(Norberto Bobbio , em “Teoria Geral da Política – A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos”, pág. 381-2 – Editora Campus, Rio de Janeiro, 2000)
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Reflexão do dia – Norberto Bobbio
(Norberto Bobbio , em “Teoria Geral da Política – A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos”, pág. 381-2 – Editora Campus, Rio de Janeiro, 2000)
Roberto Freire:: A vez de Serra e Aécio
Se o posto era alvo de disputa pelos dois governadores, está claro que, agora, Serra é o nome da oposição para levar essa empreitada adiante.
Não existe necessidade de oficializar uma candidatura se as eleições ocorrerão apenas em outubro de 2010. Sem falar que devemos ter presente, visto não sermos Lula, que a campanha eleitoral - até julho do próximo ano - é proibida por lei.
É compreensível que a mídia e tambémos adversários de Serra queiram uma oficialização de seu nome como candidato da oposição. Mas, qual seria seu interesse em tal medida?
Afinal, Serra é responsável por governar o estado mais desenvolvido e populoso do país, está comprometido com aqueles que o elegeram para comandar São Paulo.
Pode e deve esperar o momento apropriado para oficializar a candidatura. A oposição vai dedicar-se, agora, à sua principal preocupação, que é o papel de Aécio Neves na sucessão presidencial.
O governador de Minas sabe qual é sua responsabilidade nas eleições de 2010, do peso que vai exercer na vitória oposicionista sobre este governo, que transformou o pobre em dependente, em clientela do Estado; que devolveu o Nordeste aos coronéis; que aparelhou e partidarizou a máquina pública; que despreza as leis; que admite viver numa tênue e perigosa distância de uma polícia política e uma imprensa, em sua grande maioria, controlada e tantas outras mazelas de um governo soberbo.Sobre os ombros de Aécio recai a mesma tarefa que está nas mãos de Serra e de toda a oposição. Sua posição de liderança não só de Minas, mas de todo o país, inscreve-o na história das lutas democráticas e republicanas.
Comum gesto de desprendimento e uma demonstração de grandeza, Aécio viabilizou a unidade na oposição. Ainda terá de fazer mais: levar-nos à vitória, formando com Serra uma chapa forte, símbolo da competência na administração pública, da eficiência no gasto do dinheiro do contribuinte, enfim, das lições ele que vem dando ao país ao governar Minas Gerais igual que Serra no governo de São Paulo.
Entre Serra e Aécio não existe distinção de importância política ou viabilidade eleitoral. Em 2010, eles são, igualmente, os dois brasileiros mais credenciados para comandar o país.
A oposição precisa, igualmente, de ambos. Nenhum dos dois pode abdicar dessa responsabilidade. O PPS não fala de Aécio sem conhecê-lo de perto.
O partido contribui, com orgulho, para sua gestão, que vem modernizando Minas Gerais e implementando políticas públicas exemplares, que fazem de sua administração a mais bem avaliada do Brasil.
O tempo das disputas passou. Chegou a hora da unidade, de juntar forças e caminhar para a vitória.
O Brasil precisa tanto de Serra quanto de Aécio. Estamos certos de que nenhum deles faltará a esse chamado da cidadania democrática.
Roberto Freire é presidente do PPS
'Temos dois craques; e eles, uma perna de pau'
Freire e Virgílio agradecem ao presidente por comparar Serra e Aécio a "dois Tostões". Já governador de SP evita polêmica
Gerson Camarotti e Wagner Gomes
BRASÍLIA e SÃO PAULO. A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que “dois Tostões” não teriam necessariamente resultados positivos — numa referência a uma eventual chapa puro-sangue tucana formada pelos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) — provocou reações irônicas da oposição. O presidente do PPS, Roberto Freire, chegou usar a mesma metáfora futebolística para atacar a candidata petista, e chamou a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de “perna de pau”.
— Importante é que ele já reconheceu que nós temos dois craques, enquanto eles têm uma perna de pau. Para craque sempre tem lugar no time — disse Freire, que ainda fez um apelo para que o diretório regional do PPS em Minas defenda a chapa de oposição com Serra-Aécio.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), também gostou do fato de Lula ter reconhecido que o PSDB tem dois craques.
— Tenho que agradecer ao presidente Lula porque reconhece os craques da nossa seleção. Agora, não vejo problema em escalar dois craques, como Pelé e Tostão na Copa de 70. É com a vivência do passado que podemos prever o futuro — alfinetou Virgílio, defendendo a chapa puro-sangue no PSDB.
Até no PT a declaração do presidente foi recebida com ressalvas. O presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), ressaltou que tanto na política como no futebol é possível ter dois craques num mesmo time.
— Isso não existe nem em política nem no futebol. Na política, é possível ter dois candidatos fortes combinados na mesma chapa. No geral, essa frase do Lula não se aplica no futebol nem na política — disse Berzoini.
Já o vice-líder do governo no Congresso, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), entendeu que Lula quis dar outro recado: alertou para o risco de Aécio ser anulado politicamente por Serra. Para Raupp, Aécio já percebeu esse risco.
— O que pode acontecer é que o Serra pode anular politicamente o Aécio, se ele aceitar ser vice. Caso Aécio dispute o Senado, pode até virar presidente do Congresso Nacional, e ser muito mais influente — disse Raupp.
Serra diz que não sai do foco e continua a governar Em São Paulo, Serra criticou a antecipação da campanha eleitoral e disse que não vai deixar seu trabalho à frente do governo paulista para se dedicar às questões eleitorais.
— Estou especialmente dedicado ao trabalho de São Paulo, ao trabalho de governador.
Há muita tentação de se dispersar esse trabalho com questões eleitorais, mas é uma tentação que para mim não pega. O que pega é servir ao povo do meu estado. É servir ao meu mandato de governador e ficar trabalhando em cima disso — disse Serra
Lula entrega obras no Rio em clima de comício ao lado de Dilma e Cabral
Wilson Tosta e Luciana Nunes Leal
Depois de entregar apartamentos e laptops a moradores de Manguinhos, área pobre na zona norte do Rio, no segundo ato público do dia marcado por tom de campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua pré-candidata à sucessão, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, defenderam ontem a "continuidade" do governo para que suas obras não parem.
"Essas obras têm de ter continuidade, porque, se pararem, será um retrocesso para o País", disse Lula em entrevista. "E obviamente a Dilma não poderia falar diferente: eu quero continuidade." Pouco antes, em discurso no palanque em que foram entregues chaves de imóveis e computadores, Dilma havia ido pelo mesmo caminho. "Nosso País está num momento excepcional. Vamos ter a continuidade do governo do presidente Lula, tenho certeza, não vamos deixar tudo que conquistamos voltar atrás." Lula classificou a declaração como "sabedoria de alguém que sabe que o Brasil não pode ter retrocesso".
Procurando demonstrar descontração, Dilma sorriu e lembrou a origem humilde do presidente. Condenou a falta de investimentos sociais de governos anteriores, chegou a se referir a si mesma como parte do povo local e também se referiu especificamente às mulheres - faixa em que tem pior desempenho, segundo as pesquisas.
"Vamos fazer com que cada um dos moradores aqui de Manguinhos (...) tenha no seu coração a certeza de que nós vamos mudar a vida do povo brasileiro, (...) através da escola, da formação profissional, para que cada um de nós tenha uma profissão para trabalhar e ganhar o seu dinheiro", disse ela, que ainda bradou um "viva Manguinhos, viva a comunidade".
Lula negou que a campanha tenha começado. Dilma também disse não ser ainda pré-candidata. Os discursos de tom eleitoral tiveram como cenário a inauguração de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Manguinhos. Ali, foram entregues 416 apartamentos para famílias realocadas por causa de obras, além de centros cívicos, de geração de renda, de apoio jurídico e de referência da juventude e biblioteca. Também foi instalado acesso grátis à internet, por wi-fi.
ALEMÃO
Mais cedo, no Complexo do Alemão, também para participar da entrega de chaves dos apartamentos, Lula passou uma hora na favela em clima de comício com Dilma e o governador Sérgio Cabral (PMDB), que disputará a reeleição. O presidente deixou claro o apoio a Cabral e apostou na vitória do aliado. "A cada período nós vamos fazer um novo PAC. O Sérgio tem mais quatro anos de mandato."
Lula prometeu um computador portátil em cada um dos 192 apartamentos construídos no Alemão, com acesso gratuito à internet. Os cinco primeiros foram entregues ontem. Lula lembrou que as obras foram possíveis "graças a este homem e a esta mulher, que é a coordenadora do PAC federal", referindo-se ao governador e a Dilma.
Quem visse a festa de ontem no Alemão poderia pensar estar a poucos dias da eleição, tamanha a empolgação dos políticos presentes. Só não havia a distribuição de panfletos típica do período eleitoral. Apenas um sobre o PAC do Alemão era entregue aos convidados.
Cabral assumiu a função de mestre de cerimônias e aproximou Lula e Dilma da população. Entrevistou moradores e animou a plateia. Usou até uma expressão do presidente que causou polêmica há duas semanas, durante visita ao Piauí. "O presidente Lula, que já pisou na merda , sem saneamento, que já andou desempregado, teve uma vida igual ou pior que vocês. O poder não subiu à cabeça dele. Por isso tem 80% de popularidade."
Estimulada por Cabral, a ministra fez um discurso não previsto. "Quando a gente vê as coisas realizadas, fica com essa alegria no coração. Um feliz Natal, mas também um Ano Novo de cabeça erguida, morando em condições dignas", disse.
''Não caio nessa'', afirma Serra sobre campanha já
Governador, favorito do PSDB para representar o partido em 2010, critica antecipação da corrida eleitoral
Silvia Amorim e Ana Conceição
Ao dar início ontem às obras de ampliação do Corredor Metropolitano de São Mateus-Jabaquara, no trecho entre Diadema e o Morumbi, o governador José Serra voltou a criticar a antecipação do debate eleitoral de 2010. "Tem gente tentando antecipar o processo eleitoral, tirando-me do foco do governo de São Paulo, mas eu não caio nessa", afirmou Serra durante o evento, em Diadema, no ABC paulista.
A declaração foi uma resposta às perguntas sobre a frase dita na véspera por Lula de que o governador não era "bom treinador". Na segunda-feira, os dois usaram metáforas futebolísticas ao falar da sucessão presidencial. Primeiro, Lula ironizou uma eventual chapa do PSDB com o governador de Minas, Aécio Neves, e Serra. "Eu não sei se dois Coutinhos, dois Tostões se saem bem no mesmo time", disse. Serra reagiu: "Quando um jogador é muito bom, dá para duplicar, encontra um jeito de se arrumar no campo."
Mais tarde, durante inauguração de escola técnica em Cotia, na Grande São Paulo, o governador voltou a criticar a antecipação do debate eleitoral. "Eleição é depois de abril. Eleição não vai se misturar com governo."
Serra está prevendo dificuldades para o ano eleitoral. Disse que 2010 "será um ano difícil".
NOME ÚNICO
O governador é hoje o único nome do PSDB para a corrida presidencial, após a desistência de Aécio de disputar a vaga de presidenciável tucano. Apesar do favoritismo nas pesquisas de intenção de voto, a última sondagem do Datafolha, divulgada no fim de semana passado, mostrou que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), pré-candidata do Palácio do Planalto em 2010, tem reduzido a diferença em relação ao tucano. A vantagem de Serra, que já foi de 25 pontos, está em 14 pontos, segundo o levantamento. Além disso, Dilma tem um cabo eleitoral fortíssimo, o presidente Lula, cujo governo ostenta índices recordes de aprovação.
Depois do discurso, Serra disse, em entrevista, que a dificuldade mencionada pouco antes não tinha nenhuma razão especial. "Um ano eleitoral é sempre um ano mais tenso", desconversou, encerrando a conversa com os jornalistas.
"PELÉ" DA POLÍTICA
Durante a inauguração da escola técnica em Cotia, o prefeito Carlão Machado, também do PSDB, "elegeu" Serra presidente em seu discurso. "Eu tenho certeza de que o Estado de São Paulo está contemplado com um grande governador. Mas também tenho certeza de que, quando o senhor estiver no ano que vem em Brasília, em 2011 o Carlão Camargo vai estar com as portas abertas no Palácio do Planalto", destacou, ao prometer obras para a população. O prefeito chegou a chamar Serra de "Péle" da política.
Ao terminar o evento, o governador, acompanhado do prefeito, do secretário de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e assessores, seguiu de carro até o centro da cidade para tomar café com leite numa padaria. Parou, entretanto, a alguns metros do local e continuou o trajeto a pé numa típica programação de candidato. Serra distribuiu abraços e beijos aos que passavam e tirou muitas fotos. Ouviu declaração de votos e palavras de apoio para a disputa de 2010. "Meu voto é do senhor", disse uma mulher que o abordou quando deixava a padaria. "Tem que levar 2010", comentou um rapaz. Cuidadoso, Serra respondeu com um simples "vamos ver".
FRASES
"Tem gente tentando antecipar o processo eleitoral, tirando-me do foco do governo de São Paulo, mas eu não caio nessa"
"Quero desejar um belo 2010 a todos. Aliás, 2010 será um ano difícil. Mas dificuldade e beleza não são incompatíveis. Pelo contrário, quando se combinam, tornam-se até interessantes"
Merval Pereira:: O jogo
As pesquisas eleitorais que foram divulgadas nos últimos dias, especialmente a do Datafolha, que abrangeu um universo maior de pesquisados e avaliou também a situação nos estados, tiraram o presidente Lula de seu pedestal para colocá-lo na tentativa de polemizar com o governador de São Paulo, José Serra, tornado o virtual candidato do PSDB com a desistência do governador de Minas, Aécio Neves
Ao mesmo tempo em que chamou Serra “para a briga” eleitoral, Lula demonstrou claramente que a chapa purosangue tucana, com o governador mineiro como vice, incomoda o governo. Só há uma coisa que Lula gosta mais do que uma disputa eleitoral: o futebol. (Ou será o contrário?) E, quando ele junta as duas coisas, está num terreno que domina.
Primeiro, Lula admitiu que tanto Serra quanto Aécio são craques comparáveis a Tostão ou Coutinho, dois atacantes inigualáveis.
Mas deu uma estocada elegante quando deixou a entender que não havia nenhum Pelé no time adversário.
Só mesmo Lula pode ser comparado a Pelé na política, parece ter sido o recado subliminar e bemhumorado do presidente.
Como Serra caiu na pegadinha de Lula e respondeu, dizendo que dois craques podem jogar no mesmo time, o presidente investiu novamente, desta vez para dizer que, pelo comentário, Serra não seria um bom treinador.
A brincadeira parou por aí, pois o governador paulista se tocou de que o que mais quer evitar estava acontecendo, isto é, ele estava disputando espaço político com Lula ( ou com Pelé?), enquanto sua futura adversária, a ministra Dilma Rousseff, protegida pela popularidade de Lula, só aparece na boa, sem entrar em bola dividida.
Serra, que provavelmente gosta tanto de futebol quanto Lula, e até mesmo nesse campo são adversários — Lula torce pelo Corinthians e Serra pelo Palmeiras —, resolveu encerrar o papo futebolístico para se concentrar no governo de São Paulo, onde pretende se proteger das “provocações” do presidente sob o manto de um eleitorado cativo do PSDB.
Mas teve de ouvir de Lula que estar à frente das pesquisas eleitorais a esta altura não quer dizer muita coisa, pois o Palmeiras passou o ano todo na liderança do Campeonato Brasileiro e acabou aparecendo o Flamengo na última hora para ser o campeão.
Desde o segundo turno de 2002, quando teve 38% dos votos e perdeu a eleição para Lula, que Serra aparece à frente das pesquisas com uma média entre 35% e 40% de preferências.
Quando abandonou a disputa em 2006 dentro do PSDB para deixar Alckmin perder para Lula, estava na frente das pesquisas, mas já com Lula nos seus calcanhares.
Desta vez, a decisão de permanecer no governo paulista até o último momento obedece não apenas a uma prudência exagerada, mas a uma estratégia eleitoral.
Se em finais de março os ventos estiverem mudando de lado, com uma subida avassaladora da candidata oficial, José Serra poderá sempre desistir de se candidatar para disputar uma reeleição ao que tudo indica fácil em São Paulo.
Essa opção ficou mais complicada com a desistência de Aécio, pois agora a responsabilidade perante o partido é de Serra.
Uma desistência sua não garante que o governador de Minas se disponha a sair candidato já com o estigma da derrota o rondando.
O mais provável, no entanto, é que, nesse caso, Aécio venha a aceitar “ir para o sacrifício” como candidato do PSDB, com uma Dilma turbinada pelas pesquisas.
Além de poder exercitar sua capacidade de aglutinação com outros partidos que agora estão na base do governo, e de dar ao PMDB uma boa alternativa, o governador mineiro pode no mínimo pavimentar uma carreira política nacional concorrendo à Presidência mesmo com chances maiores de perder.
Mas, caso se confirme o cenário mais provável, e o governador José Serra saia para disputar a Presidência da República em março, ter demonstrado essa dedicação toda a São Paulo terá certamente uma resposta do eleitorado paulista, que pode dar a ele uma votação tão consagradora que praticamente garanta sua vitória final.
O candidato tucano em 2006, Geraldo Alckmin, teve nada menos que 54,2% dos votos de São Paulo, derrotando Lula que teve 36,8%.
No momento, as pesquisas dão a Serra 47% das intenções de votos, contra apenas 18% de Dilma.
O sonho de consumo dos tucanos é que Serra chegue perto do índice de Alckmin em 2006, o que é provável, e que Dilma fique parada onde está agora, o que é improvável.
Nesse caso, Serra sairia de São Paulo com uma vantagem de cerca de dez milhões de votos.
O mesmo raciocínio é usado com relação a Minas Gerais. O candidato tucano em 2006 teve 40% dos votos, contra 50% de Lula.
Mesmo que o governador Aécio Neves não seja o vice, seria possível vencer a eleição em Minas com o apoio de seu grupo, invertendo a equação da última eleição.
Para se ter uma ideia da situação atual, Serra perde por 34% a 30% na Bahia; está empatado em Pernambuco em 33% a 32% e perde no Ceará de 18% a 14%. Sem a participação de Ciro Gomes na eleição presidencial, Serra empata com Dilma de 31% contra 28%.
Na região Sul/Sudeste, Serra vence em São Paulo de 47% a 18%; no Paraná de 42% contra 17%; no Rio Grande do Sul de 36% a 21% e em Santa Catarina de 39% a 16%.
O fato é que o candidato tucano terá que basear sua força eleitoral no Sul e Sudeste, onde tem larga vantagem, pois, no Nordeste, Dilma Rousseff já o superou e, embora a diferença ainda seja pequena, é provável que com o apoio do presidente Lula a candidata oficial consiga livrar boa vantagem na região, até mesmo por que a força da coligação eleitoral que a apoiará está baseada agora nos governadores do Nordeste.
Dora Kramer:: Uvas verdes
Na essência, o presidente Luiz Inácio da Silva está certo na análise que faz das ditas vantagens eleitorais da oposição. A dianteira do governador José Serra não significa que o resultado da eleição presidencial lhe será favorável em outubro de 2010, bem como a hipótese da formação de uma chapa com Serra na cabeça e Aécio Neves de vice não produz uma vitória certa.
Além de águas a mancheias para rolar, há no meio das fórmulas bem engendradas pelos partidos, o sentimento do eleitorado. Este não obedece a contas matemáticas. A soma dos eleitores de Minas e São Paulo - os dois maiores colégios eleitorais, representando quase um terço do eleitorado brasileiro - não se dá automaticamente.
Da mesma forma como a popularidade do presidente da República não se transfere mecanicamente para quem quer que seja.
Mas, como na política vale mais a forma que o conteúdo, o presidente Lula sem querer acabou marcando um gol contra no embate com a oposição. Sempre cuidadoso, desta vez Lula escorregou num ato falho cometido no improviso de uma fala qualquer que pudesse traduzir indiferença à hipótese de uma chapa puro-sangue do PSDB.
"Acho que num time de futebol nem sempre dois Coutinhos e dois Tostões, dois Dirceu Lopes dariam certo no mesmo time. Às vezes é preciso uma composição diferenciada para dar certo", disse o presidente. Na tentativa de desqualificar, acabou levantando a bola para o adversário chutar.
"Quando o jogador é muito bom, dá para duplicar", rebateu José Serra. Recebeu, de graça, a chance de sublinhar que Lula os havia qualificado de craques e a oportunidade de abordar pela primeira vez em público aquilo que já corria nos bastidores: seu desejo de ter Aécio como companheiro de chapa.
O governador de São Paulo deu, assim, mais um passo sem precisar dizer que estava caminhando.
E Lula, que não tem por hábito distribuir elogios a não ser a si mesmo, perdeu-se na confusão de produzir uma declaração que é o oposto do pensamento em vigor nas hostes governistas.
Tanto quanto a oposição deseja, o governo teme a concorrência conjunta de dois políticos de expressão nacional, com votos e influência nos dois colégios eleitorais que somam um terço do eleitorado de todo o País.
Quem acompanha política se lembra de que o PT e o Palácio do Planalto sempre apostaram na divisão do PSDB como forma de o partido inviabilizar por si mesmo as suas possibilidades eleitorais.
Não que isso esteja fora do cenário. Quando a campanha começar é que o tucanato mostrará se vai para a eleição afinado ou atabalhoado, como ocorreu nas duas últimas presidenciais.
Mas o sonho de consumo do governo, a saída de Aécio Neves do partido, não se concretizou. E se a esperança era a briga interna é porque a unidade soava ameaçadora. E continua soando ainda mais agora que o mineiro saiu do páreo.
A chapa "pura", se sair, define a eleição? Não, mas dá um trabalho danado e obriga o governo a reforçar suas tropas em dois Estados onde o PT já esteve forte, mas, por razões distintas, deixou o terreno ser ocupado pelo adversário.
Lula chama
Prova de que o governo sentiu o impacto do gesto de Aécio - e não da forma positiva como rezam as versões palacianas - que o presidente Lula saiu a campo de imediato.
Ao seu estilo simplificador, fazendo uso de metáforas que supostamente facilitam o entendimento, mas de fato nada têm a ver com a realidade do assunto tratado, o presidente provoca José Serra a sair da toca para responder às suas declarações.
Se conseguir, terá obtido sucesso no projeto de criar um clima de plebiscito já nas preliminares da campanha eleitoral.
A ofensiva não é só no campo da política. Não são ocasionais as manifestações de Lula e do presidente do Banco Central a respeito dos efeitos da eleição sobre a economia.
Henrique Meirelles prevê "tensões" e Lula aponta Dilma como fiadora exclusiva da continuidade da atual política.
A ideia é nitidamente explorar as desconfianças que o mundo dos negócios nutre em relação ao grau de intervencionismo de Serra.
Antiga musa
Em meados do ano o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o presidente da Casa, Michel Temer, diziam que Temer só não seria indicado para vice se Aécio formasse dupla com Serra e Hélio Costa precisasse ser escalado para compor a chapa com Dilma, a fim de disputar o eleitorado de Minas.
Isso foi antes de Costa liderar as pesquisas para governador do Estado. Acelerados
"O processo eleitoral está tão antecipado que já tem vereador querendo discutir boca de urna" (Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional e pré-candidato ao PMDB ao governo da Bahia).
Fernando Rodrigues:: O PT está se achando
Quando a cúpula do PMDB saiu do Palácio da Alvorada na noite de 20 de outubro, Lula ficou entretendo um pouco mais alguns petistas de sua confiança. Os peemedebistas tinham acabado de fechar um pré-acordo com o PT sobre a sucessão presidencial. O negócio estava fechado.
Michel Temer e José Sarney encabeçavam a tropa do PMDB naquela noite. Ao ficar a sós com seus aliados, Lula suspirou e disse algo mais ou menos assim: "A gente construiu o PT, trabalhou duro para chegar até aqui e agora vamos fazer aliança com essa gente...". Alguns palavrões frequentaram a conversa, mas o assunto morreu ali.
Um dia depois, Lula elucubrou sobre como se moldam as alianças políticas no Brasil: "Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
O Judas da história é o PMDB. Nesta semana, Aloizio Mercadante (PT-SP) deu uma entrevista em Recife. Fez um ultimato ao atual governador pernambucano, Eduardo Campos, do PSB, que será candidato à reeleição em 2010: ou ele apoia a petista Dilma Rousseff para o Planalto ou Lula o abandona na campanha local.
Não contente, Mercadante pontificou sobre Ciro Gomes (PSB) -que é paulista, fez carreira no Nordeste e está sendo empurrado pelo PT para a disputa ao governo de São Paulo. Para o senador, Ciro apenas "pegou o pau de arara na direção errada. Um monte de gente veio para São Paulo e ele foi para lá [Ceará]".
O petista depois consertou a fala, mas o estrago estava feito.
Há algumas semanas o PT ostenta um certo ar superior, de já ganhou. Após o Datafolha apontar Dilma isolada em segundo lugar, dirigentes petistas passaram a cravar uma vitória no primeiro turno. Autossuficiência excessiva não combina com campanhas eleitorais. Se o partido seguir nessa toada, achando-se imbatível, é real a chance de tropeçar na própria arrogância.
Fernando de Barros e Silva:: De choques e pau de arara
São Paulo - A novidade de um presidente que "fala a língua do povo" tem aspectos obviamente simpáticos. Mas o que um dia foi ganho democrático degenerou em espetáculo.
Lula criou uma mitologia em torno de sua figura. É hoje um ator satisfeito e seguro de si. Difícil encontrar quem resista a seus improvisos retóricos. As pessoas em geral acham graça das muitas bobagens que ele diz. Ai de quem se atreve a apontá-las. É crime de lesa-pátria.
Anteontem, no Prêmio Direitos Humanos 2009, Lula se dirigiu a Inês Etienne Romeu -que foi presa e torturada como Dilma Rousseff durante a ditadura: "Minha querida Inês, eu só queria te dizer uma coisa: valeu a pena cada gesto que vocês fizeram. Cada choque que vocês tomaram, cada apertão que vocês tiveram, valeu a pena porque nós aprendemos".
Aplausos da plateia...
Será preciso anotar que essa história de tortura que valeu a pena, de martírio que serve de aprendizado, é o fim da linha? Alguém, entre os que o ovacionaram, será ainda capaz de se escandalizar com algo que Lula diga? Sim, foi "só" um deslize, mas a questão é esta: tem limite?
Na mesma cerimônia, Lula disse que "a gente sofreria menos se transformasse os nossos companheiros em heróis, e não apenas em perseguidos". É a velha visão sentimental e romântica. O país seria melhor se tivesse maturidade para julgar os torturadores, em vez de distribuir medalhas às suas vítimas.
A esquerda, de resto, irá um dia desmistificar a luta armada?
Já passou a hora de reconhecer que aquilo não foi só um delírio total, mas, antes disso, um grande erro, ainda que tivesse alguma chance de dar certo.
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Do choque virtuoso de Lula chegamos ao pau de arara de Aloizio Mercadante. Em entrevista a uma rádio de Recife, o senador do PT disse que Ciro Gomes, nascido no interior paulista, "pegou o pau de arara na direção errada". Enquanto as pessoas vinham para São Paulo, "ele foi para lá (o Ceará)".
Mercadante é aquele que acusou José Serra de preconceito contra os nordestinos na campanha de 2006.
Rosângela Bittar:: O Instituto Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem, entre suas principais tarefas do ano que vem, em fim do segundo mandato e último ano de governo, a de pensar o futuro, dar forma a uma estrutura física destinada, ao mesmo tempo, a abrigar seu acervo e ser a base de um trabalho futuro que pretende, primordialmente, desenvolver na África. Definir esta atividade do futuro é algo que está evoluindo lentamente, sem pressa. O chefe do gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, tem chamado esta estrutura física, ainda hipotética, de "Instituto Lula", local destinado, em princípio, a receber seu acervo.
Houve uma época que o presidente chegou a conversar com o governador do Distrito Federal sobre a possibilidade de criar, na capital, um museu dos ex-presidentes da República, de forma que pudesse guardar alí documentos, objetos, a história de cada um e, ao mesmo tempo, dar acesso ao público a esta preciosidade.
A ideia de criação de uma instituição pública não evoluiu mas, do ponto de vista individual, está voltando ao debate nesta que representa o início de último ano de governo. Lula recebe 8 mil cartas por mês, por exemplo, com assuntos que variam dos pedidos de casa própria à correção de aposentadoria, e 52 pessoas dedicam-se à tarefa de respondê-las. Estas cartas, só para ficar neste exemplo, terão que ir com ele para São Bernardo, quando lá for morar quando deixar a Presidência da República. São centenas de presentes, objetos que vai ganhando nas viagens pelo país e no exterior. É um material que o governo acha que tem que estar disponível a pesquisas, ao acesso do público.
Esta organização será também a base política para a ação do presidente, que afasta completamente qualquer tipo de intromissão no governo do seu sucessor, seja do seu campo seja do campo adversário. Mas não vai se afastar da política. Depois de descansar uns meses, o presidente pretende desenvolver uma ação articulada de apoio ao desenvolvimento na África.
Em sua última viagem a Roma, na véspera da reunião da FAO, Lula participou do que foi definido, na sede do governo, como aperitivo deste projeto. Reuniu-se com presidentes e ministros de países africanos para debater pontos de interesse e identidade entre estes países e o Brasil. Um capítulo, por exemplo, foi o que comparou a Savana africana e o Cerrado brasileiro, que teriam condições comuns para a agricultura. A Embrapa, enfatiza o governo brasileiro, está presente em 20 países da África.
Lula fez mais viagens à África que todos os presidentes brasileiros, contabiliza sua assessoria, e está preocupado porque é preciso correr: acha que a China está numa espécie de exercício de atração fatal sobre o continente, com cantos da sereia e construção de castelos.
A imagem do trabalho que o presidente poderá desenvolver a partir desse Instituto seria a de uma caravana da cidadania. Uma caravana organizada, permanente, especialmente para a África mas, nada impede, também para a América Latina, onde acredita poder realizar trabalho semelhante.
Nas viagens programadas para o último ano de governo ainda há, por sinal, duas visitas à África. Uma, por ocasião da Copa do Mundo, à África do Sul, outra seria mais uma rodada por 3 a 4 países ainda não definidos.
Nem por ser um ano de campanha eleitoral Lula suspenderá suas viagens ao exterior, pelo menos no primeiro semestre. Em janeiro, poderá ir a Davos, na Suiça, para o Fórum Econômico Mundial.
Em fevereiro há uma viagem grande, ao México e países da América Central para a Cúpula da América Latina e Caribe. Em março, está na agenda outra grande viagem, desta vez ao Oriente Médio: Israel, Palestina, Líbano, Síria. Provavelmente em maio (pode ser antecipada) está prevista viagem ao Irã e à Rússia. E também em maio irá à cúpula Brasil-União Europeia, em Madri. Existe uma hipótese de, em junho, o presidente Lula comparecer à exposição internacional de Xangai, provavelmente no dia dedicado ao Brasil.
No primeiro semestre, o presidente vai também dedicar-se à tarefa de reorganizar o governo. Até março, agirá como tem feito agora, uma campanha esparsa para inauguração de obras, em companhia da ministra Dilma Rousseff enquanto ela ainda pode participar dos eventos como integrante do governo, sem ferir a lei eleitoral.
No fim de março vão sair vários ministros, desincompatibilizando-se dos cargos para se candidatarem ao Executivo e Legislativo. Como regra geral, os que saírem serão substituídos por pessoas da equipe de cada um, com uma ou outra exceção. Estava previsto o afastamento de 15 a 17 ministros de Estado, provocando uma renovação sem precedentes no último ano do governo.
O presidente Lula, porém, há duas semanas, fez gestões para que alguns fiquem em seus cargos, pois suas candidaturas não fazem muito sentido. É o caso, por exemplo, do ministro do Esporte, Orlando Silva, do PCdoB. O presidente acha que ele tem muito a fazer no governo e seu partido já está muito bem servido de candidatos a deputado, entre eles Aldo Rebelo e Jamil Murad.
Com certeza, estão saindo Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Justiça), José Pimentel (Previdência), Geddel Vieira Lima (Integração), Hélio Costa (Comunicações), Edson Santos (Igualdade Racial), entre os absolutamente definidos. Com a saída dos ministros, Lula dedicará um a dois meses ao comando da execução dos programas. A prioridade será governar, o presidente vai administrar mais.
No segundo semestre, Lula não pretende fazer viagens internacionais porque estará integralmente dedicado à campanha eleitoral, especialmente depois da Copa do Mundo. Fora do experiente. O presidente poderá cumprir sua agenda de presidente, dizem os auxiliares, e a partir das 17 horas pode viajar para um comício, em qualquer lugar do Brasil. Será a despedida de Lula dos comícios, acham alguns ministros. Se Dilma for eleita e fizer bom governo, ele pode até não voltar mais. Se não for eleita, voltará aos palanques no dia seguinte.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
José Nêumanne:: Vacas de presépio que se fazem de pastores
Naquelas históricas assembleias gerais dos operários metalúrgicos de São Bernardo do Campo no Estádio de Vila Euclides na segunda metade dos anos 70 do século passado, o presidente do sindicato, Luiz Inácio da Silva, que ainda não havia incorporado o apelido Lula ao sobrenome, forjou um estilo ao qual foi fiel e que ao longo dos anos aperfeiçoou com esmero. Ele tinha dois lugares-tenentes, Osmar Mendonça, o Osmarzinho, e Enilson Simões de Moura, o Alemão. Encarregava cada um de defender uma posição e, enquanto os dois discursavam, Lula observava atentamente a multidão lá do alto do palanque. Somente quando tinha certeza absoluta sobre qual seria a posição a ser adotada para agradar a plateia dava a palavra final. Ali ele subverteu a ordem monolítica, mas frágil, da ditadura militar, que logo depois desabaria, e também inverteu o sentido original da palavra líder, não mais alguém que conduz a massa, mas quem se deixa por ela conduzir. Non duco, ducor.
Os longos anos de militância no PT, na oposição em plena democracia, frágil como a ditadura que sucedeu, ainda que parecesse inquebrantável, o retirante de Caetés, Pernambuco, tornou-se aos poucos o mais manhoso e bem-sucedido político da História do Brasil por aprimorar a arte de adular a massa para permanecer no topo. É um estilo de mando que contraria o dístico latino usado para definir o orgulho paulista. Tal como citado na última linha do parágrafo anterior, não mais o "não sou conduzido, conduzo" dos bandeirantes, dos coronéis, dos estancieiros e mesmo dos mineiros manhosos do PSD, mas um esperto "não conduzo, sou conduzido", que garante a permanência no alto das pesquisas de prestígio popular. Adular o povo é o jeitinho mais eficiente e menos perigoso de perpetuar seu excelente emprego, que garante fama e fortuna fáceis e um bando de bajuladores ao redor por muito mais tempo do que jamais poderia sonhar algum pretendente ao exercício pleno do mando. Trata-se de um meio extremamente inteligente e sem riscos de exercer o poder e garantir satisfação especial para si mesmo, a família, os amigos e os compadres sem ter de adotar uma decisão difícil, angústia que sempre incomodou o repouso dos guerreiros que de fato comandam.
Os altos índices de popularidade alcançados por Lula, como não o foram "nunca antes na História deste país", não são, contudo, um fenômeno paroquial, uma esquisitice tropical num universo estranho. Como se sabe, noço guia providencial dos povos da floresta, da roça, do açude e da transposição do Rio São Francisco é o cara (man) do homem mais poderoso da Terra, Barack Obama. Há entre o menino que teve o picolé recusado pelo pai sob o pretexto de que não sabia chupar e o primeiro mulato a ocupar a presidência dos Estados Unidos da América muito mais afinidades do que pode supor nossa vã historiografia. Mas isso não se tem comprovado em seus sucessos evidentes, e, sim, em seus fiascos ocultos. Como esse sofrido por ambos na Conferência do Clima em Copenhague semana passada.
Protagonistas de reuniões que partem de intenções magníficas e terminam em nulidades tenebrosas, ambos fazem parte de uma geração de estadistas pigmeus que de tanto se preocuparem com o que oferecer aos eleitores nas próximas eleições se esquecem do mundo que estão destruindo para as próximas gerações. Os dois se assemelham ao descendente de húngaros Nicolas Sarkozy, que só se aproxima do corso Napoleão Bonaparte na estatura física, distanciando-se do exemplo de antecessores em seus postos. Como Abraham Lincoln, que fez a guerra civil para garantir a unidade da confederação americana, e Dom Pedro II, sob cuja égide foi consolidado o domínio dos brasileiros sobre este território semicontinental onde estamos instalados.
Tanto eles quanto outros conduzidos que se fazem de condutores - Sílvio Berlusconi na Itália, Angela Merkel na Alemanha, etc. e tal - são hábeis comunicadores, capazes de encantar e engabelar as massas, mas inaptos para pôr em prática o verdadeiro sentido de governar: escolher metas a cumprir e persegui-las. Obama tem a habilidade de encantador de serpentes quando discursa. Lula põe as velhas raposas felpudas da política brasileira nos chinelos quando se trata de dizer a um interlocutor o que ele quer ouvir, seja individual, seja coletivamente. Mas nenhum dos dois tem a ousadia de enfrentar adversidade alguma para traçar o caminho a seguir, seja para resolver os impasses do comércio internacional, seja para evitar a tragédia ambiental que se abaterá sobre nós se providências não forem adotadas. Aos problemas que surgem respondem: "não é comigo." Aos que podem postergar reagem: "resolveremos no ano que vem."
Foi isso que ocorreu em Copenhague, como antes já havia acontecido na Rodada Doha. Lula dá lições de moral ao resto do mundo em matéria de preservação, mas não põe fim à destruição da Amazônia com uma simples proibição de queimadas e cortes pelos bandidos internacionais da motosserra. Falta-lhe coragem para fazer o que deve, mas lhe sobram argumentos para transferir a culpa para os outros. Neste mundo em que vivemos, Obama teve o topete de defender a guerra no habilíssimo discurso que fez na solenidade em que recebeu o absurdo Prêmio Nobel da Paz.
Essas vacas de presépio que se fingem de pastores de rebanhos repetem a geração de eunucos que permitiu o avanço de Hitler e Mussolini no período entre as guerras. Em pleno século 21, o mundo está a precisar que surja um novo Winston Churchill, um líder no sentido verdadeiro da palavra (condutor), temerário a ponto de prometer "sangue, suor e lágrimas" a seu povo para, contrariando-o e provocando-lhe dor, fazê-lo emergir sobrevivente e orgulhoso da devastação de uma guerra mundial.
José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
Artur Xexéu :: Dilma vence a primeira eleição
Em uma prova do seu potencial eleitoral, a superexposta ministra, maestra do apagão e de frases como “O meio ambiente é uma ameaça so desenvolvimento” foi eleita a Mala do Ano de 2009, no tradicional certame promovido pelo colunista.
A mala do ano ou a musa do apagão
Conheça os dez mais votados na eleição mais tradicional da temporada de prêmios
Quem disse que Dilma Roussef não é boa de voto? Pois dobre a língua. Depois de uma carreira política inteirinha construída em gabinetes, a ministra participa de sua primeira eleição verdadeiramente democrática e sai vencedora. Este ano não teve para mais ninguém. Deu Dilma na cabeça.
Ela é a minha, a sua, a nossa Mala do Ano.
Justiça seja feita: Dilma fez uma campanha impecável. Quando o concurso mal tinha começado, quando ainda não havia favoritos, Dilma arrumou um apagão, deixou o país quase todo às escuras e ainda deu uma série de declarações minimizando o desastre. Não deu outra. Ficou em primeiro lugar desde a primeira apuração. E, agora, quase no finzinho, quando seu nome já estava praticamente sendo superado por outras malas de destaque, ela foi a Copenhage para dizer que “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento”.
Dilma ganhou o pódio definitivamente.
Daqui para a frente, ela pode perder todas as outras eleições a que se candidatar. Já tem um vitória. É a mala do ano, primeira e única. Pesada e sem rodinha.
A vitória por maioria absoluta de Dilma só foi ameaçada pela força que Caetano Veloso tem nessa área. Ninguém aguenta mais ouvir Caetano tendo opinião formada sobre tudo. E, nas poucas vezes neste 2009 em que o leitor pensou que passaria uma semana inteira sem ouvir falar em Caetano Veloso, o cantor dava um jeito de levar um tombo no palco, e começava tudo outra vez.
O terceiro posto ficou com um personagem que ainda não tinha aparecido em nossa lista anual. Ele é empresário, ele é rico, ele cuida da cidade, ele é mala: Eike Batista, o homem dadivoso que Madonna ainda não tinha encontrado em lugar algum do mundo. Vamos combinar que, desde os tempos em que tinha o nome na coleira da Luma, Eike merecia estar no Top Ten. Mas escapou. No entanto, a superexposição — como todo mundo sabe, superexposição é credencial VIP para entrar na lista dos dez mais — dos últimos tempos não permite que ele fique de fora. Eike conquistou um honroso terceiro lugar. É mala de rico. É uma Louis Vuitton legítima.
No quarto lugar apareceu uma mala que tinha tudo para ser a mais votada do ano, mas dividiu a preferência do eleitorado com o campeão.
É o ministro Edison Lobão, aquele que, quando soube do apagão, achou que nem era com ele, que não tinha nada a ver com aquilo.
Como já vimos, o apagão influenciou muito os votos deste ano. Mas, falando sério, é uma mala sem charme. Lobão é uma mala apagada.
Logo depois do ministro do apagão aparece uma mala pequenininha, do tamanho de uma minissaia: Geyse Arruda. A aluna da Uniban que criou, em pleno século XXI, um caso com cara de anos 50. Num primeiro momento, Geyse até teve a simpatia do eleitorado. Mas não resistiu ao primeiro flash. Aproveitou os 15 minutos de fama para ir ao programa de Luciana Gimenez, para dizer que tinha recebido convites da “Playboy”, para virar notícia em sites de fofoca, para passar por transformação em programas vespertinos da TV... Geyse é mala.
Injustiçada, mas mala. Perseguida, mas mala. Vítima de preconceito, mas mala.
Devido ao tamanho de sua minissaia, virou a pochette do ano.
O sexto e o sétimo lugares devem ser anunciados juntos. Por que um ficou na frente do outro? Por que um é mais mala do que o outro? Tenho minha teoria. Eduardo Paes, o prefeito, ficou com a sexta posição; Sergio Cabral, o governador, com a sétima. Paes, a bem da verdade, começou a eleição com poucos votos. Mas aí implicou até com o coco na praia e, na reta final, posou para quela foto em que simulava pegar uma onda sobre sua mesa de escritório. Foi fatal. Eduardo Paes é mala esportiva. E, na modesta opinião do presidente do Trema — o Tribunal Regional da Mala Eleitoral —, só ficou na frente do governador porque o eleitorado acreditou que, cravando seu voto em Sergio Cabral, corria o risco de ele não aparecer para receber o prêmio. Certamente estaria fora do país. Sergio Cabral é uma mala perdida na esteira do aeroporto.
O espaço está acabando e ainda faltam três malas a serem abertas. São malas cheias, por isso estão ocupando tanto espaço. O oitavo lugar ficou com Jesus Luz, a mala acoplada. O modelo e DJ não falou muito, mas só sua performance de papagaio de pirata (papagaio mudo, que fique claro) já foi o bastante para ele aparecer entre os mais votados.
Em penúltimo lugar, encontramos uma mala da televisão. Neste 2009 não tivemos atrizes de novela ou participantes de reality shows.
Todos os votos sobraram, então, para Luciano Huck. O principal argumento do eleitorado foi o excesso de anúncios em que ele aparece como garoto-propaganda. É justo. Uma mala comercial.
E, por último, ela, a musa da irritação, a protagonista de “Irritando Fernanda Young” que, na verdade, deveria ser chamado de “Fernanda Young irritando”. Aquela que posa para a “Playboy” e ainda faz tese a respeito. É a mala que não foi depilada.
A todas as malas que se sentiram injustiçadas por não estar nesta lista, fica um conselho: não desista. Ano que vem tem mais.
Vinicius Torres Freire:: Impostos e imposturas
Para empresários, Lula diz que sem "carga tributária forte" não há bem-estar social, lema e problema de seu governo
"Não Imaginem um país com carga tributária fraca (...). Os Estados [Europa e EUA] só podem ter o bem-estar social porque têm recursos", Lula disse. Portanto, o bem-estar social também no Brasil depende de carga tributária "forte". É verdade. Esse é o problema. Não, o problema não são "impostos que escorcham os cidadãos", como se os tributos fossem distribuídos a marcianos.
Tal arranjo deriva de um pacto social tácito que faz muito sucesso, evidente na "grande satisfação" dos anos Lula 2. Resta saber se tal arranjo pode dar em algo mais que não a reprodução de si mesmo, de sua mediocridade, de sua pobreza cinzenta e aridez de civilização: o "jeitinho brasileiro" enfim encarnado na nossa, digamos, ordem social.
Nosso "Estado tributário forte" resulta em parte da tentativa de apaziguar a multidão que nos anos 1960-70 migrava em massa para se juntar aos pobres das cidades, depois de séculos largada sem pão, paz, terra e letras. Até a ditadura percebeu o risco. Projetou uma reforma agrária já anacrônica e de resto natimorta; criou o primeiro "Bolsa Família", nos 1970. Com a democracia de massa e os tumultos do final dos 1980 e início dos 90, remediar a miséria tornou-se quase inevitável.
Parte da "tributação forte" é apropriada por quem propõe e administra o "bem-estar social" e os subsídios "desenvolvimentistas", para ricos e grande empresa (ressalte-se que a iniquidade brasileira nem de longe é produzida apenas aí). Tal sistema desabrochou com a Carta de 88, plena de tentativas ansiosas de garantir direitos. A despesa federal passou de 14,5% do PIB para 24%, de 1991 a 2008. Metade do aumento foi para gastos do INSS. Um quarto para Estados e municípios, a quem coube dar escola e saúde aos deserdados; 9% foi para salário e aposentadorias dos servidores. Na conta do economista Fábio Giambiagi, o gasto federal cresceu em média 6% ao ano de 1991 a 2009, o dobro do PIB.
Para o bem e para o mal, graças a Lula não há como voltar atrás nesse caminho sem criar conturbação séria. Politicamente, é difícil pensar como o arranjo vai se desenvolver -o que o povo pobre vai demandar?
A economia do arranjo é instável. A carga tributária é alta, mas não exatamente ou apenas porque esteja "acima da média" de países assemelhados -o "país médio" é tão real como o monstro de Frankenstein. Temos dificuldades específicas. A economia informal é imensa, o que faz a carga pesar ainda mais sobre os "formais"; inibe empreendimentos e a produtividade. Mesmo "forte", a tributação não dá conta da demanda social, crescente devido à democratização contínua e à lerdeza da mudança estrutural. Num país iletrado, de economia pequena, de moeda fraca, exposta ao mercado mundial, isso pode ser um problema.
Mas a história tem sortes. A ascensão da China nos enriqueceu; o país da miséria mitigada é desconhecido. Daí pode brotar o imprevisto.
Miriam Leitão:: O não dito
O presidente Lula disse aos jornalistas que na mensagem de Natal vai incentivar os brasileiros a investir. Deveria seguir o conselho que dá. Segundo o site Contas Abertas, dos R$ 54,4 bilhões previstos para investir em 2009, o governo só usou US$ 11,9 bilhões, 22%. Se contar o que pagou das contas dos anos anteriores, chega a 56%. O governo gastou muito e investiu pouco.
Essa foi uma das várias informações que ele não deu na sua conversa com os jornalistas. O presidente Lula não tem o hábito dos presidentes democráticos de dar coletivas. Faz seus monólogos em solenidades, se deixa atropelar às vezes por microfones, em algum evento, onde só responde o que quer. Foi o único chefe de Estado a não receber a imprensa de seu país em Copenhague. No fim do ano, toma o café da manhã com jornalistas em ambiente que lhe favorece.
O clima, nestes cafés da manhã, o deixa à vontade.
Muitos convidados na mesa em U. Ninguém pode insistir numa questão para não ser descortês com os colegas e parecer monopolizar a conversa.
Não há muito espaço para o contraditório. Assim, ele discorre sobre o que quer, sem riscos.
No ano em que o governo mais gastou dinheiro do contribuinte para salvar empresas e transferir recursos para empresários, ele fugiu do tema.
O governo até agora não disse quanto custou a conta.
Quantos bilhões de impostos não foram pagos por produtores de carros, de bens de consumo duráveis? Quanto custou ao BNDES ter resgatado empresas que se encrencaram sozinhas na especulação cambial? Quanto custou ao Banco do Brasil seus empréstimos de emergências a empresas como a Sadia? Quanto se transferiu para grandes grupos nacionais e estrangeiros em nome do aumento do consumo da população? Uma reunião assim de fim de ano é uma boa oportunidade para que a Presidência faça uma prestação de contas séria. Mas para isso teria que ser uma Presidência que entende que prestar contas é uma obrigação, e a imprensa, um dos canais.
Lula disse que “inflação é coisa séria” e que “o controle da inflação é coisa da qual não abdicaremos”, mas, ao mesmo tempo, disse que não acha necessário elevar o superávit primário, defende aumento de gastos com funcionários, faz populismo com os aposentados, e diz que se o governo tem capacidade de endividamento deve usar.
Tudo junto é uma contradição ambulante. O governo este ano gastou demais, em subsídios pouco transparentes aos empresários, elevou fortemente o gasto com funcionários em plena queda de arrecadação, reduziu o superávit primário e acha que defendeu a inflação.
Na verdade, o governo Lula foi herdeiro da superação do pior problema brasileiro no final do século XX. Herdou sem merecer, porque foi, quando oposição, adversário de cada uma das etapas do controle inflacionário.
Hoje, ele se apropria desse patrimônio. Por nunca ter entendido exatamente como se formam os riscos inflacionários, o governo Lula está minando as bases da estabilidade. E este ano de 2009 foi um exemplo disso.
O país saiu da recessão com a ajuda dos gastos públicos e porque o mundo ajudou, saindo também da recessão. Gastos públicos são o remédio num caso assim, mas o governo não demonstrou ter noção dos riscos de médio e longo prazo de um gasto corrente que cresce acima do PIB, com despesas de custeio em alta e investimento baixo.
O controle da inflação tem recaído sobre o Banco Central, e pelo uso da mais perversa das armas: a taxa de juros. Assim, se encarece a dívida do governo que já está aumentando pela elevação do gasto público.
Lula negou, durante o café da manhã, que vá ocorrer mudança na economia: “É difícil mudar o que está dando certo. Só se pode aperfeiçoar.
O governo (Dilma) vai ser a continuidade do aperfeiçoamento. Dilma tem juízo político e econômico.
Não rasga nota.” A resposta já mostra que o presidente foi para o encontro para fazer dele mais um palanque para a sua candidata e não para uma prestação de contas. A verdade é que o estatismo, do qual Dilma é a maior defensora dentro do governo, é uma ameaça concreta à estabilidade e ao projeto que nos trouxe a inflação baixa. O estatismo, o gasto sem controle, os subsídios escondidos atrás da derrama do BNDES são uma forma de rasgar nota, de ameaçar o que foi conquistado em anos anteriores aos do governo Lula.
Lula disse que a proposta do pré-sal atende a todos. A proposta do pré-sal concentra a receita na União, expropria estados produtores, divide a Federação jogando estados contra estados, transfere patrimônio indevidamente à Petrobras, dá poderes regulatórios a uma nova estatal e descarna o órgão regulador. Durante a tarde, em um dos seus monólogos, ele disse no Rio que seus antecessores nos últimos 50 anos abandonaram o estado. Ele estaria fazendo o oposto. Não deve estar lembrando que da sua base política saiu uma proposta que tira do estado do Rio R$ 10 bilhões. O governo Lula chega ao seu último ano sem ter entendido a diferença entre prestar contas e fazer propaganda.
Mikhail Gorbachev ::Um futuro para nossos netos
O último presidente da União Soviética e ambientalista ressalta a importância dos governantes diante da crise
O desafio ambiental é um dos grandes temas com os quais a humanidade hoje se defronta. Esse desafio diz respeito não apenas ao meio ambiente, mas também à possibilidade de que ocorram graves conflitos étnicos e internacionais, e está conectado às numerosas migrações de populações que implicam graves efeitos desestabilizadores na política e na economia. Tudo isso repercute na crescente pobreza e desigualdade social, na crise da água e na escassez de alimento.
Temos de agir para salvar o planeta. Esse deve ser um desafio comum a todos os governos, às comunidades econômicas e científicas e à sociedade civil. A responsabilidade principal recai sobre os Estados e as suas instituições. Só o Estado pode impor o respeito às normas e aos padrões acordados, sem os quais as tentativas de se enfrentar as mudanças climáticas são inúteis. Só o Estado pode mobilizar recursos para o desenvolvimento de tecnologias e dar suporte adequado àqueles que estão em perigo por causa das mudanças climáticas. Com frequência, no entanto, os Estados agem de modo oposto: gastam centenas de bilhões em armamentos, subvencionam indústrias que utilizam combustíveis fósseis em vez de privilegiar o setor energético e economizam em programas sociais em vez de investir no capital humano.
Nos últimos dias, os representantes de 192 países se reuniram em Copenhague, na Dinamarca, para anunciar uma nova e importante era de cooperação entre os Estados e para enfrentar os problemas causados pelo aquecimento global. A posição dos Estados Unidos desempenha um papel determinante. Sem uma contribuição significativa por parte dessa nação, não será possível obter nenhum resultado na redução das emissões ou no apoio aos países em desenvolvimento. Pouco antes da conferência de Copenhague, os discursos eram muito positivos: falava-se de “como” e não de “se”. É possível chegar a um acordo efetivo após a COP-15, mas para isso é necessário que os países industrializados e os que se encontram em desenvolvimento finalmente se entendam.
A sociedade civil também desempenha um papel importante na modificação do modo de pensar das pessoas e no exercício de pressão política. Nossa ONG, a Green Cross International (Cruz Verde Internacional), acredita que as organizações governamentais devem agir tanto em conjunto quanto individualmente. Torna-se importante aumentar os canais de comunicação e criar novas comunidades através da internet. Todos os esforços devem ser feitos para apoiar a recente iniciativa promovida por várias organizações, entre as quais a Green Cross International, o Clube de Roma e o Clube de Madri, com a finalidade de se criar e desenvolver um inventário para “além de Copenhague”. Esperamos que essa iniciativa contribua para avançarmos em busca de resultados. Procuramos também sensibilizar a opinião pública para tais problemas, enviando mensagens de alerta facilmente reconhecíveis por todos através do computador ou do telefone celular.
Não podemos permanecer inermes. Temos de agir para assegurar um futuro a nossos netos e bisnetos.