segunda-feira, 22 de maio de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

"O PSDB achou que tinha que desembarcar como se não tivesse nada com o governo. Ele (o partido) tem. Seria oportunismo sair correndo. O PSDB tem responsabilidade. Não cabia, a meu ver, dar uma punhalada nas costas do presidente naquele momento. Não estava nada claro
------------
Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e ex-presidente da República, na entrevista no Canal Livre da TV Bandeirantes, 21/5/2017

PSDB e DEM dão fôlego a Temer até a decisão do STF

Líderes dos partidos, pilares da base aliada do atual governo, devem esperar julgamento sobre inquérito para decidir se mantêm ou retiram apoio

Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – As cúpulas do PSDB e do DEM resolveram dar mais um prazo para Michel Temer e agora aguardam o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido de suspensão do inquérito contra o presidente, na quarta-feira, para decidir se mantêm ou retiram o apoio ao governo. Nos bastidores, os dois partidos já avaliam uma saída alternativa para a crise política, com a construção de um nome de consenso para substituir Temer, caso a situação fique insustentável e haja eleição indireta.

O problema é que ainda não há acordo sobre quem seria o “salvador” da Pátria. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), havia marcado uma reunião para este domingo, 21, em Brasília, com dirigentes e líderes de seu partido e também do DEM e do PPS para discutir a agonia de Temer após a delação da JBS. Ministros entraram em campo, porém, para pedir que o encontro fosse adiado.

Temer perde apoios e aposta tudo no Supremo

Tentativa de mostrar força fracassa e jantar com aliados é cancelado

PSDB e DEM aguardam decisão do Supremo sobre pedido de suspensão do inquérito contra o presidente; FH articula acordo com partidos, inclusive o PT, para o caso de peemedebista deixar o cargo

Diante da possibilidade de baixa adesão, o presidente Temer teve de cancelar o jantar que havia marcado para ontem com líderes aliados de seu governo. Seria uma tentativa de demonstrar força, em meio à grave crise que enfrenta desde a divulgação, na quarta-feira passada, da gravação da conversa com Joesley Batista, dono da JBS. Os convites aos líderes dos partidos começaram a ser feitos na noite de sábado, mas ontem à tarde, quando ficou claro que o quórum seria baixo, os articuladores do Planalto anunciaram que o jantar viraria “reunião informal”. Temer agora aposta tudo no STF, que quarta-feira decidirá se mantém ou não o inquérito aberto para investigá-lo. PSDB e DEM vão esperar até lá para decidir se romperão ou não com o governo. O ex-presidente Fernando Henrique tenta costurar acordo com outros partidos, inclusive o PT, para garantir “sucessão controlada” de Temer. Para ele, o peemedebista não conseguirá concluir seu mandato. Manifestantes foram às ruas em 19 capitais e no Distrito Federal para pedir a saída do presidente.

Sinal de fraqueza - Base resiste a apelo de Temer

Com adesão de apenas 29 parlamentares, presidente cancela jantar para demonstrar força no Congresso

Catarina Alencastro | O Globo

-BRASÍLIA- Um jantar marcado para a noite de ontem com o objetivo de demonstrar que o presidente Michel Temer ainda tem força no Congresso acabou se tornando uma demonstração da fragilidade crescente do governo desde a delação da empresa JBS. Os articuladores políticos do Palácio do Planalto começaram a convidar os líderes dos partidos da base entre a noite de sábado e a manhã de domingo. No início da tarde, no entanto, percebendo que havia risco de baixo quórum, aliados do presidente começaram a anunciar que o jantar se converteria em um encontro “informal”, com a presença dos aliados que estivessem em Brasília. Ao final da noite, cinco líderes de partidos da base e quatro presidentes de legendas aliadas foram ao Palácio da Alvorada.

FH vê Temer sem apoio e busca negociar com PT

Ex-presidente ligou para Nelson Jobim para articular com adversários uma saída ‘controlada’ caso presidente não resista

Pedro Dias Leite e Paulo Celso Pereira | - O Globo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avaliou, a dois interlocutores, que Michel Temer não conseguirá se manter no Palácio do Planalto até o final de seu mandato. Diante desse cenário, defendeu que tem de ser realizada uma sucessão controlada, em que haja um grande acordo entre todas as forças políticas para chegar a 2018. O tucano não ficou apenas nas palavras e, no sábado, ligou para o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim para dar início a essa articulação.

Fernando Henrique procurou Jobim, que comandou a Justiça no seu governo e a Defesa nos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, para fazer a ponte com o PT. A tese do ex-presidente é que em 2018 todos poderão se enfrentar na eleição, mas que agora o momento é de união.

FHC liga para Temer para oferecer apoio

PSDB aguarda o julgamento do Supremo sobre o pedido de suspensão do inquérito contra o presidente para decidir se rompe ou não com o governo

Tânia Monteiro | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou neste sábado, 20, para o presidente Michel Temer para oferecer apoio e recomendar que se mantenha firme e resista aos ataques que vêm sofrendo. Fernando Henrique também negou a Temer que tenha sugerido a sua renúncia, como "andou sendo noticiado". Segundo relato de um dos interlocutores de Temer, o ex-presidente afirmou que "em momento algum" disse que o peemedebista deveria renunciar.

Apesar de, nos bastidores, haver pressão no PSDB para que o partido deixe a base do governo, a conversa, segundo interlocutores do presidente, mostrou a "disposição" de Fernando Henrique em manter a legenda apoiando a gestão Temer.

A reunião entre DEM e PSDB que estava marcada para este domingo, 21, depois de articulações do governo e de líderes dos dois partidos, acabou cancelada. Caciques de vários partidos decidiram comparecer ao jantar que Temer promoveu no Palácio da Alvorada.

O momento, de acordo com interlocutores do presidente, é de "compasso de espera", aguardando a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido para suspender o inquérito aberto para investigar Temer por obstrução à Justiça, corrupção passiva e organização criminosa. O julgamento está marcado para quarta-feira, 24.

‘Não renuncio; Se quiserem, me derrubem’, afirma Temer

'Se quiserem, me derrubem', afirma Temer ao negar de novo a renúncia

Fábio Zanini, Daniela Lima, Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Enfrentando a mais grave crise de seu governo, o presidente Michel Temer (PMDB) diz que renunciar seria uma admissão de culpa e desafia seus opositores: "Se quiserem, me derrubem".

Em entrevista à Folha no Palácio da Alvorada, Temer afirma que não sabia que Joesley Batista, que o gravou de forma escondida, era investigado quando o recebeu fora da agenda em sua residência em março –embora, naquele momento, o dono da JBS já fosse alvo de três operações.

Sobre o ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, flagrado correndo com uma mala de dinheiro, Temer diz que mantinha com ele apenas "relação institucional". A atitude de Loures, para o presidente, não foi "aprovável". Mas ele defende o caráter do ex-assessor. "Coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole."
*
O sr. estabeleceu que ministro denunciado será afastado e, se virar réu, exonerado. Caso o procurador-geral da República o denuncie, o sr. vai se submeter a essa regra?

Michel Temer Não, porque eu sou chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros, por evidente não será a linha de corte para o presidente.

Mas o sr. voluntariamente poderia se afastar.

Não vou fazer isso, tanto mais que já contestei muito acentuadamente a gravação espetaculosa que foi feita. Tenho demonstrado com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma conversa. Insistem sempre no ponto que avalizei um pagamento para o ex-deputado Eduardo Cunha, quando não querem tomar como resposta o que dei a uma frase dele em que ele dizia: "Olhe, tenho mantido boa relação com o Cunha".

[E eu disse]: "Mantenha isso". Além do quê, ontem mesmo o Eduardo Cunha lançou uma carta em que diz que jamais pediu [dinheiro] a ele [Joesley] e muito menos a mim. E até o contrário. Na verdade, ele me contestou algumas vezes. Como eu poderia comprar o silêncio, se naquele processo que ele sofre em Curitiba, fez 42 perguntas, 21 tentando me incriminar?

O Joesley fala em zerar, liquidar pendências. Não sendo dinheiro, seria o quê?

Não sei. Não dei a menor atenção a isso. Aliás, ele falou que tinha [comprado] dois juízes e um procurador. Conheço o Joesley de antes desse episódio. Sei que ele é um falastrão, uma pessoa que se jacta de eventuais influências. E logo depois ele diz que estava mentindo.

Esvaziados e sob chuva, protestos pedem 'Fora, Temer' e 'Diretas-Já'

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, BRASÍLIA, CURITIBA, RIBEIRÃO PRETO - Protestos organizados nas cinco regiões do país pediram "Fora, Temer" e "Diretas-Já" em atos esvaziados que, na maior parte dos casos, reuniram poucas centenas de pessoas. Foram ao menos 17 manifestações pelo país.

Convocadas inicialmente por entidades da esquerda e por grupos da direita, as demonstrações perderam a adesão de movimentos que apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e foram castigados pelas fortes chuvas do domingo (21).

Na pauta, além da saída de Temer e da instituição de eleições diretas, os manifestantes se contrapunham às propostas de reforma da Previdência e trabalhista.

Temer tem desafios em série para dar sobrevida a governo

Bruno Boghossian, Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sob ameaça de perder os pilares de sustentação de seu mandato, Michel Temer tentará evitar o esfacelamento da base aliada e reconquistar o apoio de parcela da sociedade civil, fatores que podem selar seu futuro na Presidência da República.

Em uma semana decisiva, o peemedebista tenta conter o desembarque de partidos governistas e recompor seu apoio no Congresso, que será testado nas primeiras votações desde que foi acusado em delação do grupo JBS.

O PSDB e o DEM, dois dos principais partidos da aliança de Temer, convocaram conversas para discutir a crise que enfraqueceu Temer e reavaliar o apoio das siglas ao presidente. Caciques tucanos querem evitar rompimento brusco, mas abriram discussões reservadas sobre cenários de substituição de Temer.

O presidente tenta evitar a debandada e chamou caciques do PSDB ao Palácio da Alvorada neste domingo (21).

A avaliação é de que um rompimento dos tucanos provocaria um efeito cascata que acabaria com a sustentação do governo.

Sinal do STF define futuro de Temer

Por Andrea Jubé, Raymundo Costa, Murillo Camarotto e Maíra Magro | 

BRASÍLIA - Marcada para quarta-feira, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre se suspende ou não a abertura de inquérito contra Michel Temer será importante para definir o destino do presidente da República e do governo. Isso porque os partidos aliados, sobretudo PSDB e DEM, também aguardarão os sinais do STF para, em reunião de suas Executivas, decidir se continuam apoiando ou se abandonam a base de sustentação política de Temer.

Na contagem de votos a Procuradoria Geral da República (PGR) identificava pelo menos quatro dos onze ministros do STF como favoráveis à suspensão do inquérito. Seriam eles Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e José Antonio Dias Toffoli.

Brasil vive momento de 'anomia', diz FHC

Ex-presidente diz que, no lugar de Temer, 'a essa altura, estaria considerando o futuro do Brasil e pensando bem: será que eu tenho condições de governar?'

João Paulo Nucci |O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita que o Brasil vive um "momento de anomia" - estado que se caracteriza pela ausência de regras - e que é preciso "botar ordem na casa". "Há falta de sentido de organização e autoridade. Em toda a parte", disse o tucano em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, transmitida no início da madrugada desta segunda-feira, 22. "De repente o Ministério Público autoriza que um empresário ponha um microfone para pegar um presidente da República. Não é uma coisa banal. Por outro lado você ouve as delações, algumas conversas são impublicáveis. Por outro lado tem um ministro (do STF, Edson Fachin) que suspende um senador (Aécio Neves, PSDB-MG). Não estou julgando, mas estou dando elementos para dizer que está faltando ordem na casa."

PSDB adia discussões sobre permanência no governo

Bruno Boghossian, Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O PSDB decidiu cancelar uma reunião marcada para a tarde deste domingo (21) em que discutiria a manutenção de seu apoio ao governo Michel Temer.

A sigla havia convocado seus dirigentes e líderes parlamentares para o encontro, mas decidiu adiar a conversa depois que a Folha noticiou o encontro.

Três tucanos afirmaram, reservadamente, que tomaram a decisão de suspender a reunião para evitar um mal-estar com o Palácio do Planalto. O PSDB continua na coalizão governista e quer evitar um rompimento brusco, mas seus principais caciques já cogitam um desembarque.

Parte dos dirigentes da sigla defendem uma articulação rápida para que Temer deixe o poder, com a construção conjunta entre partidos aliados de uma candidatura para a eleição indireta que seria convocada nesse caso.

A cúpula da sigla deve retomar as conversas sobre o assunto na segunda-feira (22), em conjunto com representantes do DEM e do PPS.

Isto é o Partidão

Ancelmo Gois | O Globo

Roberto Freire, 75 anos, deixou o Ministério da Cultura, quinta-feira passada, enojado com o grampo de Michel Temer. Mas decidiu não sair atirando para não agravar ainda mais a crise.

Além disso, pediu que a sua equipe da Cultura continuasse trabalhando normalmente. Avisou ainda que o PPS vai continuar apoiando as reformas e insistiu com o seu colega de partido, Raul Jungmann, para não deixar o Ministério da Defesa:

— Nessa hora, o partido não vai contribuir para qualquer instabilidade no meio militar.

Ministro do PSB contraria partido e fica no cargo

Partido fez reunião e decidiu pedir renúncia do presidente Temer

- O Globo

-BRASÍLIA - Apesar de o PSB ter anunciado no sábado o rompimento com o governo, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, conversou com o presidente Michel Temer e informou que ficará no governo. O ministro vem liderando a ala da legenda que ajuda a dar sustentação ao governo no Congresso. Na reforma trabalhista, 14 dos 35 deputados do partido apoiaram a proposta do governo, apesar da posição contrária do partido.

No sábado, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que sugeriu ao ministro que deixasse o posto, mas que ele não era obrigado a fazê-lo.

— O ministro não é indicação do partido. Eu já sugeri que ele deixasse o cargo, ele admitiu que iria pensar. Portanto, ele tem liberdade para ficar, mas não em nome do partido — explicou.

Em reunião da Comissão Executiva, o PSB decidiu partir para a oposição e pedir a renúncia do presidente Michel Temer, porque considera que ele perdeu as condições de governar. Os socialistas também decidiram apoiar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que antecipa as eleições diretas para presidente da República. Pela Constituição, em caso de vacância da Presidência a menos de dois anos do fim do mandato tem de ser feita uma eleição indireta no Congresso.

Alckmin vê fala 'importante' de Temer e diz que 'nada mudou' para o PSDB

Rogério Pagnan | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse na manhã deste domingo (21) que o PSDB fará uma avaliação sobre a crise política no país, mas que, para ele, "nada mudou" em relação à atuação do partido após o surgimento de denúncias envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB).

"O nosso compromisso é com o Brasil. E principalmente segurar a economia. E tentar empurrar as reformas, mesmo num quadro adverso", disse. "Para nós não mudou nada. Nosso compromisso é com o Brasil, com as reformas, com retomada do crescimento, e do emprego."

E continuou. "O Brasil já passou por outras crises, superou e vai superar também essa crise."

Palavras necessárias | Michel Temer

- O Estado de S.Paulo

Defenderemos o Brasil, tendo como missão a entrega de um novo País às próximas gerações

Foi-me confiada a responsabilidade de governar o País num momento de profunda crise econômica, política e moral. Assumi essa incumbência consciente dos desafios que teria pela frente.

Recebi um País arruinado economicamente, com alta taxa de desemprego, inflação descontrolada e empresas estatais saqueadas. Encontrei um País moralmente atingido, clamando por mudanças.

Conseguimos grandes vitórias. O PIB volta a crescer, o emprego dá sinais de revitalização, gestões profissionais são introduzidas em empresas estatais, a exemplo da Petrobrás e do BNDES, há forte redução da taxa Selic; liberamos as contas inativas do FGTS, aumentamos o valor do Bolsa Família, relançamos o Minha Casa, Minha Vida, criamos o Cartão Reforma, e assim por diante. Os ganhos sociais e econômicos foram imensos. Saímos da recessão. O Brasil ganhou governo e rumo.

Quando começamos este círculo virtuoso, abandonando os vícios do passado, eis que um áudio editado, adulterado, amplamente noticiado, põe em risco nossas conquistas. É inconcebível que uma “prova” imprestável desse tipo jogue o Brasil na incerteza. Não retrocederemos!

Interrogações sobre o fator Janot e o desfecho do governo Temer: Entre uma faxina moral e a solução democrática da crise politica | Paulo Fábio Dantas Neto

O balanço dos 44 anos durante os quais a política tem sido o centro das minhas atenções, antes de militante e político, depois de estudioso e professor, permite-me o recurso luxuoso à nostalgia. Por outro lado recusa-me o direito à ingenuidade. Por essa razão não compartilho celebrações (nem as de boa-fé) que se fazem diante dos fatos e factoides que vieram a público no, a meu ver, factualmente obscuro e politicamente obscurantista dia 17 de maio de 2017.

Pessoas e grupos crentes no advento de uma nova era, isenta de corrupção política, que já se misturavam (por apoliticismo, mais do que por afinidade), a outras pessoas e grupos nostálgicos da ditadura, em protestos de rua e nas redes sociais desde 2014/2015, hoje já concordam pontualmente, na rejeição ao Governo Temer, com aquelas pessoas e grupos esperançosos de um retorno ao status quo político superado pelo impeachment de Dilma Roussef. Formou-se, por acidente, ou não tanto assim, curiosa coalizão de veto ao esforço pacificador do governo de transição. E na hora em que o governo balança e, a princípio, migra, de súbito, de um momento de consolidação para uma crise que pode ser terminal, afinidades eletivas entre os dois polos da escalada de radicalização política que persiste há três anos no País fazem ecoar o “Fora Temer” como se fosse um clamor nacional. Clamam estridentemente os que na esquerda gostariam de revogar a Lava-Jato, mesmo sabendo que a queda do governo, se ocorrer, será obra, não da oposição de esquerda ou de movimentos sociais, mas da força daquela operação. Alimentam o mesmo bordão, embora com menos alarido e convicção, antipetistas e antilulistas seguidores exaltados da Lava-Jato, mesmo vendo que a queda do governo abre brecha para os “inimigos” voltarem ao jogo do poder que lhes parecia inalcançável após as delações das primeiras semanas desse maio meio agosto.

Na contramão desse coro excêntrico, persuade-me a ideia de que o virtual fim do governo parlamentar, que talvez esteja consumado (ou quase) quando esse texto for publicado, expressa uma derrota da política. Como tal representará, para além da queda de um governo impopular, um obstáculo à reconstrução do centro político democrático, obra complexa que seguia curso sinuoso desde o ano passado, após sua destruição durante a guerra pelo controle do Estado, travada a partir da eleição presidencial de 2014.

O novo Brasil e a Lava Jato | Cláudio de Oliveira

Há quem diga que a Operação Lava Jato traz um novo Brasil, pois estaria passando o país a limpo e fazendo prevalecer o império da lei, essência do regime democrático.

Sabemos que a Lava Jato é de iniciativa do Ministério Público que, avalizada pelo Poder Judiciário, determinou à Polícia Federal proceder as investigações. A elas não podem se opor nem o Legislativo nem o Executivo, sob pena de crime de obstrução à Justiça.

Os limites das investigações são a lei e a Constituição. Eventuais abusos foram e deverão ser coibidos pelas instâncias superiores do Judiciário, entre elas, o Supremo Tribunal Federal.

Se a Lava Jato e o Judiciário fizerem prevalecer o domínio da lei, de fato, estarão contribuindo para o aperfeiçoamento institucional do país, isto é, para o novo Brasil.

A voz dos municípios: XX Marcha a Brasília | Marcus Pestana

O Brasil é um país continental, nosso território é um dos maiores entre todas as nações do mundo. 

Além disso, a diversidade econômica, social, cultural e geográfica é fantástica. A manutenção de nossa unidade nacional sempre foi um mistério. Nos unem a língua portuguesa, com suas dezenas de sotaques regionais, o Real como moeda, o Governo Federal, paixões nacionais como o futebol e nossa história comum. Não é fácil construir um projeto nacional com realidades tão diversas.

A base da organização política de nossa Federação são os municípios. São 5.561 cidades espalhadas nessa imensidão territorial, sendo que 2.690 com menos de dez mil habitantes.

Durante toda a História brasileira, a dinâmica federativa observou a alternância de movimentos de concentração e descentralização de poder e recursos fiscais. Hoje há uma inegável concentração de poder na União, que por sua vez responde pela maior parte dos gastos previdenciários e pelo pagamento de amortização e juros da maior parcela da dívida pública.

Pátria amarga, Brasil! | Ricardo Noblat

- O Globo

“Não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos” Michel Temer, presidente da República

Mesmo se o presidente tivesse só ouvido Joesley Batista, estaria igualmente enrascado. Raramente os séculos começam e acabam de fato na data marcada. O século XX começou com a guerra de 1914 e terminou com o fim da União Soviética em 1991. Dá-se o mesmo com os governos. O primeiro de Lula foi a continuação do governo Fernando Henrique por mais de um ano. O segundo de Dilma terminou antes da abertura do processo de impeachment. Na última quarta-feira, o de Temer entrou em colapso.

A hora suprema | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Armou-se um bote para nocautear o presidente da República. Uma acusação grave foi veiculada como se verdade fosse, sem que os meios para avaliá-la estivessem disponíveis. Michel Temer foi à lona, mas ergueu-se, sequelado, pouco antes do final da contagem.

Em organizações institucionais relativamente complexas como a brasileira, seria improvável a queda instantânea do chefe do Executivo, mesmo no caso de um político arqui-impopular como Temer.

A sobrevida do governo deu ao país a oportunidade de discutir não apenas o destino do presidente, mas também as anomalias da ação investigatória, do acordo de delação que a ensejou e das conclusões iniciais do ministro Fachin.

A batalha de Waterloo | Ranier Bragon

- Folha de S. Paulo

As próximas 72 horas demonstrarão a real consistência da liga que ainda mantém de pé a cada vez mais cambaleante pinguela comandada por Michel Temer.

Se até quarta o peemedebista não conseguir imprimir um mínimo de normalidade e controle sobre o Congresso, a vaca pode ir para o brejo.

Temer não tem militância que o defenda e sua popularidade é similar à de corda em casa de enforcado. É o conjunto de deputados e senadores que liderou o impeachment de Dilma Rousseff que o sustenta no cargo.

O preço | Fernando Limongi

Por enquanto, os Batista são os grandes vencedores

- Valor Econômico

Fez-se o caos. Um novo personagem entrou em cena e o enredo sofreu verdadeira revolução. Aturdidos, os leitores, digo eleitores, perderam o fio da meada com a mudança do eixo narrativo. Difícil redefinir quem é o mocinho e quem é o bandido. Sobretudo, difícil definir aliados e inimigos.

No calor da hora, anunciadas as gravações das conversas entre Temer e Joesley, ouviu-se um só grito: basta! Direita e esquerda chamaram seus militantes de volta às ruas. Não juntos, cada um de um lado da avenida, mas todos irmanados na mesma corrente: Fora Temer!

O governo entrou em decomposição. Ministros escreveram cartas entregando seus cargos. O PSDB e o PPS arrumaram suas malas. O PT vislumbrou a chance de ouro para se reerguer: eleições diretas já.

Cenários voláteis | Cida Damasco

- O Estado de S.Paulo

Incerteza é o nome do jogo. E pode se arrastar, ampliando os estragos na economia

Temer fica, pelo menos por enquanto. A equipe econômica também. Temer sai logo. A equipe econômica fica. Temer e equipe econômica vão embora. Especialistas de plantão iniciam a semana debruçados sobre esses cenários básicos e suas implicações no comportamento da economia daqui para a frente. Afinal, o mundo da economia tem sua própria lógica.

Mercados, agências de risco e setores empresariais olham para os indicadores econômicos com lentes que nem sempre coincidem com as dos cidadãos comuns. Enquanto as atenções e especulações da maioria da população dirigem-se para novas revelações da delação dos irmãos Batista, para as palavras e o silêncio de Temer na tal conversa com o empresário, para a suposta manipulação das gravações e para a arbitragem do Supremo na contenda Planalto versus PGR, no universo da economia o sonho de consumo é, antes de tudo, uma solução rápida, que preserve a equipe econômica e a sua política. Principalmente, as reformas constitucionais.

Economia é resistente à crise entre poderes | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Em parceria, BC e Tesouro atuam como seguro ao mercado

Dinheiro não tem pátria, nem carimbo. Essa definição corriqueira do capital financeiro foi consolidada no Brasil de crises cambiais, fiscais e políticas. As crises cambiais - hit dos anos 80 e 90 - minaram a confiança de investidores estrangeiros no Brasil; as fiscais desacreditaram o governo Dilma Rousseff em praça pública e as políticas testam as convicções dos governantes e o apoio de seus aliados desde a instalação da Lava-Jato. Há alguns meses, uma crise moral se instalou no país, fragiliza todas as instâncias de poder da República e testa a resistência de grandes empresas nacionais - algumas multinacionais por obter benesses do governo.

Revelações que atestam a geração de uma base monetária de propinas em troca de facilidades empresariais, profissionais e pessoais ainda surpreendem e multiplicam obstáculos que desviam a economia da rota do crescimento. Com o brasileiro enredado pelo constrangimento, faz-se atual e oportuno o discurso de posse de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, em março de 2015.

O crime da calúnia | Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Nos últimos dias, minha vida foi virada pelo avesso. Tornei-me alvo de um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade.

Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que é pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme tristeza. Também, por certo, alimentaram decepção naqueles que confiaram em mim ao longo de minha vida pública. É principalmente a estes que ora me dirijo.

Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de reerguer o país, o que, avalio, vem sendo bem-sucedido. Há, porém, muitos insatisfeitos e contrariados com as mudanças em marcha.

Golpe de mestre – Editorial | O Estado de S.Paulo

O Brasil está sofrendo prejuízos incalculáveis com as delações dos donos da JBS. Mas houve quem saísse no lucro – em especial os próprios delatores. E que lucro.

O acordo para a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, fechado com o Ministério Público Federal, prevê imunidade completa para os dois. Eles não passarão um minuto sequer na cadeia nem terão de usar tornozeleira eletrônica, podendo deslocar-se pelo mundo como bem entenderem, inclusive com residência fora do País. Tampouco serão obrigados a deixar o comando da JBS. A única punição para os Batistas será o pagamento de uma multa, além da entrega dos negócios ilegais da JBS.

Foi um negócio da China. A ser verdade o que relataram aos procuradores, os Batistas cometeram diversos crimes. Na gravação que chegou ao conhecimento do público e que está no centro da crise enfrentada pelo governo de Michel Temer, Joesley comenta com o presidente que comprou políticos e até um procurador da República para obter informações sobre investigações contra a JBS. Em outros anexos, o empresário relata como corrompeu dúzias de parlamentares, servidores públicos e partidos.

Atraso agrava desequilíbrio – Editorial | O Globo

Este é um debate de 30 anos; portanto, já se sabe dos riscos de não se fazer a reforma

Nenhuma reforma em sistemas de seguridade social e similares, no mundo democrático, tramita sem turbulências, por afetar, de alguma forma, toda a população. E quanto maior a natural resistência, maior a demora nas mudanças. Que terão, por isso, de ser mais dolorosas. Ou feitas em sucessivas e desgastantes etapas. A não ser que haja lideranças políticas capazes de explicar à sociedade a imperiosa necessidade de possíveis perdas hoje, para que o sistema ganhe estabilidade e garanta os benefícios para filhos e netos. Está em jogo, nestes momentos, o compromisso com as próximas gerações. Isso precisa ficar claro.

Por um fio – Editorial | Folha de S. Paulo

Passado o impacto inicial -e arrasador- da delação da JBS, o presidente Michel Temer (PMDB) dedica-se a convencer uma audiência restrita de que tem condições de permanecer no cargo.

Impopular desde a origem de seu governo, Temer não se dirige ao público geral quando apresenta sua defesa, como fez no pronunciamento deste sábado (20). Fala, principalmente, às instituições do Judiciário e aos partidos de sua base de sustentação no Legislativo.

Sua tarefa, dificílima, é contestar os indícios e procedimentos que motivaram um inquérito contra si e, mais relevante de um ponto de vista pragmático, evitar a debandada de sua coalizão parlamentar.

O presidente não deixa de ter razão ao apontar inconsistências, de forma e conteúdo, na gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista. Também procede o raciocínio de que a manobra contribuiu para que o delator, criminoso confesso, hoje viva em liberdade nos Estados Unidos.

Se prolongada, crise política pode levar a colapso econômico – Editorial | Valor Econômico

O mercado financeiro teve uma leve reação na sexta-feira, depois da forte queda um dia antes, mas isso não significa que o risco foi superado: a crise que paralisa o governo Michel Temer, se não for domada, poderá levar a um colapso econômico. Enquanto não se chega a um consenso político para dar continuidade à agenda de reformas, será necessário formar um cordão de proteção na área econômica para manter o funcionamento mínimo do governo e do país e evitar a pilhagem por grupos oportunistas de interesse.

Embora tudo indique que a economia voltou a crescer no primeiro trimestre, a recuperação é frágil, com a oscilação entre indicadores positivos e negativos. A delação dos empresários Joesley e Wesley Batista, controladores da JBS, provocou um choque de grandes proporções que - caso se prolongue - pode levar a uma restrição ainda mais severa de crédito, nova queda nos níveis de confiança e à quebra de empresas. Seria um segundo mergulho numa recessão que já dura três anos, e um passo na direção ao abismo da depressão, com consequências sociais devastadoras.

Do fundo do fim do mundo | Fernando Pessoa

Do fundo do fim do mundo
Vieram me perguntar
Qual era o anseio fundo
Que me fazia chorar.

E eu disse, "É esse que os poetas
Têm tentado dizer
Em obras sempre incompletas
Em que puseram seu ser.

Ë assim com um gesto nobre
Respondi a a quem não sei
Se me houve por rico ou pobre.

Dori Caymmi - Manhã de Pescaria