O Estado de S. Paulo
Com Bolsonaro inelegível, mas ainda relevante, a direita tem, aqui, o desafio de encontrar seu caminho de volta para o leito normal da democracia
A estigmatização dos imigrantes como
elementos nocivos e perigosos à sociedade é uma nota constante na retórica da
extrema direita na Europa e nos Estados Unidos. Batendo nessa tecla, partidos
antes à margem do sistema político passaram a ameaçar partidos conservadores
tradicionais. Temerosos de perder sua base eleitoral, vários destes
incorporaram aos seus discursos e programas temas típicos da extrema direita.
Junto com a estigmatização e a violação dos direitos humanos dos imigrantes
vieram a valorização de um nacionalismo de base étnica, racial e/ou religiosa e
a reafirmação dos tradicionais valores cristãos contra a aceitação da igualdade
e diversidade de gênero, orientação sexual e formas de constituir família. Vem
se rompendo, assim, o cordão sanitário protetor das democracias do Hemisfério
Norte desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Caso recente se deu na Espanha. Em maio, a direita venceu as eleições locais. O Partido Popular (PP), da direita democrática, decidiu aliar-se ao Vox, partido de extrema direita que, em rápida ascensão, se tornou uma das principais forças políticas do país nos últimos anos. Assumiram, juntos, o governo de comunidades autônomas importantes como Valência e Castela e Leão. Entusiasmado com o resultado das eleições locais, o PP dobrou a aposta para as eleições nacionais, antecipadas para julho, com a pretensão de atrair o voto da extrema direita e ganhar a maioria necessária no Parlamento para liderar um novo governo.