terça-feira, 24 de agosto de 2010

O cidadão, o cliente e os intelectuais :: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Perder faz parte do jogo, o que desonra é perder sem luta, sem deixar princípios para os que continuam

Será mesmo que estaríamos condenados pelo destino a avançar a pequenos solavancos, uma vez que essa seria uma marca inamovível, ancorada na forma conservadora com que nosso Estado veio ao mundo? Teria a sociedade, depois de experimentar tantas alternativas, acabado por se acomodar ao tempo lento e aos ganhos "moleculares"? Já não se ouvem vozes na Universidade - felizmente ainda isoladas, e que assim se conservem - a fazerem o elogio da modernização conservadora brasileira, forma autoritária que presidiu o nosso processo de industrialização, e que, como modalidade de mudança social esteve presente em contextos nacionais que abriram passagem para o fascismo, tal como na Alemanha, Itália e no Japão? A tentação de rendição a esse processo, no que seria um encontro com a nossa verdadeira natureza, se generaliza e não pode ser mais ignorada. Se até a pouco tempo atrás um Raimundo Faoro identificava com palavras sarcásticas um fio vermelho a vincular D. Pedro II com Vargas, hoje essa linha se esticou até Lula, passando pelo regime militar, e é saudada como benfazeja.

A sucessão em curso, a dar crédito ao discurso dos candidatos que se encontram no topo das pesquisas eleitorais, parece confirmar esse movimento, em que todos disputam quem detém as credenciais para levar adiante uma história que deu certo e que segue uma linha reta de realizações nos objetivos nacionais. Agora, mais uma volta gradual nesse parafuso estaria para ser concluída, com a exposição do Estado e de suas políticas públicas às pressões que vêm do voto e que demandam mais segurança, mais saúde e educação, mais e melhores bolsas famílias. Em cada volta, o Estado e a coalizão pluriclassista que o sustenta amplia a sua legitimação e o domínio que exerce sobre sua sociedade ao estender a sua rede de incorporação a setores até então dela excluídos. Para ele, reserva o monopólio da política, em nome de uma presumida delegação que a sociedade lhe teria conferido graças a seus bons resultados na economia e na questão social.

O despojamento político da sociedade, à falta de uma justificação na teoria democrática, recua para o campo de uma perspectiva ético-moral: a precedência da administração sobre a política se faz defender pela primazia que deve caber à questão social, pois, segundo seus termos, governar é administrar, no registro da compaixão, sobre uma massa de seres dependentes, cabendo ao Estado e às suas agências selecionarem os alvos preferenciais de suas ações. O cidadão fica submerso no cliente, cabendo a ele decifrar, na hora do voto, qual o candidato mais confiável para a realização das promessas de ocasião.

Nada disso é distante das nossas mais remotas tradições, do Império a Vargas, fincadas na precedência do Estado sobre a sociedade civil, e não à toa Oliveira Vianna, que as defendeu em sua obra produzida entre as décadas de 1920/1930, tão esquecido até recentemente, tenha se tornado um autor de referência nos estudos atuais sobre a formação do nosso pensamento social e político. Contudo, na moderna democracia de massas brasileira, já assentada sobre uma crescente economia capitalista, com a vocação e as oportunidades para uma vigorosa expansão, inclusive fora de suas fronteiras nacionais, submergir a política na questão social, como se verifica nos atuais debates sucessórios, não passa de um exercício de mistificação.

Evidente que há uma política nos atuais círculos governantes, e que conta com palpáveis possibilidades de se reproduzir no próximo governo. Ela não surgiu pronta, mas, por ensaio e erro, chegou-se a ela em meio ao segundo mandato de Lula, que, embora seu alardeado pragmatismo, foi delineando o seu contorno, na prática, inteiramente descontínua quanto ao que foi o programa libertário do PT dos movimentos sociais e da autoorganização do social. Se o chamado "protagonismo dos fatos" campeou no primeiro mandato, já são visíveis as mãos que operam no campo decisivo da alavancagem da economia, da política científica e da projeção para o exterior do capitalismo brasileiro. Só está faltando dizer que, no século XXI, o Brasil deve investir no papel da política expansionista americana de começos do século XX.

Falta, ainda, talvez até por ardil, apresentar as razões dessa política grão-burguesa, em que se assuma a defesa da sempre perigosa, para os fins da democracia, fusão entre o Estado e os grandes grupos econômicos como hoje se verifica à vista de todos. A ideologia de Estado entre nós, quando dominante, nunca se recusou a sua justificação, tal como fizeram o Visconde de Uruguai no 2º Reinado, Francisco Campos, Azevedo Amaral e Oliveira Vianna no Estado Novo, e Golbery do Couto e Silva e outros no regime militar. Ela ainda não recuperou o viço de outrora, e, quem sabe, talvez nem vingue completamente, e, por ora, mal sabemos os nomes dos intelectuais que aceitam o risco de se apresentarem como seus campeões.

Evitá-la é não lhe conceder terreno livre, evitando os atalhos que não levam a lugar algum, como se perder em discussões sobre mutirões de saúde, e não questionar a vinculação atual dos movimentos sociais e do sindicalismo ao Estado, abdicar da política e se embrenhar nos caminhos perdidos da administração. Nas competições esportivas e eleitorais, perder faz parte do jogo, o que desonra é perder sem luta, sem deixar para os que vão continuá-la o exemplo da coragem e de uma posição firme quanto a princípios.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, membro do seu conselho institucional. Escreve às segundas-feiras

(Artigo publicado, ontem. Republicado, hoje, atendendo aos pedidos)

Campos de batalha:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

As campanhas de São Paulo e Minas Gerais, estados dominados pelo PSDB nos últimos anos, mas onde o PT tem forte presença política, são os campos de batalha onde se decide a possibilidade de a eleição presidencial terminar ou não no primeiro turno a favor da candidata oficial, Dilma Rousseff.

O presidente Lula acha que pode ganhar no primeiro turno, e por isso pretende voltar baterias para São Paulo para tentar alterar o resultado que favorece Geraldo Alckmin, o candidato tucano ao governo.

Ele tenta, com a nacionalização da campanha, atingir dois objetivos: encurtar a diferença entre Dilma e o adversário tucano, José Serra, no estado, e reverter a disputa estadual, hoje amplamente favorável ao PSDB.

Da mesma maneira que a imagem de Mercadante não está aproveitando o prestígio nacional do presidente Lula, que se reflete na candidata a presidente mas não na campanha para governador, também Serra não está se beneficiando do prestígio pessoal de ex-governador bem avaliado nem do de Alckmin no estado.

Tanto que Serra está fazendo a menor diferença até hoje que um candidato do PSDB consegue tirar em cima do PT em São Paulo.

A avaliação do comando petista é que, se a campanha estadual não for nacionalizada, Alckmin vence no primeiro turno.

Acham que Alckmin mordeu a isca colocando mais Serra em seu programa eleitoral.

Ao contrário, os tucanos consideram que o apoio de Alckmin tende a melhorar a vantagem que já têm em São Paulo.

O PT acha que há possibilidade de equilibrar mais no estado essa disputa nacional, e usar o prestígio de Lula para tentar reverter situação para o governo do estado.

Enquanto Alckmin falava sobre trem-bala, prometia rever os pedágios, tratava das questões da educação em São Paulo, parecia aos petistas imbatível.

No momento em que começou a tentar ajudar Serra criticando o governo federal, acreditam os petistas que se abriu uma nova possibilidade de tentar levar a eleição para o segundo turno.

Enquanto o debate entre os candidatos a governador estava se dando em torno da discussão do programa de governo ou imagem dos candidatos, a situação era mais favorável para Alckmin, nessa avaliação petista.

Na situação anterior, mesmo que Dilma ultrapassasse Serra no estado, Mercadante não ganharia de Alckmin; as duas eleições estão completamente separadas.

O PT tem pesquisas que demonstrariam que é possível equilibrar a situação em São Paulo na disputa a presidente.

Estão fazendo pesquisas em cidades do interior em que Alckmin derrotou Lula no primeiro turno de 2006, como Tupã, onde Lula teve 29% dos votos contra mais de 50% de Alckmin.

A pesquisa atual está dando 37% para Serra e 35% para Dilma. O que demonstraria que existe espaço na campanha para encurtar a distância entre Dilma e Serra no estado.

O prestígio do presidente Lula estaria transferindo os votos em nível nacional e, porque acredita que a vitória de Dilma deve ocorrer no primeiro turno, vai tentar levar essa transferência de votos para a disputa pelo governo paulista.

Ao mesmo tempo, pesquisas mostram que em Minas Gerais o quadro pode estar sendo alterado, com o candidato do ex-governador Aécio Neves se aproximando do líder, o senador Hélio Costa, do PMDB apoiado pelo presidente Lula.

Lá ocorre até o momento uma situação inversa, com a candidata Dilma Rousseff vencendo a disputa nacional e o candidato apoiado pelo PT ganhando também a disputa pelo governo estadual.

O ex-governador Aécio Neves trava uma disputa particular com o presidente Lula para definir quem tem mais capacidade de transferir votos, e ao mesmo tempo pretende que uma reversão de expectativas para o governo estadual, favorecendo seu candidato Antonio Anastasia, se reflita também na campanha de José Serra.

A aposta do PT na virada de tendência em São Paulo se baseia na popularidade do presidente Lula, mas ao mesmo tempo, tanto em Minas quanto em São Paulo, são os tucanos que têm maior força eleitoral nas eleições estaduais recentes.

Essas situações estaduais ainda em processo é que alimentam as esperanças dos tucanos de que a disputa presidencial sofra alterações nos próximos dias, ao mesmo tempo em que os petistas temem o clima de já ganhou.

Não foi àtoa que o PMDB soltou uma nota oficial desmentindo que já esteja dividindo os cargos de um eventual governo Dilma Rousseff, e que a direção petista se recuse a discutir partilha de governo com os aliados.

Usam para impedir que essa conversa prospere a desculpa de que dá azar falar em vitória antes da abertura das urnas.

A coligação oposicionista, por sua vez, começa a alterar sua estratégia eleitoral em busca de uma recuperação.

Decidiu incrementar as campanhas de rua pelos estados, e para isso as militâncias estaduais receberão dinheiro para a confecção de bandeiras, cartazes e adesivos que levem a imagem de Serra aos eleitores de todo o país.

A direção do PSDB considera que o dinheiro do orçamento já está garantido por compromissos de vários doadores.

São Paulo e Minas, estados tradicionalmente azuis, são onde os tucanos jogam suas últimas esperanças de levar a eleição presidencial para o segundo turno, enquanto os petistas pretendem pintá-los de vermelho, o que daria um caráter de extermínio da oposição ao projeto de poder lulista.

A menor graça :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Deve-se aos programas de humor e à mobilização dos humoristas a contestação de uma das mais graves distorções institucionais na Lei Eleitoral em vigor desde 1997: a abolição do exercício da crítica política no rádio e na televisão nos três meses que antecedem a eleição.

De lá para cá foram realizadas seis eleições, sendo três presidenciais.

Por isso, os rapazes e as moças do humor já mereceriam assento junto aos idealizadores do projeto Ficha Limpa, numa hipotética premiação a iniciativas para melhorar os meios e os modos da tão antiquada política brasileira.

Posto o mérito, é preciso dispor alguns equívocos. Há desorientação e falta de informação na campanha, cujo primeiro ato público foi uma passeata na praia de Copacabana.

Delícia, mas é preciso falar mais sério e certo.

Muita gente ainda acha que a proibição atinge apenas os programas humorísticos e que é uma inovação da Justiça Eleitoral.

Os organizadores cometem seus deslizes. Abriram um abaixo-assinado para ser enviado ao ministro da Cultura pedindo a revogação da lei. Dizem que essa é a maneira de repetir a trajetória do projeto Ficha Limpa.

O veto a candidaturas de gente condenada por tribunal foi obtido pela aprovação de uma lei no Congresso, cujo projeto teve iniciativa popular. Nada a ver com o Poder Executivo, com ministros nem presidentes de autarquias.

Aliás, cumpre ressaltar que se dependesse do Poder Executivo o projeto não teria sido aprovado.

Acabou sendo pela conjugação de dois fatores: a pressão social e a certeza de muitos congressistas e palacianos de que a lei não entraria em vigor neste ano ou seria derrubada na Justiça por inconstitucionalidade.

O caminho correto, portanto, é o Legislativo. Seja por intermédio de algum parlamentar ou mediante apresentação de projeto de lei com o apoio de 1 milhão de cidadãos.

A proibição, que fique claro, pois, não foi uma invenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas consta de uma lei aprovada em 1997 e que não visa apenas, mas também, a atingir os humorísticos.

Suspende de um modo geral a vigência do artigo da Constituição que assegura a liberdade de expressão, uma vez que proíbe que as pessoas - jornalista, humorista, qualquer um - façam juízo de valor sobre candidatos, partidos ou coligações.

Deu para entender? É proibido dar opinião. Talvez fosse o caso de pedir ao Ministério Público para entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade.

Excelente os humoristas terem aberto esse caminho. Só assim alguém - além de jornalistas que sempre podem ser acusados de advogar em causa própria - prestou atenção nesse aspecto da lei.
Por isso mesmo é necessário entrar na luta de modo correto, com as informações certas, para não acabar pedindo ajuda na casa do inimigo.

Partilha. Quanto mais as pesquisas mostram o favoritismo de Dilma Rousseff, mais abertamente o PMDB trata da divisão do latifúndio público federal.

No domingo o presidente do partido e candidato a vice de Dilma, Michel Temer, divulgou nota oficial negando essa intenção. Foi a terceira negativa nesse sentido no último mês. Nas primeiras duas vezes Temer desmentiu a si mesmo: em uma delas, disse que o PMDB seria "protagonista" no governo e, na segunda, discorreu a senadores a respeito do compartilhamento de espaços.

No lugar de divulgar notas à imprensa, mais eficaz seria Temer tentar conter o ímpeto da tropa.

Antigamente. Logo depois de eleito, em outubro de 2002, Lula fez um pronunciamento público em que, entre outros agradecimentos, dizia-se grato ao então presidente Fernando Henrique Cardoso por sua "imparcialidade" durante o processo eleitoral.

Segundo Lula, a conduta de FH e a Justiça Eleitoral "contribuíram para que os resultados das eleições representassem a verdadeira vontade do povo brasileiro".

A 'mexicanização' em marcha :: Bolívar Lamounier

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O processo sucessório presidencial em curso comporta dois cenários marcadamente assimétricos, conforme o vencedor seja José Serra ou Dilma Rousseff. Se for José Serra, não é difícil prever a cerrada oposição que ele sofrerá por parte do PT e dos "movimentos sociais", entidades estudantis e sindicatos controlados por ele - e, provavelmente, do próprio Lula. Se for Dilma Rousseff - como as pesquisas estão indicando -, o cenário provável é a ausência, e não o excesso, de oposição.

Para bem entender esta hipótese convém levar em conta dois fatos adicionais.

Primeiro, o cenário Dilma não se esgota na figura da ex-ministra. Ele inclui, entre os elementos mais relevantes, o controle de ambas as Casas do Congresso Nacional pela dupla PT e PMDB. Inclui também uma entidade institucional inédita, personificada por Lula. Semelhante, neste aspecto, a um aiatolá, atuando de fora para dentro do governo, Lula tentará, como é óbvio, influenciar o conjunto do sistema político no sentido que lhe parecer conveniente ao governo de sua pupila ou a seus próprios interesses. Emitirá juízos positivos ou negativos, em graus variáveis de sutileza, sobre medidas tomadas pelo governo e regulará não só o comportamento da base governista no Congresso, mas também os movimentos de sístole e diástole da "sociedade civil organizada" - entendendo-se por tal os sindicatos, segmentos corporativos e demais organizações sensíveis à sua orientação.

O segundo fato a considerar é a extensão da derrota que Lula terá conseguido impor à oposição. Claro, a eventual derrota será também consequência das ambiguidades, das divisões e dos equívocos da própria oposição, mas o fator determinante será, evidentemente, a ação de Lula e do esquema de forças sob seu comando. Deixo de lado, por óbvio, as condições econômicas extremamente favoráveis, o Bolsa-Família, a popularidade do presidente, etc.

José Serra ficará sem mandato até 2012, pelo menos. No Senado - a menos que sobrevenha alguma reorganização das forças políticas -, Aécio Neves fará parte de uma pequena minoria parlamentar, situação em que ele dificilmente exercerá com desenvoltura as suas habilidades políticas.Nos Estados, os governadores eventualmente eleitos pelo PSDB, sujeitos ao torniquete financeiro do governo federal, estarão igualmente vulneráveis ao rolo compressor governista. Longe de mim subestimar lideranças novas, como a de Beto Richa, no Paraná, e a de Geraldo Alckmin, em São Paulo. Mas não é por acaso que Lula já se apresta a batalha por São Paulo, indicando claramente a sua disposição de empregar todo o arsenal necessário a fim de reverter o favoritismo tucano neste Estado.

Resumo da ópera: no cenário Dilma, o conjunto de engrenagens que Lula montou ao longo dos últimos sete anos e meio entrará em pleno funcionamento, liquidando por certo período as chances de uma oposição eficaz. A prevalecer tal cenário, parece-me fora de dúvida que a democracia brasileira adentrará uma quadra histórica não isenta de riscos.

É oportuno lembrar que o esquema de poder ora dominante abriga setores não inteiramente devotados à democracia representativa, adeptos seja do populismo que grassa em países vizinhos, seja de uma nebulosa "democracia direta", que de direta não teria nada, pois seus atores seriam, evidentemente, movimentos radicais e organizações corporativas. Claro indício da presença de tais setores é a famigerada tese do "controle social da mídia", eufemismo para intervenção em empresas jornalísticas e imposição de censura prévia.

Na Primeira República (1889-1930), a "situação" - ou seja, os governantes e seus aliados nos planos federal e estadual - esmagava a oposição. Foram poucas e parciais as exceções a essa regra. Mas a estratégia levada a cabo por Lula está indo muito além. É abrangente, notavelmente sagaz e tem um objetivo bem definido: alvejar em cheio a oposição tucana. Para bem compreendê-la seria mister voltar ao primeiro mandato, ao discurso da "herança maldita", sem precedente em nossa História republicana no que se refere ao envenenamento da imagem do antecessor; à anistia, retoricamente construída, a diversos corruptos e até a indivíduos que se aprestavam a cometer um crime - os "aloprados"; e aos primórdios da estratégia especificamente eleitoral, ao chamado confronto plebiscitário, em nome do qual ele liquidou no nascedouro toda veleidade de autonomia por parte de quantos se dispusessem a concorrer paralelamente a Dilma Rousseff. A Ciro Gomes Lula não concedeu sequer a graça de uma "sublegenda", para evocar um termo do período militar.

Para o bem ou para o mal, a única oposição político-eleitoral potencialmente capaz de fazer frente ao rolo compressor lulista é a aliança PSDB-DEM-PPS. No horizonte de tempo em que estou pensando - digamos, os próximos quatro anos -, não há alternativa. Portanto, a operação a que estamos assistindo, com seu claro intento de esterilizar ou virtualmente aniquilar essa aliança, coloca-nos nas cercanias de um regime autoritário.

Sem a esterilização ou o aniquilamento político-eleitoral da mencionada coalizão, não há como cogitar de um projeto de poder hegemônico, de longo prazo e sem real alternância de poder. A esterilização pode resultar de uma estratégia deliberada por parte do comando político existente em dado momento, de uma conjunção de erros, derrotas e até fraquezas das próprias forças oposicionistas - ou de ambas as coisas.

Sociologicamente falando, não há funcionamento efetivo da democracia, quaisquer que sejam os arranjos constitucionais vigentes, num país onde não exista uma oposição eleitoralmente viável. Haverá, na melhor das hipóteses, um autoritarismo disfarçado, um "chavismo branco" ou, se preferem, um regime mexican style - aquele dominado durante seis décadas pelo PRI, o velho Partido Revolucionário Institucional mexicano.

Cientista Político

Com todo respeito a qualquer dos dois :: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Se Barack Obama chegou lá com a senha “nós podemos”, Lula não se contenta com o que lhe coube, e insiste em ficar por perto, ou dentro, o tempo necessário para calibrar o Brasil e ensinar democracia ao vivo, e não só em livros, aos brasileiros que, pela leitura das pesquisas e eleitoralmente falando, estão ao seu dispor. E lascou: “Queremos continuar governando este país”. Tanto que nem cita, por supérfluo, o nome da candidata que escolheu como era costume social na Primeira República (estender um lenço na cadeira ao lado, para guardar lugar em salas de espetáculo).

O Brasil do presidente Lula é outro, e a História dirá se por culpa ou mérito pessoal dele, sem desrespeito a qualquer dos dois. Foi Lula quem se considerou o presidente pelo qual o Brasil esperava, mas demorou em se dar conta de que não podia ter testemunhas por perto. Assim, permite-se, folgazão, excepcionalmente na primeira pessoa do plural, coisa rara, citar Barack Obama e ganhar tempo, dizer que não apenas podemos como gostamos e queremos continuar governando este país. Passou despercebido, sem ser ouvido nem lido, mas dá para pensar quando, referindo-se à oposição em outra oportunidade, com voz roufenha, gritou – “querem continuar governando este país”, esquecendo-se de se incluir no plural. Quem, mais do que ele, quer e não esconde? Sendo um de cada vez, e por eleição lisa e limpa, dispensa-se a veemência. O queremismo não dá duas safras, e a primeira foi suficiente com Getulio Vargas.

No começo deste ano, cuja página eleitoral está sendo por ele virada na marra, diz o presidente – que não se lembra de que não o é apenas do petismo e associados no uso do poder, mas de todos os brasileiros – vocalizou o que já vinha atropelando: “Vou fazer força para eleger a minha sucessora” e “não vou mais dar palpites”. Honrou a primeira e nem se lembrou da segunda ressalva. Bem que avisou, mas ninguém prestou atenção. Quem não pode se queixar, pois ainda é toda agradecimentos, é Dilma Rousseff, que não sabe o que pode estar à sua espreita. Não pode se descuidar de quem diz que já governou “este país por oito anos” e recomenda a Dilma um estilo pessoal, dela, porque o dele é exclusivo, e o original vale mais do que a cópia. Já fala por conta do cargo de ministro ventríloquo do governo que pretende ter à mão.

Modéstia à parte, coisa rara, o presidente esbanja charme ao ressalvar que “me contentarei em ser um bom ex-presidente” (melhor do que o presidente que foi ao antecipar o processo eleitoral) numa situação que não o livrará do desconforto de ser visto pelas costas. Não poderá contar com a plenitude de poder de que parece insaciável, à luz de ensinamentos que a História põe à disposição dos interessados, que não terão como alegar mais tarde que não sabiam de tudo que a democracia subentende e dispensa explicações.

A China e a renda diferencial de Ricardo :: Paulo R. Haddad

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nos últimos cinco anos tenho trabalhado em atividades de consultoria em cerca de duas dezenas de municípios economicamente deprimidos, localizados principalmente no centro-norte do Pará e no leste de Minas Gerais. O objetivo é identificar oportunidades de investimentos diretamente produtivos visando a promover um processo de desenvolvimento desses municípios e suas microrregiões. Os principais obstáculos a ser enfrentados têm sido a profunda escassez de capital social e institucional, assim como o quadro de histerese socioeconômica que permeia as estruturas desses municípios e de seus habitantes. Faltam as condições necessárias para a mobilização social e política da população, de um lado, e para o empreendedorismo local, do outro, visando tanto a solucionar os problemas socioeconômicos quanto a ativar as potencialidades de crescimento econômico.

Mas, em quase todos esses municípios, um evento portador de mudanças chega de forma inequívoca em suas economias. Com o crescimento acelerado da demanda mundial de produtos intensivos de recursos naturais renováveis e não-renováveis (alimentos, bioenergéticos, papel e celulose, minérios e metais, etc.), particularmente a partir da expansão intensificada do consumo e dos investimentos na China, tornou-se inevitável redefinir o nível de potencial econômico desses municípios.

No médio prazo, pode-se dizer que a dotação de recursos de uma região menos desenvolvida é simplesmente o estoque de recursos naturais que são requeridos, em algum grau, pela economia nacional para atender às demandas interna e externa. À medida que os requisitos da economia se modificam no longo prazo, a composição do estoque se altera e, nesse sentido, o significado do que seja "dotação de recursos" muda com a dinâmica do crescimento econômico, ou seja, com os determinantes da demanda final (preferência dos consumidores, distribuição da renda e da riqueza, padrão do comércio exterior, etc.) e com as condições tecnológicas e de organização do sistema produtivo. Assim, o conceito de potencial de recursos é econômico, e não físico. O valor de um recurso natural não é, pois, intrínseco ao material que o compõe, mas depende da estrutura da demanda, dos custos de produção, dos custos de transporte e das inovações tecnológicas que sejam comercialmente adotadas.

Ora, com a mudança do patamar da demanda global para produtos intensivos de recursos naturais, muitas áreas do País estão tendo sua potencialidade econômica redefinida. Ou porque os crescentes preços relativos desses produtos permitem o uso de recursos de pior qualidade (áreas ecologicamente degradadas) ou porque esses preços favorecem o uso de recursos geograficamente de menor acessibilidade (áreas mais distantes dos mercados consumidores). Dois economistas clássicos estudaram particularmente este processo de valorização de recursos naturais de menor produtividade ou pior qualidade (Ricardo) ou de pior acessibilidade e maiores custos de transporte (Von Thünen) gerando uma renda diferencial para os seus proprietários, num contexto de demanda induzida em expansão.

Assim vem ocorrendo em muitos municípios do País, como no centro-norte do Pará, com o plantio de palmáceas de dendê para a produção de biodiesel em áreas de pastos degradadas; ou no leste de Minas, com a demanda de terras de menor produtividade para o plantio de eucaliptos para duplicação da capacidade produtiva da indústria de papel e celulose. O valor econômico do patrimônio fundiário se amplia seja por diferentes formas de arrendamento de parcelas das propriedades, seja por contratos de pré-compra com assistência técnica liderados por empresas-âncora.

Como a expansão da demanda direta ou indireta por recursos naturais (ainda que de baixa produtividade ou de pior acessibilidade espacial) tende a ser sustentada, consistente e crescente em escala global, o crescimento da renda diferencial dos seus proprietários tende a se elevar e a contribuir para a formação do embrião de uma nova vertente da classe média rural nesses municípios.


Professor do IBMEC/MG, foi Ministro do Planejamento e da Fazenda

Pedacinhos do Céu (Waldir Azevedo) - Conjunto Som Brasileiro

Sinais contraditórios de PT e Dilma – Editorial / O Globo

A luta em defesa das liberdades de imprensa e, de modo mais amplo, de expressão ganha cada vez mais importância na América do Sul. Não apenas devido ao avanço do autoritarismo do caudilho Hugo Chávez contra jornais venezuelanos independentes, mas também ao recrudescimento, na Argentina, do cerco aos grupos Clarín e La Nación comandado da Casa Rosada pelo casal Kirchner. E a esses dois movimentos liberticidas se soma a ação de grupos políticos no continente, com representação no Brasil, em apoio a este garroteamento do jornalismo profissional, não chapabranca.

As intenções deletérias desses grupos de esquerda autoritária, neopopulistas, foram expressas semana passada, em Buenos Aires, no XVI encontro do Foro de São Paulo, organismo fundado na década de 90 para essas correntes políticas trocarem experiências, ajudarem-se mutuamente. Foi naquela época e desta forma que Lula e outros dirigentes petistas mantiveram contato com as Farc, que não estiveram presentes em Buenos Aires. Esperase que o Foro tenha concluído não ser saudável misturar-se à narcoguerrilha.

A ausência das Farc no encontro de Buenos Aires, entretanto, não tornou suas conclusões menos tóxicas para a democracia.

Como tem sido praxe nesse tipo de reunião vide a Confecom no Brasil , defendeu-se a democratização dos meios de comunicação e a limitação na concentração dos meios, termos cifrados para designar a censura em nome do social e dos direitos humanos, bem como a debilitação das empresas independentes de comunicação, para que passem a mendigar verbas públicas, fórmula infalível destinada a sufocar de vez a liberdade de imprensa.

Daí o tal encontro ter elogiado a Argentina, onde o casal Kirchner empreende novo ataque ao Clarín e ao La Nación.

Nos últimos dias, a Casa Rosada, como sempre de maneira arbitrária, cassou uma licença do grupo Clarín de provimento de serviços de internet e acelerou a escalada para tomar o controle da Papel Prensa, única fábrica de papel de imprensa do país, dona de 75% do mercado interno. Nesta empresa, o Estado argentino, com 28,08% das ações, é sócio do Clarín (49%) e do La Nación (22,49%), e tem feito de tudo para assumir toda a fábrica, com intenções óbvias. O agressivo e todo poderoso Guilhermo Moreno, secretário de Comércio Interior dos Kirchner, já fez inclusive ameaças de agressões físicas para conseguir afastar os grupos privados da empresa.

Para os brasileiros há um fator adicional de inquietação: o PT participou da reunião do Foro na capital argentina e subscreveu todos estes atentados às liberdades democráticas. Por irônica coincidência, enquanto PT e aliados latino-americanos urdiam contra as liberdades na Argentina, a candidata do partido, Dilma Rousseff, firmava, no Congresso da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), no Rio, a Declaração de Chapultepec, um decálogo aprovado pela imprensa das Américas em defesa da liberdade de imprensa e expressão como principal pilar da democracia.

Num possível governo Dilma, valerão o ato e as palavras da hoje candidata a favor das liberdades ou a intenção autoritária de militantes do seu partido? Não há por que duvidar da líder nas pesquisas eleitorais. Daí quanto mais cedo ela enquadrar os porões petistas, melhor para todos. Inclusive seu governo.

Lula critica eleitor paulista e defende o ex-ministro Delfim Neto

DEU EM O GLOBO ONLINE

Em reunião com os empresários, ontem , o presidente Lula lamentou que o ex-ministro dos governos militares Delfim Neto não tenha sido eleito deputado. ‘É uma pena que o eleitorado paulista não tenha votado em Delfim’, disse o presidente.

PSDB: mobilização para frear crescimento de Dilma

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

BRASÍLIA - A campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, prepara para os próximos dias um aumento da propaganda de rua, para tentar frear o crescimento da adversária Dilma Rousseff (PT). Um plano de mobilização está sendo concluído pela equipe tucana. A área responsável pelas atividades de rua foi uma das criticadas, anteontem, em reunião da coordenação da campanha, num hotel em São Paulo.

A perspectiva de vitória da petista já no primeiro turno conseguiu o que, até alguns dias atrás, parecia impossível: unir novamente as forças de oposição para tentar salvar a candidatura de Serra. Após a reunião, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, convenceu a cúpula do DEM a acompanhá-lo numa nova investida no Sul e no Centro-Oeste. E amanhã o ex-governador mineiro Aécio Neves desembarcará em São Paulo para gravar uma participação especial no programa eleitoral de Serra na TV.

Guerra embarcou ontem à noite para o Rio Grande do Sul, acompanhado do presidente do DEM, Rodrigo Maia, e do ex-senador Jorge Bornhausen para tentar descobrir o que levou Dilma a ultrapassar Serra no estado em tão pouco tempo.

No encontro de domingo, a cúpula da candidatura de Serra também se mostrou dividida sobre o uso da imagem do presidente Lula nos programas do tucano no horário eleitoral na TV.

A despeito das críticas de aliados ao trabalho do marqueteiro Luiz Gonzalez, o comando da campanha considera cedo para se falar em substituição ou numa mudança radical no programa de TV. Até porque, o horário eleitoral gratuito começou há apenas uma semana. O assunto sequer chegou a ser discutido diretamente com Gonzalez, já que, no domingo, ele não participou da reunião.

PSDB pressiona por mais temas no horário de Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Após crise por queda nas pesquisas, tucanos avaliam que o presidenciável precisa ir além das propostas para a saúde

Ana Paula Scinocca / BRASÍLIA

Ligeiro. Em SAorocaba, Serra apressou o passo para cumprimentar eleitores: "Estou em forma"

Depois dos aliados, agora é a vez de o próprio PSDB defender mudanças na campanha de José Serra à Presidência da República. Em queda nas pesquisas de intenção de votos, o partido espera que o tucano apresente um discurso mais amplo na corrida ao Palácio do Planalto.

Dirigentes da legenda avaliam que Serra tem sido monotemático na TV ao apresentar basicamente propostas para a área da saúde. "A ampliação do discurso vai ocorrer, mas de modo natural", disse o senador Sergio Guerra (PE), presidente nacional do PSDB e também coordenador da campanha. "Os ajustes serão feitos com calma e tempo."

O diagnóstico foi feito no domingo à noite, em reunião em São Paulo, e seria levado ontem ao marqueteiro da campanha, o jornalista Luiz Gonzalez. A reunião entre Gonzalez e o presidente do PSDB, no entanto, foi adiada para amanhã.

"Tudo bem que a área da saúde é prioritária e que o Serra foi um ótimo ministro da Saúde. Mas é preciso ir além", defendeu um importante integrante do partido.

Na reunião com o núcleo duro da campanha, no domingo, tucanos avaliaram ainda ter sido um erro o PSDB ter colocado no programa de TV de Serra a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Contradição. "O sentimento partidário é que isso (a imagem do Lula) representou uma contradição", disse outro tucano que participou do encontro de domingo no Hotel Hyatt, na capital paulista.

Guerra pretendia ter conversado com Gonzalez sobre os rumos da campanha no final de semana. "Não conseguimos falar no domingo porque o Gonzalez estava gravando com o Serra e hoje (ontem) eu me enrolei com outros compromissos. Na quarta, vamos sentar e conversar, mas não há crise nem problema. São apenas avaliações de pesquisas", disse.

O presidente do PSDB adiou a conversa com Gonzalez ontem porque embarcaria, no início da noite, para o Rio Grande do Sul com os aliados Jorge Bornhausen (DEM) e o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ).

Serra liderava a corrida à Presidência com folga no Sul, que concentra 15% do eleitorado do País. A última pesquisa Datafolha, no entanto, mostra que a disputa entre Serra e a candidata do PT, Dilma Rousseff, já está voto a voto na região. O tucano tem 40% e a petista 38% -como a margem de erro é de 2 pontos porcentuais, ambos estão tecnicamente empatados.

O sinal vermelho na campanha de Serra foi aceso no final de semana exatamente por conta da divulgação da pesquisa Datafolha. O levantamento mostrou ampliação da vantagem de Dilma Rousseff. A presidenciável do PT aparece 17 pontos porcentuais à frente de Serra. Ainda segundo a pesquisa, Dilma venceria Serra no primeiro turno.

Arrecadação. Além do discurso monotemático e das queixas em relação ao programa de TV, o PSDB também reclama da pouca distribuição de recursos.

Segundo lideranças tucanas, o dinheiro, que havia entrado em caixa, não estaria sendo liberado pelo diretório nacional nem pela tesouraria da campanha para arcar com as despesas.

Anteontem, coordenadores da campanha presidencial afirmaram que a arrecadação está dentro do previsto. De acordo com eles, o montante de R$ 3,6 milhões, divulgado como total das doações até o início deste mês, não incluía os valores arrecadados pelo diretório nacional que ainda seriam repassados nos próximos dias.

Na reunião de anteontem, também ficou acertado que o partido vai liberar verba para a campanha de rua e gastos com cartazes e adesivos.

Serra muda estilo e parte para o corpo a corpo nas ruas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Maria Tomazela

O candidato à Presidência pelo PSDB José Serra decidiu partir para o corpo a corpo com os eleitores na tentativa de reverter os números negativos nas pesquisas. Ontem, em Sorocaba, ele escapou do cerco de jornalistas para se aproximar da população. Distribuiu abraços, sorrisos e ouviu pedidos dos eleitores, sempre acompanhado pela mulher Monica Serra. "Durmo com minha mulher toda noite, o que tem de estranho ela andar comigo?."

Questionado se ainda se considerava no páreo, o tucano disse estar preparado para a maratona final da campanha: "Estou em muita forma, estou ligeiro." Serra negou ter mudado o estilo da campanha, conforme teria recomendado a cúpula tucana, reunida após a divulgação da última pesquisa Datafolha, no sábado, que mostrou a candidata petista Dilma Rousseff com vantagem de 17 pontos porcentuais. "Nem sabia que teve reunião, mas isso não é problema."

Ao lado do presidente, Franklin critica mídia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Discurso foi feito em lançamento de TV

DE SÃO PAULO - Em discurso ao lado do presidente Lula, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) criticou a imprensa e disse que os jornais e emissoras de TV vão perder o controle sobre as notícias levadas à opinião pública.

Eles participaram ontem do lançamento da TVT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A cerimônia reuniu cinco ministros em clima de campanha para a presidenciável Dilma Rousseff (PT), que não compareceu.

Franklin disse que o canal ajudará a internet a quebrar o poder dos "aquários", jargão que identifica a chefia das redações dos grandes veículos nacionais. "Isso é uma revolução e incomoda muita gente que ficava no Olimpo. Mas é irreversível, e está apenas começando".

O diretor do sindicato, Valter Sanches, disse ter planos ambiciosos para competir com as grandes redes: "Queremos fazer jornalismo investigativo de fato, sem atender interesses políticos".

O sindicato é filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT.

A TVT estreia com uma hora e meia de produção própria no canal 46 UHF na Grande SP, em outros dez Estados e na internet.

Em discurso lido, Lula disse que a emissora evita que os trabalhadores "continuem impedidos de exercer a liberdade de expressão". "O brasileiro sabe distinguir o que é informação e o que é distorção dos fatos", disse.

PSDB agora vai priorizar a eleição em quatro Estados

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente 40 Eleições 2010 Cúpula tucana se reúne para discutir a sobrevivência da oposição

A cúpula do PSDB se encontra amanhã, em São Paulo, para analisar as chances do partido em todo o país e discutir estratégias para a sobrevivência da oposição em caso de derrota na eleição presidencial.

Os tucanos vão priorizar a eleição para governador em São Paulo, Paraná e Goiás - Estados em que seus candidatos aparecem à frente nas pesquisas - e Minas Gerais, onde o ex-ministro Hélio Costa (PMDB), aliado petista, lidera a disputa.

O PSDB conta eleger ao menos oito senadores, entre - eles Aécio Neves (MG) e Tasso Jereissati (CE).

Além do mineiro, que grava depoimento para o programa de José Serra, candidatos a governador com mais chance de vitória vão reforçar o horário eleitoral.

Os ajustes na campanha ao Planalto incluem a adoção de um tom mais agressivo no rádio e na TV para levar a disputa com o PT para o segundo turno.


PSDB vai focar em 4 Estados para garantir "sobrevivência"

No plano nacional, foco é conseguir levar candidatura de Serra ao 2º turno

Cúpula do partido se reúne amanhã em SP, com Aécio, para traçar mudanças na campanha nacional e nas estaduais


Catia Seabra
De São Paulo
Valdo Cruz
De Brasília

Preocupado com a queda do candidato José Serra nas pesquisas de opinião, o comando do PSDB já discute ajustes na campanha nacional e uma estratégia de sobrevivência da oposição em caso de derrota na corrida presidencial. O partido apostará suas fichas na eleição de governadores de quatro Estados: São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás.

Além da correção de rumo para a Presidência, a cúpula tucana se reúne, amanhã em São Paulo, para discutir o futuro da campanha e o destino do partido.

Chamado a São Paulo a pretexto de gravar sua participação na propaganda de Serra, o ex-governador de Minas Aécio Neves tem encontro marcado com o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

Segundo tucanos, está prevista ainda a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na conversa. A assessoria de FHC afirma, porém, que "até o momento, não consta nada do tipo na agenda dele".

Serra deve estar no Rio Grande do Norte amanhã, dia da reunião.

A partir de agora, o partido deverá concentrar seus esforços na manutenção do governo de Minas, onde o peemedebista Hélio Costa lidera a disputa. Apesar de remotas, há expectativa de vitórias no Pará e no Piauí.

O tucanato conta ainda com a eleição de pelo menos oito senadores, entre eles Aécio e Tasso Jereissati (CE).

No plano nacional, todo o movimento será para garantir a chegada de Serra ao segundo turno -o foco deve ficar nos nove maiores colégios eleitorais do país.

Nos Estados, as candidaturas nos quatro locais-chave onde o partido tem boas chances devem receber um impulso financeiro extra.

Além de Aécio, que lidera a disputa pelo Senado em Minas, todos os candidatos a governador com chance de vitória - entre eles, Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO) - vão participar do programa de Serra na TV.

SEM LULA NA TV

Segundo Guerra, a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deverá ser usada novamente. Semana passada, causou tremores no PSDB a exibição de fotos de Serra ao lado de Lula.

"A presença do presidente Lula não mudou nada. Não teve nenhum impacto. Não valeu nada. E por isso não deve se repetir", disse Guerra, após reunião com o coordenador de comunicação da campanha, Luiz Gonzalez.

Tucanos esperam, a partir de hoje, um programa mais agressivo. O comando da campanha tem pronto um jingle que cita o nome do ex-ministro José Dirceu.

Guerra estará hoje em Porto Alegre e Santa Catarina ao lado do presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e do ex-presidente Jorge Bornhausen. Na viagem, o trio trabalhará para aplacar abalos na aliança nos Sul.

Na noite de domingo, Guerra se reuniu com coordenadores da campanha, na área de mobilização, infraestrutura e arrecadação.

Apesar de o comando da campanha descartar dificuldades de arrecadação, integrantes da equipe se queixaram da carência material.

Sob pressão, o coordenador administrativo da campanha, José Henrique Reis Lobo, disse que seria temerário gastar além do cronograma, sob pena de estourar o orçamento da campanha.

Guerra argumentou que dois programas não eram suficientes para se aferir a eficácia da propaganda. Serra está 17 pontos atrás de Dilma Rousseff (PT) no Datafolha.

Campanha tucana traça plano de emergência

DEU EM O GLOBO

Cúpula das siglas aliadas irá a estados para incentivar mobilização; Aécio voltará à TV

Adriana Vasconcelos e Silvia Amorim

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, prepara para os próximos dias um aumento da propaganda de rua, para tentar frear o crescimento da adversária Dilma Rousseff (PT). Um plano de mobilização está sendo concluído pela equipe tucana. A área responsável pelas atividades de rua foi uma das criticadas, anteontem, em reunião da coordenação da campanha, num hotel em São Paulo.

A perspectiva de vitória da petista já no primeiro turno conseguiu o que, até alguns dias atrás, parecia impossível: unir novamente as forças de oposição para tentar salvar a candidatura de Serra. Após a reunião, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, convenceu ontem a cúpula do DEM a acompanhá-lo numa nova investida no Sul e no Centro-Oeste. E, amanhã, o exgovernador mineiro Aécio Neves desembarcará em São Paulo para gravar uma participação especial no programa eleitoral de Serra na TV.

Uso da imagem de Lula divide aliados de Serra Guerra embarcou ontem à noite para o Rio Grande do Sul, acompanhado do presidente do DEM, Rodrigo Maia, e do exsenador Jorge Bornhausen para tentar descobrir o que levou Dilma a ultrapassar Serra no estado em tão pouco tempo.

No encontro de domingo, a cúpula da candidatura de Serra também se mostrou dividida sobre o uso da imagem do presidente Lula nos programas do tucano no horário eleitoral na TV. A despeito das críticas de aliados ao trabalho do marqueteiro Luiz Gonzalez, o comando da campanha considera cedo para se falar em substituição ou numa mudança radical no programa de TV. Até porque, o horário eleitoral gratuito começou há apenas uma semana.

O assunto sequer chegou a ser discutido diretamente com Gonzalez, já que, no domingo, ele não participou da reunião.

Também houve críticas aos gastos em infraestrutura. A reunião ocorreu um dia após a divulgação de pesquisa Datafolha que mostrou Dilma com 47% das intenções de voto, contra 30% de Serra.

Para mudar esse quadro, além do horário eleitoral, a campanha aposta na presença da candidatura nas ruas, por meio de material impresso e militância. O mapa dessa mobilização, com as cidades a serem priorizadas e seu custo, será entregue nos próximos dias ao coordenador de Infraestrutura da campanha, José Henrique Reis Lobo.

Falta de recursos não existe, diz coordenador Por enquanto, o trabalho de rua de Serra tem sido pequeno e desarticulado. A estratégia é aproveitar a veiculação do horário eleitoral, período em que, teoricamente, a população começa a se interessar mais pelo assunto, para fortalecer a atividade dos cabos eleitorais. Concentrar a mobilização na reta final também foi uma forma encontrada pelos tucanos para otimizar os recursos financeiros.

A expectativa é que, na próxima semana, já sejam vistos militantes e material de Serra em cidades, ainda a serem definidas, por todo o país.

A falta dessa mobilização na primeira etapa da corrida eleitoral foi duramente criticada na reunião. Alguns se queixaram dos critérios de gastos da área chefiada por Lobo, e defenderam um investimento maior em material impresso, como folhetos, santinhos e adesivos, e em cabos eleitorais.

Os tucanos negaram que faltem recursos no caixa de Serra.

Ontem, houve rumores de que o PSDB nacional repassaria verbas para socorrer a campanha.

Não existe nada disso reagiu Eduardo Jorge, um dos vices-presidentes do PSDB.

Para a cúpula da campanha, é inegável que os adversários têm uma condição financeira mais confortável, e que isso está visível no dia a dia.

Essa história de falta de recursos não existe. Os recursos que temos atendem ao nosso planejamento e estão ingressando na campanha de acordo com o que estabelecemos afirmou Lobo.

Serra insinua que PT faria ajuste fiscal

DEU EM O GLOBO

Tucano diz que, se for eleito, não adotará medida: "Dá para arrumar, mas não precisa dar um freio na economia"

Adauri Antunes Barbosa
Enviado especial

SOROCABA (SP). O candidato tucano à Presidência, José Serra, insinuou que os petistas poderão fazer um ajuste fiscal, se continuarem no poder. Ao responder se pretende tomar essa medida, caso eleito, para dar mais equilíbrio à economia e impedir a alta da inflação, Serra disse que não e lançou farpas ao PT: Dá para arrumar, mas não precisa dar um freio na economia, não. Não acredito nisso.

Pelo menos quanto a mim. É possível que o PT faça, como sempre fez. Diz uma coisa, faz outra quando chega lá. Mas não é o meu caso.

O tucano fez ontem uma caminhada pelo centro de Sorocaba e visitou um conjunto habitacional.

Disse ainda que os pedágios das rodovias federais que passaram por concessão no governo Lula são uma fraude, porque não houve investimento: Os pedágios federais são uma fraude em matéria de cálculo.

Não tiveram (sic) investimento nenhum nas rodovias federais, e temos rodovias federais da morte por todo o Brasil. Graças a Deus, as estradas de São Paulo não são assim disse Serra, em resposta às críticas de Lula aos pedágios implantados nas rodovias estaduais de São Paulo.

Em comício sexta-feira, em Osasco (SP), Lula disse que o pedágio cobrado nas rodovias paulistas é um roubo.

Na caminhada em Sorocaba, Serra foi acompanhado pelo candidato tucano ao governo paulista, Geraldo Alckmin, e, por sua mulher, Mônica Serra.

Ela tinha agenda folgada, veio comigo. A Mônica tem ido para vários lados, tem viajado bastante. Durmo com ela todo dia. Vejo minha mulher todo dia.

O que tem de estranho ela andar comigo? Nada disse.

Tucano perde o humor com pergunta de TV Brasil No conjunto habitacional Vereador Belini, construído por meio de um convênio da prefeitura com o governo do estado, Serra defendeu a construção de moradias para famílias com renda de até três salários mínimos e criticou, sem citar o nome, o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal: O programa federal que vem caminhando tem atendido muito pouco. De 120 mil casas entregues, foram talvez umas 500, 600 para famílias até três salários mínimos.

Perguntado se estava em boa forma física, já que correu e subiu escadas, Serra lembrou que sexta-feira, em Manaus, pulou numa cama elástica: Outro dia, em Manaus, pulei naquele negócio, como chama? Jumping, isso! Pulei lá.

Eu e o Arthur Virgílio (líder do PSDB no Senado e candidato à reeleição). O pessoal filmou.

Já era no fim do dia, maior demonstração de forma física, impossível.

Serra não quis comentar a reunião do comando de sua campanha, domingo à noite, para discutir problemas de comunicação, infraestrutura, coordenação política nos estados e dificuldades de arrecadação: Nem sabia que teve essa reunião. Esse não é o problema.

Ele foi perguntado, então, se a questão da arrecadação de campanha não é um problema: Não vou afirmar nem isso nem o contrário. Para entrar no tititi, aí...

O tucano só perdeu o bom humor ao ser perguntado por uma repórter da TV Brasil, emissora pública ligada ao governo, sobre sua estratégia para inverter a queda nas intenções de voto: Pergunta lá para o seu pessoal da TV Brasil, eles têm uma opinião.

Dilma nega discussão sobre pacote fiscal

DEU EM O GLOBO

Debate é "absurdo e extemporâneo", diz candidata. Palocci também desmente hipótese

Flávio Freire

SÃO PAULO. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, negou ontem qualquer discussão em torno de um projeto de ajuste fiscal para um eventual novo governo petista.

Em meio à especulação de que sua equipe de campanha já estaria analisando a viabilidade de um pacote para tratar de questões desse gênero, segundo reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, Dilma considerou o debate absurdo e extemporâneo.

Eu não autorizo nenhuma avaliação a esse respeito. Seria um absurdo discutir qualquer questão sem que antes estejamos eleitos. Ademais, o Brasil de hoje não é igual ao Brasil de 2002. O país de hoje tem uma dívida líquida que está caindo, taxa de juros com todas as condições (de cair), inflação sob controle e convergindo para níveis internacionais. Por isso, não vejo nenhum sentido nessa discussão, ela é extemporânea disse a candidata, depois de uma visita ao Senai, no bairro paulistano do Braz.

Para Dilma, a discussão a partir de 2010 deve se dar na área do desenvolvimento. Horas antes, em corpo a corpo na sede da Mercedes-Benz, o exministro da Fazenda e um dos coordenadores da campanha de Dilma, Antonio Palocci, também negou discussões nesse sentido.

Não sei de nada disso, a imprensa é que tem que explicar disse Palocci.

Candidata se encontra com Paulo Skaf Numa agenda acertada com o candidato do PSB ao governo paulista, Paulo Skaf, que posou ao lado de Dilma com a mulher e o filho, a candidata negou que o encontro seria o primeiro passo rumo a um eventual apoio de Skaf a Aloizio Mercadante (PT). Segundo a última pesquisa do Datafolha, o tucano Geraldo Alckmin tem chances de ganhar a eleição no primeiro turno, com 54% das intenções de votos.

Mercadante tem 16%.

Dilma já discursa como eleita

DEU EM O GLOBO

Durante comício com o presidente Lula na porta da Mercedes-Benz, em São Bernardo, a candidata do PT, Dilma Rousseff, discursou como eleita: "Vou ser a primeira presidenta deste país, a presidenta de vocês." Mais tarde, no Brás, disse que a campanha não tem clima de "já ganhou".

Dilma: "Serei a 1ª presidenta deste país"

Com Lula, petista faz comício em pátio de montadora e, abandonando a cautela, fala como vencedora das eleições

Flávio Freire
SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP).

Apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a futura presidenta do país, em comício na madrugada de ontem na porta da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, deixou de lado o cuidado com as palavras e mostrou confiança na sua vitória. Para funcionários da montadora que chegavam para trabalhar, a petista, do alto de um caminhão de som, disse que não poderá errar no seu governo, para que outras mulheres também possam ser presidentes.

A luta de vocês levou o Brasil a ter, pela primeira vez, um presidente metalúrgico, e hoje o Brasil é bem diferente do Brasil de 2002. Este Brasil de hoje tem esperança. O Lula sempre disse que, como trabalhador, não poderia errar, porque, senão, nunca mais um trabalhador chegaria à Presidência. Eu, como mulher, também não vou errar, porque senão jamais uma mulher vai chegar a presidente do país disse ela, emendando no discurso frases sobre a forma feminina de governar: Eu quero dizer para vocês que vou ser a primeira presidenta deste país, a presidenta de vocês.

Mais tarde, em visita ao Senai, no bairro paulistano do Brás, assumiu tom mais moderado: Na minha campanha não tem clima de já ganhou. Na minha campanha, quem dá o clima sou eu. O presidente foi o primeiro a dizer que, se você quer respeitar o eleitor, tem que lembrar que eleição se ganha na urna.

Porque quem vota não é o pesquisado, e sim o eleitor. Minha campanha não tem salto alto porque eu não tenho salto alto.

Antes, na porta da MercedesBenz, Dilma disse ter compromisso sagrado com os trabalhadores para fazer um governo melhor que os anteriores. De mãos dadas com Lula, que chegou a dizer que se Deus está conosco, quem estará contra a gente?, Dilma disse que trabalhará pelo crescimento econômico com geração de emprego, valorização do salário mínimo e mais investimento em educação para aumentar as oportunidades de filhos e filhas de trabalhadores.

Em momento algum, a candidata abandonou o tom confiante, mas não citou números das pesquisas de intenção de voto que a põem na liderança da corrida presidencial. Segundo o último levantamento do Datafolha, ela tem 47%, contra 30% do candidato tucano, José Serra, e venceria no primeiro turno.

Dilma e Lula chegaram ao estacionamento da MercedesBenz às 5h30m. Após cumprimentarem trabalhadores, subiram no caminhão de som e discursaram.

O PT distribuiu bandeiras e a equipe de TV da campanha gravou imagens.

Lula voltou a usar um velho chavão: disse que nunca antes nesse país um presidente da República fez comício ou corpo a corpo em porta de fábrica junto a trabalhadores. Lembrando da época de sindicalista, disse que fazia tempo que não panfletava no chão de fábrica e brincou: Faz tempo que não entrego panfleto, mas como vou perder o emprego no dia 1o(de janeiro) é melhor mesmo voltar a entregar panfletos para os trabalhadores disse, acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e dos candidatos do PT ao Senado, Marta Suplicy, e ao governo paulista, Aloizio Mercadante.

A montadora autorizou que os funcionários chegassem atrasados ao trabalho. Ao chegar à empresa, Lula se mostrou contrariado com a organização do evento: Fizeram um comício, que não era o que a gente queria. Tinha que fazer uma coisa normal, ir para o corredor da fábrica, para a Dilma cumprimentar a companheirada.

A ideia não era um comício, mas, já que tem microfone, a gente fala. Depois, a gente desce e fala com o pessoal disse Lula, que, depois, fez corpo a corpo com os operários.

Ficha Limpa tira Maluf da eleição

DEU EM O GLOBO

TRE nega registro, mas deputado continua candidato até que TSE julgue recurso

Com base na Lei da Ficha Limpa, o TRE-SP indeferiu o registro da candidatura do deputado Paulo Maluf (PP) à reeleição. Por 4 a 2, os juízes entenderam que Maluf não pode entrar na disputa por causa da condenação no "Frangogate" - escândalo no qual foi punido por comprar, quando prefeito, frango superfaturado para a merenda escolar e contratar uma empresa ligada à sua mulher para fornecer o produto. Para o presidente do TRE-SP, a decisão é histórica. Maluf vai recorrer da impugnação ao TSE e ao STF. Ele continua candidato e, se for eleito sem que o TSE tenha julgado o recurso, pode tomar posse na Câmara. Se o TSE mantiver a decisão, Maluf perde o foro privilegiado.


TRE: Maluf não é ficha limpa

Tribunal barra candidatura de deputado à reeleição; ele, porém, vai recorrer

Tatiana Farah

SÃO PAULO - A candidatura do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) à reeleição foi vetada ontem pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo com base na Lei da Ficha Limpa. Por quatro votos a dois, os juízes indeferiram o registro da candidatura de Maluf por causa de seu envolvimento no chamado Frangogate, o escândalo do fornecimento de frango para a merenda escolar, durante sua gestão à frente da Prefeitura de São Paulo. O presidente do TRE, desembargador Walter de Almeida Guilherme, que votou contra o deputado, disse que a decisão é histórica, e que a lei, aprovada este ano no Congresso, é um marco para a Justiça.

Emblemático é pela situação e, tenho de dizer, pelo próprio candidato.

A Lei da Ficha Limpa é um marco para a Justiça brasileira disse o desembargador. Se não fosse a Ficha Limpa, de fato, nós não teríamos condições de impugnálo, por não termos o trânsito em julgado (quando não cabem recursos da sentença judicial).

Em 1996, Maluf foi acusado de superfaturar a compra de frangos e de contratar uma empresa ligada à sua mulher, Sylvia Maluf, para fornecer a carne de frango na merenda escolar.

O deputado foi condenado pela 7aCâmara de Direito Público do Tribunal de Justiça (TJ), por improbidade administrativa, por dois votos a um, numa sentença que o tornou inelegível por cinco anos.

Segundo a Lei da Ficha Limpa, quando há uma condenação colegiada, o candidato deve ter a candidatura barrada, mesmo que o recurso contra a sentença esteja em instâncias superiores. O deputado recorreu da condenação sobre o superfaturamento de frangos ao Supremo Tribunal Federal (STF). Para o advogado de Maluf Eduardo Nobre, mesmo sob a Lei da Ficha Limpa, o TRE deveria aguardar o julgamento desses recursos para indeferir a candidatura.

Trânsito em julgado não chega nunca

Para o presidente do TRE, aguardar o julgamento do recurso seria um suicídio da Lei Ficha Limpa.

O trânsito em julgado não chega nunca neste país disse Almeida Guilherme, em seu voto.

Semana passada, ele teve entendimento contrário ao julgar o caso do deputado Uebe Rezeck.

A mudança de entendimento é normal entre os juízes. Pensando e repensando, votei em sentido contrário.

Juiz não é obrigado a manter sempre a mesma decisão.

O deputado já anunciou, por meio da assessoria de imprensa, que vai recorrer da decisão junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao STF. Enquanto isso, ele continua candidato.

Mesmo que seja eleito sem que o TSE tenha julgado seu recurso, Maluf poderá tomar posse na Câmara.

Mas, caso o TSE confirme a decisão do TRE, Maluf perderá o direito a foro privilegiado. Maluf responde a processos por improbidade, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e até formação de quadrilha. Seus processos criminais, que durante seu mandato foram enviados ao Supremo, voltariam para os tribunais comuns e ele seria julgado em São Paulo.

Logo depois do indeferimento, a assessoria do deputado enviou uma nota à imprensa: Paulo Maluf teve dois votos a favor, no julgamento do TRE, de dois eminentes juízes. A matéria, portanto, é controversa. Os advogados de Maluf vão recorrer ao TSE, conforme determina a lei. Paulo é candidato a deputado federal.

Dois juízes Galdino Toledo Júnior e Paulo Octávio Baptista Pereira concordaram com o argumento de Maluf, defendendo que seria necessário aguardar o julgamento dos recursos no STF.

Serra no Debate da Rede Aparecida/TV Canção Nova | José Serra

Serra no Debate da Rede Aparecida/TV Canção Nova José Serra

Plínio ataca Dilma por não comparecer a debate

Sérgio Roxo e Silvia Amorim

SÃO PAULO - Antes de responder à primeira pergunta do debate promovido pela TV Canção Nova na noite desta segunda-feira em São Paulo, o candidato do PSOL a presidente, Plínio de Arruda Sampaio, pediu para registrar um protesto pela ausência da petista Dilma Rousseff.

- Tinha uma mulher que tinha muito que estar aqui porque todos aqui sabem quem é o Serra, quem é a Marina e quem sou eu, mas ninguém sabe quem é esta senhora que foi inventada pelo Lula.

Na chegada ao debate, Plínio já havia dito que atribuía a ausência de Dilma "à prepotência, à arrogância e ao risco terrível do Fernando Henrique de sentar na cadeira antes do tempo".

Em 1985, quando disputou a prefeitura de São Paulo Fernando Henrique teria sentado na cadeira de prefeito, que tinha Mário Covas como titular, antes da eleição. Jânio Quadros acabou vencendo aquela eleição.

Déficit externo é o maior em 63 anos

DEU EM O GLOBO

Aumento de gastos com turistas no exterior mais remessas e dividendos de empresas, além do saldo comercial em queda, fizeram com que o Brasil registrasse em julho déficit de US$ 4,5 bi nas contas externas, o maior desde 1947.

Gastos dos brasileiros em viagens batem recorde e déficit externo atinge US$ 28 bi

Com real forte e renda em alta, rombo nas contas de viagens dobra no ano

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. Com o turista brasileiro gastando como nunca no exterior, a balança comercial mostrando saldos cada vez menores e as remessas de lucros e dividendos ainda intensas, o país fechou julho com o maior déficit de todos os tempos para o mês em transações correntes que traduz boa parte das operações com o exterior, como viagens internacionais e comércio. Segundo o Banco Central (BC), o saldo ficou negativo em US$ 4,499 bilhões no mês passado. A série histórica é de 1947. No ano, o rombo nas contas externas chega a US$ 28,261 bilhões, também recorde, mas ainda sem tirar o sono dos especialistas.

As transações correntes formam com a conta de capital (investimentos diretos e financeiros) o balanço de pagamentos do país com o exterior.

Esse número ainda não representa 3% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços gerados no país). Está em 2,24% num fluxo de 12 meses e o Brasil tem condições de reverter esse déficit disse o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.Segundo ele, o país tem instrumentos para fazer frente a esse cenário, como o câmbio flutuante e a capacidade de administrar o crescimento por meio da política monetária. As contas correntes brasileiras afundaram no vermelho porque, sobretudo, o país está crescendo mais do que o resto do mundo este ano (cerca de 7%, contra 3,5%). Como não tem condições de suprir todas as demandas, precisa importar.

De acordo com o BC, o saldo comercial em julho, por exemplo, ficou em só US$ 1,357 bilhão. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, veio abaixo do esperado. Ele não revelou qual era sua projeção.

Remessas de multinacionais chegam a US$ 16,7 bilhões Pesaram ainda no desempenho das transações correntes os gastos com viagens internacionais que, no mês passado, ficaram em US$ 1,535 bilhão recorde absoluto para todos os meses. As receitas, ou gastos de turistas estrangeiros no país, somaram no período US$ 438 milhões, gerando saldo líquido negativo em US$ 1,098 bilhão.

No ano, o descasamento na área de viagens já está em US$ 5,208 bilhões, quase 110% mais do que em igual período de 2009.

Em agosto, até o dia 23, o saldo já estava negativo em US$ 584 milhões.

Segundo Lopes, isso ocorre porque a economia mundial cresce menos, bem como a renda, afetando o número de turistas estrangeiros no Brasil: E aqui, no Brasil, temos mais renda e o câmbio (valorizado), que ajuda nas viagens internacionais.

As remessas de lucros e dividendos feitas por multinacionais instaladas no país também contribuíram para o pior resultado das contas externas em 63 anos, somando US$ 1,802 bilhão em julho. No ano o saldo é negativo de US$ 16,769 bilhões.

Para Lopes, esse segmento mostrou certa acomodação em relação aos meses recentes, mas é cedo para falar que isso seja uma tendência. Já o pagamento de juros, ainda segundo o BC, foi de US$ 1,545 bilhão no período.

Mais uma vez, os investimentos estrangeiros diretos (IED, voltados para o setor produtivo) não cobriram o rombo das transações correntes, com apenas US$ 2,643 bilhões em julho. No ano, esses investimentos que são de longo prazo e não sofrem com instabilidade dos investimentos financeiros somam US$ 14,701 bilhões, tornando cada vez mais difícil atingir a projeção do BC para o ano, de US$ 38 bilhões. O mercado, segundo a pesquisa Focus, está bem menos otimista, apostando em uma entrada líquida de apenas US$ 31 bilhões em 2010.

O BC informou também que os investimentos estrangeiros em carteira (ações e títulos, por exemplo) tiveram saldo positivo de US$ 5,806 bilhões em julho, somando no ano superávit de US$ 28,964 bilhões. O volume mensal é quase o dobro ao visto em junho, com US$ 2,984 bilhões.

Em agosto, até ontem, as aplicações em ações no país somavam US$ 2,968 bilhões, enquanto que títulos de renda fixa, US$ 1,877 bilhão.

Farc propõem apresentar 'suas visões' na Unasul para buscar saída política

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aceno à diplomacia. Guerrilha colombiana emite comunicado pedindo voz na organização sul-americana e oferecendo a possibilidade de diálogo; em resposta, governo rejeita negociar com rebeldes enquanto eles não "renunciarem ao terrorismo"

BOGOTÁ – As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) propuseram ontem uma reunião com os presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para expor a visão do grupo sobre o conflito colombiano. O governo rechaçou a proposta, afirmando que não aceitará intermediários para o diálogo com a guerrilha. O Equador, atualmente na presidência do bloco, disse que respeitará a decisão de Bogotá sobre o pedido.

O anúncio das Farc poderia ser um esforço para recuperar protagonismo em nível internacional, de acordo com analistas. A proposta de envolver a Unasul na mediação foi feita ao governo do presidente Juan Manuel Santos, que anteriormente já tinha descartado toda a possibilidade de mediação de governos estrangeiros e líderes políticos numa eventual negociação com a guerrilha.

Em comunicado divulgado no site da Agência de Noticias Nueva Colômbia (Anncol), que costuma divulgar as notas da guerrilha, as Farc reiteraram que "as pessoas esquecem que na Colômbia não há garantias para a oposição política". "Alguns aludem frequentemente à obsolescência da luta armada revolucionária, mas nada dizem das condições e garantias para a luta política na Colômbia", afirmou o comando rebelde.

"Ainda que a Colômbia mantenha fechada a porta do diálogo contra a insurgência, encorajado pela miragem de uma vitória militar e pela ingerência de Washington, queremos reiterar à Unasul nossa irredutível vontade de buscar uma saída política para o conflito", diz a nota.

O vice-presidente Angelino Garzón, que ontem retomou parcialmente as funções após uma cirurgia cardíaca, insistiu que os temas relacionados à guerrilha são conduzidos pessoalmente por Santos. Garzón ressaltou que a guerrilha deve libertar todos os reféns ainda em seu poder sem precondições e renunciar ao terrorismo se quiser negociar com o governo. "Se fizerem isso, terão a generosidade do presidente para começar o diálogo", acrescentou.

"O governo do Equador, atualmente na presidência da Unasul, respeitará absolutamente os critérios estabelecidos pelo governo da Colômbia em relação a essa comunicação da parte das Farc", afirmou, em Quito, o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño. O ministro da Defesa colombiano, Rodrigo Rivera, afirmou que a presença da guerrilha num organismo internacional seria "inaceitável". "O que aconteceria se a comunidade internacional abrisse as portas para que Osama bin Laden apresentasse seu ponto de vista?", questionou.

Fundadas em 1964, as Farc são atualmente a guerrilha ativa mais antiga da região.

O grupo manteve diálogo com o governo do ex-presidente Andrés Pastrana entre 1998 e 2002, As negociações naufragaram depois de a guerrilha ter sido acusada por Bogotá de aproveitar a vasta área de 42 mil quilômetros quadrados - que serviria de sede para as conversações - para intensificara as operações de sequestro e a atividade armada e vinculada ao narcotráfico. Desde então, o Exército, com o apoio dos EUA, vem promovendo uma série de ofensivas que tem enfraquecido a guerrilha, confinando e isolando seus batalhões e cortando a comunicação entre eles.

A POSIÇÃO DO BRASIL

País pede a grupo que deixe luta armada

Embora não considere as Farc um grupo terrorista - como o fazem os EUA, a União Europeia e a própria Colômbia -, o governo brasileiro tem renovado nos últimos meses o apelo para que a guerrilha abandone as armas, liberte os seus reféns e inicie negociações de paz. "Se, num continente como o nosso, um índio e um metalúrgico podem chegar à Presidência, por que alguém das Farc, disputando eleições, não pode?", disse o presidente Lula, no ano passado.

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"Oropa, França e Bahia" :: Ascenso Ferreira

(Romance)

Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Souza Barros
Manuel Gomes Maranhão

Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,
Que dava fundos prá terra.
( "para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar").

...Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!

Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...

A vida de Manuel,
qque louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!

— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!

Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim...

Nada.
A mulata só queria
que seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a mais pichititinha,
prá ela ir ver essas terras
"De Oropa, França e Bahia"...

— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!

"Ó lua que alumias
esse mundo de meu Deus,
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.

"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...

Uma noite de luar,
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah! Seu Manuel, isso chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.

— "Onde vais mulhé?"
— Vou me daná no carrosé!
— Tu não vais, mulhé,
— mulhé, você não vai lá..."

Maria atirou-se n´água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido da minha tia !
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!

Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Faz-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!

De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!

E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?

— continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que, ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!

— As eternas naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...