sexta-feira, 18 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula precisa vetar trechos do PL do Licenciamento

O Globo

Projeto aprovado na Câmara agrava devastação ambiental. O possível agora é tentar conter os danos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa vetar os artigos mais descabidos do Projeto de Lei (PL) que estabelece novas regras para o licenciamento ambiental, aprovado pela Câmara de afogadilho na madrugada desta quinta-feira. Apelidado “PL da Devastação” pelos ambientalistas, o texto aprovado contribui para ampliar a degradação ambiental no Brasil. Criticado por representantes do setor produtivo, da comunidade científica e de entidades ligadas à conservação, foi votado de forma açodada por pressão da bancada ruralista.

É verdade que a legislação precisava ser atualizada. Mas, da maneira como ficou, o texto representa um retrocesso. Seus defensores argumentam que, sem flexibilizar as exigências, não haverá desenvolvimento. Não é verdade. Com regras apropriadas, o país tem plena condição de zelar pelos recursos naturais e, ao mesmo tempo, incentivar produção e obras de infraestrutura. Entre idas e vindas no Parlamento, a pressão dos ruralistas tornou inócuos os termos razoáveis da proposta inicial. O estrago está feito. A alternativa possível é a redução de danos.

Descobriram quem são os Bolsonaros? - Fernando Luiz Abrucio

Valor Econômico

Saber quem são, de verdade, os governadores que bajulam o ex-presidente e se vendem como moderados é central para o futuro do país. Afinal, é preciso saber com quem se contará na próxima pancada de Trump

O presidente Trump causou duas hecatombes no Brasil em uma só tacada. A primeira com o aumento escandaloso de 50% das tarifas, algo mais próximo de uma sanção contra uma nação inimiga. A segunda foi a forma que propôs para rever a decisão: bastava que as instituições brasileiras salvassem a família Bolsonaro - o pai Jair e o filho Eduardo -, que tudo seria esquecido. Essa vendeta trumpista, típica de mafioso, foi apoiada pelos governadores Zema, Tarcísio, Ratinho Jr. e Caiado, que depois se arrependeram, mas sem romper com o “mito”. Após esse escorregão, fica a pergunta: esse grupo da direita brasileira é incapaz de entender o perverso significado do bolsonarismo?

Quem se surpreendeu com esse casamento entre Trump e os Bolsonaros, e o tipo de decisão que produziram, ficou os últimos anos fora do planeta Terra - ou então concorda com a forma extremista que pensam. Em relação ao presidente americano, a intempestividade e a chantagem são marcas de seus governos, tendo crescido ainda mais agora por ter ampliado o seu poder. O Brasil não é o primeiro a sofrer com isso. O trumpismo, como toda a extrema direita que se alimenta das ideias totalitárias de Carl Schmitt, segue a lógica do amigo versus o inimigo, tanto no plano interno como no externo. E o presidente Lula é certamente um alvo preferencial de Trump.

Enfim, a perplexidade - José de Souza Martins*

Valor Econômico

Num país que bate continência para qualquer fardado, Bolsonaro ainda flutua na ilusão da geopolítica da Guerra Fria, da sujeição do Brasil aos interesses americanos contra a União Soviética

Posto de joelhos por um dos filhos de Bolsonaro, vassalo de Trump, o Brasil começa a surpreender-se com a humilhação de ser minimizado diante de um país de que não somos colônia. Somos ingênuos, mas não tanto. Mesmo as pessoas mais manipuláveis têm a dignidade do limite para o tratamento que as degrada e humilha.

Apesar do modo como Bolsonaro, seus parentes, cúmplices e seguidores nos tratam, o país vem manifestando crescente impaciência com seu empenho de nos impor a todos o tratamento próprio da cultura da senzala.

Se as manifestações bolsonaristas na avenida Paulista, em São Paulo, nos últimos tempos, forem tomadas como medidor de legitimidade, o declínio de comparecimentos indica o cansaço popular com a manipulação e os abusos e as ilegalidades da política disfarçada em suposta religião, marca do bolsonarismo.

Lula cresce com inimigo na mira e vendendo sonhos - Andrea Jubé

Valor Econômico

Governo volta a respirar sem o auxílio de aparelhos, na esteira da recuperação da popularidade do presidente

Num momento em que o governo voltou a respirar sem o auxílio de aparelhos, na esteira da recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os esforços no Palácio do Planalto convergem para que esse crescimento se mostre sustentável, e para evitar novas crises e erros rumo a 2026.

Um diagnóstico que já havia se formado, antes de o presidente Donald Trump impor a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, era de que Lula tinha de aparecer mais e falar mais aos brasileiros. Embora não se questione o papel de Lula como maior comunicador do governo, a percepção de auxiliares é de que, no terceiro mandato, ele ainda não conseguiu demonstrar o mesmo talento que o ex-presidente Jair Bolsonaro para dominar a pauta nacional.

Trump inaugura a era do neoimperialismo digital - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O xis da questão são as big techs: controlam fluxos de informação e expropriam capital social, transformam redes de confiança e reputação em lucro, sem pagar impostos

Eric Hobsbawm (1917-2012), em sua célebre quadrilogia — A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios e A Era dos Extremos — descreveu o capitalismo de sua gênese industrial ao colapso das ordens liberais e socialistas do século XX. Se o historiador britânico estivesse vivo, acrescentaria um quinto volume: “A Era Digital do Imperialismo”. Nela, as antigas disputas por colônias e matérias-primas seriam substituídas pela luta por dados, algoritmos e infraestrutura tecnológica, e os monopólios industriais dariam lugar às big techs.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (“O mundo sou eu”, parafraseando Luís XIV da França), de forma personalista e agressiva, encarna uma espécie de recidiva do imperialismo no novo contexto digital: um nacionalismo protecionista que confronta aliados e rivais, do Canadá à Rússia, e busca subjugar os países emergentes. Neste cenário, a União Europeia tenta manter sua relevância com medidas regulatórias, enquanto a China, ao transitar para a economia do conhecimento, ameaça verdadeiramente a hegemonia norte-americana no comércio global. Com um lugar cativo nas cadeias globais de valor como produtor de commodities de alimentos e minérios, o Brasil tenta se equilibrar no tabuleiro, para não perder a condição de economia industrial, da qual o principal mercado são os Estados Unidos.

Câmara passou trator sobre legislação ambiental - Bernardo Mello Franco

O Globo

A Câmara passou o trator sobre a legislação ambiental. Os deputados aprovaram o chamado PL da Devastação, que desmonta o sistema de licenciamento. A votação avançou pela madrugada de 17 de julho, Dia de Proteção às Florestas.

O tratoraço foi comandado por Hugo Motta. No início da tarde, o presidente da Câmara recebeu telefonema de Marina Silva, que pedia o adiamento da votação para depois do recesso. Além de ignorar o apelo da ministra, ele se empenhou para derrotar o governo. Ficou no plenário até o fim da sessão, às 3h42 da manhã.

O Observatório do Clima classificou a aprovação do projeto como um “crime histórico” e uma “vergonha para o Brasil”. Em novembro, o país sediará a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Será difícil explicar aos visitantes o que o Parlamento acaba de fazer.

Parlamento está desconectado da agenda atual mais urgente – Flávia Oliveira

O Globo

Está em cartaz no Masp, em São Paulo, até fins de agosto, a exposição “A ecologia de Monet”. Hoje, o Museu do Amanhã, no Rio, inaugura a mostra “Claudia Andujar e seu universo — Sustentabilidade, ciência e espiritualidade”, com curadoria de Paulo Herkenhoff. São duas coletâneas que, cada uma a seu jeito, trazem a preservação da natureza para o mundo das artes, no ano em que o Brasil receberá a COP30, conferência do clima da ONU. Claudia Andujar nasceu na Suíça em 1931. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois que o pai foi capturado e morto por nazistas num campo de concentração, exilou-se com a mãe em Nova York. Em 1955, mudou-se para o Brasil; fotógrafa, por sugestão de Darcy Ribeiro, passou a documentar sociedades indígenas. Dedicou quase toda a carreira aos ianomâmis, etnia que habita o norte da Amazônia; há uma década empresta o nome a uma galeria com 400 fotos no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), do crime da Vale.

O impressionista Claude Monet (1840-1926) é reconhecido pelas pinturas de paisagens. As 32 obras expostas em São Paulo — curadoria de Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Isabela Ferreira Loures — passeiam pela relação do francês com o meio ambiente em 50 anos de carreira. Chama a atenção a travessia entre as paisagens bucólicas de fins do século XIX e os cenários cortados pela fumaça dos trens e das chaminés das fábricas, em decorrência da industrialização. A série de quadros é documento histórico da transição para o mundo moderno e evidência de que o artista não a ignorou. O trabalho de Claudia Andujar, igualmente, registra a existência de um povo que, há um par de anos, enfrentava nova ameaça de extermínio no próprio território pela presença do garimpo, durante o governo Bolsonaro.

Uma semana para a história - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

O primarismo político de supor que a truculência externa pode resolver questões no interior da democracia brasileira é algo suicida

Desde a semana passada, o Brasil vive uma singularidade planetária. Neste ano, o déficit comercial com os Estados Unidos alcançou US$ 1,7 bilhão e fomos punidos com uma tarifa de 50%, a maior do mundo.

Superado o impacto inicial, é possível fazer algumas projeções, baseadas na experiência. Na maioria dos casos em que países são punidos com sanções, o objetivo é atingir o governo. Mas como as sanções atingem todos, a tendência é fortalecer as autoridades que querem punir e contribuir com o empobrecimento do país. O resultado é este: o governo se eterniza junto com a pobreza.

Virou guerra de presidentes – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula parte para a briga, Trump vai da chantagem a um inadmissível ultimato

Se até o ex-vice presidente Hamilton Mourão entrou na contramão dos Bolsonaros e disse para Donald Trump “não meter o bedelho” no Brasil, é a vez de os brasileiros gritarem que “o Pix é nosso” e os paulistanos, que “a 25 de Março é nossa!” Bom para Lula? Sim, mas ele está usando politicamente a onda de união nacional.

Lula está entre recuperar energia para 2026 ou apoio do Congresso e arriscando seus ganhos ao confrontar Trump, que passou da chantagem ao ultimato, em carta a Jair Bolsonaro. Suspender o julgamento de Bolsonaro imediatamente?

Durou pouco também a trégua que o Congresso – ou melhor, o Centrão – selou com Lula depois dos bombardeios dos EUA ao Supremo, aos produtos, às empresas e à soberania nacional. No mesmo dia em que Hugo Motta e Davi Alcolumbre se reuniram com Geraldo Alckmin para demonstrar apoio à resistência a Trump, a trégua desabou sob o peso de três projetos.

O Brasil, sem poder de barganha – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Aos poucos, a indignação infantil e inconsequente vai sendo substituída por uma visão mais realista das nossas precariedades.

A primeira reação do presidente Lula ao anúncio do presidente Trump sobre o tarifaço de 50%, a vigorar a partir de 1º de agosto, foi apelar para a soberania nacional e para revides em nome do princípio da reciprocidade. Lula chegou a avisar que recorreria à Organização Mundial do Comércio, providência que teria a mesma força de um pedido de apoio ao arcebispo de Nova York. Nesta quinta-feira, declarou que “gringo não vai dar ordens” e, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, disse que “No Brasil, ninguém está acima da lei”.

Mas, na avaliação de parte dos empresários brasileiros, cutucar a onça com vara curta poderia levar ao pior. O País está na defensiva, tentando se apegar a alguma ajuda dos empresários norte-americanos prejudicados com a alta dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. Nem a primeira carta enviada a Donald Trump, logo após o anúncio do tarifaço geral em abril, conseguiu resposta.

O presidente Trump parece ter eliminado a principal justificativa apresentada em sua carta do dia 11, quando alegou que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo vítima de uma caça às bruxas. “Bolsonaro nem chega a ser amigo”, disse Trump. “É apenas conhecido.”

Trump é a maior ameaça ao dólar, não o Brics - Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Além de gerar inflação, tarifaço deverá reduzir potencial de crescimento dos EUA

dólar norte-americano registrou, ao longo do primeiro semestre deste ano, uma desvalorização de 10% diante de uma cesta de outras moedas fortes, como euro e iene. Foi a maior perda de valor já registrada na primeira metade de um ano desde 1973.

O principal fator responsável por isso é a política econômica que vem sendo adotada pelo governo Donald Trump. O tarifaço contra praticamente todos os países do mundo, inclusive aliados de longa data, irá não apenas gerar mais inflação e menos crescimento a curto prazo mas também poderá reduzir o potencial de crescimento a médio e longo prazo —tornando os EUA menos atrativos para os capitais internacionais.

Alckmin e a ponte para o centro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O vice pode ser um ativo de Lula para promover a reaproximação com o centro e o setor produtivo

Os últimos acontecimentos confirmam que Luiz Inácio da Silva (PT) é um homem de sorte, mas indicam que Geraldo Alckmin (PSB) é também bafejado pelos mesmos ventos.

Escapou de participar das exéquias do PSDB e, numa manobra que pareceu arriscada quando mudou de partido e de lado ao aceitar compor a chapa com o petista em 2022, tomou uma decisão que lhe garantiu lugar ao sol na política e agora o coloca na boca de um novo gol.

Se Lula não subir nas tamancas do ego e estragar o trabalho de Alckmin na condição de porta-voz da condução das tratativas em torno da crise provocada pelo tarifaço de Donald Trump, o vice hoje tem garantido um papel de destaque em 2026. Seja na corrida presidencial —quem sabe não como reserva— ou solução competitiva ao Palácio dos Bandeirantes.

Bolsonarismo em curto-circuito - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Lobby de Eduardo Bolsonaro contra instituições brasileiras nos EUA saiu de controle e acabou virando ônus para o próprio clã

Estou entre os que acreditam que não existem limites biológicos para a burrice. A família Bolsonaro não é conhecida por produzir candidatos ao prêmio Nobel ou à medalha Fields, mas acho que nem o mais estulto membro do clã teria tido a ideia de pedir a Donald Trump que ameaçasse o Brasil com tarifas de 50% a menos que o processo contra Jair Bolsonaro no STF fosse extinto.

Fazê-lo seria criar um caso de dano autoinfligido para constar em todos os compêndios de erros políticos catastróficos. Ainda assim, foi exatamente o que ocorreu. Como explicar?

Um soldado e um cabo - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro queria fechar o STF. Este agora pode mandar o soldado e o cabo para fechá-lo

Um dia, um fanfarrão disse para uma plateia de estudantes em Brasília: "Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não quero desmerecer o soldado e o cabo. O que é o STF? Tira a caneta de um ministro do STF, e você acha que vai ter manifestação popular a favor dele? Milhões na rua?".

Pode-se imaginar a cena. Depois de cruzar assobiando a praça dos Três Poderes, o soldado e o cabo chegam ao Supremo Tribunal Federal. Metem-lhe o pé na porta, adentram o plenário em sessão e, com uma simples ordem de "Passa fora!", enxotam os ministros do recinto. De toga, tíbios, derrotados, eles saem um a um. O cabo bate a porta ao sair, passa-lhe um ferrolho e vai à Câmara entregar a chave a quem lhe dera a ordem: o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Poesia | Antônio Maria - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Minha Missão - Clara Nunes

 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trump abriu brecha para Lula reverter declínio de popularidade

O Globo

Pesquisa revela que reprovação caiu depois do tarifaço, mas estratégia ‘ricos contra pobres’ tem limites

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou na chantagem feita ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma brecha para reverter sua acentuada queda de popularidade, como mostra pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira. Depois do anúncio do tarifaço de 50% para as exportações do Brasil, a desaprovação ao governo Lula recuou de 57% (resultado obtido em maio) para 53% . A aprovação subiu de 40% para 43%. Embora as variações estejam dentro da margem de erro, a distância entre reprovação e aprovação caiu de 17 para 10 pontos percentuais. É a primeira recuperação desde julho de 2024, quando a popularidade de Lula começou a esfarelar em meio à sucessão de crises.

Linha tênue - Merval Pereira

O Globo

Não houve histrionismo, não abusaram do patriotismo como bandeira de campanha política, não ameaçaram romper relações

O dado mais interessante da nova pesquisa Quaest/Genial divulgada ontem é a confirmação de que a recuperação de parte da popularidade do presidente Lula se deve à adesão de um número expressivo de eleitores de centro-direita à maneira como o governo reagiu às sanções impostas pelo governo de Donald Trump a nosso comércio internacional. Não houve histrionismo, não abusaram do patriotismo como bandeira de campanha política, não ameaçaram romper relações. Uma reação dura, mas necessária, que teve boa receptividade da maioria da população. É uma linha tênue que o governo deve respeitar, sob o risco de reverter o apoio.

Strike provocado por tarifaço de Trump começou pela direita bolsonarista -Malu Gaspar

O Globo

Ainda não dá para cravar se Donald Trump imporá mesmo aos produtos brasileiros uma tarifa de importação de 50%, de 20% ou nenhuma, mas não há dúvida sobre o tamanho do estrago do tarifaço na direita nacional. Os primeiros prejudicados foram os Bolsonaros — Jair, cujo processo no Supremo Tribunal Federal (STF) foi usado como pretexto, e It, que pedia sanções contra Alexandre de Moraes e acabou levando à retaliação contra o país inteiro.

Depois do anúncio, ficou sepultada qualquer esperança do ex-presidente de um alívio no processo sobre a trama golpista no Supremo ou da aprovação no Congresso de anistia aos presos do 8 de Janeiro. Eduardo, ao buscar se cacifar como articulador da medida, deu ao STF motivos para processá-lo por obstrução de Justiça — além de demonstrar que seu patriotismo acaba quando começam os interesses da família Bolsonaro. Se voltar ao Brasil, poderá ser preso ou se tornar inelegível.

O governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), que ensaiou apoiar Trump contra Lula — e ainda foi ao Supremo propor a devolução do passaporte a Bolsonaro para ir aos Estados Unidos negociar —, perdeu em um dia todo o trabalho com que tentava convencer a elite empresarial de que, caso venha a ser candidato a presidente em 2026, não será para agir como capacho do ex-chefe.

Rendição ou negociação - Míriam Leitão

O Globo

Carta enviada pelo governo brasileiro lembra que sempre houve disposição de negociar e propostas. Mas o que Trump quer é a rendição

O Brasil teve onze conversas — quatro ministeriais, e sete de nível técnico — com a área de comércio dos Estados Unidos, desde março. O governo tenta conversar a sério. Mas o que o presidente Donald Trump quer é a rendição institucional do país. A estratégia é isolar a parte “ultrajante” e criar musculatura para negociar comércio, ouvindo empresários, e buscando aliados na economia americana. Nas reuniões com os empresários há segmentos que mostram situação dramática. Trinta por cento de toda produção de laranja vão para os Estados Unidos. No caso da Embraer é um enorme tiro no pé: perto de metade de cada avião da empresa é de peças e componentes americanos.

A carta que foi enviada ontem ao governo americano lembrou que desde o início o Brasil mostrou disposição negociadora, apresentou propostas de áreas específicas e pôs temas na mesa. Como acelerar emissão de patentes, combater a pirataria. Aliás, o próprio USTR, na avaliação que divulgou em maio, de acompanhamento que faz do Brasil, pela Seção 301, reconheceu que o Brasil tem tido avanços nessas duas áreas.

Trump deu a Lula uma bandeira nacional: “O Pix é nosso!” - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Qual a verdadeira razão de Trump mandar investigar o Pix? Por trás da sua decisão, estão interesses da Meta e das bandeiras de cartão de crédito Mastercard e Visa

Depois do tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras, o presidente Donald Trump resolveu abrir investigações sobre supostas violações das relações comerciais entre os dois países, cujos alvos vão do comércio da Rua 25 de Março, em São Paulo, o maior mercado fornecedor de pequenos empreendedores do país, à utilização do Pix como meio de pagamento. Isso deu de bandeja para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma bandeira popular até então improvável: “O Pix é do Brasil e dos brasileiros”.

Em janeiro passado, a fake news de que as operações com o Pix seriam taxadas pelo governo federal foi o principal gatilho para a queda abrupta de popularidade de Lula, num momento em que a economia registrava crescimento, pleno emprego e elevação da renda média. Agora, o que foi uma de suas maiores dores de cabeça, o Pix virou bálsamo para o governo, em meio à maior crise diplomática e comercial com os Estados Unidos.

Quem pariu o apoio de Trump deixa para Lula embalá-lo -Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Lula colhe vitórias no Congresso, no STF e arregimenta o empresariado e a finança

O bolsonarismo deu sinais visíveis de arrependimento em relação ao pedido de ajuda a Donald Trump. Tarcísio Freitas começou a falar em colaborar com o Itamaraty, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou ter feito as pazes com o governador de São Paulo, a quem chamara de “subserviente servil às elites” e até seu pai passou a dizer que é o governo Lula que deve negociar com o governo americano e não ele.

Tudo em vão. Trump está sem freio e quem pariu seu apoio agora se mostra incapaz de embalá-lo. A investigação aberta pelo escritório de representação comercial dos EUA mostrou que a defesa de Jair Bolsonaro foi apenas pretexto para destampar um pote até aqui de mágoas contra o Brasil. O escopo da investigação, do etanol ao desmatamento, passando pela pirataria, legislação anticorrupção e meios de pagamento, é a soma de embates ancestrais que tem, no arsenal de porretes de Trump, sua janela de oportunidades.

A hora dos predadores - Assis Moreira

Valor Econômico

As novas elites tecnológicas não têm nada em comum com os tecnocratas de Davos; seu modo de vida não se baseia no gerenciamento competente do que existe, mas sim no desejo de fazer bagunça

Em livrarias em Paris, neste verão, logo na entrada aparece em destaque um pequeno livro que tem a ambição de ajudar a compreender o caos no qual nos encontramos hoje. De autoria do conselheiro político ítalo-suíço Giuliano da Empoli, “A Hora dos Predadores” examina contornos de uma nova ordem mundial, uma realidade que o autor considera “fruto apodrecido” de aliança de gigantes da tecnologia e dirigentes populistas, onde o uso da força bruta se torna o modo de funcionamento.

Antigo assessor do ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi (centro-esquerda) e acompanhante frequente do presidente francês Emmanuel Macron em viagens ao exterior, esse professor da Science Po, famosa universidade parisiense, faz curtos e inquietantes perfis de membros da chamada “internacional reacionária”, indo de Donald Trump a Nayib Bukele, presidente de El Salvador, e o príncipe saudita Mohammed bin Salman, além de patrões de grandes companhias tecnológicas como Elon Musk e Sam Altman (da OpenAI).

A constatação é de que o mundo muda velozmente marcado por avanços da inteligência artificial, ataques reiterados contra a democracia, multiplicação de conflitos militares. Como ele nota em diferentes entrevistas, há momentos em que a realidade tem mais imaginação que a ficção.

A conta não fecha - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

O Brasil combina, hoje, o que tem de pior em matéria de justiça tributária com o que existe de mais retrógrado na condução do gasto público

No ano corrente, o governo precisa cumprir uma meta fiscal (receitas menos despesas) igual a zero; os instrumentos de que dispõe devem ser suficientes. Desafio muito menos trivial apresenta-se para 2026. No ano que vem, o déficit é estimado em R$ 108,9 bilhões e a meta proposta, um superávit de R$ 34,5 bilhões. Nem mesmo os descontos contábeis e as bandas legais darão conta de tapar um buraco tão grande.

Em 2025, a saída dos efeitos do decreto do IOF precisará ser coberta. A Medida Provisória (MPV) n.º 1.303, que tributa os títulos isentos (a exemplo das LCI e LCA) e providencia certo aperto de cintos em benefícios sociais e auxílios, é fundamental. A já aprovada MPV n.º 1.291, que permitirá ao governo rifar receitas futuras de petróleo, também ajuda.

A pergunta de Trump - William Waack

O Estado de S. Paulo

O presidente americano expôs um Brasil vulnerável e sem estratégia

O sonolento Brasil foi sacudido em seu berço esplêndido, mas o pesadelo mal começou. A brutal pressão desencadeada por Donald Trump tem aspectos específicos intratáveis, como a imposição de tarifas para interferir na política doméstica. Simplesmente inaceitável.

Ainda mais preocupante, porém, é a exposição do grau de vulnerabilidade geopolítica de um país tão grande e, do ponto de vista geográfico, tão afastado do principal eixo de conflito. O fato de o Brasil estar encurralado e com poucas opções vem do fato de que pensamento estratégico, planejamento e defesa nacional nunca ocuparam lugar central no debate político.

Trump e sua guerra comercial contra o Brasil - Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

Na sua argumentação, Trump misturou um assunto político ligado a Bolsonaro e errou ao dizer que seu país tem um déficit comercial com o Brasil

O tarifaço de 50% é o aspecto mais importante dessa guerra, mas a carta em que Donald Trump informou ao presidente Lula sobre essa taxação contém mais aspectos dignos de nota. Para tratar deles, vou começar com um resumo da missiva.

“Conheci e tratei com o expresidente Jair Bolsonaro e o respeitei profundamente, (...) a maneira como o Brasil o tem tratado (...) é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. Trata-se de uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!

Genial/Quaest: Lula segue como favorito para 2026, em todos os cenários

Rosana Hessel / Correio Braziliense

O presidente lidera pesquisa, com 41% a 43% das intenções de voto em um eventual segundo turno. Além disso, amplia a vantagem sobre os rivais

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ajudou a melhorar a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após anunciar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, e ampliou a distância entre os concorrentes da direita na corrida eleitoral de 2026. É o que revela a quarta edição da Pesquisa Genial/Quaest sobre as eleições presidenciais do próximo ano, divulgada nesta quinta-feira (17/07).

De acordo com o levantamento, o petista lidera em todos cenários elaborados pelo levantamento, com a preferência variando de 41% a 43% entre os eleitores em um eventual segundo turno. No primeiro turno, o chefe do Executivo também lidera, com 30% a 32% das intenções de votos dos eleitores nos no primeiro turno nos quatro cenários pesquisados.

Caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continue inelegível, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segue indicado como candidato da direita por 15% no cenário estimulado. O percentual é inferior ao da pesquisa anterior, realizada em maio, de 17%, provavelmente por ter demonstrado apoio ao presidente dos Estados Unidos quando a nova sobretaxa aos produtos brasileiros foi anunciada. 

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) recebeu 13% das respostas dos entrevistados – abaixo dos 16% computados em maio. Para 19% dos eleitores, nenhum dos nomes apontados deveria ser o candidato da direita em 2026 e 17% não souberam, ou não opinaram.

Para 62% dos entrevistados, Bolsonaro deveria abandonar a disputa e apoiar outro candidato. O ex-presidente, que está inelegível e é réu no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que julga os culpados do ataque às instituições democráticas de 8 de janeiro de 2023, e, segundo a pesquisa ainda tem 26% da preferência entre os entrevistados em um eventual primeiro turno. Nenhum outro candidato da direita conseguiu 20% das respostas nos quatro cenários do levantamento.

Segundo turno

A pesquisa Quaest, realizada em parceria com a Genial Investimentos, elaborou oito cenários para o segundo turno e Lula lidera em todos eles, inclusive, ampliou a vantagem sobre Tarcísio de Freitas na comparação com a edição anterior.

Em maio, quando o placar estava em 41% para o chefe do Executivo e 40% para o governador paulista. Na edição deste mês, o petista manteve o mesmo percentual de preferência quanto a intenção de voto em Tarcísio e recuou para 37%.

Em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, Lula tem uma vantagem maior do que a de Tarcísio, de 43% a 37%. Em um cenário contra Michelle Bolsonaro, Lula vence pelo placar mais amplo, de 43% a 36%. Em uma disputa entre Lula e o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), o placar passa para 41% contra 36% – o mesmo do petista contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD) e contra o deputado Eduardo Bolsonaro. 

De acordo com a pesquisa, 44% dos eleitores têm mais medo de Bolsonaro voltar ao Palácio do Planalto. Na pesquisa anterior, esse percentual era de 45%. Enquanto isso, 41% dos entrevistados têm mais medo de que Lula continue no poder, percentual levemente acima dos 40% computados em maio.

A pesquisa foi realizada entre os dias 10 e 14 de julho. Foram entrevistados 2.004 brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Ampliação da Câmara dos Deputados

Ontem, a Quaest divulgou levantamento sobre a aprovação do governo Lula, que voltou a subir após o episodio do novo tarifaço de Trump. Entre maio e julho, a aprovação de Lula entre os eleitores subiu de 40% para 43% e a desaprovação caiu de 57% para 53%. 

Em um recorte dessa pesquisa divulgado hoje, os entrevistados foram questionados sobre o aumento no número de cadeiras na Câmara dos Deputados de 513 para 531 e a desaprovação foi de 85%. A maior rejeição foi entre os homens, de 89%. Entre as mulheres, esse percentual foi de 79%.

Veja alguns destaques da pesquisa:

Como Zeus insano, Trump lança raios sobre mundo acoelhado - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Americano recorre à intimidação tarifária, países afetados não reagem com firmeza e EUA colhem resultados em dólares

A exploração econômica das colônias com a imposição de monopólios e impostos abusivos marcou as relações entre países europeus e suas possessões pelo mundo. São famosos os casos do quinto do ouro e das derramas, no Brasil, e da Lei do Chá, nos Estados Unidos —por iniciativa de Portugal e Reino Unido.

Os dois episódios provocaram revoltas contra as metrópoles. No Brasil, a Inconfidência Mineira; nos EUA, a Festa do Chá e, poucos anos depois, a Independência.

Donald Trump, séculos depois, está empenhado em restaurar uma perspectiva imperial pela coação alfandegária. O que poderíamos chamar de Imperador das Tarifas está a distribuir taxas como Zeus distribuía raios para demonstrar seu poder. Ah, o Judiciário brasileiro está julgando um golpista amigo meu? Raio neles. E tome 50% de tarifa. Ah, o México não está ajudando o suficiente com o tráfico de drogas para uso de americanos? Raio neles também.

Congresso quer os lobos cuidando das galinhas do agro - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Ignoram-se os riscos ambientais como se o planeta esquecesse destes riscos e não voltasse para cobrar a conta

Se aprovado, o principal impacto do PL do Licenciamento, em pauta nesta semana na Câmara dos Deputados, será impor ao agronegócio e à mineração do país o selo de devastação. Aprovado, consumidores nacionais e estrangeiros que adquirirem nossas commodities deverão saber que estão consumindo junto com nossa carne, café, suco de laranja, aço e outros uma boa quantidade de devastação e anistia para toda sorte de ilícitos ambientais cujo lobby convenceu o Congresso.

Fora as razões de proteção ao meio ambiente e de segurança jurídica que atestam contra o PL 2.159/2021, há outra razão instrumental: impor ao agro e à mineração a pecha de devastadores é um tiro no pé de dois pilares da economia nacional. Às vésperas da votação, o deputado federal Zé Vitor (PL-MG) voltou a incluir a mineração no projeto de lei, dando base legal para que o setor se valha do licenciamento ambiental para inglês ver apadrinhado pelo presidente do Senado, ou seja, para que a extração no país ocorra sem que sejam sequer avaliados os riscos.

Pix é queridinho do brasileiro e não cabe retrocesso - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Não há nada que vá barrar o avanço da engenhoca e de suas mil possibilidades

É absurda a tentativa de Donald Trump de barrar o avanço do Pix ao listá-lo como suspeito de prática desleal em relação a serviços de pagamentos eletrônicos na investigação aberta contra o Brasil. É como se a Inglaterra do século 19, que popularizou o motor a vapor, falasse para outros países que estão proibidos de migrar para o motor a combustão.

A escolha do Pix como alvo expôs com clareza os interesses econômicos que norteiam os ataques. O Pix está incomodando muita gente poderosa, como as big techs e as empresas de cartão de crédito.

Como arruinar uma potência - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Nas ações de Trump há ideologia, defesa de interesses seus e de financiadores, ignorância, egolatria e pura insânia

Há muitas formas de levar um país à breca —e todas sempre incluem a política exterior. A mais notável delas é iniciar uma guerra e perdê-la. Na versão eletrônica da revista americana "Foreign Policy", Stephen M. Walt, professor da Universidade Harvard, acaba de publicar o artigo "How to ruin a country" (Como arruinar um país), no qual descreve passo a passo a destruição da política externa dos Estados Unidos empreendida por Donald Trump.

Segundo o autor, são cinco atos letais, todos já cometidos pelo titular da Casa Branca. O primeiro é demitir funcionários capazes —com autonomia de pensamento— e substituí-los por sicofantas incompetentes, leais até a medula e totalmente dependentes da vontade do chefe. O segundo ato consiste em brigar com o maior número possível de países, a começar dos aliados.

E se os Bolsonaros cometem novos crimes - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

O jogo de Jair, Eduardo e Flávio pode configurar coação e obstrução da Justiça

Instituições brasileiras sempre trataram Jair Bolsonaro como filho pródigo. Por mais de 30 anos, o Superior Tribunal Militar, a Câmara dos Deputados, o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República funcionaram como casas de tolerância à delinquência política. A leniência se estendeu à sua família.

Durante sua Presidência, pedidos para investigar violações de direitos, crimes de incitação, crimes sanitários e contra a administração, crimes eleitorais e de responsabilidade ocorreram sem consequências jurídicas ou políticas. Mortes evitáveis da pandemia ficaram impunes. Em 2023, Jair foi condenado à inelegibilidade pela Justiça Eleitoral, que continua sem julgar outras ações contra ele.

Sabia que Trump é careca? – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Os cabeleireiros se esforçam ao penteá-lo, mas tudo em sua cabeça é fake, dentro ou fora dela

Em seu primeiro mandato como presidente dos EUA (2017-2021), Donald Trump disse publicamente 30.573 mentiras —cerca de 21 por dia—, segundo o severo mentirômetro do jornal Washington Post. Em seu discurso de posse no segundo mandato, há meses, Trump manteve a média dizendo 20 mentiras. É uma tática de governo, criada por seu conselheiro Steve Bannon: "inundar a área de merda", para confundir o público e desviar a atenção enquanto ele toma as medidas que de fato lhe interessam. Consiste em mentir, dizer absurdos, fazer ameaças, cumpri-las ou voltar atrás.

Poesia | Amor, de Pablo Neruda

 

Música | Carlinhos Cor Das Aguas - Aldeia

 

Blog Democracia Política e novo Reformismo

Bom dia! O Blog de hoje, quinta-feira, 17/7/2025

DEMOCRACIA POLÍTICA E NOVO REFORMISMO

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quarta-feira, 16 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais | Opiniões

PGR expõe ridículo do pleito por anistia de Bolsonaro

O Globo

Sem ceder à chantagem, Justiça deve julgá-lo e condená-lo pelos crimes contra a democracia que cometeu

As alegações finais apresentadas nesta semana pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados por tentativa de golpe de Estado são uma demonstração oportuna e necessária da independência do Judiciário e das instituições brasileiras diante da pressão que sofrem do governo dos Estados Unidos — descabida, sem nexo e sem nenhum amparo nos fatos. Ante os inúmeros indícios e evidências colhidos desde a fase de investigação pela Polícia Federal, relatados exaustivamente ao longo de mais de 500 páginas, a PGR tomou a única decisão cabível: pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação dos réus.

O documento da PGR expõe de modo eloquente a desfaçatez do pleito de Bolsonaro por anistia e a irresponsabilidade da manobra movida por seus familiares e aliados junto ao presidente americano, Donald Trump. O próprio Bolsonaro admitiu ao STF ter procurado comandantes das Forças Armadas para questionar o resultado das urnas e ter conversado com seus auxiliares sobre medidas de exceção, como o Estado de Sítio. É ridículo argumentar que essas iniciativas estavam, como ele insiste, “dentro das quatro linhas” da Constituição.

Do mesmo modo, foi constrangedora a manifestação de Bolsonaro sobre a chantagem de Trump (impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros se não houver anistia aos golpistas). “A solução está nas mãos das autoridades brasileiras. Em havendo harmonia e independência entre os Poderes, nasce o perdão entre irmãos e, com a anistia, também a paz para a economia”, escreveu Bolsonaro. Ora, para ele, o Brasil deveria salvar sua pele cerceando a independência da Justiça — ou então pagar o preço altíssimo das tarifas impostas por Trump. Nada poderia refletir melhor seu desdém pela democracia, pela soberania nacional e pelas instituições republicanas do que esse recurso desavergonhado à chantagem.