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A cadeira onde se senta é maior do que ele
Faz mal quando enfraquece deliberadamente os mecanismos de controle sobre o meio ambiente, suspende a demarcação de terras indígenas e ameaça liberar a mineração em áreas protegidas só para ser coerente com o que sempre defendeu e agradar aos seus devotos.
Faz mal e envergonha o país quando por suas posições atrasadas sobre a natureza é descrito pelo The New York Time, o jornal mais importante do mundo, como “o menor e o mais insignificante chefe de Estado”. Jornais da Europa preferiram chamá-lo de “câncer”.
Faz mal quando alinha sem condições os interesses nacionais aos interesses americanos, e rasteja para obter favores do presidente Donald Trump – entre eles, o de aprovar a indicação do seu filho para embaixador. Sequer se constrange em imitá-lo, embora sem sucesso.
Faz mal quando governa de preferência para os ricos, como se este não fosse um dos países de maior desigualdade e da mais perversa concentração de renda do planeta, onde mais de um terço da população simplesmente carece de qualquer tipo de amparo social.
Faz mal quando discrimina os governadores do Nordeste, a região que resiste aos seus encantos, chamando-os de “paraíbas” e ordenando a ministros para que não atendam às suas demandas, como se tivesse sido eleito só para servir bem e privilegiar a maioria que o elegeu.
Faz mal quando governa sob o signo do enfrentamento permanente com adversários e eventuais aliados, destratando-os sempre que enxerga nisso a chance de alimentar a fama de cavaleiro corajoso e solitário que segue em frente por cima de pau e de pedra.
Faz mal quando só recua em sua escalada retórica e agressiva ao dar-se em conta de que já foi longe demais e já produziu estragos em excesso. Mesmo assim está sempre pronto a retomá-la porque é da sua índole ser assim, e não parece disposto a mudar.
Faz mal quando põe a família – a sua, naturalmente – acima de tudo, inclusive do país, e só abaixo de Deus, aparelhando o Estado para beneficiá-la e tomando decisões para beneficiá-la em escandalosa afronta ao que determinam as leis.
Faz mal quando para defender um dos seus filhos, Flávio, o senador investigado por suspeita de corrupção e de desvio de dinheiro público, apoia uma decisão judicial equivocada que bloqueia o avanço do combate à corrupção com o qual na verdade não tem nenhum compromisso.
Faz mal quando por isso interfere na autonomia de organismos como a Receita Federal, Polícia Federal e outros, porque os considera antes de tudo organismos do governo e não do Estado, e, portanto, sujeitos à sua vontade e à vontade da sua família a quem devem proteger.
Faz mal quando mente à farta, espalha notícias falsas, ataca repetidamente a imprensa e tenta dificultar sua jornada com a esperança de domesticá-la em breve. Porque a liberdade de expressão para ele só é suportável se avalizar o que ele pensa e o que ele faz.
Faz mal quando agride fatos, como no caso dos números sobre a destruição da Amazônia, por exemplo, e se empenha em reduzi-los a uma mera questão de opinião. Como se fatos, com base em evidências e provas científicas, não fossem fatos porque ele não os reconhece.
Por fim, faz mal quando testa todos os limites da democracia com a intenção de alargar ao máximo possível os seus próprios poderes, a ponto de o presidente da Câmara dizer como disse na última sexta-feira que o país vive em um Estado “quase totalitário”.
É por ter feito tanto mal em tão pouco tempo que a avaliação do seu governo, e a dele pessoalmente, chama a atenção. Nunca na história deste país desde a redemocratização em 1985, um presidente da República desvalorizou-se com tamanha rapidez. Merece.