segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É sensata iniciativa da Fazenda para plataformas digitais

O Globo

Proposta do governo segue regulação da concorrência adotada na UE. Seria uma lástima se parasse no Congresso

As diretrizes do Ministério da Fazenda para regular a competição entre as grandes plataformas digitais são sensatas e devem ser aprovadas quando forem analisadas no Congresso. Como mostra a experiência internacional, a ausência de regras é perniciosa à livre concorrência e ao interesse dos consumidores. Controladoras dos mercados em que atuam, as plataformas sufocam a concorrência em benefício próprio. Privilegiam produtos delas mesmas, forçam a assinatura de acordos de exclusividade em vendas casadas e compram concorrentes antes que virem ameaça. Ao propor o fim do vale-tudo no mercado digital, a Fazenda pretende colocar o Brasil no rol dos países com os melhores padrões de regras concorrenciais.

A proposta de regulação tem como inspiração a experiência da União Europeia (UE). Estabelecida recentemente, a lei europeia determina regras que as principais plataformas são obrigadas a seguir. Estão sujeitas a elas Alphabet (dona de Google e YouTube), AmazonApple, Booking, ByteDance (TikTok), Meta (FacebookInstagram e WhatsApp) e Microsoft (LinkedIn). Para definir os alvos da regulação, empresas a que a Fazenda atribui “relevância sistêmica”, serão necessários critérios sobre faturamento (local e global), número de usuários, política de acesso a dados pessoais e de fornecedores.

Fernando Gabeira - Caminhamos nas trevas

O Globo

Não é saudável ficar dependendo de elefantes como a Enel. Não funcionam nem investem o necessário

O curso dos acontecimentos é cruel. Passaram os incêndios no Brasil, a dor lancinante em Gaza se estendeu ao Líbano, quase não se fala nela, e, agora, o apagão na maior metrópole do país passará rápido também. Como também estou passando e passarei, não hesito em abordar esse tema.

Estava em São Paulo na noite de sexta, 11 de outubro, quando caiu a tempestade. Na manhã de sábado, fui pegar para viajar uma pessoa que passara por uma cirurgia: ela estava com as malas tentando descer as escadas de um prédio sem luz. Pensei nessa contradição: uma cidade com grandes hospitais e medicina avançada, mas com um serviço de energia vagabundo. Confesso que já vi apagões em Boa Vista, quando dependiam da energia da Venezuela, e comentei aquele longo apagão de Macapá, que, por sinal, definiu as eleições de 2020 contra o governo.

Miguel de Almeida - PT. o fim?

O Globo

Partido envelheceu, e os trabalhadores já não são mais os mesmos

Talvez a frase inspirada em Gore Vidal — o PT é como uma velha senhora: tem muito passado e nenhum futuro — possa causar arrepios num ou noutro militante renitente. Mas não é injusta. Basta a patacoada do partido em apoio à vitória forjada de Nicolás Maduro, até em oposição à reticência diplomática abraçada por Lula da Silva, para entender como a velhice traz bico de papagaio.

Criado em São Paulo, em 1980, quando ainda não havia caixa eletrônico, numa exótica reunião de sindicalistas, religiosos de esquerda e professores universitários, o PT no recente primeiro turno abocanhou apenas três prefeituras no interior do estado — Santa Lúcia (candidato único); Lucianópolis (2.255 habitantes); e Matão (79.033 almas). Foi o mesmo número alcançado pelo risível Novo.

Existem esperanças em mais três cidades no segundo turno. Entre elas, Diadema, a primeira cidade tomada pelo partido na eleição de 1982, então com 228.663 habitantes, com 23 mil votos para Gílson Menezes. Aquela vitória lendária deu emprego a muita gente — começava então o estilo de administração petista. Esqueça o mérito, vale a filiação e, agora, o conceito sempre ampliado de cotas — fala-se no momento na inclusão de indígenas cadeirantes com TDAH.

Irapuã Santana - A urna fala

O Globo

Eleitor busca pragmatismo, algo que tenha impacto na vida dele, concreto, palpável

Depois dos resultados do primeiro turno das eleições municipais, é preciso entender a foto do eleitorado brasileiro a fim de projetar não apenas o que ocorrerá no segundo, mas também a corrida de 2026.

De 155.912.680 aptos a votar, 21,71% não compareceram às urnas, número muito maior que em 2016, quando houve 17,58% de abstenção, e pouco menor que em 2020 na pandemia (23,15%). Em 2022, a abstenção também foi alta e chamou a atenção, mas, ainda assim, mais baixa, 20,9%. É um recado claro da população, expondo sua desesperança nas instituições políticas, entendendo que seu voto não tem poder algum.

Só no município de São Paulo, mais de 2,5 milhões de eleitores deixaram de votar, soma que supera os votos obtidos por Ricardo Nunes (1,8 milhão) e Guilherme Boulos (1,77 milhão).

Entrevista | Dorothea Werneck: Movimentos trabalhistas precisam entrar no século 21

Emerson Voltare / Folha de S. Paulo

Ex-ministra do Trabalho defende reforma trabalhista e sugere que profissionais se organizem por empresa, e não por categoria

As relações de trabalho mudaram drasticamente e os movimentos trabalhistas precisam entrar no século 21 se quiserem recuperar alguma relevância, defende Dorothea Werneck, 76, primeira mulher a ocupar um cargo de ministra na redemocratização brasileira.

Ela defende que a organização dos trabalhadores deve se dar no âmbito de uma empresa, não de uma categoria. "Cada empresa tem a sua realidade. Uma é completamente diferente da outra. Quando você unifica, fica pela média baixa. Medíocre."

Ministra do Trabalho (1989-1990) e da Indústria e Comércio (1995-1996), com forte articulação com os sindicatos, Dorothea elogia a reforma trabalhista de 2017, que abriu novas possibilidades. "Deixe a mão de obra livre. Quanto menos regulamentação, melhor", afirma.

Atuante na vida pública quando os grandes problemas eram inflação e dívida externa —hoje controlados—, a economista mineira aponta que a emergência climática é prioridade número um da economia brasileira atual, à frente das contas públicas, da reforma tributária, das novas relações de trabalho ou da revolução tecnológica.

Para Dorothea, a atuação do governo Lula nessa área tem sido "zero à esquerda", e setor público, iniciativa privada e sociedade ainda não estão falando a mesma língua. "Acho que as coisas ainda vão piorar até encontrarmos um consenso mínimo", disse à Folha numa conversa por vídeo, de sua casa em Brasília, em uma tarde sufocada pela fumaça das queimadas.

A ex-ministra também minimizou um episódio de machismo que ganhou as manchetes em 1989, quando o então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Mario Amato (1918-2016) afirmou que a ministra do Trabalho "era muito inteligente, apesar de mulher".

"Na verdade, tinha pena da ignorância dele. Quando tive a oportunidade, até acabei agradecendo pessoalmente: ‘Mario, obrigado por ter me inspirado. Estava quase acabando um livro, mas não tinha um título para obra. Agora encontrei’." O livro "Apesar de ser mulher", lançado em 1990, narra experiências da economista no cenário político da época.

Bruno Carazza - O PL dos supersalários vai aumentar as despesas

Valor Econômico

Haddad e Tebet precisam ter cuidado com o cavalo de Troia da proposta que quer acabar com penduricalhos

De tempos em tempos surge em Brasília a esperança de que alguma proposta legislativa vai provocar profundas mudanças em algum dos nossos imensos desajustes econômicos.

A bola da vez é o PL nº 2.721/2021, popularmente conhecido como PL dos Supersalários, que promete acabar com os penduricalhos que fazem com que uma pequena elite de servidores públicos receba mais do que o teto remuneratório previsto na Constituição, atualmente em R$ 44.008,52 (o subsídio mensal dos ministros do Supremo Tribunal Federal).

O item já apareceu em entrevistas dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet e vem sendo apontado como um dos pilares do pacote de medidas de corte de gastos que o governo deve anunciar após o segundo turno das eleições municipais. Diz-se que a aprovação do PL pode gerar uma economia de até R$ 5 bilhões anuais, o que seria uma boa ajuda para manter o arcabouço fiscal em pé.

César Felício - Segundo turno disputado pode frear avanço de bolsonaristas

Valor Econômico

São Paulo é uma exceção em conjunto de pesquisas que mostram equilíbrio entre adversários

Viradas no segundo turno por definição são improváveis, mas a primeira rodada de pesquisas Quaest e os levantamentos do Datafolha e do Atlas Intel indicam que a disputa nas 15 capitais que não definiram o jogo no último dia 6 está bastante acirrada. Em dez delas a diferença entre o primeiro e o segundo colocado é inferior a dez pontos.

A mais provável virada é em Belo Horizonte, onde o prefeito Fuad Noman (PSD) está numericamente à frente de Bruno Engler (PL), que o superou no primeiro turno por quase oito pontos percentuais. Agora Noman marca 46% e Engler 39%, de acordo com a última pesquisa Quaest.

Há ainda outras três reversões a caminho, em situação atual de empate técnico: em Palmas Siqueira Campos (Podemos) aparece na frente de Janad Valcari (PL) e em Porto Velho os 19 pontos percentuais de dianteira de Mariana Carvalho (União Brasil) sobre Léo Moraes (Podemos) viraram um: ela o supera agora por 43% a 42%.

Maria Cristina Fernandes – O apelo do apagão se esgotou

Valor Econômico

No lugar do tema apagão, Boulos voltou a cobrar, com insistência, que Ricardo Nunes abra seu sigilo bancário

A brevidade com que o apagão ocupou o debate da Record demonstrou que o assunto pode ter se esgotado. A despeito da chuva leve na capital paulista ao longo do dia ter voltado a aumentar o número pessoas sem energia – 80 mil no sábado – o tema esteve longe de monopolizar os ataques do candidato de oposição, Guilherme Boulos. No seu lugar, Boulos voltou a cobrar, com insistência, que Ricardo Nunes abra seu sigilo bancário, como já havia feito no SBT durante encontro que era para ser debate e virou sabatina do candidato do Psol pela ausência do prefeito.

Diogo Schelp - Pablo Marçal estava no debate

O Estado de S. Paulo

Boulos procurou apresentar Nunes como gestor fraco; o prefeito o tachou de defensor de bandido

Em comparação com as cadeiradas, os socos e os apelidos caluniosos que deram o tom da campanha no primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo, o debate Estadão/Record entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) pareceu uma discussão entre cavalheiros.

Segundo parâmetros normais de debates políticos, contudo, o de sábado passou longe de ser morno ou civilizado. Nunes e Boulos estavam dispostos a ferir de morte a honra um do outro.

Denis Lerrer Rosenfield - Igualdade

O Estado de S. Paulo

A igualdade de oportunidades e a igualdade civil foram conquistas da ‘direita’, e não da ‘esquerda’

A esquerda perdeu o rumo. Da proposta que orientou o pensamento marxista desde o século 19, até os seus desdobramentos totalitários no século 20, pouco restou daquela ideia que outrora pareceu universal, voltada para a emancipação de todas as pessoas. Sua realização prática foi o comunismo soviético com seu cortejo de repressão, tortura, assassinatos, de inimigos e amigos, desembocando na fome, tendo o Holodomor da Ucrânia como um dos seus exemplos mais aterradores. O cortejo fúnebre seguiu com o maoísmo na China, eliminando por sua vez mais de 60 milhões de seus habitantes, com a aniquilação de quaisquer liberdades. No Camboja, o horror ainda se revelou mais horripilante, com o assassinato de 50% de sua população. Poderíamos seguir o cortejo na Albânia, nos países da Europa Oriental, até os nossos esbirros em Cuba, dos Castros, e na Venezuela, de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Aliás, ícones da esquerda brasileira em suas distintas correntes, do PT ao PCdoB e ao PSOL, passando pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de Guilherme Boulos, agora posando de moderado para captar votos de incautos.

Ruy Castro - Eles existem

Folha de S. Paulo

Vivemos em bolhas e, pela primeira vez, vi-me em meio a um grupo de negacionistas

Um bate-papo na sala de espera de um hospital pode ser mais torturante do que a perspectiva de um exame delicado ou a expectativa por um diagnóstico. Num mau dia, ouvem-se opiniões estarrecedoras. No meu caso, foi na semana passada, pela voz de quatro ou cinco homens e mulheres, todos articulados e com leitura talvez acima da média, num ambiente —um reduto médico— em que, se não acreditamos na ciência, não sei o que estamos fazendo ali.

Marcus André Melo - Celso Furtado e o papel das instituições no desenvolvimento econômico

Folha de S. Paulo

Presidente ‘urbano’ vs Congresso ‘dos grotões’ costuma ser imagem recorrente no debate público

O Nobel de economia de 2024 foi concedido a pesquisas sobre o papel das instituições no desenvolvimento econômico. Em Political Obstacles to economic growth in Brazil (1965), Celso Furtado foi neoinstitucionalista avant la lettre. Seu objetivo era explicar por que tivemos industrialização sem política de desenvolvimento. Isso se devia à falta de "uma classe industrial armada de ideologia própria e com forte atuação", e às instituições que obstaculizavam os interesses do mundo urbano industrial.

André Gustavo Stumpf - Esperar e rezar

Correio Braziliense

Quando for conhecido o resultado da eleição norte-americana um novo ciclo político e econômico vai se iniciar no mundo. Os muros custam a cair. Mas terminam por desabar. A questão é para que lado este cenário vai se desmontar

A eleição nos Estados Unidos começou nos 47 estados que permitem o voto pelo correio. Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos, que recentemente completou 100 anos, fez sua escolha e não pediu segredo: votou em Kamala Harris, democrata, como ele. A questão dos que se preocupam com a democracia norte-americana, uma experiência de governo com mais de 200 anos, é afastar o perigo fascista de Donald Trump, que, além de propagandear ideias autoritárias, está começando a viver dificuldades típicas de quem está próximo dos 80 anos.

A eleição presidencial nos Estados Unidos é sempre importante. Esta é particularmente importante pela qualidade dos candidatos e pelas ideias absolutamente opostas de um e outro. Kamala Harris é um produto que só pode surgir numa sociedade aberta como é a norte-americana. Ela é filha de um jamaicano com uma indiana, nascida na Califórnia, que estudou em seu estado natal e morou no Canadá. Tem uma bela carreira jurídica que chegou a colocá-la na situação de procuradora geral do Estado. É uma democrata em todo o sentido do termo. É a expressão de uma sociedade livre, soberana, capaz de administrar seu destino, sem depender de terceiros. Ela chegou aonde chegou por esforço e mérito próprios.

Poesia | Graziela Melo - Vidas desvividas

Quantas vidas
desvividas
passaram
no meu
caminho?

Revividas e
mal
vividas

sem afeto
sem afago
sem carinho!!!

Quantas vidas
divididas
pela estrada
deste mundo

e quantas almas
perdidas
neste abismo
tão profundo!

Neste universo
perverso,
oriundo
de outras
Vidas,

oriundo
de outros
mundos!!!

Música | Maria Rita - Alto Lá (Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Sombrinha)

 

domingo, 20 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil não pode se calar ante abusos na Venezuela

O Globo

Relatório da ONU documenta mortes e prisões ilegais após fraude eleitoral que manteve Maduro no poder

O relatório do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre a Venezuela divulgado na semana passada expõe mais uma vez a tibieza do Itamaraty e do Palácio do Planalto diante da ditadura de Nicolás Maduro. As violações sistemáticas de direitos humanos relatadas no documento mostram que não dá mais para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu assessor internacional Celso Amorim insistirem na tática de apaziguamento, tentando mediar uma saída negociada para a crise desencadeada pela fraude eleitoral cometida por Maduro para ficar no poder.

Já ficou claríssimo que Maduro não quer negociar nada e não tem nenhum tipo de inibição quando se trata de sufocar seus inimigos políticos. Qualquer tolerância com seu regime deve ser interpretada como anuência às violações relatadas nas 161 páginas do relatório. São casos de prisão de adversários sem ordem judicial, torturas, violência sexual, desaparecimentos depois de detenção — conjunto de crimes enquadrado na legislação internacional de defesa dos direitos humanos.

O trabalho da missão das Nações Unidas cobriu o período de 1º de setembro de 2023 a 31 de agosto deste ano. “Assim que foram anunciados os resultados das eleições, as autoridades lançaram uma campanha sem precedentes de detenções indiscriminadas e em massa”, diz o relatório. A ação da polícia venezuelana procurou atingir filiados a partidos ou gente próxima a líderes da oposição, em especial a María Corina Machado.

Paulo Fábio Dantas Neto* - Duas considerações iniciais sobre o resultado das eleições municipais

Pretendo, numa sequência de dois artigos, assentar três afirmações, na tentativa de analisar o quadro esboçado após o primeiro turno das eleições municipais e de começar a refletir sobre o cenário político que pode resultar desse quadro, ainda a ser completado pelos embates do segundo turno.

As duas primeiras afirmações requererão relativamente menos palavras que a terceira e por isso podem ser acomodadas, juntas, neste primeiro texto. Elas acrescentarão menos elementos substantivos ao que, durante os dias subsequentes à eleição, e mesmo antes, foi fartamente abordado no noticiário, sendo submetido a análises especializadas e a nuances do debate político. São elas: 1. Os resultados das eleições não mostraram a extrema polarização que vinha sendo sugerida por embates nas redes sociais e por discursos políticos mais radicalizados; 2. A partir desses resultados municipais, o exercício de predição mais razoável que se pode arriscar fazer, a respeito de embates eleitorais futuros, é sobre as próximas eleições à Câmara dos Deputados e não sobre a disputa presidencial, que segue outra lógica.

Merval Pereira - Nobel revisitado

O Globo

Mais do que realizar apenas eleições periódicas, a democracia precisaria estimular uma maior inclusão social e a redução das desigualdades

Ao ressaltar a importância da inteligência artificial em diversas áreas da atividade humana, o Prêmio Nobel deste ano mostrou-se muito mais supradisciplinar. O princípio de redes neurais pertence muito mais à biologia do que à física, mas os profissionais desse campo do conhecimento foram contemplados com a premiação. O Prêmio Nobel de Física foi dividido entre John Hopfield, professor em Princeton, e Geoffrey Hinton, também conhecido como o ‘padrinho’ da IA, por trabalhos que foram ‘fundamentais para estabelecer os alicerces do que hoje conhecemos como inteligência artificial‘, segundo o comitê.

Míriam Leitão - O PT, o trabalho e as eleições

O Globo

O PT deve fugir de explicações fáceis para o seu fraco desempenho eleitoral, e evitar a volta às velhas poções mágicas

A derrota da esquerda nas eleições ficará mais evidente caso se confirme o cenário mais provável em São Paulo, que é a vitória do atual prefeito. A cidade tem tamanho e relevância para separar derrotados de vencedores. Mas o entendimento dessa derrota talvez se perca nos clichês de sempre. Um deles é o de que o PT não teria entendido o impulso ao empreendedorismo que atraiu os eleitores de Pablo Marçal. Há alguns erros nessa ideia. A lei do Microempreendedor Individual (MEI) foi criada por Lula no seu segundo mandato. O que levou eleitores a Marçal ainda nem foi entendido, e não pode ser simplificado.

Bernardo Mello Franco - Boulos está atrasado

O Globo

Candidato diz que votação de Marçal "acendeu um alerta" na esquerda, mas discurso do empreendedorismo já vence eleições em SP desde 2016

Na quinta-feira, Ricardo Nunes deu uma desculpa esfarrapada para faltar a mais um debate em São Paulo. Na ausência do prefeito, Guilherme Boulos concedeu uma entrevista. A conversa revisitou temas como o apagão e as pesquisas eleitorais. Na passagem mais reveladora, o candidato ensaiou uma autocrítica sobre as dificuldades da esquerda nas urnas.

Boulos disse que a votação de Pablo Marçal “acendeu um alerta” no campo progressista. “Tivemos a compreensão e a humildade de fazer um mea-culpa e uma autocrítica. Nós não dialogamos com um setor importante dos trabalhadores”, afirmou ao consórcio Folha/UOL/RedeTV!.

Dorrit Harazim – Aberração

O Globo

Ao contrário do que israelenses temiam, Sinwar estava sozinho, não envolto em explosivos ou escudado por reféns num subterrâneo de Gaza

A forma como morre um terrorista diz muito sobre seu viver. Osama bin Laden, cérebro dos ataques terroristas que abalaram os Estados Unidos em 2001, viveu a década seguinte esgueirando-se de seus caçadores. Quatro anos antes de ser finalmente abatido, o Senado americano havia aumentado para US$ 50 milhões (R$ 280 milhões) a recompensa que levasse ao líder-fundador da Al-Qaeda. Deu resultado. Numa madrugada de breu de maio de 2011, dois helicópteros das Forças Especiais da Marinha (Seals) decolaram do Afeganistão, cruzaram a fronteira do Paquistão e surpreenderam Bin Laden na casa-fortaleza em que se escondia. A operação arrojada, certeira, de alto risco e precisão, durou 40 minutos. O cadáver nunca foi exibido, nem em imagem —permaneceu sob custódia dos Seals até amostras do DNA confirmarem sua identidade. Menos de 24 horas depois, foi jogado no Mar Arábico a mais 1.300 quilômetros da costa. Capítulo fechado.

Bruno Boghossian – O trumpismo sonha com um braço armado

Folha de S. Paulo

Republicano transformou delírio autoritário em peça de propaganda ao prometer combate a 'inimigo interno'

Donald Trump sonha com um braço armado para o regime que deseja inaugurar se vencer as eleições. Nos últimos dias, o republicano transformou o delírio autoritário em peça de propaganda. Apontou que pretende chamar agentes de elite para "caçar, prender e deportar" imigrantes e sugeriu o uso de militares contra adversários políticos.

Nesta corrida para voltar ao poder, Trump tem se mostrado mais confortável em recorrer à xenofobia e ao ódio político, banhados em teorias da conspiração e alarmes de pânico social. A novidade da reta final da campanha é sua desenvoltura na defesa do direcionamento do monopólio estatal da força contra alvos escolhidos por um presidente.

Elio Gaspari - A Enel tem os poderes da treva

O Globo

Os apagões, de energia e de multas, assim como os laudos falsos do laboratório Saleme, no Rio, são o lado cruel e visível de um processo de saque contra os serviços públicos

Sexta-feira, 11 de outubro, foi um dia agradável do outono romano. A repórter Malu Gaspar contou que lá estava o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Participava de uma farofa num painel que tratava da Nova Era Energética, com Flavio Cattaneo, CEO mundial da Enel. Desde abril, essa era sua terceira viagem à Itália.

Em São Paulo, numa nova era energética, uma tempestade deixou três milhões de clientes da Enel sem energia. Cinco dias depois, 74 mil residências continuavam na treva. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, culpou o governo federal, Silveira culpou Bolsonaro e todos culparam a Enel.

A privatização do fornecimento de energia em São Paulo é uma história de horrores. Lá atrás, ela se chamava Eletropaulo e era uma estatal. Quando ela começou a ser leiloada, o publicitário Mauro Salles, que conhecia o Brasil, dizia que havia se criado a “mutretoconcorrência”. Quem levou a estatal foi a empresa americana AES, afastando sua rival numa manobra feita por baixo do pano. A investigação da mutreta deu em nada, por falta de energia.

Celso Rocha de Barros – A federação da esquerda

Folha de S. Paulo

Esquerdistas precisam se unir para fazer frente aos grandes partidos de direita

Cedo ou tarde, os partidos de esquerda vão ter que formar uma federação partidária. Como disse na última coluna, a direita está construindo máquinas partidárias poderosíssimas. Para lhes fazer frente, a esquerda vai ter que se unir.

Não vai ser fácil.

Alguns partidos já estão federados: o PT tem uma federação com PC do B e PV. PSOL e Rede estão federados. Nos dois casos, a federação não chega a ser um projeto com uma grande visão compartilhada: servem para que os partidos menores sobrevivam à cláusula de barreira, que, pela reforma política de 2017, está se tornando mais alta a cada eleição.

Muniz Sodré - Viagem da política às terras do centro

Folha de S. Paulo

Com algumas exceções, o bolsonarismo da destruição criativa deu lugar a uma direita centrada no status quo local

Glosa de um deputado baiano, décadas atrás: entre a Encíclica Mater et Magistra (do Papa João 23, com o ponto de vista da igreja sobre a questão social) e "O Capital", de Karl Marx, o PSD ficava com o Diário Oficial. Uma boutade até hoje pertinente a essa sigla. O PSD de Gilberto Kassab autodefine-se como nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. De nada, em suma, mas próximo de uma oficialíssima emenda Pix.

É viável, no entanto, presumir a entrada na política de uma cultura "centrã", menos polarizante ou raivosa. O termo evoca um português quinhentista, algo fora de época. Mas o "nada", vitorioso nas eleições em 878 prefeituras, é tudo de que Kassab precisa para inscrever o seu PSD na campanha presidencial.

Luiz Carlos Azedo - Depois da chuva, um olhar sobre São Paulo

Correio Braziliense

O vendaval que provocou o colapso energético da capital paulista mexeu com os humores dos eleitores, mas não o suficiente para mudar os rumos da eleição

O último roteiro escrito por Akira Kurosawa não foi filmado pelo genial cineasta japonês, que já estava muito doente e morreu de um derrame, aos 88 anos, em 1998. Depois da chuva foi dirigido por Takashi Koizumi, seu assistente, por escolha do filho de Kurosawa. O diretor já havia trabalhado com Kurosawa em Kagemusha, a sombra de um samurai, Ran, Sonhos, Rapsódia em agosto e Madadayo.

O filme conta a história de Ihei Misawa (Akira Terao), um ronin (samurai errante) em busca de emprego, em meio ao dilema de lutar ou não lutar por dinheiro e obrigado a parar numa pequena hospedaria, porque as chuvas tornaram um rio intransponível. Serão dias de espera à beira da estrada, ao lado de pessoas muito pobres. São carregadores e artistas sem condições de sair para trabalhar, o que agrava a situação. Com o passar dos dias e as necessidades de sobrevivência, os conflitos aparecem. Revela-se o caráter de cada um.

Entrevista | João Campos (PSB): ‘A esquerda tem uma tarefa pela frente: trazer a pauta para o concreto’

Monica Gugliano / O Estado de S. Paulo

Reeleito com quase 80% dos votos no Recife, prefeito do PSB diz que olhar local definiu o pleito

“Não estamos falando (na disputa deste ano) de uma eleição de bancada de deputado, de bancada temática. A gente está falando de cidade. E acho que é por isso que (os candidatos de centro) também tiveram um crescimento maior na eleição, porque têm uma pauta menos ideologizada”

Aos 27 anos, João Henrique Campos se tornou o prefeito mais jovem do Brasil. E, agora, aos 30, foi reeleito com quase 80% dos votos no Recife, capital de Pernambuco. Ele é herdeiro de uma família que está na política desde o início do século 20. Seu bisavô era Miguel Arraes (1916-2005), um ícone da política brasileira, três vezes governador do Estado. Seu pai, Eduardo Campos (1965-2014), promissor político do PSB, fazia a campanha para a presidência da República quando morreu em um desastre aéreo. Nesta entrevista ao Estadão, João Campos faz uma análise do primeiro turno das eleições municipais. Diz que, muitas vezes, o discurso da direita captura mais eleitores do que o da esquerda porque consegue escapar da rota ideológica e ir para a vida real.

“Por isso eu acho que o caminho não é entrar nessas rotas ideológicas, é entrar na rota do concreto”, pontuou o prefeito. “A esquerda precisa ter o pé no chão e o olhar lúcido para ter um diagnóstico correto de como enfrentar as disputas nos grandes colégios eleitorais.”

Ele afirma que essa visão lúcida não é uma convocação para que as convicções ideológicas sejam abandonadas, mas uma constatação de que os partidos que mais cresceram mostraram capacidade de ter uma construção mais pragmática da realidade eleitoral. “É entender que as pessoas esperam que os prefeitos, que os políticos tenham a capacidade de melhorar a vida delas, de fazer gestão com qualidade, com eficiência. E a gente tem que ter muito cuidado com a discussão acirrada do ponto de vista ideológico, porque ela sai desse campo.” 

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Eliane Cantanhêde - Ao centro, mas que centro?

O Estado de S. Paulo

Eleições municipais projetam a volta ao centro, o que favorece Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad

Eleições municipais não definem as presidenciais, mas revelam o ambiente político e projetam – ou minam – partidos, lideranças e candidaturas. Com o racha na “nova direita” bolsonarista e o envelhecimento da esquerda, particularmente do PT, emergem ao palco o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ambos fazendo movimentos ao centro. Tarcísio desliza para a centro-direita, e Haddad, até pelo cargo, para a centro-esquerda.

Dizem que “Deus escreve certo por linhas tortas”. A eleição municipal, de forma tortuosa, complexa, parece empurrar a política brasileira para seu velho eixo, nem tanto à direita, nem tanto à esquerda. Que centro é esse, ainda não está claro, até pelo asfixiamento do centro não apenas no Brasil, mas nas Américas, na Europa, pelo mundo afora. O momento é de radicalização, mas há sinais da volta ao prumo no Brasil.

Celso Ming - São terras raras, mas falta empenho

O Estado de S. Paulo

Se quer liderar o processo de transição energética, como vêm anunciando autoridades do governo, o Brasil precisa criar condições para desenvolver a cadeia produtiva de terras raras.

Terras raras é o nome dado ao conjunto de 17 elementos químicos – como o neodímio, túlio, cério, lantânio e ítrio – imprescindíveis para componentes de turbinas eólicas, carros elétricos, painéis solares, catalisadores automotivos, baterias e circuitos eletrônicos.

Dada a necessidade de descarbonização do planeta e migração para a economia verde, esses materiais são estratégicos e altamente suscetíveis a disputas geopolíticas e comerciais.

José Roberto Mendonça de Barros - de O colapso não está próximo

O Estado de S. Paulo

Do meu ponto de vista, o fim do mundo, embora possível, está longe de ser provável

O pessimismo anda excessivo. Em alguns momentos, se chegou a projetar um crescimento da Selic de até 13,5%, elevadíssimo frente a uma inflação que anda na faixa de 4,5%. No dia 11 passado, a NTN longa (B 60) chegou a um juro de 6,5%!

Ao contrário do que esses números sugerem, nossa economia não está à beira do colapso. Embora a questão fiscal esteja muito ruim e poderá caminhar para algo insustentável no futuro, parece-me evidente que há um certo exagero no ar.

Do meu ponto de vista, o fim do mundo, embora possível, está longe de ser o mais provável. Isso porque um quadro de desarranjo crescente leva necessariamente a uma pressão no prêmio de risco, que se transforma numa desvalorização cambial e numa inflação consolidada e significativamente mais elevada, algo que ainda não ocorreu.

Poesia | A solidão e sua porta, de Carlos Pena Filho

Música | Chico Buarque - Geni e o Zepelim

 

sábado, 19 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Morte de líder do Hamas cria chance para cessar-fogo

O Globo

Eliminação do responsável pelas atrocidades do 7 de Outubro abre oportunidade à libertação dos reféns

A morte de Yahya Sinwar, líder do grupo terrorista Hamas responsável pelo planejamento e pela execução das atrocidades do 7 de Outubro, maior matança de judeus desde o Holocausto e maior ataque ao Estado de Israel desde sua fundação, encerra um capítulo do conflito que ele mesmo iniciou. No telefonema em que o presidente americano, Joe Biden, parabenizou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pela eliminação do alvo número um na guerra contra o Hamas, ambos concordaram que ela abriu oportunidade a um acordo que traga a libertação dos reféns e um cessar-fogo.

Sinwar, uma espécie de Osama bin Laden de Gaza, era conhecido pelo fanatismo e pela crueldade. Quando era responsável pelas operações de segurança do Hamas, matou com as próprias mãos mais de dez palestinos que considerava traidores. É inequívoca sua responsabilidade por desencadear o conflito que custou tantas vidas em Gaza. Assim como por ter transformado o enclave num formigueiro de túneis repleto de armas e munições, que deixaram a população palestina sem nenhum refúgio seguro.

Cristovam Buarque - Duplos atrasos

Veja

Os erros: o uso de celulares nas escolas e a ignorância dos avanços

Em educação, o Brasil consegue ser duplamente atrasado: ao discutir tardiamente se o uso de celular deve ser tolerado como meio de comunicação dos alunos durante as aulas; e ao ignorar tardiamente a função dos aparelhos como ferramenta pedagógica. Há tempos já deveríamos ter proibido o uso como divertimento e já era tempo de estarmos incentivando o smartphone para facilitar o aprendizado. O celular em sala de aula tem provocado retrocesso no desempenho dos alunos, mas fechamos os olhos a essa prática; tanto quanto durante a epidemia de covid-19 relevamos o longo período das escolas fechadas; e há décadas fechamos os olhos às perdas decorrentes dos repetidos e longos períodos de greves de professores e demais servidores nas redes públicas de educação.

Oscar Vilhena Vieira - A supremocracia em xeque

Folha de S. Paulo

Abuso da prerrogativa continua sendo responsável por um perigoso processo de erosão da autoridade do STF

Ataques e restrições de poderes de cortes constitucionais e supremas cortes são normalmente um prenúncio de um processo de erosão democrática. Os casos da Venezuela e da Hungria são emblemáticos dessa estratégia empregada por populistas autoritários de alijar os tribunais, para que o caminho de subversão constitucional fique livre e desimpedido. As propostas de subordinação do judiciário apresentadas por López Obrador, no México, e Binyamin Netanyahu, em Israel, antes dos conflitos, vão nesta direção.

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, entusiasmada com os resultados das eleições municipais, que consolidaram avanços das forças direita e extrema direita, aprovou uma série de propostas voltadas a constranger os poderes do Supremo Tribunal Federal. Parte dessas propostas, como a que confere ao Congresso Nacional a possibilidade de derrubar decisões do Supremo, ainda que por quórum qualificado, faz parte do repertório dos novos e velhos autoritarismos. Vargas fez a mesma coisa em 1937, além de aposentar compulsoriamente nada menos que cinco ministros. Trata-se, portanto, de uma represália do bolsonarismo para punir um tribunal que colocou limites ao seu ímpeto de golpear a Constituição. Simples, assim.

Hélio Schwartsman - Reforma da esquerda

Folha de S. Paulo

Partidos progressistas vivem momento difícil em vários lugares do mundo, tanto por erros como por acertos

O fraco desempenho do PT e de legendas que lhe são próximas nas eleições municipais está levando muita gente a falar em crise da esquerda e a cobrar desse campo político uma espécie de reforma ou atualização de agenda.

Reluto um pouco em extrair uma mensagem inequívoca de um amontoado de pleitos locais que são, em sua maioria, decididos mais por questões de zeladoria do que de posicionamento ideológico. Mas, se olharmos para uma série histórica mais ampla de eleições e para o que está acontecendo em outros países, acho que dá para falar que a esquerda vive um momento complicado.