segunda-feira, 9 de março de 2015

Opinião do dia – Miriam Leitão

A quem aproveita o crime? Essa é a pergunta inicial de qualquer investigação, mas as instituições do país não a fizeram no mensalão e começam a demonstrar que ela não será feita no caso Petrobras. No escândalo que envolve a maior empresa do país, há indícios de roubo para beneficiar ex-dirigentes da companhia, mas também de que parte do dinheiro foi para partidos da base de sustentação da Presidência.

No mensalão, o ex-presidente Lula foi poupado, apesar de ter ficado provado que dinheiro do esquema financiou sua campanha, costurou a aliança entre PT e PL para a formação da chapa presidencial e pagou o marqueteiro em conta secreta no exterior. O então tesoureiro do PT confessou “dinheiro não contabilizado”; o então marqueteiro confessou que recebeu de forma irregular. A teoria do “domínio do fato” foi usada na condenação do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Mas nada chegou a quem foi eleito pelos recursos assim desviados, em contratos diretos e indiretos com o setor público, na engenharia financeira montada por Marcos Valério.

Na corrupção da Petrobras, tudo parece mais escancarado. Houve uma aceleração do crescimento do propinoduto por onde saíram bilhões de reais. Muito dinheiro foi para quem, hoje, em processos de delação, confessa que recebeu para seu próprio proveito. Nas confissões em que admitem seus crimes, eles contam que propinas foram pagas também a vários operadores dos partidos da base. Um deles, o Partido dos Trabalhadores. Os dedos dos delatores apontam para o tesoureiro João Vaccari Neto.

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Miriam Leitão, jornalista, em artigo ‘Primeira pergunta’. O Globo, 8 de março de 2015

Panelaço e gritos de 'Fora Dilma' durante fala da presidente na TV

• Durante pronunciamento, houve protestos em diversas cidades do País

Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff usou o pronunciamento em rede nacional pelo Dia Internacional da Mulher para fazer uma longa defesa ao ajuste fiscal e dizer que a economia do País só deve começar a melhorar a partir do fim do ano. Afirmando que o governo está usando “armas diferentes e mais duras” das que foram utilizadas na primeira fase da crise, em 2008, ela ressaltou que todos terão de fazer “sacrifícios temporários” e arrematou dizendo que são suportáveis porque tem “o povo mais forte do que nunca”.

Durante o pronunciamento – a transmissão começou às 20h40 no horário de Brasília e se estendeu por 16 minutos – houve protestos em diversas cidades do País. Pessoas foram às janelas gritar “Fora Dilma”.

Em São Paulo, xingamentos se misturavam com panelaços em bairros como Higienópolis, Perdizes, Aclimação, Ipiranga, Lapa, Moema, Vila Marina, Mooca e Santana. Também houve protestos em bairros de Brasília e Belo Horizonte, onde os gritos e xingamentos contra a presidente e panelaços se repetiram. Muitos acendiam e apagavam as luzes durante o discurso.

À tarde, grupos favoráveis ao impeachment de Dilma espalharam mensagens por celular convocando o protesto. Nas redes sociais, o grupo Revoltados Online, por exemplo, também fez convocações para o panelaço.

Discurso. No pronunciamento, Dilma deu prazo para o aperto. “Este processo (de ajuste) vai durar o tempo que for necessário para reequilibrar a nossa economia”, afirmou, prevendo os primeiros resultados “já no final do segundo semestre”. Dilma declarou que “a carga negativa”, até agora absorvida pelo governo, agora será dividida “em todos os setores da sociedade”.

O escândalo das suspeitas de corrupção na Petrobrás, que vem monopolizando o noticiário, foi mencionado rapidamente e apenas no fim de sua fala. Ela frisou que a investigação das denúncias de corrupção na estatal é “ampla, livre e rigorosa”. Com isso, buscou responder as acusações que vem sofrendo não só por parte de adversários como de parlamentares da base aliada de que seu governo tenta interferir nas apurações da Operação Lava Jato.

“Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobrás”, afirmou em cadeia de rádio e TV.

O pronunciamento foi gravado na manhã de quinta-feira, um dia antes da publicação da lista de pessoas que serão investigadas por suspeita de corrupção relacionada à petroleira.

Arrocho. No discurso, Dilma passou a maior parte do tempo explicando e defendendo o ajuste fiscal que está sendo implementado no Brasil – que trata do corte de despesas e de investimentos, redução de parte de programas sociais, mudanças nas regras para acesso a benefícios trabalhistas, correção na tabela do imposto de renda. Para executar parte das medidas, o Poder Executivo precisa de aprovação pelo Congresso Nacional, com o qual está passa por uma crise de relacionamento.

A petista classificou como corajosa a decisão de assumir o ajuste fiscal mesmo que isso lhe renda desaprovação. “Decidimos corajosamente mudar de método e buscar soluções mais adequadas ao atual momento. Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo.”

Dilma também culpou a seca nas regiões Nordeste e Sudeste e a piora da conjuntura internacional pelo aumento dos custos para os consumidores e as mudanças de rumo em sua gestão econômica. E sugeriu que a imprensa tenta transformar a crise em algo mais grave do que realmente é. “Os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes. Muitas vezes até nos confundem mais do que nos esclarecem” . afirmou. Retomando a positividade exibida durante sua campanha eleitoral no ano passado, Dilma também viu pessimismo por parte de integrantes da sociedade. “O Brasil passa por um momento diferente do que vivemos nos últimos anos. Mas nem de longe está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns.”

Oposição diz que Dilma tentou terceirizar responsabilidade pela crise

Beatriz Bulla, Daiene Cardoso e Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

Para deputados e senadores da oposição, a presidente Dilma Rousseff tentou "terceirizar" a responsabilidade pelas crises hídrica, econômica e política do País e evitou se alongar no tema corrupção no pronunciamento que fez em rede nacional de rádio e televisão na noite de ontem.

"Mais uma vez, ela terceirizou a responsabilidade pela crise. A presidente perdeu a oportunidade de falar a verdade para o povo. Optou, mais uma vez, pelo discurso de enganação. Não soube aproveitar para restaurar minimamente a credibilidade do governo", afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Roberto Freire, presidente nacional do PPS, criticou o fato de a presidente ter culpado o cenário internacional pelos problemas econômicos do País. "Ela diz que tudo é fruto de uma crise internacional que só ela vê, como se todos fôssemos completos idiotas", criticou o deputado.
Freire disse ainda que a presidente tem tomado uma série de medidas que vão de encontro ao prometido durante a campanha eleitoral. "Basta recordar a campanha, quando ela prometia uma série de benefícios, que não ia mexer em direitos de trabalhadores, depois o que se viu foi exatamente o contrário", disse Freire.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), criticou a insistência da presidente em não assumir a culpa pela crise econômica no País. "Ela não perde a mania de tentar transferir as responsabilidades. Depois de FHC, ela culpa São Pedro", comentou o tucano se referindo ao discurso da influência da crise internacional no cenário econômico brasileiro e a crise hídrica.

Para Cunha Lima, o pronunciamento foi genérico e deixa claro que a população terá de tomar "o remédio amargo" contra a crise fiscal proporcionado pelo governo petista.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), criticou o pronunciamento da presidente em nota e por redes sociais.

"Dilma não tem humildade de estadista para reconhecer erros. Quer induzir população a imaginar que tudo é temporário", afirmou o senador. Caiado classificou o momento do País como "um dos mais críticos do Brasil" e disse que Dilma "mente e deturpa a realidade, a exemplo do que fez em sua campanha".

Os oposicionistas criticaram Dilma por ter dedicado pouco tempo dos 16 minutos de discurso ao esquema de corrupção na Petrobras.

"É um tema que ela não tem como enfrentar de maneira direta", disse Cunha Lima. "Ela dedicou duas frases para justificar a ação da Justiça como se fosse crédito do seu governo", disse Mendonça Filho.

Na TV, Dilma defende ajuste; nas ruas, panelaço

Presidente pede paciência, mas ganha panelaço

• Em pronunciamento à nação, ela diz compreender irritação e preocupação dos brasileiros

Renato Onofre e Catarina Alencastro – O Globo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Enquanto a presidente Dilma Rousseff pedia paciência à população em cadeia nacional de rádio e TV, moradores de várias cidades protestavam com panelaços e buzinaços em várias cidades do país. No seu primeiro pronunciamento à nação deste segundo mandato, por 15 minutos, a presidente fez breve menção ao escândalo da Petrobras, mas destacou a coragem do Brasil para investigador um esquema "lamentável" e submeter os corruptos à Justiça.

- Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras - afirmou.

As palavras, porém, não bastaram para conter uma onda espontânea de indignação. Em bairros nobres e periferias de cidades como Rio, São Paulo, Brasília, Florianópolis, Cuiabá, Curitiba, e vários municípios do Nordeste, milhares de pessoas foram às janelas de casas e edifícios com gritos e batidas de panelas. Houve até quem estourasse rojões.

Aperitivo para marcha pró-impeachment
O panelaço, porém, ficou restrito às casas - sem ganhar as ruas. Em bairros nobres como Higienópiolis, em São Paulo, e Leblon e Barra da Tijuca, no Rio, as pessoas chegaram a gritar palavras de baixo calão contra a presidente. Em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, gritos de "fora Dilma" e "fora PT" ecoavam das janelas. Vídeos postados nas redes sociais mostravam internautas acendo e apagando luzes em repúdio às palavras da presidente - e às medidas de ajuste para retomar o crescimento econômico. A hostilidade, alegavam muitos manifestantes, era apenas um "aperitivo" antes da marcha pró-impeachment programada para o próximo domingo.

O pronunciamento da presidente foi estratégico. Após ouvir reclamações de aliados e de seu próprio partido por não fazer uma defesa enfática do pacote de ajuste fiscal enviado ao Congresso, Dilma usou a maior parte do pronunciamento para explicar e pedir apoio às medidas. Ela negou que o Brasil esteja passando por uma crise de grandes dimensões. E disse, ainda, que depois do início da crise econômica internacional de 2008, o governo agora teve coragem de mudar a estratégia de enfrentamento do problema - agravado por conta da seca e da consequente crise hídrica.

A presidente fez questão de frisar que os direitos dos trabalhadores são sagrados e não serão prejudicados. E que o país não vai parar. O esforço, garantiu ela, será "passageiro".

Dilma também tentou criar empatia com o público. Ela garantiu compreender a irritação e a preocupação dos brasileiros diante do cenário atual, marcado por inflação em alta, economia fraca e aumento do endividamento das famílias. Mas a presidente pediu a confiança da população e conclamou a todos a se unirem em um esforço coletivo para a retomada do crescimento.

- Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira. O Brasil tem todas as condições de vencer estes problemas temporários. E esta vitória será ainda mais rápida se todos nós nos unirmos neste enfrentamento. Peço a vocês que nos unamos e que confiem na condução deste processo pelo governo, pelo Congresso, e por todas as forças vivas do nosso país, e uma delas é você - afirmou.

A presidente quis destacar a ideia de que o próprio governo é o primeiro a se sacrificar - através do corte de gastos da máquina pública. E justificou mais uma vez o ajuste, alegando ser impossível prever que a crise, iniciada há quase sete anos com a quebradeira de grandes bancos americanos, se estenderia por tanto tempo. Logo no início do pronunciamento, Dilma afirmou, ainda, que os noticiários, às vezes, mais confundem do que esclarecem. E chamou de injustas e desmedidas as críticas que o governo tem recebido por conta do ajuste.

- Decidimos, corajosamente, mudar de método e buscar soluções mais adequadas ao atual momento, mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo - declarou a presidente, reforçando que o governo está distribuindo os esforços de "maneira justa e suportável" para todos. - Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte desse esforço com todos os setores da sociedade.

Reação ainda no 2º semestre deste ano
Dilma disse esperar uma reação da economia já no segundo semestre deste ano. Repetindo o discurso feito em Araguari (MG) na última sexta, quando entregou casas do programa Minha Casa Minha Vida, ela afirmou que o ajuste fiscal não é um fim em si mesmo, mas uma "travessia para um tempo melhor".

O pronunciamento, feito por ocasião do Dia Internacional da Mulher, reservou pouco espaço para a listagem de ações de gênero do governo, como costumava fazer a presidente em suas falas anteriores nesta mesma data. Dilma tampouco fez anúncios de novas medidas - apenas informou que irá sancionar hoje a lei que tipifica o feminicídio, agravando a pena para quem mata mulher.

O texto foi elaborado pelo marqueteiro João Santana, que cuidou da campanha de reeleição de Dilma, e contou com as contribuições de integrantes da equipe econômica. Afinal, a fala da presidente foi veiculada a apenas uma semana de manifestações antigoverno marcadas para ocorrer em todo o Brasil no próximo domingo.

Aécio: Dilma faltou com a verdade em pronunciamento

• Presidente do PSDB diz que presidente inventa bodes expiatórios para oferecer “enredo irreal à população”

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB e senador Aécio Neves (MG) disse, por meio de nota, que a “presidente Dilma Rousseff falta com a verdade ao se dirigir aos brasileiros”, referindo-se ao pronunciamento em cadeia nacional deste domingo.

Para ele, a presidente “inventa bodes expiatórios, terceiriza responsabilidades que são exclusivamente do governo dela e fornece um enredo irreal à população”. Em vez disso, segundo o tucano, Dilma deveria assumir suas responsabilidades em relação a políticas fracassadas que levaram o país à situação atual.

Segundo Aécio, o país enfrenta um arrocho recessivo que penaliza trabalhadores, corta direitos sociais, congela investimentos públicos, paralisa o setor privado e expõe milhões de brasileiros ao desemprego e ao desalento, diferentemente da “realidade pintada” no pronunciamento.

“A presidente pede a união dos brasileiros. Mas apenas quem é capaz de admitir seus erros, buscar o diálogo e respeitar as diferenças é capaz de apontar novos caminhos e liderar um consenso”, disse o presidente do PSDB na nota.

Para Aécio, a presidente Dilma tinha razão quando disse que os brasileiros estão irritados e preocupados. Mas eles “sabem bem com o quê e com quem”, completou o tucano.

O líder do partido Democratas no Senado, Ronaldo Caiado, disse também em nota que o pronunciamento é “extremamente grave porque fica explícita a postura de uma populista que não tem compromisso com o País com afirmações descabidas no intuito de tentar encobrir toda a corrupção montada com o objetivo único do PT se manter no poder”.

Para o senador por Goiás, “Dilma tenta alegar desconhecimento da população em relação aos fatos, como se fôssemos bobos e também tivéssemos que ler na cartilha do PT”.

“Tudo isso às vésperas da população iniciar uma marcha no próximo domingo para a maior manifestação democrática que o Brasil já assistiu contra esse populismo criminoso e corrupto instalado no governo federal”, informou Caiado. “Dilma mente e deturpa a realidade, a exemplo do que fez em sua campanha eleitoral”, completou.

Fala de Dilma na TV gera panelaço em 12 capitais

Dilma vai à TV defender ajuste e é alvo de panelaço

• Em pronunciamento, presidente faz críticas à mídia e pede apoio do Congresso

• Motoristas fizeram buzinaços e moradores foram às janelas gritar xingamentos à petista em ao menos 12 capitais

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RIO - A presidente Dilma Rousseff (PT) foi vaiada nas ruas de várias cidades do país durante pronunciamento de rádio e TV que foi ao ar neste domingo (8) por ocasião do Dia da Mulher.

Na fala, Dilma defendeu o ajuste fiscal, pediu apoio da população e do Congresso na implementação de medidas que afetam a "todos" e disse que as críticas contra o governo são "injustas".

Assim que o pronunciamento teve início, motoristas deram início a um buzinaço pelas ruas de ao menos 12 capitais: São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Belém, Recife, Maceió e Fortaleza.

Em São Paulo, das janelas dos prédios, moradores batiam panelas e xingavam a presidente enquanto piscavam as luzes dos apartamentos. Em Pinheiros, zona oeste, as buzinas e gritos de "Fora, Dilma!" e "Fora, PT!" duraram até três minutos depois do final da transmissão.

No Paraíso, zona sul, pessoas se concentraram por cerca de 15 minutos em frente à casa do prefeito Fernando Haddad (PT). No Itaim Bibi, zona oeste, um grupo se reuniu em frente ao prédio de Luis Claudio, o Lulinha, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os protestos ocorreram em várias regiões da cidade, sobretudo nos bairros de classe média e alta. A Folha obteve relatos de manifestações em Santana (zona norte), Mooca, Tatuapé e Jd. Anália Franco (zona leste), Higienópolis (centro), Pompeia, Perdizes, Morumbi, Jardins e Vila Madalena (zona oeste) e Moema e Brooklin (zona sul).

Na Bela Vista, região central, moradores gritavam "15 de março vem aí", numa alusão às manifestações convocadas contra a presidente para o próximo domingo em mais de 200 municípios (leia mais na pág. A9).

Os protestos durante o pronunciamento foram convocados ao longo do dia em redes sociais e em aplicativos de conversas via celular.

"Principalmente de sábado para domingo, trabalhamos muito para viralizar a convocação para o protesto", disse a economista Maria Fernanda Gomes, uma das líderes do Movimento Brasil Livre, que afirmou ter tido o apoio de outros grupos para a mobilização.

No Rio, gritos e vaias contra a presidente foram registrados em bairros como Copacabana e Leme (na zona sul), Méier e Tijuca (bairros de classe média da zona norte), Santa Teresa (centro) e Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste, onde as críticas foram mais intensas.

Em Recife e em Salvador houve protestos, mas também reações favoráveis à presidente registradas em redes sociais. "Grande fala de Dilma! E aqui, em Salvador, não ouvi panelaço. Viva o respeito por quem venceu nas urnas", escreveu um internauta identificado como Celso.

O Palácio do Planalto não quis comentar as vaias. Em fevereiro, pesquisa Datafolha registrou queda de 19 pontos na aprovação da presidente em relação a dezembro de 2014. Desde então, o governo enfrenta deterioração nos índices econômicos e crescentes dificuldades na relação com partidos aliados.

'Povo está irritado e sabe bem com quem', diz Aécio

• Tucano afirma que Dilma mente à população; nas redes sociais, Marta volta a criticar ex-chefe

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A oposição reagiu com rapidez ao pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, na noite deste domingo (8). O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que a petista "inventa bodes expiatórios" e mente para a população.

Para Aécio, a única parte do pronunciamento em que é possível dar razão a Dilma é quando ela diz que os brasileiros têm o direito de se "irritar e se preocupar". "A presidente tem razão num ponto: os brasileiros estão irritados e preocupados. E sabem bem com o quê e com quem."

Em nota, o tucano disse que Dilma "terceiriza responsabilidades que são exclusivamente do governo dela e fornece um enredo irreal à população". Ele ironizou o pedido de união feito pela petista: "Apenas quem é capaz de admitir seus erros, buscar o diálogo e respeitar as diferenças, é capaz de apontar novos caminhos e liderar um consenso. Não é o caso da presidente."

Aécio disse que, "ao contrário do que foi dito", o ajuste imposto "penaliza mais os mais fracos e mais pobres".

Ex-ministra de Dilma que ensaia sair do PT, a senadora Marta Suplicy (SP) voltou a criticar a ex-chefe. Nas redes sociais, disse que "São Paulo assistiu atônita e perplexa" ao pronunciamento, que se deu entre "gritos de protestos, buzinas e panelaço".

"O que mais me preocupa, neste momento, é que a cada ação deste governo, assistimos ao aumento do grau de seu isolamento e à ampliação de seu distanciamento da sociedade", afirmou Marta.

Renan acusa Dilma de orquestrar ‘fritura’ de sua reputação

• Presidente do Congresso afirma que lógica era jogar o escândalo para longe do Planalto

- O Globo

RIO - Citado na lista enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente do Senado, Renan Calheiros, abriu fogo contra a presidente Dilma Rousseff e a articulação política do Planalto. Segundo ele, o governo teria direcionado a cobertura da imprensa para seu nome e o do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, quando soube que o senador Aécio Neves (PSDB) não apareceria na lista.

— O jogo do governo era: ‘Quanto mais gente tiver (na lista), melhor, desde que tenha o Aécio’. Essa era a lógica do Planalto — afirmou ao blog do jornalista Fernando Rodrigues.

Segundo Renan, no momento em que Dilma ficou sabendo que o senador tucano não estava na lista, a petista se irritou:

— Ela só soube que o Aécio estava fora na noite da terça-feira, quando o Janot entregou os nomes para o Supremo. Ficou p… da vida. Aí a lógica foi clara: vazar que estavam na lista Renan e Eduardo Cunha. Por quê? Porque querem sempre jogar o problema para o outro lado da rua. Foi algo dirigido. O ‘Jornal Nacional’ dizendo, veja só, que ‘o Planalto confirma que Renan e Eduardo Cunha estavam na lista’. Veja se tem cabimento? Havia ali uma dezena de nomes, mas o Planalto deliberadamente direcionou a cobertura da mídia para dois nomes. Dois nomes que retiravam o governo momentaneamente dos holofotes.

O peemedebista, que, ao ser reeleito presidente da Casa, era considerado aliado de Dilma, também desferiu críticas a Janot ao dizer que o procurador “não teve critério” na inclusão de nomes de políticos na lista. Janot imputou a Renan indícios dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

— O problema dessa lista é que ela não tem um critério claro. Não estou falando de ter um critério certo ou errado. Estou falando apenas de ter um critério. Ele mandou investigar pessoas por fatos idênticos aos fatos pelos quais isentou alguns. Ou seja, não há critério. Ontem (quinta-feira), mandou um emissário dizer que tudo no meu caso se refere a doações legais. Está em campanha aberta para se reeleger. Faz o diabo — criticou.

O presidente do Senado disse que o governo errou na condução da política e criticou Dilma, dizendo que “nem tudo se resume a cargos ou favores”.

— Volta e meia ouço que a presidente pergunta a todos que vão a até ela: ‘O que o Renan quer?’. Ela já perguntou isso para várias pessoas. É um pensamento reducionista da política. Achar que tudo se resume a cargos ou favores. Não é isso. O problema é a política. O governo errou muito na política.

Procurador 'escolheu a quem investigar', diz presidente da Câmara

• Alvo de inquérito por suposta prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Eduardo Cunha nega acusação de doleiro de que teria pressionado fornecedoras da Petrobrás por propina

Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Um dos 34 parlamentares alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal sob suspeita de participar do esquema de desvios da Petrobrás, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, divulgou nota neste domingo, 8, em que nega a acusação do doleiro Alberto Youssef que, em delação premiada, afirmou que ele havia pressionado fornecedoras da Petrobrás para recebimento de propina e rechaçou a reportagem publicada neste domingo pelo jornal O Globo, que afirma que dois requerimentos da Câmara reforçam as acusações do doleiro contra Cunha.

"Bastava uma simples pesquisa no portal da Câmara para ver todas as propostas que apresentei, e isso posso provar. Só que ele, o procurador, não tem como provar. Simplesmente não fiz qualquer representação e se, por ventura, outros parlamentares fizeram, por que, então, o procurador não pediu inquérito dos outros parlamentares?", escreveu o deputado em nota publicada no seu site da Internet.

O presidente da Câmara usa o pedido de arquivamento das acusações contra o senador Delcídio Amaral (PT-MS) para reforçar seu entendimento de que o procurador-geral Rodrigo Janot "escolheu a quem investigar" e diz que o arquivamento "causa estranheza". No sábado, Cunha já havia acusado a Procuradoria-Geral da República de ter sido um "aparelho político" do Palácio do Planalto e afirmou "não aceitar isso". "A PGR agiu politicamente em conjunto com o governo. Querem deixar todos iguais para, juntos, buscarem solução", disse Cunha ao Estado. "Eu não aceito isso. Vou me defender", declarou.

A pedido da Procuradoria-Geral, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki determinou a instauração de inquérito para investigar Cunha por suposta prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na opinião de Cunha, a PGR agiu como "aparelho visando a imputação política de indícios como se todos fossem partícipe da mesma lama" e considerou "lamentável" ver a instituição se "prestar a esse papel" para que o procurador-geral Rodrigo Janot seja reconduzido ao cargo.

Propina. Segundo o jornal O Globo, após uma suspensão da propina paga pelos fornecedores, o doleiro afirmou que Eduardo Cunha pediu "a uma Comissão do Congresso para questionar tudo sobre a empresa Toyo, Mitsui e sobre Camargo, Samsung e suas relações com a Petrobrás, cobrando contratos e outras questões". Segundo o doleiro, "este pedido à Petrobrás foi feito por intermédio de dois deputados do PMDB". Os deputados que apresentaram requerimentos, de acordo com a reportagem, foram: Solange Almeida (PMDB/RJ) e Sérgio Brito (PSD/ BA).

Para Cunha, a pesquisa deveria ter sido feita pelo procurador-geral da República antes do pedido de abertura do inquérito. "A minha pergunta é a seguinte: se havia suspeição de que este requerimento fosse para o fim levantado no depoimento do delator, por que não se abriu inquérito contra estes dois deputados?", afirmou o presidente da Câmara.

Ele diz ainda nas eleições de 2014 a deputada Solange, que se elegeu prefeita de Rio Bonito, "deu apoio parcial a uma dobradinha que fiz com o deputado estadual Paulo Melo, então presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj)". "Não se pode confundir eventuais apoios políticos na eleição de 2014 com requerimento de 2011 da deputada, no exercício legitimo do seu mandato", afirmou.

Cunha diz que a tentativa de ligá-lo ao requerimento da deputada é "forçar a barra" para criminalizá-lo . "Querer atribuir a mim a responsabilidade de atos legítimos do exercício de mandato de cada um é uma tentativa de forçar a barra para a mim imputar responsabilidade", disse na nota.

Para evitar derrotas, governo vai ignorar ataques do PMDB

• Ameaça de criação de CPI para investigar setor elétrico preocupa o Planalto

• Presidentes da Câmara e do Senado acusam a gestão de influenciar na decisão de incluí-los em investigações

Andréia Sadi, Júlia Borba – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio a uma guerra aberta com o comando peemedebista do Congresso e sob ameaça de novas retaliações com uma CPI no setor elétrico, o Palácio do Planalto decidiu ignorar os ataques de Eduardo Cunha e Renan Calheiros para tentar refazer as pontes com os dois caciques.

A prioridade, definida em reunião da presidente Dilma Rousseff com ministros neste domingo (8), é tentar salvar as medidas de ajuste fiscal que necessitam de aprovação no Congresso.

Incluídos no rol de investigados da Operação Lava Jato, os presidentes da Câmara, Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan (PMDB-AL), acusaram o governo de ter influenciado na decisão da Procuradoria-Geral da República de pedir inquéritos contra eles. O Planalto e a PGR negam.

Para tentar a reaproximação, Dilma escalou Aloizio Mercadante (Casa Civil) para procurar Cunha e Renan. Já ela irá reunir-se com o vice, Michel Temer (PMDB), nesta segunda (9). Joaquim Levy (Fazenda), deve participar.

À tarde Dilma recebe líderes aliados do Senado.

Dependem do Congresso a aprovação de novas regras para concessão do seguro-desemprego, do abono salarial, da pensão por morte e a desoneração da folha.

Renan e Cunha já vinham infligindo derrotas a Dilma, como a aprovação da PEC da Bengala (que na prática pode tirar dela poder para indicar mais ministros ao Supremo) e a devolução da medida provisória da desoneração, reenviada como projeto de lei.

Na quarta (11), está prevista a derrubada pelo Congresso do veto ao reajuste de 6,5% do Imposto Renda. Se o veto cair, as pessoas pagarão menos imposto e o governo perderá R$ 7 bilhões em receitas.

Dor de cabeça ainda maior está à espreita: a Câmara poderá abrir uma CPI para investigar o setor elétrico, "quintal" de Dilma, ex-ministra das Minas e Energia.

A justificativa para a CPI, articulada pela oposição, são os apagões e a política para a definição das tarifas de energia. Sua instalação depende da análise de um parecer de técnicos da Casa, que já recomendaram a rejeição por ausência de objetivo específico.

No entanto, parlamentares da base aliada dizem que novas delações da Lava Jato, como a de executivos da empreiteira Camargo Corrêa que citaram propinas na usina de Belo Monte, podem criar o fato determinado necessário.

Sem decisão
Procurado, Cunha disse à Folha que ainda não tomou decisão sobre o assunto.

O novo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM), admite que as denúncias devem atingir a sua pasta, mas afirma que não cruzaria os braços diante das irregularidades. O ministro ainda não reformulou a sua equipe e manteve os indicados pelo antecessor Edison Lobão (PMDB-MA), também investigado na Lava Jato.

Segundo a Folha apurou, Eduardo Braga deve fazer substituições em postos-chave do ministério.

Ele disse a interlocutores que estuda, inclusive, nomear como secretário-executivo o atual diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci --que também teve pedido de investigação feito pela Procuradoria.

A empresa é controlada pela Eletrobras. Hoje, o número dois de Minas e Energia é Márcio Zimmermann, homem de confiança de Dilma.

Congresso deve ampliar pressão sobre governo

• Sob o comando do PMDB, Senado e Câmara devem impor novas derrotas ao governo

Daiene Cardoso, Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A divulgação da lista de 34 parlamentares investigados sob suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás agravou ainda mais a já combalida relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Base aliada e oposição preveem uma temporada de derrotas significativas para o governo já a partir desta semana, quando serão apreciados os vetos presidenciais e projetos polêmicos, como a política de reajuste do salário mínimo.

Os parlamentares acusam o governo de tentar transferir para o Congresso a crise política provocada pela Operação Lava Jato. Alguns, entre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de receber do esquema, acusam o Planalto de interferir diretamente na lista encaminhada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. “Essas digitais do governo são visíveis. Não dá para não perceber isso”, diz o vice-líder do PMDB na Câmara, Manoel Júnior (PB).

No PMDB, partido do presidente da Câmara e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) – que também está na lista de suspeitos –, a insatisfação é generalizada. “O governo, para sair do olho do furacão, está jogando tudo para o Congresso. Ninguém vai aceitar isso”, diz Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

O peemedebista prevê que a CPI da Petrobrás, comandada por seu partido, pode aprovar novos requerimentos de convocação, prejudicando o governo. Ele também acredita que o ministro Cid Gomes (Educação) enfrentará ainda mais dificuldade ao comparecer à Câmara nesta quarta-feira para se explicar por ter dito que a Casa tem “de 300 a 400 achacadores”.

“Os indícios de uma estratégia do governo são muito claros. O Congresso está identificando isso. Ninguém está satisfeito. A tendência é o Congresso demonstrar ao Planalto, à presidente, que essa estratégia de tentar colocar todo mundo na vala comum, não está dando certo”, afirmou Vieira Lima.

Oposição. Na avaliação dos parlamentares de oposição, o governo deve perder o controle sobre a situação no Congresso. Lembram que as investigações estão apenas no início e a expectativa é de que a lista dos investigados crescerá com a divulgação das novas delações premiadas. “Isso é só o trailer de um filme de terror que será exibido nos próximos meses”, diz o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Na primeira semana após a divulgação da lista, senadores e deputados apreciarão vetos presidenciais, entre os quais o da correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. O governo atua para evitar essa votação, mas alguns parlamentares dão como certa a derrubada do veto.

Se no Senado a pauta ainda é uma surpresa, na Câmara, Cunha quer votar o projeto que mantém os critérios atuais de reajuste do salário mínimo e os estende para corrigir aposentadorias. A oposição acusa o Executivo de não dizer claramente qual correção a União suportaria bancar e de jogar para o Congresso o ônus de medidas indigestas, como do pacote de ajuste fiscal, que nem começaram a ser discutidas oficialmente nas comissões especiais. “É um momento bastante grave”, diz o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), comparando o atual cenário político com o período pré-impeachment de Fernando Collor e o estouro do escândalo do mensalão.

Outra resposta que o presidente da Câmara pode dar ao governo é atender ao pedido da oposição e criar uma CPI para investigar a crise do setor elétrico. Cunha diz ainda não ter examinado a questão e que sua resposta não se dará “através de ações desta natureza”. “Vou agir como sempre, com independência e harmonia”, diz. Mas, apesar do tom ameno, avisa: “Farei o que tiver de ser feito na hora correta”.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), diz que a reunião que terá com líderes da base, amanhã, servirá para avaliar os estragos provocados pela lista na relação com os aliados. “A priori (a situação) não complica nem descomplica. Tem que aguardar”, afirma.

Brasileiros estão irritados, afirma Aécio

Pedro Venceslau, Beatriz Bulla, Daiene Cardoso e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou ontem após o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff que os brasileiros estão "irritados" e "preocupados". "Os brasileiros percebem o abismo que separa a realidade pintada no pronunciamento oficial e aquela vivida nas ruas. Os brasileiros estão irritados e preocupados. E sabem bem com o quê e com quem", disse o tucano em nota.

Aécio ainda acusou Dilma de "terceirizar responsabilidades que são exclusivamente do governo". "No campo ético, o que assistimos é a revelação de ume esquema criminoso montado a partir da Petrobrás. Apenas quem é capaz de admitir seus erros, buscar o diálogo e respeitar as diferenças é capaz de apontar novos caminhos e liderar um consenso. Não é o caso da presidente", afirmou.
Presidente do DEM, o senador José Agripino (RN) divulgou nota na qual diz que Dilma "frustrou o Brasil ao não fazer o mea-culpa dos erros cometidos" e "não teve coragem de anunciar as ações que o governo vai ter que tomar para vencer as mazelas da herança que ela deixou para si própria".

Para parlamentares da oposição, Dilma tentou "terceirizar" a responsabilidade pelas crises hídrica, econômica e política e evitou se alongar no tema corrupção. "A presidente perdeu a oportunidade de falar a verdade. Optou pelo discurso de enganação", disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

CUT, MST e UNE fazem ato contra o ajuste fiscal

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Agendado para a sexta-feira 13, dois dias antes dos atos contra Dilma, o protesto que está sendo chamado por entidades próximas do PT está longe de ser uma manifestação de defesa do governo petista.

Assinada por CUT, MST, UNE e outros, a convocatória do evento dá mais ênfase aos pontos contra o governo do que a favor.

É para "lutar contra medidas do ajuste fiscal que prejudicam a classe trabalhadora", diz já no início.

Especificamente contra as iniciativas que "restringem o acesso ao seguro desemprego, ao abono salarial, pensões por morte e auxílio doença", referindo-se às medidas provisórias que viraram projeto de lei.

"Não tem nada de contraponto [às manifestações do dia 15]. Nem pensamos nisso", diz Vagner Freitas, presidente da CUT, lembrando que articula o protesto desde janeiro.

Dilma leva puxões de orelha no manifesto: "Se o governo quer combater fraudes, deve aprimorar a fiscalização; se quer combater a [...] rotatividade [do emprego], que taxe as empresas onde os índices de demissão são mais altos."

Por discordar da crítica, Lula avisou que não vai.

A segunda parte do manifesto fala em defender a Petrobras, discurso que coincide com o do governo.

E só no fim há o ensaio de uma defesa de Dilma, embora ela não seja citada: "Democracia pressupõe [...] respeito às decisões do povo, em especial as dos resultados eleitorais", diz.

MP vai apurar se houve doação ilegal ao PT

• Procuradoria quer checar se conexões de tesoureiro levam a outros petistas favorecidos por desvios na estatal

Vinicius Sassine – O Globo

BRASÍLIA - O secretário nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, foi incluído no inquérito sobre formação de quadrilha para que sejam investigados supostos repasses de propina e contribuições ilegais ao partido e para que surjam, no curso da apuração, os nomes de parlamentares petistas que tenham se beneficiado com o esquema de desvios de recursos da Petrobras.

Esse processo, com 39 investigados, é o maior entre os 23 abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar o envolvimento de políticos no esquema de desvios da estatal. O crime de formação de quadrilha é o cerne do inquérito, que conta com 31 parlamentares e ex-parlamentares do PP, suspeitos de receber propina do esquema, e com quatro senadores da cúpula do PMDB no Senado, entre eles o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL) - os peemedebistas são suspeitos de agir no Senado para garantir apoio ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em troca de uma partilha do dinheiro desviado dos contratos da diretoria de Abastecimento.

Não há deputados, senadores ou ex-parlamentares do PT listados nesse pedido específico de investigação feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Eles aparecem em inquéritos individualizados. Segundo fontes com acesso ao trabalho da Procuradoria Geral da República (PGR), a inclusão de Vaccari - apontado pelas investigações como operador da propina no partido - vai permitir ampliar no âmbito do STF a apuração sobre a suposta quadrilha, com a possibilidade de que surjam, ainda, novos nomes de autoridades com foro privilegiado. O tesoureiro do PT já é investigado na primeira instância da Justiça Federal, no Paraná.

O entendimento é que os depoimentos das delações premiadas de Costa e do doleiro Alberto Youssef foram apenas o ponto de partida para o inquérito que trata da suposta organização criminosa. O primeiro operou para o PP e, posteriormente, para o PMDB, como consta nos depoimentos reproduzidos na petição de Janot. Youssef teve uma atuação mais restrita ao PP. Assim, foi natural terem surgido mais nomes de políticos ligados às duas siglas. E a expectativa é que a inclusão de Vaccari no inquérito permita novas descobertas.

Trio com youssef e baiano
Esse inquérito é tratado por investigadores como o mais importante entre os abertos pelo STF - por permitir o entendimento das "engrenagens" do esquema. As delações de Costa e Youssef, que detalharam o pagamento de propina no PP, apontaram para a atuação de mais dois operadores: Vaccari, para o PT, e Fernando Soares, o "Baiano", para o PMDB. Janot, então, decidiu avocar os dois para o inquérito que acabou aberto. Youssef, operador do PP, só ficou de fora por conta dos termos da delação premiada firmada com o MPF.

A petição de Janot já dá uma ideia do caminho que será trilhado em relação a Vaccari: "Todo o esquema só pôde ser viabilizado com a essencial participação dos três operadores mencionados: Alberto Youssef, Fernando Baiano e João Vaccari Neto". Ele lembrou que o trio já é investigado na primeira instância, em Curitiba, mas que "tais operações estão centradas exclusivamente na relação desses operadores com as empreiteiras que compunham o cartel, não alcançando, até o momento, a relação deles com o núcleo político do esquema criminoso".

Youssef e Baiano permanecem presos em Curitiba. Vaccari, na fase mais recente da Operação Lava-Jato, foi levado à Polícia Federal (PF) - o que se chama de condução coercitiva - para prestar esclarecimentos sobre os pedidos de doações ao PT, legais ou supostamente ilegais. "Considerando que o papel dos operadores é justamente fazer o elo entre os diversos integrantes da quadrilha, é fundamental que tais profissionais do crime também sejam investigados no presente feito", escreveu o procurador-geral da República.

Além da estratégia de incluir os dois operadores na lista, Janot relacionou políticos que perderam o foro junto ao STF, em razão da hipótese de conexão de fatos. É o caso do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, suspeito de receber propina do esquema. O fato, segundo o procurador-geral, está conectado à suposta prática do crime por outros políticos do PP. "Especialmente em face dos veementes indícios de haver também a prática de delito é que se revela presente aqui, excepcionalmente, a necessidade de manutenção do processamento conjunto no âmbito do STF", afirmou o procurador-geral.

Crimes Além da quadrilha
Ao todo, o PP tem 31 dos 39 investigados nesse processo, entre eles o ex-ministro das Cidades e deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PB); o deputado Arthur Lira (AL), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara; o deputado Eduardo da Fonte (PE), líder na Câmara; e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente da legenda. Os senadores do PMDB são, além de Renan, o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (MA); Romero Jucá (RR), relator do Orçamento da União de 2015; e Valdir Raupp (RO). Vaccari é o único petista no inquérito. Há ainda um político do Solidariedade, o ex-deputado Luiz Argôlo. Além de formação de quadrilha, o inquérito investiga os crimes de corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro.

Expectativa de novas derrotas

• Na avaliação dos parlamentares de oposição, o governo deve perder o controle sobre a situação no Congresso

- O Tempo (MG)

BRASÍLIA - A divulgação da lista de 34 parlamentares investigados sob suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras agravou ainda mais a já combalida relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Base aliada e oposição preveem uma temporada de derrotas significativas para o governo já a partir desta semana, quando serão apreciados os vetos presidenciais e projetos polêmicos, como a política de reajuste do salário mínimo.

Os parlamentares acusam o governo de tentar transferir para o Congresso a crise política provocada pela operação Lava Jato. “Essas digitais do governo são visíveis. Não dá para não perceber isso”, diz o vice-líder do PMDB na Câmara, Manoel Júnior (PB).

No PMDB, partido do presidente da Câmara e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) – que também está na lista de suspeitos –, a insatisfação é generalizada. “O governo, para sair do olho do furacão, está jogando tudo para o Congresso. Ninguém vai aceitar isso”, diz Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Na avaliação dos parlamentares de oposição, o governo deve perder o controle sobre a situação no Congresso. “Isso é só o trailer de um filme de terror que será exibido nos próximos meses”, diz o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Nesta semana, senadores e deputados apreciarão vetos presidenciais, entre os quais o da correção de 6,5% da tabela do Imposto de Renda. O governo atua para evitar essa votação, mas alguns parlamentares dão como certa a derrubada do veto. Se no Senado a pauta ainda é uma surpresa, na Câmara, Cunha quer votar o projeto que mantém os critérios atuais de reajuste do salário mínimo e os estende para corrigir aposentadorias.

Renda das famílias deve sofrer queda real de até 5% este ano

Fim da bonança

• Após uma década de crescimento, especialistas preveem queda real de até 5% na renda este ano

Clarice Spitz – O Globo

Piora no emprego
O período de ouro para as famílias brasileiras, que nos últimos dez anos consumiram como nunca, compraram automóvel, viajaram para o exterior pela primeira e viram a distância entre ricos e pobres se reduzir, está próximo do fim. Depois de dez anos de aumentos reais, a renda deve experimentar a primeira queda real - que pode chegar a 5%, nas estimativas mais pessimistas de estudiosos do mercado de trabalho - ou ficar, no melhor dos casos, na estabilidade. Com o desemprego mais elevado, uma inflação estimada em 7,5% e dificuldades para fechar reajustes nas negociações salariais, 2015 pode ser o ano com a maior redução para o poder de compra dos trabalhadores desde 2002.

A renda nas principais regiões metropolitanas do país subiu 33,1% acima da inflação desde 2004. Para muitos, tratou-se de um período atípico, não apenas pela alta prolongada do rendimento - o salário mínimo, por exemplo, avançou 76,54% desde 2002 -, mas porque coincidiu com uma alta nos preços de alimentos abaixo da inflação média nos primeiros anos da década e com a queda nos artigos eletroeletrônicos.

- Com a ausência de crescimento econômico e com a inflação alta, o grande castigo virá pela queda no rendimento, o que complica ainda mais uma retomada do crescimento. A década de bonança acabou - afirma o economista Claudio Dedecca, da Unicamp, que estima recuo de 5% ou até superior neste ano. - Desde 2012, o parco crescimento do PIB se dava por conta do mercado de trabalho, que elevava o consumo. Com a renda em declínio, e o investimento que não consegue ser destravado, o crescimento fica comprometido.

Menos carros e eletrodomésticos
Ao contrário da inflação registrada nos primeiros anos do governo Lula, que também contou com queda real na renda (em 2004 frente ao ano anterior, houve recuo de 1,3%, descontados os efeitos da inflação) na esteira da alta do dólar e da desconfiança dos mercados com o governo petista, hoje, as principais pressões para a alta de preços vêm de tarifas, combustíveis e alimentos. Essa composição atinge de forma mais direta trabalhadores com renda até três salários mínimos.

- Os grupos de renda média baixa vão sofrer mais porque concentraram os maiores ganhos na última década e agora terão o maior efeito da alta da taxa de desemprego - calcula o economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio José Marcio Camargo, que espera recuo de até 2% na renda, descontados os efeitos da inflação.

A renda média ainda deverá crescer nos dois primeiros trimestres deste ano, sob influência do aumento do salário mínimo. O quadro deverá começar a virar no segundo semestre, com queda de 0,7% no quarto trimestre frente ao mesmo período do ano passado. A renda encerrará o ano estável, pelas estimativas da FGV/Ibre.

Já o espaço para o consumo de bens, veículos, eletrodomésticos deverá ter a maior retração desde 2003. A renda disponível das famílias, ou seja, aquela que desconta o peso de itens essenciais no orçamento, como transporte, alimentação e bebida, deve registrar um recuo de 2,1% neste ano, de acordo com o economista Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria.

Desigualdade deve voltar a crescer
O encanador industrial Carlos Eduardo Lima Rodrigues já sente os efeitos da renda menor. Funcionário da Alumini (ex-Alusa), que prestava serviços no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), não recebe salário desde novembro. Sem a renda de cerca de RS 2.500 mensais, a família sobrevive de bicos e do salário de cerca de R$ 800 que a mulher de Carlos Eduardo recebe em uma farmácia. A família teve de tirar a filha de nove anos da escola particular e suspender as prestações do carro usado, enquanto o Ministério Público do Trabalho do Rio tenta uma ação para reembolsar os trabalhadores dos meses atrasados.

- Meus cartões estão todos atrasados. Não posso arranjar outro emprego porque minha carteira de trabalho continua retida, e estamos a ver navios - afirma Rodrigues.

Para o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, as negociações coletivas deverão ficar mais difíceis neste ano, mesmo que ainda obtenham um aumento real:

- Embora as projeções indiquem que a economia brasileira viverá uma recessão, haverá diferenças nos resultados das negociações entre os diversos setores. A indústria poderá apresentar resultados médios abaixo daqueles que deverão ser observados em outros setores.

A queda na renda também deverá empurrar de volta ao mercado de trabalho os jovens que, nos últimos anos, preferiram se dedicar aos estudos. A participação dos jovens entre 15 e 24 anos que trabalhavam ou buscavam emprego hoje está em 59%. Em 2004, era de 64%.

- Não deve acontecer imediatamente, mas no ano que vem, porque existe um círculo virtuoso dos últimos dez anos ainda muito forte para o consumo - avalia Naércio Menezes Filho, do Insper.

O economista Gustavo Gonzaga, da PUC-Rio, também vê a influência do período de "vacas gordas" nesse movimento:

- Como a renda está em alta há muito tempo, houve um período longo em que as pessoas fizeram um colchão. Outros membros vão voltar ao trabalho, mas será uma volta lenta e que vai aumentar o desemprego.

A melhora do mercado de trabalho na última década foi o principal vetor para a redução de desigualdades sociais e respondeu pela ascensão social de uma nova classe média. E a queda real da renda, corroída pela inflação, não deverá deixar incólumes os ganhos sociais obtidos. A economista do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) Sonia Rocha lembra que a alta da renda respondeu por cerca de 60% da redução da desigualdade no país entre 2003 e 2013. Agora o quadro deverá mudar:

- Havendo queda da renda do setor de serviços, que é o grande empregador das pessoas menos qualificadas, o impacto é certeiro sobre a pobreza e a desigualdade - estima Sonia.

Dedecca também vê uma grande chance de a desigualdade crescer por causa do aumento mais contido do salário mínimo.

- Um aumento da desigualdade de renda tem razoável probabilidade, considerando a evolução desfavorável da renda do trabalho, de um lado, e uma taxa de juros real elevada, de outro, além do controle fiscal que rebaterá negativamente sobre as políticas sociais - afirma.

Grupos pró-impeachment se proliferam na internet

• Movimento que pedesaída de Dilma ganha corpo e promete grande manifestação pelo Paísno dia 15 de março

Pedro Venceslau, Thais Arbex - O Estado de S. Paulo

As primeiras grandes manifestações de junho de 2013 foram convocadas pelo Movimento Passe Livre, um grupo formado majoritariamente por estudantes universitários e hierarquia horizontal. Em pouco tempo, porém, os protestos cresceram com adesões espontâneas oriundas de uma corrente de insatisfação generalizada pelas redes sociais. Com bandeiras difusas e vagas, milhares de pessoas foram às ruas em todo o País e derrubaram os índices de popularidade da classe política.

A onda que parecia grande quebrou antes das eleições, mas começou a se formar novamente no 2.º turno das eleições presidenciais de 2014. Desta vez, porém, o "contra tudo que está aí" foi substituído pelo antipetismo. E pela primeira vez em sua história o PSDB colocou milhares de pessoas nas ruas em defesa da candidatura de Aécio Neves (PSDB). Foi logo depois do 2.º turno que as primeiras organizações virtuais começaram a ganhar status.

Nas duas manifestações do ano passado depois do 2.º turno, eram apenas três os grupos que comandavam os atos com carros de som: Vem pra Rua, Brasil Livre, Revoltados On Line e um quarto que defendia a intervenção militar. Já o ato do próximo dia 15 está sendo articulado por pelo menos 20 grupos diferentes, entre elas uma chamada "Onda Azul", que é diretamente ligada ao PSDB. Entre outras, estão Acorda Brasil, Brasil Melhor, Quero me Defender e Brasil Livre.

Líder do Vem pra Rua, um dos principais movimentos de oposição, Rogério Chequer disse que o movimento tem dialogado com outros grupos como Brasil Livre, Revoltados On Line e Quero me Defender. "Os outros são muito pequenos e o Onda Azul é do PSDB." Chequer disse que não há uma agenda conjunta definida. "Podemos fazer muitas coisas juntas, mas não há nada definido", afirmou.

"Conversamos com todos os grupos como conversamos com todos os partidos. Quase todos."
Ele afirmou que outros grupos já existiam antes de junho de 2013, mas não iam para a rua, como o Quero me Defender, que "tem grande representação na rede, com trabalho de conscientização política".

O Vem para Rua se define como um movimento de oposição a Dilma, mas não defende o impeachment nem a intervenção militar, como pregam grupos mais radicais. "Muita gente defende o impeachment, mas desconhece os trâmites para isso. Há uma lacuna. E o que preenche essa lacuna é o desejo de mudança. Só não pode ser golpe ou intervenção militar", afirmou o líder do Vem pra Rua.

Aécio Neves - A hora das instituições

- Folha de S. Paulo

A crise é inegável e ganha proporções, até pouco tempo atrás, inimagináveis.

A crise é econômica porque a economia patina, adernada em erros cometidos e não reconhecidos e na perda de credibilidade; é de gestão porque os problemas se perpetuam, intocados; a crise é política porque não há um projeto de país capaz de gerar confiança e solidariedade, e sim um projeto de poder regido pelos interesses e conveniências de plantão.

E é, especialmente, uma crise de valores, descortinada por escândalos em série, que alimentam o descrédito da classe política junto à população.

O governo não consegue oferecer à sociedade nenhum horizonte que fortaleça a esperança das famílias brasileiras ou um caminho que acalme o país e responda aos desarranjos que ele legou a si próprio. Esse cenário de intranquilidade tem se tornado um grande desafio às nossas instituições e as encontra em um trecho de história especialmente importante, quando se afirmam e ganham clara autonomia.

O amadurecimento delas não resulta da benevolência de governos, mas é fruto de um longo caminho de etapas vencidas e conquistas celebradas.

Poderemos sair de todo esse processo fortalecidos em nossa estrutura democrática. Por isso, é fundamental que, em solidariedade ao país, cada instituição cumpra o seu papel com a responsabilidade e o respeito que devem a cada brasileiro.

O momento que atravessamos é um claro exemplo da importância de podermos contar com instituições sólidas e independentes e de como poderia ser danoso ao Brasil teses como o controle da mídia, defendida, obsessivamente, com nomes e justificativas diferentes, por aqueles que temem o livre debate e a livre informação.

A democracia brasileira, e com ela todas as liberdades individuais e coletivas, precisa ser a grande vencedora dos embates hoje travados no país.

É neste cenário que celebramos ontem o Dia Internacional da Mulher e registramos as importantes questões que a nossa sociedade ainda precisa enfrentar para reduzir a drástica e injusta desigualdade de gênero que persiste no país.

Em meio a todos os desafios que, mulheres e homens, precisamos vencer juntos, um ganha maior relevância: o de criarmos nossos filhos em um mundo que se movimenta em alta velocidade e, não poucas vezes, na contramão daquilo que desejamos para eles. Em um mundo em que valores como solidariedade e ética são, diariamente, deixados de lado. Em mundo carente de exemplos e significados.

Não vamos nos enganar: a crise que vivemos é econômica, política e de gestão. Mas é, sobretudo, de valores. E valores definem gerações. Valores constroem uma nação.

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Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Ricardo Noblat - E o cabeça do Mensalão.2 é...

- O Globo

"O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo."-  FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Afinal, a presidente Dilma Rousseff trouxe ou não para o Brasil o que comprou recentemente em Montevidéu? A saber: três potes de doce de leite, um requeijão e um queijo cremoso. Surpreso (a) com a pergunta, quando em Brasília só se fala da lista dos suspeitos de envolvimento com a corrupção na Petrobras? Pode não parecer, mas uma coisa tem a ver com a outra. Como espero demonstrar daqui para frente.

QUANTAS VEZES você não leu afirmações de Dilma reiterando seu compromisso com a verdade e a transparência? Quantas vezes não a ouviu repetir as expressões gastas "não ficará pedra sobre pedra" e "doa em quem doer"? Sim, ela quer que acreditemos em sua honestidade pessoal. E não só pessoal: na honestidade que decorre do modo como exerce a função de presidente.

MAS COMO acreditar no que ela quer se é incapaz de oferecer resposta a uma pergunta tão simples como a que fez a repórter Janaína Figueiredo, do GLOBO? O brasileiro não pode trazer do exterior derivados de leite. É proibido por uma portaria do Ministério da Agricultura. Janaína quis saber apenas se a presidente cumpriu a lei. A resposta foi o silêncio.

ONDE FICOU O compromisso de Dilma com a verdade e a transparência? Por que tomarei como verdade a desculpa dada por ela para ter aprovado a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, contra parecer de uma consultoria internacional contratada pela Petrobras? O negócio resultou em prejuízo para a empresa estimado em quase dois bilhões de dólares.

NA ÉPOCA, DILMA era chefe da Casa Civil do governo Lula, o segundo lugar mais importante da República. E presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Antes havia sido ministra de Minas e Energia. Nada se vende ou se compra na Petrobras sem autorização do Conselho de Administração. Dilma desculpou-se alegando que decidiu pela compra sem dispor de todas as informações a respeito.

ORA, AO JOGAR nas costas de um ex-diretor da Petrobras a culpa por ter decidido errado, Dilma confessou um crime de responsabilidade. Isso poderia lhe custar o mandato neste país tropical, de memória fraca, que já assistiu à queda de um presidente por causa da compra de um Fiat Elba com sobras de campanha (Bom dia, Collor , aliado de Dilma, enrascado com a roubalheira na Petrobras!).

SABE O QUE distingue o escândalo do mensalão no primeiro governo Lula do escândalo da Petrobras que começou no segundo governo dele? O volume do dinheiro desviado. O mensalão foi obra de "uma sofisticada organização criminosa". O escândalo da Petrobras, de uma "complexa organização criminosa". Assim disseram os procuradores-gerais Antônio Fernando Barros e Rodrigo Janot.

AO DENUNCIAR OS mensaleiros, Antônio Fernando apontou o ex-ministro José Dirceu como cabeça da gangue. Ao apresentar sua lista de pessoas a serem investigadas no caso do assalto à Petrobras, Janot não apontou ninguém. Lula escapou do Mensalão .1. Como se tudo aquilo pudesse ter acontecido à revelia dele. Cabe a Janot encontrar alguém para ser, no Mensalão.2, o José Dirceu da Dilma.

NO MENSALÃO.1, Lula contou com a proteção dos principais líderes do Congresso. No Mensalão.2, além de implicados no escândalo, os principais líderes do Congresso estão furiosos com Dilma. Sentem-se abandonados por ela. Dilma encabeça a lista de Janot porque ninguém mais do que ela tem a perder com a crise política que se soma à crise econômica e que pode resultar numa crise institucional

Igor Gielow - Governo deve preparar-se para algo maior e imprevisível

- Folha de S. Paulo

Dilma não foi acusada de malfeitos, mas isso parece contar pouco hoje

O protesto contra Dilma Rousseff, registrado em diversos centros urbanos enquanto a mandatária fazia um apelo por união nacional em rede TV, é um marco na narrativa da crise que draga o Planalto desde a reeleição.

As ruas resolveram rugir, de forma aparentemente espontânea mas pelo visto com uma mãozinha do WhatsApp e outros mecanismos, uma semana antes dos protestos programados para o dia 15.

O governo vinha tratando os atos do próximo domingo com certo desdém; agora tem motivos para se preocupar.

Se antes a insatisfação contra Dilma, expressa em pesquisas, não encontrava vazão fora das conversas no supermercado ou nas sempre radicalizadas redes sociais, o que se viu na noite de domingo foi uma impressionante manifestação pública de rejeição.

Comparações históricas são tentadoras, perigosas e geralmente falhas. Guardadas as proporções, o exemplo que ocorre é o do dia 16 de agosto de 1992, quando o então presidente Fernando Collor estava afundado até o pescoço em denúncias de corrupção.

Buscando apoio popular, ele sugeriu que "o povo", essa entidade abstrata, vestisse verde e amarelo para honrar a bandeira naquele domingo --e, ato contínuo, apoiasse seu governo.

Deu no que deu: multidões foram à rua usando preto em luto por sua gestão, que acabou impedida no Congresso pouco depois.

Não foi bem isso neste domingo. E Dilma não é Collor, ainda que ele ainda esteja aí como seu aliado e investigado na mesma Operação Lava Jato que alimenta, com a debacle econômica, a repulsa ao governo.

A presidente ainda não foi acusada diretamente de malfeitos como seu antecessor, mas na era dos julgamentos online de reputações, isso parece contar pouco.

É inequívoco o sinal da noite deste domingo de 2015, estimulado ou não por correntes nos celulares. Se achava que a crise poderia ser circunscrita em negociações palacianas e no Congresso, o governo deverá preparar-se para algo maior e imprevisível.

José Roberto de Toledo - PP progride via PMDB

- O Estado de S. Paulo

Nenhum partido progrediu tanto na Lista de Janot quanto o PP. Segundo colocado no ranking do procurador-geral, o PMDB não emplacou nem um quarto do número de alvos de inquérito do PP. Os pepistas listados incluem 3 senadores, 1 vice-governador, 2 ex-ministros, 18 deputados federais e 8 ex-deputados - inclusive o presidente do partido e o 1.º-vice-presidente da Câmara.

Todos são inocentes, até que os ministros do Supremo julguem o contrário. (Mesmo quem disse que estava andando e produzindo uma de suas especialidades para as acusações. Arrependido, o multitarefa pediu desculpas. Não se sabe se também parou de andar.)

De onde vem tanta abundância de políticos do PP na Lista de Janot? Afinal, o partido é periférico. Varia do governismo à oposição conforme as circunstâncias e conveniências. Apoiou as eleições de Dilma Rousseff e de seu nêmesis, Eduardo Cunha.

A resposta passa pelo sistema político que, pomposamente, costumamos chamar de "presidencialismo de coalizão".

No seu depoimento premiado à Justiça, o doleiro Alberto Youssef disse que os partidos aliados ao governo obstruíram as votações no Congresso por três meses até que Paulo Roberto Costa fosse nomeado diretor da Petrobrás. De fato, entre janeiro e maio de 2004, caiu muito o ritmo de votações no Senado. Mas na Câmara, nessa época, só um partido se insurgiu contra o governo: o PP.

Funcionário da estatal desde 1977, Costa foi nomeado um dos sete membros da diretoria executiva da Petrobrás em 14 de maio de 2004. Portanto, os três meses anteriores à sua promoção começariam a contar em meados de fevereiro. Do dia 17 daquele mês até 12 de maio houve 38 votações nominais na Câmara dos Deputados - e nenhuma rebelião da base: o governo venceu todas.

Porém, houve oito casos curiosos. Entre 13 e 27 de abril, o PP votou por oito vezes seguidas contra a orientação da liderança governista. Não era comum, nem foi por razões ideológicas. Prova disso é que na primeira votação de um requerimento de retirada de pauta da MP 153, em 6 de abril, o PP seguiu o governo. Duas semanas depois, em votação de requerimento idêntico sobre a mesma MP, o partido votou contra, alinhando-se à oposição.

Depois da nomeação de Paulo Roberto Costa como diretor da Petrobrás, a rebeldia do PP cessou e o partido voltou a votar sempre segundo a orientação do governo na Câmara. Conseguira seu intento e não tinha mais motivo para pressionar o Planalto.

Entre 2003 e 2005, o PP foi liderado pelo então deputado Pedro Henry (MT). Um dos listados por Janot, ele foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do mensalão. Henry passou dez meses preso no Centro de Custódia de Cuiabá e, em 2014, voltou para casa, com uma tornozeleira eletrônica.

Difícil imaginar que uma rebelião tão curta e ineficaz - porque não impediu o governo de votar e aprovar o que queria na Câmara - tenha sido suficiente para forçar a nomeação de um diretor da Petrobrás, como afirmou o doleiro Youssef. Parece insuficiente.

Se houve corpo mole de parlamentares, foi no Senado. Entre janeiro e o começo de maio de 2004, os senadores participaram de apenas 13 votações nominais - uma média ainda mais baixa do que a sua costumeira improdutividade. Nos 30 dias posteriores à nomeação de Costa, curiosamente, limparam a pauta: foram 38 votações, ou uma média mensal 12 vezes maior.

Não se pode debitar esse comportamento ao PP, que não tinha influência no Senado. Para conseguir "trancar" a pauta, como sugere o doleiro, seria indispensável a anuência das maiores bancadas da Casa. A maior, com 24 senadores, era a do PMDB - que incluía o então presidente do Senado, José Sarney, pai da listada Roseana. O líder do PMDB era o listado Renan Calheiros.

O PP pressionou, mas não teria força, sozinho, para fazer Paulo Roberto Costa diretor da Petrobrás. Não sem ajuda do PMDB.

José Casado - É só o começo

• A crise começou no mensalão em 2005 e se agrava com descobertas diárias sobre a roubalheira na Petrobras

- O Globo – 8/3/2015

Começou há exatamente um ano, com a polícia no rastro de Alberto Youssef. Na segunda-feira, 10 de março de 2014, ele acordou com uma tarefa definida: viajar a São Luís, transportando R$ 10 milhões, suborno para que agentes públicos do Maranhão liberassem o pagamento de R$ 113 milhões ao grupo UTC/Constran. Atravessou a semana em preparativos. Na segunda-feira seguinte, 17 de março, saiu de São Paulo, fez escala em Brasília e seguiu para São Luís. No hotel, ao perceber a vigilância, entregou a mala com o dinheiro e voltou no quarto onde esperou a prisão. Foi a última missão de Youssef.

Doze meses depois, tem-se meia dúzia de senadores, duas dezenas de deputados federais e quatro dezenas empresas nacionais e estrangeiras enredadas em múltiplos inquéritos sobre um bilionário roubo na maior empresa estatal, a Petrobras. Três semanas atrás, no último de seus depoimentos sigilosos, Youssef resumiu o objetivo — um projeto de poder, cuja raiz foi o mensalão: “O parlamentar não recebia por uma votação específica, mas recebiam valores mensais e ficavam vinculados a votar (no Congresso) junto com a liderança, em favor do governo.”

A certeza de impunidade prevaleceu pelo menos até meados de novembro passado. Dissipou-se com as prisões de executivos e controladores de empreiteiras: “A gente não acreditava a investigação que fosse chegar a essa profundidade”, disse em juízo na semana passada um outro operador financeiro do grupo, Shinko Nakandakari.

Antes mesmo de iniciar os 49 inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República afirma ter coletado “indícios sólidos de participação nas empreitadas criminosas” dos presidentes do Senado e da Câmara — ou seja, dois dos três personagens na linha sucessória da República —, e boa parte das bancadas do PT, PMDB e PP.

O procurador-geral sentiu-se confortável para afirmar, em petição ao Supremo, que uma das formas de lavagem do dinheiro roubado era a campanha eleitoral: “Adotada sobretudo em épocas de campanhas eleitorais, era a realização de doações ‘oficiais’, devidamente declaradas, pelas construtoras ou empresas coligadas, diretamente para os políticos ou para o diretório nacional ou estadual do partido respectivo, as quais, em verdade, consistiam em propinas pagas e disfarçadas do seu real propósito.”

Vai precisar demonstrar, individualmente, como o dinheiro roubado transitou dos cofres da Petrobras até as contas de campanhas eleitorais. As evidências acumuladas nos processos contra empresas, em Curitiba, indicam que acabou-se a era da corrupção anônima na política brasileira.

A essa altura, é impossível visualizar um epílogo. O quadro sugere, no curto prazo, uma debilidade do Congresso, o que costuma favorecer o governo — especialmente numa conjuntura em que os presidentes do Senado e da Câmara sonhavam com a submissão da Presidência da República a uma espécie de parlamentarismo forçado. É possível que para assegurar-se do enfraquecimento deles, o Executivo passe a jogar mais intensamente com seu próprio instrumental de investigações (Polícia Federal, Receita, Coaf, Banco Central) e, ao mesmo tempo, construa “pontes” legislativas com a oposição liderada pelo PSDB.

Vai depender de habilidade política, mercadoria escassa nos quatro anos de governo Dilma Rousseff e, mais rara ainda, na última década petista. Sobretudo porque o PT, alguns de seus líderes, apadrinhados, aliados e contas de campanha estão no epicentro. A crise começou no mensalão em 2005 e há 12 meses se agrava com descobertas diárias sobre a roubalheira nos cofres da Petrobras. Única certeza possível: é só o começo.

Vinicius Mota- A vez dos aventureiros

- Folha de S. Paulo

Do ponto de vista jurídico, as aberturas de inquérito contra políticos suspeitos de envolvimento na corrupção da Petrobras terão um longo caminho a percorrer. A largada simultânea dos 21 procedimentos agora desvelados será seguida por uma maratona dispersa, com cada investigação adotando ritmo próprio.

Mais competidores ainda podem entrar na corrida. É o caso de governadores, cujo foro é o Superior Tribunal de Justiça, e de outros a ser conhecidos, por exemplo, após a novíssima rodada de delações de grandes empreiteiros em Curitiba.

Na política, a longa vida do escândalo no labirinto da Justiça frustrará os cálculos dos governantes para 2018. A presidente da República e governadores reeleitos em outubro iludiram os cidadãos e adiaram correções de rumo impopulares, na expectativa de que teriam tempo de recuperar-se ao longo de quatro anos.

O plano já seria difícil de executar se apenas a variável da economia atuasse. O estrago na produção e na renda tem se mostrado mais violento e profundo do que se supunha, o que dilata o prazo e o vigor esperados para a recuperação.

O desgaste prolongado da política, alimentado pelo escândalo da Petrobras, engendra outro vetor que concorre para derrubar a popularidade de mandatários de norte a sul, em todos os níveis administrativos, no Executivo e no Legislativo.

O resultado hipotético e plausível desse caldeirão de insatisfações será uma queda na taxa de reeleição e de vitória do situacionismo, seja na disputa pelas prefeituras no ano que vem, seja no pleito de 2018. As oposições dos partidos tradicionais ampliam sua perspectiva de poder.

Mas, pelas características desse maremoto de descrédito, é para os candidatos excêntricos que a oportunidade mais sorri. O volume de surpresas aventureiras é que pode dar o tom das próximas eleições. O que é novo nem sempre é bom.