segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Marcus André Melo: Castañeda e o elogio da exceção

- Folha de S. Paulo

Democracia pressupõe o império da lei

Jorge Castañeda mostrou mais uma vez seu pouco apreço pelo estado de direito. Desta feita foi nas páginas do New York Times, em defesa da candidatura de Lula. Em 2004, tentou candidatar-se à presidência do México, país cuja constituição impõe a filiação prévia a partido político como pré-requisito para o registro. Sua tentativa foi frustrada por decisão judicial na primeira instância.

À flagrante ilegalidade dessa tentativa somava-se outra: fazer o registro fora do calendário oficial. Seu recurso à Suprema Corte não prosperou. Não satisfeito com a dupla negativa de tribunais mexicanos recorreu à Corte Interamericana de Direitos Humanos, sob a alegação de que tivera seus direitos políticos violados.

Esta Corte concluiu que “o Estado não violou, em desfavor do Sr. Jorge Castañeda, o direito político a ser eleito, reconhecido na Convenção Americana sobre Direitos Humanos”. Tampouco “violou o direito a igualdade perante a lei”, previsto na convenção.

A chave argumentativa é a mesma: tal como o ex-presidente brasileiro, ele deveria ter um tratamento especial. A lei barrou, no pleito municipal de 2016, cerca de 832 candidaturas, e nas eleições para deputado federal de 2014, 253, segundo o site Congresso em Foco. Mas exceções deveriam ser feitas para casos como o de Lula e o seu.

Embora reconheça diferenças, Castañeda argumenta que o caso brasileiro se assemelharia aos da Nicarágua e Venezuela, afirmação estapafúrdia que causa perplexidade.

Fernando Gabeira: O Brasil de De Gaulle

- O Globo

Ideia de virar ‘pais sério’ assusta. Somos leves e alegres. Candidato com esse objetivo tende a ser mal interpretado

Até hoje não se sabe ao certo se a frase foi dita ou não. Em 1962, no auge da guerra da lagosta, o general De Gaulle teria afirmado que o Brasil não é um país sério. Não havia, na época, rede social como conhecemos hoje. Ainda assim, a frase foi tema de amplos debates.

Jamais conversei sobre o tema com o amigo Luís Edgar de Andrade, que teria enviado a notícia de Paris. Muita gente afirma que a frase de De Gaulle jamais foi dita. Vou tomá-la como verdadeira porque esta semana, ao ler “Lições dos mestres”, de George Steiner, creio que posso fazer uma nova leitura da frase.

A França foi humilhada em 1870 e 1871 pela derrota diante dos alemães. E o país se descobriu ávido de “seriedade”. A constatação mais importante: a vitória prussiana não dependeu de superioridade bélica, mas sim de uma escolaridade sistemática, que a colocava à frente em ideias científicas e humanísticas.

O Gymnasium alemão, as universidades depois das reformas de Humboldt, os padrões de qualidade das pesquisas e publicações eruditas deixaram expostos a frivolidade e o amadorismo francês. Alexandre Dumas, em 1873, escreveu: “já não se trata mais de ser espirituoso, leve, libertino, zombeteiro e alegremente inconsequente. A França deve agora haver-se com o ‘muito sério’. Caso contrário, sucumbirá.”

Demétrio Magnoli: ‘Uma coisa profunda...’

- O Globo

Ciro Gomes aventurou-se na selva da ciência política para decifrar o fenômeno Bolsonaro. “Ele representa uma coisa profunda que nem ele imagina o que significa. Representa a negação da política e da democracia; a vontade de tocar fogo para ver se nasce alguma coisa no lugar.” Ciro constata a ineficácia da linha usual de crítica da “nossa elite”, que “resolveu tutelar a sociedade”. O Brasil profundo que se reconhece em Bolsonaro é autoritário e conservador — e está muito irritado. Bolsonaro “está aí” precisamente “porque é homofóbico” e “porque é misógino”.

A “coisa profunda” não é fascismo, um termo que a nossa esquerda utiliza como quem toma sorvete, esvaziando- o de seus significados. Bolsonaro tem algo entre um quinto e um quarto das intenções de voto não porque expresse algo novo, mas justamente por trazer à tona, em meio a uma crise multidimensional, alguns dos materiais subterrâneos mais persistentes da sociedade brasileira. Na sua candidatura, emergem “coisas profundas” que vão bem além do conservadorismo social tão abominado pela “nossa elite tutelar”.

Bolsonaro ingressou no negócio da política há três décadas, como vereador e, em seguida, deputado federal. Dos seus cinco filhos, três são políticos profissionais. O autoproclamado outsider é, de fato, um típico insider. Suas origens militares não passam de uma cicatriz periférica. O ex-capitão com ambições sindicalistas, um desordeiro avesso à hierarquia militar, evaporou no passado distante. Mas a escolha do general Hamilton Mourão como vice de sua chapa converte a candidatura civil em algo um tanto diferente. Por meio dela, a política bate às portas dos quartéis.

Cacá Diegues: Para onde vamos

- O Globo

Tenho muito medo desse ‘cansaço democrático’, como se refere a ele João Pereira Coutinho, citando David Runciman

Em vários países da América Latina, como no Brasil, uma onda autoritária e perigosamente obscurantista cresce no embalo de novas eleições. É como se o eleitor estivesse cansado de ideias, programas e partidos, como se ele agora só pensasse e reivindicasse o factual de sua vida, como a segurança. Chega, para ele, de ideologias; o que hoje interessa ao eleitor é comportamento e mentalidade.

O exemplo mais claro e sinistro disso nos veio do que aconteceu com os refugiados venezuelanos em Pacaraima, no estado de Roraima. Sob o pretexto de revolta diante do assalto de refugiados a um comerciante brasileiro de quem tiraram sangue, a população da cidade caiu em cima dos venezuelanos acampados em beira de estrada, tocando fogo em tudo oque lhes pertencia, inclusive documentos pessoais. A população local os expulsou da região com violência, cantando em coro o nosso Hino Nacional.

Embora seja o país de maiores dimensões no continente, o Brasil é o que menos recebeu refugiados venezuelanos. Países com menos recursos, como o Equador, ou mais distantes, como a Argentina, receberam o dobro de gente vinda da crise, da desgraça em que vivia na Venezuela. Para não falar nos recordistas Colômbia e Peru.

Não adianta levantar argumentos racionais ou impor decisões superiores do governo federal e da própria ONU, que anda implorando a todos os países do mundo que deem guarida aos inúmeros refugiados de guerra, fome e discriminação racial e religiosa, em todos os continentes. Os intolerantes cantam o Hino Nacional com fé e confiança, certos de que esse nacionalismo absoluto é um instrumento para evitara praga do estrangeiro. Uma garanti ad e que aterra é de quem já vive nela e não se pode deixar que seja pisada por quem não nasceu aqui.

Tenho muito medo desse “cansaço democrático”, como se refere a ele João Pereira Coutinho, citando David Runciman e seu livro “How Democracy Ends”(em tradução livre, “Como acaba a democracia” ). Talvez estejamos vivendo essa experiência representada por uma imensa maioria desinteressada do futuro, dando suporte, por inação e conveniência, a propostas de uma direita maluca que também não sabe para onde vai. O que se há de fazer?

Leandro Colon: O desafio de Marina Silva

- Folha de S. Paulo

Razões não faltam para pensar que ela tem grandes chances de ir ao segundo turno

Se um estrangeiro desinformado sobre nossa eleição presidencial desembarcasse hoje por aqui, certamente pensaria que Marina Silva (Rede) tem tudo para chegar ao segundo turno com chances de ser eleita presidente da República.

Razões não faltam. Terceira colocada na pesquisa do Datafolha no cenário com Lula, a ex-ministra do Meio Ambiente vê dobrar suas intenções de voto, de 8% para 16%, quando o levantamento exclui o nome do ex-presidente da disputa, possibilidade mais provável e que está apenas à espera de uma confirmação do TSE.

De acordo com o Datafolha, Marina é a que mais herda eleitores de Lula. Ela é a preferida de 21% dos que afirmam que votariam no petista. Lidera também entre os mais pobres na hipótese sem o ex-presidente.

O contexto, decerto, não poderia ser melhor não fossem os fantasmas políticos que cercam sua candidatura. O principal deles deve ser debitado na conta da ex-senadora. Marina não conseguiu dar musculatura ao partido que criou, a Rede. E a fatura é salgada. Isolada e incapaz de construir alianças de fôlego, a candidata ao Planalto terá míseros 21 segundos de tempo na TV aberta, uma fatia de quase 3% do total.

O espólio que hoje ela herda de Lula tende, por exemplo, a derreter assim que Fernando Haddad for apresentado na propaganda eleitoral como o candidato de fato do PT.

Marina ainda carrega a desconfiança da esquerda pelo apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014 contra Dilma Rousseff. Deu suporte a práticas que agora critica.

Celso Rocha de Barros: E o Lula, hein?

- Folha de S. Paulo

Liderança de petista é bônus que se ganha ao se opor a governo com 4% de aprovação

Em uma eleição cheia de dúvidas, temos a primeira certeza. Luiz Inácio Lula da Silva venceria a eleição presidencial de 2018 se não estivesse preso.

Falta pouco mais de um mês para a eleição. Nas três pesquisas da semana passada, Lula teve quase 40% das intenções de voto para o primeiro turno. Lula vence por larga margem qualquer adversário nas simulações de segundo turno, e talvez vencesse no primeiro. O PT tem um tempo de TV razoável, e uma boa estrutura partidária nacional. O segundo colocado tem o maior índice de rejeição de todos os candidatos. A terceira e o quarto colocado são ex-ministros de Lula.

Qualquer outro candidato com esses números, nessa situação, já teria sido declarado eleito por todos os analistas.

Os antilulistas profissionais passaram a semana tentando provar que nada disso importa, ou que é mentira, ou que isso só prova que os eleitores de Lula são fanáticos que não se importam com corrupção, ou que, sei lá, o Brasil não tem jeito.

Não, filho.

Já dizia Upton Sinclair, é difícil explicar algo para o sujeito cujo ganha-pão é não entender o que você está tentando explicar. Mas vamos lá.

Os eleitores de Lula, também conhecidos como "a maioria do eleitorado entre 2002 e 2014", estão compreensivelmente irritados.

Roberto Romano*: Sobre lobos e cordeiros

- O Estado de S.Paulo

Crises exigem observar com desconfiança as instituições que regem o trato dos cidadão com os Poderes. Usemos justas aspas nas antífonas do pensamento raso expresso em universidades, mídia e opinião pública. Não é fato que no Brasil “as instituições funcionem normalmente”. A menos que, por normalidade, se designe a teratologia a que o País se acostumou. Tal clichê namora o absurdo. Como poderia viver segundo normas um país onde administradores não prestam contas dos recursos financeiros, humanos e técnicos a seu dispor? Pode ser normal uma terra onde parlamentares legislam descaradamente em causa própria? Normal um Estado cujos magistrados causam bilhões de prejuízo ao erário e buscam acrescer substanciosas remunerações e privilégios? Normal um sistema de Poderes divorciado da cidadania, em que quem deve servir serve a si mesmo e humilha os contribuintes?

Ora, senhores, silenciem o mantra da “normalidade”, encaremos o monstruoso: sob o manto democrático impera na política, nas finanças públicas, na polícia e nos tribunais o arbítrio mesclado à demagogia.

Tomemos a política injusta exposta por Jean Bodin. No poder tirânico “o governante, pisando as leis da natureza, abusa da liberdade dos governados como se eles fossem escravos, e dos bens de outrem como se fossem seus” (Seis Livros da República, livro 2, cap. 4). Adianta o jurista: entre as prioridades tirânicas está o aumento de impostos.

Tiranos, arremata, assumem slogans (devises) belos e títulos divinos, mas a diferença entre eles e o governante justo é que o segundo labuta pelo bem público, mas eles cuidam apenas do seu proveito privado. O Supremo Tribunal Federal (STF) exige para si o título divino: protetor da Constituição! Mas a sua história mostra que, não raro, o suposto protetor se transforma em aliado da alcateia.

Ocorre nele a metamorfose narrada por Platão, autor realista que narra a origem da tirania. Numa situação política injusta surgem “denúncias, processos, lutas de uns com os outros, em grande número. O povo tem o costume de pôr uma pessoa qualquer à sua frente, para o desenvolvimento de sua grandeza. A tirania se origina da semente daquele protetor”. Platão retoma um mito: “Quem provar vísceras humanas, cortadas ao bocados no meio das de outras vítimas, é forçoso que se transforme em lobo”.

Uma técnica predileta do lobo/tirano é aumentar imoderadamente o fisco “para que os cidadãos, empobrecidos pelo pagamento de impostos, serem forçados a tratar do seu dia a dia e conspirem menos contra ele” (República, 565a- 569a).

A metamorfose do protetor em lobo inspira o pensamento jurídico do Ocidente. É impossível entender a doutrina hobbesiana sobre o estado de natureza, em que o homem é o tirano do homem, sem a base platônica. Maquiavel dela se nutriu de modo evidente para quem o estuda com rigor. A tese de Jean Bodin lhe deve o peso heurístico e a força política. O tirano, fulmina Platão, usa um filtro fatídico para triar pessoas. Nele os bons são retirados e os péssimos, mantidos. A purga efetivada pelos médicos é invertida: os humores doentios permanecem – a gentalha que apoia o arbítrio e a violência oficial – e os humores saudáveis são expelidos – os honestos. Desconheço análise mais dura sobre a instauração dos governos ditatoriais. Quem pretende lutar pelas liberdades públicas deve manter Platão na cabeceira.

Cida Damasco: Mercados em apuros

- O Estado de S.Paulo

Desafio é encontrar candidato fiel à sua agenda e com chance de chegar ao segundo turno

São dias de fortes tremores nas campanhas eleitorais e nos mercados, como já se imaginava. Mesmo com queda na sexta-feira, o dólar fechou a semana passada com uma alta de quase 5%, a maior desde novembro de 2016, e superior a 9% no resultado acumulado do mês de agosto – com o Banco Central de espectador, sem entrar firme para conter essa escalada. A Bovespa subiu 0,31% na semana, mas está 3,73% abaixo do nível atingido no mês anterior e os investidores mantêm-se arredios a assumir posições de grande risco, até que o cenário fique mais claro.

As dúvidas sobre o tamanho da transferência de votos de Lula para seu provável sucessor, Fernando Haddad (PT), e sobre quem pode encarnar o anti-Lula, além do radical Jair Bolsonaro (PSL), embaralham o cenário político e econômico a partir de 2019. E produzem argumentos, alguns até estapafúrdios, para explicar a preferência por esta ou aquela situação.

Nas campanhas que não emplacam, buscam-se os vilões da hora, mais ou menos como a caça aos técnicos quando o time se aproxima da zona do rebaixamento, independentemente da qualidade do elenco. Nos mercados, enumeram-se virtudes e pecados dos candidatos inclusive para, como é da natureza da atividade, lucrar com a especulação.

Fernando Limongi: Na primeira casa

- Valor Econômico

PT leva vantagem, mas é cedo para que saia cantando vitória

Lula, até o momento, deu de lavada nos adversários. Da prisão, comanda o show. O petista pode morrer na praia, mas é inegável que vem dando um baile em todos, incluindo este colunista. Entre o Datafolha da primeira semana de junho e o da semana passada, o ex-presidente pulou de 30 para 39 pontos na pesquisa estimulada, enquanto Jair Bolsonaro só galgou dois sofridos pontinhos, chegando a 19. Na espontânea, a arremetida Lula é ainda mais espetacular e significativa, atingindo 20, o dobro da última pesquisa. Seu perseguidor imediato passou de 12 a 15 pontos no mesmo período.

Os resultados de outros institutos trazem alguma variação, mas o retrato e as lições, como mostra o agregador de pesquisa do Jota, não variam significativamente. O PT avançou em passadas largas, Bolsonaro se moveu lentamente e os candidatos embaralhados no segundo pelotão (Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin) mal saíram do lugar.

O sucesso do petista gerou perplexidade e censura. Para os mais críticos, ao manter a candidatura do ex-presidente, o PT estaria flertando com a ilegalidade. A crítica erra o ponto. O partido não desafiou a ordem legal e não deu qualquer indicação de que ultrapassará a linha, afinal já definiu quem será seu verdadeiro candidato.

Lula não é o primeiro e nem será o último 'ficha suja' a se inscrever alegando inocência e se dizendo vítima de perseguição política. Este foi o caso do recém cassado Paulo Maluf, cujos votos foram inicialmente computados como nulos, mas acabaram resgatados e legalizados por uma operação capitaneada por Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

Angela Bittencourt: PIB fraco ou dólar forte, cabos eleitorais de arrepiar

- Valor Econômico

Custo do "hedge" dispara e investidor busca alternativas

Taxa de crescimento é informação relevante na agenda econômica em qualquer país do mundo. Raramente o resultado surpreende, por ser perseguido rigorosamente por analistas. Bom ou ruim, o dado oficial sinaliza se manter projetos de investimentos vale a pena e ajuda o cidadão a ter uma ideia sobre questões do seu interesse imediato. A economia vai andar o bastante para gerar mais empregos ou as demissões podem aumentar? O juro pode subir e encarecer o crédito ou existe alguma chance de cair e abrir uma brecha para o consumo? O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do 2º trimestre, que o IBGE divulgará na sexta-feira, esclarecerá poucas dúvidas, mas deve aquecer o debate sobre as perspectivas de crescimento em 2019.

O PIB do 2º trimestre, se existir algum, será de 0,1% em relação ao anterior, projetam, em média, 22 economistas consultados pelo Valor Data. Esse desempenho é largamente esperado. A greve dos caminhoneiros comprometeu duramente a atividade em diversos setores e nem todos os efeitos foram dissipados. Somando-se a isso a persistência de um câmbio pesado, é improvável que o PIB do 3º trimestre seja mais que medíocre. No ano, o PIB poderá avançar 1% ou um pouco mais. Afinal, 2018 recebeu uma herança estatística de 1% do PIB de 2017. Na prática, porém, o Brasil não terá crescido neste ano.

Em paralelo aos impactos da greve, a falta de dinamismo da economia reflete a falta de confiança compartilhada de A a Z. Em 2018, provavelmente, a taxa de investimento da economia será a menor desde 1947. E não tem escapatória, uma vez que investimentos baixos que pesam no PIB do ano corrente do lado da demanda, pesam no PIB futuro pelo lado da oferta.

Ricardo Noblat: Outra ameaça a Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja

A terceira coroa

Réu em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de injúria e incitação ao estupro, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) corre o risco de tornar-se um tríplice coroado.

Amanhã, a Primeira Turma do STF deverá decidir se recebe ou não denúncia de racismo contra Bolsonaro apresentada pela Procuradoria Geral da República.

Se receber, ele passará à condição de réu outra vez. Isso não o impedirá de ser candidato, mas bem não fará à sua pretensão de se eleger presidente da República.

Comece a pensar no que vai ouvir
Fatos e versões

O PSDB de Geraldo Alckmin apoiou o impeachment de Dilma Rousseff – ou o golpe, como prefere o PT. Certo ou errado?

Certo. Mas Dilma caiu porque gastou além do que estava autorizada a gastar pelo Congresso, perdeu autoridade política e, sem ela, não se governa.

O PSDB apoiou o governo de Michel Temer até um dia desses, e o governo foi incapaz de tirar o país da crise econômica. Certo ou errado? Certo. 

Mas quem inventou Temer presidente foi o PT que, por duas vezes, o indicou para vice de Dilma.

Temer é responsável pela crise econômica que devastou o emprego de 17 milhões de brasileiros – ou de 30 milhões, a levar-se em conta o número daqueles que desistiram de procurar emprego. Certo ou errado? Errado. 

O responsável foi Dilma, que legou a Temer uma herança maldita. Quem inventou Dilma foi Lula, que a apresentou como melhor gestora do que ele.

Alckmin é investigado pela Lava Jato. Certo ou errado? Certo.

Lula foi condenado e está preso por crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Certo ou errado? Certo.

(Prepare-se para ouvir essas coisas e muito mais a partir da próxima sexta-feira quando começa a propaganda dos candidatos no rádio e na televisão.)

Eleitorado evangélico cresce; Marina perde apoio

Campanha. Ela tem 12% das intenções de voto entre os fiéis dessas igrejas, porcentual igual ao obtido com os católicos; na eleição passada, suporte nesse segmento era de 43%

Marianna Holanda / Daniel Bramatti | O Estado de S. Paulo

A candidata da Rede tem apenas 12% das intenções de voto entre evangélicos, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. No cenário sem Lula, ela perde a preferência do grupo para Bolsonaro, que tem 26% das intenções. Na eleição de 2014, Marina Silva tinha 43% de apoio entre fiéis de sua religião. Naquela época, um em cada cinco eleitores era evangélico. Agora, a proporção é de um em cada quatro.

Única evangélica entre os principais candidatos a presidente, Marina Silva (Rede) perdeu o embalo do crescimento do eleitorado dessa religião desde 2014. Hoje ela tem entre os evangélicos apenas 12% das intenções de voto, porcentual igual ao obtido entre os católicos ou seguidores de outras religiões, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Há quatro anos, o quadro era muito diferente.

Quando disputou a Presidência em 2014, Marina tinha desempenho acima da média entre evangélicos: 43%, 12 pontos porcentuais a mais do que a taxa registrada entre os católicos. Se ela não tivesse perdido apoio entre os fiéis de sua religião, poderia liderar a corrida presidencial. No cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina tem 12% das preferências no eleitorado total. Ela está oito pontos porcentuais atrás de Jair Bolsonaro, do PSL.

O eleitorado evangélico, que já tinha peso significativo em 2014, expandiu-se desde então, segundo pesquisas realizadas agora e há quatro anos. Naquela época, os evangélicos eram aproximadamente um em cada cinco eleitores. Agora, são um em cada quatro. Além de já não ter um eleitorado marcadamente evangélico, a candidata da Rede não é a preferida nesse grupo – no cenário sem Lula, Bolsonaro tem 26% no segmento, desempenho superior ao registrado entre católicos (17%).

Em 2014, Marina começou a campanha como candidata a vice-presidente de Eduardo Campos (PSB), e assumiu a cabeça de chapa após a morte do titular. Na época, ela se envolveu em polêmicas relacionadas a aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Sobre o primeiro tema, se declara contrária, mas defendeu e continua defendendo a realização de um plebiscito sobre legalização. Em relação ao segundo, logo após publicar seu programa de governo, a campanha trocou “casamento gay” por “união civil” no capítulo que discutia direitos dos homossexuais. A alteração foi interpretada como tentativa de evitar reações negativas no eleitorado religioso.

Ataque religioso

Para atrair evangélicos, Jair Bolsonaro mantém estratégia de atrelar Marina a uma agenda não-cristã.

PSL usa religião para atacar candidata da Rede

Estratégia do partido é questionar religiosidade de Marina; Alckmin e Meirelles buscam voto dos membros das igrejas

DanieL Weterman, M.H. e D.B. | O Estado de S. Paulo

Na disputa por votos dos evangélicos, Jair Bolsonaro (PSL) segue a estratégia, exposta no debate da Band, de atrelar a candidata da Rede, Marina Silva, a uma agenda “não cristã”. Presidente do PSL e coordenador da campanha do deputado, Gustavo Bebianno chamou a ex-ministra de “cristã fajuta”.

“Ele é um cristão verdadeiro, defendendo os verdadeiros cristãos. Ela (Marina) é uma cristã de araque”, disse o presidente do PSL. “Marina Silva falou que aborto e maconha têm que ser resolvidos via plebiscito. Eu acho que não”, afirmou Bolsonaro, na mesma ocasião.

Além de Marina e Bolsonaro, outros presidenciáveis buscam uma aproximação dos evangélicos. Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB), por exemplo, colocaram as igrejas em suas agendas já na largada da campanha. A receita é conhecida: os postulantes ao Planalto são recebidos por pastores no púlpito, discursam e distribuem brindes para os fiéis.

O Estadão/Broadcast acompanhou nas últimas semanas o esforço de campanha em algumas das principais igrejas do País. Na semana passada, Alckmin visitou a Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago, ao lado do candidato tucano ao governo de São Paulo, João Doria. Foram recebidos pelo deputado e candidato à reeleição José Olímpio (DEM-SP), ligado à igreja. “Agora o líder maior abençoou, Deus lá em cima e o apóstolo aqui”, disse Olímpio.

PT é acusado de comprar elogios na internet

Influenciadores digitais denunciam ação coordenada para bancar comentários positivos ao governador do Piauí, Wellington Dias, e a outras lideranças da sigla; resolução do TSE proíbe propaganda paga nas redes

Maria Lima e Bruno Góes | O Globo

BRASÍLIA - Uma série de comentários favoráveis ao governador do Piauí, Wellington Dias (PT), no Twitter revelou operação de compra de elogios de influenciadores digitais. A lei proíbe propaganda eleitoral paga nas redes sociais. Dias negou relação com a ação e afirmou que ela foi promovida pelo PT. A sigla nega. Uma série de comentários nas redes sociais levou o Piauí a ser um dos assuntos mais relevantes ontem no Twitter. O que parecia ser apenas mais uma onda do mundo digital pode deflagrar o primeiro caso de suspeita de propaganda eleitoral ilegal na internet neste ano. O caso foi descoberto a partir de uma sequência de comentários disparados por influenciadores digitais país afora elogiando e até pedindo voto para o governador do Piauí, Wellington Dias, candidato à reeleição pelo PT. Os elogios teriam sido pagos.

Resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) editada no fim do ano passado proibiu propaganda paga nas redes na campanha de 2018. Um ex-ministro do TSE ouvido pelo GLOBO confirmou que pagar por comentários favoráveis a candidatos configura propaganda irregular. A punição é multa de até R$ 30 mil.

Quem primeiro denunciou o caso foi a usuária @pppholanda. Ela participava de um grupo, arregimentado por uma empresa, que recebia dinheiro para postar conteúdos “de esquerda”. Mas não concordou com a defesa de candidatos petistas. A usuária disse que o combinado, inicialmente, seria organizar uma “ação séria de esquerda, não uma ação partidária”. Após receber orientações para escrever mensagens elogiosas à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao candidato ao governo de São Paulo, Luiz Marinho, e Wellington Dias, ela resolveu romper com o grupo. O estopim foi o pedido de apoio ao governador do Piauí.

Economia concentra propostas de candidatos

Alckmin, Ciro e Marina usaram agendas em São Paulo para divulgar pautas nessa área

Elisa Martins | O Globo

SÃO PAULO Propostas ligadas à economia marcaram os discursos dos candidatos à Presidência Ciro Gomes(PDT ), Geraldo Alckmin( PSD B) e Marina Silva (Rede) durante agendas públicas ontem em São Paulo.

Em visita a uma feira livre em Itaquera, Zona Leste da capital paulista, Ciro propôs que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica baixem suas taxas e serviços bancários para estimulara competição entre os bancos:

— Vou quebrar pesadamente o cartel dos bancos.

Ele voltou a prometer tirar 63 milhões de brasileiros do S PC e afirmou que quem critica essa sua proposta tem “horror ao povo”.

Já a candidata da Rede criticou benefícios concedidos por bancos a empresários ricos. Em visita ao Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, Marina defendeu que microempresários tenham juros mais baixo se a uma gerência técnica:

— O BNDES gastou um trilhão com empresários já milionários. Imagine uma fração desse dinheiro para o empreendedor comunitário com juros baixos?

Durante encontro na favela de Paraisópolis, também na Zona Sul de São Paulo, Alckmin se comprometeu a facilitar o acesso a crédito ao microempresário.

—Deca da dez empregos criados no Brasil, nove foram por micro e pequenas empresas— disse o tucano.

Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) não tiveram agendas ontem.

José Dirceu volta a atuar no PT e ajuda campanha de Fernando Haddad

Solto desde junho, ex-ministro dá conselhos ao plano B do partido ao Planalto

Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia antes de Fernando Haddad embarcar para seu primeiro périplo pelo Nordeste, o ex-ministro José Dirceu telefonou para Emídio de Souza, hoje um dos mais próximos assessores do ex-prefeito de São Paulo.

Conversaram longamente e Dirceu foi assertivo no conselho para a iminente inserção de Haddad entre o mais fiel eleitorado de Lula: a carta enviada pelo ex-presidente em 15 de agosto, no ato do registro de sua candidatura, deveria ser seguida como roteiro da campanha.

A linguagem, a simbologia, os temas, avalia Dirceu, estava ali tudo o que o povo fala e quer ouvir, como uma espécie de testamento de Lula.

Na mensagem, lida pelo próprio Haddad aos militantes que marcharam até Brasília para ver o registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-presidente afirma que seus apoiadores “terão que ser Lula” pelo país.

“Lembrando ao povo brasileiro que nos governos do PT o trabalhador teve mais empregos, maiores salários e melhores condições de vida”, dizia o texto interpretado pelo vice na chapa petista.

Solto desde junho pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Dirceu voltou a operar no PT. Desta vez, como ele mesmo define a aliados, apenas como consultor e não mais como dirigente que disputa para formar maioria em favor de suas opiniões.

Mas o ex-ministro da Casa Civil e todo-poderoso do primeiro governo Lula ainda é procurado por integrantes de seu partido para dirimir problemas internos e ajudar a acelerar a distribuição do fundo partidário, por exemplo.

Presidenciáveis disputam a atenção de lideranças rurais

- Valor Econômico

BRASÍLIA - Apesar de o eleitorado ser majoritariamente urbano no Brasil, a consolidação do setor agropecuário como o que mais cresce na economia brasileira, a despeito inclusive das crises recentes, já vem levando os candidatos à Presidência a mirarem e cortejarem o eleitor do campo. São vinculados ao agronegócio duas candidatas a vice-presidente: a senadora Ana Amélia (PP-RS), que está na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB); e a senadora Katia Abreu (PDT-TO), na chapa do pedetista Ciro Gomes.

Líder nas pesquisas de intenção de voto nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) já conquistou a empatia de muitos produtores rurais e também de parlamentares da bancada ruralista com sua ideia de liberar o porte de fuzis como alternativa para combater os altos índices de criminalidade no meio rural. Seu assessor econômico, Paulo Guedes, porém, tem feito críticas aos subsídios agrícolas, dos quais o setor não abre mão.

Já Marina Silva (Rede), que sempre enfrentou resistências dentro do agronegócio, se posiciona a favor do livre comércio para os produtos agropecuários, defende a expansão do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), ampliação do seguro rural e comercialização de alimentos de maneira "sustentável". Por outro lado, a candidata é contra o projeto de lei que agiliza o registro de agrotóxicos no país, uma das bandeiras ruralistas.

Ciro defende estímulos à agroindústria, ampliação de assistência técnica e extensão rural especialmente na Região Norte. Tem uma visão crítica, entretanto, quanto às isenções fiscais dadas a agroexportadores.

Alckmin fala em "reforçar" a liderança do Brasil na agricultura, pela transformação do Plano Safra em um plano plurianual que dê previsibilidade às políticas agrícolas, segurança jurídica no campo e também estímulo ao programa de seguro rural.

Marina é cobrada sobre aumento do salário mínimo

Por Thais Carrança | Valor Econômico

SÃO PAULO - Em encontro com mulheres no Capão Redondo, bairro periférico da capital paulista, a candidata à Presidência Marina Silva (Rede) disse ontem que, se eleita, terá compromisso de manter o poder de compra do salário mínimo, mas que não se pode ser demagógico neste tema, diante da crise vivida pelo país. Questionada pelo Valor após o evento, a candidata evitou dizer diretamente que pretende reajustar o salário básico apenas pela inflação, sem ganho real, como dito na semana passada pelo economista Eduardo Giannetti, assessor econômico de sua campanha, em entrevista à Globo News.

Pequeno, o evento contou com a participação de cerca de 20 pessoas, 15 delas mulheres, em sua maioria negras e empreendedoras, além dos assessores de Marina e jornalistas. Foi realizado na sala da casa de uma eleitora, a dona de lanchonete Cecilia de Souza, de 57 anos. A realização do encontro foi intermediada pelo ativista social carioca Anderson França, fundador da Universidade da Correria, projeto de promoção do empreendedorismo em comunidades periféricas, a pedido da campanha de Marina. Entre os presentes, a maioria se dizia ainda indecisa com relação ao voto, mas declarava maior simpatia aos candidatos de partidos de esquerda.

A pergunta mais dura do encontro foi feita pela pastora Irma do Carmo de Freitas Souza, de 59 anos. "O que a senhora pode fazer a respeito do salário mínimo? Ele pode chegar a um ponto em que a gente tenha dinheiro para não precisar comer salsicha e ovo todo dia?", perguntou a pastora.

"Hoje, o nosso compromisso é, diante da crise, manter o poder aquisitivo do salário mínimo, que não pode ser corroído pela inflação", disse Marina. "Queremos que o salário seja justo, mas não podemos fazer demagogia num país que está crescendo 1% e ficou três anos sem crescer", completou.

Na sexta-feira, em entrevista à Globo News, o economista da Rede Eduardo Giannetti foi questionado sobre o tema e deu uma resposta mais direta. "Infelizmente, no curto prazo, dada a dramaticidade da situação fiscal no Brasil, não vamos poder continuar naquela toada de aumento muito expressivo do salário mínimo real, vamos ter que dar uma pausa, mantendo o poder de compra", afirmou Gianetti.

Geraldo Alckmin promete ações para ajudar microempreendedores

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, visitou neste domingo a comunidade de Paraisópolis, na capital paulista, onde destacou a importância do empreendedorismo para a geração de renda não apenas na comunidade, mas em todo o Brasil. Alckmin reforçou seu compromisso de apoiar os microempreendedores. ”Vamos colocar o BNDES, o crédito, a favor do pequeno. Facilitar, desburocratizar”, disse.

”Todo nosso apoio aos empreendedores, com programas de crédito a juro zero, cursos técnicos para capacitação e boas parcerias. Vamos dar apoio para que eles cresçam. E tenho certeza de que a resposta será rápida”, prosseguiu.

O presidenciável reuniu-se com moradores na Associação das Mulheres de Paraisópolis, e assistiu a uma apresentação do ballet da comunidade. ”Aqui em Paraisópolis temos um excelente exemplo, com esse ballet premiadíssimo, com a formação de chefs, tudo isso feito pela associação das mulheres. Quero destacar a força da mulher”, completou.

O eleitor como freguês: Editorial | O Estado de S. Paulo

É espantosa a facilidade com que vários candidatos à Presidência da República, à moda das eleições de antigamente, alimentam de forma descarada a ilusão de que ao eleitor basta votar em alguém que lhe resolva os problemas particulares imediatos para que tudo melhore e reine a felicidade no País.

Diante dos imensos desafios que se apresentam à Nação, nesta que se afigura a mais importante eleição presidencial dos últimos tempos, é lamentável que alguns dos principais postulantes recorram ao populismo desbragado e rasteiro, tratando o eleitor como freguês de quitanda, que se satisfaz com a bisnaga de sempre, em vez de convidarem esse mesmo eleitor a refletir sobre seu papel, como cidadão, na reconstrução do Brasil.

Para que isso acontecesse, teria de estar em vigor no País uma outra cultura política, diferente desta em que parecem ganhar pontos os candidatos que se apresentam como “antissistema”. Em sua radicalização, que até este momento tem seduzido parcela considerável do eleitorado, à esquerda e à direita, esses candidatos procuram deslegitimar as instituições democráticas, vistas como inimigas – especialmente o Judiciário, o Congresso e a imprensa. Os eleitores estão sendo incitados não a apoiar soluções racionais para o País nem a aceitar sua parcela de responsabilidade nessa empreitada, e sim a dedicar seus melhores esforços para desmoralizar os adversários, repudiar o establishment e eleger um “salvador da Pátria”.

Candidatos precisam debater o déficit nas estatais: Editorial | O Globo

Rombo estimado das empresas dependentes do Tesouro para o ano ultrapassa os R$ 560 milhões

É crescente o déficit nas contas das empresas públicas dependentes do Tesouro Nacional. Entre as mais deficitárias, se destacam os Correios, a Infraero, a Casa da Moeda, o Serpro e a Dataprev.

Nessas cinco estatais, o rombo estimado para o ano já supera R $562 milhões, segundo análises de desempenho (em regime de caixa) realizadas pela Secretaria Nacional do Tesouro e pelo Tribunal de Contas da União. As perdas seriam de R$ 443,5 milhões nos Correios; R$ 38,8 milhões na Infraero; R $37,4 milhões no Serpro; R $13 milhões na Casada Moeda; e R$29,8 milhões na Dataprev.

O diagnóstico do próprio governo é objetivo: o buraco aumenta porque a receita gerada por esse grupo estatal está em declínio. Ao mesmo tempo, os gastos com pessoal crescem.

Empresas públicas não são uma peculiaridade do Brasil, fazem parte da paisagem econômica global, inclusive em países onde o liberalismo pauta as relações econômicas. É o caso da Inglaterra, onde representam 5% do Produto Interno Bruto, segundo a Comissão Europeia.

A diferença no caso brasileiro está na transformação dessas empresas em núcleos de interesses patrimonialistas — desde o empreguismo de cabos eleitorais às mais variadas formas de corrupção, como mostram as investigações sobre a institucionalização do suborno como método de administração pública, na última década e meia.

Vaivém de Bolsonaro: Editorial | Folha de S. Paulo

Presença de candidato nos debates é imprescindível para escrutínio do eleitor

Nome emergente na corrida pela Presidência da República, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) começa a se defrontar com o contraditório neste início de campanha.

Não se sabe ainda como a candidatura do capitão reformado, neófito em pleito de tal magnitude, irá reagir à propaganda de rádio e TV, que começa em setembro —e na qual terá ínfimos oito segundos.

Já se pode observar, de todo modo, casos de instabilidade do presidenciável, que se mostra irritadiço e errático ao se deparar com situações incômodas.

Depois do debate promovido da Rede TV!, por exemplo, em que se viu pressionado pela candidata Marina Silva (Rede), seus assessores aventaram a possibilidade de abandonar esse tipo de evento. Braço direito da campanha, Gustavo Bebianno, presidente do PSL, afirmou que os confrontos televisivos são inócuos e não levam a nada.

A seguir, o próprio Bolsonaro foi mais assertivo ao dizer ao portal UOL que não mais compareceria aos debates. Não tardou, porém, a voltar atrás, ao perceber as reações negativas que sua decisão intempestiva despertara.

Riscos no cenário eleitoral são piores do que os de 2002: Editorial | Valor Econômico

Mesmo depois de chegar a um pico de R$ 4,12 na semana passada, o dólar deverá apresentar muita volatilidade até as eleições presidenciais. A cotação vai reagir à qualidade do debate entre os candidatos, ao que cada um deles disser nas campanhas e às expectativas sobre quem sairá vencedor no pleito, afirmou o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, em entrevista ao Valor.

Hoje os riscos são mais graves do que os presentes em 2002, quando o mercado financeiro receava que, se eleito, o então candidato Lula fosse representar uma ruptura da política econômica do governo FHC. Outros economistas ouvidos peloValor, como o ex-presidente do BC, Gustavo Loyola e o ex-diretor do BC, José Julio Senna, compartilham a avaliação de Arminio, de que hoje a situação é mais dramática.

O lado positivo mais lembrado é a posição externa sólida do Brasil. O déficit em conta corrente atual é de cerca de 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB), o país é credor externo líquido e as reservas internacionais chegam a US$ 370 bilhões. O Brasil entrou no processo eleitoral de 2002 com um déficit em conta corrente de mais de 4% do PIB e apenas US$ 34 bilhões de reservas internacionais, que representava uma fração da dívida externa, então de US$ 210 bilhões.

Como bem notou Arminio, porém, o baixo deficit em conta corrente é um sintoma de que algo vai muito mal com a economia. Com a recessão mal curada, as importações caíram dramaticamente. "É a mesma coisa que uma pessoa que emagrece porque está doente", disse. As crises de confiança que abalam o balanço de pagamentos, lembrou, costumam se alastrar pela conta financeira. As reservas internacionais podem funcionar como um amortecedor a eventuais fugas de capitais. Mas o seu montante atual, embora maior do que em 2002, não é tão grande assim como parece -equivalem a cerca de 17% do PIB.

Filarmônica de Berlim: Bachianas Brasileiras n? 5 (Villa Lobos)

Carlos Drummond de Andrade: A Câmara Viajante

Que pode a câmara fotográfica?
Não pode nada.
Conta só o que viu.
Não pode mudar o que viu.
Não tem responsabilidade no que viu.
A câmara, entretanto,
Ajuda a ver e rever, a multi-ver
O real nu, cru, triste, sujo.
Desvenda, espalha, universaliza.
A imagem que ela captou e distribui.
Obriga a sentir,
A, driticamente, julgar,
A querer bem ou a protestar,
A desejar mudança.
A câmara hoje passeia contigo pela Mata Atlântica.
No que resta - ainda esplendor - da mata Atlântica
Apesar do declínio histórico, do massacre
De formas latejantes de viço e beleza.
Mostra o que ficou e amanhã - quem sabe? acabará
Na infinita desolação da terra assassinada.
E pergunta: "Podemos deixar
Que uma faixa imensa do Brasil se esterilize,
Vire deserto, ossuário, tumba da natureza?"
Este livro-câmara é anseio de salvar
O que ainda pode ser salvo,
O que precisa ser salvo
Sem esperar pelo ano 2 mil.