O Globo
Não há discussão sobre o fato de o
presidente Bolsonaro ser responsável direto pelo clima de radicalização que
resultou no assassinato de um petista por um simpatizante seu.
—O que tenho a ver com isso? —pergunta, em
vez de condenar o uso da violência como argumento político.
Se o próprio presidente diz que é preciso
armar a população para se defender “dos comunistas”, a partir daí não se
controla mais ninguém; abriu-se a porteira para situações como essa.
Tudo porque Bolsonaro é irresponsável, não
mede as palavras para atingir seus objetivos. Está querendo criar confusão na
campanha eleitoral e não pode se eximir de culpa. Dizer que foi apenas mais uma
briga de bêbados no fim de semana brasileiro é não só tentar tornar normal
assassinatos, mas não assumir responsabilidade por atos e palavras.
O problema é que o assassino demonstrou
apoio político a Bolsonaro de uma maneira agressiva, que é como o presidente
estimula seguidores contra adversários. É uma tragédia que precisa ser contida,
ou teremos outros episódios equivalentes. A retórica política violenta leva a
ações desse tipo.
O próprio ex-presidente Lula, que agora acusa a violência bolsonarista, quando começou em seu governo com a política do “nós contra eles”, estimulava esse embate, essa radicalização política. Não há como esquecer o discurso do então poderoso José Dirceu conclamando os petistas a bater nos tucanos em São Paulo “nas urnas e nas ruas”, originando agressão contra o então governador Mário Covas.