sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil precisa correr para evitar fiasco na COP30

O Globo

Dificuldades vão da infraestrutura deficiente de Belém à saída dos Estados Unidos dos acordos climáticos

Já não faltavam desafios para o embaixador André Corrêa do Lago, escolhido para presidir a Conferência do Clima (COP30), prevista para novembro em Belém. As dificuldades aumentaram nesta semana com a volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. De imediato, Trump anunciou a retirada americana do Acordo de Paris, como já fizera em seu primeiro mandato, e medidas de estímulo aos combustíveis fósseis — ações potencialmente nocivas ao planeta.

Além de serem os maiores emissores de gases de efeito estufa, os Estados Unidos desempenham papel essencial nos esforços tecnológicos necessários para mitigar os estragos das mudanças climáticas. Ainda que oficialmente o governo Trump não participe da COP30, Corrêa do Lago precisará atrair empresas e estados americanos sensíveis à causa. Do contrário, qualquer acordo ou meta que sejam estipulados correm o risco de cair no vazio.

Ele era um nome óbvio para comandar a COP30, mas a escolha do governo Lula demorou demais. Agora, precisará correr. Primeiro, para preparar a cidade-sede, onde há carências graves de infraestrutura para receber um evento dessa magnitude, especialmente no que diz respeito à hospedagem. Segundo, desafio ainda mais complexo, para lidar com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e com as políticas antiambientais de Trump, que representam um baque para os rumos da conferência.

Confusos e à deriva - José de Souza Martins

Valor Econômico

Quem hoje se define como conservador no Brasil tende a ser um reacionário, alguém que não compreende as mudanças sociais, culturais e políticas e que as teme

Para situar a confusão ideológica que caracteriza a visão que da sociedade atual e de si mesmos têm os que se comportam como identificados com o olavo-bolsonarismo e com a extrema direita que nele se expressa, é necessário fazer uma arqueologia das palavras por meio das quais seus atores se definem.

A confusão é grande. O seu palavreado ideológico é pseudoconceitual, porque expressa uma consciência social tosca, fragmentária e de colagens que reúne palavras da linguagem de mera sobrevivência dos que dela carecem.

Mesmo quando aparentemente remetem a orientações doutrinárias conhecidas, são delas descoladas porque nossa realidade social de agitadores ideológicos direitistas, de uma classe média difusa e confusa, não tem consistência política. Só o risco do caos. O conceitualismo da atual direita brasileira é indício de uma esquizofrenia ideológica manipulada, de uma sociedade doente.

Lula tem um canhão na boca e deve usá-lo mais - Andrea Jubé

Valor Econômico

Tradição recomenda que presidente se arme até os dentes para a batalha em Minas

“O senhor já viu guerra? A mesmo sem pensar, a gente esbarra e espera o que vão responder... A coisa que o que era xô e bala. Que qual, agora não se podia mais ter outros lados. Era só gritar ódio, caso quisesse, e o ar se estragou, trançado de assovios de ferro metal”.

A fala é do jagunço Riobaldo em uma passagem de “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa, ao lembrar das balas ricocheteando o ar na batalha entre os bandos inimigos, os zé-bebelos e os hermógenes. Mas poderia ser do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se armou para a guerra contra os adversários, ao decretar na reunião ministerial que “2026 já começou”. Faltou dizer: agora é “xô e bala”.

É uma clara mudança de cenário porque, até então, as críticas de aliados a uma certa passividade de Lula na condução do governo eram uma constante. Na visão de um quadro histórico do PT, o presidente e os ministros precisam ir a público, nas ruas e nas redes sociais, para fazer a “disputa política” com a oposição.

A percepção dessa fonte é que o governo está apanhando calado da direita. “Lula tem um canhão na boca, mas não usa”, reclamou. Ele defende que o líder petista fale mais em público, dê mais entrevistas, e mais do que responder às provocações, desafie a oposição porque suas declarações alcançam cada canto do país.

Um pouco de Maquiavel não faria mal ao governo – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula tem motivos para se julgar um predestinado, mas seu governo vive um momento delicado, diante de grandes incertezas provocada pela volta de Trump ao poder

Não é raro o político que tenha lido O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, o clássico dos clássicos da política, ao menos uma vez. Publicado em 1532, ou seja, há quase cinco séculos, a obra permanece atual e é considerada seminal para a política moderna. Maquiavel separou a moral tradicional relacionada aos indivíduos da lógica que rege os governos, a razão do Estado.

Maquiavel escreveu O Príncipe em 1513, mas a obra só foi publicada quase 20 anos depois. Foi um texto disruptivo àquela época, pois separava a Igreja do Estado, ao discorrer sobre os principados e repúblicas da Itália daquela época, fragmentada pelo colapso do Império Romano e seus invasores. Seu grande objetivo era inspirar alguém que a unificasse. Um dos trechos mais interessantes do livro, que tem 26 capítulos, discorre sobre a Fortuna na política.

Em conversas privadas e discursos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aborda esse aspecto por um ângulo messiânico, no qual se coloca como um homem predestinado, que sobreviveu a todas as adversidades desde quando, ainda criança, deixou o sertão de Pernambuco como retirante. O destino nunca lhe faltou, mesmo nos momentos mais difíceis. Recentemente, a interlocutores próximos, tem revelado em detalhes como sentiu a morte de perto no atual mandato — e até mesmo chegou a desejá-la.

Oposição já vive no pós-Bolsonaro - Vera Magalhães

O Globo

Empolgação com a nova era Trump e iminência de julgamento do ex-presidente brasileiro aceleram procura por herdeiro do espólio bolsonarista e reduzem poder de influência do capitão

As eleições municipais já foram um ensaio geral de como a direita e mesmo a extrema direita entenderam que, cedo ou tarde, terão de construir um caminho sem Jair Bolsonaro, enrolado até o pescoço com a Justiça. A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e sua volta ao poder com ares de quem pode tudo, colocando suas promessas mais radicais num acelerador de partículas, parece ter aguçado por aqui a pressa em definir o futuro.

O patético choro do capitão no aeroporto ao não poder embarcar e ficar de fora da posse de Trump é uma imagem emblemática desse momento, e seu afã em continuar aparentando que está no jogo, com o factoide de que poderia assumir a Casa Civil num eventual governo da mulher, Michelle, é a prova de que ele mesmo percebeu que o chão começa a lhe faltar debaixo dos pés.

Ninguém, da esquerda à direita, acha que o julgamento de Bolsonaro e de seus ex-colaboradores pela acusação de tentativa de golpe de Estado passa deste ano. Portanto, à já aprovada inelegibilidade, pode se somar uma condenação criminal — ainda que não vá preso, sofrerá um desgaste brutal.

Também não se encontra quem, fora da necessidade de publicamente ainda prestar alguma solidariedade ao ex-presidente, aposte em reversão de sua inabilitação para disputar eleições ou em anistia para qualquer um dos crimes a que responde.

Agora, o ataque à alta da comida - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Na sua primeira reunião ministerial deste ano, o presidente Lula avisou que seu principal inimigo a derrotar, de modo a garantir algum sucesso nas eleições de 2026, é a inflação dos alimentos.

Esta não deixa de ser uma novidade, porque, até agora, o governo dizia que tratava de garantir o crescimento econômico e a criação de empregos. Viu que mais PIB e contratações não vêm ajudando na imagem. O aumento dos preços da comida pesa na popularidade do governo.

Em 2024, os preços dos alimentos subiram 7,69% (veja o gráfico). Entre os maiores impactos estão a alcatra, 21,1%; café, 39,6%; óleo de soja, 29,2%; e o leite longa vida, 18,8%. Ou seja, na percepção do consumidor, que não come PIB, como advertia a economista Maria da Conceição Tavares, a vida ficou muito mais difícil.

O sonho americano está mais distante - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

Há uma percepção de que mais americanos não acreditam que o sonho americano seja possível

Uma casa branca, uma varanda, cercas de madeira pintadas de branco, um gramado verde, uma bandeira dos Estados Unidos hasteada no jardim. Este é, ou era, o imaginário do sonho americano. Ele representa a conquista material – a casa, o carro, o jardim –, mas também carrega a promessa de recompensa pelo trabalho árduo. Há uma percepção crescente de que mais e mais americanos não acreditam que o sonho americano seja possível.

Lutemos juntos por um mundo novo - Emmanuel Macron

Folha de S. Paulo

França, Europa e América Latina têm oportunidade histórica de se reunirem em torno de mesmo ideal; queremos um planeta mais justo e seguro

Em um momento em que as sociedades democráticas enfrentam tantos desafios, sejam eles ambientais, econômicos ou tecnológicos, a França, a Europa e a América Latina têm uma oportunidade histórica de se reunirem em torno de um mesmo ideal, de uma mesma concepção do universalismo e da dignidade humana, de uma mesma vontade de agir para o bem comum.

Nós travamos essa luta no passado. Dessa história nós não nos esquecemos. Ela nos inspira. Ela nos lembra que os Libertadores, movidos pelo sopro da Revolução Francesa e por um vento de liberdade, lutaram com bravura pela independência de todo um continente.

No ano passado, minhas duas viagens à América Latina me mostraram, a cada encontro, o quanto essa história continuava a ser escrita todos os dias. E 60 anos após a viagem histórica do general Charles De Gaulle, devemos continuar a defender essa visão combativa e humanista do nosso destino comum diante das grandes mudanças de nosso tempo.

Trump e a queda do dólar no Brasil - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Real se valoriza de modo impressionante; situação econômica do Brasil não mudou

O preço do dólar cai de modo impressionante nesta semana. Tentar entender as andanças no câmbio já é difícil para períodos, digamos, de um ano, que dirá de minúcias de três dias. Muita vez, nem mesmo o Banco Central sabe com precisão o que se passa.

Há estranhezas no ar, inclusive nessas explicações que, em cima do lance, gente falante de "o mercado" dá para cada movimento horário do dólar.

Muito interessante, quase divertido, é saber para onde foi a desconfiança na política fiscal, que em dezembro explicava boa parte da desvalorização do real. Claro que a economia e o mercado brasileiros são barquinhos no mar da finança mundial —vão na onda. Mesmo assim, parece esquisito que o dólar no Brasil tenha perdido quase toda a gordura que ganhou no Natal do pânico, em parte, em tese, por causa do pânico fiscal.

De notável, também, há essa conversa internacional de que Donald Trump pegaria leve no aumento do imposto de importação ("tarifas"), pois não decretou nada até agora e, quanto a ameaças, teria baixado o tom. Assim, diminuiria o risco de que se implementasse uma política que poderia elevar a inflação. É.

Pode ser que os povos dos mercados internacionais acreditem nisso, por ora, o que tem consequências práticas.

No entanto, o governo Trump 2 tinha apenas três dias e meio de duração enquanto se escreviam estas linhas. Trump prometeu tomar atitudes a partir de fevereiro, quanto a Canadá e México; para outros países, a partir de abril. Pode vir chumbo ainda. Não é tudo, porém.

Nos planos do trumpismo, há promessas de cortes de impostos sem previsão de receita extra ou cortes de despesas. A situação fiscal jamais foi tão ruim em 50 anos, fora nos anos da epidemia e naqueles que se seguiram ao desastre financeiro que explodiu em 2008, momentos em que o Fed dava uma mãozona no financiamento do governo.

Do gasto primário americano, 56% vai para Previdência e saúde; 24% para defesa e serviço social para veteranos (manter o império e cuidar de seus soldados custa caro). Um corte vai doer; pode ser difícil.

O problema fiscal já bate nas taxas de juros americanas. De resto, a economia dos EUA deu sinais de que está forte ou se fortalecendo desde o terço final de 2024, mesmo com a alta de juros do Fed.

Além de impostos de importação maiores, também imigração menor, estímulo fiscal extra e economia talvez crescendo além da conta poderiam fazer com que o Fed até não cortasse a taxa de juros neste ano. Resta saber quão fundo Trump irá nessas políticas inflacionárias.

No Brasil, não houve novidades de perspectivas econômicas, fiscais e monetárias. De notório, há menos dinheiro aplicado na hipótese de desvalorização extra do real, embora nem aí seja possível ter clareza do que se passa.

As taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro continuam nas alturas, o que encarece o custo de financiamento dos enormes déficits e dívida do governo. A taxa de um ano ainda está perto de 10% ao ano, em termos reais, nos níveis mais altos desde 2006, afora picos em 2009 e 2016.

Diz-se agora que a diferença de taxas de juros entre Brasil e EUA ajuda a derrubar o dólar. Não raro, ajuda. Mas não era o que se dizia na praça em dezembro e não houve mudança relevante na estimativa de juros aqui e nos EUA.

Precisam inventar uma explicação melhor.

Decreto de cidadania de Trump é tiro no pé - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Força dos EUA reside na capacidade de atrair e fixar imigrantes, para o que o "jus soli" é importante

É péssima a ideia de Donald Trump de tentar acabar com a concessão automática de cidadania norte-americana a filhos de imigrantes ilegais ou que não tenham um "green card". A força dos EUA está justamente em sua capacidade de atrair e fixar imigrantes.

Olhemos para a ciência. Dos 319 americanos que receberam prêmios Nobel em física, química ou medicina entre 1901 e 2023, 36% haviam nascido em outro país, isto é, eram imigrantes. O número vai a 40% se considerarmos as láureas científicas de 2000 até 2023.

Ameaça com cara de blefe - Ricardo Della Coletta

Folha de S. Paulo

Saída do Mercosul traria mais prejuízos que benefícios à Argentina

A ameaça de Javier Milei de abandonar Mercosul caso o bloco não permita uma negociação de livre-comércio com os Estados Unidos de Donald Trump tem cara de blefe.

Primeiro, a premissa é estranha. As primeiras medidas que Trump tomou sobre o tema podem ser classificadas de vários nomes, menos de livre-comércio. O que levaria Trump a tratar produtos argentinos que queiram acessar os EUA com mais benevolência do que os de outros países, além da admiração ideológica?

O timing da fala de Milei tampouco ajuda a convencer. Quando Jair Bolsonaro e Paulo Guedes quiseram pular fora do Mercosul, em 2019, o bloco era acusado de imobilismo e de estar fechado para as cadeias globais. Não eram poucos os que concordavam.

O argumento perdeu força. O Mercosul fechou recentemente um amplo tratado com a União Europeia. Fez um acordo com Singapura e está negociando com o Efta (Associação Europeia de Livre Comércio) e os Emirados Árabes. Milei aceitaria abrir mão do pacto com a UE?

O Brasil no Oscar – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Ainda estamos aqui, o Brasil está no Oscar e ditadura nunca mais

Falado em português, com livro, história, personagens, atores e um grande diretor genuinamente brasileiros, Ainda Estou Aqui vem numa excelente hora para jogar uma lufada de alegria no ambiente nacional, divulgar nosso país de forma positiva mundo afora e servir de alerta evidente contra tentativas de golpe e discursos autoritários e do atraso.

Concorrer ao Oscar já seria o máximo, mas Walter Salles foi muito mais longe e Ainda Estou Aqui está na disputa não apenas de uma, mas de três estatuetas, inclusive a principal, a de melhor filme. Além disso, estamos na lista para melhor filme estrangeiro e... melhor atriz. Ufa! O coração bate forte!

Agora, o sorriso de Fernanda Torres - Giovana Freire*

O filme “Ainda Estou Aqui”, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva [1] e dirigido por Walter Salles [2] , representa um marco no cinema brasileiro e um poderoso testemunho sobre a ditadura militar.

Já tive o privilégio de escrever sobre o longa em texto publicado no antigo endereço do blog Voto Positivo (Que descanse em paz) [3], e mais uma vez gostaria de ressaltar o tanto que o filme nos acrescenta tanto em cultura quando em contexto histórico como população.

A interpretação de Fernanda Torres, premiada com o Golden Globes [4] confere à obra uma profundidade e emoção que a tornaram um fenômeno de público e crítica.

A narrativa, centrada na história de Eunice Paiva, nos convida a refletir sobre as marcas profundas deixadas pela repressão política na vida de milhares de famílias brasileiras. Ao trazer à tona um período obscuro de nossa história, o filme nos desafia a questionar: como podemos usar esse reconhecimento internacional para construir um futuro mais justo e democrático?

A indicação ao Oscar em três categorias [5], sem dúvida, são motivos de celebração. No entanto, é fundamental que não nos esqueçamos do contexto histórico que inspirou a obra. A ditadura militar foi um período marcado por graves violações dos direitos humanos, como torturas, desaparecimentos e mortes. A Comissão da Verdade [6], embora importante, não é suficiente para reparar os danos causados e garantir que crimes semelhantes não se repitam.

"Ainda estou aqui": um grito contra a ditadura no palco do Oscar - Roberto Fonseca

Correio Braziliense

A entrega do Oscar vai ocorrer em 2025 em uma das datas mais populares do nosso calendário: o domingo de carnaval. A transmissão do tradicional desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí vai dividir a audiência na televisão e nas redes sociais com a premiação da Academia de Artes Cênicas e Cinematográficas

O Brasil vive um clima de Copa do Mundo. E não é à toa: presenciamos, sim, um momento histórico. A indicação de Ainda estou aqui em três categorias do Oscar — melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz para Fernanda Torres — é mais um belo capítulo do cinema nacional, relegado a um segundo plano em muitos dos nossos governos.

A conquista de Ainda estou aqui — ou I'm still here, em inglês — é mais do que artística. É a oportunidade de mostrar ao mundo, na maior celebração da sétima arte em todo o globo, uma parte dolorosa da nossa história: os anos de chumbo entre 1964 e 1985. Um período que precisa ser sempre lembrado, contado e recontado aos nossos descendentes para que nunca mais volte a ocorrer.

Poesia | Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de Luís de Camões

 

Música | Versão de Moraes Moreira para Vassourinhas

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Recorde de queimadas demonstra fracasso do Brasil no combate ao fogo

O Globo

Clima não é único vilão responsável pela área devastada. Faltou ação do governo quando era mais necessário

Um relatório do MapBiomas traduz em números a sensação que os brasileiros experimentaram no ano passado, quando cidades ficaram envoltas em fumaça. Em 2024, as queimadas destruíram 30,8 milhões de hectares, quase 80% acima de 2023. Foi a maior devastação desde o início da série histórica, em 2019 — área comparável à Itália. O fogo consumiu mais floresta que o desmatamento.

Do total queimado, 73% era vegetação nativa, principalmente formações florestais. A Amazônia foi o bioma mais atingido, com 17,9 milhões de hectares perdidos, mais que a área incendiada em todo o país em 2023. No Cerrado, foram destruídos 9,7 milhões de hectares. O Pantanal perdeu 1,9 milhão, e a Mata Atlântica 1 milhão. No rol dos estados mais atingidos, o Pará, futura sede da Conferência do Clima da ONU (COP30), aparece no topo, com 7,3 milhões de hectares, seguido de Mato Grosso (6,8 milhões) e Tocantins (2,7 milhões). Os três estados respondem por 55% da área queimada.

O futuro em jogo - Merval Pereira

O Globo

Lula chega à beira dos 80 anos constatando que talvez não possa concorrer à reeleição, olha para o lado e não vê quem possa substituí-lo

O presidente Lula demonstrou mais uma vez que é maior que o PT e que tem visão política mais realista do que aqueles que o cercam, acostumados a viver à sua sombra, resignados a depender dele para ganhar eleições. Ao chamar a atenção de seus ministros e principais assessores para a necessidade de montar um esquema que possibilite a vitória em 2026 sem que necessariamente seja ele o candidato do partido, Lula colocou na mesa problemas difíceis de resolver a curto prazo, muito por causa dele mesmo.

Líder personalista que passou a vida bloqueando a renovação partidária por não querer ninguém a fazer-lhe sombra, Lula chega agora à beira dos 80 anos constatando que talvez não possa concorrer à reeleição, olha para o lado e não vê quem possa substituí-lo eleitoralmente.

Foi ele a lembrar que, além da idade avançada, os imprevistos acontecem, como o defeito no avião presidencial que teve de sobrevoar o aeroporto por cinco horas para poder fazer um pouso de emergência ou a queda no banheiro que quase lhe tirou a vida, na descrição dramática que fez na reunião ministerial. Interessante lembrar que, quando outros escreveram ou especularam sobre essa hipótese, foram acusados de etarismo, bolsonarismo e outros ismos. Quando Lula fala, é o quê?

O antídoto do governo Lula para começar a reverter estrago da crise do Pix - Malu Gaspar

O Globo

A campanha publicitária encomendada pelo governo Lula para defender o Pix, que vai ao ar nos próximos dias, vai mirar especificamente o segmento do eleitorado que mais sentiu o impacto das mudanças na fiscalização de transferências a partir de R$ 5 mil e da forte campanha da oposição contra elas: os trabalhadores autônomos, empreendedores e informais.

Fontes que tiveram acesso às discussões com as agências afirmam que o material será protagonizado por pessoas com esse perfil. A ideia é aproveitar o pretexto de defender a confiabilidade do Pix para começar a colocar em prática uma estratégia de aproximação com esse segmento do eleitorado.

Além de ser tradicionalmente desconfiado do governo, esse público foi o mais impactado pelo vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) – que sugeriu, num vídeo que teve 324 milhões de visualizações, que a gestão Lula pretendia usar as informações sobre a movimentação para cobrar mais impostos e penalizar ainda mais os informais.

Governo Lula continua batendo cabeça na economia - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Tabelar preços de alimentos é uma maldição, o último estágio da perda de controle da inflação, depois do congelamento de tarifas públicas e preços dos combustíveis

Não tem como não lembrar do velho samba de Noel Rosa: “Quem é você que não sabe o que diz?/Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!”. Mais uma patacoada do governo na área econômica, depois de uma semana em que foi nocauteado nas redes sociais com a história da fiscalização do Pix, por uma onda de fake news contra o governo, por causa de uma zelosa instrução normativa da Receita: o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, empoderado como se fosse um primeiro-ministro, anunciou que o governo federal fará “intervenções” para reduzir o preço dos alimentos.

Como Trump alveja a soberania tributária dos países - Assis Moreira

Valor Econômico

Um acordo para taxação das gigantes da Internet já tinha fracassado na OCDE, e a situação agora complicou mais

Donald Trump terminou seu discurso de posse como novo presidente dos Estados Unidos, na segunda-feira (20), avisando que "nada se interporá em nosso caminho porque somos americanos".

No mesmo dia, anunciou uma avalanche de decisões, marcadas pelo isolacionismo. Uma delas procura desmantelar a vasta reforma do sistema tributário internacional negociada na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Alveja na prática a soberania dos outros países e busca ditar as regras do jogo conforme a exclusiva conveniência dos EUA.

Trump não se preocupa com a ordem internacional baseada em regras e nem em alimentar sua rede de aliados, e quer exercer seu poder por dominação econômica, medo e força, como definiu o "New York Times". No caso da tributação global, essa é uma ilustração a mais.

Por que devemos chamá-lo de fascista - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Estratégia de Trump é desmantelar a democracia, perseguir os estrangeiros, insuflar o nacionalismo. Como Hitler e Mussolini

Donald Trump é fascista? Há quem diga que não devemos qualificá-lo dessa forma. A cientista política Wendy Brown, por exemplo, acha que o autoritarismo que tem crescido no nosso tempo é de outra natureza. Em 2022, numa entrevista para o site Nueva Sociedad, ela apontou distinções entre a ditadura de Benito Mussolini e os regimes atuais de extrema direita. Segundo ela, as autocracias do século 21 “nascem da racionalidade neoliberal” e se diferenciam do fascismo clássico por serem “autoritárias no âmbito político e libertárias nos assuntos da vida civil e pessoal”.

Eu não discordo de Wendy Brown. Existem autocratas na atualidade que não ligam a mínima para temas como casamento gay. Se alguns são machistas furibundos, e Donald Trump é um deles, outros não adotam o moralismo misógino do velho Duce. Existem até líderes de extrema direita que são lésbicas declaradas.

Trump e o 'privilégio exorbitante' do dólar - José Serra

O Estado de S. Paulo

O debate sobre a ‘desdolarização’ da economia global e a ‘multipolaridade’ do SMFI já tinha emergido antes da eleição americana, mas ganhou impulso desde então

Desde a campanha presidencial, Donald Trump reafirmou seu compromisso com a hegemonia do dólar como divisa-chave do sistema monetário e financeiro internacional (SMFI). Ou seja, o dólar desempenha a função de moeda internacional, sendo predominantemente utilizado como meio de pagamento, unidade de conta e reserva de valor fora das fronteiras nacionais.

Após a eleição, Trump intensificou suas exigências, ameaçando aplicar sanções comerciais (especialmente na forma de tarifas de 100%) contra países que abandonassem a moeda americana, inclusive os países dos Brics, que aventaram a possibilidade de criar uma moeda alternativa ao dólar nas duas últimas cúpulas – Johannesburgo (2023) e Kazan (2024).

Crise autoinfligida - William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula 3 está trilhando uma rota fiscal insustentável

Desde sempre historiadores tentaram resumir em poucas palavras o fenômeno de decisões políticas (e/ou militares) que levaram a grandes desastres, embora claramente previsíveis. Duas obras de enorme sucesso foram “A Marcha da Insensatez”, de Barbara Tuchman (de Troia ao Vietnã), e “Os Sonâmbulos”, de Christopher Clark (como a Europa “tropeçou” para dentro da Primeira Guerra Mundial).

Não há nada de sonâmbulo na marcha de Lula 3 no caminho da insensatez fiscal, que arrisca provocar uma crise política justamente quando seria menos desejável – isto é, num cenário eleitoral. Ao contrário, o presidente não transmite em privado ou em público qualquer sinal de que entenda a questão fiscal como insustentável.

A principal assessoria econômica do Ministério da Fazenda produz avaliações do seguinte teor: “nós estamos no caminho certo da consolidação, uma consolidação fiscal feita com baixíssimo desemprego, crescimento econômico, distribuição de renda e combate à pobreza. Sempre foi nosso objetivo: conduzir uma política econômica capaz de consolidar as contas públicas ao mesmo tempo que promove o crescimento e a distribuição de renda”.

Lula e a procura do ponto G - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Em 2007, durante a visita do presidente George W. Bush ao Brasil, o presidente Lula chegou a dizer que buscava “o ponto G nas relações do Brasil com os Estados Unidos”.

Bush passou a impressão de que não entendeu bem o que Lula quis dizer com esse “ponto G”, mas as burocracias interpretaram que se tratava de encontrar certo equilíbrio na administração dos interesses recíprocos nem sempre convergentes que, ao mesmo tempo, não dispensasse efeitos satisfatórios.

O presidente Donald Trump, que acaba de tomar posse, mostrou que não faz questão do uso da linguagem diplomática. Declarou, na Casa Branca, que “o Brasil precisa mais dos Estados Unidos do que os Estados Unidos precisam do Brasil”. É postura que complica a procura do tal “ponto G” pelo presidente Lula, que declarou antes do fim da disputa eleitoral a sua preferência pela candidata Kamala Harris.

Salário perde da inflação da comida, faz tempo - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Apesar de altas recentes de renda, poder de compra de alimentos caiu em 5 anos

O governo anunciou que pretende tomar medidas a fim de conter a inflação dos alimentos. Para tanto, faria algum acerto para diminuir custos de supermercados.

Pelo menos no curto prazo, não há como o governo conter preços de modo relevante sem fazer bobagem, sem atirar no próprio pé. Seria possível reduzir custos do comércio, dizem, por meio de mudanças nas regras sobre prazo de validade de alimentos, de normas trabalhistas, da permissão de venda de remédios sem receita, de custos do sistema de pagamentos. Quem sabe consigam alguma mudança de pequena ordem, mas não há garantia de que mesmo essa redução modesta chegue aos preços, a depender do mercado em questão, da demanda, da política de preços das redes de lojas, da concorrência etc.

Em tese, se não inventarem bobagens, o esforço não pode ser desmerecido, claro. O governo corre o risco, porém, de criar expectativas que não se realizem ou de naufragar por motivos alheios à vontade de todos os envolvidos (dólar, demanda mundial, condições climáticas etc.). Depois de fracassos de público, como o "imposto das blusinhas" e a guerra de mentiras do Pix, é arrumar sarna para se coçar. Mais importante é entender um pouco mais dos motivos da insatisfação.

Pode acontecer aqui de novo ou nunca mais? - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

STF deve fazer mais e melhor, mas não sozinho

A reeleição de Trump dispara muitos alarmes na precária democracia norte-americana e no mundo. Apreensão com climasaúdetransição energética, desigualdade, hegemonia plutocrática, corrupção, governança global multilateral e decência humanitária chegou a outro patamar.

Se a credencial democrática já era duvidosa em país com sistema eleitoral que suprime voto de parte do povo e poder corporativo ilimitado para influenciar eleições e políticas públicas (financiando ambos os lados), agora a ciência política pode se sentir mais confortável para classificar o regime de "autoritarismo competitivo".

A última dúvida é saber como vão funcionar os "freios e contrapesos". Sabe-se que Trump têm hoje mais capacidade para barbarizar. Tem maioria nas duas casas do Congresso, a Suprema Corte foi convertida ao servilismo anti-constitucional já no primeiro mandato e se esmera em revogar sua jurisprudência das liberdades civis.

Sobra alguma autonomia nos judiciários estaduais e federal, e nos governos subnacionais. Sobra a esperança de que a história e o acaso aprontem algo de bom, que o determinismo pessimista possa falhar dessa vez.

Termômetro para Trump 2 - Ricardo Della Coletta

Folha de S. Paulo

Governo Lula deve ter em março amostra do que esperar das ações de Trump

O governo Lula (PT) deve ter no início de março uma amostra do que esperar das ações de Donald Trump para a América Latina.

No dia 10 do mês, os países da OEA (Organização dos Estados Americanos) selecionam um novo secretário-geral para um mandato de cinco anos. O vencedor substituirá Luis Almagro, uruguaio cuja gestão dividiu opiniões na entidade por uma postura antichavista que lhe rendeu elogios da direita e alienou governos de esquerda.

Os americanos sempre mantiveram uma forte influência na OEA —sediada em Washington— por enxergarem na entidade um mecanismo pelo qual podem buscar legitimar suas políticas para o continente.

Nova ordem no Planeta Vermelho - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Marte é o deus da Guerra. Portanto, é Marte acima de tudo e Trump, seu marechal, acima de todos

Donald Trump tomou posse como presidente de MarteElon Musk, o homem mais rico do Universo e com grandes interesses no Planeta Vermelho, será o seu mentor, o cérebro por trás do trono, quase um presidente putativo. Com isso, podemos ter certeza de que Trump cumprirá suas promessas de campanha: "Vamos fazer Marte grande de novo!", "Marte em primeiro lugar!", "Vamos nos orgulhar, vamos ser fortes, vamos vencer como nunca!" Perguntado sobre a sua relação com a Lua, foi taxativo: "Não precisamos dela!"

Poesia | Chuva de caju, de Joaquim Cardozo

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Tereza? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos.
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
E em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Tereza ou Maria.

Música | Mônica Salmaso - O velho Francisco (Chico Buarque)

 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trump fará mal ao planeta

O Globo

Efeitos nefastos do novo mandato se estenderão do clima à geopolítica, da economia à regulação da tecnologia

Ninguém pode se dizer surpreso com as primeiras medidas tomadas por Donald Trump ao assumir a Presidência dos Estados Unidos. Elas refletem tudo o que ele repetiu ao longo da campanha que o levou de volta à Casa Branca e, por absurdas que sejam, se alinham com o desejo dos eleitores americanos. Não quer dizer que sejam menos preocupantes ou menos assustadoras. Vistas no conjunto, representam retrocesso em diversas áreas — do clima à geopolítica, da economia à tecnologia. A colonização de Marte prometida por Trump é para lá de incerta, mas o Planeta Terra certamente ficará pior com ele no poder.

Na política externa, há uma contradição entre o Trump que se proclama “pacificador e unificador” e o Trump que pretende retomar o Canal do Panamá, nutre pretensões sobre Groenlândia e Canadá e quer mudar o nome do Golfo do México. De um lado, ele foi essencial na negociação para libertar reféns do Hamas — fato que suscitou aplauso unânime na posse. De outro, ameaça a China e fala em investir nas “Forças Armadas mais fortes de que o mundo tem notícia”. Qual Trump prevalecerá, o bélico ou o pacifista?

Realinhamento dos astros - Vera Magalhães

O Globo

A entrada de Sidônio Palmeira representa ganho de prerrogativas de Rui Costa, com consequente enfraquecimento de Haddad

Se um raro evento astronômico permitiu nos últimos dias, com o ápice nesta terça-feira, que seis planetas estivessem visíveis a olho nu e aparentemente alinhados, no céu de Brasília são apenas dois os que continuam a se destacar, mas a chegada de um satélite promete realinhar a órbita do governo Lula.

A entrada de Sidônio Palmeira, com poderes até aqui inéditos para um titular da Secretaria de Comunicação do governo, já representa, por mais que exista um discurso de contemporização na Esplanada, um ganho de prerrogativas de Rui Costa, com consequente enfraquecimento de Fernando Haddad como ministro catalisador dos rumos da administração.

Um certo antagonismo entre os titulares da Casa Civil e da Fazenda não é exclusividade da gestão Lula 3, nem mesmo dos governos petistas. Trata-se de fenômeno que se repete com frequência bem maior que os vistos pelos telescópios, em maior ou menor grau, desde Fernando Henrique Cardoso, com Pedro Malan e Clóvis Carvalho, até Jair Bolsonaro, com cotoveladas entre Ciro Nogueira e Paulo Guedes. O ápice, por envolver dois protagonistas com ambições políticas, foi na primeira passagem de Lula pelo Planalto, mas escândalos acabaram abreviando os voos tanto de José Dirceu quanto de Antonio Palocci.

Trump achou um modelo – Elio Gaspari

O Globo

Por causa do frio, a posse de Donald Trump aconteceu na Rotunda do Capitólio. Má ideia. De certa maneira, foi uma revanche. No 6 de janeiro de 2021 aquele lugar foi invadido pela turma que queria melar a vitória eleitoral de Joe Biden. Cenograficamente, é um lugar bonito. Fica embaixo da cúpula dos cartões-postais. Em seu espaço circular estão estátuas de notáveis da História americana. Em 1876, Dom Pedro II lá esteve e definiu-o:

— Fui ver o Capitólio. Aspecto majestosíssimo. Agradou-me muito o todo da arquitetura. Tudo o que é escultura é medíocre.

O mundo teve de aturar a mediocridade das esculturas da Rotunda.

Trump assumiu resgatando a memória de William McKinley (1897-1901) e devolveu-lhe a denominação da montanha mais alta dos Estados Unidos, cassada em 2015.

Não é retórica. Trump promete o início de tempos dourados. McKinley governou no auge de uma era folheada a ouro. Em seu primeiro mandato, o PIB americano cresceu a taxas inéditas. Àquela época, a U.S. Steel era maior que o governo federal. (Em 2025, faltou pouco para que a U.S. Steel fosse absorvida pela japonesa Nippon Steel.)

Negacionismo de Trump faz mal à saúde e prejudica clima - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Conservadorismo de Musk não tem contradição com reacionarismo de Trump, mas é paradoxal o apoio ao negacionismo do presidente

O “meme” é mais antigo do que a internet. Surgiu de uma correlação entre a bagagem genética e a bagagem cultural, como um termo criado pelo neodarwiniano britânico Richard Dawkins, na década de 1970, em seu livro O Gene Egoísta (Companhia das Letras). Para ele, a evolução humana não depende apenas de nossa bagagem genética (nossos genes), mas, também, de uma bagagem cultural, uma memória comportamental, que ele batizou como “meme”, palavra derivada de “mimeme” (imitação, no grego).

Um meme poderia ser qualquer ideia, comportamento ou tendência que tem a capacidade de passar de pessoa para pessoa por meio da imitação ou da nossa herança cultural. Com o passar dos anos, o termo ganhou outros significados, tendo se popularizado na internet como qualquer imagem, vídeo, bordão, hashtag ou áudio que sofre modificações e “viraliza” (mais uma comparação com a biologia), prática que mudou de escala com a inteligência artificial (IA).

O segundo mandato de Trump e o mundo - Martin Wolf*

Valor Econômico

Um renascimento econômico é improvável, principalmente porque a economia dos EUA está muito longe do desastre que ele proclama ser

Que impacto a segunda vinda de Donald Trump terá sobre o mundo? O mundo é imprevisível. Trump também é imprevisível. Seu primeiro mandato transformou os Estados Unidos e o mundo. Seu segundo deverá ter um impacto ainda mais profundo.

“A partir de hoje”, disse Trump em seu discurso de posse, “os Estados Unidos da América serão uma nação livre, soberana e independente”. Estamos tão acostumados a esse tipo de expressão de autopiedade vinda dele e daqueles que o cercam, que elas (quase) deixaram de surpreender. No entanto, ele está falando do país mais poderoso do mundo, que liderou a inovação por um século e meio e moldou o mundo em que vivemos.

O que, afinal, impediu os EUA de serem uma nação livre, soberana e independente? A resposta, ao que parece, são as obrigações autoimpostas e restrições voluntariamente aceitas ao seu próprio poder. Agora, sugere ele, os EUA farão o que quiserem. Os EUA deixarão de ter pretensões de liderança moral e se proclamam outra grande potência sob o antigo lema “o poder faz o direito”.