segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Marcus André Melo* - Ditador ou bobo da corte?

Folha de S. Paulo

Como poderia um bufão politicamente impotente ser simultaneamente um autocrata?

"Bolsonaro não manda em nada", "é um bobo da corte", declarou o ex-presidente Lula, que o tem denunciado também como ameaça à democracia. O alerta sobre o ditador em potencial surgiu já na corrida presidencial de 2018. A dupla assertiva é um oxímoro: como poderia um bufão politicamente impotente ser simultaneamente um autocrata?

Um contra-argumento que vem à mente é que alguns monarcas absolutos eram bufões; mas quem não cumprisse ordens perderia a cabeça! Pela mesma lógica um Napoleão de hospício seria um ditador: a realidade institucional e política efetiva não importaria. Regimes não se reduzem à subjetividade dos atores; são moldados por fatores institucionais e políticos.

Para além de uma hipérbole retórica, a metamorfose do autocrata-em-potência em bobo-da corte revela mais do que o malogro de previsões de analistas que não se realizaram.

A imagem de um chefe do Executivo que não manda em nada sugere que é instrumento de outros atores. É a imagem reversa de um imaginário processo de autocratização. Ao contrário do típico ditador latino americano ele não imporia ao Congresso uma "ley habilitante" delegando-lhes poderes extraordinários; mas uma rainha da Inglaterra, instrumento impotente de maioria congressual.

Celso Rocha de Barros - O Brasil sabe os crimes de Bolsonaro?

Folha de S. Paulo

Falta de respostas institucionais aos crimes do presidente reduziu impacto de mídia das denúncias

Na última segunda-feira, Jair Bolsonaro deu sua entrevista de candidato ao Jornal Nacional. A uma certa altura, a jornalista Renata Vasconcellos perguntou se Bolsonaro se arrependia de ter imitado pacientes de Covid-19 em processo de asfixia.

O surpreendente foi que, assim que Vasconcellos falou do escândalo, as buscas por "Bolsonaro imita falta de ar" no Google dispararam. O comando da campanha de Bolsonaro ficou apavorado com a repercussão do escândalo.

Ficou a dúvida: até a entrevista, as pessoas não sabiam que Bolsonaro havia feito a imitação? Ela foi amplamente noticiada quando aconteceu.

No ano passado, dei uma palestra sobre a gestão da pandemia no Brasil. Citei duas análises estatísticas, feitas com dados revelados pela CPI da Covid: a estimativa de 95 mil pessoas mortas porque Bolsonaro não aceitou as ofertas de vacinas da Pfizer e do Butantan, feita pelo epidemiologista Pedro Hallal para a Folha, e a análise da equipe de dados do jornal O Estado de S. Paulo que mostrou que cerca de 70 mil idosos morreram entre janeiro e maio de 2021 só pela recusa da oferta do Butantan.

Fernando Gabeira - Coração de Pedro solitário narrador

O Globo

O que diria José Bonifácio, considerado o Patriarca da Independência, da política de destruição da Amazônia levada a cabo por Bolsonaro?

Nestes 200 anos de independência do Brasil, a grande ideia do governo foi trazer o coração de Dom Pedro I para uma exposição no país.

Não sei bem o que isso revela sobre nós. Poderia ser o cérebro, as amígdalas, o pomo de adão, não importa, certamente um debate mais amplo cumpriria melhor o papel de entender o que se passou por aqui e em Portugal no momento da independência.

Um coração transportado numa urna de mogno, madeira que, por sinal, foi quase extinta pela civilização luso-brasileira, dificilmente aumentará a compreensão dos brasileiros sobre sua história.

Na semana passada foi lançado um livro, “Adeus, Senhor Portugal”*, em que os autores defendem a tese de que a conjuntura econômica teve um grande papel no surgimento do Brasil como país soberano. Eles não negam a importância das ideias iluministas que foram o pano de fundo da crise do absolutismo. Mas, ainda assim, afirmam nas primeiras linhas: “O Brasil nasceu de uma crise fiscal. Seu pai foi o déficit. Sua mãe, a inflação”.

Miguel de Almeida - Um coração para chamar de seu

O Globo

Quase duzentos anos depois da morte de Dom Pedro I, o Brasil ainda se debate com o mesmo dilema: a luta entre o arcaico e o moderno

Diante do coração de Dom Pedro I, Bolsonaro perpetrou sua cantilena:

— Deus, pátria e família.

Mesmo o coração de um imperador (morto em 1834) tem o peso e tamanho semelhantes ao de um capitão (em 2022) — cerca de 340 gramas e 12 centímetros, equivalente a um punho fechado.

Embora com medidas semelhantes, são corações diferentes. E não é porque um esteja morto e o outro ainda dispare ao ver uma farda bem passada. Bolsonaro pode enfim ter encontrado um coração para chamar de seu, mas, leitor de apostilados sobre a História Brasileira, talvez reconheça nuances — ou não.

Deus, pátria e família soavam diferente aos ouvidos e outros órgãos de Dom Pedro I.

O coração homenageado por Bolsonaro, como sabem Damares Alves e o pastor Guilherme de Pádua, pertence a um dos mais celebrados sátiros do século XIX. Educado por preceptores religiosos, foi um boêmio contumaz e um amante disponível — de seu caso com a marquesa de Santos, nasceram cinco filhos; com a irmã dela, baronesa de Sorocaba, outro rebento. Ainda teve filhos com duas francesas, uma uruguaia e uma monja portuguesa, Ana Augusta. Além das crianças nascidas durante seus dois casamentos oficiais. Ufa.

Ana Cristina Rosa - Uma voz das ruas

Folha de S. Paulo

Na largada da campanha eleitoral, candidatos ignoram a questão do racismo

Na largada da campanha eleitoral à Presidência da República —incluídas as entrevistas no principal telejornal do país com os quatro candidatos mais bem colocados na pesquisa Datafolha de intenção de votos—, mais uma vez ninguém quis colocar o dedo na ferida mais antiga do Brasil.

Apesar de casos escandalosos e vexatórios de atentados a direitos humanos (em especial ao direito à vida) em decorrência da aparência física das pessoas se tornarem públicos diariamente, a pauta racial não mereceu destaque. Foi tratada com desimportância. É como se sente uma senhora preta e esquálida que pedia esmola num dos semáforos do Distrito Federal dia desses: "Tô aqui porque não sou ninguém, sou uma pessoa sem importância".

A um desavisado, pode parecer incrível, porém o fenótipo ainda é elemento determinante tanto da qualidade quanto da preservação da vida no Brasil de 2022.

Lygia Maria - O STF olha para o abismo

Folha de S. Paulo

Proteger o Estado Democrático de Direito passando por cima do que faz valer a pena defendê-lo é um perigo

Alexandre de Moraes autorizou mandados de busca e apreensão contra empresários que defenderam um golpe de Estado em um grupo de mensagens privadas. Além disso, decretou bloqueio das redes sociais dos investigados. Segundo apuração da Folha até agora, o ministro do STF atendeu a um pedido da PF que tinha como base apenas a reportagem que vazou as mensagens.

Toda lei criminalizadora pretende proteger um bem jurídico. A lei supostamente infringida é o artigo 359-L do Código Penal: "Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito". Logo, o bem jurídico é a democracia.

Ora, mas como dizer "Prefiro golpe do que a volta do PT" ataca esse bem jurídico? Trata-se de mera conjectura, opinião, que sequer foi publicizada. A lei é clara ao especificar o ato criminoso: é preciso "tentar", e "tentar com violência ou grave ameaça". Nada nas falas divulgadas se enquadra nessa especificação.

Bruno Carazza* - Como ficará o Senado em 2023?

Valor Econômico

Caso eleito, Lula precisará do MDB e do PSD para governar

Assim como no Brasil, os Estados Unidos vão renovar todo o plenário da Câmara dos Deputados (435 cadeiras) e pouco mais de um terço do Senado (35 dos 100 membros) no próximo dia 8 de novembro. Caso os Democratas percam a maioria nas duas Casas legislativas, o campo de manobra de Joe Biden ficará bastante reduzido, aumentando as chances de retorno de Donald Trump à Casa Branca ou a vitória de um aliado próximo.

As projeções dos analistas políticos convergem na previsão de que o partido Democrata de Joe Biden perderá o controle da Câmara. Quanto ao Senado, que hoje está dividido em 50 a 50, não há nenhuma certeza.

Dos 35 postos de senador em disputa, 21 pertencem atualmente a republicanos e 14 a democratas. Para tentar antever a futura composição do Senado, canais de análise política como Politico e FiveThirtyEight levam em consideração a força dos incumbentes e o perfil dos seus desafiantes, assim como a coloração do eleitorado de cada Estado, se mais azul (democratas) ou vermelho (republicanos).

Denis Lerrer Rosenfield* - A política do demônio

O Estado de S. Paulo

Não estaríamos diante de um processo eleitoral normal, mas de uma cruzada religiosa, uma encruzilhada que a todos deveria aterrorizar.

Chegasse um marciano ao Brasil, ficaria certamente confuso, se não espantado, com narrativas político-religiosas do casal presidencial, dirigidas ao casal opositor mais forte e por ele contestadas. Primeiro, ficaria surpreso pelo uso indiscriminado da palavra demônio, como se estivéssemos tratando de pessoas reais, numa espécie de cruzada religiosa. Seria a luta dos bons contra os maus, de anjos contra demônios, uns representando a verdadeira religião, os outros, a falsa. Estranharia, segundo, que pouco se fala de soluções, ideias e propostas para o País, como a fome, a alta inflação dos alimentos, a irresponsabilidade fiscal do atual governo, que só procura dar benesses a seus apaniguados, frequentemente sob a forma das mais diferentes emendas parlamentares. Falta dinheiro de um lado, sobra de outro.

Provavelmente, seria ele tentado a dizer que se trata de um país de malucos, o que talvez fosse um juízo sensato diante deste manicômio em que se tornou a política brasileira. Se se tratasse de uma encenação de bruxos e demônios, certamente acharia mais interessante um filme de Harry Potter, com bons atores e boas atuações, algo muito diferente do que ocorre aqui, com atores deploráveis. Acharia que o mundo da ficção seria mais estimulante que a política ficcional atual, com a diferença de que essa é bem real. Nem conseguem fingir direito atos de compunção, que parecem francamente grotescos. É como se a cena brasileira tivesse se tornado uma história do capeta. Contudo, até essa comparação seria inapropriada, pois o capeta é muito mais esperto.

Felipe Moura Brasil - O eleitorado no pântano

O Estado de S. Paulo

Presidente e ex-presidente tentam se limpar, um na sujeira do outro

A resposta de Lula no Jornal Nacional sobre a compra de apoio parlamentar em seu governo, com R$ 101,6 milhões em dinheiro sujo, é ilustrativa da corrida eleitoral em que ex-presidente e presidente tentam se limpar um na sujeira do outro. “Você acha que o mensalão é mais grave que o orçamento secreto?”

Grave é que a corrupção tradicional ou institucionalizada tenha se tornado no Brasil uma questão relativa e comparativa, não absoluta e eliminatória. Do “rouba, mas faz” para a disputa de “quem rouba menos”, agravou-se de tal modo a transigência moral com a rapinagem dos cofres públicos que o resultado só pode ser o conformismo perverso do raciocínio “roubar, todos roubam, mas quem me representa?”.

Jair Bolsonaro deu discurso a Lula não apenas com ataques ao processo eleitoral e negacionismo da pandemia e da fome, mas também com o histórico familiar de funcionários fantasmas e a busca de evitar o impeachment com essa versão moderna de um mensalão pretensamente limpo – um esquema gestado no Palácio do Planalto, como revelou o Estadão, em que os recursos (R$ 72,9 bilhões, entre 2020 e 2023) saem direto do cofre da União para irrigar redutos indicados por parlamentares não identificados.

Miguel Caballero - Tensos, Lula e Bolsonaro não venceram

O Globo

Duelo histórico entre líderes populares teve petista inseguro e presidente tropeçando em velhos erros próprios ao desrespeitar mulheres. Ciro e Simone Tebet apareceram ao confrontar favoritos da eleição

Dois tipos de candidatos costumam ser os mais atacados em debates eleitorais: o que está no governo e o que está na liderança das pesquisas de intenção de votos. Frequentemente eles são a mesma pessoa, mas ontem, na Band, o presidente Jair Bolsonaro foi o principal alvo dos concorrentes. Foi apertado em diversos assuntos por quase todos os rivais, mas criou ele mesmo, sozinho, seu pior momento no programa ao ofender a jornalista Vera Magalhães.

Lula, com ampla vantagem nas pesquisas, vinha de uma entrevista ao Jornal Nacional na qual a avaliação positiva de seu desempenho foi quase consensual. Logo de cara, porém, passou insegurança no embate com Bolsonaro ao fugir da resposta quando questionado sobre a corrupção na Petrobras.

Malu Gaspar - Aliados de Lula dizem que Simone ajudou a desgastar Bolsonaro no debate da Band

O Globo

Para petistas, Lula não se saiu tão bem como na entrevista ao Jornal Nacional

A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia que o bom desempenho da senadora Simone Tebet (MDB-MS) no debate da Band deste domingo ajudou a desgastar a imagem do presidente Jair Bolsonaro, especialmente perante o eleitorado feminino.

“Quem ganhou foi Simone, quem perdeu foi Bolsonaro. Penso que Lula vai alterar pouco nos indecisos. Bolsonaro vai perder na repercussão”, avalia um integrante do núcleo duro da campanha.

Petistas admitem reservadamente que o ex-presidente não se saiu tão bem como na entrevista ao "Jornal Nacional".

E o pior: foi mal justamente no início do debate, quando foi confrontado por Bolsonaro sobre corrupção, um tema que o adversário pretende explorar à exaustão durante a campanha.

A avaliação na campanha petista é que o ex-presidente se recuperou no debate ao exaltar os beneficiários de programas sociais em resposta à senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) – mas o melhor desempenho, na visão de interlocutores de Lula, ficou mesmo com a senadora do MDB.

Míriam Leitão - A misoginia de Bolsonaro o faz perder o debate, no qual Lula também não foi bem

O Globo

Se a ideia era atrair mais votos de mulheres, Bolsonaro fez uma exibição de como detesta mulheres em geral

O que marcou o primeiro debate com os dois principais candidatos foi o ataque explícito de misoginia do presidente Bolsonaro. Isso o fez perder o debate, e se a ideia era atrair mais votos de mulheres, ele fez uma exibição de como detesta mulheres em geral.

ataque à jornalista Vera Magalhães, colunista do Globo, foi totalmente sem sentido porque ela havia feito uma pergunta ao Ciro sobre a queda da cobertura vacinal no Brasil. E o fez com dados e precisão técnica. A Bolsonaro cabia apenas comentar. E ele fez afirmações do tipo que ela acorda pensando nele, entre outros abusos. Isso acabou sendo um tema recorrente ao longo do debate.

No início do primeiro confronto direto entre Lula e Bolsonaro, o presidente levou a melhor porque fez uma pergunta direta, ainda que com números discutíveis como sempre, sobre corrupção no governo do PT. Lula preferiu tentar se esquivar da pergunta e falar bem do próprio governo. Só no final Lula voltou ao tema lembrando o sigilo de 100 anos do governo Bolsonaro enquanto no seu governo houve investigação e, com a ajuda de Simone Tebet, falou da corrupção na compra de vacinas.

Igor Gielow - Debate expõe fragilidades de Lula e de Bolsonaro sem mudar o jogo

Folha de S. Paulo

Petista se enrola ao falar de corrupção; presidente perde a linha com mulheres e economia

O altamente antecipado debate entre presidenciáveis não destruiu nenhuma candidatura na pista para a eleição de outubro, mas demonstrou pontos de fragilidade a serem explorados pelos principais rivais da disputa, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Havia tensão no ar, mas também um indisfarçável cheiro de antiguidade política. Lula parecia fora de forma, dado que seu último encontro do tipo havia sido contra seu atual vice, Geraldo Alckmin, seu adversário então tucano no longíquo 2006.

Fixou-se em falar do passado, o que seria algo natural para quem passou oito anos no poder. Mas assim perde a oportunidade de buscar os pontos que lhe faltam para uma vitória em primeiro turno, a serem pescados apenas no lago dos eleitores centristas.

Pior, o petista enrolou-se acerca do tema da corrupção. Na entrevista concedida ao Jornal Nacional na semana passada, Lula havia ensaiado um mea culpa retórico, mas no debate apenas balbuciou seu caminho para tentar fugir da pergunta.

Eliane Cantanhêde - Com Bolsonaro e Lula fora de foco Simone Tebet e Soraya Thronicke roubaram a cena

O Estado de S. Paulo

O que fica da participação do presidente é o ataque grosseiro, absurdo, à adversária Tebet e à jornalista Vera Magalhães

O presidente Jair Bolsonaro apareceu muito no primeiro debate entre presidenciáveis, mas agressivo, descontrolado, inconsequente. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder das pesquisas, não aconteceu, passou praticamente em branco. Quem chegasse de Marte teria a sensação de que a eleição está polarizada entre duas mulheres, Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil), que atraíram bem os holofotes.

Principal alvo de todos os demais, Bolsonaro referia-se a Lula como “ex-presidiário”, enalteceu a “responsabilidade fiscal”, que nunca foi uma prioridade para ele, e jogou luzes em sua mulher, Michele, isca para mulheres e evangélicos. O que fica da sua participação, porém, é o ataque grosseiro, absurdo, à adversária Tebet e à jornalista Vera Magalhães. Para um candidato que lidera os índices de rejeição e sofre tanta resistência do eleitorado feminino, foi um destempero que vai lhe custar caro.

Incisiva, clara, Tebet usou praticamente todas as suas participações, desde a primeira até a última, para criticar e atacar Bolsonaro e seu governo. E foram ela e Thronicke – ambas senadoras de Mato Grosso do Sul e ativas na CPI da Covid — as que assumiram uma defesa contundente da jornalista e ratificaram duas marcas do presidente, a misoginia e os ataques às mulheres.

Maria Cristina Fernandes - No apagão dos líderes, Tebet brilha

Valor Econômico

Lula demonstrou nervosismo e Bolsonaro, descontrole

Com um Lula nervoso de um lado e um Bolsonaro descontrolado do outro, sobrou para Simone brilhar no debate da TV Bandeirantes e a Ciro defender seu quinhão contra o voto útil. Se o presidente conseguiu inúmeras cenas em que chama o ex-presidente de “presidiário” para impulsionar suas redes também vai ter que se esforçar para neutralizar a exploração de seus ataques às mulheres. Se Lula pretendia se mostrar mais “presidencial” do que aquele que está na cadeira, com tratamento mais respeitoso a todos, principalmente às mulheres, acabou por revelar falta de foco ao se defender do previsível ataque bolsonarista.

Indagado pelo presidente da República sobre corrupção na Petrobras, o ex-presidente valeu-se da mesma “colinha”, a exemplo do que fez no “Jornal Nacional”, para citar as medidas anticorrupção que seu governo tomou. Neste momento, optou por não revidar com os casos de corrupção neste governo. Atrapalhou-se ainda no manejo do tempo. A pretexto de deixar mais tempo para a tréplica, deixou respostas pela metade.

Lula recuperou-se do meio para fim do debate, ao revidar um ataque de Ciro.

Deslizou ao incluir o ex-governador Mario Covas, morto em 2001, no rol de personagens que, a exemplo de Roberto Requião e Ciro Gomes, respeita, mas logo mostrou boa forma frente ao candidato do PDT. “Você tem um coração mais mole que a língua, só espero que não vá para Paris”, disse, numa referência ao 2º turno de 2018, quando o candidato do PDT viajou antes de votar em Fernando Haddad.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Candidatos a gastar

Folha de S. Paulo

Lula e Bolsonaro prometem mais despesa, o que eleva risco de crise de confiança

Como é de esperar em períodos eleitorais, proliferam as promessas dos candidatos em favor de mais gastos públicos. Tal postura se torna mais temerária no contexto atual de fragilidade do Orçamento da União, que exigirá do próximo governo prudência e boas escolhas.

A julgar pelos programas dos dois candidatos líderes nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não estão preocupados com restrições fiscais.

O que se observa é um alinhamento em torno da perigosa tese de que o Orçamento atual é insuficiente e demanda uma ampla flexibilização —ou mesmo o abandono do teto de gastos inscrito na Constituição, ainda a principal regra a conferir alguma disciplina na gestão das finanças federais.

Bolsonaro promete corrigir a tabela do Imposto de Renda, manter o Auxílio Brasil em R$ 600 mensais de forma permanente e cortar mais impostos, sem considerar que tal conduta levará a maior crescimento da dívida pública.

Já Lula advoga abandonar o teto para ampliar despesas sociais e investimentos públicos, além de retomar o estatismo e as políticas setoriais que caracterizaram as gestões petistas. A esquerda, em geral, continua a ignorar que o melhor meio de não depender dos famigerados rentistas é não fazer dívida.

Poesia | Federico García Lorca - Balada triste

 

Música | Cia do Tijolo - Ainda cabe sonhar