domingo, 19 de maio de 2013

OPINIÃO DO DIA- Aécio Neves: da administração da miséria à sua superação

Assisti, presidente Fernando Henrique, recentemente, a propaganda eleitoral do PT. Eles diziam, primeiro de forma leviana, que deram os primeiros passos para esse Brasil de hoje. Quanta inverdade, quanta usurpação daquilo que não lhe é de direito. Os primeiros passos foram dados ainda antes de muitos nós, e desses jovens que estão aqui, com a reconquista da democracia. O segundo grande passo foi a retomada da estabilidade econômica. E o terceiro o início dos programas de transferência de renda. Todos eles com a participação efetiva do PSDB. Esta é a grande verdade.

(...) Não satisfeitos com o aparelhamento do Poder Executivo, eles colocam a sua força para submeter o Poder Legislativo à sua agenda e, agora, buscam de forma indireta, estabelecer garrotes e limites para o funcionamento do Supremo Tribunal Federal. Talvez em outro país tivessem sucesso.
Aqui não terão. Não terão porque nós do PSDB, do Democratas, do PPS, não permitiremos que a maior das conquistas do nosso tempo, as liberdades democráticas sejam colocadas em risco por aqueles que não tem a dimensão do que é servir ao país

(..) Não será fácil a nossa trajetória. Não me iludo. Mas estar longe de ser impossível.

Os obstáculos conhecemos. Não vamos enfrentar apenas um partido político. Vamos enfrentar um partido que se encastelou no Estado, se ocupou do Estado e inverteu uma lógica básica e primária de democracia: os partidos são feitos para servir ao Estado. O PT inverteu a lógica e colocou o Estado a serviço de um partido e do seu projeto de poder.

(...) Queremos, diferente dos nossos adversários que se contentam com a administração diária da pobreza, queremos a sua superação, que cada brasileira, não importa onde viva, possa escolher o seu caminho, conseguir a sua independência e buscar o seu sucesso e o seu progresso.

Cf. Aécio Neves, senador e presidente do PSDB. In discurso na XI Convenção Nacional do PSDB, Brasília, 18/5/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais em circulação

O GLOBO
Recorde de Ministérios custa R$ 58 bi ao país
Perda de mercado de US$ 7,4 bilhões
O futuro dos portos: Brasil pode avançar em ranking mundial
Aécio assume e ataca gestão do PT
O que aprendiam os agentes do SNI

FOLHA DE S. PAULO
Aécio afirma que PSDB errou ao esconder FHC
Inflação deixa 22,3 milhões abaixo da linha da miséria
Só Brasil não puniu suspeitos envolvidos no caso Alstom
Para ditador Assad, invasão à Síria é 'provável'
'Não sou gênio do mal', diz Eduardo Cunha, opositor da MP dos Portos

O ESTADO DE S. PAULO
Aécio é eleito presidente do PSDB e líderes pregam união
Novos portos no País exigirão mais estradas e ferrovias
Onde médicos de outro país são bem-vindos
Cibersegurança é baixa no continente

ESTADO DE MINAS
Eleito no PSDB, Aécio ataca a gestão Dilma
Memórias de um guerrilheiro
Escravidão: Brasil tem um déficit de 8 mil fiscais

O TEMPO (MG)
Aécio Neves é eleito presidente do PSDB com 97,3% dos votos
Anistia Internacional sugere depoimento público de Dilma à Comissão da Verdade
Presidente francês assina lei que permite casamento gay

CORREIO BRAZILIENSE
De cada 10 mulheres, só 2 fazem mamografia pelo SUS
Aécio é eleito presidente do PSDB por larga maioria
País precisa inovar para competir
O chute da presidente Dilma nos "pessimistas"

GAZETA DO POVO (PR)
Nova legislação para os portos destrava 18 obras em Paranaguá
Atrasada” para a eleição de 2014, oposição só tem Aécio como certeza
Estrutura dos ministérios custa o dobro do Bolsa Família
Julgamento dos recursos pode demorar
Aos poucos, abertura da economia muda cenário em Cuba

ZERO HORA (RS)
Quanto custam os Legislativos no país
Esvaziar é a solução?

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Poucos negócios no rastro da Copa das Confederações
Mec cria site na internet de apoio aos feras
PSDB: Aécio prega união e ataca Dilma

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais em circulação

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Recorde de Ministérios custa R$ 58 bi ao país

Para manter 39 pastas, governo gasta mais que o dobro da verba destinada ao Bolsa Família

No total o orçamento para custeio de toda a engrenagem federal chega a RS 377,6 bilhões, mais do que o PIB do Peru

O governo Dilma Rousseff tem tantos ministros que não há sequer espaço para todos na Esplanada dos Ministério. Parte da estrutura teve de ser espalhada por outros prédios de Brasília, cidade fundada há apenas 53 anos e planejada para receber todo o governo. O Orçamento Geral da União de 2013 prevê R$ 58,4 bilhões só para manter a estrutura e os funcionários dos atuais 39 ministérios. O funcionalismo federal já reúne quase 1 milhão de servidores ativos e inativos, e eles custaram ao país, em 2012, R$ 156,8 bilhões.

A conta do inchaço

Custo para manter o número recorde de 39 ministérios no governo Dilma é de R$ 58 bilhões

Luiza Damé, Catarina Alencastro

BRASÍLIA - Manter a estrutura e os funcionários das atuais 39 pastas do governo Dilma Rousseff, instaladas na Esplanada dos Ministérios e em outros prédios espalhados pela capital, custa pelo menos R$ 58,4 bilhões por ano aos cofres públicos. Esta verba, que está prevista no Orçamento Geral da União de 2013 para o custeio da máquina em Brasília, é mais que o dobro da que foi destinada ao maior programa social do governo, o Bolsa Família, que custará R$ 24,9 bilhões este ano.

No total, o orçamento para custeio de toda a engrenagem federal chega a R$ 377,6 bilhões, quando são incluídos, por exemplo, órgãos técnicos, empresas públicas, universidades, escolas e institutos técnicos federais. Este valor representa mais do que o PIB (a soma de todos os bens e serviços) de países como Peru, Nova Zelândia ou Marrocos.

A maior despesa nesse bolo é justamente com os salários dos funcionários, tanto os de Brasília quanto os espalhados país afora: o Executivo federal fechou a folha de pagamentos de 2012 em R$ 156,8 bilhões. O número de ministérios passou de 24, em 2002, para 39 este ano. A quantidade de servidores ativos e aposentados também cresceu: passou de 809.975 em 2002, para 984.330 no fim de 2011, segundo dados do próprio governo.

A título de comparação, a verba total destinada a investimentos do governo federal, prevista no Orçamento Geral da União deste ano, é de R$ 110,6 bilhões. Para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), menina dos olhos da presidente, estão previstos R$ 75 bilhões em 2013.

O ministério que mais gastará para manter sua estrutura este ano é o da Saúde: R$ 18,2 bilhões. Os dados foram extraídos de um levantamento feito pelo DEM a pedido do GLOBO, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do governo federal. Os gastos incluem despesas com custeio, ou seja, pagamento a funcionários civis e militares, compra de material de consumo dos ministérios, e contratação de serviços como água, luz, aluguel, transporte e hospedagem.

O número de pastas, que nem sequer cabe na Esplanada dos Ministérios, é alvo de críticas de políticos aliados, da oposição e de especialistas no setor público.

O empresário Jorge Gerdau Johanpeter, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade - criada pela presidente justamente para propor modos de aperfeiçoar os serviços públicos, com redução de gastos -, é um dos maiores críticos da estrutura gigante do governo federal. Em recente entrevista ao portal UOL, Gerdau chamou de "burrice e irresponsabilidade" a criação de novos ministérios. Para ele, o governo funcionaria a contento com "meia dúzia" de pastas.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixou 24 pastas no fim de seu mandato, em 2002. Luiz Inácio Lula da Silva inchou a máquina e deixou 37 pastas, incluindo secretarias que até então eram vinculadas a outros ministérios, como Direitos Humanos, Portos e Pesca, e que, sob a gestão petista, ganharam estrutura própria. Lula também deu ao presidente do Banco Central o status de ministro. A presidente Dilma Rousseff criou, então, as secretarias de Aviação Civil e de Micro e Pequena Empresa, atingindo a marca recorde de 39 ministérios.

Só este ano, R$ 21,5 milhões com aluguéis

Na Esplanada dos Ministérios desenhada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa há 19 edifícios. Muitos deles abrigam mais de uma pasta, mas, ainda assim, falta espaço e o governo aluga mais prédios. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, divide um edifício na Esplanada com o da Cultura, mas teve de alugar salas em outro local em Brasília, onde instalou secretarias.

O Ministério da Cultura também aluga salas e gasta R$ 1,3 milhão ao mês com locação de imóveis. No total, a pasta desembolsa R$ 141,7 milhões somente com o custeio de sua máquina. Segundo o Portal da Transparência, este ano o governo federal já pagou R$ 21,5 milhões para o aluguel de prédios em todo o país.

Procurado, o Ministério do Planejamento afirmou que as despesas da União com a criação de novas estruturas e com a manutenção das já existentes têm como objetivo "responder às necessidades de investimentos no país; melhorar a qualidade dos serviços prestados à população; atender à expansão de políticas públicas no território nacional e atender demandas da população por novas políticas públicas".

No entanto, para o cientista político Valdir Alexandre Pucci, professor do Centro Universitário do Distrito Federal, o aumento da máquina pública é decorrência da maneira como se faz política no país, em que os aliados são atraídos por cargos no governo. Ele afirmou que esse processo foi ampliado depois do escândalo do mensalão, em 2005, porque Lula foi obrigado a ampliar sua base de apoio no Congresso.

- Esse inchaço não começa com a presidente Dilma. Vem da forma como se faz política no Brasil: as pessoas são chamadas para compor o governo. É claro que, com o mensalão, houve uma necessidade de ampliar a base no Congresso, provocando um inchaço ainda maior - argumentou Pucci.

Na posse de seu último ministro, Guilherme Afif Domingos, da Micro e Pequena Empresa, Dilma justificou a criação de mais um ministério afirmando que antes é preciso expandir, "para depois abrir um processo de redução". Segundo a presidente, determinadas áreas necessitam de estrutura política própria para se desenvolver. No governo Dilma, chegou-se a analisar, inclusive, a criação do Ministério da Irrigação.

- Isso faria sentido se os ministérios de fato funcionassem, mas gasta-se muito, e muito mal. Por exemplo, na discussão da medida provisória dos portos, alguém ouviu falar do ministro de Portos (Leônidas Cristino)? Se o ministro de Portos não aparece no debate da principal medida do governo na área, fica evidente que (a criação da pasta) foi uma acomodação política - criticou Pucci.

O cientista político diz ainda que são poucos os resultados das pastas criadas nos últimos tempos, e que algumas funções acabaram se sobrepondo. Segundo ele, a recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa - que terá de ocupar salas cedidas pelo Exército, no anexo do prédio principal -, tem funções combinadas com os Ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

- São incipientes as conquistas para justificar esse crescimento da máquina. O número de ministérios é exagerado ao extremo, e sem necessidade. A necessidade é melhorar a eficiência da máquina pública.

O grande número de ministérios e ministros no primeiro escalão do governo federal provoca, além das contumazes críticas, muito desgaste para o governo. O projeto de lei de criação da Secretaria de Micro e Pequena Empresa, por exemplo, ficou por mais de dois anos em tramitação no Congresso, não só por má vontade dos parlamentares, mas também por indefinição do Palácio do Planalto, que chegou a pensar em abortar a ideia.

PT tem o maior número de ministros: 18

Dilma vive uma situação irônica com seu time de primeiro escalão. Tida como técnica, gestora e pouco dada a uma relação muito próxima com a classe política, ela tem um Ministério eminentemente político: dos atuais 39 ministros, 31 são políticos ou indicados por partidos da coligação governista que a elegeu em 2010. O primeiro Ministério de Lula tinha 26 ministros, sendo 21 da cota dos políticos.

O PT, partido da presidente, lidera o ranking de ministros: são 18, considerando, inclusive os da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior. O segundo maior partido da coalizão governista, o PMDB, tem o comando de cinco ministérios. Na primeira equipe de Lula, em 2003, dos 26 ministros, apenas seis não eram do PT.

A formação de uma equipe que representa os partidos vitoriosos nas urnas junto com o presidente é comum, e sempre aconteceu em todos os governos. Não foi diferente nos dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que também enfrentou disputas entre aliados por cargos na Esplanda.

Mas essa predominância é maior nos governos petistas, especialmente porque tanto o governo Lula como o de Dilma criaram pastas para agregar partidos à base aliada - caso da Micro e Pequena Empresa, destinado ao PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab.

Fonte: O Globo

Enquanto... PAC do Saneamento Básico em marcha lenta

Estudo revela que 89 das 138 obras em grandes cidades estão paradas, atrasadas ou nem começaram

Cássio Bruno, Carolina Benevides

RIO E TERESINA - O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) empacou para o Saneamento Básico. Um estudo do Instituto Trata Brasil revela que 89 (65%) das 138 obras voltadas às redes de coleta e sistemas de tratamento de esgotos estavam paralisadas, atrasadas ou ainda não iniciadas até dezembro do ano passado. Os projetos monitorados e analisados pela entidade estão distribuídos em 18 estados e incluem 28 cidades acima de 500 mil habitantes, totalizando R$ 6,1 bilhões já liberados pela União.

Entre 2011 e 2012, houve um aumento no número de obras paradas: saltaram de 32 para 47. Esse aumento ocorre desde 2009, quando o número de projetos nessa situação era de apenas 12.

Das 112 obras fiscalizadas do PAC 1, apenas 19 foram concluídas desde o início do programa há seis anos conforme o cronograma. Já das 26 obras do PAC 2, que tiveram início em 2010 e pela primeira vez foram incluídas no levantamento, 16 nem começaram a sair do papel.

Os dados foram fornecidos ao Instituto Trata Brasil pelo Ministério das Cidades, pela Caixa Econômica Federal, BNDES, pelo Sistema Integrado de Informação Financeira do governo federal (Siafi) e por relatórios do próprio PAC.

- O governo não liberou nem metade, cerca de 47%, dos recursos desde que assinou os primeiros contratos do PAC 1. Nesse ritmo, talvez metade das obras do PAC 1 esteja concluída em 2015. Os recursos são liberados conforme as etapas são concluídas, atrelados ao que foi executado. Não falta dinheiro. Em muitas obras, o governo não pede qualquer contrapartida. Não liberaram mais recursos porque as obras não andam - afirma Édison Carlos, presidente do Trata Brasil.

Para Édison Carlos, o problema da lentidão é o despreparo do poder público e a burocracia na hora de executar as obras:

- A obra para por problemas de gestão das prefeituras, dos governos dos estados e das empresas de saneamento. Mas também por conta da burocracia.

As cidades com as situações mais críticas são: São Gonçalo e Duque de Caxias, no Rio; e Santo André e Osasco, em São Paulo; além de Belém (PA), Fortaleza (CE), Brasília, João Pessoa (PB), Natal (RN), São Luiz (MA) e Teresina (PI).

São Gonçalo em situação crítica

Em São Gonçalo, as melhorias da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), contratadas em 2007, estão atrasadas, com apenas 30,91% das obras concluídas, sob responsabilidade do governo estadual, segundo o Instituto Trata Brasil.

A ETE fica às margens da Rodovia Niterói-Manilha (BR-101) e terá um custo total de R$ 25,2 milhões. A obra está sendo executada pela Delta Construções. A empreiteira foi acusada de pertencer ao esquema de corrupção do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Enquanto isso, moradores de Jardim Catarina, bairro em São Gonçalo ao lado da estação de tratamento, reclamam do esgoto nas ruas.

- As crianças brincam aqui ao lado da vala negra. Sem contar os mosquitos, o mau cheiro e a água ruim - diz a moradora Cláudia Oliveira Lopes, de 39 anos, da Rua Marques Resende.

Assim como Cláudia, Marluce Silva Soares, de 25 anos, protesta contra os anos de abandono em Jardim Catarina:

- Sou obrigada a ferver a água para beber e fazer comida. Não aguento mais as promessas. Não temos esgoto tratado, água potável. Não temos nada. É uma vergonha para um município de grande porte.

Ainda em São Gonçalo, a implantação de rede coletora e de ligações domiciliares de esgoto nas bacias hidrográficas dos rios Mutondo e Coelho, contratada em 2007, com um investimento previsto de R$ 6 milhões, não ficou pronta até hoje. Apenas 44,85% das obras foram feitas pelo governo estadual.

Em Duque de Caxias, a construção de um sistema de coleta e transporte de esgotamento sanitário, cujo contrato começou a vigorar em 2009 para beneficiar vários bairros, só teve 1,8% de obra executada pelo governo fluminense. No total, o projeto custará R$ 35 milhões à União.

- Todo o esgoto vai direto para o canal porque não temos um tratamento adequado. Meus três filhos sempre ficam doentes. A nossa água também não é tratada. Quando chove, também alaga tudo, e a sujeira volta para as casas - diz o comerciante Marcelo Nascimento Gomes, de 34 anos, morador da Avenida Manoel Teles, no bairro Engenho do Porto.

Cidade do Rio também tem problemas

A capital fluminense também sofre com problemas. As obras de ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) da Ilha de Paquetá, de R$ 19,8 milhões, não estão concluídas - apenas 40,98% foram feitas pelo governo do Rio a partir de 2011. Já o SES de Alegria, com financiamento de R$ 175,8 milhões, não teve a obra iniciada.

- O tempo médio para uma obra é de mais ou menos 7 a 8 anos. A gente vê no PAC obras perto de finalizar e que não finalizam. Elas param no final e isso é o pior que pode acontecer. O capital já foi quase todo empregado, e a população não tem o benefício. Obra de saneamento é para beneficiar a população, é para quem está na ponta - diz Édison Carlos.

Em Teresina (PI), duas obras do PAC foram paralisadas por causa de erro de concepção na execução do projeto executivo, conforme aponta o Instituto Trata Brasil. Ambas são referentes à ampliação da rede de esgoto, num total de R$ 102,1 milhões, e estavam sendo realizadas pelo governo do Piauí desde 2007. Uma outra obra com intervenções nos bairros Real e Copagri, com investimento de R$ 8,8 milhões, não começou. Na capital piauiense, com 800 mil habitantes, a cobertura da rede de esgoto é de apenas 17%.

- As obras do PAC estão paradas por erro na execução do projeto, tiveram de ser bloqueadas pelo Ministério das Cidades e foram suspensas pela Caixa Econômica Federal - afirmou Antônio Filho, presidente da Agespisa (Águas e Esgotos do Piauí).

Segundo Filho, a Agespisa está refazendo os itens dos projetos para a retomada das duas obras. Será feita ainda uma licitação de R$ 35 milhões para construção de uma Estação de Tratamento de Esgotos. (Colaborou Efrém Ribeiro, especial para O GLOBO)

Fonte: O Globo

Tempo desfaz obra e promessa de emprego

Canais estão abandonados e nordestinos, sem trabalho no São Francisco

Eduardo Bresciani

Maior obra do Programa de Aceleracão do Crescimento no Nordeste, a transposição do Rio São Francisco tem hoje, seis anos após seu início, canais de concreto estourados, valas a céu aberto e raros canteiros em atividade. Além da seca que castigou a região nos últimos três anos, a paralisia mina ainda a esperança dos sertanejos sobre a geração de empregos.

Durante cinco dias o Estado percorreu quase a totalidade dos 477 km da obra nos dois eixos que pretendem levar água a áreas sem irrigação o leste e o norte, que passam por Pernambuco, Ceará e Paraíba.

Visitar a obra, cuja execução está em 43% segundo o governo federal, passa a sensação de que o prazo para a conclusão, dezembro de 2015, deve ser novamente prorrogado.

O volume de investimentos registra queda expressiva no governo Dilma Rousseff, Nos dois primeiros anos de mandato, 2011 e 2012, o Ministério da Integração Nacional investiu 35% a menos na obra na comparação com o que foi pago em 2009 e 2010, segundo dados do sistema de execução orçamentário federal. Os valores estão corrigidos pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor.

O volume de pagamentos relativos à obra nos quatro primeiros meses de 2013 registram ainda outra queda, de 35%, em relação ao ano passado. A obra de transposição teve o orçamento aumentado de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões. Até agora foram pagos RS 3,6 bilhões.

O ritmo lento da obra tem reflexo na geração de emprego, uma das principais propagandas do governo em defesa da transposição, O empreendimento chegou a ter 9 mil funcionários, caiu para 3 mil em 2011 e agora são 4,9 mil. Entre essas idas e vindas de empresas ficou o histórico de demissões e insegurança entre os habitantes da região.

Morador do assentamento Serra Negra, em Floresta (PE), Luiz Henrique da Silva, de 47 anos, trabalhou na obra por quatro meses. Com a paralisação, voltou à roça diante da falta de oportunidades. “Não há segurança”, diz.

Gilberlândio Bezerra Resende, de 25 anos, morador de Custódia (PE), trabalha pela terceira vez no mesmo trecho da obra, no lote 10. Na última paralisação foi para o Rio de Janeiro atrás de emprego, mas voltou há três meses. “A obra toda vez começa e para. Tomara que não pare mais daqui pra frente para ter mais emprego para nós”, afirma.

Entre os vizinhos do canal há ainda relatos sobre o não pagamento por serviços prestados a empresas terceirizadas. Pedro dos Santos Landim Neto, de 22 anos, morador de Cabrobó (PE), conta ter atuado como vigia para uma dessas sub-contratadas. Como era diarista, não teve a carteira assinada e afirma ter ainda dois meses de salário a receber.

Os questionamentos sobre o andamento da obra de transposição podem colocar em jogo o prestígio da presidente em uma região na qual teve votação expressiva em 2010. Em cinco cidades de Pernambuco pelas quais passa a obra, Dilma obteve porcentuais de votação entre 78% e 89% em 2010. A petista tentará reeleição no ano que vem.

O governo federal promete que o ritmo da transposição será acelerado. Segundo o Ministério da Integração, responsável pelo empreendimento, o prazo de entrega, previsto para 2015, será cumprido porque todos os contratos serão assinados até junho deste ano e terão duração máxima de 30 meses.

A paralisia afeta hoje a maior parte dos 16 lotes nos quais o empreendimento foi dividido. No eixo leste não há qualquer atividade no primeiro lote entregue à iniciativa privada, em Floresta (PE), o que levanta dúvidas se a água chegará até o fim do canal, em Monteiro (PB). No eixo norte, as obras estão em andamento no começo do canal, em Cabrobó (PE) e Salgueiro (PE), mas no Ceará a paralisia afeta desde a primeira cidade, Penaforte (CE). Apenas em túneis nas cidades de Jati (CE) e Mauriti (CE) há homens trabalhando. Nesse trecho, a intenção é levar água até Cajazeiras (PB).

Em vários lugares da transposição houve o desmatamento, a explosão dos canais e algumas escavações, mas o trabalho parou e não há sinal de movimentação de máquinas. Grandes obras de engenharia como barragens e aquedutos estão longe de sua conclusão. A pasta da Integração diz que estão previstos 12 aquedutos, mas só quatro estão concluídos. Não há nenhuma estação de bombeamento pronta.

Há ainda trechos em que o trabalho realizado terá de ser feito novamente. Em Seitânia (PE), no lote 11, há um trecho de aproximadamente um km em que os canais de concreto estouraram, a vegetação retomou seu espaço em meio ao canal e manitas impermeabilizantes foram coitadas. Moradores afirmam que a obra está abandonada há três anos e lamentam a baixa qualidade do serviço feito. “Agora está tudo assim quebrado e vai ter que fazer tudo de novo”, diz Damião Serafim dos Santos, 59 anos, morador do sítio Brado Novo, nas proximidades do canal

No trecho que esteve sob responsabilidade da empreiteira “inidônea” Delta, o lote 6, em Mauriti (CE), a situação se repete com trechos de canais estourados nos primeiros quilômetros da obra, O Estado já tinha constatado situação semelhante cm Custódia (PE) em 2011, trecho que foi refeito no lote, que teve as obras retomadas, mas com poucos funcionários.

Moradores relatam ainda existirem pendências em fases que deveriam, ser anteriores à obra, como o acordo para indenizações. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cabrobó (PE), Antônio de Mestor, afirma que uma mobilização de 2 mil agricultores estava preparada para ocorrer nos próximos dias com uma invasão do canteiro de obras do lote 1, que fica na cidade. Os pequenos produtores cobram indenizações e ressarcimentos por danos a residências, além dos assentados que desejam ter os mesmos benefícios dados aos proprietários. A manifestação foi suspensa porque a negociação foi retomada com o ministério. No assentamento Serra Negra, em Floresta (PE), até hoje não foi resolvida a questão de três casas e um posto de saúde que ficam na rota do canal, como o Estado revelou em 2011. As obras estão paralisadas na região.

Com o acúmulo de problemas, moradores das margens do canal culpam a presidente pela paralisação. “Tem que cutucar a Dilma, com ela tudo aqui parou, com o Lula estava andando”, diz Adauto Joaquim de Araújo, 69 anos, morador de Roça Velha, Floresta (PE),

“Queria ter condição de falar com a presidente Dilma sobre os problemas que estamos passando, Não veio emprego, só prejuízo”, resume Rosalina Maria dos Santos, 48 anos, moradora de Curralinho, em Cabrobó (PE), “Quando chegou o movimento pensei que a obra ia sair rápido, mas parece que desistiram”, constata Antônio Alves Neto, 50 anos, de Mauriti (CE).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Novos portos no País exigirão mais estradas e ferrovias

Aprovada a Medida Provisória dos Portos, o desafio do governo será acelerar investimentos em logística de forma simultânea. A construção de novos terminais tem de ser acompanhada de rotas de escoamento por meio de rodovias, ferrovias ou hidrovias. Para virar lei, a MP passará pelo crivo da presidente Dilma Rousseff.

Nova Lei dos Portos

A MP dos Portos ainda passará pelo crivo da presidente Dilma Rousseff antes de virar lei, mas já criou uma expectativa de modernização do sistema portuário brasileiro. Com o fim da exigência de carga própria para construção de terminais privados, a expectativa é que haja uma onda de investimentos no setor. Pelas contas do governo, seriam R$54 bilhões até 2017.

Na avaliação do diretor executivo do Centro Nacional de Navegação (Centronave), Cláudio Loureiro de Souza, o sucesso ou não do novo marco regulatório ainda dependerá de como serão conduzidos o processo de regulamentação e os vetos da presidente Dilma Rousseff. "Mas nossa visão é bastante otimista. Precisamos de mais ofertas de espaço e berços nos portos para eliminar os problemas de espera de navios para atracação." Ele destaca que os navios cresceram muito nos últimos anos, enquanto o cais continuou do mesmo tamanho. "É como um shopping center com o estacionamento esgotado."

Outro reflexo positivo esperado com a nova lei dos portos é o aumento da concorrência e, consequentemente, a melhoria dos níveis de eficiência dos portos brasileiro. Em recente apresentação feita em São Paulo, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Pedro Brito, mostrou as diferenças entre o porto de Roterdã, na Holanda, e Santos, no Brasil.

Enquanto o complexo europeu movimenta 434,6 milhões de toneladas de carga por ano, com 1.220 funcionários, o porto santista fazia 97 milhões de toneladas, com 1.360 trabalhadores. É esse tipo de ineficiência que o governo quer eliminar.

Novas regras

Limites do porto organizado

0 governo poderá elevar ou diminuir os Limites do porto organizado, dependendo da conveniência de novos investimentos. A proposta do deputado Eduardo Cunha, que foi derrubada, propunha elevar os limites do porto organizado, o que reduziria o espaco para o investimento privado fora do porto público.

Contratos pós 1993

Embora não seja imperativo, a MP autoriza a antecipação da renovação dos contratos de arrendamento dos terminais privados e também a expansão das áreas próximas aos terminais. Mas a decisão de autorizar a renovação e a expansão é do governo.

O que pode ser vetado

1) Renovação dos contratos de arrendamentos anteriores a 1993 por 10 anos

2) Renovação automática por mais 25 anos dos novos contratos de arrendamento

3) Criação da figura do terminal indústria

Quem ganha

Um dos principais objetivos da nova Lei é atrair investimentos para a expansão dos portos. Com as regras aprovadas, mais investidores poderão construir terminais para movimentar cargas variadas, como contêineres e grãos. A tendência é trazer mais concorrência.

Quem perde

Com a construção de novos terminais, quem não tiver eficiência na operação portuária perderá carga. Eles terão de se modernizar e melhorar suas tarifas para conseguir atrair clientes.

Desafios extras

Embora o governo tenha liberado a construção de novos terminais, o maior desafio será criar infraestrutura para escoar a carga pelos novos portos. Se não houver rodovia, ferrovia e hidrovia de qualidade, os portos atuais continuarão movimentando a maior parte das cargas do País

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio é eleito presidente do PSDB e líderes pregam união

Em clima de campanha contra o PT, tucano usa a economia para atacar Dilma e afirma que o Brasil parou

Com ataques ao governo de Dilma Rousseff e ao PT, o senador Aécio Neves assumiu ontem, em convenção em Brasília, a presidência nacional do PSDB. A união retórica e o calor dos discursos, porém, não encobriram sinais de tensões internas com a consolidação do mineiro como pré-candidato ao Planalto em 2014. Ao lado de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e José Serra, Aécio fez um discurso de candidato e atacou o governo em pontos como infraestrutura, inflação e "crescimento pífio". Durante o evento, os tucanos falaram em esgotamento do projeto atual do PT, defenderam ética na política e pregaram união do partido em torno de Aécio.

PSDB prega união ao eleger Aécio e usa economia e gestão para atacar Dilma

Construção de palanque. Senador assume comando do partido como etapa para se lançar candidato ao Planalto em 2014 e alirma que Brasil "parou"; FHC, Alckmin e Serra dizem que sigla estará junta para derrotar PT e Perillo, ao citar mensalão, chama Lula de "canalha".

Com ataques à administração da presidente Dilma Rousseff e ao modelo petista de governar, o senador Aécio Meves (MG) assumiu ontem, em convenção em Brasília, a presidência nacional do PSDB. A união retórica e o calor dos discursos, porém, não encobriram sinais de tensões internas com a consolidação do mineiro como pré-candidato ao Planalto em 2014,

Ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do ex-governador José Serra, Aécio atacou as fragilidades do governo, como a falta de infraestrutura, a volta da inflação e o "crescimento pífio". "O Brasil simplesmente parou", acusou. Parafraseando o governador e presidente nacional do PSB, Eduardo Gampos (PE), o tucano disse que é imperativo "fazer diferente" e "fazer melhor". FHC usou mote semelhante e também disse que "o PSDB tem que ser muito próximo do povo".

Aclamado pela militância como "futuro presidente da República", Aécio disse buscar inspiração nos legados de seu avô, Tancredo Neves, e de tucanos como Mário Covas, Franco Montoro e FHC no momento em que se completam 20 anos do Plano Real, "maior transformação da história recente do País". O senador enfatizou que o momento era apropriado para o reencontro com a história do partido, de lembrar os êxitos e de reconhecer os equívocos.

"Erramos por não ter defendido, juntos, todo o partido, com vigor e a convicção devidos, a grande obra realizada pelo PSDB, que representa a base do Brasil moderno", disse. Aécio afirmou que, se o partido tivesse defendido o legado de FHC, não haveria "apropriação" por parte do PT.

Tensão. Os discursos dos tucanos não encobriram os sinais não tão sutis de tensão com a escolha de Aécio para presidir a legenda e com a consolidação do mineiro como pré-candidato do partido ao Planalto.

O ensaio da festa previa a chegada dos paulistas FHC, .Alckmin e Serra em companhia do mineiro, para simbolizar a união partidária. Na quinta-feira, o governador disse que o trio embarcaria para Brasília. Na capital, fariam uma reunião com Aécio para daí aportarem no Centro de Convenções da capital.

O ex-governador paulista, no entanto, preferiu viajar sozinho e se destacou do grupo. Chegou à convenção separado, dez minutos depois do mineiro, saudado pela militância com gritos protocolares de "Serra é PSDB".

O ex-governador se mostrou reticente no apoio declarado ao mineiro para o Planalto. Em dis-; curso, nem sequer tangenciou as aspirações do mineiro ao Planalto, embora tenha desejado "sorte ao Aécio na presidência do PSDB" e atribuído "a responsabilidade de unir as forças de oposição".

"Nas grandes decisões que já tomei na vida pública, nunca coloquei, nunca pus, não ponho e não porei as paixões à frente da razão", discursou Serra. "Com os olhos em 2014 e no futuro do Brasil, continuarei a atuar em favor da unidade das oposições e de quantos entendam que é chegada a hora de dar um basta à incompetência orgulhosa."

"Canalha". No evento, feito como se fosse lançamento de campanha presidencial, os tucanos falaram em esgotamento do projeto atual do PT, defenderam a ética na política e pregaram a união em torno de Aécio. "A união é fundamental. Nosso grupo tem que se unir e propor", afirmou o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio.

Alckmin sinalizou que os paulistas apoiarão o mineiro em 2014. Em tom de brincadeira, disse que em São Paulo ele (Alckmin) é "acusado de ser o paulista mais mineiro" do Estado e que Aécio é "injustamente" atacado por ser o mineiro "mais carioca" "Se precisar, ele (Aécio) vai ser o mais paulista dos mineiros", afirmou.

O ataque mais explícito ao PT veio do governador de Goiás, Marconi Perillo, que chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "canalha". O petista não quis comentar a declaração.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio ataca Dilma e diz que país estagnou

Eleito presidente do PSDB, pré-candidato ao Planalto defende volta do programa tucano e o "fazer diferente"

Cristiane Jungblut , Danilo Fariello, Gabriela Valente e Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Em um evento grandioso, para cerca de quatro mil pessoas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi eleito ontem presidente nacional do PSDB, sacramentando o início de sua corrida à presidência da República. A convenção nacional do partido, em Brasília, reuniu todas as principais lideranças tucanas e foi usado por vários líderes do partido, e até de aliados, como palco para o lançamento do mineiro. Ao fim de uma semana de intensas negociações, o ex-governador José Serra compareceu, discursou e prometeu unidade nas próximas eleições, apesar de não ter citado Aécio como candidato.

O evento, organizado pela equipe de Aécio, foi marcado por um resgate da história do PSDB e do governo Fernando Henrique Cardoso. Um conjunto de vídeos foi exibido em um telão curvo de cerca de 40 metros que "abraçava" o público. Neles, o partido resgatou as lutas contra a ditadura de 1964, pela redemocratização, a criação do Real e os protestos contra a corrupção no governo Lula. Uma longa série de políticos históricos que tiveram papéis decisivos nesses momentos, como Mário Covas, Ulysses Guimarães, Miguel Arraes, Leonel Brizola e, principalmente, Tancredo Neves foram exaltados nas imagens. Aécio, que foi o último a discursar, abriu sua fala ressaltando o resgate:

- Hoje, nos reencontramos com nossa própria histórias, com nossos valores e princípios, mas, sobretudo, com a nossa responsabilidade de mudar o Brasil. Ao olhar, e olhava atentamente o semblante, nos olhos de cada companheiro que aqui estava, percebi que é realmente um reencontro. (...) Nossa história irá recomeçar. E ela só terá êxito se for uma história construída a várias mãos, e as suas mãos, limpas e honradas, serão fundamentais para que possamos um dia devolver ao Brasil um governo sério, honrado e eficiente.

Defesa do legado de FH

Durante todo o evento, os tucanos defenderam que os anos de avanços do governo Lula seriam devidos às políticas exitosas de Fernando Henrique. O ex-governador de Minas Gerais focou suas críticas nos dois primeiros anos do governo da presidente Dilma Rousseff.

- Eles comemoram dez e não dois anos, porque, se tivessem que comemorar dois anos, seriam apenas três as marcas: o pibinho ridículo, irrisório e vexatório, a inflação saindo de controle e as obras de infraestrutura estagnadas. Essa é a marca do descompromisso do PT com as futuras gerações - criticou.

Desde o início da semana, a grande dúvida entre os caciques tucanos era sobre o tom que seria adotado por José Serra no evento. Pela manhã, o ex-candidato à presidência da República não compareceu à reunião dos principais líderes da legenda no apartamento de Aécio. Para aumentar a tensão, Serra foi o último a chegar ao evento tucano, cerca de meia hora depois da comitiva. Coube à juventude do partido, ligada ao mineiro, fazer afagos seguidos no ex-governador de São Paulo, com muitos aplausos e palavra de ordem em seu favor. Serra fez um discurso de pouco mais de 15 minutos, no qual pontuou problemas do país e prometeu marchar unido com os tucanos, pondo fim às especulações sobre sua saída da legenda.

- Não tenho porta-vozes, intermediários, intérpretes. Quem quiser saber o que penso só tenho uma fonte oficial, eu mesmo. E conto com a lealdade. (...) Nunca pus e não ponho minhas paixões à frente da razão. E com os olhos em 2014, e no futuro no Brasil, vou continuar a atuar em favor da unidade das oposições e de quantos entendam que é chegada a hora de dar um basta à essa incompetência, que é uma incompetência incrível. Porque eles são orgulhosamente incompetentes. Os que estamos juntos hoje, estaremos, com absoluta certeza, do mesmo lado em 2014. Os que estão aqui escolheram um lado e estão do lado da justiça social com democracia - disse Serra, citando Aécio apenas como presidente do partido.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi mais econômico nas palavras do que Serra, mas bem mais direto no apoio à candidatura de Aécio. Ele brincou que Aécio teria que ser "o mais paulista dos mineiros".

- Eles são da inflação, nós somos do Real, da moeda forte - afirmou.

Deferência a José Serra

Encerrada a convenção, Aécio elogiou a presença e o discurso de Serra. Em rápida conversa em sala reservada no local do encontro, Aécio ressaltou a unidade e admitiu que os dois tiveram divergências no passado. Apesar de ter sido lançado como candidato a presidente em 2014, Aécio disse que é cedo para falar na corrida presidencial e que isso deveria ocorrer no ano que vem. Mas tem um slogan: "Não é fazer mais, é fazer diferente para fazer melhor".

- A presença dele por si só foi muito importante. O Serra é um companheiro que tem seu DNA no PSDB, companheiro que o PSDB respeita e ele terá todo o espaço para contribuir, até para ser candidato. O PSDB não tem que antecipar escolhas. A presença dele aqui, a solidez do seu discurso só mostram o grande homem público que ele é. Tivemos problemas no passado, mas, dentro do possível, nos grandes momentos, estivemos juntos - disse Aécio.

Estiveram presentes na convenção do PSDB dois dos partidos que dividem a oposição ao atual governo no Congresso, o PPS e o Democratas. Ambos os partidos manifestaram um apoio explícito a Aécio Neves e o compromisso em aderirem à provável campanha do novo presidente do PSDB. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, lembrou que participou da fundação do PSDB e que, apesar do cenário adverso que se apresenta para a próxima campanha eleitoral à Presidência, acredita no potencial de Aécio.

- O PSDB tem como desafio enfrentar aqueles que não respeitam a democracia e nem as instituições republicanas e criar alternativas. Estivemos juntos lá em Minas, estivemos nas duas últimas eleições presidenciais e estaremos em 2014, sem nenhuma dúvida. A oposição brasileira precisa ter a unidade e entender que não será uma tarefa fácil e não está nada definido - disse Freire.

O senador e presidente do DEM, José Agripino Maia (RN) criticou a condução econômica do governo do PT e ironizou a adoção de concessões públicas:

- Por que é que eu estou aqui? Porque eu sempre estive aqui. Entre a filial e a matriz, eu fico com a matriz. E a matriz é Aécio Neves. Estivemos e estaremos juntos para fazer o Brasil crescer.

Fonte: O Globo

FH: novo líder tem que aproximar PSBD do povo

Ex-presidente diz que o futuro da legenda dependerá de Aécio

Vinicius Sassine

BRASÍLIA - Figura central nas articulações para pacificar o PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou do novo presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG), uma maior aproximação da legenda com a população. Citado em todos os discursos dos tucanos presentes e principal nome na 11ª Convenção Nacional do PSDB, Fernando Henrique defendeu mudanças na legenda e colocou Aécio - pré-candidato à Presidência da República - como o responsável por promover a transformação desejada para a sigla. No discurso de 23 minutos, ele não citou expressamente a escolha do senador mineiro para ser o candidato tucano na disputa presidencial.

- O PSDB tem de ser muito próximo do povo, da população. Hoje, as forças dinâmicas no Brasil são principalmente os jovens e as mulheres. Estes terão de ser nossos principais interlocutores. O povo precisa de carinho - disse o ex-presidente, dirigindo-se a Aécio.

Fernando Henrique aconselhou que correligionários "amassem barro com os pés", numa referência à necessidade de percorrer o país para aproximar o partido da população. Para o ex-presidente, a condução do futuro da legenda dependerá de Aécio.

- Eu sei o carinho que Aécio tinha pelo avô Tancredo Neves, que cobrava dele. Nós vamos cobrar dele também, que ele ponha essa juventude e entusiasmo a serviço de uma causa, de um novo salto que o Brasil precisa dar. As pessoas têm de sentir que não somos melhores do que ninguém - afirmou.

FH partiu para o ataque às gestões do PT, mas evitou qualificar diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando citou Lula, militantes tucanos presentes à convenção chamaram o petista de "ladrão":

- Venho ouvindo gnomos morais, gente que não tem qualificação, falarem sobre o que nós fizemos de maneira deturpada, sem ter moral, reinventando a história, porque eles jogaram na lata de lixo a história deles. Eles repudiaram a própria história e aderiram à nossa. Quando eu vejo isso, tenho tristeza, não revolta.

Fonte: O Globo

Freire diz que desafio do PSDB é enfrentar quem não respeita a democracia

Aliados da Oposição prestigiam convenção que elegeu Aécio presidente do PSDB

Representantes do PPS, novo MD, e Democratas estiveram presentes

Danilo Fariello

BRASÍLIA - Estiveram presentes na convenção do PSDB dois dos partidos que dividem a oposição ao atual governo no Congresso, o PPS, novo MD, e o Democratas. Ambos os partidos manifestaram um apoio explícito ao novo presidente do partido Aécio Neves (MG) e o compromisso em aderirem à provável campanha presidencial do tucano.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, lembrou que participou da fundação do PSDB e que, apesar do cenário adverso que se apresenta para a próxima campanha eleitoral à Presidência, acredita no potencial de Aécio.

- O PSDB tem como desafio enfrentar aqueles que não respeitam a democracia e nem as -instituições republicanas e criar alternativas. Estivemos juntos lá em Minas e estivemos nas duas últimas eleições presidenciais e estaremos em 2014, sem nenhuma dúvida - disse Freire. - As oposições estarão unidas, mas nos estados a questão ainda está muito distante. O PPS e o MD (partido que deverá resultar da fusão com PMN) vão ter uma postura oposicionista contra os antidemocratas e antirrepublicanos que estão no governo - disse Freire

O senador e presidente do DEM, José Agripino Maia (RN) criticou a condução econômica do governo do PT e ironizou a adoção de concessões públicas como alternativa para recuperação do país.

- Há dez anos atrás, FHC entregava ao PT um Brasil arrumado, democratizado, com finanças públicas arrumadas e eles assumiram o poder encabulados porque não tinham prática e traquejo. Enquanto fizeram o que fazíamos, levaram o país para frente. Quando sentaram na cadeira, passados alguns meses, botaram as garras de fora e começaram a agigantar o Estado, são 39 ministérios. (..) Imundizaram-se na corrupção do mensalão que o Brasil hoje renega. Habituaram-se a prometer o que não cumprem. Prometem transposição do rio São Francisco, prometem o trem-bala, prometem a ferrovia norte-sul e não cumprem - disse Agripino.

Ônibus de diversas partes do país chegaram para o início da convenção do PSDB e continuaram a chegar ao longo do evento. As centenas de participantes vestiam camisetas de grupos militantes, como o PSDB Mulher, a Juventude Tucana e o Tucanafro.

Segundo Roberval Uzeda, que já foi candidato a vereador pelo PP no Rio de Janeiro e é membro da ONG Favela Rio, três ônibus saíram com ontem do Rio e chegaram neste sábado pela manhã para participar da convenção. O grupo, que volta hoje mesmo ao Rio, trouxe uma bateria de escola de samba, que tocava na entrada do centro de convenções onde ocorreu o evento.

- Fizemos vaquinha nas favelas, com gente pagando cota para que viéssemos aqui, o partido só pagou o lanche que estão distribuindo aqui

Fonte: O Globo

PSDB: a democracia é um valor fundamental, a justiça social, meta do desenvolvimento

Essas são as duas diretrizes básicas do PSDB, aprovadas no dia 25 de junho de 1988 quando da sua fundação. Assinaram o Manifesto e programa de fundação desse partido, dentre outros,

André Franco Montoro
Jose Freitas Nobre
Artur da Távola
Fernando Henrique Cardoso
Mário Covas Junior
Afonso Arinos de Melo Franco
Heloneida Stuart
José Serra e muitos outros

***
A democracia como valor fundamental:

A democracia para o PSDB é muito mais que uma palavra vaga ou uma formalidade. Ela é um valor fundamental -- o estuário para onde correm as energias progressistas no mundo contemporâneo; o padrão de convivência civilizado para o qual se voltam as esperanças de homens e mulheres de diferentes países; de diferentes sistemas econômicos, de diferentes concepções políticas, filosóficas e religiosas. O primeiro objetivo do PSDB é a efetiva realização da democracia, como único regime que garante a dignidade da pessoa
humana.

Em defesa desse objetivo, o PSDB envidará todos os esforços; buscará alianças com outros partidos e forças organizadas da sociedade e se oporá a qualquer tentativa de retrocesso a situações autoritárias sejam elas dominadas por um partido, por corporações estatais ou por qualquer espécie de autocrata.

Justiça social: meta do desenvolvimento:

A suprema injustiça social é a miséria. Num país com o grau de desenvolvimento já alcançado pelo Brasil, não é só injusto, é indecente que mais de um terço da população viva na miséria absoluta. Pagar a dívida do país para com esses brasileiros, no horizonte de vida da atual geração, é o objetivo maior do projeto nacional de desenvolvimento defendido pelo PSDB.

Justiça Social não se confunde com paternalismo. A valorização social do homem se dá no exercício do trabalho produtivo. Por isso o PSDB encara a expansão das oportunidades de trabalho e emprego produtivo como um objetivo primordial de política econômica, e apoiará a implantação de programas de formação profissional e de um verdadeiro
seguro-desemprego.

Cf. Documento básicos, PSDB folheto, 1988.

PIB fraco pode conter avanço do emprego

Analistas discordam de Mantega sobre geração de postos de trabalho

BRASÍLIA - O discurso do governo de que a geração de postos de trabalho é "tão ou mais importante" do que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) não encontra respaldo na avaliação de economistas. Os dois temas estão interligados, destacam os analistas, alertando para uma mudança importante na economia brasileira, que se desloca para o eixo de serviços e comércio - setores que empregam muito, mas geram baixa produtividade, devido a pouca qualificação dos trabalhadores no Brasil. Isso põe em xeque o futuro do emprego no país e o próprio crescimento econômico, alertam os economistas.

No início deste mês, em apresentação a parlamentares do PT, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "tão ou mais importante que o PIB é a geração de empregos formais".

Para o professor Fernando de Holanda Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a baixa produtividade dos setores de comércio e serviço compromete o crescimento do PIB e agrava a situação da indústria, diante da alta dos salários.

- A renda alta gera um problema para a indústria, que perde competitividade. E o resultado disso é um modelo de crescimento baixo - disse ele.

Na avaliação do professor do Instituto de Economia da Unicamp, Cláudio Dedecca, não é possível desvincular abertura de vagas do crescimento da economia.

- As perspectivas para o emprego encontram-se estritamente associadas ao crescimento da economia. Não creio que teremos uma performance boa a médio e longo prazos de geração de empregos se a economia não for reativada - considerou Dedecca. - Mesmo que minha expectativa (de desempenho não favorável) seja contrariada, o resultado (do emprego) não deveria ser valorizado pelo governo, mas sim analisado com cautela.

O professor destacou que o resultado do emprego tem se respaldado no setor de serviços, que, na prática, não reflete crescimento do PIB, mas sim do consumo da população. Além disso, ressaltou que o grande calcanhar de aquiles, hoje, é a indústria.

O professor Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, chama a atenção para o fato de que o comércio, setor com grande peso nos serviços, já começa a demonstrar arrefecimento, com a queda por dois meses consecutivos no volume das vendas, conforme mostrou o IBGE na semana passada. Na sua avaliação, a queda no volume de vendas, resultado da alta nos juros e do endividamento das famílias, é uma notícia ruim para o mercado de trabalho. Ele destacou que um país que cresce pouco, apenas para segurar os empregos, não consegue melhorar o padrão de vida da população.

- Ter o emprego como único objetivo é pouco auspicioso - afirmou.

Fonte: O Globo

Discurso encurralado - Igor Gielow

Se o discurso de Aécio Neves ao ser sagrado presidente do PSDB ontem servir de base para a retórica de sua provável candidatura presidencial no ano que vem, os tucanos estão em apuros.

Naturalmente, é preciso dar um desconto: o mineiro se dirigia aos "seus" -fazendo de conta, é claro, que José Serra e aliados possam entrar nesse cômputo.

É notável que desta vez os tucanos não estejam escondendo o fato de que governaram o país por oito anos, que promoveram privatizações e tal. Aécio elogiar FHC é algo honesto intelectualmente; se dá ou tira voto, essa é outra história.

Mas tentar tomar para si bandeiras que o PT elabora e trombeteia há dez anos no poder é duvidoso do ponto de eficácia nas urnas.

Não se fala aqui do mérito. É óbvio, por exemplo, que o modelo dos programas de transferência de renda nasceu no governo FHC. Agora, difícil será convencer algum eleitor de que o Bolsa Família não é uma invenção de Lula -que o formatou e turbinou, com o impacto na miséria e na contabilidade de votos conhecido.

Não que Aécio tivesse para onde correr: seria pior falar muito mal de iniciativas que se provaram bem-sucedidas eleitoralmente. O governo petista é bem avaliado, apesar de seus inúmeros problemas administrativos e éticos.

Mazelas essas que foram alvo de críticas incisivas ontem, ainda que os tucanos estejam meio encurralados nessa largada.

O senador resumiu seu manifesto ao dizer que o que há de bom no Brasil surgiu nos anos FHC e em gestões tucanas, emulando de certa forma o "nunca antes neste país" do lulismo, e que essa herança está em vias de extinção devido à inépcia do PT.

Pode até colar numa faixa do eleitorado. Mesmo aí, há um problema. No discurso distribuído, mas não lido, Aécio dizia que "é preciso fazer diferente", "é possível fazer melhor". Só que faltou explicar como.

Fonte: Folha de S. Paulo

Eventos teste da eleição - Denise Rothenburg

Brasília serviu ontem de laboratório para as largadas eleitorais. Na inauguração do estádio Mané Garrincha, a presidente Dilma Rousseff. No Centro de Convenções Brasil XXI, o senador Aécio Neves, do PSDB, os dois nomes que já se apresentam em pré-campanha rumo a 2014.

As turmas de cada um também estão definidas. Ao lado de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que integra a cúpula do PMDB, o senador Gim Argello, do PTB; o governador Agnelo Queiroz, do PT, e seu vice, Tadeu Filippelli, do PMDB, a quem Agnelo chamou de "companheiro amigo".

Ao lado de Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o líder do DEM, senador José Agripino, o presidente do PPS, Roberto Freire, e alguém especial, que ainda precisa ser conquistado, mas de antemão avisa que não mudará de lado: o ex-governador de São Paulo José Serra.

O discurso e os gestos de Serra merecem um lugar de destaque nesse laboratório eleitoral. Foi o último a chegar à convenção, como que para marcar sua importância. Mas só a presença dele já era suficiente para ser lida como um apreço ao partido. Para completar, Serra ainda foi direto no que se refere a ter lado na política e a vontade de buscar a convergência com todos aqueles que estejam dispostos a "marchar na linha da decência". Talvez com alguns resquícios sobre os tempos de ministro Saúde, Serra jogou no ar ainda uma "vacina" contra intrigas, ao dizer que a melhor fonte para saber o que ele pensa é ele próprio.

Serra foi claro ao mencionar que não coloca as paixões à frente da razão e que as dificuldades não o assustam. Para bons entendedores, está claro que Serra deve ficar no PSDB, mas é preciso que lhe deixem tomar essa decisão sem pressões, deixando que ele fique em paz para se acostumar com a ideia de não ser o candidato a presidente desta vez, quando tudo parece voltado ao senador Aécio Neves, que, por enquanto, limita-se a dizer num discurso com fortes críticas ao governo — "pibinho vexatório, inflação saindo do controle e obras estagnadas" — que sua missão hoje é presidir o PSDB e construir um projeto. O primeiro passo parece que está dado: é o PSDB entender que o adversário é externo e não interno. Já não era sem tempo.

Enquanto isso, no campo adversário...

Embora o PSDB esteja com ares muito maiores de unidade do que no passado, as dificuldades para uma campanha oposicionista contra o PT de Lula e Dilma não são pequenas. A presidente desfila cheia de moral pelas arenas da Copa como o fez ontem na solenidade de inauguração do estádio. Usa e abusa das comparações da situação do país com o futebol, embora tenha bem menos lastro nessa seara do que o ex-presidente Lula. Ontem, por exemplo, ao se referir a Nelson Rodrigues, Dilma disse que o país precisa perder o complexo de vira-lata e passou então a discorrer maravilhas sobre o papel do governo no bem-estar da população.

Ninguém tem dúvidas de que, com as convenções partidárias em junho, mesmo mês de início da Copa de 2014, quem está no papel de presidente da República candidata à reeleição, no caso Dilma, terá muito mais destaque. Alguns dizem que o sucesso não será certo caso a seleção brasileira de futebol tenha um péssimo desempenho em campo. Mas essa relação não é direta. Se o governo brasileiro conseguir passar a ideia de missão cumprida por parte das autoridades, a tendência é Dilma percorrer estádios na maior felicidade, fazendo com que sua campanha presidencial termine contagiada pela paixão que o brasileiro sente por futebol.

Enquanto Dilma percorrerá estádios ao lado de Lula, o principal adversário, Aécio Neves, estará meio que trancado em salas de reuniões, uma vez que a campanha de rua só começa em julho e os programas de tevê, em agosto. Pelo menos é isso o que vem sendo calculado por atentos observadores. Daí, o paralelo entre os eventos de ontem e as perspectivas de junho do ano que vem, diante da conjuntura de hoje, obviamente. Ela estava inaugurando um estádio, foi ao campo, pisou no gramado. Aécio se manteve num ambiente fechado, à meia luz, bem produzido como uma grande convenção americana. Porém mais restrito.

Não por acaso, Fernando Henrique Cardoso repete diuturnamente que o PSDB precisa se aproximar das pessoas. Afinal, hoje elas estão mais para os estádios do que para as salas fechadas. Aliás, vale lembrar que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmava ontem com todas as letras que "essa nova Roma (Brasília) tem hoje seu novo Coliseu ( o novo Mané Garrincha)". Fazemos votos no sentido de que o próximo passo por aqui não seja o Brasil voltar aos tempos do Império.

Dilma desfila cheia de moral pelas arenas da Copa . Aécio permanece em recintos fechados. Essa será a largada de 2014, ensaiada ontem no centro de Brasília

Fonte: Correio Braziliense

O lugar de Aécio - Tereza Cruvinel

Nos últimos meses, o senador, ex-governador e ex-presidente da Câmara Aécio Neves ouviu, com a paciência das montanhas de Minas, conselhos e cobranças para elevar o tom ou aumentar a velocidade de seus movimentos como pré-candidato a presidente. Ignorou gentilmente os que o acusaram de ter pouco apetite para a disputa. Buscava as condições básicas para ser candidato, obtidas na convenção de ontem, que o elegeu presidente do partido e lhe deu maioria indiscutível nas instâncias decisórias. Agora, começa de fato a caminhada, avisou ele. Aécio queria, além do comando, a renovação dos quadros dirigentes e mudanças em sua gestão política e operacional. Tendo agora a faca e o queijo, seu desafio é ocupar o lugar que lhe pertence na disputa. Pois, diferentemente de Eduardo Campos e Marina Silva, egressos do lulo-petismo, Aécio é, até agora, o único candidato que tem a marca da oposição no DNA. Marina e Campos trafegarão na chamada terceira via, com roupa e discurso que não os distinguirão nitidamente do PT.

Em relação a Campos, Aécio tem não apenas a vantagem do DNA. O PSDB é, sem dúvida, muito mais estruturado e enraizado que o PSB. Governa estados com muito maior peso econômico, como São Paulo e Minas, vale dizer, máquinas mais potentes para enfrentar o equipamento federal. Até onde se enxerga, os governadores estão comprometidos com sua candidatura. No PSB, nem todos querem a candidatura de Campos, preferindo a zona de conforto do governismo. O empresariado, é verdade, tem simpatia pelos dois, especialmente por aqueles que não gostam do estilo voluntarioso de Dilma. Mas eles, sabemos como agem: colocam um chapéu em cada cadeira, dão dinheiro a todos, proporcionalmente aos índices nas pesquisas. Não querem ficar mal com quem ganhar, seja quem for. Marina tem mais dificuldades para romper o mimetismo com o PT — seus eleitores um dia foram petistas — e seu partido pode até não sair do papel.

Na presidência do PSDB, Aécio planeja investir em tecnologia para a integração de todas as regionais em rede. Quer fortalecer instâncias como as secretarias da Mulher e do Meio Ambiente. Promete correr o Brasil propondo uma nova agenda para o país. "O PT não tem o monopólio do diálogo com a sociedade. Queremos ouvir e ser ouvidos e apresentar nossa proposta de mudança." Quando se pergunta que mudança é essa, o apetite verbal aumenta. Até aqui, ele foi quase monotemático, criticando o centralismo fiscal da União e as perdas de estados e municípios. Agora, ataca a "contínua dilapidação da herança bendita da estabilidade", a seu ver, representada pelo descuido com a inflação, a complacência fiscal e as intervenções no câmbio. Afirma que Dilma foi uma decepção como gestora e ataca as políticas sociais, o que, em outros tempos, a oposição evitava como heresia. "O PT de fato alargou e consolidou a rede de proteção social hoje existente, mas ela nasceu no governo Fernando Henrique. Nós vamos combater verdadeiramente a pobreza, não apenas administrá-la para lucrar eleitoralmente, como faz o PT", diz Aécio.

Certamente, Aécio e o PSDB sabem que não será fácil enfrentar, no cargo, uma presidente popular e favorita na disputa como Dilma. Mas, na luta política, joga-se para ganhar e também para acumular forças. E quem acumula é quase sempre quem se colocou claramente na oposição, como fez o próprio PT no passado, e não os que trafegam na terceira via.

Em pauta

Passado o furacão da MP dos Portos, o Congresso deve examinar outros assuntos sensíveis para o povo, não para o capital.

1. A Câmara precisa retomar a votação da nova lei antidrogas, de autoria do deputado Osmar Terra (PMDB-RS). Ponto polêmico, a internação compulsória de dependentes químicos. O lobby da liberação da maconha e de drogas leves tentará pegar carona. Aparentemente, sem chance.

2. Mas antes, os deputados devem votar a lei, que vem aprovada do Senado, alterando regras para a criação e a fusão de municípios. As assembleias legislativas recobram o poder de legislar sobre o assunto, mas dentro de regras que limitam a proliferação de municípios em busca das verbas do FPM.

3. Depois das domésticas, os garçons. Na agenda do Senado, projeto do hoje prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado, relatado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), cria regras para a distribuição, entre os garçons, daqueles 10% que todos nós pagamos sobre a dolorosa conta, nos bares e restaurantes. Na era do cartão de crédito, a maioria dos estabelecimentos não lhes repassa a gorjeta.

Fora da pauta

A indústria automobilística ganhou desonerações fiscais que alcançam os R$ 20 bilhões. Com a desoneração da folha de pagamentos de 42 setores, o governo renunciará a R$ 35 bilhões, entre 2013 e 2014, sem falar na isenção da cesta básica e em outras bondades. Autor de projeto que zera os impostos para todo tipo de medicamento (como acontece na Inglaterra, no Canadá e em outros países), o deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF) consultou o Ministério da Fazenda sobre o impacto fiscal que ele teria — R$ 3 bilhões, respondeu a Fazenda. "Com essa renúncia, que representa apenas 0,11% do Orçamento, toda a população seria beneficiada com a redução de 35% no preço dos remédios. E, diferentemente do que ocorre com os carros, o governo poderia fiscalizar o repasse da inseção, pois já controla o preço dos medicamentos", diz Reguffe. Mas o projeto está parado. A base não o abraçou como à MP dos Portos.

Mais verdade

Morreu na cadeia o ex-presidente Videla, carrasco argentino. O inferno é pouco, disse o jornal Página 12. Aqui, agora é que a Comissão da Verdade começa a acertar o rumo. Pedirá à presidente prorrogação de tempo de funcionamento, que acaba em maio de 2014.

Diferentemente de Eduardo Campos e Marina Silva, egressos do lulo-petismo, Aécio é o único candidato que tem a oposição no DNA

Fonte: Correio Braziliense

Erva daninha - Dora Kramer

A conversa será nessa semana e o tom, definitivo: a presidente Dilma Rousseff cobrará do vice-presidente, Michel Temer, que o PMDB se decida entre os meios e modos de atuação do líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha, e o compromisso de conferir estabilidade política ao governo.

Cunha é visto como uma erva daninha a ser extirpada o quanto antes. Não só pelos danos já causados, mas principalmente pelo potencial de provocar prejuízos futuros. Uma informação que chegou aos ouvidos palacianos determinou a urgência na cobrança ao PMDB: Cunha estaria se preparando para tentar se eleger presidente da Câmara.

Um mal, na visão do governo, a ser cortado pela raiz. O problema é como fazer. Levar a bancada a tirá-lo do cargo parece missão impossível, pois é evidente o apoio da maioria dos 8o deputados pemedebistas ao líder. A ideia, então, é minar a liderança dele, derrotá-lo, esvaziar sua influência fazendo ver ao partido que há mais desvantagens que vantagens na manutenção do clima de tensão permanente.

Segundo avaliação do Planalto, na maratona pela aprovação da MP dos Portos Eduardo Cunha afrontou o governo, confrontou a presidente, apresentou-se como representante dos interesses contrariados pela medida provisória, contribuiu para reanimar a oposição e quis mandar um recado de que comanda o processo político no Congresso.

Dilma vai cobrar de Temer que PMDB decida se fica com líder ou com o governo

Oficialmente, ressalta-se a vitória final da medida provisória. No paralelo, contudo, admite-se que houve falha. Os articuladores palacianos subestimaram a ousadia, a capacidade de articulação, o destemor, a esperteza e, por que não dizer, a inteligência de Eduardo Cunha.

Só que na concepção do Planalto tudo tem limite e o episódio deve ser tratado como um acaso extremo” do qual o PMDB precisa saber recuar. Ou, então, dizer com clareza que está na oposição. Com todos os desdobramentos daí decorrentes, inclusive a renovação da aliança e a vaga de vice na chapa pela reeleição em 2014.

Em miúdos bastante objetivos: o partido deve “falar grosso” com o líder na Câmara e fazer ver a ele que daqui em diante é necessário restabelecer regras mínimas de convivência entre aliados. “O que não se pode aceitar é um jogo de confronto constante”, diz um ministro que recusou o chamado de Eduardo Cunha para uma conversa, altas horas da noite na terça-feira, quando a MP dos Portos enfrentava dificuldades para obter quórum na votação de destaques e emendas.

“Ele se posicionou como todo poderoso, acreditando que daria as cartas da negociação. Ãpresidente desde o início foi muito clara: seria melhor perder e depois recorrer a decretos do que ceder além do limite do razoável.”

Na visão do governo, Eduardo Cunha foi esperto ao reunir uma “bancada própria” formada por sindicalistas, empresários e políticos contrários a esse ou àquele ponto da MP. Capitalizou todas as contrariedades e apostou no enfrentamento.

Agora a presidente quer saber se fez isso por iniciativa própria ou se tinha o respaldo da direção do partido. “Quem deu a Eduardo Cunha a certeza de que poderia medir forças com o governo?” é uma das perguntas cuja resposta Dilma vai buscar obter na conversa com seu vice Michel Temer.

Terá sido um voo solo ou um jogo combinado? A mecânica do confronto vai se repetir, é assim que o PMDB pretende agir? Se for, o governo se diz disposto a repensar tudo. Até mesmo a agenda com o Congresso e a relação com seu principal parceiro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

"País já vive o 1º turno", diz Sérgio Guerra

Ciro Carlos Rocha e José Accioly

Há quase seis anos na presidência do PSDB, o deputado Sérgio Guerra passa o comando do partido ao senador e presidenciável Aécio Neves (MG) e faz um balanço positivo. Fala de 2014 e critica a pressão, segundo ele sem limites, do governo Dilma e do PT para prejudicar novos projetos presidenciais, como o do governador Eduardo Campos (PSB). Para ele, isso já representa o "primeiro turno" de 2014. Guerra aposta que várias candidaturas levarão a oposição ao turno decisivo, torce pela candidatura Eduardo, mas alerta que ele descerá à "mortalidade", tendo dificuldades até por ser ainda desconhecido. "A minha impressão é que chegaremos (com Aécio) no segundo turno", analisa.

JORNAL DO COMMERCIO - Como projeta o quadro sucessório nacional de 2014?

SÉRGIO GUERRA - Primeiro, se Eduardo (Campos) vai ser candidato (a presidente da República). Por muito tempo levantou-se a questão se Aécio (Neves) é candidato ou não. É muito mais a questão se Eduardo é candidato ou não é. Eduardo sendo candidato é um mapa eleitoral-político. Eduardo não sendo é outro. Não sendo candidato o provável é que ele restabeleça a aliança com o PT. A política volta a ser mais lógica, no sentido de ser tradicional. Eduardo sendo candidato não tem mais lógica.

JC - Qual a variável nacional mais relevante desta próxima eleição?

GUERRA - A variável mais relevante é Eduardo. A eleição brasileira tem duas diferenças em relação à passada. A primeira é o fato de que, com a candidatura de Eduardo, com a de Marina - não mais com 3%, como ela começou em 2010 -, o mapa das campanhas é muito diferente. Uma coisa era Dilma enfrentar José Serra (ex-candidato, em 2010) no Brasil inteiro. Outra coisa é a Dilma enfrentar Eduardo no Nordeste, Aécio no Sudeste e, ainda por cima, Marina fortalecida e num patamar diferente. É uma eleição muito mais múltipla do que foi a outra. Segundo é que uma candidatura no Nordeste divide o Nordeste. E o Nordeste é que fez a hegemonia do PT nas últimas duas eleições. De repente, a gente ganhava as eleições em São Paulo, mas o Maranhão e o Piauí tiravam a diferença. Dessa vez não tem Dilma com 70%, 60% no Nordeste. É Dilma com muito menos. E o eleitor do Nordeste estará dividido. Por outro lado, é óbvio o crescimento do PT no Sudeste. E esse crescimento não sei se equilibra, mas é problema para as oposições. Não é problema para Aécio.

JC - Uma candidatura de Eduardo vai afetar mais quem no Nordeste? Dilma ou a oposição?

GUERRA - Se Eduardo for candidato a presidente, Dilma terá entre 25% a 30% de votos no Nordeste. É o que os ensaios dizem. Tem gente que (diz que) a conversa é outra, que ela é muito forte no interior, mas acho que 25% a 30% é um número aceitável. Se ela tiver isso, Eduardo vai ter entre 50% a 60%. E Marina e nós, 20%. Isso é o raciocínio de Pernambuco.

JC - Mas no Nordeste o PSB governa quatro dos nove Estados.

GUERRA - Você acha que na Paraíba Eduardo vai ter a mesma votação que tem em Pernambuco, com um mundo todo a favor dele? Na Paraíba, no máximo, ele pode empatar com Dilma. Nós temos um candidato com força mais forte, que é Cássio (Cunha Lima, senador). Em Alagoas, somos o governo do Estado e da prefeitura. Em Sergipe, o DEM é tudo e o PT não é nada. Na Bahia, a mesma coisa. No Ceará, Eduardo não tem o PSB. No Rio Grande do Norte, o forte é o PMDB e o saldo do DEM, com José Agripino. Então, não sei (a razão) dessa campanha (de Eduardo). Nada pode ser previsto se ele vira fenômeno, se cria uma onda. Aí não. Aí tudo pode ser superado. (Fernando) Collor ganhou (em 1989) sem apoio de ninguém, mas não eram eleições casadas. E a eleição é casada. Eleições casadas inibem esse negócio do fenômeno. De toda forma, a última eleição foi casada e Marina teve 20%.

JC - Se cria uma áurea em torno de Eduardo, apontando-o como um gestor moderno. Em recentes entrevistas, o governador opina sobre o funcionamento de agências reguladoras, que, na opinião dele, têm ser mais independentes, mas a Arpe aqui não tem um concurso público há anos e é aparelhada. O que acha disso?

GUERRA - Eduardo vai para o campo da mortalidade. Isso já começou a ser atirado. Quem vai ter esse voto higiênico, inatingível, é Marina, que é uma freira. Tem uma vida fora de tudo, pastora, para os pobres. Ela vai ter esses votos, que é um pedaço do eleitorado que é grande hoje, tamanho ou maior do que o voto religioso. E ela ainda alinha um pedaço do voto religioso. Acho que Eduardo tem muita energia, tem muita liderança, um grande candidato e não sei se ele é candidato... Ele está antecipando muito tempo quando o lógico é ele ser candidato em 2018, não em 2014. Acho que ele fez muito até agora, tem muita competência e muita coragem.

JC - A definição da candidatura de Eduardo é vai balizar o PSDB?

GUERRA - A candidatura de Eduardo é relevante no geral. O Brasil estará no segundo turno das eleições presidenciais se Eduardo for candidato a presidente. Isso é absolutamente claro. Uma eventual candidatura de Eduardo, associada à candidatura de Marina, que, dessa vez, tem 10% ou 20%, esse cenário de dois candidatos que vêm da base do governo, somados à candidatura da oposição criam uma marca necessária para levar a eleição para o segundo turno. Nos próximos meses dirão se a próxima eleição para presidente da República poderá ser resolvida no primeiro turno ou será apenas resolvida no segundo turno. A minha impressão é que nós estamos no segundo turno. Estamos hoje garantidos que vá para o segundo turno. O PSDB torce pela candidatura de Eduardo, o PSDB torce pela candidatura de Marina, o PSDB torce por candidaturas no plural. Para nós do PSDB é muito importante que no Brasil tenha múltiplas candidaturas, vários pontos de vista.

JC - Essa "onda Eduardo", de fato, existe?

GUERRA - Há sinais de que Eduardo tenha mexido com índices de intenção de voto nas últimas pesquisas. É evidente e há uma boa vontade com a candidatura de Eduardo. Ele criou uma expectativa favorável à candidatura dele em setores brasileiros muito importantes, como o empresariado. Falar de uma onda é exagero, mas de uma expectativa favorável é sensato.

JC - O senhor acredita governo vai tentar barrar outras candidaturas para reeleger Dilma?

GUERRA - O governo vai fazer e está fazendo, e não tem limites para fazer, para ganhar essa eleição por W.O., para tirar Eduardo da parada, para tirar os partidos da oposição, para criar dificuldades a Marina. Na verdade, eles estão disputando o primeiro turno agora.

JC - Há uma reclamação na base da presidente Dilma que diz que ela não soube lidar com questões políticas. Há espaço dentro da base de Dilma para uma terceira via?

GUERRA - Não, porque a base aliada da Dilma ou é real, estruturante, ideológica ou fisiológica. Mais da metade dela é fisiológica. Essa base fisiológica não vai para um candidato porque ele é bonito, ou porque ele é bom. Vai se ele tiver dinheiro, poder, emprego, capacidade de fazer as coisas. Então, quem vai ficar com o PR. Eduardo vai ficar com o PR? O PMDB já ficou com Dilma. PR e esses partidos ninguém tem ninguém, por enquanto.

JC - E as "dissidências"?

GUERRA - Essas dissidências são muito mais episódios parlamentares do que sociais, de conteúdo social, real. Isso não impede que Eduardo vire um fenômeno, mas não é isso o normal. O normal é que ele desça para o campo da mortalidade. E vão atirar nele. Já começaram a atirar nele. O candidato que vai ter o voto higiênico é Marina Silva.... Os que votam contra à política, votam por uma outra política, votam em Marina Silva.

JC - Como vê a figura política de Lula?

GUERRA - (Miguel) Arraes (ex-governador) em Pernambuco, lá trás, foi um dos poucos políticos a amparar sua liderança política ao conteúdo social. Havia uma aliança social com Arraes. Setores da baixa renda e da população mais pobre tendiam a votar nele. Atualmente, com Lula há uma liderança social ainda, na medida em que ele é capaz de generalizar programas de atendimento social e transferir renda às populações mais pobres. Ele tem uma ampla legitimação de amplos setores do país. E todo o movimento das últimas eleições provam que o eleitorado do PT e do Lula é mais poderoso nas áreas de baixa renda e menos significativos nas áreas mais críticas, nas quais têm as centralidades da cultura e opinião pública. Se você examina o mapa eleitoral para presidente da República vai ver que Serra teve resultados mais favoráveis, assim como Marina, nos eleitorados menos dependentes de programas sociais, de aparelhos sindicais, da máquina pública e mais da opinião pública. Enquanto que o eleitorado mais petista sofre a influência do fenômeno social Lula e é mais denso e amplo nos setores mais dependentes e mais pobres.

JC - O PT e Lula fomentaram esse eleitorado?

GUERRA - A transferência de renda nos governos do PT, que começou conosco e foi ampliada por eles, aliado a uma poderosa propaganda, criou um ambiente favorável ao PT e ao ex-presidente Lula nos setores sociais mais de periferia.

JC - A força eleitoral de Lula não é a mesma de antes?

GUERRA - A força eleitoral de Lula continua muito poderosa, mas as condições gerais do País estão sendo alteradas e todas as iniciativas tomadas são no sentido de ganhar tempo, e não de resolver os problemas. Os limites estão ao alcance da vista. Não dá mais para insistir no endividamento por quem já deve tanto. A população começa a ficar endividada, setores da sociedade estão vendo claramente que suas previsões não se confirmam.

JC - Diante desse cenário, como se explica o crescimento da popularidade da presidente Dilma?

GUERRA - Há vários fatores. Um movimento poderoso de propaganda. A propaganda do governo atual e do ex-presidente Lula foram muito fortes. Pacotes de bondades estão sendo distribuídos. O fato de que a oposição se restringe ao ambiente parlamentar político. Não existe uma oposição social organizada, oposição peitada e enraizada na sociedade. A oposição fica restrita a pronunciamentos e manifestações politicas que se dão no Congresso. E há uma situação óbvia: o governo atual e, o de antes, aparelhou de maneira brutal os movimentos sociais. Há todo um esforço de silenciamento dos movimentos sociais. Há muito tempo não se faz greves em fábricas e a CUT continua recebendo grandes dotações públicas. As greves que se têm notícias são de funcionários públicos, não são greves de operários ou trabalhadores. São greves deles insatisfeitos com eles mesmos.

JC - Comentou-se que José Serra poderia deixar o PSDB pode falta de espaço. Acredita que ele poderá vir deixar o partido?

GUERRA - O José Serra dos últimos 20 anos foi candidato a presidente da República duas vezes pelo PSDB. Foi ministro mais de uma vez pelo PSDB. Foi candidato a governador e governador pelo PSDB. Foi candidato a prefeito de São Paulo duas ou três vezes pelo PSDB. Foi senador pelo PSDB. Não há ninguém que tenha mais espaço no PSDB do que José Serra. Essa versão de que Serra não tem espaço no PSDB é uma falsa versão. Nesse instante, ele acaba de disputar uma eleição para prefeito e, seguramente, é alguém que pode disputar qualquer eleição. Serra é um político nacional, com aceitação nas pesquisas e que o partido valoriza bastante. Agora, nesse instante o candidato que une o partido para ser candidato a presidente da República é o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves. Não vejo razão nenhuma para Serra deixar o PSDB e nem, na minha opinião, ele vai sair. Se ele sair, vai ser uma grande perda para nós.

JC - Houve uma retomada da atuação do ex-presidente Fernando Henrique pelo PSDB após tê-lo esquecido. O partido está unido?

GUERRA - Fizemos uma pesquisa nacional e nela verificamos que nossas bandeiras, de alguma forma, foram tomadas de nós pelos governos que sucederam os de Fernando Henrique. Até a própria Lei de Responsabilidade Fiscal, que é uma lei mais hermética, uma parcela da sociedade não atribuía ao governo Fernando Henrique, mas aos governos do PT. O próprio Real, em grande parte, ainda vivia a ilusão de que não é atribuída ao PSDB. Sem falar em dezenas de outras conquistas. Programas sociais, por exemplo, que começaram por nós e foram integralmente, ou quase, atribuídos ao PT.

JC - O PSDB não valorizou o seu legado?

GUERRA - O que se deu, na prática, é que o PSDB não valorizou o seu legado, especialmente nas duas últimas eleições para presidente. Eleições presidenciais são momentos em que a sociedade reflete sobre política e sobre os programas partidários. Nas duas últimas campanhas nós não valorizamos o legado de um governo que nós construímos. Essa constatação só se deu agora e até pela presidente Dilma. Ela própria nos primeiros momentos de seu governo reconheceu com toda a clareza o legado do presidente Fernando Henrique e depois recuou. O reconhecimento do nosso legado é parte da recuperação do nosso partido. Nós só temos futuro se nós tivermos passado. O que nos diferencia da maioria dos partidos é o nosso passado. E o que nós fizemos, e se não houver uma exposição muito clara, vai sempre correr o risco de sempre sermos confundidos por outros. O PSDB se diferenciará pelo que já fez. E o que nós fizemos não valorizamos.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)