - da intervenção militar no cartão postal do país, que convive há seis meses com o assassinato não esclarecido de uma vereadora, a um comandante que tece considerações sobre a legitimidade do presidente a ser eleito, passando pela facada no capitão líder das pesquisas.

Lembrado que o Supremo é o guardião da Constituição, o general da reserva e vice de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão, respondeu de bate-pronto em sabatina na Globonews: "A garantia dos poderes constitucionais não é por iniciativa de qualquer um dos poderes, a da lei e da ordem sim". Mourão não poderia ter sido mais explícito. Quem comanda a lei e a ordem não é o Supremo mas o poder que sua chapa almeja conquistar.

Luiz Carlos Azedo: Novo eixo no Supremo

- Correio Braziliense

“Toffoli assume um tribunal desgastado pela contaminação política, as idiossincrasias de seus pares e a falta de coesão institucional”

O ministro Dias Toffoli assumirá hoje a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) com o firme propósito de distender as tensas relações na Corte e mudar o eixo de sua atuação em relação aos demais poderes. Durante o processo eleitoral, a pauta será elaborada de modo a não criar mais tensões políticas; após as eleições, tende a assimilar o resultado do pleito e criar condições para uma transição de governo sem grandes traumas. Por exemplo, as ações que discutem a possibilidade de execução da pena após a condenação em segunda instância, em princípio, não serão julgadas neste ano. Porém, um freio de arrumação na Operação Lava-Jato está em andamento.

Toffoli assume um tribunal desgastado pela contaminação política, as idiossincrasias de seus pares e a falta de coesão institucional, o que resultou numa séria de decisões juridicamente contraditórias, opondo a Primeira e a Segunda Turma do Tribunal, que foram apelidadas de “Câmara de gás” e “Jardim do Éden”. Há um entendimento generalizado de que o STF deixou de exercer um papel moderador nas relações entre os poderes da República para ser um fator a mais de instabilidade.

O novo presidente do Supremo pretende adotar medidas para dar mais efetividade à Justiça e compartilhar os rumos da Corte com os pares. Durante o processo eleitoral, quer evitar grandes polêmicas. Na primeira sessão plenária sob seu comando, na próxima semana, estão na pauta decisões triviais: o ingresso em universidades públicas de militares transferidos, nos casos de ausência de universidade paga congênere; a concessão de licença ambiental única para atividades de agronegócio sem prévia realização de estudo de impacto ambiental; e a pulverização aérea de produtos químicos para combater o mosquito Aedes aegypti.

Ricardo Noblat: A verdade sobre o atentado a Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja

Um desempregado dono de cartão de crédito internacional

Quem tenta assassinar um candidato a presidente da República, da forma como o fez o ex-pedreiro Adélio Bispo de Oliveira em Juiz de Fora, é um louco, mentalmente desequilibrado a julgar pelas mensagens confusas que costumava postar em sua página no Facebook, à procura de fama instantânea.

Mas pode também não ser só isso. O agressor do deputado Jair Bolsonaro (PSL) pode ter estado a serviço de quem desejava tirar Bolsonaro do páreo presidencial ou simplesmente implodir o processo eleitoral brasileiro, sabe-se lá por que e com qual objetivo. É o que precisa e deve ser investigado também.

A princípio, dava-se como certo que Bispo agira por sua própria conta e risco, sem ajuda de ninguém. O ministro Raul Jungmann, da Segurança Pública, até falou em ação de “um lobo solitário”. Mas surgiram evidências para reforçar a suspeita de que Bispo obedeceu a ordens de um desconhecido, ou de mais de um.

Bispo treinou tiro ao alvo em um clube paulista, frequentado por filhos de Bolsonaro. Bispo pagou adiantada sua hospedagem por 15 dias em uma pensão de Juiz de Fora. Bispo tinha um laptop novo. Bispo usou computadores de uma lan house por mais de uma semana antes de dar a facada no candidato.

E aqui vem a parte mais interessante da história: o sujeito que passara por 12 empregos em sete anos e estava desempregado, possuía um cartão de crédito internacional do Itaú, dois cartões da Caixa Econômica Federal (um de conta corrente e outro de conta poupança), além de extratos dos dois bancos em nome dele.

A quem interessava matar ou apenas ferir Bolsonaro – e por quê? O que esperava ganhar com isso? A mesma pergunta espera há seis meses uma resposta que esclareça de uma vez por todas o assassinato no centro do Rio da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Alberto Goldman: Agora começa o jogo

A 'Paixão' de Lula: Editorial | O Estado de S. Paulo

Ganha cada vez mais contornos místicos a narrativa do PT sobre os dissabores político-penais de Lula da Silva. É verdade que o próprio ex-presidente, em mais de uma ocasião, comparou-se a divindades, mas agora, oficialmente impedido de concorrer à Presidência, o demiurgo faz o que pode para encarnar a figura de um “messias”.

Na carta em que anunciou a candidatura de Fernando Haddad à Presidência, escrita em seu escritório eleitoral em Curitiba e lida por seus fiéis como se fosse a palavra divina revelada, Lula, depois de reafirmar pela enésima vez que se considera vítima de um julgamento político, declarou que “um dia a verdadeira justiça será feita e será reconhecida minha inocência” – e então, como se fosse um versículo sobre a “Paixão” de Lula ressuscitado, emendou: “E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo e da esperança. Nós estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil feliz de novo”.

O tom manifestamente religioso da mensagem mal disfarça o verdadeiro sentido dessa pregação lulopetista: anunciar que, se Haddad for eleito, Lula espera ser beneficiado com a liberdade e, ato contínuo, tornar-se o presidente de fato, enquanto o ex-prefeito de São Paulo estará lá apenas para fazer figuração.

Quem Haddad será?: Editorial | Folha de S. Paulo

Prioridade de petista é ligar sua imagem à de Lula, o que prejudica a exposição de propostas

A oficialização de Fernando Haddad como candidato a presidente da República pelo PT no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva desfaz um segredo de polichinelo.

Pelo menos desde janeiro, quando o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmou a condenação de Lula pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, sabia-se que, salvo algum casuísmo jurídico inimaginável, o líder máximo do partido não poderia concorrer.

A decisão em segunda instância o tornou inelegível nos termos da Lei da Ficha Limpa, que foi aprovada com amplo apoio da bancada petista e sancionada em 2010 pelo então presidente Lula.

Ainda assim, o ex-mandatário passou os meses seguintes a afirmar, por meio de seus correligionários, que seria candidato. Ele tem, claro, o direito de interpor todos os recursos que entender cabíveis, e é fato que a estratégia de se apresentar como uma vítima do sistema político e judicial encontrou acolhida entre seguidores.

É inegável, porém, que insistir numa ficção significa ludibriar o eleitorado. Agora, a realidade se impôs.

Haddad precisa ser claro diante da crise fiscal: Editorial | O Globo

Ungido, o candidato tem de esclarecer se seguirá de fato políticas que geraram a crise

Devido à tática de protelação aplicada além do limite da responsabilidade pelo PT, para substituir o desde sempre impugnado Lula na chapa do partido, Fernando Haddad, o ungido, precisa apressar-se e esclarecer o que pensa sobre o sério atoleiro fiscal em que o país foi lançado.

Conhece-se o que acha o PT. A partir de declarações de economistas orgânicos, sabe-se que a ideia é taxar “ricos” e “bancos”, sem qualquer maior preocupação com elevados déficits no sistema previdenciário, dos quais se beneficiam bolsões do funcionalismo público, onde há currais petistas de votos. Ainda mais um candidato tutelado, não se imagina que Haddad fugirá a esta cartilha. Mas ele precisa assumir uma posição formal em público.

O petista chega tarde a uma campanha curta, em que os adversários já passaram por sabatinas e participaram de debates. Precisa recuperar o tempo perdido, quanto mais não seja em respeito ao eleitor.

O ponto central da agenda do próximo presidente, seja ele quem for, é o equilíbrio das finanças públicas, para o qual é necessária a reforma da Previdência, a fim de estancar o processo sem controle de crescimento dos gastos primários (exceto juros). Fato positivo é que os principais candidatos não negam a existência do problema.

Pelo o que afirmou na série de sabatinas de vices realizada pela GloboNews, o candidato do PT, disciplinado, deve insistir em heterodoxias, como as que levaram o Brasil à maior recessão da história, de mais de 7% do PIB, no biênio 2015/16, precedida por uma virtual estagnação em 2014 e seguida por dificuldades na retomada do crescimento.

Instabilidade previsível e ainda moderada nos emergentes: Editorial | Valor Econômico

A instabilidade das moedas e ativos financeiros dos países emergentes se agravou desde que os investidores castigaram a Turquia, primeiro, e depois a Argentina. A África do Sul entrou em recessão, algo que não acontecia desde 2009, e o rand começou a ser pressionado. A rúpia Indonésia está em seu menor valor ante o dólar em 20 anos, enquanto o real já se desvalorizou 25% de janeiro até agora. Há vários fatores de inquietação no ambiente global, mas uma crise de grande porte nos países emergentes não está no horizonte a curto prazo.

A Turquia frequenta há um bom tempo todas as listas dos países mais vulneráveis e os desequilíbrios econômicos da Argentina já eram visíveis, como o seu rápido endividamento em moeda externa e a ampla desconfiança doméstica em relação ao peso, toda vez que a inflação começa a fugir ao controle, como agora. Os problemas fiscais do Brasil são também velhos conhecidos dos investidores e a aproximação de uma eleição muito disputada, de baixa previsibilidade, está derrubando o real e colocando a economia em compasso de espera, em uma recuperação que exibe exasperante lentidão.

Os alertas sobre possíveis naufrágios na normalização da política monetária americana indicam riscos decorrentes do excessivo endividamento em dólar e seus potenciais estragos, mais disseminados por passarem desta vez ao largo dos bancos e feito com emissão de títulos nos mercados de dívida. O maior beneficiário dessas captações foram os países asiáticos, que levaram metade dos US$ 3,7 trilhões de papéis emitidos.

Vinicius Torres Freire: Alta tensão no voto, baixa no PIB

- Folha de S. Paulo

Alta de juros e dólar vão rebaixar previsões de crescimento

Caso persistam os sintomas, não haverá médico que evite estrago ainda maior na economia neste resto do ano e no começo do próximo.

O aperto financeiro que vem mais ou menos desde julho, alta de dólar e juros na praça, deve derrubar um tanto mais o crescimento de 2018 e contaminar pelo menos o começo de 2019.

O arrocho acontece devido à piora na economia mundial e a problemas domésticos.

Pelo menos a metade do problema teria origem caseirinha: governo cada vez mais quebrado, incerteza eleitoral, temor de vitória de candidatos sem capacidade ou desejo de dar um jeito nas contas públicas.

A combinação de tumulto lá fora com maus presságios aqui provocou desvalorização do real e altas das taxas de juros básicos nos negócios do atacadão de dinheiro, o que encarece financiamentos para empresas.

Mais um mês ou dois de aperto vai sufocar ainda mais a atividade econômica.
Economistas que previam crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1,3% podem revisar a projeção para 1%; outros que davam o chute informado de 1,1% podem limar a previsão até 0,8%.

Parece preciosismo ridículo se ocupar dessas casas decimais. Na prática, esses ticos a menos de PIB têm alguma relevância, embora o cidadão médio não deva perceber a diferença, quase se afogando com a água pela altura da boca ou do nariz.

Para começar, dois anos seguidos de PIB crescendo a 1% significam praticamente estagnação da renda (PIB) per capita, pois a população cresce a 0,8% ao ano, por aí.

Logo, no começo de 2019 estaríamos ainda no fundo do poço em que caímos até o final de 2016.

Mais relevante, a persistência do aperto financeiro ameaça o primeiro trimestre de 2019. Nem é preciso que o Banco Central chancele a alta de juros que já ocorre na praça financeira. Mas pode piorar se assim for.

Na opinião majoritária de gente considerável no "mercado", não haveria ainda motivo para o BC elevar a Selic.

No entanto, caso a alta do dólar seja persistente, com a moeda americana subindo os degraus de R$ 4,20, R$ 4,40, sem sinal de repouso, pode ser que se abra o dique de repasses da desvalorização do real para os preços no varejo. No atacado, os preços já estão pressionados.

Nada disso ainda aconteceu, em parte pelos piores motivos: estagnação, desemprego quase imóvel nas alturas, ociosidade enorme de máquinas e equipamentos. Mas o destino de país tumultuado está de novo batendo à nossa porta na verdade já meio arrombada.

Alta de juros em um país com a economia no fundo do poço, uns 7% abaixo do nível de 2014, é uma perspectiva sinistra.

O antídoto é, em parte, óbvio.

Zeina Latif*: Voto e realidade

- O Estado de S.Paulo

Moderação e comedimento são para os bons, para aqueles que compreendem que as fissuras no País reduzem nossa capacidade de avançar

O Brasil vem passando por testes de maturidade. Primeiro, os protestos iniciados em 2013. A inflação elevada e a fraqueza da economia geravam desconforto. A sociedade desconfiou que havia algo errado, antes da classe política.

O segundo teste foi o impeachment. A ex-presidente recebeu um “cartão-vermelho” da sociedade por provocar a mais grave crise da nossa história. O grito “Fora Dilma” foi mais alto do que o discurso do “golpe”.

O terceiro foi o governo do MDB promover uma reorientação da política econômica e avançar com reformas estruturais, em vez de adotar atalhos, como aumentar a carga tributária.

O quarto teste foi o silêncio das ruas. Mesmo na greve dos caminhoneiros, não houve “Fora Temer”. Sinal de que a sociedade tem apreço pela estabilidade da economia, apesar de não gostar do presidente.

Muitos outros testes virão, tendo em vista os desafios a serem urgentemente enfrentados. Temos adiante o teste da campanha eleitoral. Os sinais preocupam, pois cresce a polarização. Mas nem tudo está perdido.

As respostas da política ao infeliz ataque a Bolsonaro e à inviabilidade da candidatura de Lula são mistas. Muitos buscam a moderação, mas sobra insensatez nas falas de membros da campanha de Bolsonaro e do PT. Até o comandante do Exército derrapou. São posturas desrespeitosas com o eleitor e que alimentam o “nós contra eles”.

Moderação e comedimento são para os bons, para aqueles que compreendem que as fissuras no País reduzem nossa capacidade de avançar. A alguns players políticos falta a necessária contenção do jogo democrático.

Ribamar Oliveira: Um problema para resolver antes da posse

- Valor Econômico

Subsídio ao diesel só vale até o dia 31 de dezembro deste ano

O futuro presidente da República talvez tenha que pedir um favor ao presidente Michel Temer. O atual subsídio do Tesouro à comercialização interna do óleo diesel, que colocou um fim à greve dos caminhoneiros, só dura até 31 de dezembro. Se a ideia do próximo governante do país for manter o benefício em 2019, uma alternativa seria ele pedir a Temer que edite uma medida provisória, antes da posse, prorrogando o subsídio.

Talvez esta venha a ser uma das primeiras contradições do novo mandatário. Quase todos os candidatos à Presidência da República defendem a redução dos benefícios fiscais, como forma de ajustar as deficitárias contas da União. Temer advoga a mesma tese e, durante os seus dois anos de mandato, reduziu bastante as despesas com os subsídios. Mas, diante da paralisação do país pelos caminhoneiros, não pensou duas vezes: cedeu e aceitou conceder um subsídio ao óleo diesel no valor de R$ 9,5 bilhões.

Assim, mesmo sendo favorável à redução dos subsídios, o novo presidente talvez tenha que começar o seu governo pedindo ajuda para adotar uma medida que vai em sentido contrário ao seu receituário para o país. A medida provisória terá que ser baixada em novembro ou dezembro para que o benefício esteja em vigor em janeiro, evitando a elevação do preço do diesel e outra paralisação de caminhoneiros no primeiro mês do novo governo.

Algumas questões precisam ser avaliadas. Uma delas é saber quanto vai custar a prorrogação do subsídio. Atualmente, o Tesouro banca até R$ 0,30 por litro de diesel e o custo estimado é de até R$ 9,5 bilhões porque o benefício começou em junho. Se a prorrogação desta subvenção econômica for valer para todo o próximo ano, o custo certamente será bem maior, podendo ser o dobro deste ano, em torno de R$ 19 bilhões.

Míriam Leitão: A ameaça do câmbio

- O Globo

Dólar alto já é uma ameaça à recuperação da economia. Preços no atacado saíram de -4% para 11% nos últimos 12 meses

A forte valorização do dólar é uma ameaça real à recuperação da economia. Os preços no atacado saíram de uma deflação de 4%, em agosto do ano passado, para uma alta de 11% no mesmo mês deste ano. Isso vira aumento de custo para as empresas, que terão suas margens ainda mais comprimidas neste momento de fraqueza da atividade. Há impactos diretos, como o dos preços dos combustíveis e da energia. Os bancos, antevendo um novo ciclo de alta da Selic, podem encarecer as principais linhas de financiamento.

A moeda americana já subiu 25% este ano. Saiu de uma cotação de R$ 3,30 no último dia útil do ano passado para R$ 4,12 no fechamento da taxa ptax. A alta foi forte e rápida. Esse tipo de movimento atrapalha até as empresas exportadoras, que seriam as mais beneficiadas pela desvalorização da moeda. Segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o exportador precisa de estabilidade no câmbio para ter segurança na hora de fechar os contratos:

– O dólar hoje está na casa de R$ 4,10. Mas quem garante que não irá a R$ 5,00 ou voltará para R$ 3,50? Há um componente especulativo que prejudica a exportação. O empresário fica sem referência e muitas vezes adia a venda dos produtos. Enquanto o câmbio não estabilizar, a incerteza é muito grande.

'É inacreditável lançar uma candidatura na porta de uma penitenciária', diz Alckmin sobre PT

Durante campanha em Minas Gerais, candidato do PSDB ao Planalto ainda afirmou que o PT é responsável pela atual crise econômica

Leonardo Augusto | O Estado de S.Paulo

CONTAGEM (MG) - O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, concentrou nesta quarta-feira, 12, ataques ao agora confirmado presidenciável do PT , Fernando Haddad.

Durante campanha em Minas Gerais, com passagem em Contagem e Betim, o tucano classificou como "inacreditável" o fato de a candidatura do ex-prefeito de São Paulo ter sido confirmada "na porta de uma penitenciária", onde está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato. Lula está detido na sede da Polícia Federal de Curitiba desde o dia 7 de abril. A entrada de Haddad na disputa foi confirmada nessa terça-feira, 11, na capital paranaense.

"O PT ficou escondendo o Haddad. Agora vai ter que se apresentar como candidato e explicar 13 milhões de desempregados, porque isso não começou hoje. É herança do PT, quem quebrou o País foram eles. O PT não tem limites para chegar ao poder", disse Alckmin.

O candidato tucano ainda negou que a propaganda de seu partido no horário eleitoral concentre críticas em seu rival do PSL na disputa, Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto. "Nós não fazemos nenhuma crítica, não sou eu quem falo. Isso está no YouTube. Se ele fala coisas desrespeitosas, é ele, não somos nós. Simplesmente pegamos as falas e colocamos", disse.

Alckmin observa que a disputa presidencial este ano tem candidato do PT e "adoradores do PT e do Lula". Ele enfatizou a relação de seus principais adversários na corrida eleitoral com o PT. "O Ciro foi ministro do Lula. Sempre apoiou o PT e a Dilma. O Henrique Meirelles (MDB) também se vangloria de ter sido presidente do Banco Centraldo PT. A Marina Silva foi 24 anos filiada ao PT. E agora o Haddad", afirmou.

Na disputa com Ciro Gomes (PDT), Haddad e Marina Silva (Rede) pelo segundo lugar nas leituras de intenção de voto, o tucano disse haver tempo para conquistar votos. "Se pegarmos as últimas eleições, as decisões foram mais próximas da data da eleição. A população reflete, compara e decide seu voto". Ele avaliou que as pesquisas de intenção de voto mostraram uma disputa pelo segundo lugar e que o quadro eleitoral ainda está em definição para o primeiro turno.

"O que as pesquisas mostram é que tem um segundo lugar ainda não definido. E que tem quatro pré-candidatos disputando esse segundo lugar", disse o ex-governador de São Paulo. "Agora é que as coisas estão se definindo."

Segundo os últimos levantamentos do Datafolha e do Ibope, o tucano está embolado no segundo lugar com Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Fernando Haddad (PT). Jair Bolsonaro (PSL) lidera a disputa em ambas as pesquisas.

Ao lado da vice em sua chapa, senadora Ana Amélia, sua mulher, Lu Alckmin, e do candidato ao governo de Minas pelo PSDB, Antonio Anastasia, Alckmin prometeu reduzir gastos caso assuma o Planalto. "Não ter mais 30 ministérios, vamos vender avião, helicóptero, reduzir gastos, cortar na carne para poder apertar o cinto do governo, para não apertar o cinto do povo, é o Brasil voltar a crescer", afirmou, durante ato para correligionários em Contagem. O candidato também garantiu que, caso seja eleito, o país deve crescer 4% em 2019 sob seu governo.

O tucano prometeu ainda solução para a crise fiscal enfrentada pelo estado. "Vou ser parceiro do estado na renegociação da dívida. Vamos fazer uma reavaliação da questão fiscal. Fazer um bom entendimento para rapidamente poder recuperar a capacidade de investimento deste estado", prometeu. Em Betim, o candidato visitou empresa do setor automotivo.

Haddad terá de responder por coisas erradas de governo Dilma-Temer, diz Marina

Candidata da Rede cumpriu agenda em Belo Horizonte nesta quarta-feira

Jonathas Cotrim | O Estado de S.Paulo

BELO HORIZONTE - A candidata à Presidência pela Rede nas eleições 2018, Marina Silva, afirmou nesta quarta-feira, 12, que o postulante do PT, Fernando Haddad, terá que responder “pelas coisas erradas” praticadas pela gestão da ex-presidente cassada Dilma Rousseff. Com a entrada de Haddad no pleito no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impedido de disputar as eleições por ter sido condenado e preso na Lava Jato, Marina Silva afirmou que “agora a eleição começa com todos os candidatos”.

“O Haddad terá que responder porque nos anos de governo Dilma-Temer, o Brasil acabou com as coisas boas que o governo do PT tinha feito, e aumentou as coisas erradas que fez”, afirmou a candidata da Rede, que caminhou pelo centro de Belo Horizonte e pelo Mercado Central da capital mineira. Marina também disse que Haddad deverá explicar principalmente os casos de corrupção e o aumento do desemprego.

O PT anunciou a candidatura de Fernando Haddad em ato realizado na terça-feira, 11, após Lula ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral, enquadrado na Lei do Ficha Limpa.

Na última pesquisa Ibope divulgada na terça-feira, 11, Marina Silva demonstrou estar perdendo intenção de votos, já que saiu do patamar dos 12% e caiu para 9%. Por conta da margem de erro, a ex-senadora está em situação de empate técnico, junto com Ciro Gomes, do PDT, Geraldo Alckmin, do PSDB, e Haddad. Jair Bolsonaro, do PSL, lidera a disputa com 26% das intenções de voto.

Sobre a pesquisa, Marina Silva disse que continuará fazendo sua campanha e garantiu que estará no segundo turno. Durante a caminhada pelo Mercado Central, Marina Silva e seus apoiadores ouviram gritos de “Bolsonaro Presidente”. A candidata da Rede respondeu a um eleitor do candidato do PSL com um gesto de coração.

Questionada sobre qual a postura ela adotará com relação ao postulante líder nas pesquisas, a presidenciável lembrou do ataque sofrido por Bolsonaro em um ato de campanha em Juiz de Fora para criticar a proposta de de liberação do porte de armas, defendido pelo deputado federal. “Esse ato violento e inaceitável desmoralizou a proposta de distribuição massiva de armas. Quem tem que proteger a sociedade é o Estado”, disse Marina.

Minas Gerais
Na caminhada pelo Mercado Central, Marina Silva esteve acompanhada do candidato ao Senado, Kaká Menezes, e pelo vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac, ambos da Rede. O candidato ao governo do partido, João Batista Mares Guia, não compareceu ao ato de campanha.

Questionada sobre o que fará para resolver a crise financeira vivida pelo governo mineiro, Marina Silva disse que não irá “boicotar” o Estado, retendo repasses federais. “Ajudaremos os Estados e municípios sem fazer nenhum tipo de boicote, em função de não ser do meu partido”, disse.

Gilmar diz que ‘hiperativismo judicial’ pode tumultuar eleições

Comentário foi feito após o ministro ter sido questionado sobre como avaliava a prisão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), candidato ao Senado e alvo de duas operações policiais na última terça-feira, 11

Amanda Pupo e Rafael Moraes Moura | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou nesta quarta-feira, 12, o que chamou de “hiperativismo” do Judiciário em relação a processos movidos contra candidatos do pleito de 2018. Segundo Gilmar, há um notório “abuso de poder de litigar” e um risco de tumulto ao processo eleitoral.

Os comentários foram feitos ao ser questionado sobre como avaliava a prisão do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), candidato ao Senado e alvo de duas operações policiais na última terça-feira, 11. O ministro também citou os casos envolvendo os candidatos à Presidência da República Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad(PT).

Richa é suspeito de envolvimento em um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude em licitações do setor de rodovias no Estado, durante seus dois governos, entre 2011 e abril de 2018. Gilmar, que destacou não ter mais informações sobre o caso do tucano, ressaltou, no entanto, que a prisão preventiva a menos de um mês da eleição “suscita muita dúvida”.

“Não tenho dados sobre o caso, mas de fato todo esse hiperativismo que se revela no contexto, na prisão, neste caso, nos processos contra candidatos, Alckmin, Haddad, com processos antigos. Pelo que estava olhando no caso do Richa, é um episódio de 2011”, destacou o ministro.

“Acho que é preciso haver moderação. Do contrário, daqui a pouco nós podemos inclusive tumultuar o pleito eleitoral. Sabemos lá que tipo de consórcio há entre um grupo de investigação e um dado candidato”, levantou.

Na última semana, o Ministério Público de São Paulo ajuizou ação de improbidade administrativa contra Alckmin, alegando haver indícios de que o ex-governador de São Paulo aceitou recursos da empreiteira Odebrecht, por meio de caixa dois, para financiar sua campanha à reeleição, em 2014. Um dia antes, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, foi denunciado pelo MP-SP pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha. Contra Haddad, o MP ainda moveu uma ação de improbidade administrativa. Todos negam qualquer irregularidade.

Nesta terça-feira, 11, os casos de Richa, Alckmin e Haddad foram citados em um memorando do conselheiro do CNMP Luiz Fernando Bandeira de Mello destinado à Corregedoria Nacional do MP. No documento, o conselheiro propõe que seja investigada a cronologia dos procedimentos preparatórios das ações e se houve coincidência proposital com o calendário das eleições.

Hoje, Gilmar destacou a necessidade de atuação do CNMP. “É notário um abuso de poder de litigar. É preciso realmente colocar freios. A Procuradoria-Geral da República tem que atuar nisso e também o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Acho que em boa hora o CNMP tomou essa deliberação”, observou o ministro.

Delação. Ao tecer os comentários sobre a situação dos candidatos, Gilmar voltou a criticar a atuação do Ministério Público em relação aos acordos de delação. “Ainda estamos sob esse signo dos escândalos, que vinha da gestão passada da PGR, é preciso encerrar esse ciclo, não podemos andar com passos de bêbados”, disse Gilmar, citando a série de inquéritos baseados na delação da Odebrecht arquivados pelos ministros nos últimos meses, por falta de provas e excesso de prazos das investigações. Já são nove engavetados sem que haja pedido da Procuradoria-Geral da República.

“(Os delatores) acusaram os verdadeiros responsáveis? Essa é a pergunta que se faz. Escalaram 70 e poucos delatores de ‘ouvir dizer’”, disse o ministro, dando como exemplo o arquivamento da investigação contra a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), vice na chapa do candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT). O inquérito foi arquivado na última terça-feira pela Segunda Turma.

“Usaram da delação para de fato colaborar ou só fizeram biombo de fumaça? Estamos vendo em casos concretos muita coisa sendo arquivada. Não acho que se deve revogar delação, mas tem que ser feita por pessoas responsáveis”, afirmou o ministro, acrescentando ainda que o desafio atual é a reavaliação dos benefícios concedidos aos delatores.

Corregedoria investigará promotores de casos de Haddad, Richa e Alckmin

Órgão apurará se ações contra candidatos foram aceleradas para terem impacto eleitoral

Mônica Bergamo | Folha de S. Paulo

O corregedor-geral do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), Orlando Rochadel, determinou a abertura de uma reclamação disciplinar contra cada um dos promotores que atuaram em casos contra políticos em campanha eleitoral.

Ele deve enviar ofício aos promotores que apresentaram recentemente ações contra os presidenciáveis Fernando Haddad, do PT, e Geraldo Alckmin, do PSDB, e também contra aqueles que pediram a prisão do ex-governador do Paraná, Beto Richa, detido na terça (11).

Num memorando enviado na noite de terça (11) à corregedoria, o conselheiro do CNMP Luiz Fernando Bandeira de Mello pede que sejam apuradas eventuais irregularidades nas iniciativas dos integrantes do Ministério Público que apresentaram as denúncias contra os políticos em pleno período eleitoral.

Ele pede que sejam analisados “o tempo decorrido entre a suposta prática dos crimes delituosos e a propositura das ações”, para saber se elas foram aceleradas para causar “eventual impacto nas eleições”.

No pedido de averiguação, o conselheiro diz ser “evidente” que um promotor deve ajuizar uma ação se ela, “por acaso”, estiver concluída “à época da eleição”. “Mas também não pode reativar um inquérito que dormiu por meses ou praticar atos em atropelo apenas com o objetivo de ganhar os holofotes durante o período eleitoral”, afirma.

O corregedor admitiu a manifestação de Bandeira de Mello e abriu a investigação preliminar.
Depois de receber as informações, ele analisará se existem elementos para a abertura de processos. A palavra final é do plenário do CNMP.

Voto em Bolsonaro elegerá o PT, diz Alckmin em Minas

Candidato aparece em segundo lugar na última pesquisa Datafolha, empatado com Ciro Gomes, Marina Silva e Fernando Haddad

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

BETIM (MG) - Depois de tentar desconstruir Jair Bolsonaro (PSL), o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) remodelou a abordagem e agora apela ao antipetismo para angariar simpatia de eleitores conservadores.

Nesta quarta-feira (12), na região metropolitana de Belo Horizonte, o tucano testou a mensagem do voto útil, argumentando que Bolsonaro perderia para o petismo no final da disputa.

"É só olhar o segundo turno", disse, na porta de uma fábrica em Betim (MG), referindo-se às simulações que mostram dificuldades para o capitão reformado vencer qualquer oponente.

"Se ele for para o segundo turno, é um perigo, um passaporte para voltar o PT. Você vota em um e elege o outro, é um fato", afirmou.

A campanha tucana calcula que Fernando Haddad, agora oficializado candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), crescerá nas pesquisas, com potencial de passar ao segundo turno.

Ao mesmo tempo, afirmam alckmistas, a rejeição de Bolsonaro, de 43%, segundo o Datafolha, a maior entre os candidatos, limita sua capacidade de ganhar a eleição.

Na segunda (10), o Datafolha mostrou que o deputado do PSL manteve a liderança, com 24% das intenções de voto.

Facilidade de cobrar propina levou Lula a favorecer empreiteiras no pré-sal, diz Palocci

Em depoimento inédito, ex-ministro descreveu à PF como petista teria atuado no caso

Aguirre Talento / Mateus Coutinho | O Globo


BRASÍLIA — Em um depoimento ainda inédito prestado à Polícia Federal (PF) e mantido sob sigilo, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci apresenta novos detalhes sobre um suposto acerto de propina envolvendo a construção de sondas de exploração de petróleo em águas profundas que seriam compradas pela Petrobras para explorar o pré-sal. Palocci afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu priorizar empreiteiras brasileiras depois de supostamente ter sido alertado por João Vaccari, então tesoureiro do PT, de que seria mais fácil cobrar propina delas do que das empresas estrangeiras.

Procurada para comentar o teor do depoimento, a assessoria do ex-presidente afirmou que o ex-ministro mente sobre Lula e não apresenta provas:

“A contratação de empresas nacionais foi uma política de Estado que gerou milhares de empregos para trabalhadores no Brasil. Palocci fala mentiras contra Lula, sem apresentar qualquer prova, para tentar fechar um acordo para sair da prisão”.

A defesa de Vaccari também afirmou que as acusações são inverídicas:

“Trata-se de palavra de delator, sem qualquer prova sobre esse fato, pois não é verdadeiro”.

Essa escolha das empresas nacionais pela Petrobras ficou conhecida como "política de conteúdo local" e, na época, era defendida por Lula sob o argumento de que desenvolveria a indústria nacional, gerando empregos e movimentando a economia. Palocci, porém, afirmou que o tema do desenvolvimento estava aliado ao das propinas.

“O plano político coincidia com a propina: nacionalizava a indústria do petróleo e ganhava boa propina”, diz trecho do depoimento à PF.

O depoimento, prestado em 16 de julho na Superintendência da PF em Curitiba, foi tomado pela delegada Rúbia Pinheiro, que toca as investigações da Operação Greenfield, focada em irregularidades em investimentos dos fundos de pensão de estatais. Dez dias depois, um procurador da Operação Greenfield também foi enviado a Curitiba para ouvir Palocci, no depoimento em que ele acusou Lula diretamente de receber propina e atuar nos pedidos de vantagens indevidas.

Tasso Jereissati: ‘Nosso grande erro foi ter entrado no governo Temer’

Ex-presidente do PSDB diz que ‘conjunto de erros memoráveis’ prejudica partido nas eleições

Entrevista com Tasso Jereissati, senador e ex-presidente do PSDB

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

FORTALEZA - O senador Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do partido, disse ao Estado que os tucanos cometeram um “conjunto de erros memoráveis” após a eleição de Dilma Rousseff, com reflexos para o próprio PSDB nas eleições deste ano.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

• Como o sr. avalia a trajetória recente do PSDB?

O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer. Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio (Neves). Fomos engolidos pela tentação do poder.

• Qual o impacto da gravação da conversa entre Aécio e Joesley Batista (dono da JBS, em que acertam repasse de R$ 2 milhões para pagar advogados do tucano)?

Altíssimo. Esse episódio simboliza todo esse desgaste que tivemos. Desde o dia seguinte à eleição da Dilma, quando fomos questionar o resultado, o símbolo mais eloquente para a população foi o episódio do Aécio. Ele deveria ter se afastado logo da presidência do PSDB.

• O ex-governador Geraldo Alckmin ainda não decolou nas pesquisas, apesar de ter mais tempo de TV. Qual sua avaliação?

Até a última pesquisa ninguém se deslocou muito. O próprio (Jair) Bolsonaro subiu um pouco depois do atentado em Juiz de Fora, mas não muito. Com a saída do Lula, parte dos votos dele migrou para outros candidatos, mas principalmente para o (Fernando) Haddad, que foi quem mais cresceu olhando em média as duas pesquisas mais recentes. A partir de agora, com a saída definitiva do Lula do cenário eleitoral, vamos ter, realmente, uma mudança mais consistente no comportamento do eleitorado.

• Acredita que o PSDB já deve apelar ao voto útil para levar Geraldo Alckmin ao segundo turno?

Acredito que sim. E agora. Tem muito antipetista votando no Bolsonaro porque não quer a volta do PT.

• Como a prisão do ex-governador Beto Richa e a operação da Polícia Federal de busca contra o governador Reinaldo Azambuja, ambos tucanos, também prejudicam a campanha do Alckmin?

Prejudica, sem dúvida. Mas boa parte disso está no preço. O desgaste do PSDB começa a partir dos episódios da gravação do Aécio. Começou ali e continuou. Como nós não tomamos as medidas necessárias naquele cenário, era previsível que o desgaste do PSDB iria perdurar e teria consequências graves nas eleições. O desgaste do PSDB vem dali. As pessoas estão vendo mal o PSDB.

• Qual o tratamento que o PSDB deve dar a Beto Richa?

Não confrontamos nem questionamos decisões judiciais. Nem passamos a mão na cabeça de quem a Justiça considera culpado. Tendo culpa, tem que pagar.

• Com tudo isso, quais as chances de Alckmin aqui no Nordeste?

Aqui no Ceará é mais difícil que no Nordeste de uma maneira geral. Além do Lula, que inegavelmente é muito popular, temos o Ciro (Gomes, do PDT), que é cearense. Mas ele (Alckmin) tem possibilidade de crescer. Não será um crescimento que supere o Lula ou Ciro, mas deve ter um porcentual maior.

• O sr. lançou o Ciro na política. Como avalia o papel do pedetista nesta campanha?

O Ciro de hoje é muito diferente do Ciro de ontem. Ele traçou o caminho dele, que eu discordo. Aqui no Ceará ele está sendo profundamente inconsistente e incoerente com sua trajetória política. A mais feroz das críticas dele é dirigida do MDB. Aqui, no Ceará, ele e o presidente do Senado (Eunício Oliveira) estão unidos.

• Acredita em uma transferência forte de votos do Lula para o Haddad no Ceará?

Essa é a grande questão. Aqui você tem no mesmo palanque do governador do PT (Camilo Santana) 99% dos prefeitos, a máquina e o apoio do governo federal. Eunício é o homem do Temer aqui, e ele está ajudando o Camilo. Qualquer nomeação federal aqui passa por ele. Tem político ligado a nós que, de repente, foi para o lado de lá. O candidato majoritário é PT. Como ele vai fazer? Essa é a pergunta que fica no ar. Com Lula era fácil. Mas, e agora que o Haddad é o candidato oficial? O PT não tem estrutura forte aqui. Quem tem é o grupo dos irmãos Ferreira Gomes. Camilo vai fazer campanha para o Haddad? Fica essa hipocrisia e os petistas fazem vista grossa.

Adversários pregam voto útil em busca do 2º turno

Corrida. Com a percepção de que Jair Bolsonaro (PSL) caminha para garantir lugar no 2º turno, candidatos que estão embolados no segundo lugar adotam o discurso do medo

Vera Rosa, Marianna Holanda, Gilberto Amendola, Pedro Venceslau e Leonardo Augusto | O Estado de S. Paulo

Candidatos à Presidência empatados na vice-liderança nas pesquisas anteciparam o argumento do voto útil e recorrem à tática do medo para tentar assegurar vaga no segundo turno. Em busca do voto de centroesquerda, Ciro Gomes (PDT) procura passar a ideia de que tem condições de vencer Bolsonaro em um embate direto com a direita. Geraldo Alckmin (PSDB) investe na mensagem de que é o único capaz de impedir a volta do petismo ao poder. Marina Silva (Rede) acena para o eleitorado lulista.

A 25 dias da eleição, candidatos empatados em segundo lugar na disputa pela Presidência decidiram antecipar a estratégia do voto útil e passaram a recorrer à tática do medo para assegurar uma vaga na próxima etapa da campanha. Com a percepção de que Jair Bolsonaro (PSL) caminha para garantir lugar no segundo turno, Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) modularam nos últimos dias o discurso de desconstrução dos adversários, muitas vezes associando a imagem deles a outros rivais.

Alckmin, por exemplo, investe na mensagem de que é o único concorrente capaz de derrotar o PT numa etapa decisiva da campanha. Atrás do voto da centro-esquerda, Ciro Gomes tenta passar a ideia de que poderá vencer Bolsonaro em um embate direto com o candidato do PSL e tenta associar o candidato do PT, Fernando Haddad – que substituiu na chapa Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado na Operação Lava Jato – ao governo da presidente cassada Dilma Rousseff.

Crítico do que chama de “polarização odienta” representada por Bolsonaro e um postulante petista, Ciro tem dito que “Haddad não é Lula, Haddad é Dilma”. O pedetista compara o ex-prefeito a um poste de Lula – algo que remete à própria Dilma. Ontem, durante sabatina do jornal O Globo, Ciro disse que, se Haddad for eleito, será “presidente por procuração de Lula”, comparando o ex-prefeito de São Paulo a Dilma em termos de “inexperiência” para ocupar o Palácio do Planalto.

“O Brasil não precisa de presidente por procuração. Sou amigo de 30 anos do Lula, estive na luta contra o impeachment, dois terços dos votos do Ceará foram contra, fui ministro dele. Mas o Brasil não aguenta outra Dilma”, declarou o pedetista.

Mesma tática tem sido adotada pela campanha da Rede para conter a tendência de queda de Marina nas pesquisas de intenção de voto – no mais recente levantamento do Ibope, ela caiu 3 pontos porcentuais. A candidata da Rede tem se apresentado como alternativa à “polarização extremista” na busca por votos úteis nos campos da centro-esquerda e da centro-direita.

A ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, que foi filiada ao PT por 30 anos, insiste no discurso de mulher, mãe, negra, de origem humilde, num aceno claro ao eleitorado lulista, mas passou a centrar críticas ao novo candidato petista. “O Haddad terá que responder por que, nos anos de governo Dilma-Temer, o Brasil acabou com as coisas boas que o governo do PT tinha feito”, afirmou ontem, durante agenda em Belo Horizonte.

Também cumprindo agenda na capital mineira, Alckmin foi questionado sobre como atrair votos de eleitores de João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos). A campanha tucana precisa do voto útil dos três adversários que se situam no campo ideológico da centro-direita e arregimentar até os menos fiéis seguidores de Bolsonaro.

‘Volta do PT’. Alckmin procura se consolidar como candidato antipetista e reforça a ideia de que o voto em Bolsonaro é “um passaporte para a volta do PT” – dizendo que votar no candidato do PSL é dar chances a Haddad no segundo turno.

Embolados em 2º lugar, candidatos reveem estratégias

Ciro, Marina e Alckmin tentam se destacar do pelotão intermediário e conter alta de Haddad

Quatro candidatos empatados tecnicamente em segundo lugar, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, estão refazendo suas estratégias de campanha a partir da consolidação de Jair Bolsonaro (PSL) na liderança e da retirada formal do ex-presidente Lula. Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) redobram esforços para se destacar do pelotão intermediário e, ao mesmo tempo, conter o avanço de Fernando Haddad (PT). Conquistar o Nordeste, celeiro de votos do lulismo, é um dos grandes objetivos.

A tática do 2º pelotão

Empatados, 4 candidatos refazem estratégias

Bruno Góes, Cristiane Jungblut, Dimitrius Dantas, Maria Lima, Sérgio Roxo e Marco Grillo | O Globo

BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO - Com a saída formal do expresidente Lula (PT) da campanha e o distanciamento de Jair Bolsonaro (PSL), no primeiro lugar das pesquisas, um bloco de quatro candidatos está empatado na segunda posição. Na tentativa de se desgrudar desse pelotão, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) reavaliaram as estratégias com o objetivo de conter a potencial ascensão de Fernando Haddad (PT), herdeiro natural dos votos de Lula, a quem sucedeu na eleição.

A pesquisa Ibope divulgada esta semana mostra que 38% dos eleitores admitem votar em Haddad com a indicação do ex-presidente — 23% dizem que “com certeza” farão a opção, enquanto 15% afirmam que “poderiam” apoiar o candidato petista. No Nordeste, a soma chega a 52%.

Para impedir a transferência de votos, adversários de Haddad, que aparece com 8% no cenário geral do Ibope, criaram novas estratégias: de críticas a polarizações entre adversários a escolhas a dedo sobre qual concorrente deve ser atacado.

LUPI: “SEREMOS RAPADURA”
Além de direcionar seus esforços no Nordeste para tentar tirar de Haddad o maior número possível de votos lulistas, o que já estava fazendo, Ciro aposta na rivalidade entre PT e PSDB. Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, para conseguir uma vaga no segundo turno, Ciro atacará a polarização entre as siglas que comandaram o Brasil de 1995 até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. O Sudeste, onde a rejeição ao PT é forte, também receberá a atenção especial de Ciro.

— Não seremos coxinha nem mortadela. Seremos rapadura. Duro, porém doce — afirma Lupi.

Além disso, como o pedetista já tem um desempenho favorável junto ao eleitorado nordestino (lidera com 18%, segundo o Ibope), “não será fácil” para Haddad crescer, diz Lupi. A campanha vê uma oportunidade no enfraquecimento da candidatura de Marina, registrado nas pesquisas.

Na campanha da candidata da Rede, o mote será concentrar as atenções no eleitorado feminino, nordestino e de baixa renda. A avaliação é que esse universo concentra a maior chance de a candidata reverter a queda registrada nas últimas sondagens. Além disso, depois de uma série de eventos fechados, como debates e sabatinas, o comando da campanha avisou que Marina precisa estar mais presente nas ruas, em eventos que a coloquem lado a lado com o eleitor, sobretudo no Norte e Nordeste.

— De 27 dias de campanha, Marina passou só cinco em cidades do Norte e do Nordeste —lembrou um interlocutor da Rede.

Lançamento do livro: Reformismo de Esquerda e Democracia Política

A Fundação Astrojildo Pereira e a Verbena Editora convidam para o lançamento do livro Reformismo de Esquerda e Democracia Política de Luiz Sérgio Henriques, que será no dia 24 de setembro, às 18h30, no Restaurante La Fiorentina – Copacabana, Rio de Janeiro.

Como bem ressalta o professor Rubem Barboza Filho da UFJF, Luiz Sérgio Henriques não é só um pensador de esquerda. É também um dos mais lúcidos e sofisticados intelectuais brasileiros.

Nos artigos reunidos no livro, o pensador recolhe a melhor herança da esquerda ocidental para um arguto olhar sobre a vida brasileira e sobre um mundo em contínua mutação. Herança que, para o autor, resulta de um duro aprendizado, teórico e prático de que não é possível haver esquerda efetiva sem sua vinculação radical à democracia aos direitos e, por consequência, a uma razão política atentas às demandas por inclusão social e pela expansão e aprofundamento da própria democracia.

O livro Reformismo de Esquerda e Democracia Política é um verdadeiro convite para refletirmos sobre as chances e as condições de possibilidade de um reformismo de esquerda em um tempo que a política se desfaz e se refaz por obra da complexidade e da velocidade. Você não pode perder. Confira!

Gilberto Gil & Roberta Sá: Afogamento (Gilberto Gil / Jorge Bastos Moreno

Cassiano Ricardo: O acusado

Quando eu nasci, já as lágrimas que eu havia
De chorar, me vinham de outros olhos.

Já o sangue que caminha em minhas veias pro futuro
Era um rio.

Quando eu nasci já as estrelas estavam em seus lugares
Definitivamente
Sem que eu lhes pudesse, ao menos, pedir que influíssem
Desta ou daquela forma, em meu destino.

Eu era o irmão de tudo: ainda agora sinto a nostalgia
Do azul severo, dramático e unânime.
Sal - parentesco da água do oceano com a dos meus olhos,
Na explicação da minha origem.

Quando eu nasci, já havia o signo do zodíaco.

Só, o meu rosto, este meu frágil rosto é que não
Quando eu nasci.

Este rosto que é meti, mas não por causa dos retratos
Ou dos espelhos.

Este rosto que é meu, porque é nele
Que o destino me dói como uma bofetada.
Porque nele estou nu, originalmente.
Porque tudo o que faço se parece comigo.
Porque é com ele que entro no espetáculo.
Porque os pássaros fogem de mim, se o descubro
Ou vêm pousar em mim quando eu o escondo.