A senhora se define como uma mulher de convicções políticas de esquerda. O que é ser de esquerda hoje?
“A esquerda deve parar de pensar que sendo de direita ela será moderna. Eu sou social-democrata, europeia convicta. Penso que devemos alcançar um equilíbrio, pois o econômico não funciona sem o social, e acrescento hoje a ecologia. É preciso regulação. Não é verdade que o mercado pode regular tudo sozinho, e se deixarmos que o faça, teremos sociedades extremamente desiguais e inviáveis para o viver junto. As desigualdades geram violência, a pobreza e a miséria produzem também todo este deslocamento de populações, inclusive sensíveis a lógicas de morte, como a do Estado Islâmico. Penso que o homem que tem a palavra mais forte hoje no planeta é o papa Francisco. Deveríamos escutá-lo mais, não de um ponto de vista religioso — eu sou ateia —, mas porque acredito que ele tem a mensagem mais sensata, mais pragmática. O humanismo que ele expressa, e que apoio completamente, é sem dúvida a forma mais razoável do viver junto. Ser de esquerda para mim é ser humanista e não renunciar a estes valores. A modernidade permanece, para mim, deste lado.”
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Anne Hidalgo (PSF) é prefeita de Paris, em entrevista, O Globo, 26/6/2016.