O Estado de S. Paulo
O bolsonarismo não tem resposta para a vida
real e vive de bandeiras artificiais
A semana foi marcada por um fato decisivo:
o empresariado que apoiou Bolsonaro vai, aos poucos, abandonando o barco. A
maneira como isso está sendo feito é um pouco típica do Brasil, mas ainda assim
o fato não ficou obscurecido por ela.
Fiesp e Febraban iam lançar um manifesto
pedindo a harmonia entre os Poderes. Nada mais tranquilo e ao mesmo tempo
inofensivo. A pressão do governo foi intensa e a Fiesp decidiu não divulgar o
manifesto. No entanto, o agronegócio, que emprega milhões e tem antenas com o
mundo, decidiu publicar seu próprio manifesto, independentemente das reações do
governo.
No caso da Febraban houve ameaças reais de
abandono da entidade pela Caixa Econômica e pelo Banco do Brasil, que também
entenderam o pedido de harmonia dos Poderes como uma crítica a Bolsonaro.
Ainda assim, o fato de o manifesto não ter
sido publicado oficialmente não deixa de ser uma evidência de como alguns
setores dominantes no Brasil têm medo do governo, mesmo depois de terem perdido
sua simpatia por ele. Muito provavelmente, essas entidades estão tão
paralisadas pelo medo que hesitaram em lançar votos de fim de ano com a
mensagem “paz na Terra aos homens e mulheres de boa vontade”.
Como Bolsonaro iria interpretar isso, ele que considera essencial comprar fuzis e uma estupidez comprar feijão? Seria uma crítica indireta ao presidente e os detentores do PIB não querem provocar ninguém.