sábado, 12 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É deplorável celebrar tarifas para ganho político

O Globo

Direita brasileira, que brande a bandeira do patriotismo, tem o dever de repudiar a chantagem de Trump

Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou sensatez na reação à tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às importações do Brasil, caso não seja suspenso o processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em tom comedido, Lula afirmou que procurará negociar com os americanos, chamará para discussão empresários dos setores afetados, apelará à Organização Mundial do Comércio e, caso nada dê resultado, retaliará. “O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário”, afirmou. Uma eventual retaliação, que poderia deflagrar guerra tarifária, deve mesmo ser o último recurso.

Num país polarizado, a chantagem de Trump suscitou uma batalha política que em nada favorece o Brasil. É hora de o país se mostrar unido na defesa da democracia, do Judiciário independente e da soberania. Agiu bem o Congresso ao não hesitar sobre que lado escolher na contenda. Em meio à queda de braço com o Planalto em torno do aumento do IOF, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), se disseram “prontos para agir com equilíbrio e firmeza”.

Por que não direto ao ponto? - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Entra uma legislatura, sai outra, e o nível médio do Legislativo continua deixando a desejar

Sobre o recente aumento do número de deputados, direi apenas o que aprendi na juventude: entre as virtudes de um homem público, vergonha e caráter são tão importantes quanto a cultura.

Em 1985-86, quando fazia parte da Comissão Presidencial Pré-Constituinte (Comissão Afonso Arinos), coube-me elaborar a proposta inicial sobre a Câmara. Propus que se mantivesse simplesmente o número de deputados federais então existente – 420 –, que poderia ser aumentado ao longo do tempo, à medida que a proporcionalidade das bancadas estaduais em relação às relativas populações fosse também ajustada. Já não sendo ingênuo, não imaginei que tal proposta fosse aprovada em Brasília. E o que ocorreu, de fato, foi um incremento par a 513 representantes na Câmara. Quinhentos e treze, vejam só!

Estratégia perigosa - Pablo Ortellado

O Globo

Foi bastante arrojada a estratégia de Eduardo Bolsonaro de fazer gestões junto ao Partido Republicano e à Casa Branca para conseguir que os Estados Unidos interviessem na política brasileira e reequilibrassem o jogo de poder institucional, que hoje parece desfavorável aos bolsonaristas.

Quando os frutos desse trabalho se expressaram na forma não de sanções individuais contra ministros do Supremo, mas de duríssimas tarifas contra os produtos brasileiros, os bolsonaristas se viram com um problema: a reação americana não atingia apenas os atores que prejudicam a direita, mas um número grande de empresários e trabalhadores brasileiros.

As razões do tarifaço – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Trump mirou Lula por declarações mais duras nos encontros do Brics contra o império do dólar, dizem jornal e site

O presidente Donald Trump já manifestou seu desconforto com o Brics e, sobretudo, com a proposta do grupo de usar moedas locais — e não o dólar — em suas transações comerciais. Quando o Brics estava reunido no Rio de Janeiro, ameaçou aplicar tarifas de 10% sobre os países que de algum modo desafiassem a posição do “poderoso dólar”. Na última quarta-feira, a ameaça se concretizou, mas só contra o Brasil. Ele impôs uma tarifa absurda de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos, aplicada a partir de 1º de agosto.

Por que a sanção não foi imposta, pelo menos não ainda, a outros integrantes do Brics, como China e Índia, as duas maiores economias do grupo?

Metáforas, metáforas – Eduardo Affonso

O Globo

A nova panaceia para tentar remediar o irremediável é apelar para o sentido figurado

Acabamos de ter a prova cabal de quão desnecessária é a importação de um especialista chinês — pleiteada pelo presidente e pela primeira-dama — para pôr ordem no galinheiro das redes sociais no Brasil.

A foto de um casal e sua filha — 5 anos, roupa combinando com a dos pais, laçarote na cabeça e uma bolsa avaliada em R$ 14 mil — causou indignação e uma marola (não chegou a ser uma onda) de ódio entre a galera da empatia, do acolhimento, do atravessamento, da decolonialidade, da sororidade, do não binarismo e da defesa da democracia.

O ataque do Império - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Donald Trump jogou no lixo a tradição de bom entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Sempre houve respeito às posições do outro, mesmo quando antagônicas. O Brasil, de um dia para outro, passou a ser o país mais atingido pelas tarifas impostas pelo bronzeado presidente dos Estados Unidos

A Segunda Guerra Mundial, quando o governo de Washington percebeu que os nazistas poderiam vencer o combate no norte da África e avançar para invadir o nordeste brasileiro, restaram três opções para proteger o Atlântico sul: mandar tropas para o nordeste do Brasil, fomentar uma revolução nacionalista como foi realizada no Panamá ou fazer um acordo com o governo Vargas. A solução do presidente Roosevelt foi fazer acordo com o governo brasileiro. A empresa Pan American foi encarregada de construir aeroportos no norte e nordeste brasileiro. A base aérea de Natal foi a maior das forças armadas norte-americanas fora de seu território antes da invasão da Europa.

Donald Trump jogou no lixo a tradição de bom entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Sempre houve respeito às posições do outro, mesmo quando antagônicas. O Brasil, de um dia para outro, passou a ser o país mais atingido pelas tarifas impostas pelo bronzeado presidente dos Estados Unidos. E pior que em nome de um problema político: ele defende, com argumentos confusos, a permanência de Jair Bolsonaro na política brasileira, que estaria sendo injustamente punido numa suposta caça às bruxas.

Conjuração internacional bolsonarista - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

O objetivo do presidente americano é constranger o governo e intimidar o STF, que apenas cumpriu sua obrigação

Aplicar o direito não é uma tarefa fácil, especialmente quando o peso da lei recai sobre pessoas poderosas ou que têm amigos poderosos. Juízes já foram mortos por condenar mafiosos, em países como a Itália ou a Colômbia; colocados na prisão por não atenderem as determinações de ditadores, como na Turquia ou no Irã; ou apenas afastados de seus tribunais por simplesmente não se curvarem aos poderosos de plantão, em diversas partes do mundo.

O presidente americano vem promovendo há muitos anos um processo de intimidação e subordinação do Judiciário de seu país. A cada decisão contrária aos seus interesses, achincalha magistrados, acusando-os de "lunáticos esquerdistas". Seus apoiadores os ameaçam de impeachment. A juíza Ketanji Brown Jackson, da Suprema Corte, "teme pela democracia dos Estados Unidos".

Trump ajuda Lula a taxar milionários - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Pressão após sobretaxa de Trump ajuda a manter em pé promessa de campanha

Após o anúncio da sobretaxa de 50% dos EUA, o meme que ainda viraliza nas redes —com a frase "Lula quer taxar o rico e o Bolsonaro quer taxar o Brasil"— é prova de que ação de Donald Trump ajudou Lula. O governo ficou numa situação mais confortável na votação do projeto que cria o imposto dos milionários para financiar a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda —promessa de campanha do presidente para a classe média.

Relator do projeto, o deputado Arthur Lira dizia a interlocutores, há menos de dois meses, que não tinha nenhum compromisso com a compensação da isenção por meio de uma tributação das rendas mais altas, como foi proposto pela Fazenda.

Trump vai unir o Brasil? - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

É melhor país polarizado se juntar por interesse nacional do que por fantasia ideológica

Foi preciso um tarifaço disparado com sotaque novaiorquino e topete tingido para o Brasil cogitar, mesmo que por instantes, uma trégua ideológica. Donald Trump, ídolo de uma ala da direita brasileira que tem orgulho de mugir em inglês, pode acabar provocando a primeira reconciliação entre petistas, isentões e bolsonaristas desde que a polarização virou o esporte nacional, com torcida organizada, juiz comprado e zero fair play.

As tarifas e a Tarifa-Bolsonaro - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Ninguém está a salvo da espada erguida pela Casa Branca

Trump declarou, vezes sem conta, sua tórrida paixão por tarifas. Celebremente, selecionou "tarifas" como sua palavra predileta, para depois corrigir-se colocando-a atrás de "Deus" e "amor". Na visão dele, tarifas desempenham três funções distintas. A Tarifa-Bolsonaro, de 50%, anunciada contra o Brasil, enquadra-se na terceira família.

Nas suas versões de esquerda e direita, o populismo econômico destina-se a impulsionar o consumo, angariar popularidade e colher triunfos eleitorais. No fim, o resultado é sempre a explosão da dívida pública. Pela esquerda, caso do Brasil, sob o dístico "gasto é vida", os gastos públicos crescem além das possibilidades de aumento da arrecadação tributária. Pela direita, ao estilo de Trump, sob o lema de que "redução de impostos é vida", comprime-se a receita tributária a patamares inferiores às necessidades orçamentárias.

Motta e Alcolumbre em cima do muro - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ideia fixa é utilizar as emendas impositivas para financiar campanhas eleitorais

O Legislativo está na berlinda. Nos trends, como se diz. Pesquisa Atlas/Intel mostrou que só 3% dos brasileiros dizem confiar "muito" no Congresso; 63% revelam não ter "nenhuma" confiança; 27% confiam "pouco".

De fazer corar de vergonha, a crise de representatividade não é levada a sério. "Se chegar às 10h, será promulgado às 10h01", disse o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sobre a possibilidade de Lula não sancionar o projeto de lei, criticado pela população, que aumenta o número de deputados. A frase saiu em tom ríspido e petulante, no mesmo dia em que a pesquisa foi divulgada.

Máfias & política - José Casado

Revista Veja

Fraudes em emendas parlamentares no Ceará são vinculadas ao crime organizado

Alguns dos mais votados deputados federais do estado do Ceará estão sob suspeita de participação no desvio de quase 500 milhões de reais em dinheiro público. São novos nomes na lista de meia centena de parlamentares submetidos a “apurações específicas”, como dizem juízes do Supremo Tribunal Federal, sobre a manipulação de emendas ao Orçamento da União e fraudes em licitações municipais. O caso do Ceará, porém, tem uma peculiaridade: a polícia vinculou os principais personagens da investigação, um deputado federal e um prefeito cassado, às máfias do crime organizado dominantes em parte do mapa estadual.

Os desafios do PT - Aldo Fornazieri

CartaCapital

Se o partido permitir o retorno da direita em 2026, a Era Lula terá uma despedida bastante melancólica

vitória de Edinho Silva por ampla maioria para a presidência do PT e a ampliação do domínio da chapa moderada não são suficientes para debelar a crise interna do partido. O resultado foi até surpreendente ante o descontentamento e a prostração dos filiados, tanto com a legenda quanto com o governo. As divergências explicitadas na disputa entre as chapas são agudas e vão desde a problemática aliança com o chamado Centrão até o papel da militância e a importância das lutas socias em relação ao grande predomínio que o partido deu à luta institucional no século XXI.

Jogo duro - André Barrocal

CartaCapital

O governo derrota o Congresso nas ruas e nas redes no caso do IOF. Agora, tenta vencer a batalha no Supremo

Na quinta-feira 10, houve uma manifestação popular em São Paulo em defesa da taxação dos super-ricos. Tinha sido convocada pela Frente Povo Sem Medo, cujo rosto mais conhecido é o deputado Guilherme ­Boulos, do PSOL. Na manhã daquele dia, a Frente Parlamentar de Combate às Desigualdades, criada por iniciativa de ­Boulos em 2023, reunira-se no Congresso. Um documento apresentado ali pela Oxfam Brasil, entidade integrante de uma rede mundial de justiça fiscal, trazia uma arqueologia da injustiça tributária brasileira e destacava uma vergonha. Enquanto os 10% mais pobres gastam 32% da renda com impostos, o 0,1% mais rico desembolsa 10%. Claro, o peso da taxação do consumo é maior do que na renda e no patrimônio, ao contrário do que se vê no mundo rico. Eis uma das razões da pornográfica concentração de renda no País.

Lula e a luta de classes - Cristina Serra

CartaCapital

O topo da cadeia alimentar foi surpreendido pela intensidade da comunicação da esquerda e pela escolha acertada da abordagem ricos contra pobres

O governo Lula, finalmente, conseguiu pautar a discussão que interessa a quem quer melhorar o País: a luta de classes. Dois projetos se prestaram a esse debate crucial. A isenção total de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais e a redução do imposto para quem recebe entre 5 mil e 7 mil reais (ainda não votado), e o aumento do IOF para os super-ricos (rejeitado pelo Congresso). Corrigir distorções do sistema tributário brasileiro é uma das formas de fazer justiça social e de expor o abismo que divide o País­ entre os que sobrevivem com migalhas e os que se esbaldam na opulência.

O arranjo do desarranjo - Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

As ameaças de Trump e as reações dos BRICS

O avesso, do avesso, do avesso. Há um clamor ou desejo nostálgico para um novo Bretton Woods, ainda mais nesses tempos turbulentos desatados sobre a moeda-reserva, o dólar. Na posteridade da Segunda Guerra Mundial, as mentes saudosistas clamavam por um retorno ao padrão-ouro.

Os desarranjos do sistema monetário internacional invocam a possibilidade de um novo Bretton Woods. Desta vez, acreditamos numa adaptação digital do Bancor.

A ideia de Keynes, vencida na reunião de Bretton Woods, pretendia criar uma moeda única para todos os países amparada em uma Câmara de Compensação única, a União Internacional de Compensação (UIC), cuja diretoria seria formada por representantes de todos os países.

Passou recibo - Maurício Thuswohl

CartaCapital

A retaliação tarifária de Trump mostra que o bloco ganhou força e representa uma ameaça concreta à hegemonia do dólar

Em meio ao avanço da extrema-direita e aos ataques do governo de Donald Trump ao multilateralismo, o mundo atual é bem diferente do que era há 19 anos, quando foi criado o BRIC, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Naquela ocasião, sobretudo após a adesão da África do Sul em 2011, que deu ao grupo o seu nome atual, a iniciativa foi apontada por economistas e políticos das mais diversas tendências e partes do globo como uma saudável tentativa de construção de parcerias multilaterais para o desenvolvimento dos paí­ses emergentes. Uma construção que não passasse pelos crivos e exigências das chamadas instituições de Bretton Woods, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Refundar a nação - Ivan Alves Filho*

Quanto mais eu acompanho o noticiário brasileiro, mais preocupado fico. A impressão que tenho é que o populismo (dito de "direita" ou de "esquerda") aposta deliberadamente em uma crise institucional, insuflando o confronto entre os poderes da República. 

Para alguns, o Executivo é melhor do que o Legislativo e este pior do Judiciário e por aí vamos. Um setor batendo cabeça com o outro, como se diz. Na base disso, dessa visão, temos os interesses eleitoreiros, imediatistas, uma vez que o Brasil não tem projeto de nação e sequer de governo. Nesse caso, tudo parece convergir para a manutenção do poder pessoal e das conveniências corporativas. Mergulhamos no império do "nós contra eles". Decididamente, a mediocridade pode ser muito significativa. No Brasil dessas primeiras décadas do século XXI tem sido assim.  

O futuro do sistema brasileiro de saúde - Marcus Pestana

Não há quem negue, independente de viés político-ideológico, às políticas públicas de saúde o status de prioridade absoluta nas ações governamentais, ao lado de educação, segurança e emprego.

O Brasil fez uma escolha ousada ao optar, na Constituição de 1988, pela construção do SUS, que assegura o acesso universal à integralidade das ações e serviços necessários para promover, restaurar e manter a saúde da população.

Não é segredo para ninguém que o país enfrenta, há muitos anos, graves restrições orçamentárias. Não é tarefa trivial assegurar, a um só tempo, sustentabilidade fiscal ao país e solidez ao sistema público de saúde.

O berço da desigualdade - Cristovam Buarque

Revista Veja

Melhorar a educação de base é caminho para o fim da pobreza

Avaliações recentes mantêm o Brasil entre os campeões mundiais em desigualdade social e concentração de renda — e um dos tristes indicadores é a discrepância no acesso à educação básica de qualidade. A inclusão no ensino representaria um avanço conceitual, porque na história brasileira a escola sempre foi tratada como direito para poucos. Quando, no final do século XX, houve a intenção de universalizar a matrícula, manteve-se a equivocada tradição de que a frequência, a assistência e a permanência até o final do ensino médio deveriam continuar apenas para alguns poucos. O problema: não basta considerar educação de qualidade como direito; ela é também vetor para o progresso. É caminho para aumento da renda e da justiça social. A assimetria educacional não é, enfim, termômetro da pobreza, mas uma de suas principais causas, como sugere o título de um livro de Sebastião Salgado: O Berço da Desigualdade.

A ignorada polarização secular - Cristovam Buarque*

 

Correio Braziliense

Quando se fala em polarização, o foco recai quase sempre sobre disputas ideológicas e não sobre a desigualdade social. A polarização social sempre foi negligenciada no Brasil, invisível aos olhos da política e dos analistas

A verdadeira polarização brasileira não é política. Ela se revela no contraste entre o salário mínimo recebido por um trabalhador sem acesso a serviços públicos de qualidade, quando não está desempregado, e os supersalários pagos a servidores do Estado, com estabilidade garantida até mesmo depois de aposentados por corrupção, custeados com recursos públicos que poderiam financiar os serviços dos quais esse trabalhador carece. Ainda assim, quando se fala em polarização, o foco recai quase sempre sobre disputas ideológicas, e não sobre a desigualdade social.

Entre 1822 e 1889, o Brasil atravessou períodos de polarização política, sem perceber a polarização social entre os brasileiros escravos e seus senhores. Depois da abolição e da República, tivemos momentos de polarização política, mas ignoramos a desigualdade social entre quem vive nas favelas e quem habita condomínios fechados; entre os que têm água tratada em suas piscinas e os que não têm água potável para beber.

O rio Capibaribe se uniu ao Beberibe e formou o oceano Atlântico - Cláudio Carraly*

(Pernambuco é Brasil)

Pernambuco emerge como um laboratório vivo da brasilidade, concentrando em seus limites geográficos as contradições, potencialidades e complexidades que definem o Brasil contemporâneo. Este estado do nordeste brasileiro transcende sua dimensão territorial para se estabelecer como um microcosmo do que acontece no todo, manifestando de forma condensada os principais desafios e oportunidades que caracterizam a nação.

A história pernambucana é um espelho amplificado dos eventos que moldaram o país, servindo como palco para as primeiras grandes expressões de autonomia e pluralidade. O Estado foi palco de eventos seminais da identidade brasileira. A Capitania de Pernambuco, estabelecida em 1534, tornou-se rapidamente o centro econômico mais próspero da América Portuguesa, fundamentado na produção açucareira. Esta prosperidade inicial criou as bases para uma sociedade complexa e estratificada que antecipava muitos dos dilemas sociais que posteriormente se estenderiam por todo o território nacional.

Poesia | Ariano Suassuna - Circuito da Poesia do Recife

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Música | Jorge Aragão - Ária Cantilena No. 1 das Bachianas Brasileiras No. 5 (com Quarteto de Cordas)

 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Chantagem rasteira de Trump não passará

Folha de S. Paulo

Cogitar de que a intimidação fará um Poder independente como o Judiciário brasileiro deixar de processar Bolsonaro é devaneio autoritário

A chantagem rasteira de Donald Trump contra o Brasil não vai funcionar. Cogitar de que o Judiciário de uma nação soberana e democrática, que opera com independência, deixará de processar quem quer que seja para livrar o país de retaliações econômicas dos Estados Unidos não passa de devaneio autoritário.

Se a manifestação foi pensada para ajudar Jair Bolsonaro (PL) no julgamento em que é acusado de tramar um golpe, ela, na melhor hipótese para o ex-presidente, terá efeito nulo. Se tentou fortalecer o deputado fugitivo Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a disputa de 2026, acabará tornando o seu caso na Justiça brasileira ainda mais complicado.

Se seu intento foi impulsionar a direita brasileira, o resultado líquido tenderá a ser negativo. Vai ser difícil ficar do lado de quem patrocina uma agressão estrangeira à soberania e aos empregos brasileiros, pois tarifas adicionais de 50% sobre as exportações teriam efeitos nefastos sobre vários setores da economia nacional.

Chegou a hora de lideranças como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolherem de que lado estão. Ou bem Tarcísio defende os exportadores paulistas e a soberania brasileira ou continua posando de joguete de boné de um agressor estrangeiro e da família Bolsonaro, cujo patriotismo de fancaria se dissolve e se transforma em colaboracionismo diante da perspectiva da cadeia.

Falta-nos o banho de capitalismo - José de Souza Martins

Valor Econômico

A queixa de Mário Covas até hoje se manifesta na continuidade da escravidão em episódios tópicos e reiterados

Uma das explicações principais para o atraso político e social do Brasil não é a polarização entre esquerda e direita. A polarização explica apenas a pobreza da consciência crítica e política do povo brasileiro e a mais pobre ainda consciência da maioria dos políticos.

Mário Covas, que foi senador e governador de São Paulo, fundador do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), tinha o dom de sintetizar em frases curtas impressões densas e significativas do que é propriamente singular na realidade política brasileira.

Lembro-me de uma delas, a de que o Brasil precisa de um banho de capitalismo. Síntese perfeita do que tem caracterizado o Brasil por mais de um século, desde que o país aboliu a escravidão negra, em 13 de maio de 1888.

Os quatro fatos que obrigaram Lula a reagir - Andrea Jubé

Valor Econômico

A percepção de aliados é de que, demorou, mas Lula, enfim, compreendeu que deve investir na disputa política e no confronto direto com os adversários para não perder a eleição

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinais de ter saído, finalmente, do modo “adagio”, que embalou sua operação política neste terceiro mandato, para entrar em modo “presto”, enquanto aliados o empurram para um “prestissimo”, mais acelerado, porque o tempo urge, a campanha está nas ruas e os fatos se atropelam no compasso veloz e dramático da “Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner.

Soa a um clichê, mas pareceu oportuno lembrar a cena da invasão de helicópteros, ao som dos acordes de Wagner, lançando bombas sobre um vilarejo do Vietnã, no filme “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola. Troque o cenário, adicione suspense, e o leitor visualizará Black Hawks americanos bombardeando o Palácio do Planalto. Nos últimos dias, o governo Lula foi alvejado com a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros de Donald Trump, quando mal se reerguia da derrota sobre o decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Congresso Nacional.

Impacto negativo do tarifaço de Trump pôs a oposição na defensiva – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O que era uma acusação da oposição contra Lula, a partidarização e a contaminação ideológica da política externa, voltou-se contra Bolsonaro e Tarcísio

Não durou 24 horas a euforia da oposição com o apoio dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) por causa do julgamento do ex-chefe do Planalto, e impôs uma tarifa de mais 50% sobre os produtos brasileiros em retaliação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por sua atuação nos Brics. A repercussão foi muito negativa, inclusive, para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que havia responsabilizado o PT pela decisão absurda e sem precedentes do norte-americano.

A reação formal do governo a Trump ocorreu em nível diplomático, a carta foi devolvida, e no plano político, com o presidente Lula refutando suas alegações em nota oficial firme, porém, moderada. Nas redes sociais, entretanto, houve uma forte mobilização política dos brasileiros, que criticaram Trump no seu próprio perfil do X.

Bolsonaristas vibram com ataque ao Brasil – Vera Magalhães

O Globo

No momento em que anuncia o tarifaço ao Brasil, usando como justificativa uma inventada “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro, Donald Trump está enredado, para variar, numa teia de enroscos domésticos e internacionais, que vão da complicação da guerra da Rússia contra a Ucrânia às decisões da Justiça cassando outras de suas decisões arbitrárias, passando pela tragédia das mortes no acampamento de férias no Texas.

Usa o Brasil, com outras bazófias, como uma de suas habituais cortinas de fumaça para tentar obscurecer assuntos que lhe são desconfortáveis. Não está nem aí para o Brasil, nem mesmo para Bolsonaro. Mas o ex-presidente, seus apoiadores e a parcela mais fanatizada do eleitorado que ainda lhe é fiel reverberam uma comemoração estúpida, por não levar em conta que todos no país serão afetados negativamente por essa chantagem absurda, que desconsidera a soberania brasileira.

Resposta a Trump – Flávia Oliveira

O Globo

A interação (negativa) dos brasileiros no perfil do presidente americano foi intensa a ponto de os administradores restringirem comentários na conta

Quase um ano atrás, o artigo de uma jornalista americana sobre o impacto da iminente suspensão no Brasil do X, de Elon Musk, jogou luz sobre a relevância do ativismo digital no país. Citando um internauta, Taylor Lorenz, fundadora da User Magazine, uma newsletter sobre tecnologia e cultura on-line, escreveu que o bloqueio do antigo Twitter por descumprimento de uma ordem judicial do ministro Alexandre de Moraes, do STF, equivaleria ao incêndio da Biblioteca de Alexandria nas comunidades de fãs. O exagero da metáfora ajuda a dimensionar a força vocal dos brasileiros nas redes.

— As contas brasileiras ressuscitaram sozinhas programas de televisão, filmes, músicas e celebridades americanas — publicou Lorenz.

A chantagem e sabujice - Bernardo Mello Franco

O Globo

Capitão e aliados usam mote “Brasil acima de tudo”, mas bajulam quem ataca o país

O tarifaço de Donald Trump contra o Brasil é um ato de chantagem em favor da impunidade de Jair Bolsonaro. Em carta enviada a Lula, o presidente dos EUA anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros. Ao justificar a medida, cobrou o fim “imediato” do processo contra o aliado no Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro é réu por tentativa de golpe. Arquivar a ação sem julgá-lo não é uma alternativa. Ao exigir que o Judiciário se dobre à sua vontade, Trump agride as instituições brasileiras e trata o maior país da América Latina como uma república de bananas.

Além de tudo, ruim de mira - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump deu a Lula uma chance de ouro de recuperar apoios políticos e popularidade

Com sua megalomania, impulsividade e imprevisibilidade, Donald Trump deu a Lula tudo o que ele precisava para recuperar apoio político e popularidade: um inimigo externo e um discurso. Um discurso catalisador, resumido no slogan que o Planalto produziu, mas terceirizou para seus militantes e aliados massificarem nas redes sociais: “Lula quer taxar os superricos, Bolsonaro taxa o Brasil”. É assim, unindo o “pobres contra ricos” com a “defesa da soberania”, que Lula tem sua grande chance de sair das cordas.

O ataque às universidades - Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Os problemas de elitismo e ameaças à autonomia se referem a dilemas fundamentais das universidades em qualquer parte do mundo

As universidades dos Estados Unidos estão entre as melhores do mundo, segundo as diversas avaliações internacionais, graças à qualidade da pesquisa, à formação que dão a seus estudantes e seu impacto na economia e na sociedade. Só as universidades Harvard, Chicago e Berkeley têm cada uma mais de cem ganhadores de Prêmio Nobel, entre professores e ex-alunos. Graças às parcerias que estabelecem com empresas e governos, são corresponsáveis pelas principais inovações científicas nas áreas de saúde, engenharia e computação, e seus departamentos de economia, ciências sociais e literatura são fontes permanentes de novas ideias e interpretações sobre a sociedade e a cultura. Não é à toa que tantos países tratam de copiar seu modelo, com suas escolas de pós-graduação, parcerias com o setor produtivo e formas modernas de gestão, e que estudantes de todo o mundo compitam para estudar lá. E, no entanto, elas estão sendo violentamente atacadas pelo governo de Donald Trump, que as acusa de discriminar os que não concordam com as doutrinas que propagam; discriminar contra americanos brancos, em detrimento de estrangeiros e membros de supostas minorias; e de antissemitismo, por permitirem que professores e alunos mobilizem-se contra as políticas do governo de Israel em Gaza. Além disso, são acusadas de gastar mal o dinheiro que recebem e de não pagar os impostos que deveriam.

Inflação mais baixa. Até quando? - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A inflação de junho, relativamente mais baixa, de 0,24%, veio dentro do esperado, mas não reflete uma melhora significativa da economia interna. Agora, é preciso observar que tipo de impacto o tarifaço do presidente Donald Trump sobre o Brasil pode produzir nos preços internos.

O despejo de moeda pelo governo continua intenso, como indica o avanço do rombo fiscal neste exercício e a expectativa de aumento nos dois anos seguintes, diante da omissão do governo e da baixa vontade política de atacar a gastança.

Ordem mundial - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

Cordell Hull repetia que livre-comércio era aliado da estabilidade e tarifas altas alimentavam conflitos

A ordem mundial em que vivemos hoje nasceu, em grande parte, do horror da Segunda Guerra Mundial. Construiu-se, então, um novo arranjo geopolítico que buscava também um novo pacto civilizatório. A criação da ONU, do FMI, do Banco Mundial e do GATT – que mais tarde se tornaria a OMC – veio acompanhada da fundação do Estado de Israel e de uma nova configuração de alianças militares, comerciais e diplomáticas.

Um país confiável - José Sarney*

Correio Braziliense

A verdade é que, no momento, estamos vivendo um excesso de crises. E, nesses momentos, as instituições têm de ser muito fortes para não serem atingidas

Quando do término da elaboração da Constituição de 1988, tive a oportunidade de dizer que, embora não fosse perfeita, tínhamos de concluí-la para que a nossa Carta Maior coroasse a transição democrática e assegurasse que o país fizesse da melhor maneira a travessia de um regime autoritário para um regime de liberdade absoluta. Nesse sentido, era crucial promulgar a Constituição possível.

Assim, ressaltei que a nossa Constituição era híbrida, parlamentarista e presidencialista, o que sem dúvida provocaria no tempo conflitos de competência entre um Poder e outro. E agora estamos assistindo a essas disputas entre o Legislativo e o Executivo, além da recorrente acusação de ativismo judicial contra o Supremo Tribunal Federal (STF), que estaria invadindo a competência do Congresso.

Bolsonarismo entrega bandeira a Lula – Jocélio Leal

O Povo (CE)

O discurso dito patriótico do bolsonarismo age contra a pátria. Dá de ombros para o que pudesse ser um rascunho da ideia de Estado. Ignora a temporalidade dos governos versus o interesse nacional, este acima do governante de plantão. As manifestações com bandeira do Brasil erguida junto com bandeiras estrangeiras, como EUA e Israel, já dizem de há muito o quão raso é aquele oceano

A ignorância dói. Imaginem uma mobilização de militantes republicanos - incluindo parlamentares e o governador de um estado importante - contra os interesses dos Estados Unidos. Bem comparando, é o que se dá hoje no ataque tarifário norte-americano sobre o Brasil. Os Bolsonaro, o PL e o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), um pré-candidato à Presidência, se juntaram para celebrar o tarifaço. Sem nenhuma cerimônia, esta cena se repete desde a quarta-feira quando da divulgação do panfleto endereçado pelo presidente Trump ao presidente Lula. 

O discurso dito patriótico do bolsonarismo age contra a pátria. Dá de ombros para o que pudesse ser um rascunho da ideia de Estado. Ignora a temporalidade dos governos versus o interesse nacional, este acima do governante de plantão. As manifestações com bandeira do Brasil erguida junto com bandeiras estrangeiras, como EUA e Israel, já dizem de há muito o quão raso é aquele oceano.

Tarcísio de Freitas entre a vassalagem e a presidência - Guálter George

O Povo (CE)

A coisa caminha para exigir que o governador se decida entre a lealdade absoluta a Jair Bolsonaro e a missão que o eleitorado paulista entregou ao elegê-lo em 2022, que é cuidar dos interesses de São Paulo

Convenhamos, é desconfortável a situação política atual do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Há pouca dúvida de que seja, hoje, o nome de melhor recepção como alternativa de candidatura à presidência em 2026 para representar as forças políticas mais à direita, juntando desde o segmento dado como moderado até os extremistas reunidos em torno do bolsonarismo. O bloco completo do antipetismo, enfim.

Acontece, porém, que um projeto eleitoral de Tarcísio no próximo ano somente parece viável, nas condições atuais, trazendo para o movimento também o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua capacidade de gerar votos. Demonstrada, aliás, com ele próprio em São Paulo, em 2022, quando sua candidatura ao governo de São Paulo foi inventada e acabou por dar certo, garantindo-lhe a posição de protagonismo na qual se encontra agora.

Trump cria armadilha à direita – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Ao penalizar o Brasil, o celerado do Norte pode jogar população contra Bolsonaro e companhia

Donald Trump não sabe nada de Brasil. Demonstra-se um fingidor quando resolve penalizar o país, com ameaça de taxar em 50% nossos produtos, falando em déficit numa realidade em que os Estados Unidos são superavitários na relação comercial.

Isso na economia. Na política, então, o presidente norte-americano é mais que um amador nas questões brasileiras.

É um desinformado, característica que alia à má-fé.

Trump precisa de professor de lógica - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Tarifaço ao Brasil não ajuda nem Bolsonaro nem a busca por superávits perseguida pelos EUA

Não é de assessoria política, econômica e nem mesmo da ajuda de um profissional de saúde mental que Donald Trump precisa agora. O que ele deveria fazer é convocar com urgência um professor de lógica para auxiliá-lo na Casa Branca, pois suas ações estão mais erráticas do que o habitual.

Se o objetivo do presidente americano é ajudar Jair Bolsonaro, então a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros é uma péssima escolha. É zero a chance de a ameaça tributária aliviar a situação jurídica do capitão reformado no STF.