domingo, 5 de outubro de 2014

Opinião do dia: Miguel Reale Júnior

Nesta hora de definição, é importante que a decisão seja no sentido de escolher quem possa derrotar Dilma e tenha condições de liderança pessoal para levar à frente a restauração do País nos planos moral e econômico. Marina, por sua trajetória de lutas, pode vir a cumprir esse papel fundamental. E deverá fazê-lo com o apoio do PSDB, tal como sucedeu no governo Itamar Franco, quando esse partido deu respaldo político e massa crítica com a participação de ilustres peessedebistas em órgãos da administração, assegurando governabilidade e condições técnicas para mudar o País, tal como efetivamente mudou com o Plano Real.

O receio de Marina ter sido do PT e ser um PT2 não pode servir de argumento contra a ex-senadora por parte do PSDB, pois todos os seus próceres saíram do PMDB e com ele não mais se identificam, não sendo o PMDB2, muito ao contrário. A origem não indica a linha política atual, a ser apreendida no caminho ora palmilhado, que o programa de Marina revela em muitos temas.

Neste quadro volátil da eleição de amanhã, se Aécio for, por acaso, ao segundo turno contra Dilma, seu passado como governador de Minas o credencia a bem governar o Brasil, mas Marina e o PSB devem se unir ao PSDB, superando os ataques injustos, para compor maioria de sustentação com o PPS de Roberto Freire e o PV, para enfrentar um raivoso PT na oposição. A união é necessária contra a falta total de ética na política, revelada pelas denúncias do conluio da cúpula petista com os "malfeitos" na Petrobrás.

Enfim, ou saímos do pântano onde viceja o aparelhamento do Estado e a corrupção ou submergimos para um afogamento que desonra.

Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça. Sair do pântano. O Estado de S. Paulo, 4 de outubro de 2014.

Ibope: na reta final, Aécio ultrapassa Marina, mas ainda há empate técnico

• Candidato do PSDB sobe cinco pontos, passa de 22% para 27% dos votos válidos e ex-ministra cai de 28% para 24%; Dilma tem 46%

Daniel Bramatti e José Roberto de Toledo - O Estado de S. Paulo

A última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo feita antes das eleições mostra que o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, cresceu e alcançou a rival Marina Silva na disputa por uma vaga no segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff. Com 27% dos votos válidos, cinco a mais que no levantamento anterior, ele está numericamente à frente da candidata do PSB, que caiu de 28% para 24%. Persiste, porém, a situação de empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Dilma chega à véspera da votação com 46% dos votos válidos. Ela oscilou um ponto para baixo em relação ao levantamento anterior. A pesquisa foi feita após o debate presidencial da TV Globo, último grande evento da campanha de 2014.

Aécio estava em terceiro lugar desde a entrada de Marina na corrida presidencial, com a morte de Eduardo Campos, na metade de agosto. Pesquisas anteriores do Ibope mostravam que a candidata do PSB tinha tendência de queda desde o início de setembro.

Em um eventual segundo turno, Dilma venceria pelo mesmo placar contra qualquer um dos adversários: 45% a 37%.

O universo dos votos válidos, utilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral para divulgar seus resultados oficiais, exclui os brancos e nulos. Levando-se em conta os votos totais, Dilma tem 40%, Aécio, 24%, e Marina, 21%. A pesquisa foi realizada entre os dias 2 e 4 de outubro. Foram entrevistados 3010 eleitores.

O nível de confiança utilizado é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo BR-01021/2014.

Datafolha: Dilma tem 44%, Aécio vai a 26% e Marina recua para 24% dos válidos

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha finalizada neste sábado (4) mostra o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, dois pontos à frente de Marina Silva (PSB) na disputa pela vaga no segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT).

A menos de 24 horas do início da votação, Dilma alcança 44% das intenções de voto válido (conta que desconsidera brancos e nulos), Aécio chega com 26%, Marina tem 24%.

Aécio e Marina estão tecnicamente empatados, já que a margem de erro do estudo é de dois pontos para mais ou para menos. Mas ele chega ao dia da eleição numericamente à frente da rival pela primeira vez e, mais importante, em trajetória de ascensão -o oposto do que ocorre com sua rival.

Luciana Genro (PSOL), Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) têm 1% cada um. Os outros cinco candidatos inscritos somam 1%. Há 4% do eleitorado que planeja votar nulo ou em branco. E outros 5% que não sabem em quem votar.

Estes resultados não podem ser confundidos com uma tentativa de previsão dos resultados da eleição deste domingo. Trata-se de um indicativo de tendências. Encerrada antes do início da votação, e com parte importante das entrevistas feitas nesta sexta, a pesquisa é um retrato da corrida eleitoral no período em que as entrevistas foram feitas.

No teste de segundo turno, Dilma vence tanto Aécio quanto Marina. Contra o tucano, a vantagem da petista é por seis pontos (53% a 47% dos votos válidos). Contra a pessebista, por dez pontos (55% a 47%).

Por encomenda da Folha e da TV Globo, o Datafolha ouviu 18.116 pessoas em 468 municípios neste sábado e na sexta. O nível de confiança é 95% (em 100 pesquisas com a mesma metodologia, os resultados estarão dentro da margem de erro em 95 ocasiões). O registro do levantamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é BR-01037/2014.

Aécio diz que recebe 'feliz, mas com serenidade' resultados

• Tucano saiu de 22% para 27%, enquanto Marina caiu de 28% para 24% na pesquisa do Ibope, divulgada neste sábado pelo Estado

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, divulgou há pouco nota em que afirma que recebe "feliz, mas com serenidade" os resultados das últimas pesquisas eleitorais. O Ibope, divulgado na tarde deste sábado pelo Estado, apontou que Aécio ultrapassou a adversária do PSB, Marina Silva, em votos válidos no primeiro turno, ainda no limite da margem de erro.

O tucano saiu de 22% para 27%, enquanto Marina caiu de 28% para 24%. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, obteve 46%. O mesmo movimento também foi registrado na pesquisa Datafolha, também divulgada neste sábado.

"Recebo feliz, mas com serenidade, os últimos números, mas agora o destino do Brasil está nas mãos de cada brasileiro que, refletindo, analisando, tomará a melhor decisão", afirmou o tucano, em nota.

Aécio Neves afirmou que, a partir deste momento, em que as campanhas são encerradas, a única pesquisa que importa será divulgada "amanhã no final de tarde e que ouvirá a totalidade dos eleitores brasileiros". "Me alegro por ter feito uma campanha defendendo valores, princípios e propostas nos quais acredito", destacou.

Aécio diz que Dilma foi a MG porque está 'assustada'

• No último dia de campanha, tucano percorre ruas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde vota e acompanha apuração

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SANTA LUZIA - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse na manhã deste sábado, 4, durante um evento de campanha em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que a presidente Dilma Rousseff (PT) decidiu fazer campanhas em Minas Gerais neste sábado porque "provavelmente está assustada".

"Ela provavelmente está assustada. Acho que ela não se preparou para nos enfrentar. Vamos para o segundo turno e ganhar as eleições. Ela está percebendo onde vai se dar a disputa, e a disputa será conosco", disse o candidato tucano.

Candidata à reeleição, Dilma desistiu de fazer campanha ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, para fazer campanha na capital mineira, sua cidade natal. A ideia é tentar minimizar o crescimento de Aécio no Estado e dessa forma impedir a realização do segundo turno.

Em entrevista coletiva, o candidato tucano voltou a criticar a petista. "Quando questionado sobre o seu plano de governo na área de economia, que foi divulgado nesta sexta-feira, 3, Aécio ironizou a presidente. "A atual presidente o máximo que conseguiu nos apresentar foi quem será seu ex-futuro ministro da Fazenda."

Ao lado do candidato tucano ao governo mineiro, Pimenta da Veiga, Aécio participou de uma rápida carreata por uma rua de Santa Luzia. No trecho final, os cabos eleitorais se encontraram com um grupo que agitava bandeiras e distribuía material de campanha de Dilma Rousseff.

A campanha de Aécio está apostando no episódio recente envolvendo os Correios para desgastar a presidente Dilma. Estão sendo distribuídos panfletos em Minas em alusão ao caso.

Aécio vai percorrer outras três cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, antes de encerrar sua campanha na capital mineira. Ele fica na cidade no domingo. Depois de votar, assistirá à apuração ao lado de aliados no Estado.

Marina reafirma ter certeza de que estará no segundo turno

• Candidata prefere não comentar diretamente as pesquisas que demonstraram um acirramento da disputa entre ela e Aécio Neves

Ana Fernandes e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

A candidata à Presidência pelo PSB, Marina Silva, reafirmou, na tarde deste sábado, 4, ter certeza de que estará no segundo turno das eleições. "O Brasil já decidiu que vai ter segundo turno. Tenho certeza de que estaremos no segundo turno", disse Marina em ato em São Miguel, na zona leste de São Paulo.

Marina preferiu não comentar diretamente o resultado das pesquisas que demonstraram um acirramento da disputa entre ela e o tucano Aécio Neves por uma vaga no segundo turno. "Vamos verificar isso nas urnas", disse a candidata. Marina repetiu ainda que "segundo turno a gente discute no segundo turno" e que possíveis alianças na segunda fase do pleito dependerão de compromissos "programáticos".

Questionada se a sua queda em intenções de voto nas últimas medições é resultado de erros na campanha, Marina disse não ter arrependimentos, pois "respeitou" o povo brasileiro ao apresentar um programa de governo - a candidata a reeleição Dilma Rousseff (PT) não apresentou programa e Aécio apresentou uma versão fatiada via internet, na última semana antes do primeiro turno. "Ter feito a campanha propositiva é que foi o acerto", disse Marina.

Em sua fala, que durou cerca de 10 minutos, Marina reforçou seu discurso contra a polarização, a principal estratégia para garantir a ida da pessebista ao segundo turno. "Hoje, o Brasil está dividido em uma guerra que há 20 anos foi estabelecida entre PT e PSDB", disse Marina, e completou que o que interessa é ter políticos que prestem serviços à população.

Marina foi questionada também sobre o evento que foi organizado pela campanha hoje. "Eu não faço carreata", disse Marina, que tradicionalmente se coloca contra esse tipo de ato político, por considerá-lo pouco sustentável.

A campanha de Marina, assim como havia feito no Rio de Janeiro ontem, chamou o evento deste sábado de "passeio em carro aberto".

O evento, no entanto, acabou se tornando de fato uma carreata, com Marina em cima de uma picape, ao lado dos coordenadores de campanha Luiza Erundina e Walter Feldman e do vereador e aliado pessoal Ricardo Young (PPS). Durante a carreata, que durou cerca de 40 minutos, Marina falou sobre temas com apelo à população, como educação, transporte e saúde, além de criticar o avanço da inflação e da corrupção. No discurso, ela citou os escândalos recentes envolvendo a Petrobras. Ela falou também do companheiro de chapa falecido, Eduardo Campos, afirmando ter "orgulho" de sucedê-lo na eleição.

Aécio diz que Dilma está assustada porque não se preparou para enfrentá-lo

• No último dia de campanha, tucano fez caminhada em Belo Horizonte e pediu união dos correligionários

Maria Lima – O Globo

BELO HORIZONTE - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, percorreu na manhã deste sábado - véspera das eleições e último dia de campanha - cidades da região metropolitana de Belo Horizonte. De Santa Luzia, ele seguiria para Ribeirão das Neves, Contagem e Betim. Quando perguntado sobre a candidata do PT, que também foi a Belo Horizonte hoje fazer campanha, o tucano disse que ela “provavelmente está assustada”, se referindo às últimas pesquisas de intenção de voto.

— Provavelmente ela está assustada. Acho que ela não se preparou para nos enfrentar. Vamos para o segundo turno e ganhar este eleição.

Em cima da hora, a presidente e candidata à reeleição mudou a agenda deste sábado para fazer campanha na capital de Minas, reduto do candidato tucano, mas onde o candidato petista ao governo, Fernando Pimentel, lidera as pesquisas.

— Ela está percebendo como e onde vai ser a disputa. E a disputa será conosco. Vamos aguardar amanhã.

Ao iniciar o último dia de campanha, Aécio fez um "chamamento à unidade", e alertou que o país vai ser entregue em grandes dificuldades no ano que vem, e vai ser necessário um governo de união. O presidenciável tucano também atacou o envio de cartas de diretor regional dos Correios no Mato Grosso pedindo voto para Dilma e petistas. Os Correios afirmam que não houve uso da infraestrutura pública para o envio de cartas para o MT. “Foram enviadas apenas 670 malas diretas locais e estaduais, para pessoas conhecidas de Nilton do Nascimento. O envio ocorreu na condição de cidadão — a postagem foi paga com recursos particulares. O preço de cada unidade variou entre R$ 0,77 (estadual) e R$ 0,72 (local), conforme a tabela vigente”, disse a estatal em nota.

- Isso é um acinte, um crime eleitoral, uma violência, para favorecer uma candidatura em detrimento dos outros. A regra do pleito eleitoral é a isonomia. Da mesma forma que a Petrobras está sendo usada para beneficiar um grupo político, com um ex-diretor preso, agora os Correios estão sendo usados para beneficiar uma candidatura. Cabe agora à Justiça se manifestar. Isso é um absurdo - disse Aécio.

Aécio Neves afirmou que o momento pede união, e reafirmou a confiança de que vai superar o empate técnico com Marina Silva (PSB) e ir ao segundo turno. Aécio falou que é preciso "governar para todos".

- O Brasil é um país de todos. Qualquer que seja eleito tem que governar para todos. A união de todos vai ser muito importante para superar as imensas dificuldades que vamos encontrar no próximo ano. Estou confiante de que estarei no segundo turno, para defender com mais clareza e aprofundar nosas propostas.

Perguntado sobre a ida da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) a Minas Gerais para tentar conter a alta de Aécio nas pesquisas, o tucano disse que orientou os correligionários a recebê-la de braços abertos.

- Minha orientação aos companheiros é que manifestem hospitalidade a todos os que nos visitam - disse Aécio. Em agosto, ao visitar Belo Horizonte, Dilma afirmou que é uma "mistura" de mineira e gaúcha. O tucano citou a "escola tancrediana":

- Vamos recebê-las de braços abertos. Sou da escola tancrediana que diz que o que deve brigar são as ideias, e não as pessoas. Eu não tive que transigir nem alterar minhas propostas ao longo da campanha. Essa é a boa política: firmeza e generosidade.

Em empate técnico nas pesquisas com Marina, alcançado a poucos dias do pleito, Aécio evitou fazer comparações ou juízos de valor, e disse que tem mais experiência política, e já testou seu projeto para o Brasil.

- Não tem essa história de ser melhor que ninguém. Eu respeito a Marina. Ela tem condições como eu, mas eu ofereço um projeto que já foi experimentado, com uma equipe que já foi testada em todas as áreas. São pessoas qualificadas, e isso é essencial. Eu tenho liderança política, já testada no Congresso, que eu quero oferecer ao Brasil - declarou.

Sobre a foto da recusa de cumprimento de um morador de um conjunto de favelas na zona sul da capital mineira, Aécio disse respeitar a escolha do homem, e que o gesto foi uma exceção na campanha.

- Foi uma em um milhão. Quem está me acompanhando, está vendo como está sendo a receptividade. Ele tem opinião contrária, eu respeito, mesmo discordando.

Pela primeira vez nesta campanha, Aécio apareceu à frente de Marina, mesmo que com empate técnico, segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na manhã deste sábado. Ele disse aguardar com calma mais levantamentos:

- Eu vou aguardar as pesquisas com muita serenidade e humildade. Se eu merecer a confiança dos brasileiros, estou pronto para governar o Brasil.

Tripla encruzilhada: Folha de S. Paulo - Editorial

• Numa campanha eleitoral cheia de surpresas e sem que se possa antever o resultado, principais propostas continuam indefinidas

Poucas vezes terá havido, na história recente do país, quadro eleitoral tão incerto quanto o que marca a disputa presidencial deste ano.

A hegemonia do projeto petista, que parecia inabalável pouco mais de um ano atrás, sofreu a reviravolta das manifestações de junho. O fenômeno esvaziou-se, entretanto, num panorama sucessório em que dois candidatos de oposição (Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB) seguiam numa pré-campanha tépida.

Veio o acidente que tirou a vida do pessebista, multiplicando o que sua vice, Marina Silva, podia ter de simbolicamente providencial.

Como numa espécie de teste de laboratório, cujo desfecho ainda não se pode prever, a campanha deste ano pôs à prova a bandeira marinista da nova política e, paralelamente, coloca em exame a consistência da polarização clássica entre PT e PSDB.

Há razões, do ponto de vista ideológico e social, para que o eleitorado se divida entre a visão gerencial representada pelos tucanos e o caráter mais proativo de governos petistas no que tange à diminuição das desigualdades sociais.

O espaço para uma terceira via não se abre, curiosamente, em algum ponto médio entre esquerda e direita. Esses termos fazem escasso sentido quando Lula, Sarney, Collor e Maluf se aliam numa mesma base de apoio parlamentar.

A polarização encontra seus limites na medida em que a realidade das coligações partidárias e dos acordos nos Estados impõe a intervenção de políticos alheios a compromissos doutrinários.

Daí deriva a sensação de falsidade que contamina as propostas de seus candidatos à Presidência. Tanto Dilma Rousseff (PT) como Aécio não podem governar sem alianças que, em boa parte, diluem a imagem vendida à militância.

Num paradoxo facilmente explicável, recaiu sobre Marina a impressão de ser ainda mais inconsistente do que seus rivais.

Se PT e PSDB jogam habilmente na dualidade entre as palavras de ordem e a velha prática que as desmente, a palavra de ordem de Marina foi a de uma nova prática, sem nada de concreto que pudesse confirmá-la, numa campanha feita de acenos para vários lados.

O eleitor se vê com a difícil tarefa de escolher entre programas genéricos, sem garantia sequer de que o pouco anunciado será cumprido. Nem por isso sua mensagem --de advertência ou incentivo-- será menos importante.

A democracia se constrói aos poucos; expectativa, descrença e hesitação se expressam de modo incerto a cada eleição --mais nesta, sem dúvida, do que nas anteriores.

A hora da razão: O Estado de S. Paulo – Editorial

Depois de quatro anos de Dilma Rousseff, o Brasil está pior, sob todos os aspectos. A economia empacou e flerta com a recessão; o modelo de crescimento baseado no estímulo ao consumo dá sinais claros de esgotamento; o emprego desce, limitado às faixas salariais inferiores, e a inflação sobe, atropelando o teto da meta; o equilíbrio fiscal depende cada vez mais da contabilidade criativa; o Itamaraty foi sucateado e a diplomacia brasileira, colocada a serviço da visão de mundo petista; a corrupção se alastra no aparelho estatal, dando a impressão de que só não existe onde não é procurada; a insatisfação popular se amplia e aprofunda diante da incapacidade do governo de entregar aos cidadãos com um mínimo de qualidade os serviços pelos quais todos pagam.

A gestão Dilma é o que se pode chamar de fracasso retumbante. Um vexame que só não é maior do que a empáfia com que a candidata à reeleição vende na tribuna da ONU e na propaganda eleitoral o embuste de um país paradisíaco resgatado do subdesenvolvimento e da injustiça social por 12 anos de façanhas lulopetistas.

De quatro em quatro anos, porém, o sistema democrático nos dá a oportunidade de corrigir os rumos da gestão da coisa pública. É hoje o dia. Mais uma vez, as urnas eleitorais se abrem, oferecendo aos brasileiros a possibilidade de concretizar o desejo de mudança expresso nas manifestações de rua e claramente captado pelas pesquisas de opinião.

É preciso que o eleitor tenha claro, no entanto, o exato significado de mudança neste momento delicado da vida nacional. Mudar, hoje, significa apear do poder um partido que, ao arrepio de suas convicções originais, se concentrou em programas de governo sob medida para a viabilização de um projeto de perpetuação no poder, não se pejando de fazer, para isso, toda sorte de concessão às forças políticas mais corruptas e retrógradas do País que, antes suas inimigas, foram promovidas a "base aliada".

Não basta, porém, apear o PT et caterva do poder. É necessário saber como preencher o enorme vazio deixado pelo irresponsável pragmatismo populista de Lula e pela estonteante incompetência de Dilma Rousseff. E as possibilidades de concretização da alternância se resumem a duas candidaturas: Marina Silva, do PSB, e Aécio Neves, do PSDB.

A ex-ministra do Meio Ambiente, que se tem colocado claramente em oposição às pretensões reeleitorais de Dilma, experimentou um forte crescimento de sua candidatura logo após o trágico desaparecimento do ex-governador Eduardo Campos. Essa tendência refluiu, mas ainda hoje ela se apresenta como forte aspirante à disputa do segundo turno. O fato de Marina ter militado por duas décadas no PT, do qual se retirou movida por divergências programáticas, sugere que ela conhece muito bem aqueles que hoje combate e sabe, portanto, o que prejudica e compromete o País. Mas, ao mesmo tempo, algumas características de temperamento e as circunstâncias políticas que envolvem sua candidatura a transformam numa incógnita. E de incertezas o País está farto.

Aécio Neves, por sua vez, representa um grupo político que, com a idealização e execução do Plano Real, 20 anos atrás, demonstrou capacidade e competência para resgatar a economia brasileira do fundo do poço e assentar as bases para o desenvolvimento que permitiu os avanços sociais e econômicos do governo Lula. E os muito bem-sucedidos governos do PSDB nos dois maiores Estados da federação, São Paulo e Minas Gerais, neste com o próprio Aécio, são respeitável aval à candidatura tucana.

Eleito, Aécio Neves estará aglutinando um bloco de parlamentares, técnicos e homens de pensamento e ação, capazes de remover da administração pública e da política os vícios nelas implantados pelo lulopetismo - e capazes, também, de colocar o Brasil novamente no rumo do crescimento sustentado e responsável.

Para que isso aconteça - para que o Brasil possa de novo ser um país onde as esperanças de um presente estável e de um futuro promissor de fato se realizem -, cada brasileiro que deseja o retorno à administração pública dos valores da honestidade, da correção, do compromisso com a coisa pública e com a eficiência, deverá votar bem. Será uma escolha entre o atraso escandaloso dos "coronéis" e a modernidade.

Eleição acirrada depois de campanha sem ética: O Globo - Editorial

• Do balanço negativo da disputa consta o desinteresse dos candidatos, com exceção de Marina, em divulgar a íntegra de seus programas de governo

Há características especiais nesta eleição em que o PT tenta permanecer, pela quarta vez consecutiva, no Planalto, além do fato de que, vitoriosa a candidatura da presidente Dilma Rousseff, o partido completará 16 anos seguidos no poder, um recorde na história republicana brasileira. Getúlio emplacou 15, porém oito dos quais como ditador.

Outra peculiaridade, esta específica do pleito, é que, desde 1989, na eleição de Collor, não há uma briga tão dura na definição de quem chegará em segundo lugar, para concorrer num eventual segundo turno com a candidata petista.

O papel que Lula e Brizola cumpriram em 89 agora é protagonizado por Marina Silva e Aécio Neves. Naquela eleição, o resultado ficou indefinido até o final da apuração, quando Lula confirmou o lugar no segundo turno por apenas 0,63 ponto percentual (16,08% contra 15,45% de Brizola).

Pesquisas do Ibope e Datafolha divulgadas na noite de quinta-feira espelhavam a indefinição em torno do segundo lugar, com este último instituto revelando um empate técnico, com a diferença de três pontos entre os dois, 24% para Marina e Aécio, 21%, situada na margem de erro da sondagem. De acordo com o Ibope, a distância entre eles era maior — 24% a 19%. Mas nada também definido.

Jogada no centro da campanha eleitoral, como cabeça de chapa do PSB, pela tragédia da morte de Eduardo Campos, Marina Silva, como temiam os petistas, representou, naquele momento, grande ameaça a Dilma.

Mas, com pouco tempo de propaganda gratuita (dois minutos contra 12 da petista), a candidata foi atacada com violência pelo PT. Chegou a demonstrar alguma resistência, também diante da artilharia tucana, mas não resistiu, e a sua curva de intenção de votos entrou em mergulho, enquanto Aécio Neves iniciava alguma reação e Dilma subia de patamar. As curvas de Marina e Aécio têm tendências que, a depender do instituto de pesquisa, indicam poder se cruzar neste fim de semana. Ou não. Aproxima-se uma apuração emocionante.

Os ataques petistas a Marina, outro aspecto da campanha, entram para a história político-eleitoral brasileira como um dos exemplos do vale-tudo aético, destinado a explorar o alto nível de desinformação da maior parcela da sociedade. Tudo isso contaminado por preconceitos da esquerda.

Panfletos em forma de vídeos exploraram de forma cínica a proposta de independência operacional do Banco Central, feita por Marina, como se ela fosse entregar o país aos “banqueiros”, responsáveis por tirar a comida da “mesa do povo". Não fosse esta a mesma proposta feita pela então candidata Dilma na campanha de 2010.

A relação pessoal e política de Marina com Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú-Unibanco, mas conhecida por ser educadora, também foi usada de forma vil. A candidata do PSB foi tratada como alguém que é “sustentada” por banqueiros, quando bancos foram e são grandes financiadores de campanhas petistas. O que é do jogo.

Do balanço negativo da campanha consta, também, a falta de programas. Com exceção do PSB. Aécio Neves começou a divulgar o seu em capítulos, em prejuízo de uma visão global das propostas. Adiantou que Armínio Fraga será seu ministro da Fazenda, mas também não é o bastante.

Já Dilma se esquiva porque não quer responder à grande pergunta: manterá a mesma e equivocada política econômica num segundo mandato? Se houver segundo turno, é assunto a ser esclarecido. E mesmo que não haja.

Fernando Henrique Cardoso: Em quem voto e por quê

- O Estado de S. Paulo

Poucas vezes o refrão de estarmos numa encruzilhada terá sido tão verdadeiro. Neste domingo os eleitores carregam para a votação o peso de uma responsabilidade histórica. E o mais grave é que, dadas as condições do debate eleitoral e as formas prevalecentes de manipulação da opinião pública, boa parte do eleitorado nem atina qual seja a bifurcação diante da qual o País está.

Numa das mais mistificadoras campanhas dos últimos tempos, a máquina publicitária e corruptora do PT e aliados espalhou boatos de que Aécio Neves acabaria com os programas sociais (em grande parte criados pelo próprio PSDB!) e Marina Silva seria a expressão dos interesses dos banqueiros, tendo nas mãos, com a independência do Banco Central, a bomba atômica para devastar os interesses populares. Por mais ridículas, falsas e primárias que sejam as imagens criadas (também eram simplificadoras as imagens do regime nazista ou do stalinista para definir os "inimigos"), elas fizeram estragos no campo opositor.

A guerra de acusações descabidas escondeu o tempo todo o que a candidata à reeleição deixou claro nos últimos dias: suas distorções ideológicas. Fugindo aos scripts dos marqueteiros, que a pintam como uma risonha e bonachona mãe de família, e do PAC, a presidenta vem reafirmando arrogantemente que tudo o que fez foi certo; se algo deu errado, foi, como diria Leonel Brizola, por conta das "perdas internacionais". Mais ainda, disse com convicção espantosa ser melhor dialogar com os degoladores de cabeças inocentes do que fazer-lhes a guerra, coisa que só os "bárbaros" ocidentais pensam ser necessária.

E o que é isso: socialismo? Populismo? Não, capitalismo de Estado, sob controle de um partido (ou do chefe do Estado). Um governo regulamentador, soberbo diante da sociedade, descrente do papel da opinião pública ("não é função da imprensa investigar", outra pérola dita recentemente por Dilma), com apetite para cooptar o que seja necessário, desde empresários "campeões nacionais" até partidos sedentos de um lugar no coração do governo.

Algo parecido com o que o lema do velho PRI mexicano expressava: fora do orçamento, não há salvação; nem para as empresas, nem para os partidos, nem para os sindicatos, para ninguém. Crony capitalism, dizem os americanos. Capitalismo para a companheirada, diríamos nós.

E sempre com certo ar de grandeza, herdado do antecessor: nunca antes como agora. Para provar os acertos, vale tudo: fazer citações sem respeito ao contexto, escamotear as contas públicas ou até mesmo, para se justificar, dizer: "Nunca ninguém puniu tanto os corruptos como este governo!". Como se as instituições de Estado (Polícia Federal, Ministério Público, tribunais, etc.) fossem mera extensão dos governantes.

Criou-se um clima de ilusão e embuste usando uma retórica baseada no exagero e na propaganda. Será isso democracia? Estamos, pouco a pouco, apesar de mantidas as formas democráticas, afastando-nos de seu real significado. Como em alguns outros países da América Latina. Com jeitinho brasileiro, mas com iguais consequências perversas. O modo de governar (democraticamente ou não) é tão importante para mostrar as diferenças entre os partidos quanto as divergências de orientação nas políticas econômicas ou sociais.

Por mais que a propaganda petista mistifique, as políticas sociais têm o rumo definido desde a Constituição de 1988. Executadas com maior ou menor perícia por parte de quem governa, com maior ou menor disponibilidade de recursos, o caminho dessas políticas está traçado: mais e melhor educação, mais e melhor saúde, mais e melhor amparo a quem necessita (bolsas, aposentadorias, etc.). Já a política econômica perdeu o rumo e destrói pouco a pouco as bases institucionais que permitiram consolidar a estabilidade e favorecer o crescimento da economia.

No conjunto de sua obra, o governo atual rompeu o equilíbrio alcançado entre Estado, mercado e sociedade e dá passos na direção de um modelo à Ernesto Geisel. Tal modelo é incompatível com a democracia e com a economia moderna. Não poderão sobreviver os três ao mesmo tempo.

É esse o fantasma que nos ronda. Reeleita a candidata, a assombração vira ameaça real. Ameaça à economia e ao regime político, pelo menos quanto ao modo de entender o que seja democracia. Não é preciso que nos ensinem que democracia requer inclusão social e alargamento da participação política. Essa foi a luta do meu governo, desde o primeiro dia, em condições muito mais adversas. É este governo que necessita aprender que a inclusão e a participação verdadeiramente democráticas requerem defesa vigilante das liberdades fundamentais (especialmente de imprensa), autonomia da sociedade civil, separação entre partido, governo e Estado. Como o governo mostra dificuldade em aprender, só há um caminho: votar na oposição.

Mas em qual oposição? Com o devido respeito às demais forças oposicionistas, que deverão estar juntas conosco no segundo turno, há um candidato e um partido que já demonstraram na prática que obedecem aos valores da democracia, da inclusão social e da modernização do País. Já mostraram também que sabem governar. O PSDB e seus aliados lançaram as bases sociais e econômicas do Brasil contemporâneo. Aécio é a expressão deste Brasil.

Governando Minas Gerais, fez seu Estado avançar (o Estado tem hoje o melhor Ideb do País no ensino fundamental) e marcou a sua administração por inovações na forma de estabelecer e cobrar resultados. Não foi o único governador a se destacar no período recente, mas esteve sempre entre os melhores.

Meu voto, portanto, será dado a Aécio. Não só por ele, mas pelo que ele representa, como uma saída para a encruzilhada em que nos encontramos.

Sociólogo, foi presidente da República

Ferreira Gullar: Somos todos responsáveis

• Somos responsáveis por essa situação, já que os que governam e os que fazem leis foram eleitos por nós

- Folha de S. Paulo

A frequência com que critico o quadro político brasileiro --e especialmente a atuação de certos partidos e dirigentes-- pode fazer parecer que considero todos os políticos corruptos ou ineptos, mas não é assim.

Há muitos políticos honestos e, bem ou mal, o país caminha, muitas coisas melhoraram, apesar de que falta muito por fazer, falta muito para que se alcance o nível dos países avançados. Isso não se fará em apenas um governo, mas que pelo menos os problemas mais graves como saúde, educação, saneamento, sejam enfrentados com a necessária seriedade e não com intenções meramente eleitoreiras.

Por sua vez, o eleitor deve entender que se as questões básicas não são resolvidas, os problemas de todos tendem a se agravar.

Na verdade, não escrevo para que apenas os políticos leiam, pois certamente têm mais o que fazer. Escrevo, sobretudo, para que você, cidadão, me leia e reflita sobre o que digo e os erros que aponto. Não para que você simplesmente concorde comigo, mas, sim, para que, mesmo não concordando, reflita sobre essas questões e procure entendê-las.

Não alimento ilusões quanto à solução imediata dos graves problemas que dificultam o crescimento do país e menos ainda quanto ao atendimento das necessidades da população, particularmente das camadas mais pobres.

Não obstante, acho que muito pode ser feito e esse é o motivo que me leva a criticar os responsáveis, não apenas os membros do Executivo, mas igualmente dos dois outros poderes, o Legislativo e o Judiciário.

Alguns mais diretamente responsáveis pelo mau funcionamento da máquina do Estado, muito embora todos, de um modo ou de outro, tenham culpa nisso, seja por agir mal, seja por omitir-se diante dos abusos e dos erros.

Aliás, a rigor, todos nós somos responsáveis por essa situação lamentável, uma vez que tanto os que nos governam como os que fazem as leis foram eleitos por nós.

Um aspecto a observar, no Brasil, é o alto custo dos poderes da República. Esse pode ser um dos motivos de sua omissão quanto à destinação dos recursos públicos, uma vez que esses três poderes têm, aqui, um custo relativamente mais alto do que na maioria das nações, incluindo as mais ricas como os Estados Unidos, a Alemanha ou a Inglaterra.

Se o Senado brasileiro emprega cerca de 10 mil funcionários e cada deputado federal tem à sua disposição dezenas de funcionários --que nem em pé caberiam em seu gabinete--, se cada ministro do Supremo tem, para servi-lo, mais de 200 funcionários, é compreensível que de nenhum deles poderiam partir iniciativas para corrigir uma tão injusta destinação dos recursos públicos.

A conclusão inevitável é que os integrantes daqueles poderes constituem uma casta que se apropriou do Estado brasileiro e o usa conforme seus exclusivos interesses.

Pouco se lhes dá, portanto, se não há recursos suficientes para atender à população em suas necessidades básicas. Os hospitais públicos vivem abarrotados de pacientes, pelos corredores, à espera do atendimento médico que nem sempre chega a tempo.

No setor judiciário, conforme relatório recente, nada menos de 30 milhões de processos esperam julgamento, sendo que uma parte deles dizem respeito a interesses de cidadãos cuja vida, muitas vezes, depende dessas decisões.


Os gastos com educação estão muito abaixo do que seria necessário para atender à parte jovem da população que precisa estudar. Os políticos parecem não perceber que a educação é a base do desenvolvimento do país.

O que fazer então? Deixar tudo como está ou iniciar a luta pela mudança radical desse quadro? Se a opção for o conformismo --ou mudanças aparentes que caracterizam o populismo-- tão cedo não alcançaremos a condição de uma sociedade efetivamente moderna --no sentido correto da palavra-- e menos injusta.

Se a opção for o inconformismo, deve-se distinguir entre a ação política consciente, que define seus objetivos e compreende as dificuldades de alcançá-los, e o vandalismo que, em última instância, termina por impedir a mudança real.

Lembre-se disso, hoje, ao escolher em quem vai votar.

José Serra: Com os olhos no futuro

• São Paulo jamais se negaria a colaborar para diminuir as desigualdades regionais do Brasil, mas não à custa do bem-estar do seu povo

- Folha de S. Paulo

As instituições democráticas brasileiras têm sido arranhadas por 12 anos de desmandos petistas no governo federal. No Brasil de hoje, o loteamento político e os escândalos foram banalizados, tornando-se métodos de governo dentro dessa fantasia chamada "presidencialismo de coalizão".

Nesse contexto, é imprescindível que o Senado retome ativamente seu papel como trincheira de defesa da democracia e do bem-estar dos brasileiros. Essa é a principal razão por que decidi lançar minha candidatura a senador nesta eleição.

No Senado, quero contribuir para as medidas que permitam a retomada do desenvolvimento da economia, hoje dominada por desconfiança, estagnação, inflação reprimida, baixa competitividade e desindustrialização. Não há mágica, mas é possível, sim, iniciar um círculo virtuoso de mudanças que, gradualmente, nos conduzam à reindustrialização com estabilidade, sem a qual o crescimento, a geração de bons empregos e as políticas sociais não terão fôlego.

Como senador, vou defender São Paulo dentro da Federação. Vamos ser claros: o Estado é hoje discriminado do ponto de vista fiscal. Aqui, a União arrecada 42% dos seus tributos. Como temos 22% da população do país, pagamos três vezes mais impostos per capita do que a média dos que moram em outras unidades da Federação. Mas recebemos somente 10% do total das despesas federais.

Também somos vítimas de uma implacável guerra fiscal, que leva embora empregos e receita tributária. E temos sido alvos de novas medidas discriminatórias: lei federal recente aloca para São Paulo apenas 1% dos royalties do petróleo destinados aos Estados.

Evidentemente, São Paulo jamais se negaria a colaborar para diminuir as desigualdades regionais do Brasil, mas isso não pode ser feito à custa do bem-estar do seu povo. É tarefa, sim, de um senador conhecer a fundo esses problemas e ser capaz de formular e avaliar propostas corretivas, com a firmeza e o peso político que merecem os mais de 44 milhões de brasileiros que moram neste Estado.

Uma terceira vertente do meu trabalho de senador será o ativismo legislativo, que caracteriza a minha trajetória. Fui relator de três capítulos da Constituição de 1988 e obtive o maior índice de aprovação entre os parlamentares que apresentaram mais de 200 emendas constitucionais --ou seja, os mais produtivos. Em oito anos de mandato na Câmara, fui o deputado federal que apresentou o maior número de projetos que viraram leis.

Uma das minhas prioridades será a recomposição gradual, em cinco anos, da participação federal nas despesas da saúde, que declinou de 53%, em 2002, para 44% atualmente. Essa queda está na raiz do drama que infelicita milhões de pessoas.

Quero me dedicar ainda à implementação do voto distrital nos municípios com mais de 200 mil eleitores já nas próximas eleições municipais, em 2016. Apresentarei o projeto que proíbe o governo de cooperar com países lenientes com o contrabando de cocaína para o Brasil e outro obrigando o poder público a fazer campanhas educativas contra as drogas, a exemplo do que se fez e se faz com o cigarro.

Quero me dedicar também à criação da Nota Fiscal Brasileira, seguindo os passos da Nota Fiscal Paulista, instituída no meu governo, em São Paulo, que devolve aos consumidores parte do imposto estadual adicionado no comércio. Dá para fazer o mesmo com os tributos federais: PIS, Cofins e IPI.

Quero ainda que o Brasil passe a exigir a certificação para o preenchimento de todos os cargos de confiança do governo federal, começando pelo Ministério da Saúde.

Nesta campanha mostrei o que fiz ao longo da minha vida pública. Mas não peço que votem em mim apenas por meu passado. Quero ser senador pensando no futuro de São Paulo e na reconstrução do Brasil.

José Serra, 72, é candidato ao Senado pelo PSDB-SP. Foi deputado constituinte (1986-1988), deputado federal (1991-1994), ministro da Saúde e do Planejamento e Orçamento (governo FHC), prefeito de São Paulo (2005-2006) e governador do Estado de São Paulo (2007-2010)

Merval Pereira: Atropelada na reta final

- O Globo

O candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves, chega no dia da eleição em crescimento não apenas no primeiro turno, quando supera a adversária Marina Silva do PSB de acordo com as últimas pesquisas, mas principalmente na simulação do segundo turno, o que faz com que o voto útil oposicionista passe a ser para ele, e não para Marina.

Com isso, é provável que aumente a diferença a seu favor na última hora, sem haver o perigo de que votos de Marina migrem para a presidente Dilma, fazendo-a vencer no primeiro turno. Essa hipótese é afastada pelos dois institutos de pesquisas, que registraram sua estagnação nas últimas rodadas entre 44% e 46% dos votos válidos, votação que, se confirmada pelas urnas, é menor do que a registrada na eleição de 2010.

As pesquisas indicam que o receio de que eleitores de Marina poderiam ir para Dilma é infundado, o que também retira de Marina o poder de influenciar diretamente na eleição. Os eleitores que saíram do voto nulo e em branco para apoiá-la parecem definitivamente participantes do jogo eleitoral. E do lado da oposição.

Ela teria, no entanto, obrigatoriamente que fazer um gesto político em direção ao companheiro de oposição que estará no segundo turno, e se mais uma vez decidir ficar em cima do muro estará confirmando que é uma liderança política não gregária, que se recusa ao jogo democrático.

Em 2010, ela ainda tinha a expectativa de, distanciando-se dos partidos que polarizam a cena política, ficar marcada como a terceira via democrática para uma próxima eleição. Só que essa eleição chegou e ela será derrotada, se as pesquisas estiverem corretas.

Nesse caso, sair da disputa sem apoiar o projeto oposicionista que a superou nas urnas, numa eleição tão apertada quanto essa, é ajudar que o grupo político que está no poder continue predominando. Da mesma forma, o candidato tucano terá a obrigação de apoiá-la caso as pesquisas estejam erradas e Marina chegue ao segundo turno.

A tendência de crescimento de Aécio e declínio de Marina é registrada na simulação do segundo turno: no Datafolha, a diferença de Dilma para Marina era de sete pontos entre os dias 1 e 2, e passou para 10 pontos nessa última pesquisa. Quando a presidente enfrenta Aécio Neves, a distância vai se estreitando: caiu de 11 pontos para 6 pontos em uma semana.

No Ibope, a diferença está em oito pontos a favor de Dilma contra os dois adversários, mas também nesse caso vai aumentando em relação a Marina – que já esteve até mesmo à frente da presidente Dilma, como a única que poderia derrotá-la – e sendo reduzida em relação ao tucano.

Uma simulação do que seria uma disputa entre Marina e Aécio num segundo turno, impossível de acontecer, mostra, no entanto, como o eleitorado de oposição está se passando para o lado do tucano: Aécio, que já perdera para Marina por 24 pontos, agora sairia vencedor dentro da margem de erro, por 39% a 36%.

A subida de Aécio Neves está sendo impulsionada pela tentativa de reverter a eleição em Minas Gerais, tarefa praticamente impossível. Mas a redução da diferença entre Fernando Pimentel do PT para Pimenta da Veiga do PSDB se deve à intensificação da campanha mineira. Perdendo em Minas, Aécio perde também uma boa arma eleitoral para o segundo turno, pois terá que se referir à sua experiência administrativa exitosa com a retaguarda aberta pela derrota em seu território.

Em contraposição, a campanha da presidente Dilma ganhará um bom mote eleitoral com a vitória de um petista em Minas Gerais, terra onde nasceu. Poderá reforçar esses laços com o eleitor minero num segundo turno, dificultando a caminhada de Aécio Neves, que terá que obter uma boa votação no sudeste para superar a defasagem de votos no nordeste.

Dora Kramer: Dois na gangorra

- O Estado de S. Paulo

Os fatos, assim como os desejos, não são dignos de confiança. Desobedientes, costumam criar pernas, nem sempre se realizam conforme o ansiado e têm parte com o inesperado.

Essa campanha é a prova cabal. O eleitorado deixou patente o desejo de mudanças. Primeiro nos protestos dos jovens de junho de 2013, com apoio massivo da população antes de degenerarem para a violência, e depois nas pesquisas de opinião.

Ao longo da jornada eleitoral, os fatos se embaralharam de tal forma – notadamente depois da dramática entrada em cena do imprevisível – que as mudanças se sucederam no processo e pode ser que não se expressem no resultado, pois a presidente Dilma Rousseff, representante da continuidade, encerra a etapa preliminar como favorita.

Ressalvada alguma nova surpresa do imponderável, a candidata à reeleição chega ao dia da eleição com o oponente do segundo turno ainda indefinido, em cenário de luta acirrada pela vaga semelhante ao de 1989.

Naquele primeiro pleito pelo voto direto pós-regime militar, Luiz Inácio da Silva e Leonel Brizola disputaram milímetro a milímetro o espaço das urnas. Lula ficou com a vaga por 16,08% da preferência do eleitorado e Brizola perdeu com 15,45% dos votos. Fernando Collor venceu com 28,05%.

O eleitorado do presidente do PDT certamente acompanhou a orientação do líder e majoritariamente votou no PT. Não adiantou. Fosse ao contrário é de se supor que Lula também orientaria o voto em Brizola. A despeito das divergências conhecidas e mágoas até hoje não de todo reveladas, os dois seguiram aliados e em 1998 concorreram na mesma chapa; Lula a presidente, Brizola a vice.

Em 89, se Brizola tivesse passado para o segundo turno, mesmo com o apoio do PT dificilmente teria vencido Collor. Hoje, entre várias tolices que se contam como verdades históricas, atribui-se a vitória a uma edição do último debate entre Lula e Collor na TV Globo. Muito conveniente para expiar a culpa coletiva, mas a verdade é que a maioria estava eletrizada por aquele arrivista que se fantasiava de salvador da pátria.

Tinha um marketing poderoso, o apoio de todos os meios de comunicação, que resolveram ignorar suas peripécias na prefeitura de Maceió e no governo de Alagoas para alimentar o conto do caçador de marajás. Ele contava ainda com o temor difuso de governos de esquerda. Neste aspecto Brizola era tão (ou mais) bicho papão quanto Lula.

Portanto, aquele segundo turno era fava contada. Esse de agora não é. De onde a semelhança entre as duas situações (a de 89 e a de 2014) guarda relação apenas com a disputa acirrada pela vaga do segundo turno. Circunstâncias, candidatos, atmosfera e condições objetivas são completamente diferentes.

Fernando Collor era uma abstração. Dilma e o PT representam 12 anos de poder que estarão em julgamento. Para o bem e para o mal. A campanha da reeleição resolveu, como vacina, pôr o assunto corrupção na roda. Correu um risco, no primeiro momento parece ter convencido de que fez o papel de combatente, mas as provas da delação premiada de Paulo Roberto Costa estão começando a aparecer e a canoa pode virar.

Além disso, há os próprios candidatos. Se for Marina Silva a oponente, dificilmente o PSDB deixará de entrar na campanha para derrotar o PT. Mas ela já se mostrou pessoalmente mais fácil de ser massacrada. Os petistas encontraram a fórmula e Marina parece ter perdido a receita que enfeitiçou o eleitorado.

Se o escolhido for Aécio Neves, o PSB e sua estrutura minguada terão pouco a oferecer. A posição da ex-senadora ainda é dúvida. Valerá mais o sentimento oposicionista, a perspectiva de alternância, a organização partidária, o peso de candidatos proporcionais eleitos e governadores de peso reeleitos no primeiro turno e, sobretudo, a capacidade do PSDB de fazer frente à guerra de extermínio que haverá.

Eliane Cantanhêde: Suadouro no 2º turno

- Folha de S. Paulo

Dilma nem esperou as últimas pesquisas ou a abertura das urnas e antecipou o segundo turno. Ao dedicar o sábado a Minas, ela já acreditava, ou sabia, que seu adversário seria Aécio Neves. Está restabelecida a polarização PT-PSDB?

Acredite quem quiser que Marina Silva seria a adversária mais forte contra Dilma. Não seria. Marina foi perdendo fôlego, enquanto Aécio amargou 20 pontos atrás da adversária inesperada, mas manteve o fôlego e a tropa unida e foi em frente. No segundo turno, Dilma encontraria uma Marina desmilinguindo e vai enfrentar um Aécio com todo o gás.

E há as condições objetivas. Assim como Dilma tem mais máquina, recursos e capilaridade, é Aécio quem tem máquina, recursos e capilaridade na oposição, ou no antipetismo. Nas três comparações, o PT leva vantagem e venceu o PSDB nas três últimas eleições presidenciais. Mas há novos fatores, como a rejeição ao PT e os erros do governo Dilma.

Aécio também terá a seu favor os governadores reeleitos em primeiro turno, caso dos tucanos Geraldo Alckmin (SP) e possivelmente Beto Richa (PR). Além deles, terá senadores e deputados eleitos pelo país. Marina não teria uma base tão sólida, nem eleitores tão firmes.

Os tucanos sonham com a foto de Marina e Aécio, de mãos levantadas, selando a união das oposições. Difícil. Mas, pelas pesquisas, Aécio tem condições de atrair em torno de 60% dos eleitores de Marina e também dos simpatizantes do PMDB, que apoia oficialmente Dilma.

O resto é com ele, que nasceu em berço político, presidiu a Câmara, saiu de dois governos em Minas com mais de 90% de aprovação e pode sair do primeiro turno como fenômeno de última hora, com alto astral.

Afora o desarranjo artificial com a morte de Eduardo Campos, Dilma sempre foi a favorita. Mas Aécio vai dar um suadouro no PT. Não será surpresa, aliás, se ele tiver mais voto hoje do que previam as pesquisas.

João Bosco Rabello: Leve favoritismo

- O Estado de S. Paulo

A votação deste domingo fecha a primeira etapa da eleição com uma renhida disputa pela ida ao segundo turno entre Aécio Neves e Marina Silva, em que o primeiro chega com mais chances de vitória, embora apertada.

A curva descendente de Marina e o seu desempenho nas últimas semanas, especialmente no debate final na TV Globo, autorizam a avaliação de que mais tempo houvesse de campanha e sua candidatura estaria em terceiro lugar nas pesquisas antes do dia da votação.

O debate, embora tarde da noite, teve alcance inédito em campanhas eleitorais e sua influência pode ser decisiva no avanço de Aécio Neves, cujo desempenho foi consenso nos levantamentos feitos logo após o programa, mesmo os do PT.

Segundo dados divulgados, a audiência do debate foi de 48% na Grande São Paulo, de 34% em Brasília e 30% no Rio de Janeiro, índices suficientes para influir em disputa tão apertada. A média de desempenho a favor do candidato do PSDB foi de 52%.

No cômputo geral, se a partir do debate Marina perder 1% ponto porcentual em cada 10% de seus eleitores, estará fora do segundo turno, o que não é improvável pela desidratação severa de sua candidatura, quase na mesma velocidade do crescimento experimentado após a morte de Eduardo Campos.

Independentemente das previsões - a pesquisa CNT divulgada ao meio-dia de sábado já dava Aécio três pontos à frente de Marina -, a confirmação da oposição na disputa leva a reflexões sobre o segundo turno, em que Marina também terá mais dificuldades que Aécio, caso chegue lá.

Sua desconstrução por Dilma responde pela queda de seus índices, mais do que a oposição que lhe moveu Aécio.

É bastante provável que a hemorragia prossiga se passar à segunda etapa, ao contrário do senador mineiro que está em crescimento e que dispõe de uma estrutura partidária capaz de sustentar o eleitorado antipetista que começa a decidir quem os representará.

Dilma vai ao segundo turno tendo contra si o desgaste político do PT, que perdeu a confiança de boa parte de seu eleitorado, conforme registrou o ex-petista Eduardo Jorge, hoje candidato do PV, e péssimos resultados de governo, que a faz perder em todos os segmentos de média e alta renda e escolaridade, nas quais sua intenção de voto chega a, no máximo, 28%.

Em contrapartida, herda do ex-presidente Lula a manipulação exitosa do eleitorado de baixa renda e escolaridade, que lidera com índices altos, nunca abaixo de 50%. Será esse o confronto do segundo turno, caso Aécio seja o candidato da oposição. Se for Marina, as chances são bem menores.

Luiz Carlos Azedo: Ninguém vota levado pelo nariz

• Nas campanhas eleitorais, o marketing político muitas vezes recorrre à mistificação e à mentira para favorecer determinado candidato. Como lidar com isso?

Correio Braziliense

Nas eleições deste ano, 142,8 milhões de eleitores estão cadastrados na Justiça Eleitoral. São cidadãos aptos a escolher no dia de hoje o presidente da República, os governadores e senadores, nas eleições majoritárias, e os deputados federais e estaduais, nas proporcionais. Esses números representam a maior democracia de massas do mundo, levando-se em conta outros países das dimensões continentais — como Estados Unidos, México, Rússia, Índia e China. Deste total, 354.184 pessoas devem votar no exterior.

O imponderável nas eleições brasileiras é representado por esse enorme contigente humano, que tende a votar segundo a sua realidade e não de acordo com o que gostariam aqueles que detêm o poder, mesmo contingenciado pela atuação desmedida das estruturas de Estado na eleição. Vejam, por exemplo, a privilegiada utilização dos Correios na distribuição de material de campanha da presidente Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, e a escandalosa propaganda dos programas sociais do governo na Voz do Brasil, cadeia oficial da rádio criada no Estado Novo, na semana que antecedeu a eleição.

A escala eleitoral explica as dificuldades de as pesquisas de opinião captarem, mesmo na margem de erro, os resultados finais do processo eleitoral, como ocorreu no primeiro turno do pleito de 2010, que não foram previstos em quase todos os levantamentos. O povo astucia coisas e está cada vez mais experiente, em razão dos sucessivos pleitos realizados em regime de plena democracia, desde 1986. Já são sete disputas presidenciais, cujos desfechos ficaram à margem das grandes estruturas de poder e partidárias em pelo menos três: 1989, com Collor de Mello; 1994, com Fernando Henrique Cardoso; e 2002, com Luiz Inácio Lula da Silva.

Pode-se criticar a política, os partidos e os políticos brasileiros, mas não se pode negar as virtudes de um sistema eleitoral inclusivo, que garante eleições livres, diretas e limpas para os cargos mais importantes do Executivo e do Legislativo. Há controvérsias sobre o voto obrigatório: os derrotados costumam dizer que o povo não soube votar; setores radicais de esquerda e de direita abominam o sufrágio universal, que neutraliza as ideologias políticas. Vivemos numa democracia, e o voto depositado na urna é o que vale para o resultado final da eleição. Temos um sistema eleitoral que até hoje se demonstrou à prova de fraudes.

A negação dos fatos
Mas nem tudo são rosas no processo eleitoral brasileiro. Existe abuso de poder econômico e uso indevido da máquina administrativa, há apatia de parcela significativa dos eleitores. Houve, sobretudo, muita manipulação de informações e trucagem na campanha eleitoral. Nada disso invalida o que foi afirmado acima, mas é preciso combater as mistificações eleitorais.

A filósofa judia alemã Hannah Arendt, em 1967, denunciou a manipulação num ensaio famoso, intitulado Verdade e Política. Ela viveu na França e nos Estados Unidos e testemunhou acontecimentos importantes do século passado, como as manifestações de Maio de 1968, na França; e a Guerra do Vietnã, no Sudeste Asiático; o julgamento do criminoso nazista Adolf Otto Eichmann, em Jerusalém; e os assassinatos do presidente John F. Kennedy e do líder negro Martin Luther King, nos Estados Unidos.

Arendt criticou a maneira como os fatos históricos são distorcidos quando são politiza dos e usados para justificar ou legitimar ações políticas. Na diplomacia e nas guerras, as mentiras sempre foram artifícios empregados com relativo sucesso. Mesmo nas democracias ocidentais pós Segunda Guerra Mundial, porém, esses artifícios passaram a ser utilizados para manipulação de massas. Deixaram de ser monopólio dos regimes totalitários. Relatórios falsos foram usados para distorcer fatos e opiniões, e legitimar a intervenção norte-americana no Vietnã e, mais recentemente, a invasão do Iraque. Verdades históricas são transformadas em mera opinião para mitigar a realidade, como se tentou fazer com o Holocausto e ainda se faz em relação ao Vaticano quanto ao fascismo.

Os eventos ocorrem e são registrados como História — que nada mais é do que a atividade dos homens em busca de seus fins —, mas a verdade desses eventos pode ser distorcida para justificar uma ação política particular, garantir a revelação de fatos num momento mais conveniente, assegurar a resposta desejada em momentos de crise e reescrever a história para favorecer certas pessoas ou priorizar certos acontecimentos.

Nas campanhas eleitorais, o marketing político muitas vezes recorrre à mistificação e à mentira para favorecer determinado candidato. Como lidar com isso? Votando livremente, de acordo com experiência vivida. O bom senso do eleitor é o único antídoto contra o senso-comum construído sobre falsidades.

José de Souza Martins: Carência existencial

• Muitos protestos ocorridos nos últimos tempos não são de vítimas de carecimentos materiais

- Aliás / O Estado de S. Paulo

O desenvolvimento moderno enriqueceu países que há um século alocavam a prosperidade a um número restrito de pessoas, mas não enriqueceu sociedades. Uma sociedade se enriquece quando emancipa seus membros de suas carências. Não só a falta de comida na mesa ou de casa para morar. Carência não ocorre apenas no âmbito do ter. Sociologicamente, carência é a falta do essencial para ser. É, portanto, muito mais do que o necessário para o hoje e o atual.

No entanto, entre nós, mesmo as religiões tornaram-se materialistas. O discurso sobre a indevidamente chamada exclusão social, que é predominantemente um discurso pseudorreligioso para disfarçar o discurso partidário do púlpito, limita-se às carências do ter. É evidente que na atualidade a justa indignação contra a pobreza ainda se nutra da perspectiva moral das crenças, numa espécie de concepção pré-política dos problemas sociais. Mas também elas sucumbiram à ideologia da precedência dos fatores econômicos como causa dos problemas sociais e da economia como seu remédio. É claro que problemas e soluções passam também por aí. Mas não só, nem mesmo principalmente.

Não se pode deixar de notar que um número significativo de protestos ocorridos na sociedade brasileira nos últimos tempos não o é de grupos humanos que possam ser definidos como de vítimas de carecimentos materiais.

O teor difuso dos discursos - em faixas, cartazes, pichações, refrões, gestos e atos - não sugere que nas ruas estejam os pobres das concepções teológicas nem os pobres das concepções partidárias. São outras as carências que alimentam o grito das ruas, das greves universitárias, da violência cotidiana.

A principal das quais é a carência de clareza nas demandas e de certeza nas exigências. Protestar é hoje praticamente um rito, mesmo que o conteúdo e a função social não estejam claros para os próprios manifestantes. Os pobres também estão lá, mas como coadjuvantes secundários, como número e não como pessoas. Suas demandas tornaram-se adjetivas em relação a urgências que são, na verdade, as da classe média.

A enorme carência oculta nessas manifestações de tendência autodestrutiva é a carência de esperança, a esperança que quem é condenado a uma vida de pessoa supérflua não pode ter. Quem não tem lugar na sociedade de hoje e não tem certeza de tê-lo na de amanhã não pode ter esperança e, ao não tê-la, não pode se sentir membro da sociedade que hostiliza.

A geração dos pais e avós também foi lesada pelas necessidades não resolvidas, pelas adversidades de um desenvolvimento social que tem estado, historicamente, muito aquém do desenvolvimento econômico.

Diferentemente do que aconteceu nos países metropolitanos, pioneiros do desenvolvimento moderno, como a Inglaterra, a Alemanha, os Estados Unidos, a França, aqui as inovações econômicas, com extensas repercussões sociais, foram importadas prontas, causando em meses o impacto que tardou dezenas de anos nos países de origem. Vimos isso acontecer em nossa agricultura nos anos 1950 e 1960, com a precarização do trabalho e o desemprego sazonal, as migrações, a formação das periferias, o desemprego e a subocupação urbana. A sociedade paga hoje o preço do salto tecnológico ocorrido há meio século. Não pode haver amanhã num hoje que já está sobrando e no horizonte de quem é dele sobrante.

De certo modo, a alternativa econômica do salto tecnológico importado produz o descarte mais ou menos rápido de numerosos grupos humanos, tornando obsoletos conhecimentos e pessoas, o chamado capital social e cultural.

Tem sido assim em outros países latino-americanos, na Ásia e na África. Aqui no Brasil, nos anos 1950, era raro que um trabalhador ficasse desempregado mais do que uma semana. Hoje é raro que o desemprego de alguém não se estenda por longos meses, com especial impacto nos jovens de diferentes classes sociais, no campo e na cidade. O salto tecnológico do crescimento econômico não foi compensado pelo salto social do desenvolvimento econômico, novas indústrias, novos empregos.

A família se reorganizou para enfrentar esse quadro adverso, reinstituindo a economia familiar para socializar os prejuízos do desemprego. Isso atenua e compromete a autonomia de que os jovens carecem para firmar a própria identidade e atualizar seus horizontes. Retarda o ingresso na idade adulta, o que resultou numa geração de numerosos jovens com corpo de adulto e mentalidade de adolescente.

Se antes havia adversários bem definidos do bem comum, equivocadamente ou não, hoje a revolta se dirige contra os mais próximos. É o que explica que em boa parte a conflitividade social dos dias de hoje tenha a forte marca de um conflito de gerações. Ela está tanto nas greves selvagens das universidades como nos linchamentos. Nesses, a incidência de violência fatal é maior contra jovens e até crianças, que a geração adulta vê como uma geração de ociosos e desfrutadores. Não tem em conta as mudanças que levaram a juventude a se sentir supérflua e descartável.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP E AUTOR, ENTRE OUTROS, DE EXCLUSÃO SOCIAL E A NOVA DESIGUALDADE (PAULUS)

Elio Gaspari: De PauloFrancis@edu para Dilma@PT

• A sra. pode fazer as contas para ver como o 'amigo Paulinho' juntou US$ 24 milhões, e não foi só ele

- O Globo

Senhora,
Não tenho mais interesse na política brasileira. Só leio sobre a China. Perdi a curiosidade pelo seu governo quando a senhora, estando em Nova York, foi ao Metropolitan Museum perder tempo numa exposiçãozinha do pintor holandês Frans Hals. Podendo ficar só com o "Juízo Final" de Van Eyck, ou o "Juan de Pareja" de Velázquez, ocupou-se com um retratista de bêbados de bochechas vermelhas. O Hals é um daqueles pintores que a gente vê uma tela e viu todas. Como diz o Nelson Rodrigues, bonitinhos mas ordinários.

Escrevo-lhe para lembrar que as roubalheiras da Petrobras tomarão conta da agenda nacional. A senhora terá alguns meses ou quatro anos para cuidar dessa ferida. Durante o tucanato, quando eu disse que todos os diretores da Petrobras tinham conta na Suíça, tomei um processo que azucrinou meus últimos dias de vida por aí. Dizer que eram todos foi um exagero. O tucanato nunca quis saber como diretores da Petrobras compravam casas nos melhores condomínios do Rio. Sabemo-lo. Numa contratação milionária, o cunhado de um magano visitou o empreiteiro 24 horas depois do fechamento do negócio. À época, coisa de US$ 1 milhão.

Conta na Suíça, como a senhora vê, o "amigo Paulinho" tem, com um saldo de US$ 23 milhões. Aprendi alguma coisa aqui onde estou. Não posso dar nomes nem cifras, mas façamos a conta. De onde saiu esse dinheiro? A primeira trilha, óbvia, é a das grandes empreiteiras, mas elas estão em todas. Ofereço-lhe dois caminhos para exercitar sua curiosidade. Primeiro, negócios com ativos como campos de petróleo em Angola. Nesse mercado, uma comissão decente pode ficar em 5%, chegando a 10%. Não preciso dizer-lhe, dona Isabel dos Santos, filha do presidente angolano, é a mulher mais rica d'África. Sempre que a senhora ouvir a palavra "Angola", pense em chamar a polícia. No segundo caminho ficam as compras de equipamentos. Tomemos o exemplo dos navios de produção de petróleo, os FPSO. Existem centenas. A Petrobras tem 40 e está construindo mais seis. Cada um vale US$ 1,3 bilhão. Numa tabela inspirada em madre Teresa de Calcutá, cada um pode render 1% de comissão. Se deixar, vai a 3%. Com dois navios, a 1%, qualquer "Paulinho" amealharia US$ 26 milhões. Não se faz um negócio desses apenas com um amigo. Digamos que alguém borrifou 0,5% do contrato para baixo e outros 0,5% para cima. Será?

A senhora ou quem chegar ao segundo turno precisa prestar atenção ao que o presidente Xi Jinping faz na China. Ele sabe que não vai acabar com a roubalheira, mas sinalizou de forma drástica que sua mão pesada pode cair seletivamente em cima dos larápios. Primeiro ferrou o Bo Xilai, uma mistura de Paulo Maluf e Lula que se alinhava para mandar no país. Botou-o na cadeia. O Xi sabia que Bo era protegido pelo czar da segurança pública. (Lembre-se que esse mandarim vinha do setor petrolífero.) Ferrou-o. A senhora dirá que os órgãos competentes do seu Estado ferraram o "amigo Paulinho" e que aqui há uma democracia. A diferença persiste. Sua faxina não limpou sequer o quarto da empregada. A senhora condena os tais malfeitos, mas cala sobre os malfeitores. Está aí a ata da reunião do Conselho da Petrobras mostrando que seu ministro da Fazenda louvou os "relevantes serviços prestados à companhia" por Paulinho.

Daqui de onde estou, a gente vê com serenidade as coisas aí debaixo. Outro dia a Lota Macedo Soares, a maluca beleza que criou o Aterro do Flamengo, lembrou-me que avisou ao Eike Batista para o risco que corria exibindo-se como o homem mais rico do Brasil. Lota advertiu-o para a urucubaca: os homens mais ricos da China e da Rússia acabaram na cadeia. Ele não lhe deu atenção, quebrou, e agora seus advogados temem que o Ministério Público queira colocá-lo na cadeia. Eu acho que algum procurador fará fama encarcerando-o numa sexta-feira, sabendo que um habeas corpus poderá soltá-lo na segunda. Onde estavam os negócios de Eike? Na Petrobras.

Atenciosamente,
Paulo Francis

Lei de Heitor Ferreira
Dentro de algumas horas serão conhecidos os resultados da eleição, começando a temporada de interpretações.

Para esse jogo, continua em vigor a lei de Heitor Ferreira, enunciada diante dos surpreendentes resultados de 1974, quando o MDB derrotou a ditadura. Ele era o secretário particular do presidente da República e explicou:

"Foi realizada uma eleição e cada cidadão teve um voto. Eles foram contados e o número de votos dados aos candidatos do MDB foi superior àquele dado aos candidatos do governo."

Parolagem
A doutora Dilma disse no debate da TV Globo que é praxe no serviço público dar aos funcionários "o direito" de pedir demissão. Esse teria sido o caso do afastamento do "amigo Paulinho" da diretoria da Petrobras.

Se Paulinho tivesse o costume de chegar atrasado e descalço ao serviço, nada mais natural.

O problema é que ele roubava, como confessou ao Ministério Público. O governo da doutora deu-lhe um direito que não tinha, comprou uma encrenca e não quer assumir a responsabilidade pelo ato que praticou.

A culpa do porteiro
O presidente da empresa de Correios, comissário Wagner Pinheiro, diz que o carteiro filmado distribuindo propaganda do PT não cometeu ilegalidade alguma.

Já os materiais de propaganda de outros partidos que não chegaram aos destinos, informa o doutor Wagner, perderam-se por culpa dos porteiros.

Deve ser. Afinal de contas, o escândalo do mensalão começou na ECT, mas até hoje não se descobriu a identidade do porteiro.

Marco, sábio
O ex-vice presidente Marco Maciel é conhecido pela sua economia de palavras e pela valorização que dá ao óbvio: "As consequências sempre vêm depois", costuma ensinar. Com o sufoco de Marina em queda e Aécio em alta, vale recordar uma conversa que ele teve com um marqueteiro às vésperas de uma eleição:

O marqueteiro: "A linha do nosso candidato está em ascensão, e a do nosso adversário, em queda".

Marco: "O senhor acha que a intersecção das duas linhas ocorrerá antes ou depois do dia da eleição?"

A cana está dura
Está no texto do documento com que o ministro Teori Zavascki homologou o acordo de colaboração do "amigo Paulinho" com a Viúva: "Encontram-se atualmente em curso, segundo a petição, mais de 40 procedimentos investigatórios, no âmbito dos quais foram expedidos mandados de busca e apreensão, de condução coercitiva e de prisão".

Tomara que disso resultem mais pulseiras eletrônicas em tornozelos "amigos".

Outra ponta
Já colaboram com a Viúva o comissário Paulinho, o operador financeiro Youssef e um de seus laranjas. Se as coisas derem certo, entrará na fila algum diretor (ou ex-diretor) de grande empresa.

Tunga
Quem não paga os impostos ganha Refis, mas quem compra livros é tungado pela Receita Federal. Um infeliz comprou um dicionário da Universidade de Cambridge e foi tungado em R$ 27,46, ou US$ 11, pela Receita Federal.

Como a obra custou US$ 14,90, fica entendido que os impostecas cobraram uma alíquota de 70% na importação do livro. Pela lei, esses perigosos objetos estão livres de impostos.

José Roberto de Toledo: A volta dos que nunca foram

- O Estado de S. Paulo

Centenas de protestos em dezenas de cidades. Semanas de manifestações. Sete em cada dez eleitores querendo mudança. Se não prenunciavam uma revolução, os fatos antecedentes destas eleições prometiam renovação. Mas a agitação de 2013 ricocheteou como bala de borracha e se dispersou feito gás lacrimogêneo. Sumiram as multidões, sobraram os mesmos políticos de sempre.

O cenário mais provável para a eleição presidencial, na proporção de 9 para 1, é de um 2.º turno entre PT e PSDB. É a mesma polarização que domina a política brasileira há 20 anos.

Projeção do Ibope aponta o PMDB como favorito para eleger hoje a maior bancada da Câmara dos Deputados. Entre os muitos nomes repetidos que aparecem nas pesquisas do instituto, destaca-se o do atual líder do partido, Eduardo Cunha. Se for bem votado como parece que será e o PMDB ultrapassar o PT em cadeiras, esse mestre sem cerimônia do toma lá dá cá será forte candidato à presidência da Câmara, o cargo mais poderoso do Parlamento.

Cunha é a prova de que podemos até não saber quem será o presidente, mas sabemos que o PMDB estará no poder. Controlando as maiores bancadas na Câmara e no Senado, os peemedebistas terão posição ainda mais forte para barganhar cargos, verbas e sabe-se mais o quê com quem vier a ser eleito para o Palácio do Planalto.

Tanto melhor quanto menor for a bancada do partido do novo presidente. Se Dilma Rousseff for reeleita, muito provavelmente terá a seu lado um PT menor do que os quase 90 deputados de hoje. Se for Aécio Neves, terá um PSDB com menos de 50 cadeiras. Se for Marina Silva, o PSB onde está hospedada mal chegará a 30.

Para complicar, a dispersão partidária tende a aumentar na Câmara. Segundo a projeção do Ibope, haverá mais partidos médios, os nanicos virarão pequenos, e os sem-bancada virarão nanicos. É o habitat perfeito para o cultivo fisiológico.

Nas disputas pelo poder nos Estados, 11 governadores ou seus candidatos chegam favoritos à boca da urna. No mínimo, ocupam o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. É assim em todo o Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas repete-se em todas as regiões. De São Paulo e Rio de Janeiro no Sudeste, a Acre, Rondônia e Roraima no Norte, passando por Pernambuco e Sergipe no Nordeste, e Goiás no Centro-Oeste.

Em outros lugares a disputa está mais apertada, mas o candidato governista está num segundo lugar e ameaça o favorito, como no Ceará, Bahia, Pará e na Paraíba.

Há Estados onde parece que haverá renovação, como no Amazonas, Espírito Santo, Piauí, Amapá e Tocantins, mas só parece. Os favoritos são ex-governadores tentando voltar ao poder. Nos dois primeiros casos, por briga interna: elegeram o sucessor, se desentenderam e agora tentam retomar o que era seu.

Outra miragem de mudança acontece em Alagoas e no Rio Grande do Norte. Mal avaliados, os governadores devem ser substituídos por políticos 2.0 – de segunda geração, como Renan Filho (herdeiro político do presidente do Senado, Renan Calheiros) e Henrique Eduardo Alves (11 vezes deputado federal, filho do ex-ministro e ex-deputado Aluísio Alves, primo e sobrinho de senadores).

Mudança, se houver, só em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranhão e Distrito Federal. Mesmo assim, os favoritos são senadores, ex-ministros e ex-deputados.
Por que a onda de 2013 vai morrer na praia? Entre outros motivos, porque as redes e organizações ditas horizontais que chamaram os protestos do ano passado não produzem lideranças. A democracia representativa depende de líderes, o poder não admite vácuo. Os manifestantes não se organizaram para preenchê-lo, mas os profissionais, sim. É a volta dos que nunca foram embora.

Por essa contradição mal resolvida, pela aridez econômica e climática, 2015 deve ser ano de mais nuvens lacrimogêneas. Melhor estocar água e vinagre.