Ao governo cabe buscar mecenato na sociedade civil, diz ministro da Cultura
Em entrevista nas páginas amarelas da edição desta semana da revista Veja que segue abaixo, o ministro da Cultura, Roberto Freire, acusa a esquerda de agir como os ludistas que destruíam máquinas para barrar a Revolução Industrial e diz que o Estado não pode determinar a política cultural sob risco de transformá-la em propaganda (
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“Contra os ludistas digitais”
- Revista Veja
O ministro da Cultura, Roberto Freire, chegou ao governo Michel Temer às pressas, em meio a um incêndio com a demissão do antecessor, Marcelo Calero, que bateu a porta do gabinete acusando um ex-colega do primeiro escalão, Geddel Vieira Lima, de pressioná-lo em prol de interesses particulares. Era a segunda crise no Minc sob Temer. Freire não é conhecido por ter um dos temperamentos mais afáveis da Esplanada dos Ministérios e, aos 75 anos, ocupa um cargo no Executivo pela primeira vez. Mesmo assim, o advogado recifense busca apaziguar a relação com um setor que anda desconfiado com o presidente e foi precursor de mobilizações contrárias a ele com ocupações de prédios – a primeira crise do Minc. Sua prioridade é recuperar a Lei Rouanet, uma marca nacional que diz ter sido “enxovalhada”. Freire militou no PCB, combateu a ditadura militar, exilou-se no Chile, abrigou-se no MDB e faz carreira parlamentar. Desde 1975, foi deputado estadual, deputado federal e senador. Presidiu o PPS até assumir como titular da Cultura. Defensor do pensamento de esquerda, o ministro apoiou o lulopetismo e migrou à oposição, frequentemente aliando-se ao PSDB. Em entrevista a VEJA, Freire acusa a esquerda de agir como os ludistas que destruíam máquinas para barrar a Revolução Industrial, diz que o Estado não pode determinar a política cultural sob risco de transformá-la em propaganda e nega ter se beneficiado de caixa dois, apesar de ter sido citado na lista da Odebrecht.
Como o senhor gostaria de ser lembrado como ministro da Cultura?
Como o governo é de transição, venho com espírito de reforma. Vamos retirar a Lei Rouanet desse enxovalhamento geral que foi legado ao Brasil, para que não se encerre na Cultura uma lei importante do mecenato, sobretudo, para aquilo que não tem um valor de mercado muito evidente. O resto será consequência, maior preocupação com coisas permanentes como museus e bibliotecas, incentivo à formação de criadores, aos festivais e às feiras do livro, não esquecendo as vanguardas.