O Estado de S. Paulo
Não subsistem otimismos fáceis nem se pode
contar com horizontes finais que resistam às ‘duras réplicas da História’
Complexo e contraditório como é, todo tempo
histórico convida a conceitos-síntese que, mesmo parciais e sumários, algum
fragmento de verdade sinalizam e, de um modo ou de outro, respondem a uma
necessidade imediata do espírito.
Há duas gerações, com o “socialismo
realmente existente” assentado numa parte extensa do mundo e os processos de
descolonização, poucos discordariam de Jean-Paul Sartre, para quem o marxismo –
designado assim mesmo, sem nuances – seria o horizonte insuperável da época. As
revoluções se seguiriam como num jogo de dominó e as gestas do romantismo
revolucionário não se deteriam com a morte de Guevara, antes se multiplicariam
em mil Vietnãs. A “metrópole” capitalista estaria sob o assalto da classe
operária ou, então, cercada pelo “campo” global.
Algumas décadas depois, o espírito do tempo se inverteria. As reformas de Gorbachev chegaram tarde demais e as palavras que ele trouxera, como a glasnost ea perestroika, logo perderam o viço. Talvez tenham facilitado a implosão relativamente pacífica do anquilosado país dos sovietes – o que não foi pouco, dado o arsenal atômico ali acumulado –, mas o fato é que desapareceram sem deixar rastro, tal como o marxismo genérico antes anunciado pelo filósofo existencialista.