quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Merval Pereira: Última cartada

- O Globo

A disputa interna no PT está mais acirrada do que se pensa. Por incrível que pareça, há quem defenda o boicote às eleições

A realidade deve se impor nos próximos dias, e a máquina propagandística do PT terá que carregar Haddad ao segundo turno. Por enquanto, essa confusão toda não o tem beneficiado. Ele cresceu dentro da margem de erro na pesquisa do Ibope divulgada ontem, e Ciro é quem mais ganhou o espólio do lulismo órfão de seu líder. Com isso, empatou com Marina, enquanto Alckmin moveu-se pouco, dentro da margem de erro. Marina manteve sua posição, mas foi a única que não cresceu, o que acende uma luz amarela.

O dado importante é que a rejeição a Bolsonaro aumentou muito, desafiando as avaliações técnicas de que um candidato com 40% ou mais de rejeição não se elege. Bolsonaro está bem acima dessa marca, e a rejeição, crescendo. Pode significar que suas chances de vencer no segundo turno estão diminuindo.

A estranha sensação de tentativa de golpe judicial ficou no ar com a sucessão de recursos que a defesa do ex-presidente Lula fez nas últimas 24 horas contra a sua inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), baseados na tese de que a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU tem que ser obedecida, dando a ele o direito de concorrer à Presidência da República mesmo preso em Curitiba.

Os advogados de defesa foram ardilosos ao encaminhar o recurso de tal maneira que ele caiu automaticamente com o ministro responsável (prevento) pela Lava-Jato, Edson Fachin. Isso porque ele foi o único voto favorável à tese da defesa, surpreendendo seus colegas de tribunal no TSE.

Como é impensável que o voto e o recurso estivessem previamente combinados entre as partes, a artimanha não terá efeito. O ministro Edson Fachin provavelmente vai continuar defendendo sua posição no relatório que encaminhará o caso à análise do plenário, mas nenhum de seus pares considera possível que venha a tomar uma decisão monocrática, concedendo a liminar a Lula. Embora as pressões estejam grandes.

William Waack: ‘Chamado à razão’

- O Estado de S.Paulo

Nenhum dos oficiais de alta patente antecipa tranquilidade e estabilidade pela frente

A coluna é dedicada ao que pensam os militares sobre o momento político. Condensei mais de dezena de longas conversas recentes com oficiais de alta patente das três armas, quase todos da ativa, incluindo dois comandantes. Oficiais generais não manifestam qualquer disposição para a tal “intervenção” militar. Mas se perguntam, sem conseguir responder, o que fazer se houver rompimento de um tecido social já “esgarçado” (expressão muito usada por eles). O cenário mais temido é a quebra de lei e ordem “no caso de uma besteira qualquer do STF beneficiando o Lula” ou, pior, da reconhecida falta de contingentes para atuar no caso de greves de PMs ou a paralisação do País por bloqueios simultâneos de rodovias.

“Achamos que devemos, sim, alertar em público e em privado para perigos e chamar à razão pessoas com responsabilidades”, diz um interlocutor. Assim foi entendido, por exemplo, o já célebre tuíte do comandante do Exército às vésperas do julgamento de um habeas corpus em favor de Lula, em abril. Oficiais registraram com alívio sinais, vindos de contatos diretos com integrantes do STF, de que “não haveria surpresas” até o fim do período eleitoral, o que inclui questões envolvendo a Lei da Anistia, um ponto descrito como inegociável – boa parte dessa sensação vem da indicação do general Fernando Azevedo e Silva, até agora no comando do Estado-Maior do Exército, como assessor do ministro Dias Toffoli, que assume a presidência do STF. Esse oficial é uma das principais “cabeças políticas” nas três armas.

Esse “chamado à razão” – na verdade, um alerta e uma advertência – resulta menos de um cálculo para interferir na política e mais para “aliviar enorme pressão” vinda de escalões inferiores nas estruturas de comando. “Você imagine que um maluco de saco cheio com a política comande um pequeno destacamento bloqueando algum lugar – digamos, Curitiba – e aí ninguém segura mais nada”, admite-se, por hipótese. “A fragilidade do atual governo é um absurdo, e a falta de autoridade também”, comenta-se. “Não dá pra achar que a gente vai salvar políticos incompetentes desse desastre.”

Maria Cristina Fernandes: O caos, a farda e a toga na aliança de Bolsonaro

- Valor Econômico

Aliados do PSL radicalizam por vitória no 1º turno

No canto superior esquerdo da convocatória da mobilização da categoria para segunda-feira, lê-se "O senhor abençoa os caminhoneiros". O último parágrafo do texto trata das consequências do movimento e anuncia os riscos de não se adotarem as providências necessárias "afim [sic] de evitar esse caos que ronda nossa pátria".

As digitais do bolsonarismo estão todas lá. Permaneceram intactas porque os empresários que as fomentaram na paralisação de maio não foram punidos e o governo abriu os cofres para os oportunistas de plantão. Atenderam-se a interesses localizados e mantiveram-se latentes as insatisfações generalizadas associadas à única categoria que, de fato, demonstrou ter poder de parar o país.

A convocatória não reverberou, mas seu aparecimento, concomitante ao início do horário eleitoral gratuito, é revelador do movimento que se insurge para tomar o lugar do lulismo como o eixo desta disputa.

Só o caos favoreceria a eleição de um candidato que sobrepõe a força à razão. Na tarde de domingo, um motociclista que esperava na fila sua vez de ser abastecido, na Região Metropolitana do Recife, tirou, aos berros, um adesivo de Jair Bolsonaro para colar no bagageiro.

Bruno Boghossian: Filtros entupidos

- Folha de S. Paulo

Tribunais e investigadores apressam passo contra Bolsonaro, Haddad e Alckmin

Os filtros da máquina de depuração política lançada pela Lava Jato estão entupidos a 31 dias da eleição. Promotores, procuradores e juízes jogaram às pressas no aparelho tudo o que encontraram pela frente. Nem eles sabem ao certo o que sairá do outro lado da esteira.

Só nos últimos nove dias, desfilaram em passo apressado ministros do STF que decidiam se Jair Bolsonaro deveria se tornar réu por racismo, promotores que apresentaram duas denúncias contra Fernando Haddad e integrantes do Ministério Público que processaram Geraldo Alckmin por caixa dois.

A ansiedade contaminou o Ministério Público e o Judiciário na primeira disputa nas urnas desde que as duas instituições assumiram protagonismo na vida pública do país. Sob os holofotes da corrida presidencial, órgãos de investigação e julgamento se apressaram ainda mais para reagir a uma demanda sem precedentes por moralidade na classe política.

É difícil acreditar que promotores e juízes não mantivessem um calendário em seus gabinetes com um grande X no dia 7 de outubro.

O julgamento de Bolsonaro no Supremo antes da eleição contrariou alguns ministros e agora está à espera do voto final. As denúncias contra Haddad vieram em série assim que ele foi alçado a reserva de Lula. A acusação contra Alckmin chegou a ser acompanhada de uma convocação a todo o Ministério Público, em uma inusual demonstração de força.

Daniela Lima: A loucura como método


- Folha de S. Paulo


Bolsonaro resolveu testar os limites da fidelidade de seu eleitorado

Especialistas em marketing político que acompanham a eleição presidencial à distância veem motivo, razão e circunstância para a mudança de tom que Jair Bolsonaro (PSL) empregou ao seu discurso nos últimos dias.

No Acre, o deputado federal falou em "fuzilar a petralhada"; no Distrito Federal, chutou um Pixuleco; ao comentar o incêndio no Museu Nacional, fugiu do figurino emocional que os outros candidatos vestiram: "Já pegou fogo. Quer que eu faça o quê?".

Bolsonaro resolveu testar os limites da fidelidade de seu eleitorado e parece ter concluído que o discurso radical, sem papas na língua, feito com o fígado, encontra ainda mais guarida entre os que, irritados com a política, enxergam nele alternativa a "tudo isso que está aí"

Publicitários que atuam na campanha eleitoral começam a desconfiar que o presidenciável do PSL cristalizou o voto de uma fatia significativa do eleitorado e decidiu falar apenas com esse grupo, para garantir seu ingresso no segundo turno.

É o que acha, por exemplo, a equipe que faz a campanha de Ciro Gomes(PDT). Os conselheiros do pedetista acreditam que, hoje, apenas uma vaga está em jogo na segunda etapa da disputa —e que a bola está no campo da centro-esquerda.

O único adversário que tem arsenal e interesse em fazer frente a Bolsonaro neste momento ainda tenta achar a embocadura de um ataque efetivo.

Geraldo Alckmin (PSDB), que diferentemente dos outros candidatos considerados competitivos, tem tempo de televisão suficiente para se apresentar e também atacar o capitão reformado do Exército, ainda não sabe se conseguiu dar um tiro que cause avarias significativas na armadura de Bolsonaro.

Ricardo Noblat: Luz vermelha na campanha de Bolsonaro

- Blog do Noblat

O campeão da rejeição

A pesquisa de intenção de voto do IBOPE, divulgada há pouco pelo Jornal Nacional, só trouxe notícias ruins para o deputado Jair Bolsonaro (PSL), candidato a presidente.

Ele lidera a primeira pesquisa aplicada sem o nome de Lula. Mas se comparado ao de agosto, seu índice de intenção de votos no primeiro turno oscilou dentro da margem de erro.

Passou de 20% para 22%. Em compensação, cresceu o percentual dos eleitores que dizem que jamais votariam nele. Bolsonaro é o campeão da rejeição com 44%.

Em um eventual segundo turno, seria derrotado por Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE) ou Geraldo Alckmin (PSDB). Empataria com Fernando Haddad (PT).

Até o fim do primeiro turno, o esporte preferido dos principais candidatos à sucessão do presidente Michel Temer será o tiro ao alvo – no caso, Bolsonaro.

E ele não terá como se defender no rádio e na televisão.

As 7 coisas mais importantes da pesquisa IBOPE
O eleitor quer escolher

1) Ciro Gomes (PDT) foi o único candidato que cresceu nas intenções de voto para além da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais. É o que derrotaria, hoje, com mais folga Bolsonaro em um eventual segundo turno. Dos principais candidatos, é o que tem a menor rejeição. Com a saída de Lula, foi o que mais subiu no Nordeste.

2) Bolsonaro lidera. Ganha com folga entre os eleitores homens, os jovens na faixa dos 16 a 24 anos, no Centro Oeste e no Norte, e entre os eleitores com maior faixa de renda e maior nível de escolaridade. Sua rejeição só faz crescer. Num segundo turno, perderia para Ciro, Marina Silva e Geraldo Alckmin. Empataria com Fernando Haddad.

3) Alckmin continua empacado. Sua rejeição está em queda.

4) Marina Silva não saiu do lugar.

5) Na medida em que começa a crescer embora ainda lentamente, a rejeição a Haddad só aumenta.

6) Caiu de forma expressiva o percentual daqueles que diziam estar dispostos a votar em branco ou anular o voto. Diminuiu dentro da margem de erro da pesquisa o percentual de eleitores indecisos.

7) A eleição, hoje, resume-se à disputa entre Bolsonaro, Ciro, Marina e Alckmin. Mas é uma eleição em aberto. As pesquisas da próxima semana certamente deverão jogar mais luz sobre as reais chances dos candidatos.

A escolha de Bolsonaro
Ordem unida

Uma vez que sua rejeição só aumenta, que as mulheres resistem a votar nele e que não dispõe de tempo de propaganda suficiente para se defender de ataques no rádio e na televisão, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) escolheu manter sua tropa unida.

É para ela que passou a falar, radicalizando seu discurso. É no meio dela que desfilará. Aposta que se comportando assim poderá garantir seu lugar no segundo turno. De fato, foi uma escolha de quem não tinha outra menos arriscada.

Vera Magalhães: Antipetismo é a maior chance de Bolsonaro; e vice-versa

- O Estado de S.Paulo

O melhor dos mundos para os extremos é se enfrentar no 2.º turno da eleição presidencial. Tanto Jair Bolsonaro (PSL) quanto Fernando Haddad (PT) têm na disputa mano a mano a melhor chance de se eleger presidente. O candidato do PSL segue liderando a disputa para chegar à 2.ª fase. O do PT patina, num sinal de que talvez o partido tenha levado longe demais a estratégia de esticar a corda da candidatura inviável de Lula.

É verdade que Bolsonaro oscilou positivamente, na margem de erro. Mas a maior movimentação foi no miolo, num sinal de que o deputado é resiliente, tem um voto consolidado, mas encontra dificuldade de expandir esse eleitorado. Comprovações disso são a rejeição recorde entre todos os postulantes e o fato de perder com relativa margem para quase todos os oponentes testados no 2.º turno – exceção feita justamente a Haddad.

Dos dez pontos porcentuais que migram do bloco de brancos, nulos e indecisos e dois que saíram dos nanicos, grosso modo é possível dizer que Bolsonaro abocanhou dois pontos, enquanto candidatos do pelotão intermediário cresceram dez, numa demonstração de que há espaço para um voto moderado. A se manter esse movimento, são praticamente nulas as chances de vitória no 1.º turno, mas também vai ficando difícil para os adversários tirá-lo da final, como imaginavam que seria fácil.

Aliás, a campanha na TV não causou nenhum arranhão no casco do PSL nos primeiros dias – tucanos e petistas, os mais interessados nos milagres que a propaganda pode operar, dirão que ainda é cedo para isso.

Geraldo Alckmin oscilou para cima, mas o ritmo ainda é insuficiente para atestar se, a despeito da vantagem estrutural que tem com a enorme aliança que construiu, conseguirá ir ao 2.º turno – se for, se torna bastante competitivo, como mostra a pesquisa.

A outra pergunta de US$ 1 milhão de 2018 – se Lula será capaz de, mesmo preso, transferir seu espólio a Haddad – também tem como resposta do primeiro Ibope após o TSE indeferir a candidatura do ex-presidente um “ainda não”. Por ora são Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) os maiores usufrutuários destes votos, ainda que não sejam herdeiros legítimos.

Paulo Celso Pereira: Mudou, enfim, o horário da novela

- O Globo

Há um velho bordão repetido em Brasília que diz que “eleição só começa quando muda o horário da novela”. A primeira pesquisa após o início do programa eleitoral de rádio e TV prova que, enfim, a eleição entrou na vida dos brasileiros. Há diversas evidências disso. Duas semanas atrás, 38% dos brasileiros ouvidos pelo Ibope optavam por anular, votar em branco ou não respondiam. Após a série de entrevistas no “Jornal Nacional” e cinco dias de propaganda televisiva, esse percentual caiu para 28%.

Outra evidência importante é a forte rejeição a Jair Bolsonaro, que atingiu 44%, quase o dobro da de seus principais adversários. Há duas semanas, num cenário que ainda incluía Lula, o percentual dos que diziam não votar de forma alguma no capitão reformado era de 37%. Detentor de um latifúndio de tempo no rádio e na TV, Geraldo Alckmin dedicou boa parte de seus comerciais a desconstruí-lo. Funcionou.

Embora tenha conquistado dois pontos de intenção de voto, chegando a 22% no primeiro turno, o candidato do PSL começa a vislumbrar, na pesquisa desta semana, um dos maiores riscos para sua campanha —a possibilidade de ser visto como aquele que inexoravelmente sairá derrotado no segundo turno.

Dos quatro cenários pesquisados pelo Ibope, Bolsonaro perde por cerca de dez pontos para os três nomes que hoje dividem, em empate técnico, a segunda posição da pesquisa: Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin. No quarto cenário, o capitão reformado empata com o petista Fernando Haddad, que ainda nem foi oficialmente lançado.

Luiz Carlos Azedo: Triângulo de fogo

- Correio Braziliense

“Brasil enfrenta a sua maior crise desde 1964 num ambiente de ampla liberdade, com eleições livres e limpas, graças à Constituição de 1988, que até agora sobreviveu a todas as tensões”

Incêndios dependem basicamente da temperatura de ignição. Os outros fatores — oxigênio e material inflamável — estão dados em qualquer situação. O qu e vai distinguir a gravidade do incêndio é a existência de produtos químicos e materiais sintéticos, contra os quais não basta o resfriamento. É preciso cortar o oxigênio e a existência de corrente elétrica, muitas vezes a origem da fagulha que provocou o incêndio. Não, desta vez não se trata do museu que pegou fogo, trata-se das eleições e do desgaste a que estão sendo submetidas as nossas instituições democráticas, principalmente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF), às vezes, em razão de suas próprias contradições internas.

Não faltam interessados na radicalização política e na desmoralização da Justiça, em pleno processo eleitoral, entre os quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que legalmente está fora da disputa, mas mantém sua candidatura, e Jair Bolsonaro (PSL), que representa a outra face da mesma moeda, ao simbolizar o antipetismo radical e liderar os que defendem uma intervenção militar. Incêndios políticos são provocados por piromaníacos e não faltam exemplos na história. Nero, o imperador romano, foi um deles, embora haja controvérsias sobre o fato de ter provocado o grande incêndio do Circo Mágico, em 14 de julho de 64 d.C., que viria a destruir boa parte de Roma. Deposto, se suicidou em 68 d.C. e deixou como legado uma guerra civil conhecida como o ano dos quatro imperadores, todos generais romanos.

O incêndio do Reichstag, o parlamento alemão, em 17 de fevereiro de 1933, em Berlim, foi o episódio crucial para ascensão do nazismo. Adolf Hitler havia sido empossado chanceler da Alemanha quatro semanas antes e se aproveitou do episódio para incitar o presidente Paul von Hindenburg a aprovar um decreto de emergência que lhe conferiu superpoderes para combater os comunistas. O que aconteceu depois todo mundo sabe: a perseguição se estendeu aos social-democratas e liberais e demais opositores políticos de Hitler: doentes mentais, pacifistas, eslavos e grupos religiosos (tais como as Testemunhas de Jeová), homossexuais, ciganos e, principalmente, judeus. Com a 2ª Guerra Mundial, o Holocausto registrou o extermínio de ao menos 6 milhões de pessoas, a maioria judeus.

Onde mora o perigo
Antes que alguém imagine que a citação é exagerada, vale a pena examinar a disputa política global que se deu nos últimos 100 anos. Nos primeiros 50 anos, entre socialistas, liberais e fascistas, resultou na derrota da extrema direita; nos 50 anos seguintes, com a Guerra Fria, entre socialistas e liberais. No final do século 20, com a desintegração da União Soviética e demais regimes comunistas do Leste europeu, a hegemonia liberal se consolidou na política mundial de tal forma que a tese hegeliana do “fim da história” foi exumada pelo economista norte-americano Francis Fukuyama e parecia ter se comprovado. Eis, porém, que a globalização e o novo “capitalismo de dados”, com a revolução tecnológica, colocam em xeque as democracias representativas do Ocidente, que está em crise no mundo.

José de Souza Martins: A cremação da cultura

- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

O incêndio devastador do Museu Nacional não é um caso isolado. Trágico porque o museu é referência entre as instituições científicas brasileiras, seja porque fosse memória de vários campos do conhecimento, seja porque abrigava diferentes cursos de pós-graduação da UFRJ. Dentre eles, o de antropologia, um dos mais respeitados da América Latina. Como é costume, não será difícil encontrar um bode expiatório para a tragédia em nossa concepção inquisitorial da culpa. Põe-se uma verbinha aqui, corta-se uma cabeça acolá e tudo se acalma.

É próprio de nossas tradições, para enfrentar problemas, procurar culpados em vez de procurar causas. Devemos nos perguntar primeiro por que aqui instituições culturais, como os museus, têm sido atingidas por grandes incêndios, se não pela desimportância que a eles se atribui? Para que servem instituições científicas num país em que a média de nota do ensino médio é de apenas 3,8, o que reprovaria qualquer um em qualquer lugar? No incêndio tem mais do que fogo.

Vários dos incêndios recentes em nossas instituições culturais ocorreram em prédios muito antigos, não raro, centenários. Só em São Paulo, vários. Foi o caso do incêndio no arquivo do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em 2005; do museu e centro cultural do Liceu de Artes e Ofícios, em 2014; do Museu da Língua Portuguesa, em 2015, que teve um morto. O incêndio do moderno auditório do Memorial da América Latina, em 2013, que deixou vários bombeiros feridos e destruiu uma tapeçaria de Tomie Ohtake, de 800 m2, evidencia que não só edificações antigas estão sujeitas a grave risco, mas que há também algo bem contemporâneo nas causas desses desastres.

Em 2005, um incêndio de seis horas no prédio tombado do arquivo do Juqueri, instalado em uma obra de Ramos de Azevedo, destruiu muitas centenas de prontuários essenciais para o estudo da história das doenças mentais entre nós e das técnicas de seu tratamento. Destruiu, também a biblioteca da instituição, a mais completa do país em livros e revistas científicas sobre psiquiatria, cobrindo a literatura especializada da metade do século XIX à metade do século XX. E não faltou a queima de uma carta de Sigmund Freud ao diretor do hospital, o médico Osório César, artista plástico e estudioso da relação entre arte e loucura, um pioneiro do movimento da arteterapia entre nós.

Em 2014, foi a vez do Liceu de Artes e Ofícios, no bairro da Luz. A escola fundada no século XIX pelo engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo dedica-se até hoje à formação profissional de jovens artesãos e artistas. Santos Dumont foi frequentador do Liceu, e grandes nomes de nossas artes plásticas e de nossa escultura foram alunos daquela escola pública. O incêndio atingiu o centro cultural e o museu de protótipos e réplicas de obras de grandes artistas, do acervo de instrumentos pedagógicos do Liceu. Das 28 réplicas, apenas oito foram recuperadas.

Ascânio Seleme: Um país sem manutenção

- O Globo

O incêndio do Museu Nacional prova que o Brasil é mesmo um país improvisado. Nada aqui, com algumas raras exceções que confirmam a regra, funciona de acordo com o combinado. Em qualquer esfera em que um ente público estiver envolvido, vai estar faltando alguma coisa. E em todas, não se encontrarão cuidado, capricho, carinho e, sobretudo, faltará manutenção.

Se o mais importante museu brasileiro foi transformado em cinzas pela incúria, pela má gestão e pela tão estúpida quanto rotineira falta de verba, imaginem como são tratadas as pequenas escolas públicas das periferias das cidades ou do interior do Brasil. Compare a importância do Museu Nacional com a de uma delegacia de polícia de Quissamã ou de Sapucaia.

Não importa para qual instituição pública você apontar, vai sempre encontrar uma gambiarra, um malfeito, um equívoco, um deslize, um erro. Ou muitos. O Brasil é a nação do jeitinho, do atalho fácil. Os exemplos de delegacias, escolas são óbvios, como também são repetitivos os casos de hospitais caindo aos pedaços e de estradas esburacadas. Estes matam, enquanto aqueles reduzem a qualidade de vida pela ignorância ou insegurança.

No ano passado (quem já não leu isso?), 6,2 mil pessoas morreram nas estradas brasileiras. Muitas vitimadas pela imperícia ou pela imprudência de motoristas, mas a maioria em razão das péssimas condições do asfalto de baixa qualidade e durabilidade que se esfarela por ter mais areia e brita do que betume e outros hidrocarbonetos sólidos na sua composição.

Nos hospitais do país, 829 pessoas morrem a cada dia por falta de atendimento, de equipamentos e de medicamentos. Corredores cheios de macas com pacientes, fiação exposta em salas de cirurgia, improvisações em balcões de atendimento, paredes descascadas, pisos, portas, tetos e paredes imundas. Lixo jogado no chão, dentro e fora dos hospitais. Essa é a cara da saúde brasileira.

As estradas, como os hospitais, as escolas, as delegacias e, agora se sabe, os museus brasileiros, sofrem desse mal comum. Também falta manutenção em outras repartições, como as delegacias do INSS, os institutos médico-legais, os quartéis da Polícia Militar. Tampouco passam por manutenção rotineira as centrais de abastecimento, as agências de organismos oficiais, os postos de saúde e vacinação, as universidades, as escolas técnicas, os institutos de educação.

O Brasil público é uma esculhambação. Manter o chão de uma escola ou de um hospital limpo, varrido, não exige apenas verba. Pede envolvimento do servidor, respeito e amor pelo seu trabalho. Claro que lixo deve ser jogado no lixo, mas quantas vezes você viu pedaços de papel, de plástico, restos de embalagem jogados no chão por onde passam dezenas, centenas de funcionários que não se abaixam para coletá-los?

Zeina Latif*: Casamento de conveniência?

- O Estado de S.Paulo

O que Paulo Guedes propõe não pode ser chamado de programa de governo, e tampouco caracterizado como ambicioso, pois estabelece metas sem considerar as várias dificuldades para sua execução

É notável a divergência entre os discursos de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. O que Guedes propõe não pode ser chamado de programa de governo, e tampouco caracterizado como ambicioso, pois estabelece metas sem considerar as várias dificuldades para sua execução. Não são críveis suas promessas de amplo programa de privatização e de venda de imóveis da União; eliminação do déficit orçamentário em 2019; e reforma da Previdência com implementação do regime de capitalização.

Há mérito em trazer esses temas para o debate. No entanto, o próprio Bolsonaro trata de atenuar e até negar pontos da agenda, por serem politicamente inviáveis. O candidato afirma que as privatizações serão apenas das empresas criadas pelo PT (este não deveria ser o critério) e a reforma da Previdência será gradual e com foco nos servidores públicos.

As propostas de Guedes são inviáveis também do ponto de vista econômico. Chegamos a um ponto em que as privatizações se tornaram essenciais para reduzir o risco fiscal e recuperar a capacidade de investimento. A Eletrobrás é o caso mais visível.

Vinicius Torres Freire: A hora do pânico eleitoral e o dólar

- Folha de S. Paulo

Por ora, não há sinal de tumulto como na eleição de 2002, mas há risco de incêndio

O acaso, o Sobrenatural de Almeida e a lei de Murphy castigam quem é dado a previsões e otimistas incautos.

Quem se arrisca a dizer que não há pânico financeiro motivado pela eleição destrambelhada pode passar vexame horas depois de fazer tal afirmação cândida.

Basta a publicação de uma pesquisa com resultados que atravessem a garganta dos donos do dinheiro grosso (ou nem isso) para haver sururu.

Ou não?

A memória brasileira de pânico financeiro eleitoral é a da primeira eleição de Lula da Silva (PT) em 2002. A medida mais "pop" da tensão é o preço do dólar, embora a taxa de câmbio no curto prazo dependa do comportamento de um saco de gatos, muitos fatores, em particular do gato gordo da economia internacional. O problema nem de longe é só na política.

Isto posto, como anda o preço do dólar, comparado às suas idas e vindas nas eleições desde 1998?

Em 1998, 2006, 2010 e 2014, a taxa de câmbio mal se moveu, seja a comparação feita com o dólar de um ano antes, de janeiro do ano da eleição ou de abril, quando há um quadro mais claro das pré-candidaturas. Neste aspecto, 2018 outra vez se presta a uma analogia com 2002.

Em 2002, o dólar ficou 37% mais caro entre o começo de setembro e o de abril; em 2018, 25%. Em relação a um ano antes, 34% em 2002; 28% neste 2018. Mas o dólar de agosto de 2002 andava pela casa do equivalente hoje a uns R$ 6. Por ora, estamos perto dos R$ 4.

Quais as diferenças em relação a 2002?

Míriam Leitão: As urgências do setor elétrico

- O Globo

Candidatos tratam de forma genérica as urgências do setor elétrico. Consumidor terá conta bilionária a pagar nos próximos anos

Quem vencer a eleição enfrentará, ao chegar ao governo, uma série de problemas no setor de energia, passivos não resolvidos, subsídios que precisarão ser reduzidos ou eliminados, uma conta que tem aumentado cada vez mais, desde 2014. Os programas dos candidatos tratam de forma genérica o assunto, e mesmo quando estão certos são propostas de lenta implantação. No melhor cenário, se o país retomar o crescimento, a energia será um limitador.

Todo dia uma conta nova aparece, que a Aneel, sem hesitar, transfere para o consumidor. Hoje é até difícil explicar esse amontoado de pesos que acabou sendo depositado nos usuários. A Abrace, associação que representa os grandes consumidores de energia elétrica, calcula que os passivos juntos cheguem a R$ 90 bilhões. E eles podem ser repassados à conta de luz nos próximos anos.

O maior custo, nesse cálculo da Abrace, é o da Amazonas Energia, que mesmo se for vendida tem um rombo de R$ 20 bilhões para ser jogado sobre todos os brasileiros. O governo ainda tenta privatizar a empresa este ano, mas se conseguir irá apenas evitar prejuízos futuros. A conclusão de Angra 3, se for feita, representaria mais R$ 17 bi. Para recompor o chamado risco hidrológico, até dezembro deste ano, os consumidores terão que arcar com mais R$ 15 bi em 2019. A bandeira tarifária já tem uma conta de R$ 5 bilhões. Risco hidrológico é o quanto as empresas do setor alegam ter a receber por causa da queda do volume de chuvas. Elas dizem que está muito abaixo da média histórica e do que previam os contratos. Mesmo assim elas têm que entregar a energia contratada. Houve ainda decisões do governo Dilma que as obrigaram a gerar energia, quando deveriam estar poupando água.

Everardo Maciel*: Impostos em tempos de eleição

- O Estado de S.Paulo

Dizer que a isenção na distribuição dos resultados constitui privilégio dos acionistas é ignorância ou má-fé, pois eles já foram tributados nos lucros

Veiculou-se que há consenso entre os candidatos a presidente quanto à tributação dos dividendos, ainda que apenas alguns deles defendam essa tese. O tema é interessante porque encerra alguns questionamentos. Por que os capitalistas são isentos e os trabalhadores são descontados na fonte? Por que só o Brasil e a Estônia concedem essa isenção? Por que não reduzir a tributação do Imposto de Renda (IR) das empresas e tributar os dividendos?

A isenção na distribuição de resultados integrou a ampla reforma do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) dos anos 90, que de 1996 a 2002 produziu um crescimento real de arrecadação de 117% e aumento de 49,7% de sua participação no PIB. A reforma, contudo, foi bem recebida pelos contribuintes, porque o IRPJ se tornou mais racional, seguro e simples.

Na apuração do IRPJ, é certo que a tributação dos salários dos trabalhadores legitima sua dedução, para prevenir a bitributação. Idêntica lógica se aplica à dedutibilidade de despesas na aquisição de insumos e na contratação de serviços. O retorno dos investimentos, por sua vez, será impactado pela tributação do lucro na empresa e dos resultados distribuídos, em conjunto ou isoladamente.

Há países que tributam apenas o lucro, como o Brasil e mais duas dezenas de países; há os que só tributam na distribuição, como a Estônia, apontada erroneamente como a solitária companhia do modelo brasileiro; e há os que tributam o lucro e a distribuição, como os EUA e os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Ribamar Oliveira: Mais de R$ 100 bi ficaram fora do Orçamento

- Valor Econômico

Pela regra do teto, dinheiro será usado para reduzir o déficit

O presidente Michel Temer deixou um presente de fim de ano para o seu sucessor. A equipe econômica de Temer não incluiu mais de R$ 100 bilhões na previsão de receita da União em 2019.

Ficaram fora do cálculo oficial a arrecadação com o leilão do petróleo excedente dos campos da cessão onerosa à Petrobras, que pode chegar a R$ 100 bilhões, de acordo com projeção feita pelo Ministério de Minas e Energia, e a receita com a mudança no Imposto de Renda dos fundos de investimentos exclusivos, um montante de R$ 10,8 bilhões.

Fontes da área econômica explicaram que essas receitas ficaram fora da previsão oficial porque o governo Temer preferiu ser conservador. As duas receitas ainda dependem da aprovação de projetos de lei que estão no Congresso e não há garantias de que eles sejam aprovados, principalmente em virtude da mudança de governo, argumentaram as fontes.

O governo incluiu em sua previsão, no entanto, o valor do pagamento de outorga pelos novos contratos de concessão das usinas da Eletrobras cuja energia hoje é negociada no regime de cotas, estimado em R$ 12,2 bilhões. A mudança de regime depende igualmente da aprovação pelo Congresso de um projeto de lei que permite a privatização da Eletrobras.

Clóvis Rossi: Murcha a última rosa vermelha

- Folha de S. Paulo

Até na Suécia esquerda cai e xenofobia avança

A social-democracia, que vem sofrendo sucessivos retrocessos na Europa, conhecerá no domingo (9) um novo revés, desta vez atingindo uma das suas grifes mais reluzentes, o Partido Social-Democrata e do Trabalhador da Suécia.

A mais recente pesquisa, divulgada no dia 2, dá apenas 25,6% à social democracia, seu registro mais baixo em praticamente um século (desde que, em 1921, foi introduzido o sufrágio universal no país).

É um resultado desastroso, ainda mais se se considerar que outro carro-chefe dos partidos que usam um punho e uma rosa como símbolo, o SPD alemão, obteve igualmente o pior resultado no pós-guerra no pleito de 2017 (26,4%).

O retrocesso talvez não impeça, se as pesquisas estiverem certas, que o partido continue sendo o mais votado: "Está muito longe dos anos de glória, mas também está longe de um colapso", diz à Folha Nicholas Aylott, professor de Ciência Política da Universidade Sodertorn, de Estocolmo.

É pouco, no entanto, para um partido que esteve no poder em 60 dos últimos 100 anos, 41 deles consecutivos (1932-1973).

Essa cronologia demonstra que a social-democracia é a principal responsável pela construção do invejável modelo de bem-estar social que caracteriza os países nórdicos em geral e a Suécia em particular.

Como lembra o Financial Times, "pesquisas internacionais coroam a Suécia como a melhor nação em tudo, de competitividade econômica a fazer o bem para a humanidade".

Na opinião de Hakan Blomqvist, do Instituto de História Contemporânea da Universidade Sodertorn, foi a guinada para o centro que levou ao declínio da social democracia: "A social-democracia sueca seguiu, até certo ponto, a 'Terceira Via' de Tony Blair [o líder trabalhista britânico dos anos 90].

Desregulamentou os mercados financeiros, privatizou serviços do Estado como eletricidade, telecomunicações e algo da seguridade social, além de ter praticado cortes na saúde, no seguro-desemprego, no sistema de aposentadoria e outros benefícios sociais".

Bolsonaro tem 22%; Ciro sobe e empata com Marina em 12%

Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo também mostra Alckmin com 9%, Haddad com 6%, Alvaro Dias e Amoêdo com 3%; quantidade de indecisos diminui

Na primeira pesquisa Ibope/Estado/TV Globo após o indeferimento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e início do horário eleitoral no rádio e na TV, Jair Bolsonaro (PSL) segue na liderança da corrida presidencial, com 22% das intenções de voto. Ele tem dois pontos porcentuais mais do que no levantamento anterior, divulgado há duas semanas. Ciro Gomes (PDT) subiu três pontos, para 12%, e empatou numericamente com Marina Silva (Rede), que não se moveu. Geraldo Alckmin (PSDB) foi de 7% para 9%. Fernando Haddad (PT) aparece com 6%, dois pontos acima do registrado na pesquisa anterior. Inscrito como vice de Lula, Haddad deve assumir em breve o posto de titular da chapa. Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro perde para Ciro (44% a 33%), Marina (43% a 33%) e Alckmin (41% a 32%), e empata tecnicamente com Haddad (36% para o ex-prefeito, 37% para o deputado). O Ibope ouviu 2.002 eleitores, em 142 municípios, entre os dias 1.º e 3 de setembro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Bolsonaro segue em 1º; Ciro sobe e empata com Marina

Ibope. Pesquisa feita após TSE barrar candidatura de Lula mostra crescimento do nome do PDT – principalmente no Nordeste – e queda nas intenções de voto nulo ou em branco

Daniel Bramatti | O Estado de S. Paulo

Na primeira pesquisa Ibope/Estado/TV Globo após o indeferimento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) segue na liderança da corrida presidencial, com 22% das intenções de voto. Ele tem dois pontos porcentuais a mais que no levantamento anterior, divulgado há duas semanas. Ciro Gomes (PDT) subiu três pontos, de 9% para 12%, e empatou numericamente com Marina Silva (Rede), que não se moveu.

A preferência pelo tucano Geraldo Alckmin, detentor de quase metade do tempo do horário eleitoral gratuito e representante da maior coligação da disputa, passou de 7% para 9%.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) aparece com 6%, dois pontos acima do registrado na pesquisa anterior. Inscrito originalmente como vice de Lula, Haddad deve assumir o posto de titular da chapa.

Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro perde para Ciro – 44% a 33% –, Marina – 43% a 33% – e Alckmin – 41% a 32% –, e empata tecnicamente com Haddad – 36% para o ex-prefeito, 37% para o deputado.

As entrevistas da pesquisa começaram a ser feitas no sábado, um dia após o início do horário eleitoral – o tempo, portanto, foi exíguo para captar a intensidade do impacto da propaganda dos candidatos no rádio e na TV.

Uma mudança ficou clara, no entanto: houve queda expressiva no eleitorado disposto a votar nulo ou em branco, de 29% para 21%. A taxa de indecisos oscilou para baixo, de 9% para 7%.

Com a saída de Lula, Ciro foi, neste primeiro momento, o que mais subiu no Nordeste, principal reduto do ex-presidente. O candidato do PDT avançou de 14% para 20% entre os nordestinos, ao mesmo tempo em que Marina recuou de 17% para 13%. Na mesma região, a taxa de preferência por Haddad passou de 5% para 8%. Em 20 de agosto, no cenário em que constava como candidato, Lula tinha 60% entre os nordestinos.

Bolsonaro mantém a liderança, e disputa pelo 2º lugar se acirra

Marina, Ciro e Alckmin estão em empate técnico; Haddad aparece com 6%

Em pesquisa realizada pelo Ibope entre os dias 1º e 3, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) manteve a liderança, com 22% das intenções de voto. A disputa pelo segundo lugar se acirrou com a subida de Ciro Gomes (PDT), que ganhou três pontos e agora tem 12%, o mesmo que Marina Silva (Rede); Geraldo Alckmin (PSDB) chegou a 9% e está em empate técnico com os dois. Com a candidatura de Lula barrada pelo TSE, Fernando Haddad (PT) aparece com 6%. Álvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo têm 3%. Bolsonaro perderia de Ciro, Marina e Alckmin no segundo turno, e empataria com Haddad (37% a 36%). A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Empate triplo atrás de Bolsonaro

Pesquisa mostra Marina, Ciro e Alckmin embolados na disputa pelo 2º lugar

Marco Grillo e Miguel Caballero | O Globo

Na primeira pesquisa Ibope divulgada após o início dos programas eleitorais na televisão e das inserções diárias ao longo da programação, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, permanece na frente, com 22% das intenções de voto. Em seguida, há um empate triplo na segunda posição: Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) estão com 12% cada, enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) tem 9%, em situação de empate técnico com os dois. A candidata da Rede repetiu o desempenho da pesquisa anterior, enquanto Ciro cresceu três pontos percentuais. Já Alckmin oscilou dois pontos para cima, no limite da margem de erro. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal “O Estado de S.Paulo”.

Foi a primeira vez que o Ibope fez uma pesquisa sem o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve a candidatura vetada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na semana passada. Na comparação com o cenário sem Lula do levantamento de 20 de agosto, os eleitores que pretendem votar nulo ou em branco caíram de 29% para 21%, indicando que parte dos apoiadores do líder petista começou a fazer sua escolha.

Virtual substituto de Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), ainda formalmente o vice na chapa, aparece com 6%, em empate técnico com Alckmin. Por enquanto, o PT tem adiado a decisão de apresentar Haddad como o candidato do partido —a expectativa é que isso aconteça na terça-feira. O desafio do partido é torná-lo mais conhecido do eleitorado. Na pesquisa anterior do Ibope, Haddad havia marcado 4%, e agora oscilou dois pontos para cima.

MDB sacrifica seu candidato e aposta em PT e Bolsonaro

Com Meirelles estagnado, MDB nos estados aposta em PT e Jair Bolsonaro

Partido não acredita na viabilidade eleitoral do ex-ministro da Fazenda, que registrou 2% na última pesquisa Ibope

Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Dirigentes do MDB já não acreditam na viabilidade de Henrique Meirelles na disputa pelo Planalto e decidiram apostar a estrutura do partido nos estados em candidaturas hoje mais competitivas, como a do PT e a de Jair Bolsonaro (PSL).

Integrantes da sigla de Michel Temer estabeleceram um limite para que o ex-ministro da Fazenda mostre que ainda está no jogo: as primeiras pesquisas após o início da propaganda eleitoral de rádio e TV.

Levantamento Ibope divulgado nesta quarta-feira (5) traz o candidato com 2%, numericamente atrás de Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo).

Diante da baixa expectativa sobre o presidenciável, devem considerá-lo fora do baralho a partir da próxima semana e trabalhar para eleger governadores e uma bancada grande no Congresso.

O movimento ganhou força na cúpula do MDB, principalmente no Nordeste, região em que o ex-presidente Lula (PT) concentra 59% do eleitorado.

No Sul, por sua vez, a tendência está mais atrelada à base partidária, identificada com bandeiras conservadoras e do agronegócio, defendidas com vigor por Bolsonaro.

A avaliação é que Meirelles virou um dilema para candidatos nos estados que, sem um nome nacional forte, tentarão se viabilizar ancorados naqueles com mais chances na disputa —Lula e Bolsonaro lideram as pesquisas.

No Nordeste, a tese dos emedebistas é que não há como "nadar contra a maré", já que mais da metade dos eleitores na região se declara lulista.

Em relação ao capitão reformado, a aderência deve aumentar caso ele consiga ir para o segundo turno contra um candidato que capte votos da esquerda, como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) ou Fernando Haddad (PT), que deve substituir Lula após a candidatura do petista ter sido barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Os caciques do MDB consideram que Haddad crescerá nos levantamentos rapidamente, beneficiando-se da popularidade do padrinho.

Em vídeos, Temer ataca Alckmin e vincula tucano

Presidente acusa candidato do PSDB à Presidência de dizer 'falsidades' e afirma que partido o ajudou muito em sua gestão

Gustavo Uribe, Daniela Lima , Thais Arbex e Talita Fernandes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Em vídeo divulgado na noite desta quarta-feira (5), o presidente Michel Temer rebateu as críticas que o candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin, tem feito a seu governo.

Com um tom irritado, pontuado por ironias, Temer disse que o tucano diz "falsidades" e vinculou aliados do ex-governador tucano à administração emedebista.

Com dificuldades de deslanchar nas pesquisas eleitorais, o candidato do PSDB à sucessão presidencial corre o risco de enfrentar uma nova crise em sua campanha eleitoral, desta vez com os partidos que formam a sua base de apoio.

O presidente acusou o tucano de ser injusto com as siglas que o apoiam na disputa presidencial.

Nos vídeos, Temer se referiu a inserção televisiva em que são criticadas as administrações do PT e do MDB em áreas como educação e saúde.

"Eu me dirijo a você [Alckmin] pelas falsidades que você tem colocado em seu programa eleitoral. E eu não posso silenciar em homenagem ao povo brasileiro", disse no primeiro vídeo, de 1m57s.

Na gravação, Temer elenca integrantes do centrão que estão associados ao tucano e participaram de seu governo.

Alckmin sobre Temer: "Não tem liderança nem legitimidade"

Por Renato Rostás, Carla Araújo e Andréa Jubé | Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência, rebateu nesta quinta-feira (6) declarações de Michel Temer (MDB) e disse que o presidente “não tem liderança nem legitimidade”.

“Eu não votei no Temer, ele era da chapa da Dilma [Rousseff]”, disse o tucano. “Houve o impeachment e assumimos uma posição de responsabilidade com o Brasil.”

Alckmin lembrou que o PSDB foi o partido que trouxe votação mais maciça para reformar do atual governo federal, como a trabalhista e a do ensino médio.

“Mas não são os ministros o problema do Temer, é o próprio presidente. Ele não tem liderança, nem legitimidade, coisas que é necessário ter [numa Presidência]”, afirmou Alckmin, em sabatina promovida hoje na capital paulista pelo jornal “O Estado de S.Paulo”.

O tucano foi alvo de críticas de Temer em dois vídeos postados desde ontem no Twitter do presidente. Temer se dirigiu diretamente a Alckmin nas gravações e destacou a participação dos tucanos em seu governo. Pediu que o candidato do PSDB diga a verdade sobre ter apoiado o governo do MDB.

Improbidade
Alckmin criticou a ação ajuizada ontem (5) contra ele pelo Ministério Público Estadual de São Paulo (MP-SP) por improbidade administrativa.

“Um promotor, na minha avaliação de maneira equivocada, e contrariando posicionamento do MPF e do STJ, entrou com ação também equivocada”, disse o tucano.

Contra-ataque
Temer divulgou mais um vídeo rebatendo declarações de Alckmin e evidenciou uma estratégia adotada para participar das eleições.

Com nove ex-ministros candidatos, Temer tem sido “esquecido” nas campanhas por conta da sua baixa popularidade. Nos dois vídeos divulgados até agora, Temer destaca o apoio do Centrão ao seu governo, cita nominalmente os ministros que fizeram parte de sua equipe e avisa Alckmin que ele deve escolher a verdade e não os conselhos de marqueteiros para ganhar votos.

“O país está dilacerado, está em guerra e precisamos mudar”, diz Ana Amélia em sabatina na GloboNews

Candidata a vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), a senadora gaúcha Ana Amélia (PP) afirmou nessa terça-feira (4) que acredita na experiência como gestor e na capacidade do tucano para tirar o país dessa onda de radicalismo político e retomar o caminho do crescimento em todas as áreas. Em entrevista à GloboNews, a candidata falou ainda sobre diversos temas, entre eles reforma política, cenário eleitoral, Operação Lava Jato e corrupção.

Na sabatina, Ana Amélia destacou a importância da experiência de Alckmin como gestor para retomar o equilíbrio e a despolarização no país. “Acredito na capacidade do presidente Alckmin de fazer a diferença pelo seu preparo, pela sua experiência e sua capacidade de quem já foi deputado federal, prefeito e governador. O país está dilacerado, está em guerra e precisamos mudar”, afirmou.

A candidata ressaltou o fato de seu aliado ser ficha limpa e não ter nenhum processo contra ele. “Confio plenamente na seriedade, transparência e responsabilidade [de Alckmin]”, disse.

A senadora defendeu a busca por mais tolerância e respeito na sociedade brasileira. “Faço as coisas por convicção. Abri mão de um mandato para contribuir para que o país saia dessa radicalização de um lado e de outro e entre em entendimento, em consenso e volte a ter uma tolerância e respeito. A minha intenção exclusiva é ver esse nosso país retomar o que ele tem na essência: um povo generoso, compreensivo e tolerante”, disse.

Questionada sobre a saúde, Ana Amélia ressaltou que essa será uma das questões prioritárias no plano de governo. “Alckmin é médico e vai fazer da saúde uma das áreas prioritárias de comando absolutamente competente para que tenhamos uma saúde de melhor qualidade e o uso adequado do recurso com efetividade. Não tenho nenhuma dúvida disso”, afirmou.

A senadora comentou também o cenário político brasileiro e afirmou ser a favor de uma reforma política “de fato e de direito”. Na avaliação dela, o sistema político que está em vigor “faliu”.

Bizarras ordenações: Editorial | Folha de S. Paulo

Detalhismo suscita questões a respeito do que é permitido fazer na propaganda partidária

Há uma interessante postulação teórica na ciência política sobre quais são os incentivos para que se transfira, nos campos da disputa pelo poder e do seu exercício, mais ou menos latitude para instâncias incumbidas de conduzir o jogo, como o Executivo, e de apitá-lo, caso do Judiciário.

O grau de segurança dos legisladores ao definir as regras seria fundamental. Se subsistem poucos partidos hegemônicos, confiantes na perpetuação do seu domínio, há menos estímulo para delegar poderes para fora do Parlamento.

O contrário se dá no Brasil. A pulverização e a baixa prevalência numérica dos partidos geram legisladores fracos e desconfiados.

Incapazes de tocar a administração, estufam as prerrogativas da Presidência. Temerosos, por outro lado, de serem trucidados pelo gigantismo do Planalto, repassam grande autonomia a controladores não eleitos do exercício do poder.

A conjectura oferece também uma tentativa de explicação para o viés obsessivo e minudente das leis e dos juízes na regulação do que os candidatos podem ou não fazer na campanha. Bizarras ordenações têm surgido nesse campo.

Segue a farra dos privilégios: Editorial | O Estado de S. Paulo

Com pouco dinheiro, muita despesa e um déficit previsto de R$ 139 bilhões nas contas primárias (sem juros), o governo ainda vai renunciar a R$ 306,40 bilhões de tributos, no próximo ano, para sustentar benefícios fiscais. Esses benefícios irão em grande parte para os cofres e bolsos de quem menos precisa de favores oficiais. Pouco ou nenhum benefício resultará para o crescimento econômico, a modernização do País e a criação de empregos. Esse desperdício tem ocorrido há muito tempo, é um fato rotineiro da administração pública brasileira e seu custo vem aumentando ano a ano. Em 2019 a renúncia fiscal deverá consumir R$ 23 bilhões a mais que a soma estimada para 2018, como mostrou reportagem do Estado. A sangria total corresponderá a 4,12% do Produto Interno Bruto (PIB) e a 21,05% da arrecadação administrada pela Receita Federal. Tradicionalmente, leva mais quem tem mais poder para extorquir recursos do setor público.

No jargão profissional, gasto tributário é o nome dos benefícios fiscais concedidos a indivíduos, empresas e outras organizações para atender a objetivos econômicos e sociais considerados, em princípio, de alta relevância. Mas essa é apenas uma definição ideal.

Na prática, a renúncia pode favorecer o hospital beneficente, a instituição realmente séria de pesquisa e ensino e também o devedor caloteiro de um banco público, assim como o empresário pouco disposto a enfrentar os desafios do mercado. Seria enorme a lista dos parasitas do dinheiro público. Nesse jogo, investir para inovar e competir deixa de ser responsabilidade típica da empresa em busca de lucro e torna-se encargo partilhado por um governo bonzinho. Apoiar programas e projetos de modernização pode ser, sim, parte da política pública, mas só quando há evidente valor estratégico nessa orientação. Não tem sido esse o caso.

Museus precisam de autonomia na administração: Editorial | O Globo

Universidade pública não é o melhor organismo para abrigar uma instituição com carências históricas

Raras tragédias podem ser tão adjetivadas como “anunciadas” quanto a destruição do Museu Nacional, com 200 anos de história e 20 milhões de peças destruídas ou danificadas, um dos grandes acervos mundiais de história natural.

O GLOBO guarda nos arquivos incontáveis reportagens sobre os riscos que corria a instituição. Há notícias na imprensa já na década de 30 do século passado. No início de agosto, o Ministério Público Federal, depois de receber várias denúncias sobre a precariedade do prédio, com destaque para instalações elétricas, cobrou explicações da direção da instituição. Recebeu como resposta um pedido de audiência.

A lista de responsabilizações é infindável. Sem prejuízo dos devidos inquéritos, importa muito tratar de causas estruturais do desastre. Por exemplo, o ambiente administrativo e burocrático em que está o Museu.

É impossível rebater com argumentos sólidos a constatação de que o Museu Nacional não deveria ser tratado como simples departamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apesar de seu aspecto de ensino e pesquisa.

Recessão e inflação alta dominam a cena argentina: Editorial | Valor Econômico

O governo argentino colocou nas mãos do Fundo Monetário Internacional a possibilidade de impedir o aprofundamento de sua crise econômica e as esperanças de reeleição do presidente Mauricio Macri em 2019. Desde maio, quando recorreu abruptamente ao Fundo diante de uma forte desvalorização do peso, os cenários externo e doméstico pioraram e destruíram a perspectiva de que US$ 15 bilhões de ajuda financeira era tudo o que o país precisaria para seguir em frente. "Nestes meses se desataram juntas todas as tormentas", disse Macri em pronunciamento à nação, o mesmo em que anunciou que buscaria antecipação dos desembolsos do FMI para afastar os temores de que a Argentina poderia não cumprir seus compromissos até o fim de 2019.

As sucessivas e rápidas desvalorizações do peso - 52% no ano - deterioraram todas as expectativas sobre o desempenho da economia. A recessão que, segundo o ministro Nicolás Dujovne anunciara apenas há uma semana, seria de 1%, foi revista para uma queda de 2,4%, enquanto a inflação deverá estacionar ao fim do ano em 42%. As estatísticas corroboram as perspectivas negativas. Na comparação com o mesmo mês de 2017, a indústria argentina recuou 1,2% em maio, 8,1% em junho e 5,7% em julho, de acordo com o Indec. O salário médio dos trabalhadores formais declinou 4,3% em junho, mesmo após terem sido reajustados em 23,9% nos últimos 12 meses. O desemprego começou a subir.

Isabel Martínez: Capricho árabe (Francisco Tárrega)

Cecília Meirelles: É Preciso Não Esquecer Nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.