segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso


É inegável que a popularidade de Lula e a sensação de "dinheiro no bolso", materializada no aumento do consumo, podem dar aos eleitores a sensação de que é melhor ficar com o conhecido do que mudar para o incerto.

Mas o que realmente se conhece? Que nos últimos 20 anos melhorou a vida das pessoas no Brasil, com a abertura da economia, com a estabilidade da moeda trazida pelo Plano Real, com o fim dos monopólios estatais e com as políticas de distribuição de renda simbolizadas pelas bolsas. Foi nessa moldura que Lula pregou sua imagem.

Arengador de méritos, independentemente do que diga (quase nada diz, mas toca em almas ansiosas por atenção), vem conseguindo confundir a opinião, como se antes dele nada houvesse e depois dele, se não houver a continuidade presumida com a eleição de sua candidata, haverá retrocesso.

Terá êxito a estratégia?



(Fernando Henrique Cardoso, no artigo ‘Cara ou cora?’, em O Estado de S. Paulo, ontem, 1/8/2010)

O problema do inimigo e a questão nacional :: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Um observador estrangeiro que queira interpretar o atual estado de coisas da política brasileira deve estar advertido de que este país tem horror à linha reta, uma vez que o traço da preferência nacional é o ziguezague. Fazem-se, por exemplo, histórias políticas de êxito em nome da necessidade de uma ruptura com a era Vargas para, mais à frente, reabilitá-la, sem que se suspenda o juízo crítico que a condenou como experiência malsã e sem que se justifiquem os motivos da sua reabilitação. Metáforas médicas como sístoles e diástoles são empregadas, com sucesso de público, para explicar as vicissitudes do federalismo brasileiro, como se, para nós, o eterno retorno fosse um dado da natureza do nosso metabolismo político.

Ainda agora, no curso desse ciclo de dezesseis anos de governos de social-democracia à brasileira, com seus temas reprisados à exaustão, como esse tal de presidencialismo de coalizão que nos assola desde FHC, sinais que poderiam indicar uma circunstância afortunada para invenção e descoberta de novos caminhos, nos levam mais uma vez ao passado, em busca de velhas ferramentas. Assim, nesta sucessão presidencial, os magos da prestidigitação eleitoral afetam sacar da cartola a tópica do nacional-popular, evocando um tempo de crispações e de duros antagonismos da sociedade dos anos 1950/60, embora vivamos sob um céu de brigadeiro, nessa ordem burguesa domesticada, que se aprofunda sem cessar.

A tópica do nacional-popular, como se sabe, resultou de uma inovação conceitual e política concebida especialmente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), em meados do século passado, após longo processo de discussão. Seus termos foram consagrados na famosa Declaração de Março de 1958, com que os comunistas abandonaram a ortodoxia das lutas de "classe contra classe", passando a adotar uma política de alianças amplas em torno do nacionalismo a fim de emancipar o país da dominação imperialista, especialmente americana, e de remover os entraves estruturais que estariam impedindo o livre desenvolvimento das forças produtivas nacionais, entre as quais as relações semifeudais no mundo agrário. Tal aliança deveria assumir uma configuração pluriclassista heterogênea, envolvendo o proletariado, seu componente mais consequente, os camponeses, a pequena burguesia urbana, a burguesia e até os setores latifundiários que possuíssem contradições com o imperialismo norte-americano.

Com essas características, suportada em elementos de extração social tão diversa, essa aliança nascia dependente de ações políticas bem calculadas, que, sem perder de vista os interesses contraditórios dos atores envolvidos, fosse capaz de manter a unidade em prol do objetivo comum. Segundo o texto da Declaração, a burguesia seria uma força revolucionária inconsequente, temerosa de uma ação independente das massas, vacilante e tendente a compromissos com os setores entreguistas. O proletariado deveria se postar, a um tempo, como o agente mais ativo das lutas dessa complexa frente e como a sua consciência crítica, salvaguardando a sua independência ideológica, política e organizativa sem, no entanto, comprometer o objetivo principal da aliança nacionalista.

Em suma, a ele cabia disputar a hegemonia no interior dessa coalizão pluriclassista, sem se deixar subsumir às forças aliadas - mas sem antagonizá-las radicalmente -, daí que, nessa concepção, a melhor designação desse movimento seria a de nacional-popular.

O cenário em que veio à luz a Declaração de março de 1958 é o da política desenvolvimentista de JK, apenas alguns anos após o trágico desfecho do segundo governo Vargas. Sob JK, o executivo chama para si o planejamento do processo de indução da industrialização, que passa a ser favorecido por financiamento do Estado e a contar com sua proteção fiscal. Para a esquerda e os setores nacionalistas, inclusive das Forças Armadas e da alta burocracia estatal, estaria aberta uma senda nova, a ser mantida e ampliada, e que significava, afinal, a descoberta da natureza singular da revolução brasileira como nacional, democrática e popular.

Levar essa revolução à frente importava uma crescente mobilização de massas, das cidades e do campo, nesse último caso em torno de uma reforma agrária em favor do campesinato e de lutas que viessem a garantir os direitos trabalhistas no mundo agrário. Nesse sentido, a radicalização dos movimentos por direitos dos setores subalternos deveria se traduzir em pressões de baixo para cima em favor da abertura do Estado às suas reivindicações e em mudanças internas em sua composição, que, por sua vez, deveriam repercutir em favor de medidas mais enérgicas contra os interesses e grupos identificados como inimigos da nação.

Notório que, em 1964, fechou-se esse capítulo do nacional-popular. O regime militar, em particular no governo Geisel, reinterpretou-o de forma bastarda, cancelando o popular e concedendo ao nacional o sentido grão-burguês de objetivos de grandeza nacional. Agora, quanto mais se aproxima o fim do segundo governo Lula e mais vizinhos estamos do processo eleitoral, imprevistamente, ressurge, vindo de vozes do interior do próprio Estado, a questão nacional, nua de qualquer outra qualificação e absolutamente inocente quanto a pretensões de mobilização popular, inclusive no mundo agrário, que, aliás, vai muito bem com o agronegócio. Discípulos de um filósofo político em moda poderiam perguntar: nessa versão corrente da questão nacional, qual é mesmo o inimigo? A imagem é gasta, talvez devesse ser evitada, mas se tornou inevitável, porque o enredo trágico do nacional-popular - com o suicídio de um presidente, a renúncia de outro e um golpe militar - está ameaçando retornar como farsa.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do IESP da UERJ e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras

Frente a frente :: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

" O presidente Lula me deixou um legado, que é cuidar do povo brasileiro. Eu vou ser a mãe do povo brasileiro". (Dilma)

Marcado para a próxima quinta-feira nos estúdios da TV Bandeirantes, em São Paulo, o primeiro debate entre candidatos a presidente ocorrerá à sombra da mais recente pesquisa nacional de intenção de votos do Ibope, que conferiu a Dilma Rousseff cinco pontos de vantagem sobre José Serra. Não poderia haver para Serra situação mais delicada.

Este é o principal mantra da campanha de Serra: o melhor. Serra deseja ser visto pelos eleitores como o melhor candidato à vaga de Lula. Porque tem maior experiência administrativa. E também maior experiência política. O que esperar, pois, de quem se apresenta assim? No mínimo, que vença qualquer debate.

Antes da pesquisa Ibope, o Datafolha apontara um empate entre Serra e Dilma. O objetivo de Serra era mantê-lo até o início no próximo dia 17 da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Poderia se dar ao luxo de ganhar por pontos o primeiro debate. Depois da pesquisa Ibope, terá de ganhá-lo com folga para tentar se reaproximar de Dilma.

O que isso significa? Que Serra terá de se arriscar mais. Ser claramente superior - sem, no entanto, esmagar Dilma para que as pessoas não sintam peninha dela. Em 1998, Cristovam Buarque, governador do Distrito Federal pelo PT e candidato à reeleição, esmagou Joaquim Roriz (PMDB) durante um debate. Acabou saindo dele derrotado.

Há meses que Dilma vem sendo treinada pelo marqueteiro João Santana e por outros conselheiros para atravessar o debate sem amargar graves escoriações. Falta carisma a Dilma - e a Serra também. Zero a zero. Serra, porém, tem uma larga folha corrida de debates - Dilma, não. Conhece todos os truques e macetes para vencê-los.

Dilma deu um jeito até aqui de escapar a confrontos diretos com Serra. Para isso valeu-se da surrada desculpa de que sua agenda estava sempre repleta de outros compromissos. Por fim concordou em participar de somente cinco debates - um deles via internet, os outros promovidos por emissoras de televisão.

Ao longo de uma campanha, o debate é a única ocasião onde o candidato - qualquer um deles - fica menos protegido. O treinamento é importante para que tenha um bom desempenho. Mas ele por si só não basta. Mário Covas, por exemplo, ex-governador de São Paulo, triturou em debate na TV Bandeirantes dois calejados adversários.

O primeiro foi Guilherme Afif Domingos. Covas e ele concorreram à presidência da República em 1989. Covas lembrou como Afif votara alguns temas cruciais na Assembléia Constituinte encerrada um ano antes. Tirou de cena o Afif simpático, bonzinho e liberal que se exibia nos programas de TV. Resgatou o Afif de direita.

O segundo foi Paulo Maluf. Covas, governador, foi candidato à reeleição em 1998. Maluf imaginava roubar-lhe o lugar. Covas fez do caráter de Maluf o tema central do debate. Foi impiedoso. Mas as pessoas não sentiram piedade de Maluf, que evitou retribuir as pancadas de Covas. Maluf perdeu o debate e a eleição.

O mais famoso debate da História entre candidatos a presidente se deu nos Estados Unidos em 1960 e reuniu John Kennedy e Richard Nixon. Quem assistiu pela televisão achou que Kennedy vencera. Quem ouviu o debate no rádio achou que o vencedor fora Nixon. Kennedy se elegeu por escassos votos. E votos negociados com a Máfia.

Quem ganha debates não se elege necessariamente. É difícil, contudo, que um candidato se eleja tendo perdido todos os debates. Só perde de verdade quem derrapa feio. Na maioria das eleições, o primeiro debate costuma ser o mais importante. Em eleições acirradas, o debate mais importante é o último.

Lula teve tudo a seu favor para liquidar a eleição de 2006 no primeiro turno. Aí preferiu faltar ao último debate. Quando soube que disputaria o segundo turno, encolerizou-se e quebrou um copo. A inexperiente Dilma não repetirá o erro. E que ninguém se surpreenda se ela surpreender Serra debatendo com ele de igual para igual.

Fase final :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASíLIA - Faltam meros dois meses para o Brasil eleger um novo presidente, 27 governadores, senadores e deputados. Há algumas tendências já definidas nas principais disputas. A imprevisibilidade fica agora por conta do desempenho dos candidatos nos debates e na propaganda eleitoral.

Há cinco debates já marcados e confirmados entre os principais candidatos a presidente. O primeiro é nesta quinta-feira, na TV Bandeirantes. A propaganda eleitoral começa dia 17 próximo.

Tanto no caso dos debates como do horário eleitoral, quem está na frente ou com tendência de alta entra para empatar. Já os candidatos em desvantagem precisam ser mais estridentes, ofensivos, para produzir uma reviravolta.

Não é fácil modular o tom nessas horas. Em 2006, no segundo turno, o tucano Geraldo Alckmin foi ao ataque contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva. À primeira vista, parecia ser a estratégia correta. Deu tudo errado. O PT ganhou mais quatro anos no Planalto.

Agora, começa a se desenhar um cenário semelhante. Depois de um começo incerto, a campanha de Dilma Rousseff (PT) a presidente se firmou. Reúne mais elementos prospectivamente favoráveis para vencer -um presidente, Lula, aprovado por quase 80% dos eleitores e a economia em crescimento.

José Serra (PSDB) usa um discurso muitas vezes com ar postiço. É de oposição, mas não ataca Lula. Promete "mais" sob o argumento de que seria "o mais preparado" no comando do país. Martela essa lógica há meses e não deslancha nas pesquisas. Pior, pois assiste a uma lenta e gradual melhora das taxas de aprovação de Dilma.

Pela cartilha clássica de eleições, caberá a Serra atacar mais. Calibrar esse bombardeio é muito difícil. Milímetros fora do alvo podem resultar num efeito contrário. Em suma, o desfecho é imprevisível -sobretudo para o tucano.

Donde menos se espera :: Paulo Brossard

DEU NA ZERO HORA (RS)

Semana passada, encontrava-se em São Paulo Jorge Castañeda, intelectual e homem público mexicano, participando de encontros acerca da democracia na América Latina; em entrevista a um dos grandes matutinos da terra, enunciou uma observação que merece ser examinada: o Brasil perdera a oportunidade de atingir posição de alto relevo internacional, segundo ele, por haver se abstido de exercer influência benfazeja em relação a questões de países vizinhos para pretender influir em conflitos distantes, em outros continentes, e sem qualquer êxito, como seria fácil prever; em outras palavras, escolheu questões impróprias ou erradas sem bom sucesso em nenhuma delas. O observador é pessoa qualificada e suas apreciações devem ser objeto de meditação, aliás, elas se assemelham a outras feitas por diplomatas brasileiros.

Essas análises, de dois observadores qualificados, um brasileiro, outro mexicano, a meu juízo, descobrem origens de um dos dramáticos problemas do nosso cotidiano, que, dia a dia, espantam e amarguram nossa sociedade, por sua feição cruel, envolvendo precipuamente a juventude. Com efeito, o crack é devastador. Segundo os entendidos, seus efeitos são imediatos e irrecuperáveis. Seria um subproduto da cocaína, de consequências mais deletérias; mais barato, torna-se de uso mais largo; segundo informações que suponho corretas, o Brasil não produz cocaína, de modo que a droga que dela deriva também vem do exterior e dada a extensão das nossas fronteiras não é fácil nem eficiente sua fiscalização; como se fosse dotado de uma espécie de lei da gravidade, o crack se expande impetuosamente, com malefícios marcantes; as notícias que chegam à publicidade são alarmantes.

Não é segredo para ninguém que há vizinhos nossos que cultivam matéria-prima para a fabricação da droga e ninguém ignora que as bandas ditas bolivarianas respondem por parte maior ou menor da sinistra especialidade; algumas nações produzem trigo, arroz, soja, carne, lã, algodão, suco de laranja, outras colhem coca, que plantam.

E aqui chegamos ao ponto mais delicado do problema: é sabida e notória a amabilidade do governo brasileiro no tocante a países e governos bolivarianos; a simpatia ou semelhança de ideias e aspirações entre eles são expressas e não obstante sem dificuldade desmaiam suscetibilidades entre soberanias, basta dizer que não se pejam em permitir nem de aceitar votos a descoberto em matéria ultranacional, como são as eleições dos supremos governantes deles.

Essa madraçaria tem se verificado sem reserva e em público. A intimidade de afetos entre esses Estados, até onde se pode pressentir, responde em porções imprecisas, mas reais, por seu ingresso no país. O certo, até onde se sabe, é que o Brasil não adotou providência junto a governos desse mundo no sentido de coarctar o comércio que produtores da droga evidentemente passam a fazer do produto industrializado... Embora não se conheçam ou eu ignoro estatísticas a respeito, é obvio que o cultivo é público, como pública é a mercancia que dele se faz, até porque ela é feita para ser mercadejada e não para ser guardada a sete chaves. A invasão do crack em nosso país, fato inegável, seja a maneira que for, atinge as raias da evidência.

Qualquer pessoa pode errar quanto à quantidade, mas ninguém pode negar a existência do fenômeno. A camaradagem gera a intimidade e esta a conivência entre vizinhos de bom convívio. E isso a custo da brutal mutilação e da destruição do que foi a juventude da nação.

Ideias próprias :: Moacyr Goes

DEU EM O DIA

Rio - Um homem com ideias próprias e ideais está marcado pela solidão. Pode andar acompanhado, ter pessoas ao seu redor, ser admirado ou odiado, mas terá como companheira irremediável a solidão.

Formular um pensamento singular exige a coragem para se distanciar da multidão e dos fatos, ver na distância que permite um olhar crítico, analítico e por natureza, solitário. E se os ideais são de natureza generosa, a volta ao convívio com o mundo se faz inevitável.

É preciso mudá-lo acreditando que a ação individual é a forca motriz das transformações. Mas nunca se volta da mesma forma que se parte. Mudar sem perder aquilo que se constitui como valor fundamental, é o que cria coerência, retidão. Só os homens solitários são admiráveis, constituindo-se como referências. Seguir um homem eu entendo, é seguir uma ideia, mas uma multidão, é abjeto.

É o que me vem à cabeça sempre que vejo Gabeira andando pelos hospitais, trens, escolas e estradas. Munido de sua antiga ideia de mudar o mundo, ele vai, sem lenço e sem documento, caminhando contra o vento do pragmatismo e da sordidez da política. Um homem sem ambições de posses materiais, livre de acordos para usufruto pessoal. O Rio de Janeiro já tem do que se orgulhar nessas eleições.

Isso não é pouco, numa realidade impregnada de ações turvas e silêncios cúmplices. Tempos sombrios! Parei minha atividade de artista para ajudá-lo nesse momento. Depois da eleição, independente do resultado, que acredito vitorioso, volto pro meu canto. Sei que terei uma bela historia para contar aos meus filhos. História parecida com as que ouvi de meu pai.


Diretor de teatro e cineasta
(Publicado em 1/8/2010)

A justiça do homem pequeno:: José de Souza Martins*

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS

Suborno, propina e corrupção são considerados aqui componentes da estrutura da sociedade, artifícios para torná-la viável para os que consideram os rigores da lei um defeito social e político

A enraizada prática do suborno entre nós só vem a lume com alguma intensidade na repercussão de episódios graves, como este de agora, ocorrido no Rio de Janeiro, relativo à compra da omissão de dois policiais militares em caso de atropelamento fatal. Não fosse a vítima filho de atriz conhecida, é bem pouco provável que o caso tivesse a repercussão que vem tendo e menos provável ainda que os policiais envolvidos tivessem sido presos tão prontamente como foram.

Um dos nossos grandes equívocos nessa matéria é o de pensar que a corrupção é apenas um defeito pessoal de caráter e uma exceção. Na verdade, a dificuldade para varrê-la de vez do cenário brasileiro está no fato de que o suborno, a propina e a corrupção em geral são aqui componentes da estrutura da sociedade. São mecanismos e artifícios para torná-la viável para os que consideram os rigores da lei um defeito social e político. Ou que as leis são feitas para relevá-las no difundido comércio do seu descumprimento. O vocabulário que designa os atos de cotidiana corrupção, que facilitam para os inescrupulosos o transcorrer do dia a dia, já é indicativo de como a anomalia está presente na consciência social: "molhar a mão", "adoçar o bico", "amaciar o motor", "dar um jeito", "esquecer", "olhar para o outro lado", "dar um agrado". Todas elas expressões do entendimento de que a honestidade e a correção, sobretudo do funcionário público, é que são anômalas e injustas porque dificultam o arbítrio e a conveniência pessoais.

É essa consciência a do divórcio entre a sociedade e o Estado, expressão da insegurança social quanto à eficácia do poder público e, sobretudo, quanto ao funcionamento e à distribuição da justiça. É a descrença geral nas instituições que acaba sugerindo a cada um que se antecipe à aplicação da justiça para se inocentar preventivamente. É esse temor que faz do próprio cidadão, como nesse caso, o corruptor daquele funcionário público de exceção que é incapaz de conceber-se como cumpridor impessoal da lei.

Os parâmetros pedagógicos dessa modalidade de delinquência estão em toda parte. Se os do mensalão podem, e não lhes acontece nada, e seu prestígio até cresce, por que não pode agir do mesmo modo o minúsculo funcionário, policial ou não? Se a Lei da Ficha Limpa é diariamente flexibilizada em favor de poderosos de ficha suja, por que não pode o meganha da esquina agir como tribunal de Justiça, recebendo agrados para pré-interpretar a lei e fazê-la mais leve para os que se consideram mais iguais do que os mortais comuns? Se o próprio eleitorado reelege e consagra corruptos e cassados da grande corrupção, que mérito podem ter a honestidade e a correção do homem pequeno que em nome do Estado é o elo entre o poder e o cidadão da rua?


José de Souza Martins, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é autor, entre outros livros, de a Aparição do demônio na fábrica (editora 34) e A sociabilidade do homem simples (contexto)

(Publicado em 1/8/2010)

Vila Esperança - Adoniran Barbosa

Enchentes podem tirar 520 mil votos do NE

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em Pernambuco, 4,35% do eleitorado mora nas cidades atingidas; em Alagoas, 12,34%

Felipe Recondo / Brasília

As enchentes que atingiram os Estados de Alagoas e Pernambuco no mês passado - e deixaram mais de 50 mortos = ameaçam as eleições deste ano em 29 municípios. As chuvas destruíram os locais de votação, como escolas.

Muitos dos eleitores perderam todos os documentos pessoais, incluindo título de eleitor e carteira de identidade. Em alguns municípios, não há energia elétrica para que as urnas eletrônicas possam funcionar.

O risco é de que os mais de 520 mil eleitores dessas cidades fiquem sem votar. Se isso ocorrer, o resultado das eleições será afetado. Em Pernambuco, 4,35% do eleitorado mora nas cidades atingidas. Em Alagoas, o porcentual é de 12,34%.

Mais do que influenciar no resultado das eleições, diz o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) , ministro Ricardo Lewandowski, o risco é de que os moradores dessas regiões sejam privados de exercer um direito fundamental.

Para contornar a situação e garantir a realização das eleições nesses municípios, o TSE está preparando uma operação emergencial. "Teremos uma eleição numa praça de guerra", definiu o presidente do órgão, que visitou as cidades atingidas. "Nosso desafio é garantir que todos os eleitores dessas cidades possam votar", acrescentou.

O Exército montará tendas nas cidades para substituir os locais de votação destruídos pelas enchentes. O TSE se encarregou de mandar baterias especiais para ligar as urnas eletrônicas. A Força Nacional de Segurança e o Exército farão a segurança. A Justiça Eleitoral emitirá novos títulos de eleitor. E as secretarias de segurança pública se comprometeram a agilizar a emissão de novas carteiras de identidade.

Mas esse processo, especialmente a emissão de novos documentos, será problemático. Os cartórios de registro das cidades também foram destruídos. E como muitos eleitores perderam todos os documentos pessoais, as autoridades locais terão de recorrer a todo tipo de provas para confirmar a identidade do eleitor, desde testemunhas até os livros de batismo das igrejas.

O alento para a Justiça Eleitoral é que as cidades afetadas são pequenas. Os moradores, geralmente se conhecem, o que pode facilitar o processo.

Voluntários. Outro desafio será encontrar mesários para as eleições. Aqueles que foram convocados pela Justiça Eleitoral podem ter perdido suas casas. No dia das eleições, portanto, será impossível achá-los no endereço residencial para intimá-los.

A Justiça terá de fazer nessas cidades uma campanha para encontrar voluntários para trabalhar no dia 3 de outubro. Se não tiver sucesso, moradores de cidades vizinhas poderão ser convocados para exercer a função.

No dia do pleito, os mesários vão comparar a identidade dos eleitores com o livro de registros das eleições municipais. Essa foi uma das formas encontradas para evitar fraudes nas eleições.

PSDB lidera 5 disputas para governador

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PMDB vem a seguir, com quatro candidatos na liderança, dos quais três deles venceriam no primeiro turno se a eleição fosse hoje

Daniel Bramatti

Pesquisas do instituto Ibope em 14 Estados e no Distrito Federal mostram que o PSDB tem cinco candidatos a governador em primeiro lugar na corrida eleitoral - três deles em situação de empate técnico com adversários.

O PMDB vem a seguir, com quatro candidatos na liderança - três deles venceriam no primeiro turno se a eleição fosse realizada hoje.

O PSDB lidera em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, com o ex-governador Geraldo Alckmin, que tem 50% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada na sexta-feira.

Os demais Estados pesquisados pelo Ibope onde há tucanos à frente se concentram na Região Norte e têm pouco peso econômico e eleitoral.

Em Rondônia, o ex-governador Expedito Júnior está na frente, com 26% das intenções de voto, mas sua candidatura está pendente de aval da Justiça Eleitoral, que decidirá se ele se enquadra ou não na Lei da Ficha Limpa. O tucano foi cassado do cargo de governador em 2007 por compra de votos.

No Amapá, Jorge Amanajás (PSDB) tem 24% das preferências e divide a liderança com Lucas Barreto (PTB), com 25%.

Outro empate se registra em Roraima, onde o governador José Anchieta (PSDB) disputa a reeleição com o ex-governador Neudo Campos (PP). Ambos tem 41% da intenções de voto, segundo o Ibope. As pesquisas em Roraima, no Amapá e em Rondônia foram encomendadas por afiliadas da Rede Globo na Região Norte.

Em Tocantins, segundo pesquisa encomendada por entidade de empresários do Estado, o ex-governador Siqueira Campos (PSDB) tem 40% e está empatado tecnicamente com o atual governador, Carlos Henrique Gaguim (PMDB), com 43%. Um deles será o vencedor no primeiro turno, pois só há dois candidatos no Estado.

Pesquisas de outros institutos indicam que o PSDB também tem chances de levar o governo do Paraná, onde o tucano Beto Richa e o pedetista Osmar Richa disputam o cargo; em Goiás, onde Marconi Perillo enfrenta Iris Rezende (PMDB), e no Pará, onde Simão Jatene concorre com Ana Julia Carepa (PT), candidata à reeleição. Em Mato Grosso, o ex-prefeito de Cuiabá Wilson Santos (PSDB) tenta vencer o favoritismo do peemedebista Silval Barbosa.

Trunfos. Além de Gaguim, no Tocantins, há peemedebistas na liderança em pesquisas Ibope em Minas Gerais (Hélio Costa, 39% das intenções de voto), no Rio (Sérgio Cabral, 58%) e na Paraíba (José Maranhão, 48%).

Ex-ministro de Comunicações no governo Lula, Costa tem como trunfos o apoio do presidente e do PT. Seu principal adversário é Antonio Anastasia, do PSDB, que assumiu o governo após o também tucano Aécio Neves renunciar para concorrer ao Senado. Aécio é o principal cabo eleitoral de seu ex-vice, que tem 21% das intenções de voto e aposta no início do horário eleitoral gratuito para se tornar mais conhecido e crescer.

Estados de peso. Se vencer em Minas e no Rio, o PMDB controlará dois dos três Estados com maior eleitorado e Orçamento. Se o crescimento no Sudeste dependerá das urnas, o encolhimento no Sul é uma certeza: em Santa Catarina e no Paraná, onde peemedebistas venceram em 2006, não há candidatos do partido concorrendo em 2010.

Os peemedebistas contam ainda com a reeleição de André Puccinelli, governador de Mato Grosso do Sul, que concorre com o ex-governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT.

No Rio Grande do Sul, o partido aposta em uma virada. Segundo pesquisa Ibope encomendada pelo grupo RBS e divulgada na primeira quinzena de julho, o peemedebista José Fogaça está 10 pontos atrás do petista Tarso Genro.

O Ibope também mostra o PT na frente no Acre, onde Tião Viana tem 63% das preferências. O mesmo instituto indica que Agnelo Queiroz (PT) está em segundo na disputa pelo governo do Distrito Federal, atrás de Joaquim Roriz, do PSC (38% a 27%).

Outros institutos apontam petistas na liderança na Bahia (Jaques Wagner) e em Sergipe (Marcelo Déda).

Palanques. A presidenciável Dilma Rousseff, do PT, tem 11 aliados entre os líderes nas 15 unidades da Federação onde o Ibope fez pesquisas desde o início oficial da campanha, em 6 de julho. Outros seis líderes estão alinhados com o tucano José Serra na disputa presidencial. Dos favoritos, Ângela Amin (PP), candidata em Santa Catarina, é a única que não declarou voto na disputa pela Presidência.

Mais um dossiê do PT esquenta a campanha

DEU EM O GLOBO

Documento acusa filha de Mantega de tráfico de influência

A descoberta de mais um dossiê que teria sido elaborado pela ala sindicalista do PT pôs mais combustível na disputa presidencial. O alvo seria o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e envolveu a disputa pelo comando da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. Em carta apócrifa, a filha do ministro, a modelo Marina Mantega, é acusada de tráfico de influência no BB. Para o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), o episódio, revelado pela "Folha de S.Paulo, mostra a obsessão dos petistas por dossiês. O PT não mede consequência para alcançar seus objetivos, disse a senadora Kátia Abreu (DEM). O presidente do PT, José Eduardo, desqualificou a carta.

Mais um dossiê: PT x PT

Filha de Mantega é acusada de tráfico de influência; conteúdo de carta atinge campanha

BRASÍLIA - Um novo suposto dossiê, desta vez de petista contra petista, agita a campanha presidencial a pouco mais de duas semanas do início do horário eleitoral na TV, no próximo dia 17. Setores da oposição criticaram a descoberta de uma carta apócrifa que teria sido elaborada por setores do PT contra o próprio governo. O alvo seria o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e envolveu a disputa pelo comando da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. As acusações foram publicadas em maio pelo jornal "Valor Econômico" e ontem pela "Folha de S.Paulo".

Na carta, uma das filhas do ministro, a empresária, atriz e modelo Marina Mantega, é acusada de tráfico de influência junto ao vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, que era cotado para assumir a presidência da Previ. O texto, de uma folha, virou um dossiê contra Mantega, que apoiava a indicação de Cafarelli.

O presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), teme que uma onda de dossiês contamine ainda mais a disputa eleitoral. Para o tucano, os petistas têm verdadeira obsessão e compulsão por dossiês.

- Eles são viciados em dossiês, é uma questão obsessiva e compulsiva do PT e do governo. Os petistas são cheios de hábitos estranhos - disse Guerra, que também é coordenador da campanha presidencial de José Serra (PSDB).

Guerra teme novo dossiê contra Serra

O tucano disse que teme uma possível nova investida contra a candidatura de Serra. Há quase dois meses, o PSDB descobriu que um documento com dados sigilosos do Imposto de Renda do vice-presidente do partido, Eduardo Jorge, estaria em poder da equipe de campanha da petista Dilma Rousseff.

- Se eles fazem até contra eles, imaginem o que pode fazer contra nós - disse Guerra.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, desqualificou o suposto dossiê:

- Isso não é dossiê. É uma carta anônima e sem sustentação.

Dutra disse que a notícia sobre a existência da "carta" é "assunto velho".

Caffarelli esteve com Marina Mantega por três vezes, na sede do banco, em São Paulo, segundo reportagem da "Folha de S.Paulo". Os dois teriam se conhecido quando Marina, economista de formação, trabalhava no banco Pine. Ela conversou com Caffarelli para pedir informações, como linhas de exportação, mas em uma das ocasiões questionou sobre a dívida de uma empresa. A reportagem da "Folha" cita que seria a Gradiente, empresa da qual seu namorado Ricardo Staub é sócio. Caffarelli não teria nem olhado os dados solicitados.

Em uma das cartas apócrifas, há o argumento de que, caso o "tucano" Caffarelli assumisse a Previ, a campanha de Dilma Rousseff (PT) poderia ser prejudicada.

Diretamente ligado a uma ala que tentou assumir o comando da Previ, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-presidente do PT, divulgou em seu twitter ter sugerido ao ministro da Fazenda uma investigação a respeito dessa carta. Berzoini diz que recomendou "a abertura de uma sindicância interna".

Berzoini tentou emplacar um nome, o do diretor de Participações da Previ, Joílson Ferreira, mas foi preterido. Também estava na disputa o vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado, Allan Toledo. Cafarelli também ficou de fora.

O cargo foi preenchido pelo vice-presidente de Crédito do Banco do Brasil, Ricardo Flores, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para se ter uma ideia do que estava em jogo, a Previ foi criada em 1904 e é o maior fundo de pensão do país em patrimônio, avaliado em torno de R$140 bilhões.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) também criticou o dossiê:

- É mais um péssimo exemplo para o país. O PT não mede as consequências para atingir seus objetivos.

Em Curitiba, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, procurou minimizar os efeitos da denúncia.

- É mentira, com certeza. Eu não li, mas é mentira.

Dentro do governo é dado como certo que a autoria das cartas trazendo "denúncias" contra Caffarelli partiu de lideranças do Sindicado dos Bancários de São Paulo, onde Berzoini tem força política. O deputado saiu em defesa de dois petistas apontados como suspeitos de responsáveis pelo dossiê, o diretor da Brasilveículos, ligada ao BB, e José Luís Salinas, ex-vice-presidente do banco.

- Conheço os "suspeitos" há tempo suficiente para não acreditar que pudessem recorrer ao mais covarde dos instrumentos para atingir supostos objetivos políticos. Tratam-se de profissionais concursados do BB, que exercem altas funções no banco há bastante tempo, sempre elogiados por suas atuações - escreveu ele.

Procurado ontem, Caffarelli preferiu não comentar o assunto. O Palácio do Planalto e o Banco do Brasil também silenciaram sobre o tema. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda foi procurada, mas não atendeu às ligações do GLOBO.

Pelo Twitter, Marina Mantega se defende

DEU EM O GLOBO

Filha do ministro da Fazenda é acusada de tráfico de influência no BB

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Envolvida em um suposto dossiê onde é acusada de tráfico de influência no Banco do Brasil, a filha do ministro da Fazenda, Guido Mantega, Marina Mantega, usou o Twitter ontem para se defender. Disse que a reportagem publicada pelo jornal "Folha de S. Paulo" é falsa, e atribuiu o episódio à disputa eleitoral. "Naquela reportagem tudo é falso, desde a entrevista, até as insinuações", escreveu. Ainda pelo microblog, acrescentou: "Ano de eleição as pessoas tentam de tudo. Acho um absurdo".

No Twitter, Marina também reclamou de uma das fotos publicadas pelo jornal, que identifica a irmã de Marina como sendo ela própria. "Como a imprensa gosta de inventar. Fico chocada. E ainda são burros. Colocam a foto da pessoa errada", postou. O GLOBO tentou contato com Marina, mas não teve retorno.

A reportagem da "Folha" diz que Marina teria tido, por três vezes, conversas com o vice-presidente de cartões e novos negócios do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli. O motivo de uma das conversas teria sido a renegociação de dívidas da Gradiente, empresa da qual seu namorado, Ricardo Staub, é sócio.

Filha mais velha de Mantega, Marina é sócia, desde 2007, de uma empresa que presta consultoria a empresários interessados em fazer negócios no Oriente Médio e a investidores estrangeiros interessados no Brasil.

Em entrevista à Folha ela conta que "trabalha no Oriente Médio há algum tempo". E vive mais em Dubai do que em São Paulo. Marina diz estar fazendo "roadshow, porque atualmente é fácil atrair investidores para o Brasil".

Formada em administração de empresas pela PUC-SP, Marina já atuou no mercado financeiro. Trabalhou no Bradesco por sete anos, como trader internacional. Antes, estagiou na Bovespa. Em entrevistas, ela sempre diz que o fato de ser filha de Mantega a atrapalha na carreira. Marina passou a ser conhecida publicamente quando abandonou o mercado financeiro para tentar a carreira artística. Ela fez ensaios sensuais para duas revistas masculinas. Chegou a ser convidada para posar nua, mas, por pressão do pai, recusou.

Berzoini diz ter pedido a Mantega apuração de dossiê

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Apontado pelo Planalto como suspeito de produzir dossiê contra Guido Mantega (Fazenda), o deputado Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT, divulgou carta em que se defende e diz ter pedido apuração do caso ao ministro. O dossiê acusa a filha de Mantega de tráfico de influência. Ela nega.

Berzoini diz ter pedido apuração de dossiê

Deputado, suspeito de produzir documento contra Mantega, diz ter procurado o ministro para pedir investigação

Objetivo do material era fazer com que ministro desistisse da nomeação de vice do BB para a presidência da Previ


Lucas Ferraz

DE BRASÍLIA - Apontado pelo Palácio do Planalto como um dos suspeitos de produzir um dossiê contra o ministro Guido Mantega (Fazenda), o deputado federal Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, divulgou ontem em seu blog uma carta em que se defende das acusações.

Ele diz ter procurado Mantega e pedido a ele uma investigação para apurar responsabilidades pela elaboração do material.

Conforme a Folha revelou ontem, o ministro da Fazenda foi alvo de um dossiê que o governo atribui a uma ala do PT egressa do sindicalismo bancário. O material acusa a filha do ministro, Marina Mantega, de suposto tráfico de influência dentro do Banco do Brasil -o que ela nega.

O objetivo era fazer com que Guido Mantega desistisse da nomeação de Paulo Caffarelli, vice-presidente do BB, para a presidência da Previ (fundo de pensão dos funcionários do banco), cujo patrimônio hoje soma cerca de R$ 150 bilhões.

Caffarelli acabou não nomeado, assim como o nome defendido para a Previ pelos petistas da área bancária.

"Recentemente, em conversa com o ministro Mantega, sobre outros assuntos de interesse da política econômica, comentei sobre a tal carta apócrifa. (...) Sugeri ao ministro que determinasse ao BB a abertura de sindicância interna para apurar eventual participação de funcionários do banco em sua elaboração", escreveu Berzoini em sua página na internet.O deputado também nega que seu afastamento da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) tenha relação com o episódio. "Gostaria de dedicar o ano de 2010 ao meu mandato", afirmou.

O atual presidente do PT, José Eduardo Dutra, confirmou que o dossiê, também nomeado por ele como "carta apócrifa", circulou em abril, como consta na reportagem da Folha. Ao analisar o caso, foi irônico. "Desde a novela "Direito de nascer" [exibida entre 1964-65], nunca uma carta anônima teve tanto destaque na imprensa."

Sobre o fogo amigo petista, o senador tucano Alvaro Dias (PR) afirmou que o PT estaria se especializando na elaboração de dossiês. "Quando se começa a esquecer o último, aparece outro."

Na Mangueira, Gabeira defende saneamento

DEU EM O GLOBO

Apesar da presença de traficantes, visita à favela transcorre em clima de tranquilidade

Natanael Damasceno

O candidato do PV ao governo do estado, deputado federal Fernando Gabeira, realizou ontem à tarde uma caminhada pelo Morro da Mangueira. Saudado pelos moradores, o verde percorreu por mais de duas hora as ruas da comunidade. E apesar de o grupo que o acompanhava passar por pelo menos uma boca de fumo e de cruzar com traficantes pelo caminho, a visita transcorreu em clima de tranquilidade.

Gabeira disse que constatou problemas graves relativos à ocupação em áreas de risco e à falta de saneamento básico, e defendeu o entendimento com outras esferas de governo para buscar soluções.

- Considero o saneamento uma tarefa da nossa geração. E acho que o Cabral ter culpado o Cesar (Maia, ex-prefeito), ou mesmo eu culpar o (prefeito) Eduardo Paes, não quer dizer nada. É um fracasso de uma geração de políticos. Estamos de cabeça branca e não conseguimos resolver um problema que é do século XIX - disse, prometendo elaborar plano de metas para universalizar o saneamento.

O que pensa a mídia

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Gracia - Brahms Fantasy/ Brahms-Hollo-Molnar

Marcha de quarta-feira de cinzas :: Vinicius de Moraes


Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.

Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...

A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.

Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe...


Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.