Marina Falcão – Valor Econômico
RECIFE - Os governadores do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte lançaram mão de todo o seu arsenal político na disputa pela instalação do primeiro hub internacional de conexões Latam, controladora da brasileira TAM e da chilena LAN, no Nordeste. Com capacidade para gerar 10 mil empregos, o empreendimento pode ser a primeira boa notícia para a economia desses estados desde o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).
A Latam anunciou, há dois meses, que vai escolher entre os aeroportos de Fortaleza, Recife e Natal para instalar o hub, o segundo internacional da companhia no Brasil (o outro fica em Guarulhos). Até o fim do ano, a empresa vai avaliar critérios como localização geográfica, infraestrutura aeroportuária, potencial de desenvolvimento e experiência do cliente. Nenhum dos governadores acredita que processo de escolha está completamente imune ao jogo político.
A inclusão do Aeroporto Internacional Pinto Martins (Fortaleza) no pacote de concessões, no início do mês, acirrou a concorrência. Camilo Santana (PT), governador do Ceará, diz que "brigou" para que o aeroporto de Fortaleza estivesse no pacote em detrimento de outros no Nordeste (como o do Recife). Santana disse ao Valor que a concessão foi um ponto fundamental colocado pela Latam durante reuniões iniciais em São Paulo. Até então, o Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, é único dos concorrente que está nas mãos da iniciativa privada - o empreendimento é administrado pelo Consórcio Inframérica.
"Se tiver algo que o governo federal possa fazer, eu vou pedir e vou cobrar. Eu considero que é um investimento importante para o Estado, principalmente diante da recente decisão da Petrobras de cancelar refinaria no Estado", disse Santana.
Questionada sobre o peso da concessão do aeroporto de Fortaleza na sua decisão final, a Latam disse apenas que "os três aeroportos selecionados têm pontos fortes e pontos de melhorias. Todos têm potencial de desenvolvimento da infraestrutura já existente, que será um fator-chave para a definição".
Santana disse ainda que conseguiu garantir recursos com o governo federal para que uma obra de ampliação de Aeroporto de Fortaleza seja iniciada ainda em julho ou agosto. Ou seja, antes mesmo da concessão do empreendimento ser executada, o que é previsto para o primeiro semestre do próximo ano. A ampliação do terminal, que deve ficar a cargo da paranaense Sial, custará R$ 371 milhões.
Para o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), o fato de Fortaleza estar no pacote de concessões não é crucial para a Latam. "A Latam está acostumada a negociar com a Infraero, que se tornou nossa aliada. Afinal, somos o único entre os três aeroportos que ficou com a Infraero", disse Câmara a lideranças políticas e empresários, em evento convocado logo após o anúncio do pacote de concessões, no Recife.
Há duas semanas, Câmara mobilizou toda a bancada federal do Pernambuco e ex-governadores para pedir empenho no lobby para atrair o empreendimento para Aeroporto Internacional dos Guararapes (Recife). Uma missão, em especial, foi destinada ao senador Humberto Costa (PT): tentar destravar a liberação de uma área de 1.300 metros quadrados no entorno do aeroporto do Recife com o Ministério da Defesa, comandado pelo também petista Jacques Wagner. Sem a cessão desse terreno, que pertence à Aeronáutica, a capital pernambucana fica praticamente fora da disputa.
Entre os que estão na briga, Pernambuco é o único Estado cujo governador é de um partido não aliado da presidente Dilma Rousseff. Agradar a ala pernambucana do PSB - ou pelo menos não atrapalhar o Estado durante o processo de concorrência - pode ser estratégico para o governo tentar atrair para a sua base um partido que hoje se coloca como independente.
Com a economia e número de eleitores menor bem menor do que Ceará e Pernambuco, o Rio Grande do Norte corre por fora, mas está na briga. Robinson Faria (PSD), governador do Estado, diz acreditar que a decisão final da Latam obedecerá critérios técnicos, mas, nem por isso, pretende ficar parado na esfera política. "A economia de todo o país, e o Nordeste não escapa disso, está devagar. Por isso esse hub se tornou tão disputado", diz Faria.
Do mesmo modo que Pernambuco e Ceará, Faria reuniu aliados e opositores políticos em um encontro simbólico de apoio ao hub no Aeroporto São Gonçalo do Amarante este mês, em Natal. Ele aposta no apoio do Ministro do Turismo Henrique Alves (PMDB), tradicional parlamentar do Estado e seu opositor derrotado nas últimas eleições. "Se eu fosse ministro do Turismo, eu ajudaria o meu Estado. Se ele não ajudar, é até estranho. Afinal, ele tem 12 anos de mandato pelo Rio Grande do Norte", afirma Faria.
Publicamente, Alves tem evitado sair em defesa explícita do hub em Natal, alegando que se trata de uma decisão da Latam.
O recém inaugurado aeroporto de Natal é o mais novo entre os concorrentes e único já privatizado. No entanto, conta com a desvantagem de ser o mais distante do centro da capital. Um acesso viário ao aeroporto está sendo construído, mas ainda falta a liberação de cerca de R$ 88 milhões de recursos contratados com a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil para a obra.
Com investimento entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão em remanejamento de frota, a Latam deve iniciar as operações do hub já em 2016. Instalado, o empreendimento beneficia todo setor de turismo, segmento de particular importância para os três estados envolvidos na disputa.
Enquanto o mercado de trabalho do Rio Grande do Norte começa agora a se recuperar de um ciclo de demissões no setor têxtil e de cerâmica, Pernambuco e Ceará ainda amargam os dissabores da crise da Petrobras. No início do ano, a estatal suspendeu a construção da Refinaria do Pecém (CE) e, pelo menos por enquanto, colocou em banho maria a segunda fase da Refinaria Abreu e Lima (PE).
Em Pernambuco, a situação piorou com o fechamento de vagas no Estaleiro Atlântico Sul, afetado pela crise na Sete Brasil. No primeiro trimestre, o Estado foi o campeão de fechamento de vagas de trabalho no país, com a eliminação de 35 mil postos, de acordo com o Caged.