sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Fernando Abrucio* - Alta tensão atrapalha o governo

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Para sepultar a polarização que perversamente tem dividido o país, cabe mais, para a maioria dos temas, o Lulinha Paz e Amor

A intentona golpista de 8 de janeiro teve um duplo efeito sobre o governo Lula. O primeiro foi o fortalecimento do presidente eleito, porque ficou nítido o golpismo armado pelo bolsonarismo, o que geraria impactos deletérios não só para o petismo como ainda para o destino de todo o país. De lá para cá, Bolsonaro e seus aliados só têm recebido notícias ruins, inviabilizando qualquer oposição mais radical pelo menos nos próximos dois anos. A luta contra a extrema direita se dá num clima de alta tensão, típico de momentos de crise ininterrupta.

Manter-se nessa atmosfera tensa a todo momento, contudo, tende a atrapalhar a governabilidade e a tomada de decisões do governo federal. E é este o segundo efeito da intentona golpista que deve ser evitado. O governo Lula vai ter, portanto, que separar essas duas dimensões na lógica de seu mandato: a da luta contra o bolsonarismo extremista e a da governabilidade mais ampla.

Vera Magalhães - Parlamento clama por seu papel

O Globo

Lira dá recado de que novo marco fiscal e demais propostas da agenda do governo dependem de aceno ao Centrão

Passados os traumas do fim do orçamento secreto e do 8 de Janeiro, um em seguida ao outro, e uma eleição para o comando das Mesas das duas Casas Legislativas em que todos jogaram na retranca, o Congresso começa a se recompor para ser ouvido e contemplado em troca de assegurar a Lula a governabilidade que, na ponta do lápis, ele ainda não tem.

Tanto Arthur Lira quanto Rodrigo Pacheco, uma vez reeleitos, começaram a emitir de forma mais clara os sinais de como enxergam a, até aqui, não muito bem explicitada plataforma de governo do presidente e até que ponto estão dispostos a colaborar para sua implementação.

Não se sabe se os dois combinaram, mas os presidentes da Câmara e do Senado falaram no mesmo tom na crise que opôs Lula e o Banco Central: em favor da manutenção da autonomia da instituição, aprovada no Legislativo em 2021, e contra arroubos pela queda dos juros na marra, embora fazendo coro à preocupação do presidente com as taxas altas que seguram o crescimento da economia.

Bernardo Mello Franco - O caso da juíza tuiteira

O Globo

Julgamento no CNJ revelou mais uma semelhança entre Ludmila Lins Grilo e Bolsonaro

A combinação entre o ideário da extrema direita e o megafone das redes sociais já causou muitos estragos às instituições brasileiras. O Judiciário deveria passar longe disso, mas não escapou incólume.

Nesta terça, o Conselho Nacional de Justiça abriu processo disciplinar e afastou a juíza Ludmila Lins Grilo, de Unaí (MG). Discípula de Olavo de Carvalho, ela se notabilizou ao fabricar polêmicas e defender teses bolsonaristas na internet.

CNJ examinou sete episódios em que a doutora esqueceu a toga e usou as redes como palanque. Ela ganhou popularidade e seguidores ao compartilhar ataques ao Supremo Tribunal Federal.

Em agosto de 2021, indicou um artigo que comparava ministros da Corte ao procurador-geral de Stálin, descrito como “perfeito modelo de canalha” e “jagunço-mor de um regime que perseguia implacavelmente os opositores”. Dois meses depois, ajudou a divulgar um perfil criado pelo blogueiro Allan dos Santos para driblar o bloqueio de suas redes.

Flávia Oliveira - O carnaval voltou

O Globo

Festa de 2023 será de retomada, reconexão, reencontro

Não são segredos minha paixão pelo carnaval das escolas de samba, meu respeito pelos profissionais que o realizam, meu amor pela cidade que inventou e abriga a festa, o Rio de Janeiro. A fábrica de sonhos que é a Cidade do Samba, o fervo nas quadras e nas ruas que abrigam ensaios na temporada de preparação para o espetáculo — bem distribuídas na Região Metropolitana a ponto de escancararem a viabilidade de planos de desenvolvimento local quase sempre desprezados pelo poder público — me comovem. No domingo passado, me peguei emocionada também com as imagens de foliões paramentados às 6h da manhã para a maratona chamada Cordão do Boitatá.

No álbum dos sambas do desfile fora de época do Grupo Especial, no feriadão de Tiradentes, em abril de 2022, Neguinho da Beija-Flor anunciava no fim da faixa que renderia à agremiação de Nilópolis o vice-campeonato: “Alô, Brasil. Alô, mundo. O carnaval voltou”. Retornara o espetáculo na Marquês de Sapucaí — e também o do sambódromo do Anhembi, em São Paulo. O carnaval, propriamente, no Rio — e Brasil afora — está de volta agora, neste 2023 de pandemia não revogada, mas sob relativo controle. Salve a vacina. Viva o SUS.

Bruno Boghossian - Os atalhos de Lula no primeiro ano

Folha de S. Paulo

Com investimentos em obras e aumento do mínimo, presidente busca atalho para conter desaceleração

Depois de levantar uma briga pública contra uma ameaça de baixo crescimento, Lula lançou um plano econômico para o primeiro ano de governo. Ao longo da semana, o presidente apresentou um pacote de investimentos e benefícios que deve ser visto como um atalho para conter uma desaceleração do país na largada do terceiro mandato.

Um dos objetivos do petista é reeditar uma injeção de dinheiro na economia para estimular o consumo, assim como em governos anteriores. Lula desenhou a expectativa em dois eventos nos últimos dias, ao anunciar a intenção de retomar mais de 14 mil obras paradas no país.

Reinaldo Azevedo - Lula vence o debate sobre os juros

Folha de S. Paulo

Liberalismo mal digerido quer a Idade Média do futuro, com Estado dividido em guildas

Lula ganhou o debate sobre a taxa de juros —menos nos editoriais, no colunismo e, justiça se faça às respectivas coberturas, também no noticiário. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, surgiu como o candidato a genro ou a sogro nacionais. É lhano, suave, educado e sugere alguma introspecção e vida interior. Chegou a anunciar e a pregar "boa vontade" com o governo. Uau! Havendo interesse, procurem saber o que é o "Quadrado Semiótico de Greimas" para identificar quem Campos Neto entende ser o "doador" e o "donatário" nessa relação. Trata-se de uma concepção de Estado tão absurda que nem errada chega a ser —é mal de uma era; volto ao ponto mais tarde. É muita ousadia para quem não consegue explicar por que temos o maior juro da Terra. Inigualável como a pororoca.

O proselitismo que se produziu sobre a questão sugere uma derrota do petista por nocaute. Deixo, em princípio, a economia para a pletora de expertos (com "x"). O que me incomoda, no que respeita à política, é a gritaria autoritária que tenta cassar a palavra do presidente da República, como se o BC fosse a sarça ardente, que não pode nem ser mirada, de onde emana a palavra revelada Daquele que Não Tem Nome. É incompatível com a democracia. "Ah, mas você criticava Bolsonaro quando atacava o STF." Fato. Se for preciso explicar a diferença, o esforço será inútil. Então não. Adiante.

Vinicius Torres Freire - Trégua de Lula dura pouco

Folha de S. Paulo

Presidente volta a discursar contra donos do dinheiro, mas vida real agora vai importar mais

A trégua de Luiz Inácio Lula da Silva com "o mercado" durou pouco. Nesta quinta-feira, o presidente voltou ao palanque.

No entanto, os discursos lulianos já "estão no preço", por assim dizer. Isto é, os indicadores da finança passaram a reagir pouco ao palavrório. As condições financeiras (jurosdólar etc.) continuam em níveis muito piores do que os do início de novembro, em nível de arrocho, porém. Mas pararam de piorar.

Afora acidentes, como um transtorno na economia mundial, ou queda inesperada da inflação, as condições financeiras domésticas agora devem mudar de modo decisivo quando houver notícias da vida real. Ou seja, quando o governo apresentar medidas de impacto prático, boas ou ruins, ou a depender do comportamento do Congresso.

Fernando Gabeira - Juros altos e as altas expectativas

O Estado de S. Paulo

As discussões preliminares são importantes. Mas chega uma hora em que não podem monopolizar a agenda de um país que precisa encontrar seu caminho

Qual a taxa de juros correta num determinado momento histórico? Perguntar isso a quem não tem profundos conhecimentos econômicos me faz lembrar uma peça de Harold Pinter na qual mendigos entram numa cozinha de restaurante e são bombardeados por pedidos de pratos sofisticados e não têm mais do que um modesto sanduíche no farnel. Mas há uma intensa discussão sobre o assunto. Precisamos saber por que isso influencia nossa vida. Quem tem razão? Um dos critérios é escolher o que se preocupa com os mais pobres.

Lula quer taxas mais baixas porque isso poderia não só garantir sua política social, mas ajudar os que precisam de emprego. Ele tem os mais pobres no seu horizonte. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defende as taxas altas porque baixá-las, segundo ele, impulsiona a inflação e prejudica os pobres.

Eliane Cantanhêde - Cessar-fogo

O Estado de S. Paulo

Lula para de estressar a economia e resolve mostrar serviço e dar boas notícias

O presidente Lula calou a boca e maneirou o tom, o ministro Fernando Haddad anunciou a nova âncora fiscal para março, o deputado Arthur Lira criou o grupo de trabalho da reforma tributária e, por fim, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, botou as cartas na mesa e ajustou o seu discurso com o de Lula, pelo equilíbrio fiscal com prioridade social.

Feita a paz? Mais ou menos, porque isso não muda o essencial: o BC se mantém autônomo, os juros continuam altos, em 13,75%, e não há previsão para mexer na meta de inflação, reconhecidamente irreal, de 3,25%. Todo mundo baixa a bola, menos o PT, mas há muitas dúvidas e muita discussão pela frente para botar a casa em ordem. Ou melhor, as casas.

Celso Ming - Os juros e a inflação de custos

O Estado de S. Paulo

A principal discussão sobre os juros, sobre o tamanho da meta de inflação e sobre a autonomia do Banco Central (BC) não tem muito a ver com questões técnicas. Até agora se restringiu preponderantemente a questões emocionais ou políticas.

Mas eis que o próprio PT, na Resolução do Diretório Nacional divulgada nesta quinta-feira, aventa uma questão técnica em defesa da imediata redução de juros: a de que a natureza da inflação atual não tem a ver com o aumento da demanda, mas com mais custos.

Como uma inflação de custos não se combate com aumento dos juros, segue-se, como fica implícito na Resolução, que os juros têm de cair – para reduzir o custo do crédito, estimular o investimento e o emprego.

José de Souza Martins*: - A falência da Cultura

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Uma livraria não pode se confundir com salsicharia ou supermercado

A decretação da falência da Livraria Cultura é má notícia para a geração que, privada de simpatia pelas livrarias de estilo antigo, se acostumou à concepção de livraria de estilo de supermercado, em que o livro é mais produto e mercadoria do que obra e cultura. Misturado com outros negócios, o livro se transformou em objeto de passatempo, mais para ver do que para ler. A principal Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, com o imenso acúmulo de funções, tornou-se um lugar inóspito e cansativo.

Eu frequentava com a família a Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos. Foi lá que meu neto aprendeu a lidar com livro e a amar os livros. Nunca saíamos de lá sem um pacote de obras. Cada membro da família levava o seu.

Naercio Menezes Filho* - Quantas pessoas são pobres no Brasil?

Valor Econômico

Talvez as doações de renda ou comida entre as famílias pobres sejam mais importantes do que pensávamos

Recentemente foi divulgada uma pesquisa (Vigisan) mostrando que cerca de 33 milhões de pessoas passavam fome no Brasil entre novembro de 2021 e abril de 2022. Essa pesquisa teve grande repercussão e deixou a sociedade bastante preocupada. Além disto, várias outras pesquisas sobre pobreza e desigualdade no Brasil são frequentemente divulgadas, algumas vezes com dados inconsistentes entre si. Afinal, quantas pessoas são extremamente pobres no Brasil? Quantas passam fome?

É bem difícil responder estas perguntas, pois não existe uma definição única para medir a pobreza e há vários problemas nos dados existentes. Em tese, para calcularmos o número de pessoas extremamente pobres, precisamos definir uma linha de pobreza. As pessoas com renda familiar per capita abaixo desta linha seriam as extremamente pobres. Mas como definir esta linha? Como não há uma linha oficial de pobreza no Brasil, cada pesquisador tem a sua.

Claudia Safatle - Trégua aparente, mas com clima ruim

Valor Econômico

Só com decreto CMN pode mudar meta de inflação já fixada

Há uma aparente trégua na briga que o presidente Lula começou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Lula saiu do embate e deixará a tarefa de falar contra as taxas elevadas dos juros com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Mas o clima continua ruim para o comando do BC, que está sob pressão há dez dias. A tendência, agora, é de se preservar a autonomia da instituição e atacar o patamar da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75%. Até porque os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, responsáveis pela aprovação da lei que conferiu autonomia para o BC, reiteraram, de forma dura, que esse é um assunto que não tem volta.

Humberto Saccomandi* - Os canhões na Ucrânia não vão silenciar logo

Não há ainda uma perspectiva à vista de fim da guerra

A guerra iniciada com a invasão da Ucrânia pela Rússia completa um ano daqui a uma semana sem a perspectiva de final à vista. As estratégias adotadas até agora pelos dois lados para acelerar o fim do conflito não funcionaram. Tudo indica que os combates vão se intensificar nos próximos meses. E o potencial de causar dano à economia mundial continuará elevado.

Quando ordenou que suas tropas invadissem a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, o presidente russo, Vladimir Putin, possivelmente não imaginava que a guerra se prolongaria por tanto tempo. A tentativa de uma ocupação rápida do país com a tomada da capital, Kiev, logo fracassou. E as forças russas acabaram perdendo, no final do ano, território no sul e leste da Ucrânia que haviam ocupado. Moscou não conseguiu ainda vencer no campo de batalha.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Congresso tem como consertar erro do Supremo

O Globo

Projeto de Lei tenta restabelecer segurança jurídica depois de decisão que gerou incerteza tributária

A Câmara deveria aprovar regime de urgência para a tramitação do Projeto de Lei (PL) 508/2023, do deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), protocolado na última terça-feira. O texto propõe mudanças nas regras para cobrança de tributos menos de uma semana depois que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada no último dia 8, criou enorme insegurança jurídica em matéria tributária.

Provocados pelo Fisco, os ministros julgaram um caso envolvendo a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). De forma unânime, os 11 derrubaram decisões judiciais beneficiando empresas que entraram com ação pedindo isenção da contribuição. O embasamento foi o princípio da isonomia. A Corte entendeu, corretamente, não poder compactuar com um desarranjo na concorrência. Quem ganha o direito de não pagar passa a ter uma vantagem desleal diante dos concorrentes que não entraram na Justiça ou que entraram e não foram atendidos.

Poesia | Poema da necessidade - Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Roberta Sá - Alô Fevereiro