O Globo
À medida que o carro avança, os nomes dos
lugares me fascinam: Divinópolis, Doresópolis. Qualquer dia, paro para dar um
balanço desses nomes em Minas. Ou então para documentar as configurações e
nuances do céu. Hemingway descrevia certas nuvens como camadas de sorvete. No
crepúsculo em Minas, róseo e dourado, sinto como se o universo fosse uma capela
com o teto pintado pelo Mestre Ataíde.
Com um país tão interessante, não consigo
ainda explicar por que tanta confusão converge para sua capital, Brasília.
Essa história da vacina da Davati, por
exemplo, é um roteiro de chanchada. Um dirigente de empresa que recebe auxílio
emergencial e um cabo da PM que não consegue pagar o aluguel resolvem oferecer
400 milhões de inexistentes vacinas AstraZeneca.
Usam um reverendo para se aproximar do
governo. O reverendo é amigo de um homem que se diz super-homem. Sua entidade
religiosa falsifica logotipos da ONU, e ele se diz embaixador da paz. Ungido
por quem? Por outro reverendo, o famoso Moon. Sua grande missão diplomática foi
ir a Israel para unir judeus e árabes, tarefa que, como todos sabemos, alcançou
um perene êxito.
Às vezes, o enredo que passa pela CPI ganha um tom de pornochanchada com a contribuição do senador Heinze, que descobriu pesquisas contra a cloroquina financiadas por uma ex-atriz pornô chamada Mia Khalifa, que, agora, empolgada com sua inclusão no roteiro, quer visitar o Brasil para ajudar no combate à pandemia.