sexta-feira, 26 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Combate à fome exige eficiência de programas sociais

O Globo

Como explicar que o Brasil permaneça no mapa da ONU tendo ampliado gastos com pobres desde a pandemia?

É uma vergonha o Brasil continuar no Mapa da Fome das Nações Unidas. No triênio entre 2021 e 2023, 3,9% da população brasileira foi considerada subnutrida — ou 8,4 milhões de pessoas. Houve melhora em relação ao levantamento anterior, quando a subnutrição atingia 4,2%, mesmo assim o país está muito acima do limite de 2,5% por triênio, necessário para deixar a lista da ONU.

A vergonha é ainda maior porque, entre 2014 e 2020, o Brasil ficou fora do Mapa da Fome. Hoje apenas cinco países latino-americanos — Chile, Costa Rica, Cuba, Guiana e Uruguai — satisfazem ao critério das Nações Unidas para isso: prover a quantidade mínima de calorias e nutrientes para uma vida ativa e saudável a mais de 97,5% da população.

Fernando Abrucio - Sucessão da Câmara e a democracia

Valor Econômico

Está em jogo o destino institucional do Legislativo, um processo que envolve uma avaliação acurada sobre os avanços obtidos e diversos problemas que a Casa ainda tem

Os atores políticos não estão de olho apenas na eleição municipal. Uma disputa que está mexendo com a elite da classe política é a sucessão na Câmara Federal. Depois de um dos presidentes mais poderosos da história da Casa, o deputado Arthur Lira, alguns candidatos surgiram e há meses fazem uma das mais longas campanhas da trajetória recente do Congresso. Pergunta-se muito qual nome seria o mais adequado para manter o poder obtido pelo Legislativo, mas pouco se fala sobre qual projeto seria melhor para que essa instituição servisse melhor à sociedade e à democracia do país.

É inegável que o perfil dos candidatos vai afetar o futuro da Câmara Federal. Nomes, com suas trajetórias institucionais, fazem sempre diferença em política. Só que está em jogo o destino institucional do Legislativo, um processo que envolve uma avaliação acurada sobre os avanços obtidos e diversos problemas que a Casa ainda tem. E, por enquanto, os concorrentes estão mais ávidos em fazer jantares e conversas reservadas com caciques políticos e deputados do baixo clero do que em apresentar projetos que definam os rumos da instituição nos próximos anos.

José de Souza Martins - A força política da bajulação

Valor Econômico

A destruição até dos laços de família com a polarização manipulada pelo bolsonarismo gerou a desorganização política do país com o crescimento da desorganização social

Um dos aspectos mais preocupantes da política brasileira desde o fim da ditadura militar e, acentuadamente, desde a ascensão de Jair Messias à Presidência da República, é o do declínio do humor político. Sinal de que está em decadência a consciência crítica popular que, entre nós, se manifestava no riso.

O bolsonarismo trouxe consigo o ódio às diferenças políticas, a satanização dos diferentes e das diferenças, a intolerância em relação ao outro, suas ideias, seu modo de ser. Trouxe, sobretudo, a ideologia no lugar do saber, da ciência, da arte, da liberdade de pensamento, da consciência crítica, do discernimento e da criatividade.

Vera Magalhães - A receita de Lula até 2026

O Globo

Para o Planalto, se a economia ‘chegar bem’, o presidente é favorito, e possibilidade de Bolsonaro rever sua inabilitação também é considerada nula

Conforme antecipei em meu blog no GLOBO, o governo Lula entende que a fase de reformas deste terceiro mandato se esgotou. No cômputo do que foi feito, além da reforma tributária, entra o novo arcabouço fiscal. No do que deixará de ser enfrentado, a ideia de revisitar as regras previdenciárias e uma batalha para reformar o Orçamento.

Segundo auxiliares de Lula, o caminho que o presidente vislumbra até 2026 tem como carro-chefe o crescimento acima de 2% nos quatro anos de gestão, acompanhado do aumento no emprego e na renda e de uma gestão fiscal suficiente para entregar a meta proposta. Será suficiente? No entendimento do Planalto, se a economia “chegar bem”, o presidente é favorito.

Andrea Jubé - Os palcos eleitorais de 2024 como prévia de 2026

Valor Econômico

Nacionalização das eleições marcará disputas municipais

Já ficou claro que a nacionalização das eleições municipais, em uma espécie de terceiro turno do pleito de 2022, ou prévia de 2026, transcende a disputa em São Paulo entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (Psol).

Na capital paulista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoia Nunes e emplacou o vice do emedebista, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caminhará com Boulos, e indicou uma vice petista, a ex-prefeita Marta Suplicy.

São Paulo será o palco mais emblemático do novo round entre lulismo e bolsonarismo. Mas não será o único.

Flávia Oliveira - Efeito Kamala

O Globo

Empolgação em torno dela lembra a vitória de Barack Obama em 2008

Quis o destino que a desistência de Joe Biden de concorrer à reeleição e, na sequência, apontar a afro-asiática Kamala Harris — filha de mãe indiana e pai jamaicano — como substituta na corrida à Casa Branca ocorresse no mês que o Brasil consagrou como Julho das Pretas e na semana em que se comemora o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, 25 de julho. A decisão anunciada na tarde do último domingo ativou o entusiasmo de uma campanha, até então, bastante morna do Partido Democrata.

Bernardo Mello Franco – O julgamento de Biden

O Globo

Resultado da eleição em novembro definirá lugar do atual presidente na História

A pouco mais de cem dias das urnas, Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição nos EUA. Não acontecia desde 1968, quando Lyndon Johnson jogou a toalha em meio à Guerra do Vietnã. O presidente anunciou a decisão pelas redes sociais, como convém aos tempos modernos. Na quarta-feira, explicou suas razões em pronunciamento na TV.

Biden disse que a democracia americana está em risco. Sustentou que é preciso preservá-la, mesmo que isso signifique abrir mão de ambições pessoais. “Reverencio este cargo, mas amo mais o meu país”, afirmou. “Decidi que o melhor caminho é passar o bastão para a nova geração”, prosseguiu. Pode parecer altruísmo, mas é só realismo político.

Laura Karpuska - Brechas

O Estado de S. Paulo

Partidos vivem uma realidade distante, e tomam decisões esquecendo-se do eleitorado

A confiança no governo não está das melhores no mundo. Não é um fenômeno novo. A pesquisa anual do Instituto Pew Research revela que, há décadas, os americanos têm perdido a fé na capacidade de seus líderes de governar pensando no bem comum. A decepção se alimenta de crises econômicas, do consumo desenfreado de notícias enviesadas nas redes sociais, de uma inundação de fake news e do conhecimento de malfeitos de políticos corruptos e comprometidos com pequenos grupos de interesse. A incapacidade dos partidos políticos de seguir uma agenda que verdadeiramente considere a vida das pessoas comuns apenas agrava a situação.

Celso Ming - A chaga dos lixões

O Estado de S. Paulo

O Brasil continua sendo o país dos lixões. Em 2022, o setor de resíduos emitiu aproximadamente 91,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Foi responsável por 4,0% das emissões totais de gases de efeito estufa do território brasileiro, como mostram os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Cerca de 65% dessas emissões provieram dos resíduos em aterros e lixões.

Enquanto não cuidar dessa chaga, o Brasil não conseguirá cumprir as metas de descarbonização previstas, sem o que não conseguirá enveredar para a era da economia verde.

Orlando Thomé Cordeiro - Eles vieram para ficar

Correio Braziliense

O fator comum aos recentes processos eleitorais na França e nos EUA é o crescimento da extrema-direita e sua aliança com a maior parte da direita tradicional que, por sobrevivência e/ou oportunismo eleitoral, se rendeu ao populismo

Neste mês de julho, dois processos eleitorais no cenário internacional foram destaque na mídia, um no início do mês e o outro nesta última semana. O primeiro foi o segundo turno da eleição legislativa na França. Com o a velocidade quase supersônica com que os assuntos entram e saem de pauta, vale a pena recordar o processo. Em junho, após a vitória contundente do partido de Le Pen nas eleições para o Parlamento Europeu, Macron, em um movimento tão inesperado quanto ousado, resolveu dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições (essa é a vantagem do parlamentarismo: as crises políticas são resolvidas com novas eleições, enquanto no presidencialismo a solução é o impeachment).

Marcus Cremonese - Antevendo o passado em que estamos vivendo.

Observatório da Imprensa

Em março de 2022 reli o "Turning Back the Clock", de Umberto Eco (Vintage Books, 2008). O livro é uma coleção de artigos e ensaios em que ele analisa o que chamou, no sub-título, de "hot wars and media populism".

Um desses artigos, de julho de 2003, publicado no L'Espresso, prendeu minha atenção. Neste, Eco comenta uma tentativa de Berlusconi, de "retirar a legitimidade do sistema judiciário italiano". Berlusconi era então primeiro-ministro, pela segunda vez (2001-06). Em tom de desafio, ele disse que "já que foi eleito pelo povo" ele não aceitaria "ser julgado por alguém que alcançou aquele posto no judiciário graças apenas à sua qualificação profissional".

André Roncaglia - O novo acordo de Bretton Woods precisa ir além das promessas

Folha de S. Paulo

Precisamos construir um novo arranjo internacional que empodere política e financeiramente países em desenvolvimento

Nesta semana, autoridades do mundo inteiro se reúnem no Rio de Janeiro para mais uma rodada de debates do G20, o grupo das nações mais ricas do mundo. A agenda é focada na reforma da tributação global de grandes corporações e dos super-ricos e no redirecionamento de recursos para o combate das causas e efeitos da mudança climática.

Dentre as pautas que derivam deste grande objetivo, está a reforma das instituições de Bretton Woods, que comemoram 80 anos desde a sua criação ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1944. Ali foram criados o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) com os respectivos intuitos de administrar um sistema monetário internacional e prover financiamento para o desenvolvimento econômico. Inicialmente operando com o regime de taxas de câmbio fixas, em um mundo já dominado pelo dólar mas ainda preso à fantasia do padrão ouro do período anterior às duas guerras mundiais.

Luiz Carlos Azedo - “Reeleição” de Maduro pode desestabilizar continente

Correio Braziliense

A situação da Venezuela é um desastre econômico e social. Mais: é uma ameaça à segurança política na América do Sul, em razão da militarização

Dos países da América do Sul, o que oferece maior risco à democracia na região, hoje, não é a Argentina, com seu presidente anarco-liberal Javier Milei, em razão de uma sociedade civil e estrutura política mais robusta, mas a Venezuela de Nicolás Maduro, que caminha no rumo de um regime autocrático nacionalista controlado por militares, com uma sociedade completamente desestruturada, cujos aliados estratégicos são Cuba, Rússia, China, Irã e Coreia do Norte.

O elo perdido com o Ocidente será a manutenção de Maduro no poder, por meio de uma fraude eleitoral já escancarada ou, caso isso não seja possível, um golpe de Estado. Não se pode falar em democracia plena na Venezuela com o sucessor de Hugo Chávez no poder. Para o Brasil, legitimá-lo com o conceito de “democracia relativa” será um grave erro. A democracia é um valor universal, ainda que a boa convivência com os vizinhos e a prioridade aos nossos próprios interesses econômicos, que são pilares da nossa política externa, venham a ser invocados nesse contexto.

Bruno Boghossian - A cilada de Maduro

Folha de S. Paulo

Governo Lula não terá nada útil a dizer sobre um processo dominado pelo regime chavista

Na maratona de encerramento da campanha venezuelana, Nicolás Maduro incluiu em seus discursos uma encenação. Do alto do palanque, o ditador simulou o pronunciamento que quer ouvir da autoridade eleitoral do país depois do fechamento das urnas: "Com 90% das mesas apuradas, a vitória do candidato Nicolás Maduro Moros é irreversível".

Transmitir aos apoiadores convicção na vitória é o mínimo que se espera de qualquer político que leve a sério a própria candidatura. No caso de Maduro, o domínio da máquina estatal e dos aparelhos eleitorais faz com que seja impossível deixar de lado algumas desconfianças.

Hélio Schwartsman - Maduro entregará o osso?

Folha de S. Paulo

Governantes da Venezuela têm muito a perder em caso de derrota eleitoral, o que pode levá-los a medidas extremas

Receio que Nicolás Maduro e seus lugares-tenentes já tenham queimado a linha da normalidade democrática. Não me parece muito realista o cenário em que, no caso de derrota no pleito presidencial do próximo domingo (28)entreguem o poder e se preparem para disputar a próxima eleição, como recomendou Lula. Pelas pesquisas de institutos independentes, o candidato da oposição unificada, Edmundo González, tem sólida vantagem sobre Maduro, o que é compatível com a escala da ruína econômica que o governo promoveu.

Poesia | Acontece, de Pablo Neruda

 

Leila Pinheiro, Guinga - Catavento e Girassol

 

quinta-feira, 25 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Segurança e meio ambiente são desafios olímpicos

O Globo

Olimpíada de Paris quer afastar o espectro dos atentados e deixar como legado o Sena despoluído

Com 10.500 atletas de 204 países (e a equipe de refugiados), a Olimpíada de Paris, que começa oficialmente amanhã, terá na segurança e no meio ambiente seus maiores desafios. Segurança porque, pela primeira vez, a cerimônia de abertura será realizada fora de um estádio, às margens do Rio Sena, demandando ações mais complexas, além da tarefa óbvia de proteger o público. Meio ambiente porque apenas duas construções foram erguidas do zero — o novo centro aquático e a Vila Olímpica, que ficarão como legado na região deteriorada de Saint-Denis.

De resto, num esforço de sustentabilidade, toda a Olimpíada será realizada em instalações já existentes ou temporárias. Em iniciativa ousada, os organizadores decidiram levar as provas de triatlo e maratona aquática para as águas do próprio Sena, onde o banho estava proibido havia um século.

Maria Cristina Fernandes - A investida contra o devedor contumaz

Valor Econômico

Nenhum projeto simboliza melhor a borra que entope o futuro do Brasil

O fim do recesso legislativo trará à tona nova tentativa de se votar a tipificação do devedor contumaz. Nenhum projeto simboliza melhor a borra que entope o futuro do Brasil. De um lado estão algumas das maiores empresas do país e o Ministério da Fazenda. Do outro, um punhado de empresas que competem por meio da evasão fiscal, parlamentares e dirigentes partidários cooptados.

A resistência a esta tipificação vale-se cada vez mais do poder de barganha dos interessados junto ao Supremo Tribunal Federal. Na defesa de devedores contumazes estão alguns dos maiores escritórios de advocacia do país, alguns dos quais com parentes de ministros e ex-ministros.

A turma da resistência oferece carona ao crime organizado, cada vez mais espraiado na economia, e deixa a pé não apenas políticas públicas desprovidas de bilhões de reais quanto o poder do Estado na garantia de um ambiente de negócios seguro.

Nelson Niero - A disparada do dólar não tem nada a ver com Lula

Valor Econômico

Austeridade fiscal passou longe dos discursos de campanha, e nem sequer foi apresentado uma versão final do plano de governo, para evitar polêmicas

Luiz Inácio Lula da Silva acertou em cheio quando chamou de cretinos os jornalistas de miolo-mole que mentem descaradamente ao dizer que os dólar sobe toda vez que ele abre a boca. O presidente deveria ter dito que correlação não implica em causalidade, para ensinar uma lição a esses ignorantes. Mesmo com indícios fortes, pessoas sensatas e sofisticadas sabem que é uma temeridade fazer esse tipo de alegação. Afinal, quando Lula fala, a única coisa que acontece é que o mundo se abre, se ilumina e se esclarece, como já decretou a filósofa. Simples assim. O dólar não sobe. Nunca.

Merval Pereira - Maduro em transe

O Globo

Maduro foi especialmente malicioso com seus companheiros de esquerda Lula e Gustavo Petro

A política está tão aloprada que o protoditador da Venezuela, Nicolás Maduro, saiu em defesa de Jair Bolsonaro e Donald Trump depois que o presidente brasileiro disse ter se assustado com o “banho de sangue” previsto, em caso de derrota no domingo, por seu antigo aliado.

Ao afirmar que as eleições no Brasil, nos Estados Unidos e na Colômbia não são auditáveis, ao contrário das venezuelanas, Maduro foi especialmente malicioso com seus companheiros de esquerda Lula e Gustavo Petro. Colocou-os ao lado do protótipo do direitista raivoso, Donald Trump.

Tratou especialmente Lula com requintes de maldade, logo ele, que já disse absurdos como “na Venezuela tem democracia até demais”, como se fossem todos do mesmo naipe. Para se defender do comentário de Lula, tocou num ponto nevrálgico, a lisura do sistema brasileiro de votação eletrônica, mesma tecla que Bolsonaro acionou e que deu motivo, em última instância, à tentativa de golpe bolsonarista.

Malu Gaspar - Lula, Maduro e o chá de camomila

O Globo

Nicolás Maduro não gostou de saber que Luiz Inácio Lula da Silva se disse assustado com a ameaça de que uma eventual derrota nas eleições do próximo domingo provocaria um banho de sangue. Pelo jeito, também não achou bom que Lula tenha aproveitado uma entrevista à imprensa internacional para afirmar que o banho tem que ser de voto e que o colega precisa aprender a respeitar o resultado das urnas.

De cima do palanque, Maduro respondeu: “Quem se assustou, que tome um chá de camomila”. E alfinetou: “Temos o melhor sistema eleitoral do mundo, são 16 auditorias. No Brasil, não auditam nenhuma ata”.

A troca de gentilezas pode fazer parecer que houve uma fissura na relação entre Lula e Maduro, como algumas fontes no governo andaram soprando nos bastidores. Os fatos, porém, não autorizam ir tão longe.

Luiz Carlos Azedo - Derrota de Maduro pode repetir a de Pinochet

Correio Braziliense

Maduro recorre a todos os expedientes para conter a oposição, sem sucesso até agora. A tática da oposição venezuelana se parece muito com a da oposição à ditadura chilena

Para manter a fachada de que os venezuelanos vivem num regime democrático como os demais países da América do Sul, o presidente Nícolas Maduro, sob grande pressão internacional, teve que convocar eleições presidenciais na Venezuela. Fez tudo o que pode e o que não poderia para retirar da disputa os adversários, porém, as pesquisas mostram que no próximo domingo pode ser derrotado pelo candidato de oposição Edmundo González Urrutia, o ex-diplomata que lidera a corrida presidencial com mais de 50% das intenções de voto, contra 20% de Maduro. Outros oito candidatos participam do pleito.

William Waack - Assombrações

O Estado de S. Paulo

O Brasil não consegue sair da discussão sobre contas públicas

A principal certeza sobre a questão fiscal e o governo Lula é a de que ela o assombrará até o fim do mandato. E deve se projetar também sobre seu sucessor, não importa quem seja.

A “predominância do fiscal” é uma maldição da qual seu governo não se livra mais até 2026 pelo menos. Significa dizer, do ponto de vista prático e imediato, que boa parte da política brasileira vai girar sobretudo em torno desse tema.

Ela já é uma disputa por migalhas do orçamento público, cada vez mais apertado por decisões políticas de Lula 3 – que estão encolhendo rapidamente seu espaço discricionário. Com ciclos previsíveis em função das datas que o Executivo é obrigado a cumprir, como acaba de acontecer com a apresentação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas.

Eugênio Bucci - A doença infantil da democracia

O Estado de S. Paulo

O debate público dos nossos dias não se resolve no registro factual ou na retórica do argumento

Por que eleições livres passaram a sufragar candidatos contrários às eleições livres? O que levou regimes baseados em direitos a consagrar lideranças que sabotam direitos?

De poucos anos para cá, essas indagações não saem da ordem do dia. Em 2018, dois professores de Harvard, Daniel Ziblatt e Steven Levitsky, lançaram um livro que interpelava o leitor: Como as Democracias Morrem (Companhia das Letras)? Analisando um período esquisito, com Donald Trump à frente de fake news e de arroubos autoritários, a dupla de autores flagrou o Estado Democrático de Direito carcomido por dentro. O perigo não viria de fora, mas de dentro.

Vladimir Safatle - A normalização da extrema direita já ocorreu

Folha de S. Paulo

Há uma tentativa de recusar que ascensão da ala é um movimento de esgotamento terminal das ilusões da democracia liberal

Na semana passada, Wilson Gomes publicou, nesta Folha, um artigo em que exortava a aceitar a normalização pretensamente inevitável da extrema direita. Chamando as reações a tal processo de "dogmas" animados por alguma forma de cruzada moral contra setores muitas vezes hegemônicos das populações mundiais, o autor julgou por bem lembrar que "se o voto é o meio consagrado pelas democracias para legitimar pretensões políticas" não haveria razão alguma para agir como se a extrema direita não fosse democraticamente legítima. Por fim, não faltou estigmatizar aqueles que falam em "fascismo" ao se referir atualmente a tais correntes.

Esse artigo não é peça isolada, mas representa certa tendência forte entre analistas liberais e conservadores do mundo inteiro. Tal tendência consiste em recusar a tese da ascensão mundial da extrema direita como movimento catastrófico global de consolidação autoritária e de esgotamento terminal das ilusões da democracia liberal.

Lúcia Guimarães - Ataques a Kamala sugerem desespero

Folha de S. Paulo

Capangas de Donald Trump escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar vice-presidente

A intensidade dos ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris surpreende até os pessimistas observadores da política americana. A eleição, até há dias definida pela idade avançada de dois homens brancos, virou a disputa de um idoso declarado culpado de estuprar uma jornalista contra a filha de um economista jamaicano e de uma cientista indiana que, à época em que foi promotora, colocou vários patifes como Trump na cadeia.

Sem noção de vergonha, sentimento hoje extinto entre a ultradireita, os capangas de Donald Trump e seus simpatizantes da mídia escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar a vice-presidente com insultos de cunho sexual e étnico.

Marcos Augusto Gonçalves - O que é o 'aristopopulismo' proposto por guru de vice de Trump

Folha de S. Paulo

Patrick Deneen, amigo acadêmico de J.D. Vance, defende 'populismo aristocrático' como novo regime da era pós-liberal

Amigo e espécie de guru de J.D. Vance, indicado por Trump para concorrer como vice-presidente, o professor católico Patrick Deneen lançou em 2018 o livro "Por que o Liberalismo Fracassou" (Âyiné). Entre elogios e críticas, a obra obteve boa acolhida nos meios acadêmicos e na mídia, com direito a uma recomendação do ex-presidente Barack Obama, que destacou seu interesse para o entendimento dos atuais dilemas da democracia liberal.

No ano passado, Deneen, que dá aula na Universidade de Notre Dame, publicou uma continuação propositiva do livro. Intitula-se "Regime Change: Toward a Postliberal Future" (Mudança de regime: rumo a um futuro pós-liberal).

Maria Hermínia Tavares - Os fiéis e a política

Folha de S. Paulo

Maioria dos evangélicos está distante das posições extremadas dos bolsonaristas raiz

Se o resultado das eleições de 2022 tivesse sido ditado pelos eleitores evangélicos, Jair Bolsonaro estaria no Palácio do Planalto. Afinal, as pesquisas de intenção de voto —e mesmo as que continuaram medindo a preferência dos brasileiros depois de abertas as urnas— confirmam a resistente simpatia que parcela daqueles fiéis nutre pelo ex-capitão.

Somada ao comportamento de parlamentares da chamada bancada evangélica, essa constatação tornou sabedoria convencional afirmar que pentecostais e neopentecostais seriam o arrimo mais entusiasmado do discurso e das iniciativas políticas da extrema direita sobre segurança, educação e normas de conduta privada.

Thiago Amparo - O preço da Sabesp privatizada

Folha de S. Paulo

A exemplo de Berlim, o tempo dirá se o preço de banana compensou ou já nasceu estragado

Com direito a chuva de papel, sorriso estampado e campainha, Tarcísio de Freitas selou a privatização da água dos paulistas, entregando a superavitária Sabesp nas mãos da única empresa que se pôs interessada em atuar como acionista de referência; que ofereceu um valor 20% inferior ao preço do papel atual da companhia; cuja única experiência no setor do saneamento básico é o Amapá e seus 82 mil clientes; e, onde atua mais, no setor de distribuição de energia, foi a pior avaliada entre 29 grandes concessionárias distribuidoras de energia em 2023.

Ruy Castro - Invencível Inês

Folha de S. Paulo

O Brasil deveria fazer da Casa da Morte, em Petrópolis, um lugar para nos lembrar o que é o Estado sem lei

Encerra-se neste domingo (28), no Memorial da Resistência, em São Paulo, a exposição "Mulheres em Luta!", que, desde outubro de 2023, comoveu os visitantes e os apresentou a uma mulher extraordinária: Inês Etienne Romeu (1942-2015). Inês foi militante de uma organização armada contra a ditadura militar. Presa pelos homens de Sérgio Fleury em 1971, foi torturada, estuprada e degradada de todas as formas. Tentou o suicídio quatro vezes no cativeiro e chegou a pesar 30 kg. Mas sobreviveu para descrever seu martírio, quem o infligiu, quando e onde, e ver suas denúncias corroboradas pela investigação. Inês, que conheci no Rio nos anos 1960 antes de tudo isso acontecer, foi a história viva do Brasil.

Bruno Boghossian - A'genialidade' viu a luz do dia

Folha de S. Paulo

Plano tem boa ideia, mas poderia ter evitado certos constrangimentos ao governo

No início do governo, Márcio França tentou fabricar uma notícia em seu Ministério de Portos e Aeroportos. Ele anunciou um plano para vender 15 milhões de passagens aéreas a aposentados, pensionistas, estudantes e servidores a R$ 200 por trecho. Sem modéstia, disse que seria "uma revolução na aviação brasileira".

Depois de vagar por escaninhos por 16 meses, o Voa Brasil foi lançado por outro ministro, com mais recato. O plano foi adiado um punhado de vezes, emagreceu e foi apresentado nesta quarta (24) como um projeto piloto: só para aposentados e com previsão de 3 milhões de bilhetes. Em vez de quatro passagens por pessoa a cada ano, serão duas.

J. B. Pontes - O Risco de Retrocesso

O primeiro dos grandes males do Brasil é a existência de um Congresso Nacional corrupto e descompromissado com os interesses da Nação. A maioria dos atuais parlamentares age somente para a formação e/ou aumento dos seus patrimônios pessoais e para se perpetuar no poder. Estão quase todos aliados ao poder econômico, especialmente o estrangeiro. São eles que realmente estão no comando do País.

E o pior: nada indica que tenhamos condições de mudar esta realidade triste no curto, médio e até no longo prazo. Para isso, o povo precisaria ter consciência da necessidade urgente de esta aliança – Congresso/poder econômico – ser desmontada. Todos estão atuando para sedimentar a volta dos conservadores ao poder em 2026.

Poesia | Então, o que quereis? - Vladimir Mayakovsky

 

Música | Chico Buarque - Injuriado

 

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula tem de ampliar cobrança a Maduro

O Globo

Reação ao ditador foi tardia, mas correta. Brasil precisa, porém, ser mais veemente ao exigir respeito às urnas

Demorou, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfim reagiu publicamente ao regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. “Fiquei assustado com as declarações de Maduro de que, se perder as eleições, haverá um banho de sangue. Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue. O Maduro tem que aprender. Quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, afirmou Lula.

Era esse o tom que ele deveria ter adotado desde a volta ao Palácio do Planalto. Ainda que tardia, a mudança de postura é bem-vinda. Mas é crucial que seja aprofundada. Diante das tentativas de barrar a participação de eleitores da oposição no pleito presidencial de domingo, prisões arbitrárias, viradas de mesa de última hora ou indícios de fraudes, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, enviado a Caracas, não poderá se calar. A defesa intransigente da democracia pelo representante de Lula é o que merecem os venezuelanos — e o que exigem os brasileiros.

Vera Magalhães - Governo ensaia correção de rota

O Globo

Depois de deixar Haddad superexposto, Lula modera declarações e indica discurso de menos gastos

Parece ter caído a ficha de Lula de que seu estilo habla y habla do primeiro semestre jogou contra ele próprio e deixou Fernando Haddad superexposto na missão inglória de cumprir a meta fiscal e aumentar a arrecadação de todas as formas, enquanto o resto do governo se negava a conversar sobre o necessário corte de gastos.

O presidente tem adotado tom bem mais cauteloso em suas falas e deixou um pouco de lado — difícil saber se por ora ou em definitivo — os ataques ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Também passou a falar que nenhum governo pode gastar mais que aquilo que arrecada, provavelmente convencido diante dos números bastante preocupantes do relatório de despesas e receitas divulgado nesta semana, que orientou o anúncio do congelamento de R$ 15 bilhões do Orçamento, bem recebido pelos agentes econômicos e por analistas.

Elio Gaspari - Ouçam a voz do povo

O Globo

Pesquisa mostra o lado conservador do país

O Instituto da Democracia pôs na rua uma pesquisa que mostrou a superposição de algumas agendas entre os eleitores de Lula e os de Jair Bolsonaro. Com grande felicidade, ela se chama “A cara da democracia no Brasil”. Para cabeças polarizadas, a cara da democracia brasileira não é boa. Nenhum radical, seja de qual credo for, gostará dos resultados do trabalho, compilado pelo pesquisador João Feres Júnior, da Uerj, e mostrado pelo repórter Bernardo Mello.

Um em cada dois eleitores de Lula é contrário às saidinhas de cidadãos encarcerados, e 57% são contrários à proibição de vendas de armas de fogo. Em 2005, o país levou o assunto a referendo, e a restrição foi derrubada por mais de 60% dos votos, mas virou falta de educação lembrar esse resultado. Legalização do aborto? Sessenta e nove por cento são contra.

Bernardo Mello Franco – Duelo paulistano

O Globo

Em ato do PL, prefeito chamou rival de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”. Só faltou fazer o gesto de arminha com os dedos

No ato que lançou Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo, Lula olhou para o aliado e confidenciou: “Eu me sinto tão candidato quanto ele”.

O presidente nunca escondeu o plano de transformar a eleição paulistana num duelo particular com Jair Bolsonaro. O que impressionou no último sábado foi o peso que ele resolveu dar à disputa.

Lula chegou à convenção com um séquito de oito ministros. Depois de ouvir 12 discursos, pegou o microfone e se dirigiu ao “querido companheiro”.

“Pode estar certo de que estarei com você em todos os momentos”, disse. “Quero que os eleitores saibam que você é o meu candidato. Temos que mostrar quem está com quem”, decretou.

Luiz Carlos Azedo - Um pouco da memória de Dilma não faria mal a Lula

Correio Braziliense

A oposição está voltando à pauta de junho de 2013, com o argumento verdadeiro de que a maioria dos contribuintes paga imposto, mas não vê melhoria na qualidade de vida

Nove entre 10 petistas têm a convicção de que a história do Brasil seria diferente se a ex-presidente Dilma Rousseff desistisse da reeleição e apoiasse a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, nas eleições de 2014. É uma avaliação que se baseia muito mais no papel do indivíduo na história do que no balanço crítico da política que vinha sendo executada pelo governo, cujo colapso econômico viria a ser decisivo para o impeachment da ex-presidente, muito mais do que o escândalo da Petrobras.