A caminho da quarta disputa pela Prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB) minimiza o peso da popularidade do ex-presidente Lula na campanha de seu escolhido, Fernando Haddad (PT). "Infalível ele não é", diz em entrevista a Daniela Lima, lembrando que já derrotou dois candidatos apoiados por Lula.
Serra oficializa hoje sua candidatura, ao lado de Gilberto Kassab (PSD).
Entrevista José Serra
Ter cara de candidato à Presidência não é um problema, ajuda
"É um fator a mais para votarem em mim", diz Serra, que lança hoje sua 4ª candidatura a prefeito de SP
Daniela Lima
SÃO PAULO - Aos 70 anos, José Serra (PSDB) se prepara para enfrentar a quarta campanha à Prefeitura de São Paulo e mira como principal adversário o petista Fernando Haddad, de 49, pinçado à disputa pelo ex-presidente Lula.
Em entrevista, o tucano diz não "menosprezar" o peso do apoio de Lula, mas afirma que o ex-presidente não é "infalível". "Em 2004, o Lula apoiou a Marta [Suplicy] e eu ganhei. Em 2006, ele apoiou o [Aloizio] Mercadante e eu ganhei. Em 2008, ele apoiou a Marta e o [Gilberto] Kassab ganhou. Infalível ele não é."
Serra oficializa sua candidatura hoje, de braços dados com o prefeito Gilberto Kassab (PSD). Ele defende a gestão do aliado e credita a reprovação do prefeito à impressão -"injusta", assegura-, de que Kassab abandonou a cidade para criar o PSD.
Serra trabalha para afastar as críticas por ter deixado a prefeitura em 2006, diz já não sonhar com a Presidência e tenta minimizar o impacto da imagem de presidenciável.
"O fato de acharem que posso ser presidente não é um problema, é um fator a mais para votar em mim. Quem pode mais, pode menos."
Folha - Como foram os dias que antecederam a decisão de se candidatar a prefeito?
José Serra - Quando você tem uma decisão fundamental a tomar a respeito de candidatura, você não pode ser ambíguo. Ou você é, ou você não é. Foi uma decisão essencialmente solitária, levando em conta as diversas opiniões e as circunstâncias.
Por que resistia a disputar?
Disputei uma eleição muito recente, em 2010. Achei que devia ficar um período maior cuidando da minha vida. Mas, na política, você não é dono das circunstâncias.
Seus adversários citam o abandono do prefeitura em 2006, dizem que usou o cargo de prefeito como trampolim.
Minha saída deveu-se a uma circunstância: a necessidade de manter o governo do Estado nos eixos, inclusive para a cidade. A cidade tem duas prefeituras, a municipal e a estadual. O governador é um coprefeito. Isso já foi usado em 2006 e 2010. Inutilmente, uma vez que venci em São Paulo.
O sr. estava concentrado em questões nacionais. Tratará novamente de temas do país?
Não dá para ter dois sonhos ao mesmo tempo, num mesmo plano da vida. Meu sonho é ser prefeito. Então, não estou sonhando mais com a Presidência. Não consigo ter dois sonhos simultâneos.
O sr. vive uma ironia. Em tese, todo político gostaria de ter cara de presidenciável, mas isso se tornou um problema para o sr.
O fato de que as pessoas acham que eu posso ser presidente não é um problema, é um fator a mais para votar em mim para prefeito. Quem pode mais, pode menos.
A prefeitura é menos?
Como tarefa é dificílima, mas é menos que a da República. A nação paulistana para mim é um desafio tão grande quanto é a nacional.
Vai defender a gestão Kassab?
A partir do final dos anos 80, São Paulo teve três estilos de administração: Maluf-Pitta; o PT, com Erundina e Marta; e PSDB e DEM, comigo e o Kassab. A comparação dos nossos oito anos com os dos outros é amplamente favorável, sob qualquer indicador: financeiro, saúde, educação. Não há paralelo.
E a reprovação do prefeito?
Creio que vai haver maior reconhecimento a respeito da administração do Kassab, mas atribuo [a reprovação] ao fato de que ele se empenhou na criação de um partido, e a população vê o prefeito como um síndico. Como o partido foi um dos centros do noticiário, pode ter dado a ideia de que ele estava alheio à cidade, o que é errado, injusto. Política todos fazem. Ninguém fez mais do que o Lula.
A criação do PSD pode ter dado a sensação de que o prefeito estava ausente da cidade?
Imagina alguém no trânsito engarrafado, liga o rádio e está lá o prefeito falando do partido. A pessoa pensa: "Ele devia estar cuidando do trânsito". Agora, de fato, isso não subtraiu tempo do Kassab na administração da cidade. O próprio Kassab fará esse balanço, relembrará o que foi feito em cada área.
Haddad foi criticado pela aliança com Maluf, mas o PSDB também negociou com ele.
Foi uma negociação que não deu certo [com o PSDB]. E deu certo com o PT, porque certamente fizeram uma oferta que ele considerou boa.
O sr. tem aliança com o PR, sigla acusada de corrupção no Ministério dos Transportes e envolvimento no mensalão.
O fenômeno do mensalão é eminentemente petista. Mas [com o PR] trata-se de uma aliança voltada para a cidade. Eles participam do município, dão apoio ao governo do Estado. Terão presença no governo, no que depender de mim. Com pessoas que obedecerão a nossa orientação.
Chegou a conversar com o Valdemar Costa Neto (PR-SP, um dos réus do mensalão)?
Uma vez. Depois que o entendimento já havia sido feito. A mim, ele não fez nenhuma reivindicação.
Qual o impacto que o mensalão pode ter na eleição?
É uma incógnita. Mas para mim a questão do mensalão é de natureza jurídica, não política, não eleitoral. Sinceramente não estou preocupado com o efeito nas eleições.
Kassab esteve com o ex-ministro José Dirceu para tratar de alianças com o PT em outras cidades. Como avalia essa aproximação dele com o PT?
A política brasileira tem essas particularidades. Há uma heterogeneidade. No que se refere ao Kassab, nossa relação tem a ver com São Paulo. Agora, o partido dele tem orientações diferentes em diversos lugares.
Mas o sr. tem 100% de confiança no Kassab como aliado?
Há uma relação pessoal muito boa. De certo não será a política que nos afastará.
Como está o empenho do Alckmin na sua campanha?
Dedicado, mas moderado em função do cargo.
Falam na possibilidade de problemas por ele ter sido derrotado pelo Kassab em 2008.
Não houve nada disso até agora. Quero lembrar que em 2009 Alckmin se integrou ao governo, o que para mim foi motivo de orgulho. Em 2010 caminhamos juntos.
Lula tem se empenhado muito por Fernando Haddad.
Ele indicou e fez o candidato. Se empenharia em qualquer circunstância.
Que peso acha que o apoio do ex-presidente pode ter?
Só os resultados vão mostrar. Em 2004, Lula apoiou a Marta e eu ganhei. Em 2006, ele apoiou Mercadante e eu ganhei. Em 2008, apoiou a Marta e o Kassab ganhou. Em 2010, apoiou a Dilma e eu ganhei aqui na cidade. Infalível ele não é. Agora, longe de mim menosprezar o peso que ele possa ter.
Há um caso de corrupção na prefeitura, na Aprov. Hussain Aref Saab, que dirigiu o órgão do início de sua gestão, em 2005, até 2011, foi indicado pelo Kassab. Chegou a conversar com o prefeito sobre isso?
Nunca. Um prefeito assina milhares de nomeações. É impossível que acompanhe caso por caso. Eu nomeio um secretário e ele nomeia seus adjuntos, chefe de gabinete... Nunca ninguém me falou desse cidadão.
Depois do caso revelado, conversou com Kassab?
Ele me disse o que disse publicamente: que, assim que recebeu uma denúncia, passou a investigar.
Que providências pretende tomar, se eleito?
A ocasião faz o ladrão. Tem que eliminar a ocasião. O comportamento humano é impossível de prever. Tem que limitar possibilidades de transgressão e roubalheira.
O problema da cracolândia ainda não foi solucionado.
Vamos fazer algo parecido com o que fizemos com o cigarro. Campanha educacional, trabalho massivo. A intervenção [no início do ano] produziu efeitos positivos, mas é limitada.
Já tem o esboço de algumas propostas para a cidade?
Vamos aumentar a densidade das regiões e, ao mesmo tempo, fortalecer os bairros. Vamos ampliar a reciclagem, acabar com as áreas de risco e duplicar a operação delegada. Na área social, vamos ampliar a rede de cuidadores e criar um programa para o idoso. Poderá ser chamado de Terceira Idade Paulistana. E vamos estudar replicar o Expresso Tiradentes.
Tem projetos se ganhar, mas está preparado para perder?
Ninguém que entra numa disputa para ganhar está preparado para perder.
O sr. já fez uma reflexão sobre os motivos que levaram à sua derrota em 2010?
Mais ou menos. Eu não me detenho muito nas análises a respeito de 2010 porque é muito pouco tempo. Vez por outra vem uma ideia, vem algo do que aconteceu, enfim. Mas eu realmente não me prendo a isso. Mas é evidente que ao longo do tempo vai se decantar uma visão própria minha a esse respeito.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO